Decantando a Parceria Entre Raul Seixas E Paulo Coelho
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA LUCAS MARCELO TOMAZ DE SOUZA Construção e autoconstrução de um mito: análise sociológica da trajetória artística de Raul Seixas. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Doutor em Sociologia Orientador: Prof. Dr. Fernando Pinheiro Filho São Paulo 2016 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA LUCAS MARCELO TOMAZ DE SOUZA Construção e autoconstrução de um mito: análise sociológica da trajetória artística de Raul Seixas. Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Sociologia. Área de Concentração: Sociologia da Cultura Orientador: Prof. Dr. Fernando Pinheiro Filho De acordo. São Paulo 2016 Dedico esse trabalho à memória de meu avô. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que, de forma direta ou indiretamente, fizeram este trabalho possível. Inicialmente, faço um agradecimento aos professores e corretores que, de tanto me instigarem, possibilitaram com que essa pesquisa representasse um passo intelectual decisivo para minha formação enquanto investigador. Ao professor Dr. Fernando Pinheiro Filho, que, nas longas horas de conversa, teve imensa paciência e sensibilidade para, em certos momentos, me conduzir pelas mãos e, em outros, respeitar meus voos mais arrojados. Obrigado por, no percurso dessa pesquisa, ter me auxiliado a crescer. Faço também uma menção de agradecimento, em especial, à professora Doutora Paula Guerra, que muito calorosamente me recebeu na Universidade do Porto, durante o período de intercâmbio. Sua presença me levou a mundos intelectuais que eu nunca havia sonhado conhecer. Agradeço também ao professor Dr. Alexandre Bergamo, que desde o início me encorajou. Sua figura intelectual é ainda muito presente na minha mente. Também não poderia deixar de agradecer aos inúmeros amigos que, durante os quatro anos de doutorado, se tornaram interlocutores preciosos. Érica Magi, Marcelo Garson, Adélcio Machado, Camila Rosatti, José Muniz, Cristiano Bodart, entre muitos outros grandes amigos que levarei para sempre comigo, meu muito obrigado. Faço um agradecimento especial à Capes, que possibilitou os recursos financeiros para o desenvolvimento dessa pesquisa e a oportunidade do doutorado sanduíche na Universidade do Porto. Também agradeço as inúmeras gentilezas de meu amigo Cláudio Cesar, que me cedeu o espaço de sua empresa para a realização de uma série de entrevistas. 5 Resumo: Após sua morte, o interesse pela imagem e produção musical de Raul Seixas tem crescido bastante. Todos os dias 21 de agosto, o túmulo do cantor amanhece coberto de flores e manifestações públicas em sua homenagem se espalham pelo Brasil. Livros sobre ele são sucessivamente publicados enquanto projetos de filmes e discos fazem de sua imagem um bem econômico muito valorizado. Atentas a esse crescente interesse, diferentes áreas acadêmicas dedicaram a Raul Seixas uma série de teses e dissertações. No entanto, mesmo seduzindo um público considerável e pesquisas acadêmicas diversas, a trajetória de Raul Seixas ainda merece alguns cuidados analíticos. A ideia do “mítico roqueiro rebelde” nubla as recuperações biográficas feitas do cantor e pouco esclarece os mecanismos pelas quais Raul Seixas foi alçado a essa posição. Este trabalho vem lançar luz à trajetória do cantor e compositor Raul Seixas, analisando as posições assumidas por ele em diferentes estágios do campo musical brasileiro, para assim se entender as ferramentas com as quais ele negociou sua consagração. Para superar algumas ideias hoje encalacradas junto à imagem do cantor, realizou-se um mapeamento dos espaços sociais por onde ele transitou, das conjunturas pelas quais ele construiu sua carreira artística, a forma como ele foi avaliado pela crítica musical e a maneira como Raul Seixas se inseriu nos meios de comunicação. Palavras-chave: Raul Seixas, análise de trajetória, campo musical na década de 70, música popular, rock. 6 Abstract: After his death, interest for images and music productions of Raul Seixas has highly increased. Every year on August 21, the grave of the singer is covered of flowers and public demonstrations in his honour spread for all over the country. Books are successively published while movie projects and discs turn his image into a valued economical good. Aware of this increasing interest, different academic areas devoted to Raul Seixas lots of theses and dissertations. However, even reaching considerable fans and academic research, the trajectory of Raul Seixas still requires some extra time. The idea of “mythical rebel rock star” hides biographical recoveries of the singer and does not clarify why Raul Seixas was leaded to that position. This research intends to light the career paths of the singer and songwriter Raul Seixas, analyzing the positions taken by him at different stages of Brazilian music story, in order to understand the tools he used to get to his consecration. To overcome a few ideas now sticked to the singer's image, there is a mapping of social fields he has been through, the situations in which he built his artistic career, the way he was evaluated by music critics and how Raul Seixas was inserted by media. Keywords: Raul Seixas, trajectory analysis, musical field in the 70's, popular music, rock 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................................P. 9 CAPÍTULO 1– “CAETANISTAS”, “PÓS-CAETANISTAS” E “FILHOS DE CAETANO”: RAUL SEIXAS E A CAMPO MUSICAL NA DÉCADA DE 1970.....................................................P. 29 CAPÍTULO 2 – ANTES DE RAUL SEIXAS, RAULZITO. 2.1 – “HÁ MUITO TEMPO ATRÁS, NA VELHA BAHIA” RAUL SEIXAS E A SALVADOR DOS ANOS DE 1950 E 1960............................................................................................................ P. 82 2.2 – RAULZITO SEIXAS: PANTERA, PRODUTOR E CAFONICES..................................... P. 95 2.3 – O PRODUTOR MUSICAL RAULZITO SEIXAS........................................................ P. 105 2.4 – VII FESTIVAL INTERNACIONAL DA CANÇÃO E ESPETÁCULO PHONO 73. DE RAULZITO A RAUL SEIXAS. ....................................................................................... P. 136 CAPÍTULO 3 – “MEU INIMIGO ÍNTIMO”: DECANTANDO A PARCERIA ENTRE RAUL SEIXAS E PAULO COELHO.........................................................................................P. 156 CAPÍTULO 4 – RAUL SEIXAS NA DÉCADA DE 1970. 4.1 – 1973: RAUL SEIXAS, O COMPOSITOR DE OURO DE TOLO....................................P. 196 4.2 – 1974: VIVA A SOCIEDADE ALTERNATIVA! VIVA RAUL SEIXAS!........................P. 226 4.3– 1975-1976: HÁ DEZ MIL ANOS ATRÁS UM NOVO AEON......................................P. 245 4.4 –1977-1980: DIFICULDADES À VISTA...................................................................P. 264 CAPÍTULO 5 – ROCK BRASILEIRO NA DÉCADA DE 1980, O TORTUOSO CAMINHO PARA CONSAGRAÇÃO DE UM GÊNERO MUSICAL.................................................................P. 285 CAPÍTULO 6 – RAUL SEIXAS NA DÉCADA DE 1980. 6.1– RAUL SEIXAS: A ARACY DE ALMEIDA DO ROCK BRASILEIRO.............................P. 307 6.2– 1983: PLUNCT PLACT ZUM, NÃO VAI A LUGAR NENHUM!...................................P. 322 6.3 – 1984: METRÔ LINHA 743.................................................................................. P. 334 6.4–1985-1987: SHOW CANCELADO, PÚBLICO FRUSTRADO, O CULPADO: RAUL SEIXAS........................................................................................................................P. 346 6.5 – 1988-1989: Ó MORTE, TU QUE ÉS TÃO FORTE.....................................................P. 355 7 – BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................P. 376 8 – ANEXOS................................................................................................................P. 401 8 INTRODUÇÃO No dia 26 de abril de 1989, a revista Veja trouxe, como reportagem de capa, uma foto de Cazuza com os dizeres “Uma vítima da AIDS agoniza em praça pública”. A imagem do artista que estampava a revista escancarava seu rosto esquelético e uma debilidade física que pareciam anunciar um fim esperado. O autor de sucessos emblemáticos da década que estava para se encerrar havia cantado em seu disco do ano anterior: “Senhoras e senhores/ Trago boas novas/ Eu vi a cara da morte/ E ela estava viva” (“Boas Novas”, LP “O Tempo Não Pára”, Polygram, 1988). Eram versos fúnebres que a revista Veja não temeu em comentar: “O autor dos versos (...) faz questão de morrer em público, sem esconder o que está lhe passando”1. Naquele ano de 1989, Raul Seixas tinha algo em comum com Cazuza: ele também vinha “agonizando em praça pública”. E essa espécie martírio a olhos vistos possibilitou uma aproximação artística meio impensável no transcorrer dos anos 80. Não por coincidência, Cazuza regravou a canção “Cavalos Calados” (Copacabana, 1988), de Raul Seixas, que parece traduzir bem o momento dos dois naquele fim de década. 1 Veja 26/04/1989, p. 80. 9 O termômetro registrou, a enfermeira confirmou, a minha