Modulações De Sentidos Na Experiência Psicotrópica
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DOUTORADO EM PSICOLOGIA Autor: SANDRO EDUARDO RODRIGUES Orientador: Prof. Dr. EDUARDO PASSOS Modulações de sentidos na experiência psicotrópica NITERÓI 2014 ii UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE – UFF CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DOUTORADO EM PSICOLOGIA Modulações de sentidos na experiência psicotrópica Sandro Eduardo Rodrigues Tese apresentada ao Programa de Pós- graduação de Psicologia – Estudos da Subjetividade – do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do diploma de doutor em Psicologia. Orientador: Prof. Dr. Eduardo Passos NITERÓI 2014 Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá R696 Rodrigues, Sandro Eduardo. Modulações de sentidos na experiência psicotrópica / Sandro Eduardo Rodrigues. – 2014. 253 f. ; il. Orientador: Eduardo Passos. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Psicologia, 2014. Bibliografia: f. 237-253. 1. Saúde mental. 2. Transtorno relacionado ao uso de substâncias. 3. Uso de droga. I. Passos, Eduardo. II. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. III. Título. CDD 616.89 iii Modulações de sentidos na experiência psicotrópica Sandro Eduardo Rodrigues Composição da banca examinadora: Dr. Eduardo Passos (orientador – UFF) _____________________________ Dr. Henrique Soares Carneiro (USP) _____________________________ Dr. Auterives Maciel (PUC/RJ) _____________________________ Dra. Analice Palombini (UFRGS) _____________________________ Dra. Silvia Tedesco (UFF) _____________________________ Suplentes Dr. Jorge Vasconcellos (PPGCA/UFF) _____________________________ Dra. Cristina Rauter (UFF) _____________________________ iv Para Fernanda e Iberê, pela maior experiência psicodélica de minha vida. v AGRADECIMENTOS Agradeço a Eduardo Passos pela paciência e cuidado de um verdadeiro guia de cego, dos que ajudam o cego a ir para onde este deseja, mesmo quando o cego se sente também um pouco confuso sobre qual direção tomar. Agradeço ao coletivo de pesquisa GAM-BR e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense pela acolhida do projeto de pesquisa. Aos integrantes do PPG em Psicologia da UFF agradeço especialmente por terem lutado para garantir as condições para que esta pesquisa fosse levada a termo, mesmo mediante contratempos financeiros que ameaçaram sua continuidade. Agradeço a Henrique Carneiro pela ótima interlocução e comentários atentos, a Analice Palombini pela intensidade e o carinho com os quais tomou parte na escrita do presente trabalho, a Silvia Tedesco pelas considerações sobre linguagem e produção de subjetividade e a Auterives Maciel que há tantos anos me ajuda a pensar com o impensável do pensamento, o que nos força a pensar, o fora. Agradeço também aos colegas da UFF, da UFRGS, UFRJ e UNICAMP, aos colegas do grupo de orientação e da Frente Estadual Drogas e Direitos Humanos-RJ. A David Rodgers pela cuidadosa tradução do resumo para a língua inglesa. Ao povo do underground de ontem, hoje e sempre, em especial os companheiros que embarcaram comigo na incomensurável piração psicodélica chamada Digital Ameríndio & ( American Bigfoot ) Mouse Mouse Joe. Agradeço a meu pai que um dia foi músico e minha mãe que ensinou como me orientar numa biblioteca. Por fim, a Fernanda e Iberê, nosso filho, pela experiência mais psicodélica e amorosa que pude viver até agora, pois o processo de gestação, o parto e esses primeiros meses partilhando de toda a maquínica desejante que este nosso rebento vem colocando para operar tem sido uma jornada inominável. vi ...me lembro que ainda naquela época, eu fiz a seguinte afirmação: é preciso se desmilitarizar – na época deles, hein?! – inclusive a mente dos civis! Walter Franco vii RESUMO A presente tese propõe articular a experiência psicodélica ao cuidado de usuários de psicotrópicos prescritos em saúde mental. Para tanto, apresentamos a Gestão Autônoma da Medicação (GAM), uma abordagem de intervenção em saúde mental pautada na valorização da experiência dos usuários de psicotrópicos. O problema da presente pesquisa emerge como fora-eixo da GAM, dando relevo à análise de implicações, procedimento metodológico para extrair o excesso de pessoalidade na redação do fora-texto da pesquisa, ou seja, o material usualmente excluído das publicações científicas oficiais. Para auxiliar na redação desse fora- texto, algumas ferramentas são introduzidas como recursos estilísticos consistentes com o material trabalhado, tal como o discurso indireto livre , de Mikhail Bakhtin, e os ritmos acelerados, saltos, cortes e dobraduras do tempo, herdados dos artistas beat , sobretudo como utilizados nas rotinas – invenção literária de William Burroughs. A tese faz uma apresentação da experiência psicodélica, desde a primeira síntese do LSD-25, em 1938, passando por pesquisas científicas, militares, clínicas, místicas, artísticas e político-culturais, com especial atenção ao acid rock , ou rock psicodélico, e às considerações de Timothy Leary, Ralph Metzner e Richard Alpert no que diz respeito tanto à influência das disposições pessoais ( set ) e ambientais ( setting ) quanto à distinção, na experiência psicodélica, de três fases (ou bardos ), baseadas no Livro Tibetano dos Mortos , que entendemos como uma primeira fase de transcendência completa, prerreflexiva, sem qualquer distinção entre dentro e fora (para além do espaço-tempo, da linguagem e de si); uma segunda, de controle egoico, que envolve tentativas alucinantes e delirantes de demarcação de limites identitários; por fim, um período de retorno ao jogo da realidade rotineiro, das distinções entre dentro e fora, mas com limites mais alongados, flexíveis e expandidos. Em seguida, apresentamos o fora-eixo da pesquisa de campo realizada em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), entre março e novembro de 2011. Na pesquisa de campo, experimentamos a ação de três vetores , produzindo distintos movimentos de subjetivação: um vetor de exclusão, produtor de fechamento; um de inclusão, produtor de abertura; e um vetor de repulsão, produzindo paranoia, que serviu-nos para ressaltar o caráter desafiante que envolve a inclusão do fora. Com isso, cumprimos nosso objetivo, na expectativa de que a partilha de uma sensibilidade psicodélica auxilie na formação estético-política de trabalhadores do campo da saúde mental. Palavras-chave: Saúde mental. Experiência psicodélica. Drogas lícitas e ilícitas. viii ABSTRACT This thesis sets out to explore the interconnections between psychedelic experience and the mental health care prescribed for psychotropic drug users. This aim in mind, I present an approach to mental health intervention, Autonomous Medication Management (AMM), that values the experience of psychotropic drug users. The problem examined in this research emerges as an off-axis variant of AMM, highlighting the analysis of its implications as a methodological procedure to extract the excess personalization involved in writing the outside-the-text of the research – i.e. the material usually excluded from official scientific publications. To help write this outside-the-text, various tools are introduced as stylistic resources consonant with the material under examination, such as Mikhail Bakhtin’s free indirect discourse , and the accelerated rhythms, jumps, cuts and foldings of time inherited from the beat writers, in particular the kind found in the routines invented by William Burroughs. The thesis describes psychedelic experiences from the first synthesis of LSD-25 in 1938 to scientific, military, clinical, mystic, artistic and politico-cultural research, focusing especially on acid rock , or psychedelic rock. Here I turn to the ideas of Timothy Leary, Ralph Mezner and Richard Alpert on both the influence of personal dispositions ( set ) and environmental dispositions ( setting ) and the differentiation of three phases (or bardos ) in psychedelic experience, derived from the Tibetan Book of the Dead : a first phase of complete, pre-reflexive transcendence, with no distinction between outside and inside (beyond space- time, language and self); a second phase, controlled by the ego, involving hallucinatory and delirious attempts to delimit identity boundaries; and finally a period of return to the game of everyday reality and the distinctions of outside and inside, but now with more flexible, stretched and expanded boundaries. Next I present the off-axis variant of the field research conducted in a Psychosocial Care Centre (CAPS) between March and November 2011. In this field research, we experienced the action of three vectors , each producing distinct movements of subjectification: a vector of exclusion, producing closures; a vector of inclusion, producing openings; and a vector of repulsion, producing paranoia, which served to emphasize the challenges involved in the inclusion of the outside. In reaching this conclusion, the thesis anticipates that the sharing of a psychedelic sensibility can assist in the aesthetic-political training of workers in the mental health field. Keywords: Mental health. Psychedelic experience. Licit and ilicit drugs. ix RÉSUMÉ Cette thèse propose articuler l'expérience psychédélique au soin des utilisateurs de médicaments psychotropes prescrits dans le domaine de la santé mentale. À cette fin, nous présente