Rita Lee: Figurinos, Irreverências E O Limiar Arte-Vida
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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE DESENHO INDUSTRIAL ESPECIALIZAÇÃO EM CENOGRAFIA FERNANDA NERISSA HACK COSTA RITA LEE: FIGURINOS, IRREVERÊNCIAS E O LIMIAR ARTE-VIDA MONOGRAFIA CURITIBA 2018 FERNANDA NERISSA HACK COSTA RITA LEE: FIGURINOS, IRREVERÊNCIAS E O LIMIAR ARTE-VIDA Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Cenografia, do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Orientadora: Prof.ª Dra. Amabilis de Jesus da Silva CURITIBA 2018 Bendita Rita da lua cheia Rogai por mim nesse começo de fim O espinho nosso de cada testa Milagrosa seja vossa festa Sois o lazer de quem trampa Bendita Santa Rita de Sampa (Rita Lee, 1997) TERMO DE APROVAÇÃO RITA LEE: FIGURINOS, IRREVERÊNCIAS E O LIMIAR ARTE-VIDA por FERNANDA NERISSA HACK COSTA Esta monografia foi apresentada em 14 de maio de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Cenografia. A candidata foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado. __________________________________ Dra. Amabilis de Jesus da Silva (UNESPAR/FAP) Prof.(a) Orientador(a) ___________________________________ Dr. Ismael Scheffler (UTFPR) Membro titular ___________________________________ Dra. Maurini de Souza (UTFPR) Membro titular - O Termo de Aprovação assinado encontra-se na Coordenação do Curso - RESUMO COSTA, Fernanda Nerissa Hack. Rita Lee: figurinos, irreverências e o limiar arte-vida. 2018. 22 f. Monografia (Especialização em Cenografia) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba. 2018. Essa pesquisa intenta pontuar os contextos e as diferentes estratégias assumidas pela cantora Rita Lee, quanto ao uso dos figurinos, nos seus shows musicais. Desde que integrou a banda Os Mutantes até as suas últimas apresentações, esse elemento serviu como um importante aporte das discussões comportamentais, ou tabus, quase sempre voltadas para o universo feminino. Se a partir dos anos de 1950 torna-se comum às bandas o uso do figurino para demarcar a separação entre a personagem/cantora e a pessoa, Lee extrapola ao torná-lo um auxílio para a construção de narrativas, possibilitando também um espaço teatral. Por outro lado, alguns detalhes, a exemplo dos seus cortes de cabelo, passam a ser um rastro da personagem no cotidiano. Palavras-chave: Rita Lee. Figurino. Teatralização. ABSTRACT COSTA, Fernanda Nerissa Hack.Rita Lee: costume, irreverence and the art-life threshold. 2018. 22 f. Monografia (Especialização em Cenografia) - Federal Technology University - Paraná. Curitiba. 2018. This research intends to present the contexts and the different strategies taken by the singer Rita Lee, concerning the use of the outfits, in its concerts. Since she was part of the musical group "Os Mutantes" until her last presentations, this element was an important contribution to the behavioral discussions, or taboos, almost always aimed at the female universe. If from the 1950s it becomes common for the musical groups to use costumes to distinguish between the character / singer and the person herself, Lee extrapolates such by making the costume an aid to the construction of narratives, also allowing a theatrical space. On the other hand, some details, such as her haircuts, became a trait of the character in everyday life. Keywords: Rita Lee. Costume. Theatricality. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Turnê do álbum Santa Rita de Sampa ..................................................... 16 Figura 2 – Primeiro show de Rita Lee após sua prisão em 1976 .............................. 17 Figura 2 – Miss Brasil 2000, em turnê do álbum Babilônia, em 1978 ........................ 18 Figura 2 – Saúde, em especial Rita Lee e Roberto 87/88 ......................................... 19 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................08 2 DESENVOLVIMENTO .........................................................................................10 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................21 REFERÊNCIAS .......................................................................................................23 8 1 INTRODUÇÃO Não são poucas as bibliografias voltadas para o estudo da roupa e do advento da moda, muitas delas buscando comprovar as intersecções com as demais áreas do conhecimento humano, e os modos como interferem, se ajustam e se sobrepõem aos diversos segmentos da vida. Pensadores como Gilles Lipovetsky (1989) e Georges Vigarello (2008), tiveram grande importância para o desenvolvimento de percepções que extrapolam em muito as noções, mais comuns, da roupa como estando ligada à frivolidades ou à superficialidade. Também não são poucas as listas dos momentos históricos em que roupa/moda obteve um lugar de destaque, indicando normas de comportamento, ou ainda revelando sinais de divisão social ou, até mesmo, política. Outros/as pesquisadores/as, a exemplo de Cristiane Mesquita (2009), vêm aprofundando os aspectos da subjetividade e identidade. Esse tema, muitas vezes é posto lado a lado ou se soma ao campo das relações de mediação: a roupa como extensão do corpo. Ou seja, há tempos que as cinco funções da roupa, como coloca Amabilis de Jesus da Silva (2018), de proteção, de status, divisão de sexo, estética e moral, estão interligadas e determinam regras complexas nos seus meandros. Quando levada ao palco, assim como todos os demais elementos, a roupa potencializa essas funções, por estar no campo da representação. Silva em sua dissertação de mestrado, intitulada “Para evitar o ‘costume’: figurino-dramaturgia”, faz a distinção de terminologias, adotando o termo figurino, e o qual define como “tudo que cobre o corpo-atuante enquanto este está em cena” (2005, p. 18). O figurino, então, é a roupa e/ou acessório que acompanha o corpo do/a ator/atriz no estado de representação. Essa definição dará sustentação aos objetivos dessa pesquisa, pois busco observar o papel exercido pelos figurinos na trajetória da cantora Rita Lee. Interessa, aqui, pontuar os contextos e as diferentes estratégias assumidas pela artista, nas quais o figurino demarcou a distância entre a personagem/cantora e a pessoa Rita Lee. O visual adotado auxiliou na construção de narrativas durante as apresentações, fazendo com que seus shows pudessem ser analisados também como teatrais. Ao longo de sua carreira, suas personagens irreverentes subverteram padrões e questionaram dogmas. Por outro lado, em outros momentos, parece haver uma junção da personagem com a artista, quando alguns detalhes de seus figurinos passam a ser usados também no cotidiano. 9 Do surgimento dos Mutantes, em 1967, às suas últimas apresentações em carreira solo, em 2012, algumas mudanças são significativas para o ideário feminino. Com base nos escritos de Heloísa Buarque de Holanda, Carlos Alberto M. Pereira e da autobiografia da artista, pretende-se pontuar algumas passagens que exemplificam o quanto o elemento figurino auxiliou nas discussões sobre temas importantes: casamento, virgindade, as normas de conduta ditadas pelo catolicismo, os posicionamentos políticos e tantos outros. 10 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Esse tal de Roque Enrow Heloísa Buarque de Holanda, em seu livro Impressões de Viagem: CPC, Vanguarda e Desbunde: 1960/70, traça um panorama sobre os acontecimentos políticos dessas décadas, no Brasil, pontuando que estes foram marcados pelo desenvolvimento no campo das artes, onde seus criadores expressavam seus posicionamentos a respeito do regime em questão. O descontentamento de vários artistas com a tomada do poder pelos militares se refletiu nos seus afazeres artísticos. Segundo Holanda (2004) pouco antes e depois do ano de 1964, o debate político marcou a produção cultural, que nesse momento era controlado pela esquerda, tendendo ao populismo. Ou seja, a herança do pensamento da vanguarda artística e da modernização é posta em discussão juntamente com os temas da democratização, do nacionalismo e a “fé no povo”. Buscava-se, então, uma arte mais participativa e inclusiva. O alcance revolucionário da arte foi intensamente debatido, intentando dar “voz ao povo”. Essa investida na noção de “arte revolucionária”, na qual o artista intelectual queria estar ao lado do povo, ou seja, do proletariado, ocasionou modificações no entendimento das estruturas das artes, sobretudo, da poesia. Foi no esteio dessas tentativas que surgiu o movimento Tropicalista, no final da década de 1960. A autora comenta que, visando outras formas de expressão e revolução, “o Tropicalismo começa a sugerir uma preocupação com o aqui e agora, começa a pensar a necessidade de revolucionar o corpo e o comportamento, rompendo com o tom grave e a falta de flexibilidade prática política vigente” (HOLLANDA, 2004, p.70) Entre os anos 1967 e 1968, quando vários artistas buscavam formas alternativas que pudessem de alguma maneira sensibilizar o público a respeito das questões políticas do momento, o movimento musical acabou se consagrando como importante polo para a efetivação dessas intenções. Caetano Veloso conta em seu livro Verdade Tropical, sobre esse período, que ao lado de Gilberto Gil exerceu papel fundamental para tais mudanças: De fato nós tínhamos percebido que, para fazer o que acreditávamos que era necessário, tínhamos de nos livrar do Brasil tal como conhecíamos. Tínhamos de destruir o Brasil dos Nacionalistas, tínhamos que