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Educação 16(2):116-124, maio/agosto 2012 © 2012 by Unisinos - doi: 10.4013/edu.2012.162.03 e os primeiros movimentos do conceito de liberdade

Paulo Freire and the first movements of the concept of freedom

André Gustavo Ferreira da Silva [email protected]

Resumo: Apresentar as primeiras formulações do conceito de liberdade em Freire é o objetivo geral deste estudo, que trata especificamente deste conceito nos textos por ele produzidos de 1967 a 1979. A metodologia utilizada é a hermenêutica da ideia de liberdade manifesta nos textos. Adota-se como referencial teórico o próprio conceito de liberdade do educador, que nesse período se movimenta entre uma origem personalista até uma proposição que dialoga com o marxismo. Observou-se como resultado que, inicialmente, sob a influência personalista, a liberdade será definida como o ligar-se ao Criador. Todavia, o exílio aproxima Freire do marxismo ocidental. Então, o credo cristão tradicional, a ligação direta indivíduo-criador é substituída pela ideia de que a ligação indivíduo-Criador tem que ser necessariamente mediatizada pelo coletivo dos homens. Assim sendo, o homem não se liberta apenas no seu retorno ao Criador. O homem se liberta em comunhão, mas não através da interação direta e tão somente com o Criador; sua libertação se dá na interação com o Criador via interação com os outros homens. Sugere-nos, dessa forma, que a verdadeira interação com o Criador não se dá numa religação individualizada, do tipo eu/divindade, mas na que se dá em comunhão, isto é, a religação do tipo nós/divindade.

Palavras-chave: Paulo Freire, educação, liberdade.

Abstract: The general objective of this study is to present the seminal formulations of the concept of freedom in Freire, reviewing this concept in the texts produced by him from 1967 to 1979. The methodology used is the hermeneutic of the idea of freedom which manifests itself in the texts. The theoretical reference is the concept of freedom in the educator, which in this period migrates from a personalist origin to a proposition which with . The result was that, initially, under the personalist infl uence, freedom will be defi ned as linking oneself to the Creator. Nevertheless, the state of exile brings Freire closer to Western Marxism. Thus, the traditional Christian creed, the direct link between individual and creator, is substituted by the idea that the individual-Creator link need necessarily be mediated by the collective. In being this way, man is not only liberated in his return to the Creator; his freedom comes about in interaction with the Creator via interaction with other men. This suggests to us that the true interaction with the Creator does not come about with an individual re-connection, of the I/divinity type, but in communion, that is to say, in the us/ divinity re-connection.

Key words: Paulo Freire, , freedom. Paulo Freire e os primeiros movimentos do conceito de liberdade

As ideias de Paulo Freire são um distinções de sua manifestação na O trabalho que aqui desenvol- dos principais momentos da peda- terceira fase. No entanto, não é bem vemos propõe um estudo sobre as gogia nacional, o que justifica serem isso que encontramos, pois tal con- primeiras formulações de um dos analisadas pelo escopo filosófico. ceito persiste dos primeiros escritos conceitos mais caros à pedagogia de Especificamente, escolhe-se como aos últimos. Outro exemplo seria Paulo Freire: o conceito de liberda- problema o conceito de liberdade o conceito de “educação”. Apesar de. Trataremos dos textos clássicos subjacente ao pensamento freireano do conceito de educação presente do autor produzidos de 1967 a nos seus escritos de 1967 (Educação na obra Educação e atualidade 1979: Educação como prática da como prática da liberdade) a 1979 brasileira (2001a), fruto de sua tese liberdade (2000 [1967]), Pedagogia (Educação e mudança). Ao aplicar-se de concurso de docência em 1959 do oprimido (1987 [1969]). Neste esse corte ao conjunto da obra frei- para a então Universidade do período, o conceito de liberdade reana, deparamo-nos com o proble- (UFPE), ser bem distinto da noção sistematizado pelo educador se ma das fases do seu conjunto. Nas apresentada na Pedagogia do opri- movimenta entre uma origem per- primeiras reflexões (Silva, 2007) mido (1987 [1969]), é esta última sonalista até uma proposição que acreditava-se que sua obra poderia que perdura ao longo de toda a sua dialoga com o marxismo. ser dividida em três grandes mo- obra, tendo sido já apresentada no mentos: (i) fase personalista (1967 Educação como prática da liberda- O personalismo a 1969), marcada pelo conceito de de, texto de 1967. comunhão e diálogo radical; (ii) Deste modo, hoje, pensamos A influência do personalismo fase neomarxista, marcada por sua que atribuir fases a uma obra seria em Paulo Freire, particularmente a experiência na África, pelo retorno esquartejar a continuidade subjetiva contribuição de , ao Brasil e por seu envolvimento do autor, já que ninguém acorda um é destacada por diversos comenta- partidário; e (iii) a terceira fase, belo dia e simplesmente desliga dores. Segundo Balduíno Andreola marcada pelo balanço crítico de suas perspectivas anteriores por (2005, p. 14), em entrevista ao Ins- seus primeiros escritos e pela in- completo. Contudo, não defende- tituto Humanitas da Unisinos (IHU), corporação da ecologia como tema mos a ideia de que o autor já nasça “além das leituras diretas, Freire de reflexão. Este princípio norteou pleno – já aponte nos primeiros viveu a influência de Mounier em as reflexões apresentadas em tra- escritos a maturidade dos últimos –, dois contextos: no Movimento de balho no III Encontro de Filosofia tampouco que nas primeiras obras Cultura Popular (MCP) do Recife, da Educação do Norte e Nordeste já anuncie todo o desenvolvimento [...], e nos grupos dos católicos de em 2006. Nele, não se tinha ainda a de seu pensamento. Trabalhamos esquerda, sobretudo a Ação Católica ideia do conceito em movimento e com a ideia de aprimoramento e e a AP”. nem se fazia uso de sua aplicação na abandonos: conceitos e noções que O personalismo é identificado hermenêutica de um dado conceito, podem ser aprimorados ou aban- por Abbagnano como uma corren- apesar de se resgatarem aqui infor- donados ao longo da obra. Neste te do espiritualismo. Em linhas mações originariamente presentes sentido, não seria a obra que se sub- gerais, o espiritualismo foi uma no referido trabalho. dividiria em fases, em momentos, reação ao positivismo, surgida em Também encontraremos em mas a significação de determinados meados do séc. XIX, que procurava Afonso Scocuglia (1999) a leitura conceitos, que, por vezes, por serem revalorizar o papel da religião e sobre a obra de Freire subdividida extremamente significativos no principalmente salientar a dimen- em fases. De acordo com o autor, “o ideário de um determinado autor, são não reduzível do homem às Freire de Educação como prática da caracterizam momentos na própria determinações de sua natureza físi- liberdade não é o mesmo de Política obra. Assim, deixaremos de analisar co-biológica. Tem como conceito- e educação” (Scocuglia, 1999, p. a obra sob a perspectiva de fases. chave a noção de consciência, que 25). Por “fases”, entendíamos gran- Analisaremos sim os conceitos e o aproximou do idealismo alemão, des momentos demarcados por uma suas possíveis ressignificações ao e, como veremos, a partir da tercei- identidade paradigmática específica longo da obra, bem como possí- ra década do séc. XX, o aproximará que influenciaria o todo do universo veis abandonos, ou seja, possíveis bastante da fenomenologia e do conceitual do autor nessa determi- abdicações de tal conceito ou ideia. existencialismo. nada etapa. Assim, por exemplo, É sob essa perspectiva metodológi- A identificação precisa dos au- 117 na fase personalista, o conceito de ca que abordaremos o conceito de tores e das ideias que constituem “ser-mais” deveria ter significativas liberdade em Freire. o personalismo gera controvérsias.

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Abbagnano define “personalismo” pensamento que nos interessa para Pois, como já foi dito, o fenômeno como uma corrente francesa do es- o presente texto, estipulamos como pessoa não se reduz à dimensão piritualismo cujo foco se volta para personalismo a linha de pensamento neuro-fisio-biológica (a natureza) o aspecto social e cuja ascendência que, trabalhando com as noções de nem à dimensão sócio-histórica é católica e que teve como funda- consciência e pessoa, incorpora (a realidade cultural), que também dor e maior divulgador Emmanuel elementos da fenomenologia e se manifestam enquanto esferas de Mounier. Ainda segundo Abbagna- do existencialismo. De tal forma, determinações nas quais o indiví- no, essa caracterização se distin- colocamos como elementos de um duo se insere. A natureza, a cultura gue do modo que os historiadores mesmo conjunto pensadores como e a história também são dimensões ingleses da filosofia identificam Emmanuel Mounier, Jean Lacroix, que, ao comporem a facticidade o personalismo: “termo que o uso Martin Buber e Georges Gusdorf. do indivíduo, se manifestam como anglo-saxônico reserva ao espiri- Trabalhamos com a ideia de que esferas de determinação. Todavia, tualismo em geral” (Abbagnano, o personalismo não foi apenas um a especulação fenomenológica nos 1984, p. 139). Todavia, a adoção movimento católico francês. Assim, ajuda a trabalhar com a ideia de que do termo inglês “personalist” – que definimos por personalismo a va- nenhuma dessas dimensões que, em ensejaria o nosso “personalista” e riante do espiritualismo que incor- conjunto, constituem a natureza ob- “personalismo” – para identificar a porou elementos metodológicos e jetiva do indivíduo esgota o sentido corrente de pensamento denominada conceituais da fenomenologia e da do fenômeno “pessoa”, haja vista por Abbagnano de espiritualismo é ontologia existencial. A aproxima- que este ente tem a possibilidade bem anterior a Mounier e ao dito ção espiritualismo-fenomenologia, de superar as determinações da personalismo francês. De acor- que sintetizará o personalismo, se facticidade que o determinam e do com Giovanni Reale e Dario dá através do interesse comparti- apontar autonomamente o sentido Antiseri, em 1919, nos EUA, foi lhado pelo conceito de consciência. de sua própria existência; para este lançada a revista “The Personalist”, Além disso, a incorporação da ente, a liberdade lhe é constitutiva. periódico que é um desdobramento metodologia fenomenológico- Em síntese, usando a tradição aris- das discussões levantadas por um hermenêutica contribuirá para uma totélica de classificação, para melhor grupo precedente de pensadores, o definição mais contemporânea de expressar nossa ideia, poderíamos “Personalist Group” (Reale e Anti- “pessoa”, afastando-se do puro dizer que o espiritualismo é o gênero, seri, 1991, p. 728-729). Já segundo imanentismo espiritualista. Via esse e a característica fenomenológico- Octavi Fullat (1994), temos mais método, foi possível precisar ainda existencial é o que define a espécie. outros autores, de outros países, que mais o campo específico da refle- Do espiritualismo, o personalismo também podem receber o epíteto de xão filosófica sobre o homem, cuja mantém a reflexão em torno dos personalistas, tais como Brzozowski esfera não se confunda com as das conceitos de consciência, liberdade e Koninski da Polônia, e Berdiaev ciências (biológicas, psicológicas e infinito, e a partir do pensamento da Rússia, além dos pedagogos que e sociológicas) ou com a da histó- fenomenológico-existencialista, identifica como personalistas: Paulo ria. Pois, segundo o que comenta reformula tais conceitos entenden- Freire, no Brasil, e Lorenzo Milani, Fullat, à luz do personalismo, “o do que a consciência é intencional na Itália. Segundo Reale e Antiseri, ente humano tem natureza e possui e “constitui” significativamente o o próprio Mounier aponta distintas história, mas não é nem a primeira mundo, que a liberdade é o existir tendências no que ele entendia nem a segunda” (Fullat, 1994, autônomo e que a significação do por personalismo: “uma tendência p. 446). A oposição ao positivismo infinito é dada historicamente. existencialista [...], uma tendência e a defesa da irredutibilidade do Este personalismo aproximado da marxista, [...], e uma tendência mais homem a apenas sua dimensão de fenomenologia e do engajamento so- clássica, que se insere facilmente na natureza, já empreendidas pelo es- cial tem em Emmanuel Mounier um tradicional corrente introspectiva da piritualismo, agora auferem maior dos mais expressivos representantes. filosofia francesa” (Reale e Antiseri, sistematização metódica. Retoman- Assim, como para o personalismo 1991, p. 727). do a questão da liberdade, agora em geral, para o personalista francês Assim, temos uma profusão sob a influência fenomenológica, a pessoa também é liberdade (Ab- de identidades relacionadas ao temos que a discussão vai além bagnano, 1984, p. 141). Os historia- 118 termo “personalista” e, por tabela, da oposição à ciência positivista: dores da filosofia, de Abbagnano a “personalismo”. Diante deste fato, a própria noção de natureza e Fullat, são unânimes em apontar que para melhor precisar a linha de processo histórico é questionada. seu engajamento pessoal nas causas

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sociais e humanitárias, sua correção do modus operandi do modelo do homem às determinações im- política, seu impecável comporta- bolchevique-soviético de revolu- postas pela natureza ou vida em mento ético (que o tornaram notório ção, percebemos que a revolução sociedade. O homem “pessoa” ainda jovem) e seu súbito falecimen- comunitária é a instauração de não é um mero objeto do mundo to aos 45 anos fizeram de Mounier um processo de conscientização ao qual pertence, pois é sujeito, é quase que um mártir da defesa da que deve se disseminar por toda a capaz de atuar intencionalmente pessoa humana, numa perspectiva sociedade, prenunciando um certo no mundo. Isso, nas palavras de marcada pela aproximação ao cris- socialismo utópico que venha a Freire, acontece “não se reduzindo tianismo católico. substituir tanto as opressões de tão somente a uma das dimensões Mounier define o personalismo direita quanto os totalitarismos de de que participa, qual seja a natural como sendo “toda doutrina [...] que esquerda. Assim sendo, a educação e a cultural – da primeira, pelo seu afirma o primado da persona hu- tem um papel imprescindível nas aspecto biológico, da segunda, pelo mana sobre as necessidades mate- reflexões de Mounier, pois ela é seu poder criador, o homem pode riais e sobre os aparelhos coletivos o meio pelo qual as consciências ser eminentemente interferidor” que sustêm seu desenvolvimento” tomam ciência crítica da realidade (Freire, 2000, p. 49). (2000, p. 19). que está à sua volta. Para tanto, a De imediato, podemos perceber O aspecto mais característico do educação tem que ser pensada para também que, já nos seus primei- pensamento do entusiasta do perso- além da tutela do Estado, devendo ros escritos, a posição de Freire é nalismo é a associação da noção de estar sob a tutela do próprio povo. oposta ao determinismo inerente consciência com a de comunidade, Este fato confere um certo tom às ideias do estruturalismo cultural, sustentada por suas reflexões sobre libertário às reflexões pedagógi- notadamente, a teoria da repro- comunicação interpessoal e comu- cas do autor, tom que também é dução. Pois o homem, enquanto nhão. Ele propõe uma revolução sugerido por Paulo Freire. Neste pessoa, não se reduz à sua condição comunitária, uma alternativa aos sentido, Mounier afirma que “o animal (biológica) e nem às condi- equívocos do comunismo soviético setor educativo extra-escolar deve ções impostas pela vida em socie- e do liberalismo capitalista. A no- poder gozar da máxima liberdade dade, as determinações da cultura. ção de comunidade visa resgatar a possível” (Mounier, in Reale e Segundo Freire, “as relações que sociabilidade ideal do humanismo, Antiseri, 1991, p. 737). o homem trava no mundo com o garantindo a equidade material sem mundo (pessoais, impessoais, cor- perder de vista a imparcialidade A liberdade enquanto póreas e incorpóreas) apresentam da justiça e a liberdade individual. religação ao Criador: o uma ordem tal de características Todavia, essa liberdade não é a da primeiro esboço da noção que as distinguem totalmente dos individualidade liberal, mas a da de liberdade puros contatos, típicos da outra pessoa, o ente humano portador de esfera animal” (Freire, 2000, p. 47). uma consciência autônoma, que só Os escritos da década de 1960 Nesse sentido, o educador traz para pode ser pensada em comunicação são os de maior presença do ideário a discussão o conceito personalista- com as outras consciências. O agir personalista na pedagogia de Paulo fenomenológico de transcendência. num mundo comunitário é pautado Freire. O pedagogo, em Educação Assim, afirma o pedagogo pernam- pela comunicação das consciências, como prática da liberdade, publi- bucano que “é o homem, e somente a comunicação da existência com cado durante seu exílio no , ele, capaz de transcender” (Freire, outras (Abbagnano, 1984, p. 140). realiza uma análise da sociedade 2000, p. 48). Como vimos, a noção Seguindo por esse caminho é brasileira da época e um balanço de de transcendência é de importância que Mounier ressignifica a noção suas experiências em alfabetização. fundamental no universo conceitual católica de que a “comunhão” se No primeiro capítulo, “A sociedade personalista-fenomenológico, im- dá quando a pessoa “chama a si e brasileira em transição”, em meio plicando a possibilidade de o sujeito assume o destino, o sofrimento, a a uma análise bem particular da refletir sobre si mesmo, apreendendo alegria e o dever dos outros” (Mou- sociedade brasileira da década de o sentido corrente do existir, abrindo, nier, in Reale e Antiseri, 1991, p. sessenta, manifesta com clareza a assim, a possibilidade de ressignificá- 737). Esta comunhão, fundada no influência das ideias do catolicismo lo. Todavia, para Freire de Educação amor, é um dos sustentáculos da personalista. De início, podemos como prática da liberdade (2000 119 ideia de revolução comunitária pro- perceber a ideia central da antropo- [1967]), a transcendência “não é o posta pelo autor. Distinguindo-se logia personalista: a irredutibilidade resultado exclusivo da transitividade

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de sua consciência, que lhe permite Diálogo, consciência e são ressignificadas; não obstante, foi auto-objetivar-se e, a partir daí, reco- conscientização duramente criticado pelos marxistas nhecer órbitas existenciais diferentes, ortodoxos, que identificavam traços distinguir um ‘eu’ de um ‘não eu’”; e O personalismo freireano ga- populistas em seu discurso pedagó- complementa, com relação à pessoa: nha novas cores após a estada no gico. O diálogo deixa de ser encontro “A sua transcendência está também, Chile e em Genebra. Permanecem de subjetividades para constituir-se para nós, na raiz de sua finitude. as noções como amor, comunhão enquanto uma relação dialética de Na consciência que tem desta fini- e consciência, já apresentadas no conscientização mútua, e a própria tude. Do ser inacabado que é e cuja Educação como prática da liberda- tomada de consciência perde seu plenitude se acha na ligação com seu de, todavia, imbuídas de um maior caráter subjetivo para inserir-se Criador” (Freire, 2000, p. 48). engajamento político. Neste senti- num processo objetivo, histórico, Observemos a força do ideário do, é importante associar a análise de emancipação cultural1. Para o cristão, marcando a sintonia com as da distinção entre o pensamento personalismo de Freire, o diálogo ideias do personalismo de Mounier, de Freire e o de Mounier com o não é eu/tu, mas nós/vós. principalmente pelo fato do inacaba- advento da Teologia da Libertação Esta concepção sociopolítica mento humano, devido à sua finitude, e os rumos que a Igreja Católica tri- de diálogo é que diferencia o per- atingir sua completude na ligação ao lhou durante as décadas de setenta sonalismo freireano do de Buber Criador. Assim, diferentemente dos e oitenta, em especial na América e Gusdorf: em Freire; o diálogo fenomenólogos, para os quais a liber- Latina. Lembremos que, apesar do aponta para um processo de cons- dade é a própria transcendência dessa viés católico, o pensamento mou- cientização sociopolítica e para mesma finitude e inacabamento, nieriano não vivenciou a guinada à um necessário engajamento nas efetivada pela “práxis” humana, am- esquerda dada pela igreja naquelas lutas de emancipação popular; nos pliadora do leque de possibilidades a décadas; não esqueçamos a morte personalistas em geral, o diálogo partir das determinações factuais, no precoce do intelectual francês que o aponta para um processo de cons- Freire de 1967, essa transcendência privou de acompanhar o surgimento cientização pessoal, conscientização ultrapassa o mundo e sua própria da igreja politicamente engajada, a que não se realiza necessariamente materialidade (noção certamente igreja libertadora. no engajamento nas lutas de eman- rejeitada por Heidegger e os demais Na Pedagogia do oprimido, já cipação popular conduzidas pelos fenomenólogos ateus), saltando ra- notamos o forte tom político da movimentos de esquerda. Esta dis- dicalmente por sobre o conjunto da pedagogia proposta por Freire. No tinção reforça-nos a identidade do totalidade das determinações factuais, entanto, os demais escritos (Ação discurso pedagógico freireano com a atingindo destarte a dimensão da cultural para a liberdade e outros realidade não apenas brasileira, mas suprema plenitude. Isto nos faz crer escritos, 2001b [1976], Cartas à terceiro-mundista, apontando que, que a liberdade, então, não é a trans- Guiné-Bissau, 1984 [1977]) da em tais circunstâncias, a reflexão cendência em si, mas a sua comple- época trazem o marco diferenciador sobre a instauração de um processo tude pela dimensão supramundana, a de Freire e Mounier: a tomada de de tomada de consciência tem que suprema autonomia diante da própria consciência, agora, é o despertar da abordar as ações que possibilitem materialidade. Assim, a liberdade está consciência para sua missão eman- a instauração das condições sociais em ligar-se ao Criador: a suprema cipadora. Por sua vez, a comunhão, mínimas para que o indivíduo se veja ultrapassagem sobre o conjunto da cada vez mais, assume um tom de como ser humano, para que daí possa totalidade das determinações factuais, efetividade social, descendo do céu perceber-se como pessoa. Pois, já que abre um leque agora infinito em espiritualista para o chão da igreja que as condições sociais do Terceiro suas possibilidades, haja vista que o libertadora. O tempo de exílio apro- Mundo em geral negam ao indivíduo possível não é apenas o que se pode xima Freire do marxismo ocidental, até a sua percepção enquanto um rearrumar e ressignificar a partir do já afastando-o da tradição tipicamente ser valorado para além do animal, existente, mas o radicalmente novo, personalista. Neste afastamento, o processo instaurador do diálogo possibilitado pelo Criador. categorias tipicamente personalistas conscientizador também tem que dar

120 1 Este momento de afastamento da senda personalista foi testemunhado pelo Prof. Dr. Ferdinad Röhr (UFPE). Entre 1975-1976, Ferdinand, então um jovem licenciando alemão de ascendência católica, que na época não falava português e nem se imaginava naturalizado brasileiro, vai ao encontro do pedagogo em Genebra, a fi m de inquiri-lo, em inglês, sobre o papel do diálogo na Pedagogia do Oprimido. O pedagogo vaticina: “[...] esqueça essa parte do diálogo [...]”. E indica para o jovem estudante a leitura das “Teses sobre Feuerbach” de Marx.

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conta da re-instauração das condi- enquanto unidade fundamental que é também identidade com o divino, ções materiais mínimas que elevem se dará a suprema liberdade. Para não apenas com a divindade. Assim, o indivíduo para uma condição de o existencialismo, o significado da a noção de unidade fundamental su- vida para além do animalesco, haja existência é autodeterminado; para prassume-se de uma divindade para vista que, no nível da sobrevivência o personalismo, e aí se inclui Freire, a plena humanidade que é a unidade ainda animal, não haverá a efetiva o significado já é dado pela própria suprema entre divino e humano, dialogiação em nível humano. essencialidade humana, que, como realizando, então, como sucede para já foi dito, porta em si a liberdade. o espiritualismo-personalismo, a A transcendência e a Assim, um traço geral do personalis- plena liberdade. comunhão mo, de Buber a Mounier, é a ideia de Outra elaboração do conceito de um “telos” apontado como o sentido comunhão encontra-se no Pedago- A noção de transcendência é um do processo de transcendência. Este gia da esperança (1992), texto que ponto-chave na corrente de pensa- “telos” apresenta-se, ao modo aris- é uma releitura das ideias lançadas mento fenomenológico-existencia- totélico, como a atualização última no Pedagogia do oprimido. Nele, lista: Husserl, Heidegger, Jaspers da essência mesma. após uma década de maturação, a de e outros operam com esta noção Freire, seguindo sua ascendência oitenta, Freire retoma os conceitos no sentido de tê-la como a olhada personalista, menciona primei- desenvolvidos entre as décadas de da consciência sobre si mesma, ramente a ligação com o Criador sessenta e setenta. A comunhão, a possibilitando a reordenação do como sendo a “unidade fundamen- unidade fundamental, agora incor- mundo significativo do sujeito. tal”. Todavia, caracterizará seu pen- pora ao humanismo uma visada Vimos também que, para esta samento pela retomada da ideia de holista: a essência fundamental, corrente, essa transcendência é o comunhão esboçada por Mounier. que se atualizará na “unidade”, fundamento da própria liberdade, a No mesmo texto Educação como carrega agora em si, além da iden- qual se contrapõe às determinações prática da liberdade, em que aponta tidade homem-divino, a identidade estruturais do mundo concreto, a ligação com o Criador como sendo homem-natureza. Assim, a comu- que, sem o olhar sobre se mesma, a “unidade fundamental”, esboça nhão não é “apenas a de homens e submergem a consciência num a ideia de comunhão, definida ali de mulheres e de deuses e ancestrais, existir inautêntico. O personalis- como integração, que caracteriza o mas também a comunhão com mo, por sua vez, associa um outro homem sujeito. Adaptado, não inte- as diferentes expressões de vida. conceito ao de transcendência, grado, “o homem perde a capacida- O universo da comunhão abrangia que aqui chamaremos de “unidade de de optar e vai sendo submetido as árvores, os bichos, os pássaros, fundamental”. a prescrições alheias que o mini- a terra mesma, os rios, os mares. Em geral, para o pensamento mizam” (Freire, 2000, p. 50). Esta A vida em plenitude” (Freire, 1992, personalista, a transcendência não integração é fruto da liberdade, pois p. 37). Esta discussão abre campo é um processo que aponta para “toda vez que se suprime a liberda- para uma ecopedagogia: pedagogia uma eterna inconclusão: o olhar da de, fica ele [o homem] um ser me- do fazer humano integrado à vida consciência sobre si mesma, quanto ramente ajustado ou acomodado” como um todo. mais se aprofundar, descortinará (Freire, 2000, p. 50). Aqui a noção o essencial sentido de si própria, de comunhão ainda não recebeu o Liberdade enquanto sentido este que, distinto do existen- status de “unidade fundamental”, comunhão cialismo ateu, não é um significado porém, no Pedagogia do oprimi- autodeterminado, manifestante da do, este status lhe é conferido,no A ligação com o Criador se dá radical “condenação à liberdade” qual, consequentemente, a liga- na comunhão; assim sendo, ao própria da antropologia existen- ção com a divindade é preterida religar-se da religião incorpora-se cialista, e sim um encontro com o a favor da noção de comunhão. como elemento necessário para a supremo sentido, a atualização da Ao modo hegeliano, dizemos que o compreensão da liberdade a noção essência fundamental. Herdeiros do pensamento freireano, aqui, operou de interação. No primeiro momen- espiritualismo, para quem a liber- uma suprassunção (Aufhebung): to, ao propor a liberdade enquanto dade é definidora do ser humano, negou a ligação com a divindade o religar-se ao Criador, Freire não os personalistas apontam a unidade católica, seu momento primeiro, tinha salientado a dimensão comu- 121 fundamental como a efetivação su- para elevar-superá-lo na noção da nitária da liberdade com a ênfase prema da liberdade: é no que se tem identidade com a humanidade, que que se percebe na Pedagogia do

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oprimido. O credo cristão tradi- perspectiva é o próprio processo de cional, a ligação direta indivíduo- constituição da razão na relação quase “coisa” e transformar-se, como Criador, presente no Educação homem/ordem social. salienta Hegel [Phenomenology of como prática da liberdade, agora A noção de liberdade objetiva tem Mind, Harper e Row, 1967, p. 234], em “consciência para outro”, a soli- é substituída pela ideia de que a em Hegel seu principal sistematiza- dariedade verdadeira com eles está ligação indivíduo-criador tem que dor, sendo fonte inspiradora do pró- em com eles lutar para a transfor- ser necessariamente mediatizada prio pensamento freireano. Segundo mação da realidade objetiva que os pelo coletivo dos homens. Assim Gomercindo Ghiggi, Hegel “não faz ser este “ser para outro” (Freire, sendo, o homem não se liberta ape- toma a razão atada a um puro concei- 1987, p. 36). nas no seu retorno ao Criador, mas to metafísico, mas busca, mesmo ain- o homem se liberta em comunhão, da idealista, a construção de uma vida Todavia, segundo Carlos Alberto que é a interação não somente direta livre e racional” (Ghiggi e Pitano, Torres, Freire não aceita a noção he- com o criador, mas a interação com 2009, p. 53). Neste sentido, saindo geliana de “reconciliação e síntese” o Criador via a interação com os do idealismo hegeliano, mas preser- (Torres, 1997, p. 33). Paulo Freire outros homens. Sugere-nos que a vando deste a ideia de objetividade abdica da noção de desenvolvimento verdadeira interação com o Criador da liberdade, temos, então, em Freire positivo da história. Para ele, a história não se dá numa religação individu- a valorização da ideia de libertação, perde qualquer paradigma que garanta alizada, do tipo eu/divindade, mas que será uma das categorias funda- seu progresso positivo para a humani- que se dá em comunhão, a religação mentais presentes na Pedagogia do zação e emancipação. Isto é apontado do tipo nós/divindade. oprimido. Libertação que, segundo claramente por Torres, quando afirma “Ninguém liberta ninguém, nin- Ghiggi, implica “considerar como que “a grande diferença entre Hegel guém se liberta sozinho: os homens ponto de partida a análise histórico- e Freire será, justamente, a superação se libertam em comunhão” (Freire, existencial da condição humana, da positividade da negação natural 1987, p. 52). reconhecendo os condicionamentos hegeliana na Pedagogia do Oprimido” A ideia de que é necessária a culturais e estruturais que entravam (Torres, 1997, p. 32). comunhão para que se dê a liber- a realização de um projeto pessoal e Em Paulo Freire, temos o abando- tação vincula-o a um conceito de comunitário efetivo” (Ghiggi e Pita- no da teleologia positiva da história, liberdade que é pensado enquanto no, 2009, p. 17). pois ele pensa a desumanização uma totalidade efetiva. Não temos Carlos Alberto Torres, no seu livro como uma de nossas possibilidades a primazia da faculdade do desejar Pedagogia da luta, salienta a impor- históricas, aponta os homens como racional do indivíduo sobre a liber- tância do pensamento hegeliano na inconclusos e, portanto, sujeitos ao dade manifesta nas instituições e formulação dos princípios básicos fracasso histórico. Hegel realmente na ordem social. Agora, incorpo- da Pedagogia do oprimido. Enfoca jamais pensaria assim. Poderia ser rando o conceito de “dialética”, como pontos cruciais desta relação até que o filósofo alemão não apos- vemos que uma não antecipa a a “dialética do senhor e do escravo”, tasse tanto na evolução progressiva outra, mas ambas se determinam “ego e desejo” e o “reconhecimento”. linear, apostaria talvez numa pro- mutuamente: a capacidade de au- A análise empreendida pelo autor gressão espiral, da qual vamos ao todeterminação racional relaciona- identifica a passagem “Senhorio e aperfeiçoamento a partir de nossos se dialeticamente com a ordem escravidão”, exposta na “Fenome- próprios erros. Todavia, não pensaria vigente. A partir do jogo de forças, nologia do espírito”, como a chave na barbárie e retrocesso civilizatório no qual a ordem forma o homem e do paralelo entre a relação dialéti- como um destino possível. Já Freire o homem constrói a ordem, é que ca senhor/escravo com a dialética nos diz que “humanização e desu- a liberdade se manifesta. Daí, ela opressor/oprimido, da Pedagogia manização, dentro da história, num só pode se dar na totalidade, que é do oprimido (Torres, 1997, p. 26). contexto real, concreto, objetivo, são o movimento da constante síntese O texto freireano é explícito ao esta- possibilidades dos homens como se- res inconclusos e conscientes de sua desse jogo de forças. A liberdade belecer tal relação, citando a própria do homem nesta perspectiva não é inconclusão” (Freire, 1987, p. 30). “Fenomenologia do espírito”: a autonomia da razão com relação Freire abandona a noção de posi- 122 aos instintos ou às paixões, ou seja, Se o que caracteriza os oprimidos, tividade do progresso histórico, mas não é a mera liberdade da subjeti- como “consciência servil” em relação não abandona a ideia de totalidade. vidade racional frente à sensibili- à consciência do senhor, é fazer-se Esvaziada da noção de positividade, dade. A liberdade do homem nesta a humanidade só pode ser pensada

Educação Unisinos Paulo Freire e os primeiros movimentos do conceito de liberdade

enquanto projeto, todavia, ainda um da obra freireana que buscam projeto coletivo. A relação opressor/ dizer que os homens são pessoas compreendê-la no contexto dos oprimido em Freire aponta não só e, como pessoas, são livres, e nada diálogos travados entre suas leituras para a emancipação das injustiças concretamente fazer para que esta e reflexões acerca dos homens, da afirmação se objetive, é uma farsa. decorrentes da exploração do tra- sociedade e da educação partindo Da mesma forma como é em uma balho, mas também para a tarefa situação concreta – a da opressão do cabedal teórico e conceitual coletiva da construção do sentido – que se instaura a contradição do pensamento ocidental. Assim, que se dá ao processo de humani- opressor/oprimidos, a superação alia-se à ideia de que a investigação zação, que deve ter na equalização desta contradição só se pode verificar acerca do pensamento freireano se do acesso aos bens materiais uma objetivamente também. torna ainda mais profunda e perti- de suas principais consequências, nente quanto mais adentramos no mas não deve se resumir a isso. Pelo Considerações fi nais universo das influências teóricas e contrário, a equalização do acesso dos diálogos que o educador trava aos bens materiais seria uma decor- A comunhão é o telos supremo, é com outros sistemas conceituais e rência de uma equalização maior: o a unidade fundamental que atualiza correntes de pensamento. Esse es- reconhecimento mútuo da humani- a essência do homem. Atualização forço, ao tempo em que possibilita dade entre os homens, esvaziando esta que é objetiva e compreende um olhar mais crítico sobre o ideá- a partir desse reconhecimento a em si a suprassunção da tensão que rio freireano, salienta as inovações dualidade opressor/oprimido, apon- efetivamente impede a plenitude e a criatividade de suas respostas tando a construção coletiva de novos humana: a tensão opressão/liberda- ao problema da educação como significados que norteiem as ações de, cuja efetividade se dá na tensa realidade política. políticas que venham a transformar relação opressor/oprimido. Assim a ordem social. sendo, a comunhão é a própria Referências A incorporação de determinados efetivação da liberdade: a suprema princípios hegelianos é fundamen- autonomia de toda forma de tirania ABBAGNANO, N. 1984. História da fi lo- tal para a construção da noção de e a realização da essência humana, sofi a. 3ª ed., Lisboa, Presença, vol. XI, que podemos entender como a re- 176 p. libertação enquanto comunhão: a ANDREOLA, B. 2005. Os projetos peda- alização concreta do divino que há liberdade é o próprio processo de gógico-políticos de Mounier e Paulo constituição da razão na relação na humanidade. Freire (Entrevista). Revista IHU Online, opressor/oprimido. A razão não é Portanto, não deixando de requisi- V(155):14-17. Disponível em: http:// oposta à sensibilidade: é racional tar a dimensão política e econômica www.ihuonline.unisinos.br/media/pdf/ reconhecer o outro como igual, para a real emancipação humana, o IHUOnlineEdicao155.pdf. Acesso em: portanto livre. Livre o oprimido pensamento de Freire sugere que a 15/03/2011. GHIGGI, G.; PITANO, S. de C. 2009. da opressão, e livre o opressor do liberdade ultrapassa a independência Origens e concepções de autoridade e em relações às coerções de Estado e é seu impulso dominador, o jogo de educação para a liberdade em Paulo forças, a relação dialética, opressor/ mais do que a autonomia econômica. Freire: (re)visitando intencionalidades oprimido constrói constantemente Em contrapartida, isso sugere que a educativas. São Luis, EDUFMA, 94 p. a ordem social, onde um e outro se realidade da opressão vai mais além GADOTTI, M. 1988. Pensamento pedagó- “formam”, educam suas mentes e da injustiça material. O oprimido não gico brasileiro. 2ª ed., São Paulo, Ática, sentimentos. Daí, só incorporando é só aquele negado pelas estruturas po- 165 p. FREIRE, P. 1979. Educação e Mudança. São a totalidade desse jogo de forças, lítico-econômicas da sociedade, mas Paulo, Paz e Terra, 79 p. aquele que tem negado em si mesmo ou melhor dizendo, só reformando FREIRE, P. 1984 [1977]. Cartas à Guiné- simultaneamente opressor/oprimido sua própria humanidade. É também Bissau. 4ª ed., Rio de Janeiro, Paz e é que a liberdade se fará efetiva, pois nesse sentido que se pode tomar Ga- Terra. 173 p. ela será a manifestação de uma rela- dotti (1988, p. 30) quando afirma que FREIRE, P. 1987. Pedagogia do oprimido. ção dialética que constrói uma nova em Freire “a classe oprimida é maior 23ª ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 218 p. ordem social que educa a mente e do que a classe operária”. A liberdade, FREIRE, P. 1992. Pedagogia da esperança. os sentimentos dos homens sob a então, como indica Freire, se efetiva Rio de Janeiro, Paz e Terra, 245 p. FREIRE, P. 2000. Educação como prática luz da igualdade reconhecida. Neste plenamente na suprema autonomia do da liberdade. 24ª ed., Rio de Janeiro, Paz 123 sentido, o conceito de liberdade é humano que há na pessoa. e Terra, 158 p. pensado objetivamente, e, segundo Este texto procurou somar-se FREIRE, P. 2001a. Educação e Atualidade Freire (1987, p. 30), aos esforços daqueles estudiosos Brasileira. São Paulo, Cortez, 123 p.

volume 16, número 2, maio • agosto 2012 André Gustavo Ferreira da Silva

FREIRE, P. 2001b [1976]. Ação Cultural para SCOCUGLIA, A.C. 1999. A história das TORRES, C.A. 1997. Pedagogia da luta: da a Liberdade e outros escritos. 9ª ed., São ideias de Paulo Freire e a atual crise pedagogia do oprimido à escola pública Paulo, Paz e Terra, 176 p. de paradigmas. 2ª ed., João Pessoa, Ed. popular. Campinas, Papirus, 197 p. FULLAT, O. 1994. Filosofi as da educação. Universitária/UFPB, 161 p. Petrópolis, Vozes, 470 p. SILVA, A.G.F. da. 2007. Educação e liber- MOUNIER, E. 2000. Manifeste au service du dade: o conceito de liberdade na pedago- personnalisme. In: E. MOUNIER, Écrits gia brasileira da década de oitenta. Recife, sur le personnalisme. Paris, Éditions du PE. Tese de Doutorado. Universidade Fed- Seuil, p. 15-160. eral de , 299 p. Disponível em: REALE, G.; ANTISERI, D. 1991. História da http://www.bdtd.ufpe.br/tedeSimplifi cado/ fi losofi a: do romantismo até nossos dias. tde_busca/arquivo.php?codArquivo=3604. Submetido: 29/08/2011 3ª ed., São Paulo, Paulus, vol. III, 1144 p. Acesso em: 10/03/2011. Aceito: 22/02/2012

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