Adris André De Almeida AS RAIAS DA MEMÓRIA E DA IMAGINAÇÃO EM
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View metadata, citation and similar papers at core.ac.uk brought to you by CORE provided by Repositório Institucional da UFSC Adris André de Almeida AS RAIAS DA MEMÓRIA E DA IMAGINAÇÃO EM MANOEL DE BARROS Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Literatura, Área de Concentração em Literatura Brasileira, do Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina, para a obtenção do Título de Mestre em Literatura. Orientador: Prof. Dr. Stélio Furlan Florianópolis 2012 Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. Adris André de Almeida AS RAIAS DA MEMÓRIA E DA IMAGINAÇÃO EM MANOEL DE BARROS Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do Título de “Mestre em Literatura”, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, 26 de abril de 2012. ________________________ Profa. Dra. Susana Célia Leandro Scramim Coordenadora do Curso Banca Examinadora: ________________________ Prof. Dr. Stélio Furlan Orientador UFSC ________________________ Profa. Dra. Veridiana Almeida FAEL ________________________ Profa. Dra. Tânia Regina Oliveira Ramos UFSC ________________________ Profa. Dra. Marcia Bianchi UFSC AGRADECIMENTOS Aos meus pais e avós, pela educação e carinho. À minha irmã, que me levou a gostar de ler. Aos amigos, por me assentarem na alegria. Aos colegas, pelas conversas literárias. Aos professores, pelo suporte intelectual. Ao orientador, pelo voto de confiança. Ao CNPq, pela bolsa de estudo. Eu não sei nada sobre as grandes coisas do mundo, mas sobre as pequenas eu sei menos. (Manoel de Barros, 2008) RESUMO O presente trabalho procura inquirir a relação entre memória e imaginação que se estabelece em “Memórias inventadas”, de Manoel de Barros. Para isso, o olhar volta-se para o conjunto de sua obra, buscando em outros livros uma base interpretativa da convergência e divergência entre as duas faculdades. O poeta, como arqueólogo da palavra, está sujeito à memória que se estende à imaginação. Uma memória, portanto, que procura seu “deslimite”. Em Manoel de Barros, de lado a lado, memória e imaginação tocam seus limites, produzindo “memórias inventadas”. Palavras-chave: Manoel de Barros. Memória. Imaginação. Arqueopoesia. “Deslimite”. ABSTRACT The present paper aims to investigate the relationship between memory and imagination which is established in “Memórias inventadas” by Manoel de Barros. In order to achieve it, the paper turns its attention to his sets of work, seeking in other books an interpretative basis of convergence and divergence of both faculties. The poet, as an archeologist of word, is submitted to memory which extends to imagination. Therefore, a memory that looks for its “deslimite”. In Manoel de Barros, memory and imagination reach their limits producing “invented memories”. Keywords: Manoel de Barros. Memory. Imagination. Archaeopoetry. “Deslimite”. LISTA DE ABREVIATURAS APA – Arranjos para assobio, 1980; CCA – Concerto a céu aberto para solos de ave, 1991; CPT – Cantigas por um passarinho à toa, 2003; CUP – Compêndio para uso dos pássaros, 1960; EF – Ensaios fotográficos, 2000; ESC – Exercícios de ser criança, 1999; FA – O fazedor de amanhecer, 2001; FI – Face imóvel, 1942; GA – O guardador de águas, 1989; GEC – Gramática expositiva do chão, 1966; LI – O livro das ignorãças, 1993; LPC – Livro de pré-coisas, 1985; LSN – Livro sobre nada, 1996; MI – Memórias inventadas: a infância, 2003; MIS – Memórias inventadas: a segunda infância, 2005; MIT – Memórias inventadas: a terceira infância, 2008; MM – Menino do mato, 2010; MP – Matéria de poesia, 1970; P – Poesias, 1947; PCP – Poemas concebidos sem pecado, de 1937; PLB – Poeminha em língua de brincar, 2007; PR – Poemas rupestres, 2004; RAC – Retrato do artista quando coisa, 1998; TGG – Tratado geral das grandezas do ínfimo, 2001. SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................17 1 ARQUEOLOGIA E POESIA...........................................................19 1.1 SÍTIO DE POESIA (ETAPA DE CAMPO)....................................20 1.2 PALAVRA ESCOVADA (PROCESSAMENTO EM LABORATÓRIO)..................................................................................23 1.3 PALAVRA REMONTADA (ESTUDO).........................................25 1.4 PALAVRA REESCRITA (PUBLICAÇÃO)...................................31 1.5 ARQUEOLOGIA DA CRÍTICA.....................................................37 1.6 ARQUEOLOGIA DA COMPOSIÇÃO...........................................52 2 MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO........................................................59 2.1 IMAGEM E LEMBRANÇA............................................................59 2.2 O ESPAÇO DA IMAGINAÇÃO: O QUINTAL.............................68 2.3 O TEMPO DA MEMÓRIA: A INFÂNCIA....................................71 2.4 O ESPAÇO-TEMPO, A IMAGINAÇÃO-MEMÓRIA...................76 2.5 ESCAVANDO O QUINTAL DA INFÂNCIA................................80 3 (DES)VERDADE E (DES)REALIDADE........................................91 3.1 MEMÓRIAS INVENTADAS?........................................................91 3.2 VERDADE E REALIDADE EM JOGO.........................................94 4 IMBRICAÇÕES ENTRE MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO.........109 4.1 O SUJEITO DUPLICADO OU “INVENTEI UM MENINO LEVADO DA BRECA PARA ME SER”............................................109 4.2 O ESPAÇO REVISITADO OU “MEU QUINTAL É MAIOR DO QUE O MUNDO”................................................................................118 4.3 O TEMPO RELEMBRADO OU “AGORA TENHO SAUDADE DO QUE NÃO FUI”............................................................................133 5 POESIA DO (DES)LIMITE...........................................................145 5.1 FILOLOGIA POÉTICA DO “DESLIMITE”................................147 5.2 OS “DESLIMITES” DO VAGO....................................................158 5.3 OS “DESLIMITES” DA MEMÓRIA E DA IMAGINAÇÃO.......162 6 (DES)CONCLUSÃO.......................................................................171 REFERÊNCIAS.................................................................................173 17 INTRODUÇÃO “Memórias inventadas”: uma caixa de papéis enlaçados por uma fita. Ler o título, abrir a caixa, desatar o laço, pegar o punhado de folhas e ler a “Escova”. Esses foram os primeiros movimentos de nosso trabalho. Quantas caixas não têm recebido nossas lembranças? Baú de roupas de criança; gaveta de cartas; caixa de fotografias. Dentro das caixas, como organizamos os papéis? Por data, por importância, por tamanho, por cor, por cheiro? Uma foto guardada com apreço é apenas uma foto? O que faz dela um objeto querido senão porque é a “imagem de uma lembrança”? E das fotos esquecidas? Quando a memória “falha” no reconhecimento não parece haver um pedido de ajuda à imaginação? Essas questões gravitam em torno do nosso amplo objetivo: saber da relação entre memória e imaginação na poesia de Manoel de Barros. Mais especificamente, pensar os limites de uma e de outra segundo um conceito, ou melhor, uma imagem colhida nos versos do poeta: o “deslimite”. O poema em prosa que abre “Memórias inventadas” leva o nome de “Escova”. É a partir desse poema que tentaremos expor uma arqueopoesia como “método” de escavar a memória poeticamente, ou seja, escavar a memória com imaginação. Esse será o assunto de nosso primeiro capítulo. Nele tentaremos cruzar os trabalhos do poeta e do arqueólogo, estreitando as afinidades. Um estreitamento que se dá exatamente quando colocamos para a arqueologia os limites da memória, isto é, os limites da volta ao passado. Nesse capítulo, também faremos uma breve “arqueologia” da fortuna crítica do autor e de sua composição poética. No segundo capítulo, colocaremos memória e imaginação de frente. Desse face a face, intentamos mostrar suas diferenças essenciais, especialmente a de que a memória, ao contrário da imaginação, está intimamente relacionada com o tempo. Posta essa constatação, a qual é levantada por Sartre e Ricoeur, seremos levados a pensar o espaço. Sobre o espaço, pautamo-nos basicamente em Bachelard, que apresenta toda uma poética dos espaços habitados. Memória e imaginação, tempo e espaço... Isso nos levará a já nesse capítulo colocar os primeiros limites da dissociação de ambas. Pelo menos, o que parece mais delicado é separar memória e imaginação na prática; quer dizer, quando a memória falta ao poeta-arqueólogo, é no imemorial que ele buscará lembranças – uma busca de mãos dadas com a imaginação. 18 A tensão entre memória e imaginação, já colocada no título de “Memórias inventadas”, desembocará numa tensão entre história e ficção, verdade e falsidade. Tentaremos mostrar nesse capítulo que, a partir de uma distinção entre invenção e mentira feita por Manoel de Barros, a verdade da poesia difere da verdade da história. Enquanto a poesia é invenção, ou seja, acontece realmente em seu campo, a mentira é algo que não acontece em seu domínio, que é a realidade. Campos, domínios, da história e da ficção, essas palavras suscitam entender a poesia como um espaço real “em si”, mas irreal “fora de si”. Sobre o jogo entre real e irreal, inevitavelmente, falaremos sobre o próprio jogo. Isso quer dizer, colocaremos a verdade e a realidade em jogo. Depois de colocados os problemas de separar memória e imaginação; de jogarmos com a verdade e a realidade, passamos, no capítulo quarto, a aproximar novamente as duas faculdades.