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programa terça, 14 de julho, às 14h: abertura de 14h30 a 16h30:

Fascismo, nazismo e pós-verdade: diálogos entre literatura e política Coordenadora: Helena Martins (PUC-Rio) Debatedora: Leila Danziger (PPG/ARTES-UERJ) LEANDRO DONNER (Orientadora: Rosana Kohl Bines) Reverberações e ecos do nazismo na América Latina: Especulações sobre a narrativa em contextos totalitários a partir de Roberto Bolaño A comunicação discutirá estratégias de elaboração ficcional em obras que dialogam com o nazismo. Propõe cotejar literaturas de maior potência imaginativa com obras de cunho mais testemunhal, tensionando o valor da factualidade e os expedientes da ficção na abordagem crítica de eventos catastróficos da História. Partindo de A literatura nazista na América, de Roberto Bolaño, serão debatidos os itinerários criativos deste e de outros autores, adotando como metodologia investigativa a transposição de conceitos da música para o campo literário. Tal expediente oferece uma possível leitura sobre o impacto estético, político e afetivo das obras analisadas em tensão com os eventos históricos que as mesmas evocam.

SERGIO SCHARGEL MAIA DE MENEZES (Orientadora: Vera Lúcia Follain Figueiredo) O Ur-fascismo ontem, hoje e amanhã: representações literárias de uma metodologia de poder De acordo com Umberto Eco, o Ur-Fascismo é o fascismo que nunca acaba, que se reconstrói, se retrabalha, se adequa a cada época, dado seu caráter infinito. O objetivo geral deste trabalho é discutir representações do fascismo na literatura, suas particularidades e interseções, à luz do conceito de Eco e através de um exercício dialético e metalinguístico, tensionando os objetos com textos teóricos. Para tanto, foram escolhidos três objetos em um recorte de espaço-tempo heterogêneo: Não vai acontecer aqui, de Sinclair Lewis; Ele está de volta, de Timur Vermes; e Teocrasília, de Dênis de Melo.

ANTONIO CARLOS MACEDO MUNRO FILHO (Orientador: Júlio Diniz) Em tempos de pós-verdade, como elementos performáticos ampliam o poder de realidade na obra de Ricardo Lisias Se a autoficção nada tem de novo, sua junção com elementos performáticos reduzem ainda mais a tênue linha que separa a ficção do real em parte da produção literária de Ricardo Lísias. Dessa forma, agregando elementos teóricos relacionados à pós-verdade, esta apresentação propõe analisar e discutir como o pacto entre obra e leitor fica esmaecida a ponto de um livro ser confundido com a realidade (e todas as suas implicações, inclusive jurídicas). Em suma, um livro que queria ser tudo, menos um livro.

terça, 14 de julho, de 17h a 19h

Nenhum poema se perde: voz e tradução Coordenadora: Patrícia Lavelle Debatedor: Caetano Galindo (UFPR)

THADEU C. SANTOS (Orientador: Frederico Coelho)

Philadelpho Menezes: voz e poesia agora Uma pesquisa sobre a voz e sua dinâmica instável com a poesia se coloca de maneira particular nos estudos de literatura. Isso porque a voz assume diferentes frentes de protagonismo para a criação e a recepção; e esse dinamismo aciona operações latentes da própria capacidade da voz ao anunciar um poema. Esta comunicação apresentará uma parte da pesquisa de mestrado em andamento, concentrada no trabalho criativo de Philadelpho Menezes. Em suas obras, tópicos importantes sobre voz e poesia se entrelaçam em poemas de difícil abordagem, como é o caso do vídeo Canto dos adolescentes (2000), trabalho em que a voz parece “raptada” no ato de falar. É a partir desse rapto que pensaremos nossa comunicação.

JOAO PEDRO MOURA ALVES FERNANDES (Orientador: Paulo Fernando Henriques Britto) Da entrada dos objetos na poesia ao poema-objeto de William Carlos Williams A apresentação pretende discutir o processo de entrada dos objetos do cotidiano no texto literário e, mais especificamente, no texto poético. O objetivo é contextualizar as propostas de William Carlos Williams (1883- 1963) a respeito de uma nova abordagem poética das coisas. Para tanto, serão debatidos textos consagrados sobre o tema em relação com formulações do poeta estadunidense, valorizando aquelas que teriam antecipado propostas estéticas de movimentos posteriores, como as da Poesia Concreta brasileira.

ALEXANDRE BRUNO TINELLI (Orientador: Paulo Fernando Henriques Britto) Traduzindo The Age of Anxiety: A Baroque Eclogue, de W. H. Auden A comunicação apresenta uma estratégia de tradução para o poema The Age of Anxiety: A Baroque Eclogue, de W. H. Auden, com base em trechos selecionados da obra, valendo-se de teorias e práticas de tradução de poesia propostas por e Paulo Henriques Britto. Pelas características formais complexas do texto original, que não encontram correspondentes imediatos em língua portuguesa, busca-se propor uma tradução do poema que contribua tanto para os estudos de tradução de poesia no país quanto para os de teoria do verso.

quarta, 15 de julho, de 14h a 16h Entre imagens e mitos: ressignificações do sagrado Coordenadora: Rosana Kohl Bines (PUC-Rio) Debatedora: Luiza Leite (ECO/UFRJ)

IVES ROSENFELD (Orientadora: Marília Rothier Cardoso) Golem: fragmentos de um homem de barro" Personagem mítico judaico, o Golem é um ser antropomorfo construído a partir de material inanimado e trazido à vida por meio de determinados procedimentos mágicos. Diferentes autores lhe conferiram as mais variadas facetas, cada qual recriando o mito de acordo com as especificidades e conveniências de sua cena contemporânea. Passeando por entre algumas possibilidades de abordagem do mito golêmico, esse trabalho em fragmentos pretende em um primeiro momento estabelecer diálogos do mito com um texto de Walter Benjamin sobre sua teoria da linguagem para, a partir daí, pensar o estatuto jurídico-religioso do Golem enquanto ser sacrificial.

FELIPE VILMAR DA MOTTA VEIGA (Orientadora: Helena Franco Martins) Divina vida das imagens: a propósito de um conceito naua e um conceito cristão A comunicação traça uma comparação entre o conceito naua de ixiptla e o conceito cristão de imagem aquiropoética. São investigados certos aspectos das relações mantidas por índios mexicanos e por cristãos europeus, nos séculos XV e XVI, com as imagens sagradas que circulam no interior de suas sociedades. Os modos de fazer e pensar a imagem abordados aqui põem em xeque a separação entre representação e modelo, bem como entre representação e espectador, e a tarefa da comunicação é apontar as singularidades de cada um desses modos.

ALEXANDRE SILVA (Orientador: Frederico Coelho) Brasil evangélico e a arte contemporânea – a abordagem dos símbolos neopentecostais nas obras de Bárbara Wagner, Maxwell Alexandre e Ventura Profana A expansão das igrejas evangélicas nas últimas décadas no Brasil tem produzido significativas mudanças em aspectos sociais, culturais e políticos do país. Apesar desse crescimento, ainda são poucas as elaborações tanto no ambiente acadêmico quanto nas produções artísticas sobre a recente reconfiguração nacional. Este projeto de pesquisa busca investigar como narrativas emergentes associadas aos códigos neopentecostais aparecem na arte contemporânea brasileira, focando em obras e discursos dos artistas Bárbara Wagner, Maxwell Alexandre e Ventura Profana.

quarta, 15 de julho, 16h30 a 18h30 Política, saberes ancestrais e emancipação feminina Coordenador: Fred Coelho (PUC-Rio) Debatedora: Aza Njeri (NEGRAHR/LHER-UFRJ)

RICARDO AGUINELO AQUIXINCO GOMES CA (Orientador: Alexandre Montaury) Filinto de Barros e Kikia Matcho: um intelectual guineense a construção de um estado-nação A comunicação busca analisar algumas linhas de força presentes no romance Kikia Matcho: o desalento do combatente (1997), do escritor e intelectual guineense Filinto de Barros. Ao denunciar o abandono social dos ex- combatentes, excluídos de um projeto de nação, após as guerras anticoloniais (1963-1973), o escritor contrasta a utopia vivida durante as lutas pela independência e o posterior desalento que marca o contexto de instabilidade política até os dias atuais. Em Kikia Matcho, Filinto de Barros identifica, nas novas gerações, a renúncia às práticas tradicionais guineenses e, ao mesmo tempo, a sua impossibilidade de acesso às promessas da independência.

NELSON ANTONIO PINHO SANTOS (Orientador: Alexandre Montaury) Guardiãs da cura, benzedeiras do Médio Paraíba – reexistência através do conhecimento incorporado A comunicação aborda práticas de benzedeiras da região do Médio Paraíba, guardiãs de tradições de matriz africana, cristã e, possivelmente, indígena. A pesquisa empreendida até o momento parte do redimensionamento do conceito de performance deslocado para além de sua compreensão como experiência artística. Ao recuperar vivências individuais e notas produzidas em estudos de campo, resultados de pesquisas em diferentes áreas de conhecimento são combinados. O estudo consiste em examinar as práticas simbólicas e culturais destas benzedeiras como gesto decolonial. Em tal gesto, tradição e modernidade se conciliam e, deste modo, resistem aos vetos históricos impostos pela cultura ocidental.

NOEMIA DUQUE D´ADESKY (Orientadora Ana Kiffer) A Produção escrita de mulheres negras e sua inserção no mercado literário A comunicação busca analisar a cena literária brasileira atual, observando a produtividade, inserção de autoras negras no mercado editorial, sua representatividade e desdobramentos. Observando os progressos ocorridos na área, desde a publicação da primeira obra de uma escritora negra, bem como a relação entre o lançamento de obras de novas escritoras afrodescendentes, com o surgimento de editoras independentes nas últimas décadas, que tem se tornado uma tendência crescente nesse início de século XXI. Refletir sobre o processo de inclusão e emergência de novas vozes femininas na escrita contemporânea, citandos as estratégias e desafios para a consolidação do protagonismo desse grupo.

quinta, 16 de julho, de 14h a 16h

Mulheres que geram imagens Coordenadora: Flavia Vieira (PUC-Rio) Debatedora: Beatriz Resende (UFRJ)

CHRISTIANA O. ALBUQUERQUE DE ARAÚJO (Orientador: Júlio Diniz) Os “recados” da superestrela Em sua carreira, Rita Lee concebeu centenas de imagens de mulher e influenciou amplamente o Brasil com suas canções, performances e declarações. A artista mandava seu “recado” - utilizando o conceito de recado extraído da novela “O recado do morro”, de João Guimarães Rosa, em que o compositor popular é aquele que entende seu tempo e consegue transmitir o “recado”. Mas a influência da artista também está ligada à sua figura de “superestrela”, conceito criado por Silviano Santiago em que ele propõe que vida e obra de um artista são indissociáveis. Partindo desses conceitos, irei analisar parte da obra de Rita Lee, para assim compreendermos melhor o papel da mulher na sociedade brasileira contemporânea.

DANIELLA ROCHA CLARK (Orientador: Júlio Diniz) Macabéas, das 5 às 7: Um diálogo entre e Agnès Varda a partir da trajetória à margem de suas personagens femininas A comunicação se propõe a estabelecer um diálogo entre a escritora Clarice Lispector e a cineasta Agnès Varda a partir de obras em que suas personagens femininas percorrem trajetórias marcadas pelo isolamento, pelo conflito e pela morte. Ao narrar as histórias de Virgínia (romance O Lustre, 1946), Macabéa (romance A Hora da Estrela, 1977), Cléo (longa-metragem Cléo de 5 às 7, 1962) e Mona (longa-metragem Sem teto, nem lei, 1985), Clarice e Varda desenvolvem formas semelhantes de estranhamento e deslocamento, em narrativas em que aquelas que estão à margem ganham foco. Peças de quebra-cabeça que não encaixam, são mulheres que protagonizam um mergulho na subjetividade em busca de respostas para sua existência, expondo dúvidas e vivências sobre família, trabalho, sexualidade e amor.

ALLAN ALVES (Orientadora: Patrícia Lavelle) A palavra integradora: o mito na poesia de Orides Fontela Formada em Filosofia pela USP, Orides Fontela publicou cinco livros: Transposição (1969), Helianto (1973), Alba (1983), Rosácea (1986) e Teia (1996). Criadora de uma obra que traz muitas referências intertextuais, literárias e filosóficas, Orides Fontela (2018) aponta que poesia é “[...] a palavra íntegra – integradora. É uma palavra primeira, não só arcaica mas futura e intemporal”. Sua poesia opera efetivamente com o registro do mito, aqui compreendido a partir de Cassirer (2017) como uma expressividade que apaga todo distanciamento entre a imagem e o que ela representa. Considerando os usos que a obra oridiana faz do mito, intentaremos analisá-la a partir de quatro grandes complexos temáticos representados pelas figuras de Aurora, Ananke, Eros e Kairós.

quinta, 16 de julho, de 16h30 a 18h30 Fazer outra vez: literatura, canção e museu Coordenador: Daniel Castanheira Debatedora: Evelina Hoisel (UFBA)

FILIPE CERQUEIRA CASTRO (Orientador: Júlio Diniz) Estratégias intermidiáticas na literatura brasileira nos últimos 60 anos: um panorama inicial Apesar de não ser uma estética de produção literária exclusiva dos últimos sessenta anos, sequer do século XX, a intermidialidade assume papel central nas estratégias de escrita de diversos autores brasileiros do período que vai dos anos 1960 à contemporaneidade. Assim sendo, esta apresentação propõe discutir alguns traços deste dispositivo de produção artística, bem como comentar algumas das diversas formas através das quais ele foi utilizado por alguns destes autores, tangenciando e deslocando os limites entendidos como prototípicos das linguagens artísticas postas em contato.

BEATRIZ PACHECO FREITAS (Orientador: Júlio Diniz) A arte de recomeçar: reverberações do devir brincante nas canções de Gonzaguinha A comunicação reflete como Gonzaguinha evoca a molecagem, um devir brincante – inventivo, mas também político – na sua maneira de existir no mundo, e como esse devir reverbera em alguns de seus escritos. Para isso, estabeleço um diálogo com Walter Benjamin, ao considerar que a experiência vivida pela criança é completamente diferente daquela vivida pelo adulto. A criança é aquela que não teme o tempo, pois sua experiência se dá no “fazer sempre de novo”, na repetição típica da brincadeira como maneira de criar suas experiências. Logo, um imaginário produzido por uma criança não busca uma verdade originária, mas sim experimenta e não se limita.

ELIZAMA ALMEIDA DE O CARVALHO (Orientadora: Marília Rothier Cardoso) O museu que não nasceu – e a criação do Museu da Literatura Brasileira na década de 1970 Em 1975, Lygia Fagundes Telles idealizou o Museu da Literatura Brasileira. Segundo ela, seria um “centro de estudos e pesquisas grande o bastante para ser realmente representativo da nossa literatura”. A escritora paulista reuniu cerca de 230 documentos de autores diversos, mas o projeto não avançou e esse material ficou sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). A pesquisa irá apresentar políticas culturais que permitiram o surgimento de museus e instituições de guarda na década de 1970; rastrear a fundação do MLB como um desejo e projeto; e disponibilizar os documentos, até agora de pouca ou nenhuma divulgação, em um domínio virtual.