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Opiniões Número: Depoimentos ornalornal Novos Lançamentos 226 dede Mês: Agosto Entrevista JJ Ano: 2017 LetrasLetras Literatura Infantil Preço: R$ 5,00

Prêmio – João José Reis, o vencedor

O historiador baiano João José Reis, de 65 anos, referên- cia mundial para o estudo da História e da escravidão no século XIX no Brasil, é o vencedor do Prêmio Machado de Assis de 2017. Concedido anualmente, desde 1941, pela Academia Brasileira de Letras, o prêmio foi entregue no Salão Nobre do Petit Trianon, na ocasião da comemoração dos 120 anos de fundação da ABL. (Por Manoela Ferrari – págs. 10 e 11)

Foto: Guilherme Gonçalves ornalde 2 JLetras

JL Editorial JL Opinião

Em 20 de julho de 2017, a Academia Brasileira de Letras come- acervo JL O orgulho de ser professor morou 120 anos de profícua existência. Foi uma festa bonita, em que Nélida Piñon fez uma linda oração sobre o significado da existência da ABL – e seus principais feitos, nesses anos todos. Foi também entre- Em todos esses anos, fiz um extraor- gue o Prêmio Machado de Assis ao historiador baiano João José Reis. dinário esforço para entender o fenômeno Em seu agradecimento, ele discorreu sobre os tempos de escravidão da educação, procurando trabalhar pelo seu no Brasil, naturalmente com críticas à demora na Abolição. Lembrou constante aperfeiçoamento. Como professor os muitos acadêmicos, como Machado de Assis e , dedicado e homem público, sempre busquei que foram grandes defensores da liberdade dos escravos. No final da separar o que era ensino do que representava sessão, foi muito aplaudido pelo público ali presente. A atriz Fernanda educação. Sem confundir as responsabilidades de cada um. Montenegro chegou a afirmar que a ABL era extremamente corajosa ao Servi ao governo do , por quatro vezes, como secre- homenagear um profissional assim gabaritado: “Ela cresce na conside- tário de Estado. Primeiro, como secretário de Ciência e Tecnologia da ração dos brasileiros, graças a um gesto dessa natureza.” Neste número, Guanabara. Depois, durante quatro anos, de 1979 a 1983, quando fui consagramos nossa página central ao tema. secretário de Educação e Cultura do Governo Chagas Freitas. Foi uma rara oportunidade de comandar o sistema. Inaugurei 88 escolas, é ver- O editor. dade, mas com uma notável equipe foi possível servir à expansão do processo educacional, com a ajuda de grandes educadoras, como Edília Coelho Garcia, Cylene Gallart, Fátima Cunha Ferreira Pinto, Aloísio Boynard, Maria Alice Máximo e Lúcia Venina, entre outros. Também contei com a colaboração inestimável de Carlos Alberto Serpa, Edgard Flexa Ribeiro, Roberto Boclin, Padre Leme Lopes e outros grandes edu- cadores no Conselho Estadual de Educação. Todos entendiam muito bem o que deveria ser feito pelo enriquecimento da educação do nosso Estado. Vivemos entre 1979 e 1983 um período notável, de que nos lem- bramos muito bem. Tive ainda o privilégio de viver um segundo período como secretá- rio de Estado de Educação, no ano de 2006, uma época de consolidação das conquistas realizadas. A esses feitos pode-se agregar os oito anos vividos a serviço do Conselho Federal de Educação (seis anos) e depois dois anos no Conselho Nacional de Educação. Foram oportunidades raras, como a colaboração prestada ao senador , na elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394/96), especialmen- te no que se refere à inserção da modalidade de educação a distância no sistema brasileiro. Vivemos a experiência em Brasília de 1986 a 1992 e, depois, de 1996 a 1998. Saí do Conselho com uma vivência muito gran- de, que serviu extraordinariamente aos meus feitos como educador. Como professor de História e Filosofia da Educação, como autor de mais de 3 mil artigos e 100 livros sobre educação, publicados, há mais de 15 anos, em mais de 20 jornais brasileiros, como presidente do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e como autor de dezenas de con- ferências em diversos estados brasileiros, posso afiançar que conheço muito bem quais são os melhores caminhos que devem ser percorridos Em visita à ABL, o reitor da Unicarioca, Celso Niskier, e o presidente do Grupo Ser pela nossa educação, para que seja devidamente aperfeiçoada. Educacional Janguiê Diniz, são recebidos pelos acadêmicos Marcos Vilaça, Arnaldo Niskier e .

JL Expediente Diretor responsável: Arnaldo Niskier Editora-adjunta: Beth Almeida Colaboradora: Manoela Ferrari Secretária executiva: Andréia N. Ghelman Redação: R. Visconde de Pirajá N0 142, sala 1206 – 120 andar — Tel.: (21) 2523.2064 Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: [email protected] “Naquele tempo, eu buscava os entardeceres, os arrabaldes e os conflitos. Distribuidores: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232.5048 Correspondentes: António Valdemar (Lisboa). Agora, busco as manhãs, o centro e a serenidade.” Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda. Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N0 114 J. L. Borges Versão digital: www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras O Jornal de Letras é uma publicação mensal do Instituto Antares de Cultura / Edições Consultor. ornalde JLetras 3 Doutor Honoris Causa Por Manoela Ferrari

Em emocionante cerimônia no auditório Vera Janacópolus, da UNIRIO, o professor Arnaldo Niskier recebeu o título de Doutor Honoris Causa naquela instituição. A apresentação do homenageado ficou a cargo do decano do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CCET), Luiz Amâncio Machado de Sousa Jr. “É imperioso que a universidade pública torne-se o bastião da luta contra a dilapidação do ensino público de qualidade e da pes- quisa, honrando os que defenderam seus ideais acadêmicos e demo- cráticos e reverenciando aqueles que dedicaram a vida a refletir e deba- Compuseram a mesa os professores Domício Proença Filho, presidente da ABL, Luiz Amâncio ter a educação de base, como o professor Arnaldo Niskier”, salientou. de Souza Jr., decano do CCET, Luiz Pedro San Gil Jutuca, reitor da UniRio, Arnaldo Niskier, pre- sidente do CIEE-Rio, Carlos Alberto Serpa, presidente da Cesgranrio e Nélida Piñon, secretária Em seu discurso, o presidente da ABL, Domício Proença Filho, geral da ABL. destacou a “imortalidade” dos membros da Academia, lembrando a inquietação dos filósofos gregos com o percurso existencial humano. Em seguida, felicitou o colega pela homenagem: “A família festeja, a Academia rejubila-se, os amigos aplaudem.” A secretária geral da ABL, a escritora Nélida Piñon, apontou a generosidade como traço caracte- rístico de Niskier: “É um homem voltado para a compaixão: tem voca- ção para se envolver com as pessoas”, ressaltou Nélida, arrancando aplausos. “É um grande acadêmico, que não prescindimos e com quem aprendemos muito.” O presidente da Fundação Cesgranrio, Carlos Alberto Serpa, emo- cionou o público, convocando todos a saudar o escritor: “Ele merece não só o título de Doutor Honoris Causa, mas que, de pé, o aplaudamos como exemplo para as novas gerações brasileiras.” O reitor, Luiz Pedro San Gil Jutuca, observou que, em 2010, o imortal recebeu o título de Doutor Honoris Causa conferido a Machado de Assis in memoriam, representando a Academia Brasileira de Letras. O professor também ressaltou que Niskier já proferiu uma aula magna na Universidade. “Nosso homenageado possui trajetória de inegável valor, dentro da educação e da cultura do nosso país”, ressaltou. Em seu discurso de agradecimento, o professor Niskier se emocio- nou ao lembrar de sua primeira professora, D. Paulina, e falou do esfor- ço contínuo para entender o fenômeno da educação: “Minha primeira O reitor da UniRio Luiz Pedro San Gil Jutuca e o homenageado, professor Arnaldo Niskier. formação em nível superior foi em Matemática, na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da então Universidade do Distrito Federal, na década de 1950. Depois, a licenciatura em Pedagogia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Na UERJ, comecei a lecionar Geometria Analítica nos cursos de Matemática, Física e Química. Depois, já na década de 1960, passei a dar aulas de Administração Escolar e Educação Comparada, cadeira na qual fiz os concursos de Livre Docente e profes- sor titular. Ganhei o título de Doutor em Educação. Anos mais tarde, num concurso de títulos, fixei-me na cadeira de História e Filosofia da Educação do curso de Pedagogia, até a aposentadoria em 1997. Lecionei na UERJ nada menos de 37 anos, incluindo o tempo em que servi ao Colégio de Aplicação, como um dos seus fundadores, ocupan- do a cadeira de Desenho Geométrico. Em todos esses anos, fiz um extraordinário esforço para entender o fenômeno da educação, procurando trabalhar pelo seu constante aperfeiçoamento. Como professor dedicado e homem público, sempre busquei separar o que era ensino do que representava educação. Sem confundir as responsabilidades de cada um.” Para Niskier, o título é concedido a quem pode se orgulhar de uma longa vida de magistério – “na verdade, são mais de 60 anos de carreira”, salientou. O homenageado, professor Arnaldo Niskier com o diretor do CIEE do Paraná, Arwed Kirchgassner. ornalde 4 JLetras

JL Breves JL Humor por Manoela Ferrari [email protected] por Jonas Rabinovitch [email protected]

A ACADEMIA Pernambucana Ed. Grande Área, faz sucesso no de Letras promoveu sessão sole- meio esportivo o livro Guardiola CARTUM APOLÍTICO ne em homenagem ao poeta Confidencial, retratando o trei- Waldemar Lopes. Entre os pales- nador espanhol mais falado do trantes, os escritores Marly Mota, setor na última década em todo Amaury de Medeiros e Dirceu mundo. Rabelo. A EDITORA RECORD lançou, um OS BAIANOS driblaram a crise ano após o episódio, Crônicas e lançaram mais um festival do golpe, de Felipe Pena, sobre literário no Estado. A Flipelô, a crise política em que o país com show de abertura de Maria emergiu após o impeachment da Bethânia, acontece entre os dias presidente Dilma Rousseff. 9 e 13 de agosto, com a presen- O ça, entre outros, do acadêmico ITO OBRAS publicadas e aos Antônio Torres e da curadora da 44 anos, apontada como uma das Flip, Josélia Aguiar. principais vozes de sua geração na Argentina, onde é subeditora CONSIDERADA a maior carreta do periódico Página 12, Mariana já produzida na América Latina, Enriquez apresenta, através da a um custo de 2 milhões de reais, Intrínseca, seu primeiro livro no o Senai capixaba colocou em Brasil: As coisas que perdemos no operação, nos municípios do fogo. Espírito Santo, a Escola Móvel N de Mecânica Veicular. Trata-se de UM DESEMBOLSO em redor sua primeira unidade no país, de 4 milhões, Lucinha Araújo, formando mão de obra qualifica- mãe de , restaura a resi- da no mercado interiorano. dência onde o artista nasceu, em Vassouras, transformando-a em Benjamin, de 59 anos, está a UM DOS CRIADORES do Plano A EDITORA CONTEXTO, de São Casa de Cultura Cazuza. caminho do décimo livro edita- Real, ex-presidente do Banco Paulo, completa 30 anos de ati- do. Filho de médico, formado em Central, entre outros cargos 60 vidades. Para comemorar, convi- ANOS completados em direito na UFRJ, fez mestrado em importantes, o economista Persio dou 15 autores para analisarem, julho, a Editora Zahar ganha livro Illinois (EUA), tendo sido profes- Arida, aos 65 anos, está escreven- em diversas áreas, as transforma- alusivo à efeméride, no finalzi- sor no Texas e na Bélgica. do suas memórias. O livro sairá ções ocorridas no país ao longo nho do ano, obra que está sendo pela Companhia das Letras. MAURÍCIO – A HISTÓRIA QUE NÃO dessas três décadas. O Brasil no produzida por Paulo Roberto ESTÁ NO GIBI, autobiografia do COM 75 MIL euros conquis- contexto sairá em novembro. Pires: A marca do Z: a vida e os tempos do editor Jorge Zahar. mais famoso quadrinista brasi- tados com o “Dublin Literary APÓS OS 250 mil livros ven- leiro, Maurício de Sousa, chega Award”, com o romance Teoria H didos de sua autobiografia, a OMENAGEADO pela capacida- às bancas com 336 páginas, pela Geral do esquecimento, publica- cantora e compositora de de revestir a cultura popular Ed. Sextante. Os números reve- do pela Ed. Foz, o escritor ango- retorna às prateleiras com uma brasileira com sofisticação inco- lados surpreendem: mais de 1 lano José Eduardo Agualusa, cro- obra de ficção. Dropz de anis mum, o diretor teatral mineiro bilhão de gibis vendidos, 400 nista semanal de O Globo, cons- (com z) terá tiragem inicial de Gabriel Villela ganha tributo em personagens criados e mais de 3 truirá uma biblioteca pública, 100 mil exemplares. livro inteiramente dedicado à mil produtos licenciados. em Moçambique, onde mora. sua elogiada trajetória artística. FORAM 1.793 trabalhos con- Organizado por Dib Carneiro MAIS RECENTE revelação da BAIXOU DE 100 milhões, ano correndo, este ano, à 14ª edição Neto e Rodrigo Audi, Imaginai rica literatura francesa, regis- passado, para 84 milhões, em do Prêmio Sesc de Literatura. – O teatro de Gabriel Villela foi trando marca superior a 200 mil 2017, o orçamento da Orquestra Ganhadores, José Almeida Jr. e publicado pela Edições Sesc. livros comercializados, Edouard Sinfônica de SP. Nas últimas duas João Meirelles Filho serão publi- Louis passa a ser publicado, no temporadas, mais de 40 inte- D cados pela Record, nas catego- ESDE JUNHO, 40 escolas da Brasil, pela Ed. Planeta. grantes foram demitidos. rias romance e conto. capital paulista tornaram-se usuárias da “Árvore de Livros”. A ED. PARALELA relança para os COM EXPOSIÇÕES agendadas DO CHINÊs para o melhor por- 42 mil alunos do Ensino Médio brasileiros toda a extensa obra do até dezembro em Pequim, tuguês, a Edipro põe no mercado e 1500 professores ganharam acadêmico , dentro Buenos Aires, Miami, Madri e sua primeira versão mandarim. login e senha para lerem quantos de um novo projeto gráfico. O Coimbra, o artista José Bechara Em capa dura, exibindo os livros quiserem. Alquimista encabeça a lista. está, desde o começo do mês de principais provérbios do gigante julho, com nove obras no Salão IGUALOU-SE SUICIDAS, livro de Raphael país asiático. ao Prêmio Camões Monumental do MAM-Rio. o novo valor para o Prêmio Montes, adquirido pelo produtor FESTEJADA como destaque na Monteiro Lobato de literatura Rodrigo Teixeira para ser leva- DADOS DA ANCINE mos- atualidade literária americana infantil: 100 mil euros, confor- do ao cinema, será dirigido por tram que, em 2016, o número do gênero fantasia, doze títulos me acordo recém-estabelecido Matheus Souza, com as filma- de ingressos vendidos para fil- publicados e perto de completar pelos ministérios da Cultura de gens previstas para começar em mes nacionais situou-se na faixa 30 anos, Victoria Schwab confir- e do Brasil. Só que, no novembro. de 30,4 milhões de bilhetes. A ma presença na Bienal do Livro mirim, a importância será dividi- participação brasileira nas telas O PRÉDIO da Bienal, no do Rio 2017, onde lançará Um da igualmente entre texto e ilus- alcançou total de 16,5% nas Ibirapuera-SP, recebe a exposi- encontro de sombras, pela Ed. tração. obras exibidas. ção interativa “A Era dos Games”, Record. DEBUTANDO na cena política, criada pelo Barbican Centre, de Escrito por Martí Perarnau nascido no agreste paraibano, o Londres, contando a história dos e publicado em português pela ministro do TSE Antonio Herman jogos eletrônicos. ornalde JLetras 5

Eles estão certos, mas ninguém pode aceitar “qualquer coisas”, esquecendo a con- cordância nominal: quaisquer (plural de qualquer) coisas. Frase correta: “Os professores Na ponta aceitam quaisquer coisas, menos o mau comportamento dos seus alunos.” Namoro acabado Língua “O rapaz se explicou de maneira tão sussinta, que a namorada irritou-se e termi- da nou o namoro.” Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Roberto Não poderia ser diferente! A palavra “sussinta” não existe. O termo correto é sucin- ta (com s inicial e c) e quer dizer resumida, concisa. Período correto: “O rapaz se explicou de maneira tão sucinta, que a namorada Problema dermatológico irritou-se e terminou o namoro.” “A eczema do rosto da criança não melhorou depois da aplicação da pomada que lhe foi receitada.” Ignorância! Não há remédio que cure “a eczema”. Esta palavra é masculina: o “A mãe do rapaz tranquilizou-se quando disseram que seu filho estava malferido.” eczema. Período correto: “O eczema do rosto da criança não melhorou Coitada! Como é triste desconhecer o significado correto das palavras. depois da aplicação da pomada que lhe foi receitada.” Atenção: malferido não quer dizer “com poucos ferimentos” e, sim, ferido mor- talmente. Cuidado para que dúvidas como essa impeçam a compreensão de um texto. Mau retorno Consulte sempre um dicionário. “A jovem voltou à casa mais cedo porque estava indisposta.” Garanto que quando ela chegou “à casa”, sentiu-se mais indisposta, ainda. Por Filme ruim quê? Pela colocação indevida desta crase. Observe: neste caso, não houve a fusão de a “Marcelo foi com a noiva na estréia do filme tão aguardado.” (preposição) +a (artigo definido). O a antes de casa é apenas preposição. Voltou para Não será sucesso de audiência! Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e casa. Veio de casa. Porém, em se tratando da própria casa ou de outrem, mas trazendo ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba). qualquer elemento, há fusão da preposição com o artigo e a crase será necessária. Voltou Período correto: “Marcelo foi com a noiva na estreia do filme tão aguardado.” ¢FDVD de praia, herança de seus pais. Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam Período correto: “A jovem voltou a casa mais cedo porque estava indisposta.” acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis. Exemplos: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. Ortografia O X e o CH são motivo de muitas dúvidas: enxarcar ou encharcar? Prova difícil Quando o en é prefixo, usado para se formar uma palavra derivada, respeita-se a “Carolina não passou no exame teórico da auto-escola.” grafia da palavra primitiva. Observe: enchente, enchimento (vêm de cheio), encharcar Vai ter que estudar mais! Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal (vem de charco), enchocalhar (vem de chocalho) etc. Em tempo: ortografia quer dizer diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento. escrita correta, logo escrever ou dizer “ortografia correta” é redundância. Exemplos: autoinstrução, coautor, anteontem, semiaberto. Frase correta: “Carolina não passou no exame teórico da autoescola.” Faltosos Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo “Uma e outra aluna erraram o trabalho passado pelo professor.” quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, cooperar, coopera- Se não fosse o problema do erro, estaria tudo certo. A expressão uma e outra admi- ção etc. te o verbo no plural, o que é mais usual, mas no singular também está certo. Observe no singular: Uma e outra aluna errou o trabalho passado pelo professor. Perfume de flor “Luciana comprou um buquê de crisantemos muito perfumados.” Exigência docente Perfeito! A palavra proparoxítona crisântemo também admite “Os professores aceitam qualquer coisas, menos o mau comportamento dos seus alunos.” pronuncia como paroxítona: crisantemo. ornalde 6 JLetras destacar. A propulsão nuclear dá velocidade, J muita mobilidade submarina, e mais que isso, L Entrevista de Arnaldo Niskier ele pode permanecer mergulhado. Então, tem um grupo de navios muito grande que deve ser Ilques Barbosa Junior empregado para atacar um submarino conven- cional, aquele que tem motor diesel, ele tem que respirar de vez em quando. Um submari- no de propulsão nuclear não precisa respirar, ele fica mergulhado permanentemente. Esse A Educação mergulho permanente impõe a qualquer país, a qualquer Marinha que venha a atuar contra nossos interesses, um desafio, um custo muito grande. Evidentemente, quando é coordena- da Marinha do ainda com a nossa Força Aérea, com nosso Exército, o custo de violar a nossa soberania fica Foto: Fabio Passos alto, o que então é alcançar o que nós quere- Para falar sobre a educação na Marinha Arnaldo Niskier: São 60 vagas em primei- mos: paz para sempre. do Brasil, o Jornal de Letras convidou o Diretor ra instância. Seriam 60 profissionais. Arnaldo Niskier: A educação nós já Geral de Pessoal da Marinha, Almirante de Ilques Barbosa Junior: Por enquanto o vimos, tem uma grande prioridade nas suas esquadra Ilques Barbosa Junior, uma peça número ainda não quantificamos, mas já defi- preocupações e nas preocupações da Marinha importante do quadro superior da Marinha do nimos as áreas. O que estamos fazendo agora? do Brasil. A Marinha está entrando nas uni- Brasil. A partir de uma aprovação pelo Congresso versidades, vai levantar recursos humanos nas Arnaldo Niskier: Almirante, o que é o Nacional desse aprimoramento, está em trâ- universidades de uma maneira inteligente. O RM3 na Marinha? mite interno no Ministério da Defesa, as três que mais o senhor acha que estaria faltando? Ilques Barbosa Junior: O RM3 está conec- Forças Armadas concordaram que esse aprimo- Ilques Barbosa Junior: Faltando propria- tado diretamente com a dimensão científica ramento proposto pela Marinha é oportuno e mente, em termos de iniciativas, nós conside- e tecnológica de nossos projetos. São profis- pertinente. ramos que o leque, a amplitude está bastan- sionais de elevadíssimo conhecimento profis- te grande. Estamos atuando desde os praças, sional, de qualidade pessoal indiscutível que jovens de 18 anos que entram para ser subalter- estamos buscando para incorporar em nossos nos, até os oficias mais graduados. projetos. O senhor, por exemplo, é um candi- “Sessenta e oito Prêmios Nobel fizeram parte, ou fazem dato a ser integrado às nossas fileiras de forma parte, dos quadros de cientistas que apoiam a Marinha a, como o magistério, poder aprimorar ainda mais a capacitação de nossos oficiais, de nossos norte-americana.” “A nossa capacidade crítica, interna, tem que ser futuros oficiais. aprimorada com a visão de um professor.” Arnaldo Niskier: Mas é só no magistério? Ilques Barbosa Junior: Magistério, ciência e tecnologia e na área de saúde. São professores Arnaldo Niskier: Acho uma ideia muito que estamos buscando, de forma que eles com interessante. Quando fiz o serviço militar no lucro de conhecimento possam irradiar, através CIORM, há muitos anos, já se falava na conti- Arnaldo Niskier: Posso até dizer, ajudan- de outros oficiais mais jovens, aquele conheci- nuidade dos oficias da reserva permanecerem do o raciocínio, que o ensino técnico profissio- mento. É uma matriz estratégica, que procura- nos quadros da Marinha. A Marinha é atra- nal está entrando firme nas preocupações da mos adotar à semelhança do que já é realizado ente: as pessoas que lidam com a Marinha, Marinha, e isso é muito bom. em Marinhas mais desenvolvidas. São profissio- ou conhecem a Marinha mais de perto, ficam Ilques Barbosa Junior: Esse ensino na nais cientistas que são incorporados à Marinha fascinadas. E essa oportunidade profissional é parte técnica que o senhor mencionou intera- e assim podemos agilizar e aprimorar ainda uma ideia muito boa. gimos com diversas instituições, SENAC, SESC, mais nossos projetos. A nossa intenção, alte- Ilques Barbosa Junior: Na verdade, se o não só aqui no Rio de Janeiro como no Brasil todo. rando o estatuto dos militares, é que ele entre senhor observar nossa história, começando por As nossas Escolas de Aprendizes de Marinheiro como capitão de fragata, podendo permanecer Sagres, a Escola de Sagres foi uma matriz estra- não são aqui no Rio de Janeiro, são em outros até oito anos, e ascender até capitão de mar e tégica. Tinha a família real, que era propulsora Estados. Pernambuco, Santa Catarina, Ceará, guerra. Estamos ainda numa fase preliminar de disso, tinham os empreendedores que impul- Espírito Santo. Essas escolas estão já exigindo testar o sistema, mas, em outras Marinhas mais sionavam as grandes navegações, os marinhei- ensino médio, idioma. Estamos desde os mais desenvolvidas, isso já ocorre. E não podemos ros, os cientistas que inventaram, por exemplo, jovens praças, subalternos, aprimorando a parte descartar. Só para se ter uma ideia da dimen- a vela latina... intelectual, a parte física e sempre contribuindo são disso: na Marinha dos Estados Unidos da Arnaldo Niskier: Agora me ocorre uma na parte moral. Na parte dos oficiais, já estamos América, quais foram, entre outros, os partici- ideia que acompanho de perto, que é a cria- interagindo com a Fiocruz, com a COPEAD, com pantes desse projeto? Thomas Edison. Sessenta ção do submarino nuclear brasileiro. O Brasil a USP, com o ITA, com várias universidades, e oito Prêmios Nobel fizeram parte, ou fazem vai adquirindo know-how e uma presença na com a UFRJ, de forma que nós possamos trocar parte, dos quadros de cientistas que apoiam a atividade do submarino nuclear muito impor- conhecimentos. O que é importante nisso é que Marinha norte-americana. Então, é uma matriz tante. Acho que para essa finalidade ao que o sempre temos também uma visão crítica. Se que nós, na verdade, estamos ampliando. A senhor se refere também esse instrumento vai o senhor me perguntar o que estaria faltando: Marinha, como o senhor sabe, tem uma ligação ser fundamental. a cada vez mais aprimoramos a visão crítica, muito forte com a Universidade do Estado de Ilques Barbosa Junior: Com certeza. O por exemplo. O professor Niskier diz: “Olha, . Junto à sociedade paulista, fundamos submarino de propulsão nuclear é a guerra acho que isso está muito bom, mas poderia a Escola Politécnica de Engenharia. Temos uma daquele país que procura neutralizar a aproxi- ter um acréscimo aqui”, porque a expertise, o ligação muito forte com o Instituto de Pesquisas mação, da maneira que nós vamos empregá-lo e conhecimento do senhor é importante para Tecnológicas – IPT. Temos um escritório de da maneira que estamos planejando. O subma- nós, a crítica construtiva é muito importante. Ciência e Tecnologia dentro da Universidade rino com propulsão nuclear não significa, e no Respondendo objetivamente: a nossa capacida- Federal Fluminense, e outro junto à COPPE, caso nosso é constitucionalmente proibido, ter de crítica, interna, tem que ser aprimorada com aqui na UFRJ. armamento nuclear. Isso é importante sempre a visão de um professor. ornalde JLetras 7

JL Livros e Autores por Manoela Ferrari [email protected]

Flanzer clinica desde 1991 e é membro do Tempo Freudiano Lanterna na proa Associação Psicanalítica. Pós-doutoranda do Programa de Teoria Psicanalítica na UFRJ, é autora dos livros de poemas a Em comemoração ao centenário de (1917- pa-lavra (Ed. Contra Capa, 2010) e por um, segundo (Ed. Contra 2001), a Editora Resistência Cultural reuniu grandes pensado- Capa, 2012), e de Re/talhos (Ed. 7 Letras, 2015). res nacionais para lançar Lanterna na proa – Roberto Campos Ano 100, obra organizada por Ives Gandra da Silva Martins e Candelária Paulo Rabello de Castro. 62 personalidades do mundo literário, diplomático, político e empresarial se debruçaram sobre a vida Numa caprichada edição de 434 páginas, no livro Candelária – e a obra de uma das figuras mais notáveis do cenário brasileiro. Aspectos históricos, arquitetônicos e artísticos (2017), o autor Arnaldo O resultado da dedicação dos participantes dessa robusta obra Machado aborda os aspectos formais e históricos da Igreja Nossa coletiva, que soma 342 páginas, é um verdadeiro guia sobre Senhora da Candelária, detalhando, histórica e fotograficamente, as ideias do grande economista e estadista brasileiro, apontando, a partir de seus cada aspecto do monumento. Com concepção da Irmandade do ideias de liberdade, os caminhos que o Brasil deveria trilhar para o desenvolvimento. Santíssimo Sacramento da Candelária, o autor percorreu arquivos e Dividida em três partes, nas 15 seções da primeira parte – “Roberto por nossos olhos”, bibliotecas, estudando relatórios e documentos com o objetivo de cada colaborador mostra um aspecto do homenageado (O homem, o professor, o resgatar a memória de um dos símbolos da cidade do Rio de Janeiro, diplomata, o amigo, o imortal, o filósofo, o pensador etc). A segunda parte, “Roberto fundamental na organização político-social da sociedade. O livro constitui-se numa por seus próprios olhos”, apresenta frases impagáveis, debates memoráveis e momen- oportunidade ímpar de se conhecer vários aspectos da história da igreja, tais como esti- tos inesquecíveis. A terceira parte da obra, “Roberto pelos olhos do futuro”, é definida, los, decoração, reformas internas, conflitos, bem como o seu crescimento social dentro no prólogo, pelos organizadores: “Na derradeira parte do livro, é desse futuro possível da cidade, como afirma, no prefácio, a historiadora Julia Wagner Pereira: “A publicação que tratamos, na esquina em que o pensamento de Roberto Campos nos empurra é, além de um ato de amor do autor, um presente para todos os pesquisadores e leitores para fora de nossas próprias reminiscências e nos projeta para a proa do país e no mar interessados nas histórias de nossa cidade e dos homens que nela sonharam.” Segundo o do mundo em que navegamos.” No epílogo, os organizadores do livro, Ives Gandra autor, não se trata de um livro de Arte ou História: “Usando expressão própria do campo Martins e Paulo Rabello de Castro, convocam os leitores a explorar a memória coletiva da Museologia, diríamos que este livro é o relato de uma visita guiada à Igreja.” O advoga- de Roberto Campos por meio de alguns dos principais significados de sua existência: do e museólogo Arnaldo Machado nasceu em Ribeirão Preto, no dia 14 de abril de 1921, “Quatro atributos poderiam, quem sabe, definir a vida desse homem especial em mas mudou-se na infância para o Rio de Janeiro, onde mora. Dos seus escritos, destacam- todos os sentidos: a busca da Sinceridade, a disponibilidade para o Serviço, o horror à se Aspectos de marinha na obra de João Zeferino da Costa (1984), Arte Sacra Brasileira Servidão e a fuga da Solidão. São atributos expressos com quatro S, todos em homena- (1988), A igreja e Museu da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência e gem à sua companheira da vida, Stella.” Candelária: as portas de bronze, entre outras publicações. Getúlio Vargas, meu pai Fotobiografia de Oswaldo Aranha

Getúlio Vargas, meu pai (Ed. Objetiva, 2017), com 551 páginas,- Um colossal trabalho de resgate memorialístico, concebido pelo editor narra a vida do político gaúcho entre 1923 até 1937 por sua Pedro Corrêa do Lago, neto do biografado, oferece ao leitor um primo- filha e principal confidente, Alzira Vargas do Amaral Peixoto. roso perfil com a síntese dos principais episódios da vida de Oswaldo Indispensável testemunho de uma época, as memórias de Alzira, Aranha (1894-1960), figura exponencial na vida política brasileira, com publicadas originalmente em 1960, dão novos contornos à figu- indiscutível reconhecimento nacional e internacional, que entrou para ra do maior estadista do Brasil do século XX. Na primeira parte, o panteão de heróis nacionais por sua atuação crucial em várias etapas entremeando cenas de intimidade familiar com relevantes fatos importantes do século passado. Em ordem cronológica, numa capri- históricos, a autora narra o ano de 1930 e a chegada de Getúlio chada edição da Capivara, a trajetória do gaúcho Oswaldo Aranha está dividida em dez à presidência, passando pelo levante comunista de 1935 e o ataque integralista ao capítulos. Ao longo de 412 páginas, a publicação oferece acesso privilegiado à compreensão Palácio Guanabara, em 1938. Escritos até então inéditos estão reunidos na segunda de uma fase importante da política do nosso país. Grande articulador da Revolução de 1930, parte desta obra, onde Alzira, mulher de opinião forte e politicamente influente, apre- principal responsável pela entrada do Brasil ao lado dos Aliados na Segunda Guerra mundial, senta sua versão de acontecimentos marcantes, como o rompimento das relações com carreira brilhante, Aranha foi ministro da Fazenda e chanceler, presidindo a Assembleia diplomáticas do Brasil com o Eixo, a criação da LBA e o grave acidente de carro sofrido das Nações Unidas que decidiu pela partilha da Palestina e pela criação do Estado de Israel, por Getúlio, em 1942. O “prefácio, à revelia da autora” foi escrito pelo biógrafo Lira entre outros feitos. Em paginação impecável, contextualizado por documentos e recortes de Neto, a pedido da historiadora e cientista política Celina Vargas do Amaral Peixoto, jornais (mais de 500 textos citados), o material iconográfico flui através de uma leitura fácil filha de Alzira e principal responsável pela reedição de Getúlio Vargas, meu pai. Lira e agradável, reforçada por depoimentos de contemporâneos e comentários de estudiosos, Neto destaca o protagonismo e o testemunho ocular da autora, oferecendo aos lei- além de trechos de discursos e declarações do próprio biografado (destacados em verme- tores detalhes saborosos que só a intimidade e o convívio cotidianos são capazes de lho). Na orelha, o acadêmico destaca a dimensão dessa obra para a compreensão proporcionar. Alzira Vargas do Amaral Peixoto nasceu em São Borja (RS), em 1914. da importância de Oswaldo Aranha: “As inúmeras fotos selecionadas por Pedro Corrêa do Começou a trabalhar como arquivista particular do pai em 1932, no Rio de Janeiro. Lago captam com a objetividade não calculada de muitos olhares no correr dos anos as eta- Em 1937, concluiu a Faculdade de Direito e foi nomeada auxiliar do gabinete Civil pas do seu caminho. Vale a pena lembrar que foto vem do grego, phós, luz; e documento, do da presidência. Em 1939, casou-se com o então interventor federal do Estado do RJ, latim, documentum de docere, ensinar. Esta Fotobiografia ensina documentadamente o que Ernani do Amaral Peixoto. Em 1956, com a indicação do marido para a embaixada foi a luz de sua presença na vida brasileira.” norte-americana, foi morar em Washington, onde ficou até 1959. Morreu em 26 de janeiro de 1992. Sete pecados da língua

do quarto Na introdução, a autora Dad Squarisi explica o título do livro Sete pecados da Língua (Ed. Contexto, 2017): “Dizem por aí que o sete é o número pre- É delicado aplaudir a tessitura narrativa de alguém a quem se tem ferido de Deus. Daí o Senhor ter criado o mundo em sete dias, ter dado apreço. Mas não me acanho na ousadia em afirmar que o quarto sete cores ao arco-íris, ter definido sete sacramentos, ter fixado sete peca- livro da escritora Sandra Flanzer Niskier expõe sentimentos que dos capitais, ter ditado sete virtudes e ter dado sete vidas ao gato.” Diante exprimem um mundo a se dimensionar maior do que nós. O uni- de um número tão especial, a reverência da autora: “Os sete pecados da verso das letras do quarto (Ed. 7 Letras, 2017) surge em sua cadên- língua figuram no time dos incontáveis. Impôs-se, por isso, limitar-lhes a cia de marcha — ritmado, sonoro e harmônico —, exibindo uma abrangência.” Cada tema mereceu uma lição. Crase, pontuação, concor- escritora atenta ao fenômeno poético. O artesanato do texto expõe dância, regência, conjugação verbal, flexão nominal, artigo, pronomes, estilo, redação. Muitos uma narrativa bem alinhavada, que não desperdiça palavras. são os tropeços da língua portuguesa, apresentados de forma bem-humorada e agradável, Questionando a unicidade dos significados, a autora explora ao máximo os significan- aliada a um conhecimento profundo do tema. Cada tópico contém sete pecados diferentes, tes, envolvendo o leitor do início ao fim. A sonoridade e o inesperado sentido da língua os mais comuns e os mais profanos, trazendo dicas para quem quer escrever corretamente. A são explorados com a maestria de quem tem o completo domínio do idioma, lançan- autora também nos apresenta “dez grandes maravilhas” de uma comunicação clara e objetiva. do-nos num universo de múltiplas descobertas, como no poema Ter mino: “O desejo de Dad Squarisi é editora de Opinião do Correio Braziliense, comentarista da TV Brasília, bloguei- ter, mina/o desejo de terminar/que o desejo determina.” O singular estilo artesanal dos ra, articulista, escritora e professora de edição de textos do Centro Universitário de Brasília. poemas encontra consistência não só na bagagem das teorias de linguagem, como Assina a coluna Dicas de português e Diquinhas de português publicada em 15 jornais do país. também no absoluto domínio da sintaxe. Seu espírito, sempre aberto ao espetáculo Formada em Letras pela Universidade de Brasília, tem especialização em Linguística e mes- da vida, permite a simplicidade com que registra a incorporação do eterno ao contin- trado em Teoria da Literatura. Foi professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira em gente. Sua criação tem forma significante que não aprisiona o significado, apontando todos os níveis de ensino. É autora, entre outros, de Dicas da Dad, Mais Dicas da Dad, A arte paraa relação de interdependência entre o pensamento e a palavra. Sandra Niskier de escrever bem e Escrever melhor (os dois últimos com Arlete Salvador), todos pela Contexto. ornalde 8 JLetras que, em 1976, quando me encontrava à frente da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, senti a necessidade de elaborar as “Bases para o Ensino de Primeiro Grau e para o Pré-Escolar”, a serem seguidas A importância da pela extensa rede pública municipal e por seus 30 mil professores. Como cheguei a esta decisão e qual foi o efeito conseguido por sua adoção na rede escolar do primeiro município brasileiro que, desde Base Curricular 1975, assumiu a responsabilidade de municipalizar o ensino fundamen- tal e a pré-escola? Por Terezinha Saraiva* Como secretária de Educação, sempre tive e mantive o hábito de visitar escolas da rede. Era comum chegar dessas visitas, reunir as várias Não faço parte do “Movimento pela Base Nacional Comum equipes técnicas da Secretaria, para levar-lhes o que vira e o que ouvira Curricular”, grupo não governamental que atua, desde 2013, pela ado- dos gestores e professores das escolas visitadas. ção de uma Base e indica ações prioritárias para sua implantação; Àquela época, estava em implantação a Lei 5692/71, que fixara o o entretanto sou uma entusiasta de sua existência e de sua elaboração, diretrizes e bases para o ensino de 1 e 2 graus, e que, em relação ao o o por entender que a Base Nacional representa um passo extremamente currículo, dizia que “Os currículos do ensino de 1 e 2 graus terão um importante para a Educação Básica brasileira, uma vez que ela define o núcleo comum, obrigatório em âmbito nacional, e uma parte diversi- que todos os alunos têm o direito de aprender, criando condições para ficada para atender, conforme as necessidades e possibilidades con- mais equidade neste país continental e diverso, e para organização do cretas, às peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e às sistema educacional brasileiro. diferenças individuais dos alunos”. Algumas pessoas, mesmo aquelas que integram o Movimento Orientava quanto aos conteúdos curriculares e conferia aos pro- acima mencionado, citam o fato de que a Base Nacional está prevista fessores, após as atribuições do Conselho Federal de Educação e dos no Plano Nacional de Educação, esquecendo-se de dizer que a Lei de Conselhos Estaduais, a elaboração e ministração do currículo pleno. Diretrizes e Bases da Educação, de 1996 (Lei 9394), já mencionava no Após várias visitas às escolas, às salas de aula, concluí que os pro- seu Título IV, artigo 9º, inciso IV que deveria “estabelecer-se, em cola- fessores estavam encontrando muita dificuldade e, pior, o sistema de boração com os Estados, Distrito Federal e Municípios, competências ensino municipal do Rio estava perdendo a unicidade desejável. e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino Foi, então, que a Secretaria Municipal de Educação elaborou as médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo Bases para o Ensino Fundamental e Pré-Escolar. a assegurar formação básica comum”. Antes de publicá-las, ouvimos professores e gestores da rede. Após Após sua primeira versão, em 2015, ocupei este espaço que me sua publicação e tiragem necessária para chegar às mãos e ao conheci- é cedido pelo jornal Folha Dirigida, escrevendo vários artigos sobre o mento de milhares de professores, desenvolvemos amplo trabalho, com trabalho apresentado pela Comissão organizada pelo então ministro, o apoio de todos os supervisores e coordenadores pedagógicos da rede Renato Janine. Versão esta que recebeu mais de 12 milhões de contribui- escolar, para que o conteúdo das Bases fosse perfeitamente compreen- ções, sempre chamando a atenção sobre sua importância para o ensino dido por todos os docentes. Encaminhamos as Bases para as Escolas e a aprendizagem. Sempre chamando a atenção de que, se elaborá-la Normais do município do Rio de Janeiro, formadoras dos professores era um exercício complexo, mais complexa seria sua implementação; primários que atuavam nos quatro primeiros anos escolares, e para as e que sua adoção iria exigir uma revisão ampla das licenciaturas for- Universidades, formadoras de professores para os quatro últimos anos madoras de professores. Iria exigir um correto planejamento e ação escolares. para que ela transpusesse os portões das milhares de nossas escolas de A Secretaria de Educação e seus 20 Distritos Educacionais acom- ensino fundamental e médio, e dos espaços de educação infantil. A Base panharam a aplicação das Bases para o Ensino de 1º grau e Pré-Escolar, Nacional tornar-se-ia, também, indutora da revisão dos livros didáticos pelos 30 mil docentes nas quase 800 escolas da rede escolar pública do existentes e da elaboração de novos, uma vez que sabemos que os livros Município do Rio de Janeiro. didáticos se constituem em importante recurso para os professores. O resultado obtido correspondeu à nossa expectativa. Após a segunda versão da Base Nacional Comum Curricular, que Eis porque, sem participar do Movimento pela Base Nacional resultou da análise, por nove mil professores e gestores, das sugestões Comum Curricular, tanto acredito e aguardo esperançosa sua aplicação recebidas na primeira e que, ainda recebeu sugestões de mais de 200 lei- no Brasil. tores críticos nacionais e internacionais, voltei ao assunto em um novo artigo, pela importância deste assunto, para mim. * Terezinha Saraiva é educadora. E por que este meu interesse? Apenas acadêmico? Não, e sim por-

Palavrear é falar sem moderação ou também uma maneira de falar sem nexo. Palavrão significa palavra obscena, grosseira, suja ou também O som das letras palavra enorme. Turpilóquio substantiva e caracteriza palavra grosseira e obscena. Por Mário Albanese* Medir as palavras é atentar bem para o que se fala. Palavrinhas são poucas e breves. A sonoridade das letras resultou no alfabeto do som ou fonético. Palavra-ônibus possui inúmeras acepções. As letras também têm duração, acento e tonalidade. No ser humano e Palavras que soam como promessas vãs, enganosas. por natureza, a voz se altera com o tamanho das cordas vocais, dos pul- Palavrinha significa poucas palavras e breves. mões, da língua, do nariz, bem como em razão da respiração fragorosa Texto (ês), do latim textu = tecido. Conjunto de palavras e frases e da posição dos dentes. escritas. Palavra do grego parabolé, pelo latim parabola é um termo que Textura é o ato ou efeito de tecer. expressa um pensamento ou significado. A palavra pode ser verbal e O pensamento cria, o desejo atrai e a fé no trabalho realiza. escrita. Materializa-se como letra para ser uma representação gráfica. Palavra de honra representa um empenho moral. * O músico paulista Mário Albanese nasceu na capital de São Paulo aos Dar a palavra para que alguém fale num discurso gera um com- 31 de outubro de 1931. É advogado, professor, jornalista, comunicador de promisso. Significa também incentivo ou autorização. rádio e televisão, além de compositor. Maneira de falar para dizer que não é bem assim... L Livre para todos os públicos

Diretoria 2017: Presidente: Domício Proença Filho Secretária-Geral: Nélida PiñonSecretária-Geral: 1ª Secretária: 2º Secretário: Merval Pereira Tesoureiro: Marco Lucchesi Conferencista: Emmanuel Carneiro Leão Carneiro Emmanuel Conferencista: Carneiro Geraldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação realismo do desafio O QUESTÃO EM REALISMO Conferências de Ciclo | 17h30min Conferencista: Leyla Perrone-Moisés Leyla Conferencista: Carneiro Geraldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação verbal linguagem na realidade da Representação QUESTÃO EM REALISMO Conferências de Ciclo | 17h30min 8 deagosto 1º deagosto José de Alencar de José familiar Demônio 30 e 23 Dias: quartas-feiras | 18h - 13h30min Leituras dramatizadas Teatro R.MagalhãesJr. Conferencista: Márcio Tavares Márcio Conferencista: D’Amaral Carneiro Geraldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação pós-verdadede tempos nos real do sofrimento O QUESTÃO EM REALISMO Conferências de Ciclo | 17h30min Resende Beatriz Conferencista: Carneiro Geraldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação rasurado realismo um e contemporânea literatura A QUESTÃO EM REALISMO Conferências de Ciclo | 17h30min Bandolins -HamiltondeHolanda Com ocoraçãonapontadosdedos ABL na MPB | 12h30min 22 deagosto 15 deagosto 9 deagosto Conferencista: Cristovão Cristovão TezzaConferencista: Carneiro Geraldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação autorrepresentação e Literatura QUESTÃO EM REALISMO Conferências de Ciclo | 17h30min 29 deagosto e Paulo Henriques Britto Henriques Paulo e Conferencistas Carneiro Geraldo Acad. Coordenador: Filho Proença Domício Acad. Geral: Coordenação HORIZONTES OS AMPLIANDO TRADUÇÃO: brasis BRASIL, Seminário | 17h30min 31 deagosto [email protected] 3974-2526 (21) Agendamento: sextas e quartas Segundas, | 14h 28 e 25 21, 18, 16, 14, 11, 9, 7, 4, 2, Dias: sextas e quartas Segundas, | 15h15min Visitas guiadas Petit Trianon Histórias imortais JosédeAlencar Sala : Acad. Marco Lucchesi Lucchesi Marco Acad. : ornalde 10 JLetras UmUm poucopouco dede OsOs grandesgrandes prêmiosprêmios HistóriaHistória dada ABLABL Por Manoela Ferrari [email protected] Por Manoela Ferrari

A Academia Brasileira de Letras remonta ao final do século XIX, quan- A Academia Brasileira de Letras iniciou a concessão de Prêmios do escritores e intelectuais brasileiros desejaram criar uma academia nacio- Literários em 1909, quando nomeou uma comissão para julgar, anualmen- nal nos moldes da Academia Francesa. te, o concurso de peças brasileiras destinadas à representação no Teatro Fundada em 20 de julho de 1897, na cidade do Rio de Janeiro, por Municipal, atendendo a convite do prefeito do Distrito Federal. Nos anos escritores como Machado de Assis, Lúcio de Mendonça, Inglês de Sousa, seguintes, outros Prêmios foram criados. Até 1994, a ABL distribuiu os , Afonso Celso, Graça Aranha, , Joaquim seguintes Prêmios: Olavo Bilac (poesia); José Veríssimo (ensaio e erudi- Nabuco, , Visconde de Taunay e . ção); Monteiro Lobato (literatura infantil); Francisco Alves (monografia A Academia tem por fim, segundo os seus estatutos, a “cultura da lín- sobre o ensino fundamental no Brasil e sobre a língua portuguesa); Assis gua nacional”, sendo composta por quarenta membros efetivos e perpétuos, Chateaubriand (artigos literários); (contos); conhecidos como “imortais”, escolhidos entre os cidadãos brasileiros que (teatro); Silvio Romero (crítica e história literária); (romance); tenham publicado obras de reconhecido mérito e/ou livros de valor literário, Joaquim Nabuco (história social); João Ribeiro (filologia, etnografia e folclo- e vinte sócios correspondentes estrangeiros. re); José de Alencar (novelas); Odorico Mendes (tradução); Aníbal Freire (ora- À semelhança da Academia francesa, o cargo de “imortal” é vitalício, tória); (crônicas e viagem); Roquete-Pinto (etnografia); Alfred o que é expresso pelo lema “Ad immortalitatem”, e a sucessão dá-se apenas Jurzykowski (economia e política). pela morte do ocupante da cadeira. Instituição tradicionalmente masculina, Pela reforma regimental, aprovada em 10 de outubro de 1998, passa- a partir de 4 de novembro de 1977, aceitou como membro , ram a ser concedidos, todos os anos, o Prêmio Machado de Assis, para con- para quem foi desenhada uma versão feminina do tradicional fardão. junto de obras, o Prêmio ABL de Poesia, o Prêmio ABL de Ficção, o Prêmio É reconhecido o mérito da ABL por esforços históricos em prol da ABL de Ensaio e o Prêmio ABL de Literatura Infanto juvenil. Depois, foram unificação do idioma, do português brasileiro e do português europeu. criados os Prêmios ABL de Tradução e ABL de História e Ciências Sociais. Nomeadamente, teve um papel importante no Acordo Ortográfico de A mudança na estruturação dos prêmios deu-se no ano passado. O 1945, conseguido em conjunto com a Academia das Ciências de Lisboa, novo formato homenageia grandes nomes da literatura brasileira e de outras assim como foi de novo interlocutora quanto ao ainda “polêmico” Acordo áreas das ciências humanas, alternadamente. A unificação dos prêmios, Ortográfico de 1990. antes dados por estilos literários, privilegia o reconhecimento do conjunto da Inicialmente, sem possuir sede própria nem recursos financeiros, as obra de um escritor brasileiro vivo. A ideia foi acrescentar representatividade reuniões da Academia eram realizadas nas dependências do antigo Ginásio à premiação. Segundo o presidente da ABL, acadêmico Domício Proença Nacional, no Salão Nobre do Ministério do Interior, no salão do Real Gabinete Filho, “A intenção dos prêmios da Academia sempre foi de reconhecimento, Português de Leitura, sobretudo para as sessões solenes. As sessões comuns nunca de estímulo a novos escritores. Antes não era pelo conjunto, era para sucediam-se no escritório de advocacia do Primeiro Secretário, Rodrigo uma obra em cada estilo literário, mas incidia sobre o autor de uma obra já Octávio, à rua da Quitanda, 47. reconhecida”, ressaltou. A partir de 1904, a Academia obteve a ala esquerda do Silogeu Para a acadêmica Nélida Piñon, secretária geral da ABL, com o mode- Brasileiro, um prédio governamental que abrigava outras instituições cultu- lo de prêmios segmentados ou com colocações, dificilmente os escritores rais, onde se manteve até a conquista da sua sede própria. contemplados recebem o devido reconhecimento da sociedade. Mas, com a Em 1923, graças à iniciativa de seu presidente à época, Afrânio Peixoto, concentração em um grande prêmio, o autor vai receber todos os “holofotes” e do então embaixador da França, Raymond Conty, o governo francês doou que merece: “Retomamos a consagração do conjunto da obra. Um autor à Academia o prédio do Pavilhão Francês, edificado para a Exposição do é um patrimônio nacional e, no Brasil, nós estamos muito abandonados”, Centenário da Independência do Brasil, uma réplica do Petit Trianon de disse Nélida. O grande prêmio chama mais atenção para o ganhador, expli- Versalhes, erguido pelo arquiteto Ange-Jacques Gabriel, entre 1762 e 1768. ca: “Prêmios com primeiro, segundo e terceiro [lugares] ninguém guardava Essas instalações são tombadas pelo Instituto Estadual do Patrimônio todos os nomes, e os segmentados também não. Agora é um grande vence- Cultural (INEPAC), da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, dor, que vai ganhar todos os holofotes”, enfatiza. desde 9 de novembro de 1987. Os salões abrigam as reuniões regulares, as Os vencedores recebem um valor em dinheiro, um diploma e, desde sessões solenes comemorativas, as sessões de posse dos novos acadêmicos, 1998, um troféu criado pelo escultor Mário Agostinelli(um pequeno busto de assim como o tradicional chá das quintas-feiras. Podem ser conhecidas pelo Machado de Assis). público em visitas guiadas ou em programas culturais, tais como concertos de música de câmara, lançamento de livros dos acadêmicos, ciclos de confe- Vencedores do Prêmio Machado de Assis, desde 1941: rências e peças de teatro. No primeiro pavimento do edifício, no saguão do Petit Trianon, des- 1941 – Tetra de Teffé 1967 – Adelino Magalhães 1993 – Antonio Candido 1942 – Afonso Schmidt 1968 – Oscar Mendes 1994 – Antônio Olinto taca-se o piso de mármore decorado, um lustre de cristal francês, um grande 1943 – Sousa da Silveira 1969 – Edison Carneiro 1995 – Leodegário A. de Azevedo Filho vaso branco de porcelana de Sèvres e quatro baixos-relevos em pedra de 1944 – não houve premiação 1970 – Octávio de Faria 1996 – coade ingleses. Entre as demais dependências, ressaltam-se: o Salão Nobre, 1945 – Osório Dutra 1971 – Murillo Araújo 1997 – José J. Veiga onde ocorrem as sessões solenes; o Salão Francês, onde o novo membro, 1946 – Tobias Monteiro 1972 – Dalcídio Jurandir 1998 – Joel Silveira tradicionalmente, permanece sozinho, em reflexão; a Sala Francisco Alves, 1947 – não houve premiação 1973 – Andrade Muricy 1999 – 1948 – 1974 – Waldemar Cavalcanti 2000 – Antônio Torres onde se destaca uma pintura a óleo sobre tela, de Rodolfo Amoedo, retra- 1949 – não houve premiação 1975 – Hermes Lima 2001 – Ana Maria Machado tando intelectuais do século XIX; a Sala dos Fundadores, decorada com 1950 – Eugênio Gomes 1976 – Mario da Silva Brito 2002 – Wilson Martins mobiliário de época e pinturas de Cândido Portinari; a Sala Machado de 1951 – Padre Augusto Magne 1977 – Raul Bopp 2003 – Antonio Carlos Villaça Assis, com a escrivaninha, livros e objetos pessoais do escritor, com destaque 1952 – Antônio da Silva Melo 1978 – Carolina Nabuco 2004 – Francisco de Assis Brasil para um retrato dele, de autoria de Henrique Bernardelli; a Sala dos Poetas 1953 – Érico Veríssimo 1979 – Gilka Machado 2005 – 1954 – Dinah Silveira de Queiroz 1980 – Mário Quintana 2006 – César Leal Românticos, tendo como destaque os bustos em bronze de , 1955 – Onestaldo de Pennafort 1981 – Ayres da M. Machado Filho 2007 – Roberto C. de Albuquerque , Gonçalves Dias, e Álvares de Azevedo, de 1956 – Luís da Câmara Cascudo 1982 – Franklin de Oliveira 2008 – autoria de Rodolfo Bernardelli. 1957 – Tasso da Silveira 1983 – Paulo Rónai 2009 – Salim Miguel No segundo pavimento, encontra-se a Sala de Chá, onde os acadê- 1958 – Rachel de Queiroz 1984 – Henriqueta Lisboa 2010 – micos se encontram, às quintas-feiras, antes da Sessão Plenária, a Sala de 1959 – José Maria Belo 1985 – Thales de Azevedo 2011 – Carlos Guilherme Mota Sessões e a Biblioteca. Esta última atende aos acadêmicos e a pesquisadores, 1960 – não houve premiação 1986 – Péricles E. da Silva Ramos 2012 – Dalton Trevisan 1961 – João Guimarães Rosa 1987 – Nilo Pereira 2013 – Silviano Santiago com destaque para a coleção de . 1962 – Antenor Nascentes 1988 – Dante Milano 2014 – Vamireh Chacon 1963 – Gilberto Freyre 1989 – Gilberto Mendonça Telles 2015 – Rubem Fonseca 1964 – Joracy Camargo 1990 – Sábato Magaldi 2016 – Ignácio de Loyola Brandão 1965 – Cecília Meireles 1991 – 1966 – Lúcio Cardoso 1992 – Fausto Cunha ornalde JLetras 11 PrêmioPrêmio MachadoMachado dede AssisAssis –– JoãoJoão JoséJosé Reis,Reis, oo vencedorvencedor Por Manoela Ferrari

O historiador baiano João José Reis, de 65 anos, referência mundial para o estudo da História e da escravidão no século XIX no Brasil, é o vencedor do Prêmio Machado de Assis de 2017. Concedido anualmente, desde 1941, pela Academia Brasileira de Letras, o prêmio foi entregue no Salão Nobre do Petit Trianon, na ocasião da comemoração dos 120 anos de fundação da ABL. Considerado o mais importante prêmio literário do país, entre os vence- dores estão nomes como Ferreira Gullar (2005), Autran Dourado (2008), Dalton Trevisan (2012), Rubem Fonseca (2015) e Ignácio de Loyola Brandão (2016). Este é o segundo ano no qual a ABL entrega o prêmio neste formato. Até 2015, ela concedia prêmios em várias categorias literárias, mas, em 2016, unificou apenas no prêmio Machado de Assis, sempre em homenagem ao conjunto da obra do vencedor. Graduado em História pela Universidade Católica de Salvador, Reis tem mestrado e doutorado pela Universidade de Minnesota (EUA) e diversos pós-doutorados, que incluem as universidades de Londres, na Inglaterra, e de Stanford, na Califórnia (EUA). Foi professor visitante de outras prestigiadas universidades norte-americanas, entre elas Princeton e Harvard. Atualmente, é professor titular do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Um dos mais importantes historiadores do Brasil, recebeu diversos prê- mios por livros publicados, dentre eles: A morte é uma festa, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de Literatura, como melhor obra de não ficção, em 1992, premia- ção que se repetiu com a obra coletiva Festa: Cultura e Sociabilidade na América Portuguesa, em 2001. Sua obra inclui, entre outras publicações, Negociação e conflito: A resistência negra no Brasil escravista; Liberdade por um fio: História dos quilombos no Brasil, Rebelião escrava no Brasil: A história do levante dos malês (1835) e Domingos Sodré, um sacerdote africano: escravidão, liberdade e candomblé na Bahia do século XIX, todos pela Companhia das Letras.

O premiado foi saudado pelo acadêmico José Murilo de Carvalho. Ao final, houve a apresenta- ção de um Quarteto de Câmera. ornalde 12 JLetras J L Literatura InfantilPor Anna Maria de Oliveira Rennhack Visite a nossa página na internet: annarennhack.wix.com/amor

PerseverançaPerseverança Solenidade de Abertura do 19º Salão FNLIJ – Roger Mello (Prêmio Hans Christian Andersen – Ilustrador), Luís Antonio Torelli (Presidente da Câmara Brasileira do Livro – CBL), Ana Maria Machado (Prêmio Hans Christian Andersen – Autora), Simone Monteiro (Secretaria de Educação da Cidade do Rio de Janeiro) Wander Soares (Conselho Curador da FNLIJ), Daniele Mestre em educação, pedagoga, editora de livros infantis e didáticos — e-mail: [email protected] Cajueiro e Marisa Borba (ambas do Conselho Diretor da FNLIJ). Ísis Valéria, presidente do Conselho Diretor, saudou os participantes, e Beth Serra, secretária executiva, anunciou os vencedores dos Prêmios FNLIJ 2017. A palavra perseverança foi a escolhida para definir a 19a edição do Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, que aconteceu de 21 a 28 de junho no Centro de Convenções SulAmerica, no Rio de Janeiro. Engana-se quem pensou que o espaço menor reduziria o entusias- mo dos participantes: autores, ilustradores, editores, livreiros, especia- listas – o povo do livro –, professores e alunos, e leitores entusiasmados O sempre querido para conhecer os criadores das suas histórias preferidas. Performances, Luiz Raul Machado. palestras, debates, lançamentos e leituras, muitas leituras, preencheram todos os espaços destinados ao Salão. Aliada à perseverança, a palavra confraternização documentou a alegria dos reencontros e a afirmação das amizades e talentos. A alegria de autores e ilustradores no lança- Parabéns à incansável Beth Serra, que superou todas as dificulda- mento da coletânea de contos Histórias no des para garantir a realização do Salão. O que nos encheu de esperanças prato – organizada por Cristina Villaça e editada e entusiasmo para o próximo, em 2018, quando acontecerá a 20ª edição pela AEILIJ. do Salão e a comemoração dos 50 anos da FNLIJ. As imagens representam nosso esforço como participante, testemu- O Quindim também nha e narradora de encontros memoráveis, um pouco do que aconteceu. estava no Salão FNLIJ, com Volnei Canonica.

Sempre uma delí- cia ouvir Ana Maria Machado!

Anna Rennhack e o seu conto, O irmão do meu irmão e três Descubra o espião, na coletâ- mocinhas elegantes (Zit), de nea Histórias no prato (AEILIJ), Catharina Baptista e Rita Vaz (SME-RJ) Lançamento do livro Quem matou o Saci? Cristina Villaça. Bia Bedran e o Mundo dos livros com ilustração da Cris Alhadeff. ladeiam Luciana Savaget, Leo Cunha, (Escarlate) de Alexandre de Castro Gomes, (Nova Fronteira). Anna Rennhack e Márcia Leite. com ilustrações de Cris Alhadeff.

Anna Rennhack com Glorinha Granjeiro Autores e ilustradores confraternizam Nos Encontros Paralelos – As história por trás As melhores crônicas (Global), de Marina (Leituras no Sítio – Porto Velho), Leo Cunha no estande da Associação de Escritores e dos livros: Leo Cunha, autor, Márcia Leite, Colasanti, com seleção e prefácio de Marisa e Cláudia Nina (autora de Amor de longe – Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil/ editora e André Neves, ilustrador, da obra Lajolo, recebeu o Prêmio FNLIJ 2017, Jovem Ficções). AEILIJ: Alexandre de Castro Gomes Um dia, um rio (Pulo do Gato), Prêmio FNLIJ Hors-Concours. Organizadora e autora con- (Presidente da AEILIJ), Luiz Antônio Aguiar, 2017, Poesia Hors Concours. versaram sobre o processo de criação, com a Anna Rennhack, Andrea Viviana Taubman, mediação de Marisa Borba. Rogério Andrade Barbosa e Cris Alhadeff. ornalde JLetras 13

JL Biblioteca Básica Brasileira BBBO Jornal de Letras apresenta mais três autores cujas obras não podem faltar numa Biblioteca Básica Brasileira. acervo JL acervo JL acervo JL Celso Vieira Levi Carneiro José Macedo Soares

Terceiro ocupante da Quarto ocupante da Quarto ocupante da Cadeira nº 38, eleito em 20 de Cadeira nº 27, eleito em 23 de Cadeira nº 12, eleito em 30 de julho de 1933, na sucessão de julho de 1936 na sucessão de dezembro de 1937, na sucessão Santos Dumont e recebido pelo Gregório Fonseca e recebido pelo de Vítor Viana e recebido pelo acadêmico Aloísio de Castro em acadêmico Alcântara Machado acadêmico Ataulfo de Paiva em 5 de maio de 1934. Recebeu o em 7 de agosto de 1937. Recebeu 10 de dezembro de 1938. Macedo acadêmico Vítor Viana. Celso os acadêmicos Afrânio Coutinho Soares (José Carlos de Macedo Vieira (Celso Vieira de Matos e . Levi Carneiro Soares), político e historiador, Melo Pereira) nasceu na cidade (Levi Fernandes Carneiro), jurista nasceu em São Paulo, SP, em 6 do Recife, PE, em 12 de janeiro de 1878, e faleceu no Rio de e ensaísta, nasceu em Niterói, RJ, em 8 de agosto de 1882, de outubro de 1883, e faleceu também em São Paulo em Janeiro, RJ, em 19 de dezembro de 1954. Era filho de Rafael e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 5 de setembro de 1971. 28 de janeiro de 1968. Em 1905, formou-se pela Faculdade Francisco Pereira e de Marcionila Vieira de Melo Pereira. Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de de Direito de São Paulo. Professor de Economia Política e Fez seus primeiros estudos no Ginásio Pais Leme, no Pará, Direito do Rio de Janeiro, dedicou-se à advocacia. Foi secre- Finanças no Curso Superior da Escola de Comércio Álvares onde iniciou, também, o curso de Direito, que concluiu no tário da delegação brasileira à Conferência Internacional de Penteado, de São Paulo, e diretor do Ginásio Macedo Soares. Rio de Janeiro. Biógrafo, ensaísta e historiador, exerceu na Jurisconsultos, em 1912; fundador e primeiro presidente da Nomeado, em 1937, presidente do Instituto Brasileiro de capital do país os cargos públicos de auxiliar do chefe de Ordem dos Advogados do Brasil (1932); consultor geral da Geografia e Estatística, foi o responsável pela instalação Polícia no Rio de Janeiro; diretor do gabinete do ministro República, de 1930 a 1932. Representante das classes libe- e funcionamento desse órgão da administração federal. da Justiça e secretário do Tribunal de Apelação. Foi um dos rais, participou da Constituinte de 1934, mas perdeu o man- De novembro de 1945 a março de 1947, foi interventor fundadores da Academia Pernambucana de Letras. Seus dato em 1937. Foi membro da Comissão Permanente de federal no Estado de São Paulo. Membro, desde 1939, do livros são: Endimião, 1919; O Semeador, 1919; Defesa social, Codificação do Direito Internacional Público; delegado do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do qual foi vice- 1920; Anchieta, 1921; Varnhagen, 1923; Para as lindas mãos, Brasil à VIII Conferência Pan-americana de Lima em 1938 e à -presidente, presidente e presidente perpétuo; membro da 1932; , 1939; Estudos e orações, 1941; Manuel Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e da Academia Internacional de Diplomacia; membro da Ordem Bernardes, clássico e místico, 1945 e Joaquim Nabuco, 1949. Segurança do Continente em Quitandinha (1947); consultor dos Advogados de São Paulo; sócio honorário da Sociedade Ocupou a cadeira nº 38, da Academia Brasileira de Letras, jurídico do Ministério das Relações Exteriores; membro da Brasileira de Antropologia e Etnografia; sócio de honra do na vaga decorrente do falecimento de Santos Dumont Comissão de Codificação do Direito Internacional Público; Liceu Literário Português; membro da Academia Brasileira que, aliás, não chegara a tomar posse. Teve a recebê-lo, a 5 membro brasileiro da Corte Permanente de Arbitragem de de Filologia e da Academia Paulista de Letras e membro da de maio de 1934, o professor Aloísio de Castro. Presidiu a Haia; juiz da Corte Internacional de Justiça em Haia, de Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, da qual foi pre- Academia Brasileira no ano de 1940. Celso Vieira foi sucedi- 1951 a 1954. Foi responsável pela Revista Brasileira de 1941 sidente. Pertencia também a inúmeras instituições estran- do na Academia Brasileira de Letras pelo médico e professor a 1944 e foi presidente da Academia Brasileira de Letras em geiras, entre as quais o Instituto Histórico y Geográfico Maurício de Medeiros. 1941. O Livro de um advogado (1943) retrata sua atuação del Uruguai, a Academia Argentina de Letras, a Academia como fundador e 1º Presidente da Ordem dos Advogados do das Ciências de Lisboa, a Real Academia de História de Brasil e do Instituto dos Advogados Brasileiros. Portugal, a Sociedade de Geografia de Lisboa e o Instituto de Coimbra. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras em 1942 a 1943. ornalde 14 JLetras

A pugilista Adriana Araújo

Por Zé Roberto [email protected]

Saci

Rosalina Brito A arte da superação

Nascida no Espírito Santo, em 25 de abril de 1959, Rosalina Brito é um exemplo de que a arte pode ser uma poderosa ferramenta de superação. Por alguns anos, foi dependente química, mas aceitou as oportunidades que a vida lhe apresentou e passou a se dedicar ao meio cultural. É ilustradora, artista plástica, jornalista comunitária, produ- tora cultural e poeta. Além disso, é escritora reconhecida pela FLUPP Salvador – Festa Literária das Periferias, como autora de contos e memórias. A Dali artista é moradora da Cidade de Deus, onde é uma atuante militante na comunidade, trabalhando com jovens, pela educação e cultura. Produtora dos espetáculos Outra Paixão e Poesia D’Esquina, é integran- te do Portal CDD, da Cidade de Deus, e do jornal Notícia Por Quem Vive. A artista participou de oito exposições de desenho e pintura, entre elas a individual Rosalina Brito Livre, em 2014, no SESI e, no mesmo ano, a coletiva intitulada Fique à vontade, com mais de 500 artistas, no MAC – Museu de Arte Contemporânea, em Niterói, evento coordenado por Ricardo Pimenta. No ano passado, quando da realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, Rosalina foi uma das mulheres artistas que participou do evento Elas por Elas – As atletas brasileiras por nossas artistas, mostra que foi montada na Sala de Cultura , em Niterói. Na ocasião, a artista plástica exibiu uma retrato caricatural da pugilista Adriana Araújo. Atualmente, Rosalina estuda a arte da escultura com o artista Roberto Favacho. Contatos com a artista podem ser feitos pelo correio eletrônico, no e-mail: [email protected] ou no Facebook (/ rosalina.brito). ornalde JLetras 15 Meu tipo inesquecível – Homenagem a Vasco Mariz Por Mary del Priore

Nascido no Rio de Janeiro, a 22 de janeiro de 1921, na Casa de Saúde São José, Vasco Mariz passou a infância na Rua General Dionísio em Botafogo, onde seu pai, empresário industrial bem-sucedido, pos- suía inúmeros imóveis. Botafogo era então não uma passagem como querem, hoje, alguns cronistas, mas o remanso dos herdeiros de aris- tocratas portugueses e diplomatas estrangeiros vindos com a família real em 1808. Casarios e sobrados remanescentes lembram ainda os quintais arborizados onde Vasco passou os verdes anos e onde o per- fume dos abricó-de-macaco talvez lhe evoque uma de suas primeiras “Madeleines”. A formação intelectual foi entre os jesuítas. No Colégio Santo Inácio, abrigo da elite carioca, Vasco diz ter sido aluno normal. Modéstia. No centenário da escola, foi escolhido para ser o orador especial nas comemorações que tiveram lugar no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Esportista, jogou futebol, vôlei e velejou nas águas de uma baía onde outrora golfinhos pulavam com alegria triunfante. A possibilidade de descobrir cenários com emoção quem lhe trou- xe foi sua mãe: Ana Vasco, a inesquecível “aquarelista do Leme”. Artista capaz de traduzir a delicadeza das ondas se espreguiçando na areia, o cristal da espuma, o canto dos granitos do Corcovado e Pão de Açúcar, a força vital das plantas tropicais nas Paineiras, as sombras do arvoredo da Lagoa. A figura desta mãe proustiana que lhe trazia o beijo à noite, Vasco perdeu aos 16 anos. Mas a paixão que ela lhe transmitiu pelas paisagens e pela música ficou. O aprendizado sobre a ausência materna foi preenchido pela figura de uma madrasta, que, ao contrário das dos contos de fadas, o encorajou e amou como filho: Dona Acácia, segunda Vasco Mariz mãe que não lhe deu leite, mas, lhe deu mel. Num ambiente familiar privilegiado, Vasco fez a escola de Direito e passou com brilho no curso do DASP para o Instituto Rio Branco. Se o Barão fosse vivo, certamente iria aprovar o jovem desempenado e anima tudo o que é rítmico: acordes, cadências, melodias. Vasco teve guapo que entrava com elegância na escola da diplomacia brasileira. assento na diretoria da Academia Brasileira de Música. Competência na Doravante, como Ulisses ou Jasão, ele enfrentaria os perigos dos cami- diplomacia, curiosidade insaciável na história, alegria na música e em nhos, as armadilhas da profissão, as dificuldades do distanciamento, tudo, alegria. Alegria ao lado das filhas, Stela e Ana Luíza, bem como dos os movimentos da alma de viajantes-diplomatas que resultaram numa netos e bisnetos. E alegria nos braços de Regina, sobre quem ele poderia trajetória rica e em muitas obras publicadas. ter escrito como o fez o poeta René Char: “Je ris merveilleusement avec No Jornal do Brasil, sua coluna, intitulada “De um observador em toi et voilá la chance unique.” Trinta e cinco anos de muitas alegrias e Washington”, fez grande sucesso. Colaborou, também, com inúmeros risos. editoriais, quando, em 1963, serviu nas Nações Unidas. Em sua ativida- Mas nosso tipo inesquecível tinha uma característica rara nos de diplomática, sempre dedicou um grande espaço, por que não ternu- dias de hoje: sua capacidade de ser amigo dos amigos. Como queria o ra, a dar visibilidade às manifestações culturais brasileiras. Readers Digest, Vasco teve a capacidade de aprisionar “corações e men- O que torna um diplomata escritor? Certamente o amor da lín- tes”. De encarnar a amizade como o Parsifal de Wagner, amizade em que gua quando só falamos idiomas estrangeiros ou a inspiração nascida compaixão e moralidade se encarnam em sons. Confiança, cumplicida- por países ou postos. Que o digam seus congêneres, Pablo Neruda, de e parceria: é difícil descrever, sem banalizar, a rica relação que unia Saint-John Perse, Romain Gary, Paul Claudel ou até o sulfuroso Roger Vasco aos amigos que o cercavam. Peyreffite para ficar nos mais conhecidos. Amizade privilegiada e desinteressada que, para além de sua gra- Vasco conviveu e escreveu sobre figuras históricas de imenso rele- tuidade, implica a disponibilidade de tempo, a partilha do sal da vida, vo. Contradição entre o trabalho do escritor e do diplomata? Nenhuma. a comunhão de gostos, pensamentos e atividades. Por essa amizade, só Alguém já definiu os primeiros como incapazes de fazer concessões à podemos lhe dizer, muito obrigado. realidade e mestres em modelar o ferro do tempo e dos fatos como o ferreiro o faz com os metais. Já o diplomata espera mudar o mundo com * Mary del Priore é escritora e historiadora, membro da Academia cuidados. Com diplomacia. Pois Vasco preencheu as duas funções. Carioca de Letras. Imobilidade? Nunca. Vasco se renovou sem cessar. A música foi outra paixão, herança de Ana Vasco que arrancava do piano os sons que pintava na natureza. Afinal, o império do mar que inspirou suas telas ornalde 16 JLetras minha infância afora e por aí foi. Na primeira delas “Que reste t-il de nos amours!”, já me deu um nó na garganta, me vendo deitada no tapete persa da sala de música ouvindo mamãe cantar a música junto com Canções antigas pra o disco, onde eu também me metia num francês do colégio Sion. Me deu um nó na garganta. Em “Que cést triste Venise”, bem mais moderna, comecei a chorar, e, em “Ne me quites pás”, estava quase fazendo um dar vida a novas harakiri, num misto de emoção, prazer e saudade, como diz a safada da música: “quandonétaitjeune et gaspillaitletemps.” Meu Deus, o que significa o tempo? Não foi ontem, como diz o cantor Bernard Fines, que tínhamos vinte anos? E não é dizer que não sabíamos que éramos felizes flores por que eu sabia. Aqui, em Paris, em Veneza, Roma, no Pantanal, em Manaus, eu era feliz. Por Maria Lúcia Dahl Aí a barra começa a pesar com a idade, os pais morrem, você fica sozinha. Pais não deviam morrer. É uma sacanagem! Como é que se Sabe esses dias em que dá vontade de parar o mundo e saltar? podia viver sem eles? As tuas raízes vão embora, você perde o pé, como Dar um tempinho no espaço sem gravidade, sem telefone, sem trânsito, no mar! Só que não acha mais! Passa o resto da vida furando ondas. Uma sem ter que falar com máquinas: “Disque 1 pra se aporrinhar, dois pra atrás da outra. Haja fôlego! E toca a fazer análise pro resto da vida, múlti- se aborrecer, 3 pra se chatear, 4 pra se matar”... Tentar lidar com DVDs, plas terapias e você vai vendo até onde aguenta. E se não aguentar? Não computadores, TVs dando péssimas notícias... Melhor sumir no espaço. existe “não”. Você tem que aguentar morte de mãe, de pai, de amigos, de Nada de morrer. Morrer eu acho de mau gosto... A quantidade namorados que se vão... Não adianta pedir: “Ne me quittes pás!” Querer de amigos que se foram, é de uma falta de educação... Ninguém pediu se humilhar sendo a sua sombra, ou mesmo a sombra do seu cachorro, licença, deu adeus, perguntou o que eu achava, só foi-se embora, assim pra ficar grudada no amor mesmo sabendo que ele é passageiro, pois à francesa... Tá ficando chato... Ou como dizia minha avó: “que coisa tudo é passageiro, menos o motorista e o motorneiro! Ninguém concede pau!” esses pedidos desesperados ao outro, porque a vida continua de outro Tudo congestionado, apressado, estressado, uma ansiedade hor- jeito, sem você! Você pertenceu a um certo momento, a um tempo antes, rorosa pra se receber respostas das quais a sua vida depende (pelo depois... Acabou-se o que era doce... Que reste-t-il? Nada. Nadinha. Só menos na nossa cabeça), e nada. Nem tchum! Ninguém pode imaginar um vazio enorme que preenche a alma, a vida, o tempo... a importância de uma resposta boa, daquelas que nos deixa exultante e – Babá! Vamos brincar de outra coisa? depois calmos. Calma! Há quanto tempo eu não fico calma, meu Deus! – Tá na hora, menina. Tenho que voltar a meditar... Mas tenho que ir ao banco, o dinheiro não – Hora de quê, babá? entrou, tenho que trabalhar, o trabalho foi adiado, tenho que pagar a De perceber coisas boas que acontecem se deixarmos o passado conta e cadê o dinheiro do trabalho que foi adiado? se transformar em presente, através de antigas canções que dão vida a Então, um velho amigo me fez um CD de presente. Quase tive um novas flores. troço! Todas, mas todas as músicas que amei desde a época de mamãe,

Rua Góes Cavalcanti, uma autêntica casa de fazenda, alpendrada, con- vidativa, onde os almoços entravam pelo final da tarde. Luiz Cristovão entre amigos narrava histórias do sertão fazendo gírias na linguagem Sertanejo de gibão e matuta e divertia a todos. Com a sua notável miseenscéne”, imitando os cacoetes de figuras sertanejas, do meio intelectual e de bichos, que, na sua fantástica interpretação, passavam da fantasia à realidade. O escritor Berilo Neves recebeu no Brasil o Prêmio (1946) com chapéu de couro o livro Eça de Queiroz, romântico ou naturalista?, pg. 49, escreve: “De Álvaro de Azevedo poeta byroniano, se diz que, fantasiando o seu livro: Por Marly Mota [email protected] A noite na taverna, sentia tão ao vivo o que escrevia que a família ia encontrá-lo debaixo da mesa, com medo das suas próprias persona- gens.’” Neste mesmo livro, pg. 60, o autor lembra os hábitos e superti- Autêntico homem do campo, Luiz Cristovão dos Santos, o conhe- ções de Eça de Queiroz, citados por Antonio Cabral, o mais completo e cido escritor, folclorista, bacharel em ciências jurídicas, jornalista, criou bem informado dos biógrafos do autor de Os Maias (...) Era supersticio- e dirigiu o Jornal Gazeta do Pajeu, foi deputado Estadual pela UDN, so, e por exemplo: Convidando-me para um passeio venatório, deparou nascido em Pesqueira, 25 de dezembro de 1916, sertanejo de gibão e com uma velha cega dum olho! Parou e propôs-me regressarmos à casa. chapéu de couro, pelas aprazíveis campinas, do sertão pernambucano, Embirrava com o piar das aves noturnas. Quando entrava em casa tinha ganhara a alcunha que para sempre lhe ficara no coração: Pajeu, sabia o cuidado de pisar o primeiro degrau com o pé direito, e, se porventura, fazer do riso a sua alegria e dos outros também. Com méritos indiscutí- ao chegar ao de cima e último ficasse em dúvida, descia e repetia a subi- veis recebeu vários prêmios: da A P L o Othon Bezerra de Mello, Medalha da. Lendo essas supertições lembrei-me das tias velhas, que não podiam da Fundação Joaquim Nabuco, Cidadão do Recife em 1970, Wisconsin ver a roupas às avessas, tesoura aberta, sapatos emborcados. Entravam University, com O Brasil de Chapéu de Couro, Library of Illinois, com e saíam pela mesma porta. Antes de dormir, várias vezes verificavam se Caminhos do Sertão. Em 1973, com mérito, Luiz Cristovão foi elei- as portas da casa estavam fechadas. Com as velhas tias, adquiri esses to para ocupar a cadeira nº 4. Mauro Mota, presidente da Academia presságios. Pernambucana de Letras, recebeu-o com festa, saudando-o. O atual No meu apartamento em Casa Forte, rodeado de árvores frondosas ocupante é o sertanejo, filósofo professor Lourival Holanda. Em 25 de e de palmeiras centenárias, do sítio histórico do Poço da Panela, faço o dezembro de 1916 ano do centenário de Luiz Cristóvão, a cidade de meu jardim, cultivo violetas, e boas-noites brancas e vermelhas. Entre Pesqueira fizera-lhe uma bela comemoração. os vasos, supertições à parte, conservo uma plantinha mágica que: afas- Nossos amigos, Luiz Cristovão Marlene, sempre frequentes a nossa ta o mal-olhado, atrai coisas boas e floresce no meu nome, Arruda. casa, com o filho Antonio Luiz (Totonho), as filhas, Taciana, Andréia, Fátima, que lhe dera a primeira neta, Gabriela, Mauro Mota a chamava de miss Gaby. Em 2016 ano do centenário, a primeira neta dera ao vovô a primeira bisneta. O querido casal nos presenteava com queijos do ser- tão, mangas primavera, e cajus, que vinham do jardim, da residência, à ornalde JLetras 17 so infalível”. Assim aconteceu ao longo de 40 anos, nos reinados de D. Luís, de D. Carlos e, ainda, de D. Manuel. Proclamada a República, a 5 de Outubro de 1910, e o exílio da família real para Londres, surgiu uma Pessoa, uma casa para nova classe política. Cascais passou a ser outra. É então que Fernando Pessoa, por duas vezes, pensou ter casa em Cascais: quando namorava Ofélia e, anos depois, ao concorrer para o mar absoluto bibliotecário e conservador do Museu Castro Guimarães, mas não con- seguiu ser admitido, por falta das habilitações oficiais exigidas para Por António Valdemar* desempenhar o cargo. Contudo, a irmã Madalena e o cunhado Francisco Caetano Dias O dia a dia de tinham casa em São João do Estoril. Ali Fernando Pessoa se instalava, Fernando Pessoa dei- ás vezes, aos fins de semana. As fotografias com a irmã, o cunhado e os xou-lhe marcas pro- sobrinhos Manuela e Luís Miguel mostram Pessoa em família. A ligação fundas. Solitário inve- a Cascais e ao Estoril ficou ainda registada nas Cartas de Amor para terado, umas vezes Ofélia e, em especial, no Livro do Desassossego. Dele extraímos citações alheio ao que o rodea- que se deparam no decurso deste artigo. va, outras, à procura Era o tempo em que os comboios circulavam devagar. Ainda não dos vínculos da cida- havia dormitórios de Lisboa, a explosão anárquica da construção civil. de consigo próprio e Pessoa, quando lhe apetecia, dirigia-se até à estação do Cais do Sodré os outros, fez da roti- e ia-se até Cascais. Sentia “o prazer de ir, uma hora para lá, uma hora na das “secretárias para cá, vendo aspectos sempre vários do rio e da foz atlântica”, (...) velhas do escritório” “cada casa por que passo, cada chalé, cada casita isolada caiada de bran- e das “paredes reles co e de silêncio em cada uma delas num momento me concebo vivendo, dos quartos de alu- primeiro feliz, (...) cansado depois”, (...) “pela arte especial que tenho de guel” símbolos da sua sentir ao mesmo tempo várias sensações diversas, de viver ao mesmo independência e liber- tempo – e ao mesmo tempo por fora, vendo-as, e por dentro sentindo-as dade interior. Os luga- – as vidas de várias criaturas”. res e trajetos que per- “Preciso cada vez mais – escreveu também, numa carta – de ir corria, “a pobreza das para Cascais” (...) “Cheguei à idade” (...) “de realizar a minha obra lite- ruas intermédias da rária, completando umas cousas, agrupando outras, escrevendo outras Baixa usual”, “a náu- que estão por escrever. Para escrever essa obra preciso de sossego e um sea da quotidianidade certo isolamento. Não posso, infelizmente, abandonar os escritórios enxovalhante da vida”, onde trabalho (não posso, é claro, porque não tenho rendimentos), mas eram o chão sobre o posso, reservando para o serviço desses escritórios dois dias de semana qual o seu sonho se (quartas e sábados) ter de meus e para mim os cinco restantes”. erguia. “Por que fiz eu Fernando Pessoa (13/6/1888 – 30/11/1935) Em Cascais, Fernando Pessoa encontraria o Caminho da Serpente? dos sonhos /a minha A via iniciática era uma das suas fontes de conhecimento. Através da única vida?” sabedoria hermética procurava: “Reconhecer a verdade como verdade, Já a morar com a família, em Campo de Ourique, no primeiro /e ao mesmo tempo como erro;/ viver os contrários, não os aceitando;/ andar do número 16 da rua Coelho da Rocha, sem a instabilidade do sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada no fim, se não o enten- hóspede que transita de bairro em bairro, do Carmo para a Estefânia, do dimento de tudo./ Quando o homem se ergue a este píncaro,/ está livre,/ Conde Redondo para Benfica, admitiu a hipótese de possuir uma casa como em todos os píncaros,/ está só,/ como em todos os píncaros,/ está em Cascais. unido ao céu,/ a que nunca está unido,/ como em todos os píncaros.” Enquanto o Estoril se transformava numa praia cosmopolita, com Um dos sítios emblemáticos de Cascais constituiu, aliás, o cená- os grandes hotéis, os restaurantes famosos, a agitação do Cassino, os rio para Fernando Pessoa colaborar numa mistificação com Aleister espetáculos de música, as competições desportivas, Cascais permane- Crowleye que teve repercussão nacional e internacional. José Paulo cia com a tranquilidade de uma vila remota e aberta ao mar. Continuava Cavalcanti nos seus estudos pessoanos também se ocupou deste epi- com os seus habitantes tradicionais e uma frequência própria entre os sódio, nomeadamente no fascinante audiolivro Fernando Pessoa – uma meses de junho a setembro. Contudo, as velhas famílias da nobreza quase biografia, recentemente incorporado na biblioteca da Academia haviam entrado em decadência. Brasileira de Letras. A época de grande movimentação e convivência mundana de A retificação de um horóscopo de Crowley, feita por Fernando Cascais principiara, em 1870. O rei D. Luís escolhera a cidadela como Pessoa, estabeleceu uma correspondência com aquele mago que se uma das residências de Verão. Passou a ser como afirmou Ramalho considerava herdeiro do legado esotérico de Cagliostro. Até que Crowley Ortigão – “a plena vida da corte, o centro mais completo da vida elegan- veio expressamente a Lisboa para consolidar uma relação pessoal. te em Portugal”. Sucediam-se as partidas de pesca, as reuniões no par- Terão sido recíprocos os laços de identificação, de tal modo que, jun- que da Duquesa de Palmela, as noites, na cidadela, presididas pelo rei. tamente, com Pessoa, Crowley fabricou o seu próprio suicídio, na Boca “Os homens – observava Ramalho – que quiserem fazer o que se do Inferno, a fim de se libertar da não menos excêntrica e impetuosa chama a entrada no mundo a investidura social, devem procurar esta “mulher escarlate” que o acompanhava, e sua assistente nas práticas praia para abrir a brecha, para penetrar na praça.” Mas não deixava ocultistas, Hanni Larissa Jaeger. de recomendar ao burguês com a ambição de carreira politica que, Independentemente destas peripécias, Cascais aproximava para ser recebido por essa sociedade, ciosa de pergaminhos e repleta Fernando Pessoa do encontro possível com a luz, o sol, as árvores, o de convencionalismos, “em que se pegam os touros, em que se toca a silêncio e, sobretudo, do Guincho ao Cabo da Roca, o ponto geográfico guitarra, em que se dança o fado”, que havia regras de jogo a cumprir. O mais ocidental da Europa, com a amplitude do mar e com a reinven- burguês não deveria tocar o fado, não deveria pegar os touros, não deve- ção do mar. Muito daquilo que Álvaro de Campos celebrara na Ode ria beber, nem fumar. Nem, muito menos, “deitar para traz o chapéu Marítima e que Cecília Meireles, no outro lado do Atlântico, deu como dando-lhe um piparote”. “Isso – conclui Ramalho – “faziam os fidalgos.” título de um dos seus livros de poemas – o Mar Absoluto. Teria de se apresentar “fácil, complacente, obscuro, nulo”; teria de ir á confissão, à missa e à comunhão, teria de mostrar um ligeiro “ar * António Valdemar é jornalista e investigador, sócio efetivo da idiota, inofensivo, pascácio”. Este comportamento garantia “um suces- Academia das Ciências ornalde 18 JLetras

JL Novos Lançamentos

Líder máximo Triste realidade

Francisco é o primeiro Papa latino-americano, um homem O caminho de casa de Yaa Gyasi (Editora Rocco) é uma que veio “do fim do mundo”, com uma fé fervorosa e com- coleção das histórias interligadas de duas irmãs e suas promisso socioeconômico, com a promessa de olhar para sete gerações de descendentes. Nas primeiras páginas, os pobres, assim como denota a inspiração para o seu conhecemos Effia, nascida no século XVIII, no calor nome, São Francisco de Assis. Em Peregrino, Mark Shriver almiscarado da terra dos fântis de Gana, na Costa do Ouro reconstrói a jornada do Pontífice e ajuda o leitor a enten- africana. Uma das mais belas jovens de sua aldeia, vítima der como um humilde sacerdote se tornou o líder máximo da ira constante da mulher que a criou, Effia se vê afastada da Igreja Católica. O autor apresenta as várias facetas do da família ao ter sua mão concedida a um homem bran- desenvolvimento do Papa, como a sua infância, educação, co, James Collins, governador britânico recém-nomeado educação espiritual e ideologias. Filho de imigrantes italia- para o Castelo de Cape Coast. Ali, no conforto de seu novo nos, Jorge Mario Bergoglio é o mais velho de cinco irmãos. lar, Effia não pode imaginar que sua meia-irmã axânti, Esi A avó e também madrinha foi a responsável pela sua – da qual desconhece a existência –, está no calabouço, formação católica. Além da paixão pela Teologia, quando empilhada com outras centenas de escravos, em meio a jovem, Jorge também gostava da ciência. Bergoglio chegou excrementos e gritos de raiva e medo, à espera dos navios a trabalhar três anos em uma fábrica e, posteriormente, que os levarão para as plantations na América do Norte em um laboratório químico. De início, a mãe não aceitou e do Caribe. É nos ramos da árvore genealógica de Effia sua ida para o seminário. Mas lá estava a avó novamente e Esi que Yaa Gyasi explora os reflexos da escravidão ao para apoiá-lo nesta vocação. Ele entrou para a Companhia longo de 250 anos. Cada capítulo em O caminho de casa de Jesus atraído não apenas pelo compromisso dos jesuítas com a obediência e disciplina, tem seu protagonista e sua história de opressão, mantida não apenas pelas correntes físi- mas, principalmente, pelo trabalho missionário e a vivência em comunidade. Foi ordena- cas enroladas nos pulsos e tornozelos, mas também pelas correntes invisíveis que envol- do padre aos 32 anos e, aos 61, arcebispo de Buenos Aires, cidade em que nasceu. Tornou- viam a mente mesmo após o fim do comércio legal de escravos. Yaa Gyasi nasceu em Gana se cardeal pouco tempo depois, em 2001, aos 64 anos. Nesta obra, Mark, que também vem e cresceu em Huntsville, no Alabama, EUA. O caminho de casa, seu romance de estreia, de uma família católica, visita locais por onde Francisco passou. Na busca para conhecer garantiu a ela um lugar na lista anual dos cinco autores com menos de 35 anos do National a essência do Papa, o autor traça uma jornada da sua própria fé. Peregrino de Mark Shriver Book Foundation e ganhou o prêmio PEN/ Hemingway 2017 na categoria melhor livro de chega às livrarias pela BestSeller Editora. estreia, além de figurar entre os mais vendidos do The New York Times.

Liberdade Escravidão

No final da década de 1960, a jovem Evie Boyd vive Como o Brasil acordou na segunda-feira, 14 de maio de sozinha com a mãe no norte da Califórnia. Aos 14 anos, 1888, um dia depois de promulgada o fim da escravidão no imersa em inúmeras questões de autoaceitação, ela se país? Como os jornais noticiaram a abolição? Partindo des- sente muito desconfortável com o próprio corpo e tem sas questões, o jornalista e historiador Juremir Machado apenas uma pessoa com quem contar: Connie, sua amiga mergulhou nos arquivos da época e resgatou não só a de infância. No início do verão, uma briga faz com que as reação da imprensa, mas também os discursos dos polí- duas se afastem, e Evie encontra um novo grupo: garotas ticos, empresários e jornalistas antes e depois da lei que que demonstram extrema liberdade, usam roupas deslei- libertou os escravos, mas não previu nenhuma política de xadas e emanam uma atmosfera de abandono que a deixa acolhimento nem de inclusão dos negros na sociedade. O fascinada. A jovem logo percebe que já está sob o poder resultado dos seus cinco anos de pesquisa resultaram no e o domínio de Suzanne, a mais velha do grupo, e acaba livro Raízes do conservadorismo brasileiro, lançado pela entrando em um culto sombrio, liderado pelo carismático Civilização Brasileira. O livro mostra como os discursos e Russell Hadrick. O rancho do grupo é um lugar estranho e estratégias dos atores sociais da época são semelhantes ao decadente, mas, aos olhos da adolescente, parece exótico, conservadorismo da sociedade brasileira desde então. “O com uma energia singular. Evie descobre que as garotas que mais me chamou atenção nesse universo de políticos, cozinham, limpam e prestam até mesmo serviços sexuais fazendeiros, barões do café, jornalistas e outros é o quanto para Russell, que proclama um desejo de libertar as pes- as suas visões de mundo se refletem no agronegócio de soas do sistema. Evie quer apenas ser aceita pelos outros hoje, no cinismo dos políticos atuais, na hipocrisia de cer- integrantes, principalmente por Suzanne. É sua chance de se sentir amada e pertencente tos jornais e na insensibilidade com a dor alheia. A retórica conservadora é praticamente a algo. Conforme sua obsessão por Suzanne se intensifica, ela não percebe que se aproxi- a mesma, sempre baseada na chantagem e na disseminação do medo”, afirma Juremir, ma de uma violência inacreditável. Contada por Evie já adulta e ainda abalada, a narrativa em entrevista para o blog da editora. Num dos trechos mais chocantes, reproduz trechos é um impressionante retrato de garotas que se tornam mulheres. As garotas de Emma da “Lenda da criação do negro”, ficção publicada num jornal do Espírito Santo cheia de Cline, com tradução de Sérgio Fleksman (Editora Intrinseca), aborda mais que uma noite clichês racistas, que ainda persistem no imaginário brasileiro racista. Raízes do conserva- de violência – é sobretudo um relato do mal que causamos a nós mesmos e aos outros na dorismo brasileiro mostra que ainda estamos longe de reconhecer e pagar a dívida com ânsia por pertencimento e aceitação. a escravidão.

História de verdade Estilo musical

Em Lampião e o vovô da vovó na cidade de Mossoró! de Os youtubers Hugo Francioni e Pedro Pereira fazem Marcela Fernandes de Carvalho (Escrita Fina Edições), sucesso com o canal Pedrugo. Hoje com mais de 120 você vai acompanhar o confronto entre dois grandes: mil inscrições, seus vídeos falam sobre temas que eles Lampião x Rodolpho Fernandes. Uma história sobre adoram: diversidade, livros e, é claro, k-pop. Estilo que luta, coragem, resistência; sobre homens determinados surgiu na década de 1990 e recebeu influências da e destemidos; sobre o sertão e a caatinga. Uma história música eletrônica, R&B e até mesmo do rock coreano, o inesquecível, que relata o episódio em que Lampião k-pop se consolidou ao redor do mundo como um dos e seu bando são expulsos de Mossoró pela defen- gêneros mais populares entre os jovens. Apaixonados siva orquestrada pelo prefeito Rodolpho Fernandes. pela cultura asiática, acabam de lançar um dos primei- Lampião foi um personagem muito cantado pelos poe- ros livros do Brasil sobre a música pop sul-coreana: O tas sertanejos. Marcela, para elaborar o livro, leu muitas melhor guia de k-pop real oficial (Editora Galera). O histórias de cordel, pesquisou em fontes históricas e guia explica o que é k-pop e suas diferenças para o pop recorreu às memórias de família para recriar, a aventura americano, e fala sobre o surgimento do fenômeno. Na do cangaceiro naquela cidade potiguar. Antes de dor- segunda e terceira seções, eles apresentam a indústria e mir, a menina pede uma “história de verdade”. A mãe começa pela árvore genealógica da o mercado da música pop da Coreia do Sul, descreven- família, vai seguindo rumo ao sertão do Brasil, vira versos e cantoria e chega até Lampião, do a formação dos grupos, as funções que cada compo- o célebre e temido cangaceiro. Mas o povo de Mossoró, no Rio Grande do Norte, não se nente desempenha dentro deles e todo o processo de divulgação e marketing após a sua deixou intimidar, e enxotou o bando de cangaceiros com ousadia e malemolência. Para estreia. Há uma grande seção dedicada às gerações do k-pop e aos grupos e artistas que recuperar esse episódio um tanto esquecido de nossa história, a autora bordou desenhos marcaram cada uma. Pedro e Hugo selecionam também letras de músicas importantes, ao mesmo tempo delicados e vigorosos. Imagens que, feitas à mão, são elas próprias atos apresentam uma lista de palavras e expressões comuns no universo kpopper e indicam de resistência: um elogio ao tempo dedicado ao traçado das histórias, às canções de ninar, vídeos com ótimas coreografias – traço marcante nos clipes de k-pop. O guia conta ainda aos encontros e às famílias, à alegria dos cordéis e ao enlace precioso entre passado e com uma seção para falar sobre as novelas sul-coreanas, os doramas. Por fim, os dois futuro. Marcela Fernandes de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro. Este é o primeiro livro trazem curiosidades e fotos de artistas, sempre acompanhados de comentários bem-hu- que escreve, mas já ilustrou outros, como A linha e o linho, de . morados, e indicam sites, páginas e canais para quem quiser saber mais sobre o k-pop. ornalde JLetras 19 Hoje, cerca de 90% de nossas crianças estão matriculadas nas escolas. É um avanço, mas sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer. AA importânciaimportância dada Na última edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o Pisa, o Brasil, mais uma vez, teve um resultado pífio, clas- sificando-se entre os 10 últimos colocados no ranking em leitura, mate- educaçãoeducação mática e ciências. Isso comprova mais uma vez a necessidade urgente de mudança. Por Bertelli* É fundamental que a nova versão da Base Nacional Curricular Comum, documento que propõe a unificação do currículo para as escolas de ensino infantil, fundamental e médio contemple uma grade Em pronunciamento efetuado em Porto Alegre, no Seminário que resgate a qualidade de ensino, que favoreça o binômio ensino- sobre a Base Nacional Comum Curricular – BNCC e a Reforma do aprendizagem e que diminua as desigualdades educacionais. Ensino Médio, por Luiz Gonzaga Bertelli, presidente do Conselho de A educação é um trajeto obrigatório para um futuro de sucesso Administração do CIEE/SP e Presidente do Conselho Diretor do CIEE para a nossa juventude, tão castigada pelos maus resultados da econo- Nacional, destacamos os seguintes trechos: mia e consequentes cortes de recursos orçamentários para o ensino. “A educação é base que molda a sociedade. Ela viabiliza o percurso A educação só faz a diferença quando é de boa qualidade. Por isso para que o cidadão se torne protagonista de sua própria história. Em um é necessário que os atuais currículos abdiquem de distorções ideológi- de seus famosos sermões, Padre Antônio Vieira disse que a boa educa- cas e se espelhem nas necessidades dos jovens, preparando-os para a ção é moeda de ouro, pois em toda parte tem valor.(...) inserção no mercado de trabalho e, consequentemente, para o exercício De acordo com a Unesco, a educação ajuda a combater a pobreza da cidadania. e capacita as pessoas para o conhecimento. E não faltam exemplos que A complexidade da realidade atual força as escolas a se reinventar. mostrem essa importância. A reforma do ensino médio pode ser um ponto de partida para a revolu- A probabilidade de um indivíduo com menos de sete anos de ção educacional que esse país precisa. estudo ser assassinado no Brasil é 15 vezes maior do que em pessoas Com ensino de qualidade, existe o enfraquecimento da marginali- que ingressaram na universidade. Isso demonstra que a educação é um zação, se cria mais oportunidades de emprego às populações carentes e verdadeiro escudo contra os homicídios no Brasil! diminui o ciclo da violência. No entanto, os investimentos em educação básica ainda dei- Educação de qualidade é sinônimo de desenvolvimento. Essa é a xam a desejar. Segundo dados da Organização para Cooperação e forma mais sustentável de colocar definitivamente o Brasil nos trilhos Desenvolvimento Econômico, o Brasil gasta cerca de 3.400 dólares do desenvolvimento, do crescimento econômico e do protagonismo no anuais por cada aluno da rede de educação básica. Enquanto que a mercado internacional. Dessa forma, nossas belezas naturais tornar- média global ultrapassa os 9.300 dólares por estudante dos anos iniciais. se-ão ainda mais belas!” Em 2015, apenas 58,5% dos jovens de 19 anos tinham concluído o ensino médio, o que demonstra uma necessidade real de se investir em * Luiz Gonzaga Bertelli é presidente do Conselho de Administração do uma ampla reforma do ensino médio. CIEE/SP e presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional. Por causa da educação deficiente, o Brasil ainda engatinha em termos de tecnologia de ponta em nossas indústrias. Como ficou com- provado no caso da Coreia do Sul, uma educação de qualidade é a base para que a nação se torne competitiva no mercado internacional, para que tenha uma indústria forte e alavancar de vez o país rumo ao desen- volvimento. É fundamental que o novo ensino médio, proposto pelo governo federal, dê ênfase à formação dos jovens com vistas à preparação para o mercado de trabalho. Quem sabe dessa forma pode-se diminuir o índice preocupante Passa Tempo de desemprego entre os jovens. O desemprego atual de jovens atingiu o patamar de 28,8% no primeiro trimestre deste ano. Por Jonas Rabinovitch Além da crise econômica, que preocupa a todos, essa faixa etária enfrenta outros desafios, como a baixa qualificação e a falta de expe- riência profissional. O tempo encontrou o elevador. Nesses 53 anos de atuação, o CIEE auxilia esses jovens na inserção “Sobe?” Perguntou o tempo. ao mercado de trabalho por meio da capacitação prática do estágio ou da formação profissional pela aprendizagem. “Desce”. Respondeu o elevador Atualmente, 500 mil jovens passam pela experiência prática do O tempo passou. O elevador parou novamente. estágio em milhares de organizações pelo Brasil, exercendo funções “Desce?” Perguntou o tempo. práticas de acordo com a carreira escolhida. “Sobe”. Respondeu o elevador. É sempre bom lembrar que 64% dos jovens que entram no estágio acabam efetivados na empresa. Uma verdadeira porta aberta para o mundo do trabalho. A aprendizagem não fica atrás. No Aprendiz Legal, programa do CIEE de formação profissional para jovens de 14 a 24 anos, são atual- mente 75 mil aprendizes, que permanecem nas empresas e órgãos públicos por até dois anos, gozando de todas as regalias dos colabora- dores fixos e aprendendo na prática uma profissão. Tentamos humildemente fazer nossa parte para aliviar um pouco das dificuldades que acompanham nossos jovens em busca da qualifi- cação profissional e do primeiro emprego, mas sabemos que não con- seguimos abraçar a todos que necessitam de auxílio. Só em nosso banco de dados, 1,5 milhão de jovens estão à espera de uma oportunidade.