Qualquer Bobagem: Uma História Dos Mutantes

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Qualquer Bobagem: Uma História Dos Mutantes Universidade de Brasília Instituto de Ciências Humanas Programa de Pós-Graduação em História Área de Concentração: História Cultural Linha de Pesquisa: Identidades, Tradições, Processos Dissertação de Mestrado Orientadora: Eleonora Zicari Costa de Brito Qualquer Bobagem: Uma História dos Mutantes Eduardo Kolody Bay Brasília, Setembro de 2009. 1 Universidade de Brasília Qualquer Bobagem: Uma História dos Mutantes Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, na área de Concentração de História Cultural, como requisito à obtenção do título de Mestre em História. Eduardo Kolody Bay Brasília, Setembro de 2009. 2 Banca Examinadora Profª Drª Eleonora Zicari Costa de Brito (UnB – Orientadora) Profª Drª Maria Thereza Ferraz Negrão de Mello (UnB) Prof. Dr. Clodomir Souza Ferreira (UnB) Profª Drª Márcia Martins de Melo Kuyumjian (Suplente) 3 Ao maestro Rogério Duprat, falecido em 2006. 4 Se você se lembra dos anos sessenta, é porque não esteve lá Abbie Hofmann 5 Resumo: Os Mutantes – grupo protagonizado por Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias, cuja importância foi fundamental na composição da música rock no Brasil. Reflexões acerca da construção de uma identidade musical e cultural brasileira e participação dos Mutantes junto ao movimento conhecido como tropicalismo. Nesta pesquisa, procura-se desvelar a participação do grupo no movimento tropicalista – percebendo sua importância estética e comportamental – bem como sua inserção junto às novas práticas e fazeres musicais relacionados à indústria cultural desenvolvidos durante os anos 60, período de desenvolvimento da contracultura e da música psicodélica. Palavras-chave: Os Mutantes, identidades, música, tropicalismo, rock, contracultura, cotidiano, indústria cultural, psicodelia. 6 Abstract: Os Mutantes – group formed by Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias, wich the importance was fundamental on the composition of the rock music in Brazil. Reflexions about the making of a musical and cultural brazilian identity and the participation of the Mutantes within the movement known as tropicalismo. On this research, the proposal is to show its participation on the tropicalist movement – its aesthetic and comportamental importance – as well as its participation within the new musical pratices during the sixties, decade of development of the counterculture and of the psicodelic music. Keywords: Os Mutantes, identities, music, tropicalism, counterculture, rock, quotidian, cultural industry, psychedelia. 7 Sumário Introdução -----------------------------------------------------------------------------------------1 Capítulo 1: Eles são o som! ---------------------------------------------------------------------7 Os reis do iê-iê-iê ---------------------------------------------------------------------------------11 O futuro pertence à Jovem Guarda -------------------------------------------------------------15 Em busca de Mutações --------------------------------------------------------------------------19 Da Pompéia desvairada para o Mundo --------------------------------------------------------23 O Maestro -----------------------------------------------------------------------------------------29 Capítulo 2: Em busca do som universal ----------------------------------------------------38 A explosão da Tropicália ------------------------------------------------------------------------44 Panis et Circencis ---------------------------------------------------------------------------------57 É proibido proibir --------------------------------------------------------------------------------69 A fantasia dos Festivais --------------------------------------------------------------------------77 Pop art ----------------------------------------------------------------------------------------------87 Capítulo 3: Identidades Mutantes -----------------------------------------------------------95 A Divina Comédia ------------------------------------------------------------------------------107 Meio Desligados --------------------------------------------------------------------------------118 O país dos baurets -------------------------------------------------------------------------------140 Considerações finais --------------------------------------------------------------------------149 Corpus Documental ---------------------------------------------------------------------------154 Bibliografia--------------------------------------------------------------------------------------161 8 Agradecimentos Certamente, muitas pessoas merecem encontrar aqui o seu nome. Nesses sete anos transcorridos desde que adentrei a Universidade de Brasília, não foram poucos os colegas e mestres que fizeram parte do meu caminho. Não me alongarei em citá-los todos, pois o verdadeiro sentimento de gratidão reside em nossas amizades e nos férteis momentos que passamos juntos. Já é parte de minha vida. Agradeço primeiramente à minha família, por possibilitar essa experiência. À professora Thereza Negrão e, obviamente minha orientadora, Eleonora Zicari. Seus ensinamentos não foram apenas na área dos estudos acadêmicos, mas para a vida. À todos os músicos que dividiram momentos de epifania comigo, mas especialmente ao Gabriel, colega nos palcos e nas pesquisas. 9 INTRODUÇÃO Sou o começo Sou o fim Sou o A e o Z O A e o Z (Os Mutantes) A presente dissertação é um desdobramento de uma pesquisa iniciada no ano de 2006, por ocasião da conclusão do bacharelado em História.1 Minha intenção era fundir meus interesses na área de História com a paixão pela Música, tentando se possível, realizar uma pesquisa que possuísse alguma relevância – acreditava eu, inédita – para as pesquisas no campo da música brasileira. Logo escolhi Os Mutantes – grupo com o qual tive contato (não pessoalmente, infelizmente, mas quanto à apreciação de seu som) especialmente intenso no próprio período da graduação. Minha escolha não pôde ser mais oportuna: os Mutantes são um grupo de rock especialmente conhecido dentro do meio musical em que estou inserido (me dedico a tocar e compor rock há alguns anos), e representam ainda um “elo perdido” da cultura musical brasileira. Sua existência é bastante conhecida entre os amantes do rock no Brasil, embora – paradoxalmente – seus discos fossem freqüentemente difíceis de serem encontrados, bem como informações a seu respeito, que pertenciam quase sempre ao campo das “lendas” do rock, amplamente difundidas em formato anedótico – e até mítico – pelos fãs. Por sorte, ou – quem sabe – por sintonia musical, tão logo comecei a pesquisar o assunto, me deparei com uma notícia inusitada: os Mutantes estavam preparando um retorno aos palcos naquele mesmo ano! A notícia me veio primeiramente pelo próprio Sérgio Dias. Escrevi um e-mail perguntando sobre sua disponibilidade em colaborar com a pesquisa – 1 BAY, Eduardo Kolody. Qualquer Bobagem. Monografia final de Graduação.Departamento de História da Universidade de Brasília, 2006. 10 fosse com documentos (que ele provavelmente teria guardado), fosse com alguma entrevista. O pedido foi devidamente negado, sob a alegação de que ele estaria muito ocupado nos próximos meses “com um casamento”. A resposta me soou absurda a princípio (nada que eu já não esperasse), e logo foi explicada pelos meios de comunicação, que divulgavam “o retorno dos Mutantes” para as comemorações dos 40 anos do tropicalismo a serem realizadas no ano de 2007. Várias reportagens ocupariam então destaque na mídia, trazendo à tona velhas – e polêmicas – histórias em torno do grupo, que voltou (em parte) a conceder entrevistas, estimulando a curiosidade e realizando esclarecimentos a respeito de seu passado. O retorno do grupo não movimentou apenas os meios de comunicação, mas também o mercado. Foram reeditados os álbuns do grupo (remasterizados em formato CD), e a única biografia existente até então – A Divina Comédia dos Mutantes, de Carlos Calado2 – deixou de ser “raridade” nos sebos para ocupar novamente as prateleiras3. Foram produzidos também dois documentários, “Making off do LP de 1968”4, pela MTV e “Loki”5, que se somariam ao antigo programa especial da rede Bandeirantes6, realizado à mesma época que a biografia de Carlos Calado. Apesar dessa “revisitação” ao grupo, a dificuldade em encontrar fontes sobre eles se impôs desde o princípio da pesquisa. Mesmo durante seu período de atividade, foram realizadas poucas reportagens e entrevistas sobre os Mutantes – sendo em sua maioria muito pouco aprofundadas e / ou 2 CALADO, Carlos. A Divina Comédia dos Mutantes. São Paulo, editora 34, 1995. A biografia de Carlos Calado é a pesquisa mais extensa já realizada acerca do grupo, contando (segundo o autor) com dezenas de entrevistas com os personagens envolvidos. No entanto, o livro parece não ter agradado o próprio Sérgio Dias, que, ao autografar um exemplar (ao qual tive acesso) escreveu “Calado, perdeu uma ótima oportunidade de permanecer calado”. 3 Foram editados ainda os livros “Rita Lee mora ao lado” (BARTSCH, Henrique. Rita Lee mora ao lado: uma biografia alucinada da rainha do rock. São Paulo, Panda books, 2006.) – uma biografia ficcional bastante divertida – que se somaria à “Balada do Louco” (PACHECO, Mário. A Balada do Louco. Brasília, (independente), 1991.), ambos trabalhos biográficos realizados a respeito de membros dos Mutantes, e que seriam também úteis à compreensão dos personagens que comporiam esta história. 4 OLIVEIRA, Xande. (direção). Making off do LP de 1968. Discoteca MTV, 2007. 5 FONTENELLE, Paulo Henrique (diretor). Loki: Arnaldo Baptista.
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