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ANÁLISE DOCUMENTAL DOS ESPETÁCULOS

NOME DO ESPETÁCULO: DECADENTA GRUPO/ INSTITUIÇÃO: Estelionatários – UnB – Universidade de Brasília – Brasília - DF DIAS E HORÁRIOS DE APRESENTAÇÃO: dia 08.07.2017 às 21h

DATA E HORÁRIO DA ANÁLISE: 10.07.2017 às 15h Analisador: Paulo Celestino. Artista integrante do Grupo XIX de Teatro que realiza residência artística na 1ª Vila Operária de , a Vila Maria Zélia, localizada no bairro do Belenzinho em São Paulo, Brasil, onde foram criadas as peças Hysteria, Hygiene e Arrufos, Marcha para Zenturo e Teorema.

Texto apresentado para análise e diálogos sobre o espetáculo para fins exclusivos das conversas realizadas entre os grupos selecionados e os analisadores indicados na 30º edição do Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau, no Salão de Festas do Teatro Carlos Gomes, na cidade de Blumenau, Santa Catarina, Brasil, não tendo passado por revisão.

A ANÁLISE

Quem é fã de além de conhecer sua obra, conhece seu humor, sua acidez, sua crítica mordaz que ao longo de anos colocou em sua página no Twitter. São narrativas cômicas, tristes, biográficas, melancólicas, críticas, raivosas e doces. Já a , seu traço atravessou gerações se renovando com maestria. Seja nas ilustrações em livros ou tirinhas de jornal, os desenhos da Laerte carregam personalidade, humor, drama e política, com doses de filosofia e até metafísica.

A imaginação de Rita Lee aliada ao traço da Laerte formam o chamado Storynhas. E o espetáculo Decadenta é uma comédia Musical inspirada nesse livro. A peça narra a trajetória da personagem “Daslee”, também conhecida como Decadenta, acompanhando seus altos e baixos em busca da fama e do sucesso. De cantora de uma churrascaria de quinta ao .

Como transpor o traço tão simples e ao mesmo tempo tão profundo como o da Laerte para o palco? Como transpor o efeito da escrita de Rita Lee, que se utiliza, por exemplo, de efeitos de grafia como as hashtags, compressão de palavras muito utilizadas na internet, que para além de ser uma economia de digitação, servem para dar sentido ou duplo sentido. E concomitante à tudo isso ter uma dimensão crítica para o atual momento político que o país atravessa? Me parece que esses foram os principais desafios que os alunos da Unb tomaram para si.

FURB.BR/FITUB

Me parece que a escolha do gênero, da comédia musical é o apropriado para o tema que o livro propõe, uma vez que se trata da história de uma cantora e o tom é o da ironia, do escracho. O trabalho transita entre momentos intensamente coletivos com momentos solo. Nos coletivos temos a criação de belíssimas imagens como Shiva digitando no tweeter e a de Daslee numa bicicleta, imagens feitas por vários corpos juntos formando uma única imagem, em que temos um deleito, belíssimo. Nos momentos solo em que os atores revezam o papel principal de Daslee. Recurso de coringamento tão característico de trabalhos na academia, para fazer com que os alunos vivenciem a experiência tanto do coro como a de corifeu. O trabalho se vale de números de circo, clown e da música nessa empreitada. As paródias são muito bem feitas e considero um dos pontos altos do espetáculo. Há outros momentos belíssimos como já ao final, no número de tecido em que a personagem tem uma overdose.

Tive dificuldade em ver mais uma segunda camada, uma dimensão crítica, ela está lá, de forma explícita até como associar o personagem Dom Malufone com a Lava Jato etc. Mas para mim pouco a pouco foi se diluindo. Se seria uma crítica à busca pela fama etc. Que é o que me parece ser o que existe na obra em que vocês se inspiraram. Na obra Storynhas temos necessariamente uma dupla camada, pois quem fala da cantora decadente é uma das maiores cantoras e compositoras da música brasileira, simplesmente responsável pelo início do rock nacional. Já em Decadente evidentemente não temos isso e logo tem que estabelecer camadas através de outros recursos.

Talvez a chave de interpretação, localizada no auto escracho, tirar sarro do que está fazendo, um recurso dificilimo de comédia e que fazem muito bem, e que me parece conversa diretamente com a linguagem da autora na qual se inpiram, talvez em excesso deixa o espetáculo mais leve do que vocês gostariam nos dando a falsa impressão de frivolidade. O que definitivamente o espetáculo não é e certamente vocês não querem isso. E ou talvez numa outra hipótese agora no campo da encenação o fato do personagem Dom Malufone estar muito próximo, do ponto de vista da sua indumentária, das demais personagens, sendo esse personagem representante do poder, do empresário aproveitador etc, diferenciá- lo ainda mais cenicamente, ajudasse a deixar a crítica mais explícita, mais contundente.

O espetáculo tem energia, é extremamente divertido, os atores têm a precisão do tempo de comédia e é sem dúvida um exercício muito bom para os atores. E não deixa de ser uma homenagem a essa grande artista brasileira que é Rita Lee.

FURB.BR/FITUB