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FORTISSIMO Nº 5 — 2015 JULHO 3

CAROS AMIGOS E AMIGAS,

O mês de julho promete ser um Julho nos reserva, ainda, o que dos mais intensos e emocionantes talvez seja a ocasião mais marcante de toda a nossa temporada. desta temporada singular da Filarmônica de Minas Gerais – Primeiramente, teremos o retorno as primeiras estreias de obras sempre bem-vindo e celebrado do encomendadas para a celebração grande pianista Arnaldo Cohen. da abertura da Sala Minas Gerais. Em semanas consecutivas, ele Primeiramente apresentaremos os interpretará dois dos mais apreciados Jogos Sinfônicos, compostos pelo concertos de toda a literatura para carioca João Guilherme Ripper, piano – os concertos números 2 e 3 obra de grande variedade de ideias, de Rachmaninoff. Poucos intérpretes riqueza rítmica e empolgante energia. dominam esse repertório como Arnaldo Cohen, fazendo, assim, Mais para o fim do mês dessas duas apresentações, noites apresentaremos o Grande Trio imperdíveis para todos aqueles que Concertante, do jovem mineiro acompanham nossa trajetória. Cláudio de Freitas, compositor de imenso talento, com um profundo Teremos também o retorno da conhecimento da potencialidade da grande diva do canto lírico brasileiro, orquestra sinfônica, exemplificada Eliane Coelho, que mostrará toda aqui pela maneira com que as a sua versatilidade ao interpretar diferentes seções da orquestra se a etérea Sheherazade de Ravel apresentam independentemente. e a visceral cena final da ópera Salomé de , uma das Um mês rico de atrações das mais impressionantes partituras mais diversas, exibindo assim escritas para voz e orquestra. a flexibilidade, o virtuosismo e a alegria que caracterizam a De novidade trazemos o exímio música feita na Sala Minas Gerais violinista russo Sergej Krylov, que pela nossa grande orquestra. mostrará sua técnica e musicalidade interpretando o raro e extremamente Que todos aproveitem. desafiador Concerto nº 5 de Paganini.

Comemoramos os 150 anos de Paul Dukas e os 100 anos de Henri Dutilleux, dois dos mais importantes compositores FABIO MECHETTI franceses de toda a história. Diretor Artístico e Regente Titular FOTO: BRUNA BRANDÃO BRUNA FOTO: 5 FOTO: RAFAEL MOTTA RAFAEL FOTO: 6 7

Jacksonville, sendo, agora, Regente Dinamarca, Mechetti dirige Emérito destas duas últimas. regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra Foi regente associado de Mstislav da Rádio Dinamarquesa e a de Rostropovich na Orquestra Sinfônica Helsingborg, Suécia. Recentemente, Nacional de Washington e com ela estreou na Itália conduzindo a dirigiu concertos no Kennedy Center Orquestra Sinfônica de Roma. Em e no Capitólio norte-americano. Da 2015 dirigirá a Orquestra Sinfônica Orquestra Sinfônica de San Diego de Odense, também na Dinamarca. foi Regente Residente. No Brasil foi convidado a dirigir a Fez sua estreia no Carnegie Hall Sinfônica Brasileira, a Estadual de São de Nova York conduzindo a Paulo, as orquestras de Porto Alegre, Orquestra Sinfônica de Nova Jersey Brasília e Paraná e as municipais e tem dirigido inúmeras orquestras de São Paulo e do . norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Trabalhou com artistas como Alicia Phoenix, Columbus, entre outras. de Larrocha, Thomas Hampson, É convidado frequente dos festivais Frederica von Stade, Arnaldo Cohen, de verão nos Estados Unidos, entre Nelson Freire, Emanuel Ax, Gil eles os de Grant Park em Chicago Shaham, Midori, Evelyn Glennie, Natural de São Paulo, Fabio Mechetti e Chautauqua em Nova York. Kathleen Battle, entre outros. é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Realizou diversos concertos no Igualmente aclamado como Minas Gerais desde sua criação, em México, Peru e Venezuela. No Japão regente de ópera, estreou nos 2008. Por esse trabalho, recebeu o dirigiu as Orquestras Sinfônicas de Estados Unidos dirigindo a Ópera XII Prêmio Carlos Gomes/2009 na Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Na de Washington. No seu repertório categoria Melhor Regente brasileiro. Europa regeu a Orquestra Sinfônica destacam-se produções de , Recentemente, tornou-se o primeiro da BBC da Escócia e a Orquestra , Carmen, , brasileiro a ser convidado a dirigir da Radio e TV da Espanha. Dirigiu Cosi fan Tutte, Bohème, Butterfly, uma orquestra asiática, sendo também a Filarmônica de Auckland, Barbeiro de Sevilha, La Traviata e nomeado Regente Principal da Nova Zelândia, a Orquestra Sinfônica As Alegres Comadres de Windsor. Orquestra Filarmônica da Malásia. de Quebec, Canadá, e a Filarmônica Foi Regente Titular da Orquestra de Tampere, na Finlândia. Fabio Mechetti recebeu títulos FABIO Sinfônica de Syracuse, da de Mestrado em Regência e em Orquestra Sinfônica de Spokane Vencedor do Concurso Internacional Composição pela prestigiosa e da Orquestra Sinfônica de de Regência Nicolai Malko, na Juilliard School de Nova York.

FOTO: EUGÊNIO SÁVIO EUGÊNIO FOTO: MECHETTI 8 9

FABIO MECHETTI regente ARNALDO COHEN piano

ALLEGRO PROGRAMA Quinta 02/07 João Guilherme RIPPER Jogos Sinfônicos

VIVACE ESTREIA MUNDIAL • Distâncias Sexta Obra encomendada • Velas 03/07 pela Filarmônica • Drible

Sergei RACHMANINOFF Concerto para piano nº 2 em dó menor, op. 18

ARNALDO • Moderato – Allegro COHEN • Adagio sostenuto piano • Allegro scherzando

– INTERVALO –

Arnold SCHOENBERG Sinfonia de Câmara nº 1, op. 9b

Nikolai RIMSKY-KORSAKOV Capricho Espanhol, op. 34

PATROCÍNIO • Alvorada • Variações • Alvorada • Cena e canto cigano • Fandango asturiano 10 ALLEGRO E VIVACE 11

Rudolf Serkin”. Seu CD com obras internacional em teatros como o de Liszt (Naxos) esteve por quatro Scala de Milão, o Concertgebouw, meses entre os mais vendidos na Symphony Hall de Chicago, Théâtre Inglaterra. O jornal inglês The Times des Champs-Elysées, o Gewandhaus, disse sobre o CD Brasiliana – Três Teatro La Fenice, Royal Festival Hall, Séculos de Música do Brasil (Bis): Barbican Center e o Royal Albert Hall. “Cohen é possuidor de uma técnica Apresentou-se em mais de três mil extraordinária e capaz de chamuscar concertos como solista de orquestras as teclas do piano ou derreter nossos como a Royal Philharmonic corações”. A Gramophone incluiu Orchestra, Philharmonia Orchestra, a gravação de obras de Liszt (Bis) orquestras de Cleveland e da na seleta lista do Editor’s Choice Filadélfia, Filarmônica de Los Angeles, e justificou: “Sua interpretação Sinfônica de Berlim, Sinfônica não fica nada a dever à famosa da Rádio da Bavária, Orquestra gravação feita por Horowitz. Sua da Accademia di Santa Cecilia, maturidade musical e virtuosidade Orchestre de la Suisse Romande e estonteante o colocam na mesma a Tonhalle de Zurique, colaborando, categoria de Richter”. A mesma dentre outros, com os regentes A crítica internacional não tem Gramophone não poupou elogios ao Kurt Masur, Wolgang Sawallish, economizado elogios a Arnaldo CD de Cohen com a Osesp e John Kurt Sanderling, Klaus Tennstedt Cohen. Após uma apresentação em Neschling – “difícil de superar”. e Yehudi Menuhin. Dele, Nova York, Shirley Fleming, crítica Menuhin disse: “Arnaldo Cohen do The New York Post, assinalou: Arnaldo Cohen foi o único aluno é um dos mais extraordinários “A avalanche de notas escrita por na história da universidade pianistas que já ouvi”. Liszt não chegou, em momento brasileira a graduar-se, com grau algum, a ameaçar Cohen. Duvido máximo, em piano e violino, pela Cohen transita com igual mesmo que algo consiga ameaçá-lo”. UFRJ. No Brasil estudou com desenvoltura pela música de câmara. Sobre a gravação das Variações sobre Jacques Klein. Em Viena, com um Tema de Haendel, de Brahms Bruno Seidlhofer e Dieter Weber. Em 2004, transferiu-se para os (Vox), Harold Schonberg, do The New Conquistou, por unanimidade, Estados Unidos e tornou-se o York Times, escreveu: “não conheço o Primeiro Prêmio do Concurso primeiro músico brasileiro a assumir nenhuma gravação moderna que Internacional de Piano Busoni. uma cátedra vitalícia na Escola de ARNALDO se aproxime desta”. Para a Fanfare Música da Universidade de Indiana. Magazine, a interpretação de Cohen Em 1981 radicou-se em Londres É Diretor Artístico da Série

FOTO: DIVULGAÇÃO FOTO: COHEN se encontrava “no mesmo nível de e vem cumprindo uma carreira Internacional de Piano de Portland. 12 ALLEGRO E VIVACE 13

João Guilherme Ripper | Brasil, 1959 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas. JOGOS SINFÔNICOS (2015) 27 min

Estou convencido de que capacidade de concerto não explora seu lado da abertura, que reaparecerá no as variações. Velas começa com de concentração e resistência são lúdico e o espírito de aventura que último movimento. Um trecho um coral instrumental executado qualidades tão fundamentais para sobram no jazz (palavra que deriva com violoncelo solo leva ao tema alternadamente pelas cordas e o músico quanto o próprio talento, do inglês arcaico jasm: espírito, principal tocado pelas cordas. madeiras, com o tema principal porque compor uma ópera ou vigor). Basta ver a alegria estampada A conclusão tem a participação ouvido em longas notas na linha sinfonia, ensaiar, reger ou tocar no rosto do instrumentista que de toda a orquestra e presença melódica superior. Segue-se a por horas seguidas requerem improvisa e se deleita com as frases marcante da percussão. Segue-se a Passacaglia, técnica oriunda da música longo treinamento musical e um musicais que ele mesmo cria. seção mais lírica, onde o clarinete polifônica, em que este mesmo tema esforço físico considerável. O executa uma melodia de caráter aparece repetidamente no baixo músico tem definitivamente seu Quando recebi do maestro expressivo que depois é retomada e em notas mais curtas, enquanto lado de atleta. Quantas horas, dias, Fabio Mechetti a honrosa tarefa de pelos violinos em pianíssimo. novas melodias vão surgindo meses de trabalho e disciplina escrever uma composição sinfônica A seção final começa com o motivo nos outros instrumentos a cada precedem momentos decisivos, para a Orquestra Filarmônica de da abertura desenvolvido nas cordas variação. A seção central é dedicada tanto no palco quanto na pista! Minas Gerais em comemoração à e o retorno dos temas ouvidos na a variações sobre o coral que abertura da novíssima Sala Minas primeira parte, reapresentados agora abriu o movimento. Velas termina A etimologia de concerto é reveladora, Gerais, decidi criar uma espécie de forma resumida. O movimento trazendo de volta a Passacaglia pois a palavra vem do latim de concerto para orquestra em conclui com um novo tutti orquestral seguida de um trecho conclusivo. concertare, que significa combater, que os naipes tivessem o papel de de forte caráter percussivo. disputar. O concerto para piano e destaque usualmente reservado O último movimento intitula-se orquestra que ouviremos esta noite, ao solista. O título Jogos Sinfônicos O segundo movimento, Velas, tem Drible, o que diz muito sobre seu por exemplo, pode ser visto como inspira-se, naturalmente, nos Jogos como imagem poética criadora os caráter. A ginga e o jogo de corpo um confronto musical de diferentes Olímpicos que acontecerão no esportes aquáticos praticados em são traduzidos aqui pelos acentos sonoridades; o solista que executa Rio de Janeiro em 2016. Mas indica estreito contato com a natureza. deslocados, deslocamentos rítmicos uma partitura virtuosística frente também que aspectos esportivos Quando pensei neste movimento e compassos alternados. Ao escrever à orquestra, uma equipe preparada nortearam a minha composição. imaginei-o lento, expressivo, dando Drible, quis retratar a jogada pelo maestro para realização artística à orquestra a oportunidade de inesperada, o domínio técnico que de determinada obra. São diversos Em Distâncias, o primeiro conduzir amplas linhas melódicas. autoriza o improviso e a diferença e interessantes os pontos comuns movimento, pensei na persistência Decidi escrevê-lo inteiramente que faz o talento. O movimento entre música e esporte, inclusive o e resistência dos maratonistas e baseado em um único tema começa com o motivo da abertura papel determinante do talento e do de todos aqueles que praticam construído sobre a escala cromática, já ouvido em Distâncias, seguido do imprevisto no resultado. A música modalidades esportivas de longa a fim de possibilitar diferentes tema principal de caráter jazzístico. tem seus riscos e recompensas! duração. Inicia com toda a harmonizações e proporcionar A seção central flerta com a mágica Ainda assim, sinto que a música orquestra apresentando o motivo a necessária diversidade entre do improviso e o diálogo entre 14 ALLEGRO E VIVACE 15

os naipes da orquestra: primeiro, um dueto de clarinete e fagote respondido por todas as madeiras; depois, os metais e, finalmente, as cordas com intervenções da harpa. Uma transição leva ao retorno do tema principal sublinhado pela percussão, culminando desta vez num trecho em fortíssimo com a participação de toda a orquestra, seguido da conclusão de Drible em clima de celebração.

Afinal, o objetivo do drible é o gol, e há muito o que comemorar nesta nova e belíssima sala de concertos.

JOÃO GUILHERME RIPPER Compositor, professor PARA OUVIR da Escola de Música da UFRJ, membro da CD Compositores Brasileiros 1 – Piedade, Academia Brasileira Música, diretor da Sala ópera em 4 cenas de João Guilherme Ripper – Cecília Meireles. Orquestra Petrobras Sinfônica – Isaac Karabtchevsky, regente – Paula Almerares, Marcos Paulo e Homero Velho, solistas – 2012 (CD duplo)

CD Ciclo Portinari e Outras Telas Sonoras – Gabriella Pace, soprano – Luisa Francesconi, mezzo-soprano – Priscila Bomfim, piano – Biscoito Fino – 2015 (disponível no Spotify)

CD Sounds of Brazil and Argentina – Luciano Botelho, tenor – Elizabeth Marcus, piano – MMC Recordings – 2014 (disponível no Spotify)

PARA LER Vasco Mariz – História da Música no Brasil – Editora Nova Fronteira – 2005

PARA VISITAR Site: joaoripper.com.br Youtube: fil.mg/ripper1 | fil.mg/ripper2 FOTO: RAFAEL MOTTA RAFAEL FOTO: 16 ALLEGRO E VIVACE 17

Sergei Rachmaninoff | Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943 INSTRUMENTAÇÃO 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas. CONCERTO PARA PIANO Nº 2 EM DÓ MENOR, OP. 18 (1900/1901)

33 min

Vindo de uma família de direção de Alexander Glazunov, concerto para piano e orquestra. da obra, em dezembro de 1900. forte tradição militar, Sergei aparentemente bêbado, também lhe Rachmaninoff, sabendo que seu O primeiro movimento, considerado Rachmaninoff foi educado sob os causou profundo desapontamento. Primeiro Concerto necessitava de a melhor criação de Rachmaninoff rígidos moldes da autocracia czarista A apresentação foi um fiasco minuciosa revisão, viu-se diante do ponto de vista estrutural e de Alexandre III. Aos nove anos completo: o próprio compositor da necessidade de compor um melódico, foi concluído e estreado mudou-se para São Petersburgo, abandonou a sala antes do término novo concerto. Dahl, astutamente, no ano seguinte. A obra completa, onde frequentou o Conservatório da Sinfonia. O golpe mais duro viria durante a hipnose, sugestionava mas sem revisão, foi estreada em com auxílio financeiro do serviço no noticiário da manhã seguinte: Rachmaninoff: “você vai começar Moscou em novembro de 1901, com imperial. Dois anos depois, “se houvesse um conservatório no a escrever o seu concerto, você o compositor como solista, sob a estabeleceu-se em Moscou com a inferno, Rachmaninoff iria receber trabalhará com grande facilidade, regência de Alexander Siloti. A mãe recém-divorciada, ingressando o primeiro prêmio por sua Sinfonia, o seu concerto será uma grande estreia inglesa – a primeira execução no Conservatório daquela cidade. tão diabólicas as discórdias que obra”. Se o Dr. Dahl utilizou algum integral da obra revisada – ocorreu Lá, estudou piano com o severo ele coloca diante de nós”, escreveu objeto para isso, como um relógio, em 1902, com o legendário pianista Nicolai Zverev e Alexander Siloti – César Cui. Entre 1897 e 1898, não sabemos. Todavia, o Segundo russo Wassily Sapellnikoff, amigo primo de Rachmaninoff – e Rachmaninoff permaneceu em Concerto para Piano, opus 18, íntimo de Tchaikovsky e professor composição com Sergei Taneyev profunda depressão. Não há uma inicia-se com uma série de acordes de Nicolai Medtner. Segundo e Anton Arensky. Em 1892, com composição sequer desse período. intercalados por uma nota grave, Rachmaninoff, “cada movimento foi apenas dezenove anos, completou Seu desespero levou-o ao consultório oscilando lentamente como um construído em torno de um ponto seus estudos no Conservatório particular do Dr. Nicolai Dahl, em grande pêndulo, quiçá uma alusão ao culminante. (...) Tal momento deve de Moscou, recebendo a Grande Moscou. Dahl estudara na França método clássico criado pelo inventor realizar-se como o romper da fita Medalha de Ouro pela composição com o célebre cientista Jean-Martin da palavra hipnose, James Braid. de chegada ao fim de uma corrida, da ópera Aleko. A reputação do Charcot, pai da moderna neurologia deve agir como a libertação do jovem Rachmaninoff enquanto e professor de Sigmund Freud. Para escrever o último movimento, último obstáculo material, vencendo compositor, regente e pianista se Rachmaninoff provavelmente a última barreira entre a verdade e firmava em toda a Rússia, ao passo Em janeiro de 1900, o Dr. Dahl recorreu aos esboços de uma obra sua formulação”. A beleza e o fino que crescia também a expectativa iniciou o tratamento diário de da juvenília: um inacabado Concerto acabamento da obra fizeram dela, em torno de suas novas criações. Rachmaninoff, por mais de três em dó menor composto em 1889, além de exemplo de superação e O Primeiro Concerto para Piano, meses, utilizando hipnoterapia aos dezesseis anos. Para o segundo êxito, um novo modelo estético de opus 1, obra que inaugura seu e psicoterapia. Em certa ocasião, movimento, utilizou a introdução do concerto romântico para piano. catálogo de composições, recebeu o paciente contou ao médico desconhecido Romance para Piano O impacto emocional do Segundo as primeiras e duras críticas. algo que muito o atormentava: a a Seis Mãos, de 1891. O segundo Concerto entusiasmou inúmeros A desastrosa execução de sua promessa que fizera aos ingleses e terceiro movimentos foram autores de trilha para cinema a Primeira Sinfonia, opus 13, sob a de executar, em Londres, um apresentados em uma pré-estreia escreverem obras do gênero. 18 ALLEGRO E VIVACE 19

Entre eles, podemos citar emigrou em 1925. Na ocasião, o músicos como Richard Addinsell, pianista-compositor russo Arkadie Miklós Rosza, Nino Rota, Kouguell atuava frente à Orquestra da Richard Bennett e Hubert Bath. Universidade Americana de Beirute como solista e maestro. Ao fim da O Segundo Concerto de apresentação, o público, informado de Rachmaninoff foi dedicado ao que o homenageado do concerto era Dr. Dahl. O compositor, sabendo membro da seção de viola da orquestra, que Dahl, além de médico, era clamou para que Dahl se levantasse violista amador, fez frequente uso para uma calorosa homenagem. destacado da viola na orquestração da obra, principalmente no último MARCELO CORRÊA Pianista, Mestre em Piano movimento. Curiosamente, o Dr. Dahl pela Universidade Federal de Minas Gerais, tocou a obra, da qual foi catalisador, professor na Universidade do Estado de em Beirute, Líbano, para onde Minas Gerais.

PARA OUVIR CD Great Pianists – Rachmaninoff – Concertos 1 e 2 – The Philadelphia Orchestra – L. Stokowsky e E. Ormandy, regentes – Sergei Rachmaninoff, piano – Naxos, Munique – 1999

PARA ASSISTIR Orquestra Sinfônica de São Petersburgo – Alexander Dimitriev, regente – Nelson Freire, piano | Acesse: fil.mg/rpiano2

PARA LER Robert Matthew-Walker – Rachmaninoff – The Illustrated lives of the great composers – Omnibus Press – 1980 FOTO: RAFAEL MOTTA RAFAEL FOTO: 20 ALLEGRO E VIVACE 21

Arnold Schoenberg | Áustria, 1874 – Estados Unidos, 1951 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 3 flautas, 3 oboés, corne inglês, requinta, clarinete, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, cordas. SINFONIA DE CÂMARA Nº 1, OP. 9B (1906, versão original / 1935, versão para grande orquestra) 22 min

A obra de Arnold Franz Walter Impressionado com as partituras Exposição em ordem variada, 1920 e 1936 é o serial. A quarta fase Schoenberg marca o fastígio e o inconclusas dos Gurre-Lieder em contraponto, e com temas do emerge nos anos 1930, com maior ponto de ruptura da tradição musical (1900/1911) e do poema sinfônico Adagio incorporados). Schoenberg diversidade estilística e retornos do Ocidente. A crise se manifestará Pelleas und Melisandre, op. 5 (1903), combina, portanto, características esporádicos à composição tonal. tardiamente na historiografia: Richard Strauss obteve para o músico da chamada forma sonata O segundo e o terceiro períodos o sistema tonal em permanente a Bolsa Liszt e o posto de professor (exposição, desenvolvimento, se abrem com crises de técnica expansão, da Primeira Escola de de Composição no Conservatório recapitulação), geralmente presente composicional, cujas consequências Viena (século XVIII) à belle époque, Stern. De retorno a Viena, em julho no primeiro movimento de sonatas se projetarão sobre a música em perderá o papel de foco da narrativa. de 1903, Schoenberg trazia Pelleas und e sinfonias do período clássico, termos gerais. A Primeira Sinfonia Melisandre concluído. No ano seguinte, com características da sinfonia de Câmara antecipa a primeira crise Arnold Schoenberg nasceu em e Anton Webern tornam-se clássica em quatro movimentos, e pode ser considerada a obra mais Viena. De modesta família judia, seus alunos. Após assistir a um ensaio sintetizadas num único movimento. ousada do período tonal. O autor não recebeu treinamento formal de Noite transfigurada, Gustav Mahler arranjou-a para grande orquestra em em música. Conselhos de Alexander passou a oferecer seu apoio constante. A obra de Schoenberg se divide em 1922. Revisada em 1935, essa versão Zemlinsky (compositor e regente, O público recebeu Pelleas und quatro períodos. Inicialmente ele recebeu o número de catálogo 9b. aluno de Fuchs e Bruckner, que deu Melisandre com frieza em janeiro de emprega a tonalidade como referência aulas de contraponto a Schoenberg) 1904. Seguiu-se a composição de dois central, mas, em 1908, é o primeiro a CARLOS PALOMBINI Musicólogo, professor da resultaram na execução pública do ciclos de canções, op. 6 (1903/1905) abandoná-la, na fase expressionista. Escola de Música da Universidade Federal de Quarteto em Ré maior, em março de e op. 8 (1904), e o Primeiro O período compreendido entre Minas Gerais. 1898, repetido na temporada de 1899. Quarteto de Cordas, op. 7 (1905). Todavia, o sexteto para cordas Noite transfigurada, op. 4 (1899) foi rejeitado A Primeira Sinfonia de Câmara, op. 9, PARA OUVIR por conter um acorde de nona em data de julho de 1906 e foi composta CD Arnold Schoenberg – Primeira Sinfonia inversão – que “não existia”. Em para quinze instrumentos. Ela retoma de Câmara, op. 9 (versão original de 1906) – Twentieth Century Classics dezembro de 1900 o público recebeu o problema do movimento único, Ensemble – Naxos 8.557523 – 1998 com protestos canções dos ciclos op. 1 que o ocupara na Noite transfigurada,

(1897), op. 2 (1899) e op. 3 (1899/1903). de 1899, em Pelleas und Melisandre, PARA ASSISTIR de 1903, e no Primeiro Quarteto Grupo Contemporâneo Carnegie Schoenberg esposou Mathilda, irmã de Cordas, de 1905. O plano formal Mellon – Tobias Volkmann, regente Acesse: fil.mg/ssinfcamara1 de Zemlinsky, em outubro de 1901, e inclui: I. Exposição; II. Scherzo; em dezembro o casal mudou-se para III. Desenvolvimento (com elementos PARA LER Berlim, onde ele assumiu a direção do Scherzo incluídos); IV. Adagio; René Leibowitz – Schoenberg – musical de um cabaré literário. V. Recapitulação (de temas da Perspectiva – 1981 22 ALLEGRO E VIVACE 23

Nikolai Rimsky-Korsakov | Rússia, 1844 – 1908 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas. CAPRICHO ESPANHOL, OP. 34 (1887) 15 min

No dia 28 de fevereiro de 1887 (dia 16 que agora se tratava não mais de um movimento. No segundo movimento, flauta, clarinete e harpa), alternadas, no antigo calendário russo), Rimsky- concerto para violino, mas de uma Variazioni, diversas seções da aqui e ali, pelo tema. Ataca-se, sem Korsakov era acordado pelo crítico obra escrita apenas para orquestra. orquestra apresentam variações da interrupção, o quinto movimento, Vladimir Stasov com a notícia de melodia inicial da trompa: cordas, o Fandango asturiano, uma dança que Borodin havia falecido na noite A composição foi completada no dia corne inglês, violoncelos... O terceiro alegre e frenética. À medida que nos anterior. Ele correu para o velório 4 de agosto, e a estreia se deu em 17 movimento, Alborada, é praticamente aproximamos do final grandioso, a e acabou recebendo, da viúva, os de dezembro, no quinto concerto idêntico ao primeiro. Desta vez orquestra executa trechos da Scena manuscritos musicais do amigo. Com da série Concertos Sinfônicos o violino solo faz o papel que o e canto gitano e da Alborada. a ajuda de Glazunov, empreendeu a Russos, mantidos pelo mecenas clarinete fez no primeiro movimento, longa tarefa de colocar em ordem, Mitrofan Belyayev, sob a regência e vice-versa. O quarto movimento, GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em orquestrar, concluir e preparar, do compositor. O concerto foi Scena e canto gitano, inicia-se com Música pela Unicamp, professor na Escola de para edição, toda a herança musical um sucesso, e o Capricho Espanhol o tema nos trompetes e trompas. Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos de Borodin. A obra que mais lhes se manteria como uma das peças Possui quatro cadências (violino solo, floridos não voam e Música menor. interessava era a ópera inacabada favoritas das salas de concerto mundo Príncipe Igor. Ambos decidiram, afora. Logo no primeiro ensaio, os de comum acordo, compor as músicos começaram a aplaudir o partes faltantes e Rimsky-Korsakov compositor assim que terminaram concluiria a orquestração da ópera. a execução do primeiro movimento. O contato íntimo com a obra de Foi com dificuldade que Rimsky- Borodin acendeu a inspiração que Korsakov conseguiu que ensaiassem a PARA OUVIR há muito lhe escapara. Enquanto obra completa, pois que os aplausos se CD Rimsky-Korsakov – Shéhérazade; Russian passava as férias do verão de 1887 repetiam ao final de cada movimento. Easter overture; Capriccio espagnol – às margens de um lago no distrito Por fim, ele propôs dedicar a obra Philadelphia Orchestra – Eugene Ormandy, de Luga, a 140 quilômetros ao sul aos músicos da orquestra, proposição regente – Sony Classical – 1966/2002 de São Petersburgo, orquestrando prontamente aceita por todos. PARA ASSISTIR Príncipe Igor, Rimsky-Korsakov Orquestra Filarmônica de Berlim – Zubin compôs o Capricho Espanhol, op. O Capricho Espanhol é composto Mehta, regente | Acesse: fil.mg/rkcapricho 34, a partir dos esboços de uma de cinco movimentos. O primeiro, peça para violino e orquestra sobre intitulado Alborada, é uma PARA LER Nikolai Rimsky-Korsakov – Ma vie musicale – temas espanhóis que ele havia dança viva e festiva. Nela, o Pierre Lafitte – 1914 abandonado. A nova obra, segundo clarinete alterna com a orquestra suas palavras, “deveria brilhar graças na apresentação do tema. Uma Richard Taruskin – On Russian music – ao virtuosismo orquestral”, uma vez breve cadência de violino fecha o University of California Press – 2009 24 25

FABIO MECHETTI regente ARNALDO COHEN piano

PRESTO Quinta 09/07

VELOCE Sexta PROGRAMA 10/07 Antonín DVORÁK Scherzo capriccioso, op. 66

Henri DUTILLEUX Sinfonia nº 2 , “Dupla” • Animato, ma misterioso • Andantino sostenuto • Allegro fuocoso – Calmato

– INTERVALO –

Sergei RACHMANINOFF Concerto para piano nº 3 em ré menor, op. 30

ARNALDO • Allegro ma non tanto COHEN • Intermezzo: Adagio piano • Finale: Alla breve 26 PRESTO E VELOCE 27

Antonín Dvorák | Boêmia, atual República Tcheca, 1841 – 1904 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, harpa, cordas. SCHERZO CAPRICCIOSO, OP. 66 (1883) 14 min

O início dos anos 1880 marca uma ópera alemã. Hanslick escreveu lembrar que não estamos lidando e flautas); e o segundo, uma outra mudança no estilo composicional ao amigo, em 3 de maio de 1884: com um scherzo qualquer, mas com valsa vienense, leve no início e, aos de Dvorák. Se na década anterior “O Barão Hoffmann, Generalintendant um scherzo caprichoso, ou a capriccio. poucos, extremamente dramática. seu estilo era leve e, de certo modo, da Ópera da Corte, pediu-me que exótico, marcado pelo emprego lhe perguntasse se você se sentiria A primeira seção (Allegro con fuoco) Os registros da estreia são frequente de alguns aspectos inclinado a compor uma ópera inicia-se com uma breve introdução, incompletos, mas, ao que tudo superficiais da música nacional para o Teatro da Corte para a seguida do primeiro tema, alegre indica, o Scherzo capriccioso foi da Boêmia e Morávia, tais como o temporada de 1885 ou 1886”. e festivo, nas cordas e madeiras, apresentado em público, pela extenso uso de melodias e ritmos com fortes marcações dos metais e primeira vez, no dia 16 de maio de folclóricos, a partir dos anos 1880 Embora Dvorák fosse menos radical pratos. O segundo tema é ouvido 1883, no Teatro Nacional, em Praga, ele viria a adquirir um caráter mais que seus compatriotas tchecos logo a seguir: uma valsa vienense sob a regência de Adolf Čech. profundo, dramático e agressivo. e tenha chegado a considerar com certo sabor melancólico. A seriamente a possibilidade de segunda seção (Poco tranquillo) possui GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em Essa mudança de estilo tem sido mudar-se para Viena, o temor de ser também dois temas: o primeiro, uma Música pela Unicamp, professor na Escola de atribuída aos tormentos pelos quais visto como um traidor em sua terra melodia introspectiva no corne inglês Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos o compositor passava na época, ao natal afetava consideravelmente (seguido pelos primeiros violinos floridos não voam e Música menor. considerar estabelecer-se em Viena sua decisão. Ao final resolveu, a e tornar-se, como desejavam seus contragosto, declinar das ofertas. simpatizantes – dentre eles Brahms PARA OUVIR e Eduard Hanslick –, um compositor O Scherzo capriccioso, op. 66 foi CD Dvorák – The three great symphonies de óperas alemãs. Em 11 de junho de composto no mesmo ano do Trio (Symphonies nos 7, 8 & 9); Scherzo 1882 Hanslick escreveu: “Acima de para piano em fá menor, op. 65 e da Capriccioso – Cleveland Orchestra – Christoph tudo eu sinto que seria de grande Abertura dramática Husitská, op. 67 von Dohnányi, regente – Decca – 1997 proveito para o seu desenvolvimento e pertence a esse novo estilo Orquestra Sinfônica da NBC – Arturo artístico, assim como para o seu composicional de Dvorák. Em se Toscanini, regente | Acesse: fil.mg/dscherzoat sucesso, que você vivesse por um ou tratando de um scherzo, o novo estilo dois anos longe de Praga. O melhor mais intenso e visceral pode soar, à PARA ASSISTIR de tudo seria, provavelmente, viver primeira vista, contraditório, uma Orquestra Filarmônica de Budapeste – Rico em Viena”. Com a morte de Wagner, vez que o scherzo é uma brincadeira Saccani, regente | Acesse: fil.mg/dscherzors em 13 de fevereiro de 1883, surgiu musical – do italiano scherzare PARA LER a necessidade real de se encontrar (brincar, zombar, fazer gracejos) – John Clapham – Antonín Dvorák: musician alguém que preenchesse o posto e não o gênero adequado para o and craftsman – St. Martin’s Press – 1966 vago de principal compositor de drama e a introspecção. Mas há que Kurt Honolka – Dvorák – Haus Publishing – 2004 28 PRESTO E VELOCE 29

Henri Dutilleux | França, 1916 – 2013 INSTRUMENTAÇÃO 2 piccolos, 3 flautas, 3 oboés, corne inglês, 3 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 2 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, SINFONIA Nº 2, “DUPLA” (1955/1959) percussão, harpa, celesta, cravo, cordas. 28 min

Fruto de um trabalho persistente e instrumentais. Um grupo menor, de Para Dutilleux, o processo criador A grande sensibilidade harmônica, a de qualidade excepcional, a música de 12 músicos, é separado do restante da pode transformar-se em um ritual, busca de novos recursos expressivos e Henri Dutilleux ocupa, tanto para a orquestra, formando um semicírculo uma forma de cerimônia religiosa, o gosto detalhista de sua orquestração crítica mais tradicionalista como para em torno do maestro. Essa divisão pois implica uma epifania – quando fazem de Dutilleux um herdeiro as vanguardas, lugar privilegiado no remete evidentemente ao modelo uma determinada ideia se revela direto da tradição de Dukas, cenário contemporâneo. Seu catálogo, barroco do Concerto Grosso; ou, luminosa e, por algum segredo, Debussy e Ravel. Outras influências não especialmente numeroso, é ainda, a instrumentação do grupo se impõe sobre as outras. Assim, o para sua música se referem a obras composto de obras-primas, cada menor poderia sugerir uma big artista convive com o sagrado, o literárias ou pictóricas que lhe uma meticulosamente pensada e band jazzística – mas a música evita mistério, a magia; prioriza a emoção servem frequentemente de fonte cinzelada com refinamento. Seu qualquer analogia e foge de esquemas e cultiva a curiosidade pelo inusitado. poética, embora o compositor se reconhecimento, entretanto, ocorreu neoclássicos. Os dois grupos unem-se, No plano técnico, Dutilleux declare avesso a qualquer vestígio lentamente – talvez por causa afrontam-se ou se sobrepõem em valoriza o trabalho artesanal, com a de mensagem ou programa. Assim, ao do temperamento independente rico e complexo processo especular preocupação de inserir o pensamento dar o subtítulo de A noite estrelada e recluso do compositor, que de polirritmia e de politonalidade. musical em uma estrutura bem para Timbres, Espaço, Movimento sempre se negou a participar de Jogo de espelhos: dois personagens definida (ainda que contrária a (1978), Dutilleux não tentou movimentos e grupos estéticos. em um só, sendo um o reflexo do qualquer organização pré-fabricada). reproduzir sonoramente a pintura outro – o sósia, o duplo, le double. E ressalta a necessidade absoluta homônima de van Gogh, apenas A Sinfonia nº 2, com o sugestivo da escolha e da economia dos reviver e prolongar suas impressões, título Le Double, foi encomendada O processo de variação domina a meios, sempre visando o que se lembranças e ressonâncias oníricas. pela Fundação Koussevitzky para as partitura atuando em fragmentações pode chamar a Alegria do Som. No caso dos concertos, as fontes comemorações do 75º aniversário contínuas e reincidentes que, lenta são literárias. O Concerto para da Orquestra de Boston. Iniciada em e progressivamente, conduzem à Aos dezessete anos, incentivado pelo violino, L’arbre des songes (1985), é 1957, foi concluída dois anos mais afirmação temática. O movimento avô materno, organista e professor uma meditação sobre o silêncio, o tarde e estreada em 11 de dezembro inicial, Animato ma misterioso, de música, Dutilleux ingressou tempo e a memória, musicalmente de 1959, sob a regência de Charles apresenta forma ternária. O no Conservatório de Paris, onde traduzida em um estudo da Münch. A linguagem dessa Sinfonia Andantino sostenuto possui particular obteve os primeiros prêmios de percepção de estratos temporais é ainda frequentemente tonal ou encanto poético e, nele, as variações Harmonia, Contraponto e Fuga. múltiplos, conceito elaborado pelo modal, embora também utilize tornam-se mais facilmente Em 1938, ganhou o Prêmio de compositor após a leitura de À la procedimentos dodecafônicos (o perceptíveis. O Allegro fuocoso – Roma, mas ficou poucos meses na recherche du temps perdu, de Marcel serialismo era, então, a tendência calmato conclusivo divide-se em três Villa Médicis. Dez anos depois, em Proust. Quanto ao Concerto para dominante na França). Sua seções: a tumultuada repetição do 1948, destruiu suas composições violoncelo, Tout un monde lointain, estrutura constrói-se sobre a tema (fuocoso), um stretto animado anteriores e publicou como seu Dutilleux inspirou-se em Les fleurs divisão da orquestra em dois grupos e uma ampla coda (calmato). opus nº 1 a Sonata para piano. du Mal de Charles Baudelaire, 30 PRESTO E VELOCE 31

fascinado pelo universo do poeta Alfred Cortot); depois, entre 1970 e seu conceito de evasão, a grande e 1984, no Conservatório de Paris. viagem à procura do desconhecido Aos 89 anos, em 2005, Dutilleux – realizada musicalmente tornou-se o terceiro compositor pelo instrumento solista. francês (depois de Olivier Messiaen e Pierre Boulez) a receber o Em 1945, Dutilleux foi nomeado cobiçado prêmio Ernst von Siemens, diretor responsável pelas Ilustrações pelo conjunto de sua obra. Musicais da Radiodiffusion Française, cargo que ocupou até 1963 e que lhe permitiu um PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor convívio enriquecedor com diversas dos livros Músico, doce músico e O grão tendências artísticas. Em 1961, perfumado – Mário de Andrade e a arte do lecionou Composição na École inacabado. Apresenta o programa semanal Normale de Musique (a convite de Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

PARA OUVIR CD H. Dutilleux – Symphony nº 2 – Orchestre National du Capitole de Toulouse – Michel Plasson, regente – EMI – 2008

Orquestra de Paris – Daniel Barenboim, regente Acesse: fil.mg/ddupla1 (parte 1) fil.mg/ddupla2 (parte 2) fil.mg/ddupla3 (parte 3) fil.mg/ddupla4 (parte 4)

PARA LER François René Tranchefort – Guia da Música Sinfônica – Nova Fronteira – 1990 FOTO: RAFAEL MOTTA RAFAEL FOTO: 32 PRESTO E VELOCE 33

Sergei Rachmaninoff | Rússia, 1873 – Estados Unidos, 1943 INSTRUMENTAÇÃO 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas. CONCERTO PARA PIANO Nº 3 EM RÉ MENOR, OP. 30 (1909) 43 min

Eclético e imaginativo, Rachmaninoff datcha nos arredores de Moscou, na acordes e incontáveis arpejos até um Musicalmente, o Concerto nº 3 herdou o lirismo russo de Tchaikovsky, qual escrevera a obra, Rachmaninoff esgotamento físico e mental, como demostra que seu estilo se tornara a proficiência pianística de Liszt e a teve somente nove dias para exposto no filmeShine , no qual o cada vez mais arrojado e livre no liberdade emotiva e anticerebral de ensaiar a dificílima parte solista, pianista David Helfgott desmaia após uso dos recursos musicais, mas que Grieg. Esta última ligada à doutrina num teclado mudo, durante a digladiar-se com a obra. O filme, o caráter emotivo e nostálgico se do belo e à utilização dos elementos travessia do Atlântico. A obra foi ganhador de Oscar, contribuiu ainda mantinha invariável. Rachmaninoff, nacionais, bem diversamente de seus estreada em 1909 pela Orquestra mais para a fama de concerto inatingível em seus quatro concertos para contemporâneos russos. Aos vinte e Sinfônica de Nova York, regida e humanamente desgastante. piano, se empenha em atingir uma quatro anos, já era muito conhecido por Damrosch, e reapresentada em severa unidade em seus temas, por toda a Rússia como compositor, 1910 pela Filarmônica de Nova York Acredita-se que Rachmaninoff tocava que nos prendem pela intensidade regente e pianista. Presenciara, sob a regência de Gustav Mahler. grandes acordes com facilidade expressiva, assim como em combinar então, uma execução desastrosa de O compositor foi o solista nas por sofrer da síndrome de Marfan, antigas tradições e novos ideais sua Primeira Sinfonia, sob a direção duas ocasiões e, após trinta anos, doença dos dedos de aranha, visto em seu pianismo exuberante, de Glazunov, aparentemente bêbado, gravou a obra com a Orquestra da que sua extensão de mão alcançava autêntico e de bom gosto. seguida do fracasso de seu Filadélfia, sob a batuta de Eugene trinta centímetros. Curiosamente,

Concerto para piano nº 1. Ormandy. Com andamento mais seu Concerto nº 3 foi dedicado MARCELO CORRÊA Pianista, Mestre em Piano pela acelerado, alguns cortes e uma ao pianista Josef Hofmann, de Universidade Federal de Minas Gerais, professor Atingido por uma crise psicótica, cadenza mais curta e scherzante estatura mediana e mãos pequenas. na Universidade do Estado de Minas Gerais. desistira de compor temporariamente, para o primeiro movimento, o permanecendo em profunda compositor, em sua gravação, depressão. Somente depois de tentou destituir sua composição

prolongado tratamento de hipnose dos rótulos de obra “cavalar” ou PARA OUVIR com o Dr. Nicolai Dahl, Rachmaninoff “concerto elefante”, segundo CD Great Pianists – Rachmaninov – Piano pôs-se outra vez a compor. Seu Arthur Rubinstein, que se referia Concertos nº 2 e 3 – The Philadelphia Concerto para piano nº 2, executado à grande extensão e às enormes Orchestra – Leopold Stokovsky e Eugene Ormandy, regentes – Rachmaninov, piano – em 1901, devolveu-lhe todo o dificuldades técnicas do concerto. Naxos, Munique – 1999 – (Original RCA Victor) êxito e popularidade merecidos.

Comparado ao escalar do Himalaia, PARA ASSISTIR Em 1909, compôs o Concerto para este concerto é uma empreitada Orquestra Sinfônica da Rádio de Berlim – piano nº 3, especialmente para sua reservada somente aos grandes Ricardo Chailly, regente – Martha Argerich, piano | Acesse: fil.mg/rpiano3 primeira turnê nos Estados Unidos, pianistas que aprenderam a manejar

país no qual veio a se estabelecer o instrumento com absoluta PARA LER a partir de 1918. Deixando a economia e destreza. Caso contrário, Robert M. Walter – Rachmaninoff – tranquilidade de uma confortável o solista seria engolido por densos Omnibus Press – 1988 34 35

FABIO MECHETTI regente SERGEJ KRYLOV violino

ALLEGRO Quinta 16/07

VIVACE PROGRAMA Sexta 17/07 Arthur HONEGGER Pacífico 231

Nicolò PAGANINI Concerto para violino nº 5 em lá menor (reconstruído por Federico Mompellio em 1959)

• Allegro maestoso SERGEJ KRYLOV • Andante un poco sostenuto violino • Rondo: Andantino quasi Allegretto

– INTERVALO –

Paul DUKAS Sinfonia em Dó maior • Allegro non troppo vivace, ma con fuoco • Andante espressivo e sostenuto PATROCÍNIO • Allegro spiritoso 36 ALLEGRO E VIVACE 37

NHK Symphony, Atlanta Symphony, e tocar com a Orquestra de Câmara English Chamber Orchestra e da Lituânia. Com Pietari Inkinen e Orquestra do Festival de Budapeste. a Orquestra Toscanini irá executar o Concerto Duplo de Brahms com Krylov já trabalhou com Mario Brunello no violoncelo. A importantes personalidades, sendo agenda de Sergej inclui ainda recitais a amizade e parceria com Mstislav para violino solo e com o piano. Rostropovich uma das influências mais significativas na sua vida Sergej dedica grande parte de artística. Também já se apresentou seu tempo à música de câmara e sob a batuta de maestros como se apresenta com Denis Matsuev, Vladimir Jurowski, Valery Gergiev, Yuri Bashmet, Itamar Golan, Lilya Mikhail Pletnev, Andrey Boreyko, Zilberstein, Aleksandar Madzar, Dmitri Kitajenko, Omer Meir Bruno Canino, Stefania Mormone, Wellber, Yuri Temirkanov, Vladimir Maxim Rysanov, Nobuko Imai, Ashkenazy, Fabio Luisi, Asher Fisch, Belcea Quartet e Elīna Garanča. Vasily Petrenko, Nicola Luisotti, Desde 2009 é diretor musical da Julian Kovatchev, Rafael Frühbeck Orquestra de Câmara da Lituânia; de Burgos, Saulius Sondeckis, regularmente tem o duplo papel Zoltán Kocsis e Yuri Bashmet. de solista e regente em um vasto Ao longo de sua carreira, Sergej Krylov repertório que vai da música se estabeleceu como um dos violinistas Os principais compromissos da barroca a obras contemporâneas. mais talentosos de sua geração. Ele temporada 2014/2015 incluem é regularmente convidado para se apresentações em São Petersburgo Sua discografia contempla os apresentar em prestigiadas salas com a Filarmônica de São 24 Caprichos de Paganini, além de de concertos em todo o mundo e Petersburgo e Yuri Temirkanov e gravações para a EMI e Melodya. tem atuado com orquestras como com a Mariinsky Theatre Orchestra a Staatskapelle Dresden, e Valery Gergiev. Ele voltará à Nascido em Moscou em uma Philharmonique de Radio France, Sinfônica de Atlanta para apresentar família de músicos, Sergej Krylov Deutsches Symphonie Orchester- o Concerto nº 5 de Paganini com começou a estudar violino aos Berlim, Filarmonica della Scala, Roberto Abbado; em Colônia e cinco anos de idade e completou Accademia di Santa Cecilia, Zagreb interpreta Mendelssohn e seus estudos na Moscow Central Filarmônica de Londres, Frankfurt Prokofiev com Dmitri Kitajenko. Music School. Ainda muito jovem, Hessischer Rundfunk, St. Petersburg Em Turim fará a estreia italiana ganhou o Concurso Internacional SERGEJ Philharmonic, Royal Philharmonic, de obra de Gubaidulina com a de Violino Lipizer, o Concurso Copenhagen Philharmonic, Orquestra Rai e Tonu Kaljuste. Internacional de Violino Stradivarius

FOTO: FRANCO PANOZZO FRANCO FOTO: KRYLOV Russian National Symphony, O músico também se dedica a reger e o Concurso Fritz Kreisler. 38 ALLEGRO E VIVACE 39

Arthur Honegger | França, 1892 – 1955 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, clarone, 2 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, percussão, cordas PACÍFICO 231 (1923) 7 min

Como membro do Grupo dos Seis, protestante, uma grande dificuldade locomotiva pelos grandes espaços que público, que se sentia relegado pela o que Arthur Honegger partilhou para enganar-me a mim mesmo seria desumano desenganá-los. [...] música dos anos 1920, encontrou com Georges Auric, Louis Durey, quanto ao valor do que faço, um Na verdade, em Pacific dei curso em Honegger o pathos de cuja Darius Milhaud, Francis Poulenc e sentido ingênuo da honestidade a uma ideia muito abstrata e ausência ressentia-se. A partir dos Germaine Tailleferre foi companhia e minha familiaridade com a totalmente ideal, ao produzir anos 1930, o homem apaixonado estimulante, e não uma estética, Bíblia. À França devo todo o resto: o sentimento de um acréscimo por ferrovias, pelo rugby e por sua cuja existência negava. Qual César meu despertar intelectual, minha matemático do ritmo enquanto o Bugatti começaria a mergulhar Franck no século XIX, ele cumpriu, afinidade musical e espiritual.” próprio movimento se desacelera. no desencanto, extravasado nos na primeira metade do século XX, Musicalmente, compus uma livros Sortilégios para os fósseis o papel de mediador entre a cultura No título Pacific 231 os números espécie de grande coral variado.” (1945), Sou compositor (1951) e musical francesa e a tradição alemã, significam: de cada lado, duas rodas na palestra O Compositor na ao mesmo tempo em que escrevia livres na frente, três rodas motrizes Dedicada ao regente Ernest Ansermet, Sociedade Moderna (1952). música “acessível à grande massa de no meio e uma roda livre atrás. que depois a gravaria duas vezes, ouvintes, embora suficientemente Honegger explica: “O que busquei em Pacific 231, Movimento Sinfônico nº 1 CARLOS PALOMBINI Musicólogo, professor da isenta de trivialidades para Pacific não foi a imitação dos ruídos estreou sob Serge Koussevitzky na Escola de Música da Universidade Federal de interessar o melômano”. da locomotiva, mas a tradução de Ópera de Paris, em 1924. O grande Minas Gerais. uma impressão visual e de um gozo De pais suíços, Honegger nasceu na físico numa construção musical. cidade portuária de Le Havre. Lá Ela parte de uma contemplação estudou violino e harmonia antes objetiva: a respiração tranquila da de tomar aulas de composição, máquina em repouso, o esforço teoria e violino por dois anos, no do arranque, depois o aumento Conservatório de Zurique. Em 1911 progressivo da velocidade, para matriculou-se no Conservatório de culminar no estado lírico, no PARA OUVIR Paris e ali permaneceu sete anos. patético do trem de trezentas CD Arthur Honegger – Pacific 231 – Orquestra Sinfônica da Rádio da Bavária – Quando, em 1913, a família retornou toneladas disparado a cento e vinte Charles Dutoit, regente – Erato – 1986 a Zurique, Honegger trocou Le Havre por hora, em plena noite. Como por Montmartre, em Paris, onde personagem, escolhi a locomotiva PARA ASSISTIR residiu até seus últimos dias. Em tipo Pacific, símbolo 231, para trens Orquestra da Rádio e Televisão da Suíça 1921, a música de cena para pesados de grande velocidade.” Italiana – Marc Andreae, regente Acesse: fil.mg/hpacifico O rei Davi, estreada na Suíça, transformou-o em celebridade Mais tarde, ele se queixaria: “Tantos PARA LER internacional. “O que devo à e tantos críticos descreveram com Harry Halbreich – Arthur Honegger – Suíça? Sem dúvida, a tradição tal minúcia o arroubo de minha Amadeus Press – 1999 40 ALLEGRO E VIVACE 41

Nicolò Paganini | Itália, 1782 – França, 1840 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, cordas. CONCERTO PARA VIOLINO Nº 5 EM LÁ MENOR (1830) Reconstruído por Federico Mompellio em 1959 39 min

Desde sua primeira aparição em alto nível. Paganini maximizou as escondê-la”. Talvez fosse asprezzatura italiano Federico Mompellio público, aos oito anos, Nicolò possibilidades do violino com oitavas, um dos segredos de Paganini. preparar toda a orquestração, Paganini tornou-se exemplo décimas, harmônicos, pizzicati com obedecendo fielmente ao estilo de máximo de virtuosidade ao violino, a mão esquerda combinados com a Paganini fizera dos seus seis Paganini. A orquestração da obra povoando o imaginário daqueles passagem de arco e demais efeitos concertos para violino uma vitrina foi encomendada pela Accademia que o associavam ao sobrenatural e musicais surpreendentes. Alguns para exibição de sua incomparável Musicale Chigiana, em 1958. A influenciando os mais importantes deles praticamente inexequíveis, proficiência técnica e musicalidade. partitura foi estreada com enorme compositores da geração romântica como o terrível trinado duplo em O Quinto Concerto, deixado sucesso no ano seguinte, tendo europeia. Schumann, Berlioz, Liszt, uníssono do terceiro Capriccio. inacabado em 1830, é posterior ao como solista Franco Gulli, autor da Chopin, Brahms são alguns dos Porém, a arte de Paganini, que Sexto Concerto, composto em 1815 cadenza do primeiro movimento. nomes que almejaram a perfeição tanto assombrava a quem o ouvia e publicado postumamente. A parte técnica e a criatividade melódica tocar, não consistia exclusivamente do solista, única que subsistiu do MARCELO CORRÊA Pianista, Mestre em Piano pela do virtuose italiano. Todos eles na dificuldade; pelo contrário, Quinto Concerto, foi suficiente Universidade Federal de Minas Gerais, professor prestaram homenagem a Paganini relacionava-se à facilidade e elegância para o compositor e musicólogo na Universidade do Estado de Minas Gerais. por meio de transcrições, paráfrases com que realizava cada passagem. A ou citações de suas obras. despeito de sua aparência cadavérica, ele impressionava seu público A música de Paganini, tendo com grazia, ausência de afetação e em vista sua estrutura melódica, certa displicência. Tais predicados é estilisticamente operática e combinam bem com o termo rossiniana. O próprio Rossini, que sprezzatura, inventado pelo escritor conhecera o célebre violinista, italiano Baldassare Castiglione em PARA OUVIR alertava: se Paganini compusesse seu livro O Cortesão, publicado em CD Paganini – The 6 Violin Concertos – óperas, “todos nós, compositores, 1528: “É disso, creio eu, que deriva London Philharmonic Orchestra – Charles estaríamos em apuros”. Devemos em boa parte a graça, pois, se das Dutoit, regente – Salvatore Accardo, violino – Deutsche Grammophon, a Paganini a invenção de um novo coisas raras e bem feitas cada um Hamburgo – 1993 (3 CDs) gênero musical, uma espécie de sabe as dificuldades, nelas a facilidade estudo de concerto, que alia bravura provoca grande maravilhamento; PARA ASSISTIR virtuosística, técnica apurada e e, ao contrário, esforçar-se faz Yuri Bashmet, regente – Sergej Krylov, inspirado conteúdo musical. Os 24 apreciar pouco qualquer coisa, por violino | Acesse: fil.mg/pviolino5 Capricci para violino solo, a primeira maior que ela seja. Pode-se dizer PARA LER obra publicada de Paganini, são que é arte verdadeira aquela que Attila Campai e Dietmar Holland – verdadeiros estudos dedicados não parece ser arte; e em outra coisa Guia Básico dos Concertos – Editora agli artisti, aos executantes de não há que se esforçar, senão em Civilização Brasileira – 1995 42 ALLEGRO E VIVACE 43

Paul Dukas | França, 1865 – 1935 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 3 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, cordas. SINFONIA EM DÓ MAIOR (1895/1896)

40 min

Paul Dukas foi amigo e condiscípulo impressionam pela alta qualidade. O bailado La Péri, contemporâneo movimento de redescoberta de Debussy no Conservatório Uma autocrítica impiedosa, quase do Daphnis et Chloé de Ravel, foi, da tradição sinfônica francesa, de Paris. Homem de excepcional paralisante, levou-o a guardar ou como este, encomendado por interesse comum a vários cultura musical, literária e filosófica, destruir a maior parte de suas Diaghilev para os Balés Russos. compositores da época. Antes consagrou grande parte de sua vida composições. As obras publicadas, Na verdade, trata-se de um vasto dele, Saint-Saëns, Lalo, d’Indy, ao ensino. Seus muitos alunos (entre frutos raros de prolongada poema sinfônico que admite César Franck e Chausson haviam outros, Manuel de Falla e Olivier meditação, são profundamente coreografia e tornou-se uma das iniciado a recuperação do gênero, Messiaen) permaneceram todos representativas do espírito francês, partituras mais representativas cujo ponto de referência francês fiéis admiradores do grande mestre, estruturadas com lógica cartesiana de Dukas, sobretudo pelo encanto remontava, evidentemente, à Sinfonia mesmo quando divididos pelas e notável clareza de orquestração. magistral de sua orquestração. Fantástica, de Berlioz, de 1830. diferentes tendências estéticas da música francesa moderna. Crítico Inicialmente, Dukas deixou-se Duas longas obras para piano, a A Sinfonia em Dó maior tem divisão esclarecido, cuja vultosa produção influenciar por Liszt, Wagner e Sonata em mi menor e as Variações, ternária – dois movimentos vivos ainda se conserva atual, Dukas foi César Franck – mas sua linguagem interlúdio e final sobre um tema enquadram o andamento lento. também revisor da obra de Rameau e musical possui uma sensibilidade de Rameau, possuem grande No Allegro non troppo vivace, ma con Beethoven, músicos que tomou como muito individual. A wagneriana virtuosidade de escrita e constituem fuoco, o primeiro tema é exposto nos modelos, respectivamente pela clareza Abertura Polyeucte, de 1892, já um marco na literatura francesa violinos, transparente e decidido. da linguagem e pela solidez formal. apresenta essa originalidade do instrumento. Ainda para piano As cordas também apresentam, inconfundível e foi saudada solo, Dukas deixou um Prelúdio sobre um rallentando, o segundo Em maio de 1897, a estreia do poema como uma versão francesa do elegíaco e uma homenagem póstuma motivo, mais melódico (espressivo) e sinfônico Aprendiz de Feiticeiro prelúdio de Tristão e Isolda. a Debussy, com o significativo melancólico, em tonalidade menor. alcançou enorme êxito – popularidade título de Pranto do Fauno, ao longe. A exposição temática se encerra com merecida e confirmada mais Por ocasião da polêmica suscitada pela um terceiro elemento, em fortíssimo, recentemente pela reedição de estreia da ópera Pelléas et Mélisande A Sinfonia em Dó maior estreou em dos metais. O desenvolvimento um episódio do filmeFantasia , de Debussy, Dukas decidiu-se pelas janeiro de 1897 – pouco antes de utiliza engenhosas variações de Walt Disney. Paradoxalmente, novas tendências que procuravam Aprendiz de Feiticeiro –, e a acolhida desses temas até que um poderoso entretanto, tamanho sucesso impor-se na música francesa. foi bastante fria. É curioso observar crescendo orquestral conduz à dificultou a recepção do restante de Sua ópera Ariane et Barbe-Bleue, que a causa da resistência inicial da reexposição. A Coda primeiramente sua produção: Paul Dukas continua estreada em 1907, associa-se crítica e do público tornou-se o que oculta os elementos temáticos lembrado apenas por essa única inevitavelmente à do amigo, até agora mais se elogia na obra, ou sob a ambientação misteriosa de obra-prima e como o principal crítico pela proximidade cronológica seja, sua complexidade estrutural. longínquas trompas, para depois defensor de Debussy. Epíteto injusto, e pela coincidência do autor do Essa Sinfonia constitui a grande os revelar na plenitude luminosa pois os outros títulos do seu catálogo libreto, Maurice Maeterlinck. contribuição de Dukas para o das madeiras agudas e dos metais. 44 ALLEGRO E VIVACE 45

No Andante espressivo e sostenuto os o segundo motivo, confiado aos primeiros violinos, acompanhados violinos em andamento mais calmo, o pelas violas, apresentam o melancólico estribilho retorna enriquecido pelos primeiro tema, sobre um suave metais. O terceiro motivo aparece, movimento das trompas. Nas flautas então, mais longo e muito modulante. e clarinetes, com um motivo mais O estribilho agora reaparece com o rítmico e límpido, surge o segundo peso da orquestra completa. A longa tema. Um desenvolvimento bastante Coda sobrepõe os elementos temáticos conciso, enriquecido por ideias anteriores e, com crescente entusiasmo, secundárias, antecede a reexposição, chega à brilhante conclusão. e esse magníficoAndante termina impregnado de bucólica poesia. PAULO SÉRGIO MALHEIROS DOS SANTOS Pianista, Doutor em Letras, professor na UEMG, autor O Allegro spirituoso final é um rondó dos livros Músico, doce músico e O grão com seu estribilho enérgico e ritmado, perfumado – Mário de Andrade e a arte do apresentado primeiramente pelos inacabado. Apresenta o programa semanal fagotes, trompas e violoncelos. Após Recitais Brasileiros, pela Rádio Inconfidência.

PARA OUVIR Paul Dukas – Symphony in C Major; Polieucte Ouverture – BBC Philharmonic Orchestra – Yan Pascal Tortelier, regente – Chandos Records, England – 1994

Orquestra da Suíça Romanda – Armin Jordan, regente | Acesse: fil.mg/dsinfdo

PARA ASSISTIR Orquestra Sinfônica do Estado do México, Guillermo Villarreal, regente | Acesse: fil.mg/dsinfdo1 (parte 1) fil.mg/dsinfdo2 (parte 2) fil.mg/dsinfdo3 (parte 3)

PARA LER François-René Tranchefort – Guia da Música Sinfônica – Nova Fronteira – 1990 FOTO: ANDRÉ FOSSATI FOTO:

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FABIO MECHETTI regente ELIANE COELHO soprano

PRESTO Quinta 23/07

PROGRAMA VELOCE Sexta ESTREIA MUNDIAL Cláudio de FREITAS 24/07 Obra encomendada pela Filarmônica Grande Trio Concertante, op. 15

Maurice RAVEL Sheherazade • Ásia ELIANE COELHO • A flauta encantada soprano • O indiferente

– INTERVALO –

Richard STRAUSS As alegres travessuras de Till Eulenspiegel, op. 28

ELIANE COELHO Richard STRAUSS soprano Salomé, op. 54: Cena Final 48 PRESTO E VELOCE 49

(Herodiade, com Plácido Domingo, (Salomé), Sofia (Maria Tudor), José Carreras, Ferruccio Furlanetto), Bucareste (, Margherita e Elena (Mefistofele), Gioconda, I due Foscari), Praga Elettra (, com regência de (Salomé), São Petersburgo Sir Colin Davis). (Salomé), Valência (Salomé) Zurique (Mimi, Andrea Chenier, Também cantou em muitas óperas Fedora), Tóquio (Salomé), Manaus de Verdi, como Lady Macbeth (Isolda), Rio de Janeiro (Abigail). (com Leo Nucci), Leonora (Trovatore), Aida, Desdemona (Otello, com Seu extenso repertório continua se Renato Bruson), Lina (Stiffelio, com enriquecendo com novos papéis. Renato Bruson, Plácido Domingo, Nos últimos anos, abordou com José Carreras), Elena (Vespri Siciliani, grande êxito Brunnhilde (A Valquíria com Ferruccio Furlanetto, Renato e O Crespúsculo dos Deuses), La Bruson), Elisabetta (Don Carlo), Gioconda, Yerma de Villa-Lobos, Elvira (Ernani), Abigaille (, Lady Macbeth de Mzensk e Medeia. com Leo Nucci), Helene (Jerusalem, com José Carreras, Ferruccio De todos, talvez seja justamente o Furlanetto, Samuel Ramey e papel título da Salomé, de Richard Eliane Coelho é conhecida como uma regência de Zubin Metha). Strauss, uma de suas interpretações das mais versáteis artistas, com um mais marcantes. Elogiada amplo repertório. Carioca, diplomou- Como convidada, Eliane apresentou-se internacionalmente, Eliane Coelho se na Escola Superior de Música e em muitos outros teatros, como deu vida e voz à princesa da Judeia Teatro de Hannover, para depois seguir (Butterfly, com maestro centenas de vezes, em teatros da uma brilhante carreira no exterior. Riccardo Chailly), Bastille (Salomé, importância da Staatasoper de Viena, com maestro Donald Runnicles), ópera de Stuttgart, Berlin Staatsoper Eliane foi membro da Ópera de Festival Aix-en-Provence (Elettra, em Unter de Linden, Semperoper de Frankfurt, na Alemanha, de 1983 a Idomeneo), Stocolmo (, Aida, Dresden, Mannheim, Nationaltheater 1991, ano em que foi contratada pela Tosca), Munique (Salomé, Donna de Munique, Opéra Bastille de Paris. Ópera de Viena, Áustria, onde recebeu Elvira, Elettra), Berlim (Salomé, Cantou-a também em cidades como o título de Kammersängerin em 1998. Butterfly, Tosca, Aida, Turandot), Copenhagem, Gottenburgo, Valencia, Neste prestigioso espaço vienense Dresden (, Butterfly, Aida), Budapeste, Praga, São Petersburgo atuou em numerosos papéis, entre eles Nice (Elettra), Marselha (Salomé), e Tóquio, ao lado de artistas como ELIANE Tosca, Butterfly, Mary Stuart, Fedora Copenhague (Salomé, Butterfly), Mehta, Terfel, Rysanek, Jerusalem, (com Plácido Domingo), Madeleine Nápoles (Tosca), Torino (Lulu, Zednik, Weikl, Fassbaender, Weikl,

FOTO: JACKELINE NIGRI NIGRI JACKELINE FOTO: COELHO (Andrea Chenier), Arabella, Salomé Elettra), Catania (Elettra), Budapeste Runnicles, Tear e Götz Friedrich. 50 PRESTO E VELOCE 51

Cláudio de Freitas | Brasil, 1975 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 3 flautas, 2 oboés, oboé d´amore, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 6 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, GRANDE TRIO CONCERTANTE, OP. 15 (2015) tuba, cordas. 17 min

O processo composicional de conhecimento da teoria musical interpretou Gonzaga ou a Revolução de isoladamente, de modo que se Cláudio de Freitas combina extensa trazido do Harid Conservatory, em Minas e Homenagem a Rubem Braga, revelem suas personalidades sonoras prática como intérprete e profundo Boca Raton, Flórida. Ali, estudou sendo esta última em estreia mundial. distintas. Segue-se então um diálogo conhecimento de harmonia e com o aclamado Arthur Weisberg, entre as famílias de instrumentos, contraponto, de modo a privilegiar responsável por sua formação como Obra completamente abstrata, sem no qual o tema das cordas ecoa elementos musicais tradicionais, instrumentista e sua introdução no nenhuma referência programática, o nas madeiras e nos metais, que o como a melodia, o acompanhamento mundo da composição musical. Grande Trio Concertante materializa modificam. Tal diálogo expande-se e, principalmente, a forma. Como ele um eloquente trabalho técnico e as diversas vozes instrumentais mesmo declara, concebe inicialmente De volta ao Brasil, além do trabalho e orquestral. Concebida como intensificam-se, conduzindo ao clímax a forma da obra para então traçar as como músico de orquestra, defendeu um concerto para orquestra em orquestral, ou seja, ao momento linhas melódicas que são combinadas mestrado em musicologia na Escola de três movimentos ininterruptos, a do grande trio concertante. segundo um contraponto rico, embora Comunicação e Artes da Universidade peça explora virtuosisticamente plástico. Trabalha a harmonia, seja de São Paulo. Como musicólogo, a coexistência de três famílias de IGOR REYNER Pianista, Mestre em Música pela ela triádica, hexacordial ou de blocos revisou e editou a instrumentos: as cordas, as madeiras Sinfonia nº 3, UFMG, doutorando de Francês no King’s sonoros, dentro de grandes estruturas, “A Guerra”, de Heitor Villa-Lobos, e os metais. Cada um dos grupos College London e colaborador do ARIAS/ o que lhe garante um sinfonismo para a editora Criadores do Brasil. instrumentais é apresentado Sorbonne Nouvelle Paris 3. encorpado e favorece o colorido Sua edição foi gravada pelo selo Naxos orquestral. Além da primazia formal, em fevereiro de 2012. A riqueza de sua orquestração revela intimidade seu trabalho como compositor reflete PARA OUVIR H. Villa-Lobos – Symphony nº 3, “War”; com a orquestra, fruto de sua vasta não apenas sua formação musical Symphony nº 4, “Victory” – São Paulo experiência como fagotista. Sua plural, mas também sua paixão Symphony Orchestra (Osesp) – Isaac atuação como contrafagotista na pela história e literatura brasileiras. Karabtchevsky, regente – Naxos 8.573151 – Filarmônica de Minas Gerais e, Predominantemente, suas obras têm 2012 (Partitura da Sinfonia nº 3 revista principalmente, os doze anos em que caráter programático, destacando-se e editada por Cláudio de Freitas) esteve na Orquestra Sinfônica do os poemas sinfônicos Gonzaga PARA LER Estado de São Paulo, onde participou ou a Revolução de Minas, op. 4, e Cláudio de Freitas – Processos composicionais de cerca de cem apresentações por A Confederação dos Tamoios, op. 7, além da obra coral-sinfônica Fantasia sobre uma ano, permitiram ao compositor dos Três Quadros de Victor Meirelles, cantiga de ninar e da abertura sinfônica explorar o repertório de concerto op. 14, e Homenagem a Rubem Braga: As Enfibraturas do Ipiranga – Universidade de São Paulo (USP) – Dissertação de em toda sua diversidade. Como Quatro Crônicas Escolhidas, op. 10. Mestrado em Musicologia – 2008 instrumentista, Freitas vivenciou os

mais emblemáticos estilos e linguagens Em temporadas anteriores, a PARA VISITAR musicais, consolidando assim o Filarmônica de Minas Gerais soundcloud.com/claudio-de-freitas 52 PRESTO E VELOCE 53

Maurice Ravel | França, 1875 – 1937 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, 2 clarinetes, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, percussão, 2 harpas, SHEHERAZADE (1903) celesta, cordas. 17 min

As Mil e Uma Noites são talvez o a cólera do sultão, já abrandada, diga, ainda, da obra homônima de os casos, caminhos possíveis que maior clássico da literatura árabe se transforma em amor por sua Rimsky-Korsakov, plena de exotismos lhe permitissem se afastar cada vez e já há muito se incorporaram ao esposa, a quem concede viver. e de evocações que procuram, de mais da tonalidade, sem, porém, patrimônio literário universal. Esse um lado, representar musicalmente se submeter a certos academismos entremeado de contos e histórias Scheherazada é, assim, uma figura as figuras do próprio sultão e de algumas correntes musicais da que não se furtam a lidar com o metalinguística que personifica de sua esposa e, de outro, certas virada do século XIX para o XX. fantástico e com o maravilhoso a própria narrativa, envolvente e ambientações que alguns contos Os orientalismos que se entreouvem constitui, ao mesmo tempo, uma sedutora, que vence a cólera e os das Mil e Uma Noites sugerem. em Shéhérazade não são, portanto, grande experiência narrativa e uma instintos mais irracionais pela ação de nem de longe, colorações exóticas. grande ousadia social. No primeiro um espírito inteligente e sutilmente Ravel intitulou Shéhérazade não São caminhos de fuga, um meio de caso, basta observar as histórias que ardiloso. A teia de histórias que sua uma, mas duas de suas composições: não se sujeitar mais ao sistema tonal, levam a outras histórias, as vozes que voz constrói transforma-se, pouco a a primeira, composta em 1898, que já há muito tempo se mostrava dão voz a outras vozes, as narrativas pouco, no tecido que irá forrar o seu foi concebida para ser a abertura ineficaz para a expressão musical. que despontam de outras narrativas, leito nupcial. Tanto o Oriente quanto de uma ópera que nunca chegou numa teia sutil que se configura, o Ocidente veem nessa personagem a ser concluída. Ainda assim, Em 1903 Ravel entra em contato com veladamente, metalinguística. emblemática a poderosa idealização Shéhérazade, Ouverture de Féerie o poeta Tristan Klingsor, pseudônimo No segundo caso, porque confere a da figura feminina porque, com seu foi a primeira obra orquestral de de Léon Leclère (1874-1966), que responsabilidade dessas narrativas talento, seus dotes e sua inteligência, Ravel. A segunda, composta em tinha acabado de publicar, sob o a uma mulher, num contexto social seduz e conquista até os mais 1903, chama-se simplesmente título de Shéhérazade, uma coleção em que a figura masculina era altos potentados, transformando Shéhérazade e constitui-se de de poemas inspirados na narrativa soberana. Scheherazada torna-se, as paixões em amor, a fúria em um ciclo de três canções para árabe das Mil e Uma Noites e também assim, a protagonista da obra, ternura, a sua própria sentença voz aguda (soprano ou tenor, na composição de Rimsky-Korsakov, apesar de poucas vezes aparecer de morte em esperança de vida. embora geralmente seja cantada da qual tanto Ravel quanto Debussy explicitamente na narrativa. A por voz feminina) e orquestra. eram grandes admiradores. A partir esposa do Sultão das Índias envolve Não é por acaso, portanto, que a desse contato, Ravel põe-se a seu marido durante mil e uma noites música ocidental, desde o século XIX, Na verdade, desde as exposições musicar três dos poemas de Klingsor, com o artifício da narrativa para se vê encantada por essa personagem. universais em Paris, Ravel se vê a princípio concebidos para voz evitar ser morta: o sultão, desiludido Já Schumann, em seu Álbum para fascinado pela música e pela cultura e piano, mas logo orquestrados com a fidelidade feminina, decidira a Juventude, op. 68 (coleção de do Oriente. Nesta, de um lado, e no que veio a se tornar a sua arbitrariamente matar, depois da pequenas peças para piano), constrói no jazz e no blues, de outro, ele não própria Shéhérazade. noite de núpcias, todas as mulheres uma Scheherazade moldada em uma vê mero material para pintar com com que se casasse. Depois de melodia cíclica, que parece nunca certos modalismos um já ineficiente A riqueza rítmica da poesia de mil e uma noites de narrativas, se resolver por completo. Não se sistema tonal. Ravel vê, em ambos Klingsor, flexível e não condicionada 54 PRESTO E VELOCE 55

a esquemas poéticos tradicionais, Como a própria personagem da aliada à intensa imagética que ela Scheherazada, nas Mil e uma Noites... cria, foram materiais perfeitos para um Ravel já descrente do Composta no mesmo ano em que Ravel sistema tonal, o que lhe permite, completa outra de suas obras-primas – sem trauma, o uso de dissonâncias e o Quarteto de Cordas –, Shéhérazade sonoridades no mínimo originais! pode não ser uma de suas obras mais populares, mas é uma de suas obras Essas três grandes canções, de caráter mais importantes. Ela foi estreada em reflexivo, foram concebidas para 1904, na Société Nationale, cantada ter Asie como último movimento. por Jeanne Hatto, tendo como regente No entanto, no momento da ninguém menos que Alfred Cortot. publicação, o compositor inverteu a ordem das canções, o que cria uma MOACYR LATERZA FILHO Pianista e cravista, espécie de progressão, indo de um Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa, orientalismo quase voluptuoso a professor da Universidade do Estado de Minas uma velada e terna sensualidade... Gerais e da Fundação de Educação Artística.

PARA OUVIR Maurice Ravel – Shéhérazade; Le tombeau de Couperin; Pavane pour une infante défunte; Menuet Antique – The Cleveland Orchestra – Pierre Boulez, regente – Anne Sophie von Otter, soprano – Deutsche Grammophon – 2012

PARA ASSISTIR Orquestra Filarmônica de Nova York – Sir Andrew Davis, regente – Renné Fleming, soprano | Acesse: fil.mg/rsheherazade

PARA LER Deborah Mawer (ed.) – The Cambridge Companion to Ravel – Cambridge University Press – 2000

Roland de Candé – História Universal da Música – vol. 2 – Eduardo Brandão, tradução – Martins Fontes – 1994 FOTO: ALEXANDRE REZENDE FOTO: 56 PRESTO E VELOCE 57

Richard Strauss | Alemanha, 1864 – 1949 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 3 flautas, 3 oboés, corne inglês, requinta, 2 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, tuba, tímpanos, AS ALEGRES TRAVESSURAS DE TILL EULENSPIEGEL, OP. 28 (1894/1895) percussão, cordas. 15 min

Till Eulenspiegel foi um personagem apenas vagamente lembra um rondó. sobre o significado de cada passagem. a raça humana”, “o motivo dos folclórico alemão do século XIII, A estrutura da peça é, na verdade, Sobre o tema dos violinos que abre Filisteus”, “o julgamento”, “o lado um malandro atrevido que pregava uma mistura de rondó, sonata e a peça, o compositor escreveu: mortal do Till chegou ao fim”. peças em seus contemporâneos. variações temáticas, cuja unidade se “Era uma vez um tolo velhaco...”; Mas talvez a melhor maneira de se Como Till constantemente mantém graças à intensificação de e sobre a melodia da trompa, logo ouvir esta peça seja como o próprio expressava seu desprezo por certos um material musical extremamente após o tema dos violinos, ele escreveu: compositor sugeriu, quando de sua comportamentos desagradáveis de coeso. Ao denominar a peça um “... que se chamava Till Eulenspiegel”. estreia: “deixe os alegres cidadãos figuras conhecidas, o surgimento rondó, estaria Strauss, assim como Estes são os temas que ele considerava de Colônia adivinharem, por si das travessuras atribuídas a ele Till Eulenspiegel, zombando dos como temas de base de toda a peça, próprios, que tipo de brincadeira pode ter suas origens no desejo de seus críticos? O compositor parece pois que retornam volta e meia, musical o malandro pregou neles”. retaliação dos desprivilegiados contra ter-se identificado imensamente com sempre com ligeiras modificações. as classes mais abastadas. A verdade o destemido Till, que enfrentava os E assim ele foi deixando pistas ao GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em sobre sua real existência nunca ficou mais diversos inimigos sem se abalar. longo da partitura: “Salta no cavalo Música pela Unicamp, professor na Escola de satisfatoriamente comprovada e, ao Strauss vivia, na época, um feroz e passa pelas mulheres do mercado”, Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos que tudo indica, ele foi um mero embate com os críticos, retomado “ele promete vingança contra toda floridos não voam e Música menor. personagem de ficção em torno em outro poema sinfônico de sua do qual gravitava uma série de autoria: Uma vida de herói (1898). contos populares da Idade Média. A tendência de Till para ridicularizar a ordem ideológica de seu tempo Tendo Richard Strauss completado parece encontrar paralelo no a composição do poema sinfônico poema sinfônico homônimo, uma PARA OUVIR Till Eulenspiegel (As alegres travessuras vez que Strauss recicla material CD Richard Strauss – Also sprach Zarathustra; de Till Eulenspiegel, a partir da musical de Wagner (O anel do Till Eulenspiegels lustige Streiche; Tod und história de um velho trapaceiro – na Nibelungo e Tristão e Isolda) e Verklärung; Salome (Dance of the seven veils) – Staatskapelle Dresden – Rudolf forma rondó – para orquestra) no dia 6 Beethoven (8ª Sinfonia) e os reutiliza, Kempe, regente – EMI Classics – 2001 de maio de 1895, a primeira audição de certa forma, satirizados.

se deu em 5 de novembro do mesmo PARA ASSISTIR ano, em Colônia, sob a regência de Embora às vezes relutante em Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera – Franz Wüllner. O fato de Strauss fornecer pistas sobre as fontes que o Lorin Maazel, regente | Acesse: fil.mg/still escrever, na página título, que se inspiraram a compor determinados PARA LER tratava de uma obra na forma rondó temas, Strauss fez uma série de Michael Kennedy – Richard Strauss: só veio complicar sua compreensão, anotações, na partitura utilizada pelo man, musician, enigma – Cambridge uma vez que seu sentido musical musicólogo alemão Wilhelm Mauke, University Press – 2006 58 PRESTO E VELOCE 59

Richard Strauss | Alemanha, 1864 – 1949 INSTRUMENTAÇÃO piccolo, 2 flautas, 2 oboés, corne inglês, heckelphone, requinta, 4 clarinetes, clarone, 3 fagotes, contrafagote, 6 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, SALOMÉ, OP.54: CENA FINAL (1903/1905) tuba, tímpanos, percussão, celesta, órgão, 2 harpas, cordas. 17 min

Salomé é a terceira ópera de público. Em pouco tempo a ópera bandeja de prata. Nesse momento orquestral fascinante e uma linha Richard Strauss, composta a partir da tornou-se um succès de scandale e inicia-se a cena final, uma das cenas vocal das mais sublimes jamais tradução alemã de Hedwig Lachmann fez do compositor um homem rico mais envolventes e arrepiantes de escritas para a voz de soprano. Um da peça homônima de Oscar Wilde e internacionalmente famoso. toda a história da ópera. Em êxtase, papel dos mais difíceis, que exige uma (1854-1900). A peça, escrita para ela segura a cabeça e conversa como técnica vocal suficientemente madura Sarah Bernhardt, foi proibida na Baseada na narrativa bíblica, a ópera se ele ainda estivesse vivo: “Ah, você para se expressar com – e, às vezes, Inglaterra e França, por seu teor conta a história da atração fatal da não me deixaria beijar sua boca, contra – uma orquestra monumental, altamente explosivo. Sua estreia se jovem princesa Salomé por Jochanaan Jochanaan. Bem, eu vou beijá-la em momentos de intenso prazer, deu, apenas, em 11 de fevereiro 1896, (João Batista). Jochanaan está preso agora”. Todo o magnetismo de fúria, sedução e doçura. no teatro da Comédie-Parisienne em uma cisterna do palácio do rei Strauss está presente nessas últimas (atual Athénée Théâtre Louis-Jouvet), Herodes por ter pregado a vinda páginas, de uma música mágica GUILHERME NASCIMENTO Compositor, Doutor em quando Wilde estava na prisão. Em do Messias e por ter acusado de que sublinha a face íntima de cada Música pela Unicamp, professor na Escola de novembro de 1902, quando Richard incestuoso o casamento de Herodes personagem e desvenda as intenções Música da UEMG, autor dos livros Os sapatos Strauss assistiu a uma apresentação com sua cunhada Herodíades, por trás de cada ação. Um colorido floridos não voam e Música menor. da peça em Berlim, imediatamente mãe de Salomé. Salomé pede aos percebeu suas possibilidades guardas que lhe tragam o profeta. operísticas. Aproveitando a tradução Fascinada com a presença dele, ela de Lachmann, ele fez alguns cortes, lhe implora por um beijo. Jochanaan estruturou a trama em um único a rejeita e amaldiçoa. Os guardas o ato com quatro cenas e centrou a levam de volta à cisterna. Herodes PARA ASSISTIR DVD Richard Strauss – Salome – Royal Opera história na figura de Salomé. A ópera e Herodíades chegam, e o rei se House Convent Garden – Edward Downes, foi composta entre 1903 e 1904, e a encanta com a enteada. Herodes regente – Maria Ewing, soprano – 1992/2001 partitura completa foi finalizada em sugere a Salomé que dance para ele. 20 de junho de 1905. A estreia se deu Ela se recusa, mas finalmente aceita, DVD Richard Strauss – Salome – Deutsche em 9 de dezembro de 1905, na Ópera uma vez que ele promete dar-lhe Oper Berlin – Giuseppe Sinopoli, regente – Catherine Malfitano, soprano – 1990/2008 de Dresden, sob a regência de Ernst qualquer coisa que ela queira. Salomé

von Schuch. A estreia foi um sucesso dança, sedutoramente, a famosa Orquestra da Casa de Ópera Real – Christoph estrondoso, mas a crítica protestou Dança dos Sete Véus. Ao fim, pede von Dohnányi, regente – Catherine Malfitano, violentamente, classificando-a de a Herodes a cabeça de Jochanaan. soprano | Acesse: fil.mg/ssalome indecente, imoral e cacofônica. Assim Aterrorizado, o rei protesta, mas, PARA LER como ocorreu com a peça teatral, a persuadido pela esposa, acaba Charles Youmans (ed.) – The Cambridge ópera foi banida de vários teatros, o cedendo. O carrasco desce à cisterna companion to Richard Strauss – que só fez aumentar o interesse do e traz a cabeça do profeta em uma Cambridge University Press – 2010 60 PRESTO E VELOCE 61 FOTO: EUGÊNIO SÁVIO EUGÊNIO FOTO: 62 63

ACOMPANHE A PRÓXIMOS FILARMÔNICA EM OUTRAS CONCERTOS SÉRIES DE CONCERTO

CONCERTOS PARA A JUVENTUDE LABORATÓRIO DE REGÊNCIA Julho Realizados em manhãs de domingo, Atividade pioneira no Brasil, este são concertos dedicados aos jovens laboratório é uma oportunidade DIAS 9 E 10, PRESTO 5, VELOCE 5 e às famílias, buscando ampliar para que jovens regentes brasileiros quinta e sexta, 20h30, e formar público para a música possam praticar com uma orquestra Sala Minas Gerais clássica. As apresentações têm profissional. A cada ano, quinze Fabio Mechetti, regente ingressos a preços populares. maestros, quatro efetivos e onze Arnaldo Cohen, piano ouvintes, têm aulas técnicas, teóricas e DVORÁK / DUTILLEUX / RACHMANINOFF CLÁSSICOS NA PRAÇA ensaios com o regente Fabio Mechetti. Realizados em praças da Região O concerto final é aberto ao público. DIA 12, TURNÊ ESTADUAL Metropolitana de Belo Horizonte, os domingo, 20h, Mariana concertos proporcionam momentos TURNÊS NACIONAIS E INTERNACIONAIS Marcos Arakaki, regente de descontração e entretenimento, Com essas turnês, a Orquestra TCHAIKOVSKY / DVORÁK / PROKOFIEV / buscando democratizar o acesso da Filarmônica de Minas Gerais VAUGHAN WILLIAMS / WAGNER / GOMES população em geral à música clássica. busca colocar o estado de Minas dentro do circuito nacional e DIAS 16 E 17, ALLEGRO 6, VIVACE 6 CONCERTOS DIDÁTICOS internacional da música clássica. quinta e sexta, 20h30, Concertos destinados a grupos de Sala Minas Gerais crianças e jovens da rede escolar TURNÊS ESTADUAIS Fabio Mechetti, regente e a instituições sociais, mediante As turnês estaduais levam a música de Sergej Krylov, violino inscrição prévia. Seu formato busca concerto a diferentes cidades e regiões de HONEGGER / PAGANINI / DUKAS apoiar o público em seus primeiros Minas Gerais, possibilitando que o público passos na música clássica. do interior do Estado tenha contato direto DIAS 23 E 24, PRESTO 6, VELOCE 6 com música sinfônica de excelência. quinta e sexta, 20h30, FESTIVAL TINTA FRESCA Sala Minas Gerais Com o objetivo de fomentar a criação CONCERTOS DE CÂMARA Fabio Mechetti, regente musical entre compositores brasileiros e Realizados para estimular músicos Eliane Coelho, soprano gerar oportunidade para que suas obras e público na apreciação da música RAVEL / R. STRAUSS sejam apresentadas em concerto, este erudita para pequenos grupos. A Festival é sempre uma aventura musical Filarmônica conta com grupos de DIA 30, LABORATÓRIO DE REGÊNCIA inédita. Como prêmio, o vencedor recebe Metais, Cordas, Sopros e Percussão. quinta, 20h30, Sala Minas Gerais a encomenda de outra obra sinfônica Regentes participantes a ser estreada pela Filarmônica no WAGNER / BEETHOVEN ano seguinte, realimentando o ciclo da produção musical nos dias de hoje. 64 65

Orquestra Instituto FORTISSIMO julho nº 5 / 2015 Filarmônica de Cultural ISSN 2357-7258 DIRETOR ARTÍSTICO E REGENTE TITULAR EDITORA Merrina Minas Gerais Fabio Mechetti Filarmônica Godinho Delgado

EDIÇÃO DE TEXTO REGENTE ASSOCIADO Berenice Menegale Marcos Arakaki

PRIMEIROS VIOLINOS Katarzyna Druzd FAGOTES GERENTE Conselho DIRETOR DE ANALISTAS DE AUXILIARES Anthony Flint – Spalla Luciano Gatelli Catherine Carignan * Jussan Fernandes Administrativo OPERAÇÕES MARKETING E ADMINISTRATIVOS Rommel Fernandes – Marcelo Nébias Victor Morais *** Ivar Siewers PROJETOS Pedro Almeida Nathan Medina Andrew Huntriss Itamara Kelly Vivian Figueiredo Spalla Associado INSPETORA PRESIDENTE EMÉRITO Ara Harutyunyan – DIRETOR DE Mariana Theodorica Clara Santos ***** Karolina Lima Jacques Schwartzman Spalla Assistente Leila Tascheck ***** TROMPAS PRODUÇÃO MUSICAL RECEPCIONISTA Ana Zivkovic Vitor Abreu ***** Alma Maria Liebrecht * Kiko Ferreira ASSISTENTE DE Lizonete Prates Siqueira ASSISTENTE PRESIDENTE Arthur Vieira Terto COMUNICAÇÃO Evgueni Gerassimov *** ADMINISTRATIVA Roberto Mário Soares Bojana Pantovic VIOLONCELOS Gustavo Garcia Trindade Débora Vieira Equipe Técnica Renata Gibson AUXILIARES DE Dante Bertolino Robson Fonseca **** José Francisco dos Santos SERVIÇOS GERAIS CONSELHEIROS Hyu-Kyung Jung GERENTE DE ASSISTENTES DE Ailda Conceição Camila Pacífico Lucas Filho ARQUIVISTA Angela Gutierrez Jovana Trifunovic COMUNICAÇÃO MARKETING DE Márcia Barbosa Camilla Ribeiro Fabio Ogata Sergio Almeida Berenice Menegale Marcio Cecconello Merrina Godinho RELACIONAMENTO Eduardo Swerts Bruno Volpini Mateus Freire Delgado Eularino Pereira MENSAGEIROS Emilia Neves TROMPETES ASSISTENTES Celina Szrvinsk Rodolfo Toffolo Rildo Lopez Lucas Lima Eneko Aizpurua Pablo Marlon Humphreys * Ana Lúcia Kobayashi Fernando de Almeida Rodrigo Bustamante GERENTE DE Serlon Souza Lina Radovanovic Érico Fonseca ** Claudio Starlino Ítalo Gaetani Rodrigo Monteiro Braga PRODUÇÃO MUSICAL Francisca Garcia ***** Daniel Leal *** Jônatas Reis Marco Antônio Pepino Equipe Rodrigo de Oliveira Claudia da Silva MENOR APRENDIZ Tássio Furtado Marcus Vinícius Salum Administrativa Guimarães Diego Soares CONTRABAIXOS SUPERVISOR DE Mauricio Freire SEGUNDOS VIOLINOS Colin Chatfield * TROMBONES MONTAGEM Mauro Borges GERENTE Frank Haemmer * ASSESSORA DE ADMINISTRATIVO- Nilson Bellotto *** Mark John Mulley * Rodrigo Castro Octávio Elísio Sala Minas Leonidas Cáceres *** PROGRAMAÇÃO FINANCEIRA Brian Fountain Diego Ribeiro ** Paulo Brant Gerais Gideôni Veríssimo MUSICAL Thais Boaventura Marcelo Cunha Wagner Mayer *** MONTADORES Sérgio Pena Guilherme Monteiro Pablo Guiñez Renato Lisboa André Barbosa Carolina Debrot GERENTE DE Leonardo Ottoni Wallace Mariano Hélio Sardinha Diretoria ANALISTAS INFRAESTRUTURA Luka Milanovic William Brichetto TUBA Jeferson Silva Executiva PRODUTORES ADMINISTRATIVOS Renato Bretas Marija Mihajlovic Eleilton Cruz * Klênio Carvalho Geisa Andrade João Paulo de Oliveira Martha de Moura Risbleiz Aguiar Luis Otávio Rezende Paulo Baraldi GERENTE DE FLAUTAS DIRETOR PRESIDENTE Pacífico Narren Felipe OPERAÇÕES Cássia Lima* TÍMPANOS Diomar Silveira Radmila Bocev Renata Xavier *** Patricio Hernández ANALISTA CONTÁBIL Jorge Correia Tiago Ellwanger Alexandre Braga Pradenas * ANALISTAS DE Graziela Coelho DIRETOR Valentina Gostilovitch Elena Suchkova COMUNICAÇÃO TÉCNICO DE ADMINISTRATIVO- Ana Paula Schmidt ***** Andréa Mendes ANALISTA DE ILUMINAÇÃO E ÁUDIO PERCUSSÃO FINANCEIRO Camilo Simões ***** (Imprensa) RECURSOS HUMANOS Rafael Franca OBOÉS Rafael Alberto * Estêvão Fiuza Edgar Leite ***** Alexandre Barros * Daniel Lemos *** Marciana Toledo Quézia Macedo Silva Thiago Cavalcanti ***** Ravi Shankar *** Sérgio Aluotto (Publicidade) ASSISTENTE DIRETORA DE Israel Muniz Werner Silveira Mariana Garcia SECRETÁRIA OPERACIONAL COMUNICAÇÃO (Multimídia) EXECUTIVA Rodrigo Brandão VIOLAS Moisés Pena Fernanda Krener ***** Jacqueline Guimarães João Carlos Ferreira * Renata Romeiro Flaviana Mendes Ferreira Roberto Papi *** CLARINETES HARPA (Design gráfico) Flávia Motta Marcus Julius Lander * Giselle Boeters * ASSISTENTE DIRETORA DE Gerry Varona Jonatas Bueno *** ANALISTA DE ADMINISTRATIVA MARKETING E Gilberto Paganini Ney Campos Franco MARKETING DE Cristiane Reis TECLADOS PROJETOS Juan Castillo RELACIONAMENTO Alexandre Silva Ayumi Shigeta * Zilka Caribé Mônica Moreira

* principal ** principal associado *** principal assistente **** principal / assistente substituto ***** convidado FOTO DA CAPA: ALEXANDRE REZENDE ILUSTRAÇÕES: MARIANA SIMÕES 66 67

PARA APRECIAR CUIDE DO SEU UM CONCERTO PROGRAMA DE CONCERTOS OLÁ, ASSINANTE Fortissimo, além de seu programa mensal de concertos, é uma publicação indexada aos sistemas nacionais PONTUALIDADE e internacionais de catalogação. VAMOS FALAR SOBRE O CELULAR? Elaborado com a participação de Uma vez iniciado um concerto, especialistas, ele oferece uma qualquer movimentação perturba oportunidade a mais para se conhecer Celular não combina com concerto. a execução da obra. Seja pontual música. Desfrute da leitura e estudo. Ele estraga a experiência da música. Para evitar o desperdício, pegue e respeite o fechamento das A LUZ do celular é vista de longe. portas após o terceiro sinal. Se apenas um exemplar ao mês. Caso não precise dele após o concerto, O TOQUE do dedo distrai e incomoda. tiver que trocar de lugar ou sair devolva-o nas caixas receptoras. Ao VIBRAR, o celular também é ouvido. antes do final da apresentação, O FLASH é visto de todos os lugares. aguarde o término de uma peça. O programa se encontra também disponível em nosso site, na agenda Qualquer uso do celular é inadequado. de concertos. www.filarmonica.art.br Não faça FOTOS, VÍDEOS ou ÁUDIOS.

APLAUSOS Por mais que você se esforce para ser discreto, Aplauda apenas no final das obras. até os músicos e o maestro são incomodados Veja no programa o número de CONVERSA pelo celular durante o concerto. movimentos de cada uma e fique de A experiência do concerto inclui o olho na atitude e gestos do regente. encontro com outras pessoas. Aproveite essa troca antes da apresentação e no seu intervalo, mas nunca converse TOSSE ou faça comentários durante a Perturba a concentração dos músicos execução das obras. Lembre-se de e da plateia. Tente controlá-la com que o silêncio é o espaço da música. a ajuda de um lenço ou pastilha. POR FAVOR, DESLIGUE SEU CELULAR. RESPEITE A ORQUESTRA E O PÚBLICO. CRIANÇAS APARELHOS CELULARES Caso esteja acompanhado por O USO DO CELULAR NÃO É PERMITIDO Confira e não se esqueça, por criança, escolha assentos próximos DURANTE O CONCERTO, favor, de desligar o seu celular ou aos corredores. Assim, você qualquer outro aparelho sonoro. consegue sair rapidamente se EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA. ela se sentir desconfortável.

FOTOS E GRAVAÇÕES ASSESSORIA DE RELACIONAMENTO EM ÁUDIO E VÍDEO COMIDAS E BEBIDAS FOTO: RAFAEL MOTTA RAFAEL FOTO: Não são permitidas na Seu consumo não é permitido no [email protected] sala de concertos. interior da sala de concertos. 3219-9009 (segunda a sexta, 9h a 18h) www.filarmonica.art.br 68

SALA MINAS GERAIS Ajuste Acústico do Palco

O revestimento do fundo do palco GARCIA MARIANA FOTO: guarda um outro segredo sobre as possibilidades de ajuste acústico da Sala Minas Gerais. Atrás do lambri de madeira que é visto pelo público há portas que podem reduzir o nível sonoro no palco e a intensidade do som produzido por instrumentos muito altos, como os metais, por exemplo. Quando essas portas são abertas, o som vaza para um grande espaço existente entre o palco e a parte inferior do coro. Para suavizá-lo, a orquestra também pode valer-se de uma pesada cortina de veludo que fica além das portas. O uso de todos os recursos de afinação da Sala é avaliado pelo maestro na preparação do concerto. O que o público ouve resulta de um delicado processo de harmonização que Ajuste Acústico começa no desejo do compositor, do Palco, visto do passa pelo talento de cada músico pódio do maestro. e do regente e na sua habilidade em usar os elementos da própria arquitetura acústica para que a interpretação da obra seja uma PORTAS FECHADAS PORTAS ABERTAS reverência à música.

Quando as portas Quando as portas estão abertas, o estão fechadas, o som vaza por este som é mais intenso. revestimento de tecido. FOTO: RENATA GIBSON RENATA FOTO: GIBSON RENATA FOTO: Ministério da Cultura e Governo de Minas Gerais apresentam

SUMÁRIO

p. 8

Fabio Mechetti, regente ALLEGRO VIVACE Arnaldo Cohen, piano Quinta Sexta 02/07 03/07 RIPPER Jogos Sinfônicos encomenda RACHMANINOFF Concerto para piano nº 2 em dó menor, op. 18 SCHOENBERG Sinfonia de Câmara nº 1, op. 9b RIMSKY-KORSAKOV Capricho Espanhol, op. 34

p. 24

Fabio Mechetti, regente PRESTO VELOCE Arnaldo Cohen, piano Quinta Sexta 09/07 10/07 DVORÁK Scherzo capriccioso, op. 66 DUTILLEUX Sinfonia nº 2, “Dupla” RACHMANINOFF Concerto para piano nº 3 em ré menor, op. 30

p. 34

Fabio Mechetti, regente ALLEGRO VIVACE Sergej Krylov, violino Quinta Sexta 16/07 17/07 HONEGGER Pacífico 231 PAGANINI Concerto para violino nº 5 em lá menor DUKAS Sinfonia em Dó maior

p. 46

Fabio Mechetti, regente PRESTO VELOCE Eliane Coelho, soprano Quinta Sexta 23/07 24/07 FREITAS Grande Trio Concertante, op. 15 encomenda RAVEL Sheherazade R. STRAUSS As alegres travessuras de Till Eulenspiegel, op. 28 R. STRAUSS Salomé, op. 54: Cena Final MANTENEDORA DIVULGAÇÃO APOIO INSTITUCIONAL

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