2 A Semana - Sexta-Feira, 11 de Fev. 2005 K R I O L I D A D I “Eu nunca quis ser escritor”

Não aceita ser coroado melhor escritor cabo-verdiano da actualidade, mas Germano Almeida é de facto a principal referência da literatura cabo-verdiana de agora. Com best-sellers traduzidos em várias línguas, destacando-se O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo, o autor desvenda nesta entrevista como descobriu o prazer da escrita, fala dos livros que já escreveu dos que lhe falta escrever, faz o diagnóstico da literatura, política e sociedade cabo-verdianas e traça o seu futuro. Sempre com muito humor, pois, como bom cabo-verdiano, ri-se das suas próprias desgraças.

ENTREVISTA POR: TERESA SOFIA FORTES

A Semana - Aceita o título de melhor tórias que conto no livro “A Ilha Fantástica” eram histórias que escritor cabo-verdiano da actualidade? conheci desde miúdo, mas dizia para mim mesmo que se eu as Germano Almeida - Se me disserem escrevesse, alguém me acharia louco. Mas depois li Cem anos de que sou o mais grande escritor cabo-ver- Solidão, de Garcia Marquez, decidi que iria também escrever so- diano da actualidade, eu aceito, porque bre a minha ilha, Boa Vista, porque as personagens que Garcia de facto não há em Cabo Verde um es- Marquez descreve nos seus livros não são diferentes daquelas da critor mais alto do que eu. Diria que há Ilha Fantástica, e ele ganhou o Prémio Nobel da Literatura. Por- coisas na minha maneira de escrever que tanto, vou escrever também sobre a Boa Vista exactamente para as pessoas gostam, assim como há es- dar a conhecer esta realidade da minha ilha. critores que leio um pouco mais do - Enfrentou dificuldades para lançar um livro, ou teve que outros e do que a mim próprio, sorte na primeira tentativa? aliás, não leio as minhas obras. Tam- - Eu não tive as grandes dores que os autores normalmente bém há escritores que são mais inter- têm. Mas também não passaria essas dores, pela simples razão venientes do que outros. Não acredi- de que eu nunca quis ser escritor. Desde menino, sempre quis ser

Literatura Literatura to que seja possível classificar um es- advogado. Ser escritor fazia parte de mim, mas nunca pensei critor como o melhor. Portanto, é evi- em publicar. Vim a publicar por acaso quando fundámos a re- dente que eu rejeito esta definição. vista Ponto & Vírgula e por uma razão muito simples: eu ti- - Como nasceu em sua vida a nha uma série de coisas escritas, sobretudo sobre a ilha da Boa necessidade de escrever? Come- Vista e dizia ao pessoal - ao Leão Lopes e Rui Figueiredo - que çou cedo ou a escrita é uma expe- íamos publicar a revista e que caso faltasse material eu tinha riência da vida adulta? algumas coisas. E, como ao contrário do que esperávamos, não - Comecei a escrever desde os houve material para publicar, entreguei ao Leão os meus con- meus 16 anos e pelas razões mais tos sobre a Boa Vista. Ele leu, gostou muito e disse que íamos diversas. Sempre achei que a es- publicar essas histórias. Publicamos, e de facto, as pessoas gos- crita era uma forma de desabafar taram. Tudo isso se transformou numa bola de neve. Depois e, de facto, comecei a escrever para escrevi O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Ara- me libertar dos meus medos. Uma újo. A Ana Cordeiro leu e me disse que tínhamos de publicar o vez na Boa Vista morreram algu- livro. Na altura, existia o Instituto do Livro e do Disco, que mas pessoas no mar, eu ti- passava anos para publicar alguma coisa. Decidimos que o nha medo delas e escrevi melhor seria fundar uma editora, a Ilhéu Editora, com Filome- uma história imaginando na Figueiredo, Ana Cordeiro, Leão Lopes, Carlos Veiga e Gra- a forma como elas teriam ça Morais, uma pintora portuguesa que estava aqui em Cabo morrido, de modo a liber- Verde e que fez questão de entrar na editora. Quando publicá- tar-me do medo que tinha mos O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo dessa gente. Não me dedi- mandámos dois ou três livros para ela, lá em Portugal. Não co a falar muito com as pessoas conheço muito bem a história, mas creio que Graça Morais deu a nível de confidências, uso muito mais um exemplar ao José Saramago, que leu, gostou e levou o livro o papel para confidenciar e também à editora Caminho. A Caminho contactou a Ilhéu Editora, di- para transformar… zendo que estavam interessados em publicar o livro. E, de facto, - Existem grandes diferenças entre publicaram. Fui então a Portugal, conhecemo-nos, ficámos ami- as suas primeiras experiências literári- gos e neste momento sou considerado um escritor da Caminho, as e os livros que veio a publicar mais quando na verdade sou um escritor da Ilhéu Editora. tarde? - O que despertou em vós, nos anos 80, o desejo de criar - Mudou algo na minha maneira de escre- uma revista como Ponto & Vírgula? ver a partir de certas leituras. Eça de Queirós, - O Leão Lopes tinha na altura o Alternativa, um espaço Jorge Amado posteriormente Garcia Marquéz onde nos reuníamos ao fim da tarde para tomar um chá, beber foram determinantes. Eu não aceito nem rejeito pontche, comer cuscuz com mel e para conversar. Um dia, numa influências literárias. Eu nunca escrevi como al- conversa com o Rui e o Leão, decidimos fundar uma revista. O guém. Nunca disse: vou escrever como Garcia Leão Lopes é que veio com a ideia do nome: Ponto & Vírgula. Marquez. Mas acho que os escritores mais pró- Na altura só existia a revista Raízes, com características dife- ximos de nós dão-nos a libertação. Quando li rentes e mais virada para a investigação. Pensámos então criar Garcia Marquez, a impressão que tive foi esta: uma coisa mais fresca. Além disso, não se publicava nada em afinal, nada é proibido a nível da escrita. As his- Cabo Verde desde a independência, daí pensávamos que as A Semana - Sexta-Feira, 11 de Fev. 2005 3 K R I O L I D A D I pessoas estariam com as gavetas cheias. Agendámos uma data prio sou personagem dos meus livros. Uma vez uma pessoa, qual é o seu nome na vida real. Um homem que julguei, uma para a estreia, mas não tínhamos material. Assim, na falta de cujo nome não vou mencionar, surpreendeu-me, porque eu não vez que fui o procurador da República, o acusador do processo outro material, publicámos os meus contos. Curiosamente, fo- dava nada por ele em termos intelectuais, com uma observação dele, mas que eu não compreendi. Eu também pensava que esse ram os escritores mais da geração da - Baltasar Lo- curiosa. Leu O Meu Poeta e disse-me que eu estava em todos género de história já não acontecia em Cabo Verde. Passaram pes, Aurélio Gonçalves, Félix Monteiro, Manuel Lopes - que os personagens, mesmo os femininos. E ele tem razão. Eu sei 30 anos e espero que já não aconteçam histórias dessas no nos- mais colaboraram connosco. Entre os mais jovens, tínhamos o que quando lanço um livro acontece quase uma brincadeira em so país. Se compararmos o Cabo Verde de 1975 com o de ago- Arménio Vieira e o José Vicente Lopes. que as pessoas tentam descobrir quem são os personagens dos ra, temos razões para nos sentirmos orgulhosos daquilo que - Então, como conseguiram levar adiante a Ponto & Vír- meus livros. O interessante é que escolhem sempre mal. Eu fizemos. Na Boa Vista seria impensável um irmão bater num gula? tenho um amigo que gosta de um dos personagens de O Meu outro com pau quanto mais com uma faca, quanto mais matar. - Fomos empurrando, pedindo, solicitando… E depois ha- Poeta e que diz que é ele. Realmente ele está no livro, mas não Depois do julgamento, ainda fiquei em Santiago, conheci me- via essa coisa maravilhosa que é a colaboração do povo de São naquela personagem que ele pensa. lhor as pessoas e entendi que aquele era um comportamento Vicente. Os sócios pagavam uma quota mensal de 100 escudos - Essa sociedade cabo-verdiana que descreve nos seus normal na comunidade de onde provinha o acusado. Temos que para de dois em dois meses ter uma revista que, de facto, pode- livros é a verdadeira sociedade destas ilhas ou tem muito reconhecer que temos sub-culturas em Cabo Verde. Desde a riam comprar por 50. No fundo, os privados compravam a re- da sua imaginação? independência e têm-se diluído e estou convencido de que vai vista por 50 escudos quando os sócios, que deveriam benefici- - É como eu vejo e caricaturo a sociedade cabo-verdiana. ser uma só, mas ainda não está. Vim a compreender que esse ar de desconto, compravam a revista por 200 escudos. Tenho consciência de que quando escrevo sobre a Boa Vista o indivíduo de Santiago tinha sido vítima da sua realidade. Ele - O Testamento do Senhor Napumoceno da Silva Araújo meu olhar é particular, diferente do olhar que tenho de São não poderia fazer outra coisa senão aquilo que fez, caso contrá- é um best-seller, com várias edições. Surpreendeu-o a adesão Vicente. Tenho um grande carinho por São Vicente, gosto de rio passaria a ser um homem desprezado. De maneira que eu da sociedade cabo-verdiana a esse seu primeiro livro? viver nesta ilha, mas vejo São Vicente de fora, sempre. Em disse: tenho que me reabilitar escrevendo este livro. Já tinha a - Seja o que for que eu diga agora será à distância. Quando relação à Boa Vista é diferente, pois mesmo estando fora estou ideia na cabeça, mas não sabia como escrever a história. Entre- publicamos um livro esperamos sempre que venda muito, por- dentro da ilha. Sou um homem da Boa Vista e, então, o carinho tanto, comecei a ler o livro “Crónica de uma morte anuncia- que é sinal de que as pessoas gostam. Na época em que resol- que eu tenho pela minha ilha é completamente diferente. Eu da”, de Garcia Marquez, gostei, e assim que terminei, comecei vemos que iríamos publicar, a edição de um livro era de 300 penso que a ironia que eu sou capaz de ter sobre São Vicente a escrever Os Dois Irmãos. Reconheço que fui influenciado exemplares. Fomos à gráfica e verificámos que saíria quase não sou capaz de ter em relação à Boa Vista. Em relação a São neste caso pelo livro do Garcia Marquéz. pelo mesmo preço fazer o dobro de exemplares. O livro teve Vicente sou um filho de fora que se sente como filho de fora, - A literatura cabo-verdiana está bem de saúde e reco- uma aceitação maravilhosa. Como dizem as pessoas foi um mas na Boa Vista sou filho de dentro e sinto-me filho de den- menda-se? corte com aquilo que se escrevia até então em Cabo Verde, tro. Então, o meu olhar sobre a Boa Vista é mais carinhoso. - A literatura cabo-verdiana não está bem nem se recomen- porque era um livro divertido. - E como é que vive a sua ilha Boa Vista estando em São da. Os nossos escritores deveriam preocupar-se menos em pu- - O sucesso desse seu primeiro livro, despertou em si Vicente? blicar. Os chineses têm um provérbio que é muito interessante uma maior criatividade e escreveu outros livros? - Raramente vou à Boa Vista, mas quando estou lá sempre e que ilustra bem qual deve ser a postura dos escritores: “Não - Eu tinha outros livros já escritos. Aliás, quando publiquei quero ficar. Mas, não posso. Quando chego lá, poucas horas tentes escrever um livro, antes de leres pelo menos mil”. Ou O Testamento já vinha escrevendo há muito tempo O Meu depois já me sinto outra vez da Boa Vista. seja, temos que dar tempo para as ideias amadurecerem e só Poeta. Eu achava que faltava uma intervenção mais forte na - Escreve crónicas para o jornal A Semana e também para depois publicar. sociedade cabo-verdiano. Numa conversa com o Manuel Fer- a revista Pública, do jornal Público, de Portugal. Esse é um - Já experimentou escrever em crioulo? reira, uma vez que veio a Cabo Verde, eu dizia-lhe que estava exercício que tem necessidade de fazer para expressar, para - Não, nunca experimentei escrever em crioulo, nem vou tentando escrever um romance que decorre no período pós-in- desabafar como disse, continuamente a sua visão do mundo? tentar. Eu não me sinto menos cabo-verdiano por falar 95% do dependência. Ele responde-me que era muito cedo para fazer - De alguma forma, sim. Ës vezes faltam temas sobre os quais tempo em português e por escrever sempre em português. Acho

isso. Mas decidi experimentar. Quis escrever O Meu Poeta posso escrever. Sabe, eu sinto necessidade de intervir na socieda- que o português é uma língua tanto dos portugueses como nos- Literatura como um romance de crítica à sociedade política, ao oportu- de em que estou, que é minha. Sou um homem cabo-verdiano, sa. Nós temos que aprender a usar o português bem, e usá-lo no Literatura nismo que grassava à volta do PAICV. Só que, enquanto O vivo em Cabo Verde, as coisas daqui dizem-me respeito e tenho sentido de fazer com que ela seja capaz de transmitir a nossa Testamento do Senhor Napumoceno é um livro ligeiro, qua- necessidade de intervir sobre elas. Não concordo quando as pes- identidade. Não temos que escrever o português como os por- se de brincadeira, O Meu Poeta é um livro muito sério, chato, soas afirmam: “A política não é comigo”. Não, a política é comigo tugueses. Os portugueses dizem que não se deve dizer “mais cansa. Naquela altura, a gente tinha a ideia, que se revelou fal- sim. Quando não concordo com uma coisa digo claramente, e não grande”. Mas, mais grande muitas vezes traduz aquilo que a sa, de que havia censura. Aliás, a censura está é nas próprias me interessa se vai agradar ao partido A, B ou C. gente quer dizer. Outras vezes, diz-se que “tal fulano foi mor- pessoas que são vítimas dela. Então, decidi escrever um livro - Acha que os políticos lêem avidamente as suas cróni- to”, mas há muitos casos em que o fulano não foi morto, “foi em que diria tudo porque não deixariam que escrevesse um cas para saber o que diz ? matado”. O crioulo está cá para durar, não está em perigo. O segundo. E O Meu Poeta desmistificou um bocado essa ideia - Eu espero bem que sim (risos), porque no fundo são eles que não devemos pôr em perigo é o português. do PAICV como partido único. Nós publicámos a revista Pon- os responsáveis por nós. - Concorda ou não com a oficialização do crioulo? to & Vírgula e nunca ninguém nos chateou. Pelo contrário, - Acredita que a escrita pode ser uma arma? - Não tenho nada contra a oficialização do crioulo. O que quiseram oferecer-nos papel ou outro material e nós é que re- - A escrita é, sem dúvida, uma arma. Se serve para mudar eu não quero é que se substitua o português pelo crioulo. Nós cusámos. Publiquei O Testamento e O Meu Poeta, na maior, as coisas, é que não sei. A escrita é uma arma principalmente temos que assumir isto: o nosso nacionalismo não se revela e não houve problema nenhum de censura. Porque nós temos quando é usada em forma da ironia, uma arma ainda mais po- através do uso do crioulo, pode-se revelar através de qualquer muito a tendência de confundir partido único com totalitaris- derosa e feroz do que a própria escrita. As pessoas e os políti- língua, por acaso é o português. mo, quando de facto são coisas muito diferentes. cos em particular que se permitem cair nas garras da ironia não - Há algum livro que deseja escrever mas que ainda não - Acha que os políticos se reviram nalgumas das perso- se salvam. Mas a escrita é também uma arma que tem que ser conseguiu? nagens de O Meu Poeta? usada com muita cautela. Eu reconheço que sou um homem - Há um livro que eu gostaria de escrever mas que ainda - (risos) O Abílio Duarte disse-me na altura que tinha lido e bem humorado, mas evito ser excessivamente sarcástico por- não consegui, cujo argumento se passa em Santiago, no século gostado do livro, que fazia uma crítica muito boa à sociedade. que não é uma arma que favorece muito. XVIII. É uma história cabo-verdiana que é praticamente a re- Mas, em Cabo Verde, temos um problema: as pessoas lêem - E o cabo-verdiano é, na sua opinião, um homem bem petição daquilo que aconteceu com os Távoras, em Portugal, mas não têm espírito crítico. Alguém lê um livro e quando ter- humorado? que foram decapitados pelo marquês de mina diz: gostei ou não gostei. Isso é uma questão de dimensão - Sim. Nós falamos do badiu como o homem sério de Cabo Pombal. Uma história apaixonante. Al- cultural. É a cultura que nos permite vivenciar, dimensionar e Verde, mas na verdade é um dos homens mais bem humorados guma vez virá a ser escrito por mim comparar. Se não temos esse background não chegamos lá. Isso do país. A questão é que o badiu tem uma ironia muito particu- ou por outra pessoa. O problema está acontece porque também as pessoas não têm conhecimento da lar. São Vicente tem uma ironia mais directa, mas no geral o em entrar completamente na época realidade. Por exemplo, neste momento estou abismado com cabo-verdiano é um homem bem humorado, que ri da sua pró- e movimentar-se lá dentro. um livro que um jornalista escreveu sobre a China, China Aden- pria desgraça. Isso é um dos elementos mais importantes da - E quando nos brindará com tro, porque está a dar-me um conhecimento do país, de que eu nossa cultura, e que devemos valorizar. um novo livro? não tinha a mais pequena ideia. A gente imagina a China sem- - Quando li o seu livro “Os Dois Irmãos” fiquei muito - Não tenho nenhum livro na for- pre como uma coisa secular, quase imutável, e constata através impressionada com a história, principalmente depois de ja. Nos próximos tempos vou-me de- desse livro que o país está a mudar quase a toda a hora. tomar conhecimento de que se tratava de uma história ve- dicar mais à advocacia do que à - E alguma vez alguém abordou-o e identificou-se com rídica, que aconteceu mesmo. O facto de ser advogado de escrita, porque a escrita dá mui- personagens de outras obras suas? profissão ajuda-o a escrever certas obras? to prazer mas não dá dinheiro. - Já, sim, sobretudo ultimamente, com a publicação de O - Sim, a profissão de advogado ajuda-me imenso. Eu fiquei Infelizmente, um gajo tem que Mar da Lajinha. Aliás, todos nós somos personagens. Eu pró- a dever este livro ao personagem que eu chamei André, não sei comer.

… em Cabo Verde, temos um problema: as pessoas lêem mas não têm espírito crítico. Alguém lê um livro e quando termina diz: gostei ou não gostei. Isso é uma questão de dimensão cultural. É a cultura que nos permite vivenciar, dimensionar e comparar. Se não temos esse background não chegamos lá. 4 A Semana - Sexta-Feira, 11 de Fev. 2005 K R I O L I D A D I

O grupo de dança “Bibinha Cabral” vai homenagear a famosa cantadeira de Valter de Andrade batuque santiaguense, amanhã, 12. A participa amanhã, 12, cerimónia, que pretende recordar o 105º na final do Campeona- aniversário desta figura importante da to de Língua Portugue- cultura cabo-verdiana, terá lugar no Tar- sa que acontece em rafal, município natal de Nha Bibinha Lisboa, Portugal. O jo- Cabral. vem cabo-verdiano, de Este grupo de dança cabo-verdiana 14 anos, natural de São tem vindo a apostar, desde 1995, na pre- Vicente, é o único es- servação e divulgação da cultura cabo- trangeiro apurado para verdiana. Entre as suas actuações con- a final, que será trans- tam-se a participação em espectáculos mitida em directo no da EXPO’98, em Lisboa, ou na Semana Canal Sic. da Cultura cabo-verdiana, em Dacar.

Já está nas bancas o primeiro nú- O guitarrista Andrew Mah actua mero da “Dá Fala”. O lançamento ofi- amanhã, 12, no Auditório Nacional, cial dessa revista cultural, proprieda- na Praia, às 21 horas. A tournée do de da Fou-Naná Projectos, acontece músico canadiano, que interpretará hoje, 11, às 18h30, na sede da Funda- no concerto composições do cabo- ção Baltasar Lopes, , Min- verdiano Vasco Martins, Roddy Eli- delo. “Dá Fala”, que é dirigida pela as e Patrick Roux, é apoiada pelo jornalista Marta Lança e patrocinada Canada Council for the Arts e o Mi- pela Cooperação Portuguesa, tem nistério da Cultura de Cabo Verde. uma periodicidade trimestral.

Em homenagem aos 56 Bety Fernandes e Rosy Timas, da companhia anos do Desastre da Assis- de dança contemporânea Raiz di Polon, apresen- tência, ocorrido na Praia, e tam amanhã, 12, no Teatro Nacional de Kampala, aos três meses da morte de capital do Uganda, a peça “Duas sem Três”. Na Ildo Lobo, o Palácio da Cul- terça-feira, 15, e na quarta-feira, 16, a mesma peça tura promove no próximo é levada aos palcos do Centro Cultural Franco- dia 19, sábado, uma “ressa” Moçambicano de Maputo (Moçambique) e Allian- tradicional com um grupo ce Française de Lusaka (Zâmbia), respectivamen- de homens e mulheres do te. Espectáculos que fazem parte da digressão interior de Santiago especi- que o grupo realiza por África, como recompen- alistas nesta forma de ex- sa pelo prémio especial do júri do V Encontro pressão oral. Coreográfico de África e Oceano Índico.

Após a pausa do Carnaval, Bana e Nancy Vieira realizam, a partir o Quintal da Música retoma as deste fim-de-semana, uma digressão con- suas actividades hoje, 11, com junta pela costa leste dos Estados Uni- o espectáculo do conjunto Tro- dos, onde residem grandes comunidades pical Som, às 22 horas. Amanhã, cabo-verdianas. Amanhã, 12, a dupla ac- 12, Lela Violão e o seu grupo de tua no Club Ghetto, em Newark (Nova Jer- apoio tocam as mornas e cola- sey). Na segunda-feira, 14, Nancy Vieira e deiras tradicionais que já fize- Bana cantam no Restaurante Cesária, em ram história nestas dez ilhas. Dorchester (Massachusetts). A Semana - Sexta-Feira, 11 de Fev. 2005 5 K R I O L I D A D I RICARDO DE DEUS à luz das velas

O terraço do Palácio da Cultura iluminou-se com luz de velas para acolher os sons do piano de Ricardo de Deus. Num concerto rodeado de amigos, ocorrido na passada sexta-feira à noite, o pianista brasileiro residente em Cabo Verde fez incursões na bos- sa-nova, jazz e música cabo-verdiana. “Vamos entrar num ambiente calmo que sirva de aperitivo para a paródia do Carnaval”, referiu o pianista várias vezes, ao longo do concerto. A solo, ou em cum- plicidade com a bateria de Raúl, o baixo de Kizó ou o sintetizador de Caluca, Ricardo de Deus tocou músicas tão variadas como “Leãzinho”, de Caetano Veloso ou “Bli Munde”, música cabo-verdiana interpretada por artistas como Celina Pereira. Sons calmos, por vezes quase clássicos, que criaram desde cedo uma grande empa- tia, calma e intimista, entre o público e as teclas e sons de Ricardo de Deus. O pianista brasileiro conta já com a participação em trabalhos e projectos de vários artistas cabo-verdianos, entre os quais Pantera. Residente em Cabo Verde desde 1999, Ricardo de Deus é actualmente um dos professores da escola de música Pentagrama, dirigida por Tó Tavares.

BINO PRETO EM TOCATINA NO CCF

Ainda não gravou um disco, mas Bino Preto é já Na gaveta tem guardadas mais de 20 composições uma das vozes habituais das noites musicais da capital. - algumas delas escritas há mais de 12 anos -, mas no Presença habitual em diversos palcos, o músico estará concerto do dia 18, Bino Preto (guitarra e voz), acom- em tocatina no próximo dia 18, sexta-feira, às 18h30, no panhado de Kiss (violão) e Africano (cavaquinho) in- Centro Cultural Francês da Praia, para embalar os es- terpretará somente mornas e coladeiras que foram

Música pectadores ao som de mornas e coladeiras. êxito nos últimos anos. Uma tocatina acústica, como

Música Bino Preto iniciou a sua carreira musical em 1986, mandam as regras e bem ao jeito de Bino Preto. ao entrar para o lendário grupo juvenil Abel Djassi, É que, segundo o vocalista, “a tocatina é um géne- que tantos outros talentos deu à música cabo-verdia- ro de espectáculo excelente, porque cria um ambiente na. Cinco anos no conjunto permitiram-lhe apurar mais íntimo e caloroso entre músicos e público”. Mas os seus conhecimentos musicais e hoje, aos 34 anos, para o disco que tem na forja, e ao qual só falta um Bino Preto toca guitarra, bateria e clarinete, neste produtor, Bino Preto está a reservar um jeito diferen- último caso como membro da Banda Militar da 3» te de interpretar a música cabo-verdiana. Região Militar. Teresa Sofia Fortes Martin Schaefer e Lela Violão num só CD Em 2002, Martin Schaefer e seu europeu, “tem uma maneira única de desde que escutou a versão instru- grupo Nomad«s Land participaram acompanhar uma mazurca, uma con- mental gravada por Bau. E, assim, no Fesquintal. Desde então o Mar- tra-dança ou um landum, além de ser contra o projecto inicial, mais uma tin Shaefer vem anualmente a estas um entertainer excelente quando morna passou a fazer parte do reper- ilhas para leccionar cursos de violi- pega o seu violão e canta velhas can- tório, onde se destacam também no. Numa dessas viagens conheceu ções de variedade. Era por isso ab- uma valsa da autoria do compositor Lela Violão, durante uma tocatina no solutamente necessário conservar Hansche Weiss, dois temas irlande- Quintal da Música. Uma grande ami- esses momentos preciosos”. ses (Irish Lullaby e “Lamentu Irlan- zade e empatia musical nasceu en- E a melhor forma de fazer isso era dês”), e duas músicas de variedade tre eles, tanto que levou Mário Lú- gravando um disco. A ideia inicial era propostas por Lela Violão, “Senti- cio e Teté Alhinho a sugerirem que gravar composições de rabeca (duas mental Reason” e “L«Ange Rouge”. os dois gravassem juntos um dis- mazurcas, uma contra-dança, um Uma variedade de estilos a que co. O álbum, que já está pronto mas landum e a polca “viola e bic”) e al- Lela Violão soube responder sempre ainda não tem data de lançamento, gumas músicas de variedade. Mas, muito bem, conforme Martin Schae- é uma combinação de duas culturas segundo Martin Schaefer, “durante a fer: “Ele adapta-se a todos os esti- musicais nascidas em ilhas: a irlan- gravação Lela Violão começou uma los, e mesmo quando não conhece o desa e a cabo-verdiana. morna pouco conhecida, que fala tema, ele arranja uma maneira encan- “Lela Violão é um dos últimos sobre as ilhas de Cabo Verde, escri- tadora de acompanhá-lo. Foi assim grandes artistas da “velha guarda” e ta pelo irmão do proprietário do es- que tocámos junto uma valsa que músicos cabo-verdianos que conhe- túdio, Vuca Pinheiro, e decidimos in- costumo tocar em Paris, que teve um ce bem as maneiras antigas de tocar cluí-la também no disco”. acompanhamento surpreendente de e de acompanhar que, infelizmente, Os planos seriam outra vez in- Lela Violão”. Agora, é esperar para vão-se perdendo com o tempo”, elo- voluntariamente mudados por Lela apreciar o disco, no qual também par- gia assim Martin Schaefer o talento Violão, que um dia decidiu tocar e ticipou na guitarra de 12 cordas do seu partner cabo-verdiano. Um cantar uma morna que Martin Scha- Meca, músico da nova geração que guitarrista que, segundo o músico fer aprecia muito - “Ronco di Mar” - actua com os Simentera. TSF 6 A Semana - Sexta-Feira, 11 de Fev. 2005 K R I O L I D A D I ASTROLOGIAASTROLOGIAASTROLOGIA 3a Semana de Fevereiro

CARTA DA SEMANA: 8 de Copas, que signi- CARTA DA SEMANA: 9 de Ouros, que signi- fica Concretização. fica Prudência. CARTA DA SEMANA: 2 de Espadas, que sig- AMOR: Revele os seus sentimentos à pessoa AMOR: Veja quem é realmente seu amigo. Não nifica Afeição. CARTA DA SEMANA: Ás de Copas, que sig- que ama. se deixe enganar. AMOR: Procure ser mais optimista quanto ao nifica Principio do Amor, Grande Alegria. SAÚDE: Faça um exame médico completo, SAÚDE: Sem grandes problemas. seu futuro sentimental. AMOR: Você ainda não se apercebeu, mas a certamente ficará mais descansado. DINHEIRO: Estará financeiramente estável, SAÚDE: Procure não andar tão enervado. paixão está no ar. DINHEIRO: Poderá ser o momento para reali- aproveite para adquirir aquilo que sempre de- DINHEIRO: A sua forma de gerir as economi- SAÚDE: Opte por uma alimentação mais sau- zar o seu sonho. sejou. as poderão conduzi-lo ao bom caminho. dável. Número da Sorte: 44 Número da Sorte: 73 Número da Sorte: 52 DINHEIRO: Período não muito favorável em Números da Semana: 8, 4, 10, 17, 11, 33 Números da Semana: 14, 36, 28, 44, 16, 1 Números da Semana: 17, 23, 44, 13, 26, 1 termos económicos. Número da Sorte: 37 Números da Semana: 11, 23, 44, 26, 24, 49

CARTA DA SEMANA: A Temperança, que sig- nifica Equilíbrio. CARTA DA SEMANA: A Estrela, que significa CARTA DA SEMANA: Ás de Espadas, que AMOR: Aproveite os momentos com a família Protecção, Luz. significa Sucesso. pois dar-lhe-ão um grande bem-estar emocional. AMOR: Aprenda a ser mais flexível com a sua AMOR: Pense bem naquilo que quer para não CARTA DA SEMANA: Ás de Ouros, que sig- SAÚDE: Durma mais para recuperar as ener- cara-metade. magoar os outros. nifica Harmonia e Prosperidade. gias. SAÚDE: Nada de grave a assinalar. SAÚDE: Tenha algum cuidado com os seus AMOR: Planeie um fim-de-semana romântico DINHEIRO: Controle a impulsividade nos seus DINHEIRO: Verifique a sua conta bancária, po- olhos, proteja-os. a dois. gastos. derá haver surpresas. DINHEIRO: Período positivo para colocar em SAÚDE: Modere a sua alimentação. Número da Sorte: 14 Número da Sorte: 17 marcha os seus projectos financeiros. DINHEIRO: Aproveite o bom momento para Números da Semana: 22, 13, 10, 47, 15, 3 Números da Semana: 3, 25, 46, 11, 27, 36 Número da Sorte: 51 alargar os seus rendimentos. Números da Semana: 14, 33, 12, 25, 4, 17 Número da Sorte: 65 Números da Semana: 12, 46, 33, 25, 6, 22

CARTA DA SEMANA: Rei de Ouros, que sig- CARTA DA SEMANA: Rei de Paus, que sig- nifica Inteligente, Prático. nifica Força. AMOR: Tenha pensamentos positivos, a sua AMOR: Aja com mais espontaneidade, a sua companheira poderá surpreende-lo. cara-metade reconhecerá a sua mudança de com- SAÚDE: O excesso de trabalho poderá ser seu portamento. inimigo. SAÚDE: A saúde é o espelho da nossa alma, DINHEIRO: Opte por economizar, principal- nunca se esqueça disso. mente nesta altura. DINHEIRO: Aja com prudência e seja pou- Número da Sorte: 78 pado. Números da Semana: 17, 42, 35, 19, 2, 23 Número da Sorte: 36 Números da Semana: 14, 27, 23, 5, 10, 36

CARTA DA SEMANA: 2 de Copas, que signi- fica Amor. CARTA DA SEMANA: 3 de Espadas, que sig- AMOR: Poderão surgir novas paixões na sua nifica Amizade, Equilíbrio. vida. AMOR: Poderá surgir uma nova amizade. SAÚDE: Tendência para dores de cabeça e in- SAÚDE: Tendência para alguns problemas di- sónias. gestivos. DINHEIRO: Trabalhe afincadamente e recebe- DINHEIRO: Compre algo que o satisfaça, você rá os frutos do bom trabalho prestado. merece um presente. Número da Sorte: 38 Números da Sorte: 53 Números da Semana: 4, 17, 45, 13, 23, 10 Números da Semana: 37, 29, 46, 10, 1, 22 A Semana - Sexta-Feira, 11 de Fev. 2005 7 K R I O L I D A D I

ARTES PLÁSTICAS BENTO OLIVEIRA pensa levar a sua arte à França

O jovem criador santantonense Sem se fixar em nenhum pa- Bento Oliveira foi convidado a ex- drão estético convencional, Bento por os seus trabalhos de xilogravu- Oliveira tem um modo peculiar de ra na França, por altura das come- criar esses “objectos”, pois parte morações do trigésimo aniversário das formas de artefactos da vivên- JOSÉ LUÍS TAVARES da independência de Cabo Verde. cia quotidiana do santantonense, Antes, porém, aquele multifaceta- faz os esboços em papel - através do artista, que se “refugia” na tran- de desenhos e pequenos lembretes é finalista de Prémio quilidade da zona de Coculi para - e só depois começa a dar forma à criar as suas obras, fará uma curta sua imaginação, fazendo a arte Correntes d’Escrita viagem ao para expor “ob- acontecer. Outras vezes, o artista jectos tridimensionais” feitos a par- reproduz na sua arte as memórias O poeta José Luís Tavares, através tir de materiais orgânicos dos vales da infância, além de figuras ima- do seu livro “Paraíso Apagado por um Trovão”, é um dos 10 finalistas do Pré- e montanhas de Santo Antão. ginárias do povo de Santo Antão. mio Correntes d«Escrita. O vencedor A concretizar-se esse convite Formado em artes na Universi- será anunciado no próximo dia 16, quar- para expor na França, na companhia dade de Bélem do Pará, Brasil, aque- ta-feira, no Casino da Póvoa, Portugal. de outros artistas cabo-verdianos, le jovem santantonense fez seis ex- “Paraíso Apagado por um Trovão” e os Bento aproveitará a ocasião para ins- posições individuais e duas colecti- outros nove livros finalistas foram es- colhidos de uma lista de 24 pré-selecci- talar no espaço disponibilizado xi- vas naquele país da América do Sul. onados, de um conjunto de 166 títulos logravuras que reflectem as suas vi- De uma incursão inicial pela pintu- enviados a concurso. vências, enquanto “ser humano que ra com traços do expressionismo, São obras da autoria de poetas de observa, sente e propõe visualmen- Bento encontrou no desenho, na xi- todos os países de expressão portugue- sa: “Duende”, de António Franco Ale- te formas”. Aliás, a xilogravura logravura e nas esculturas o modo xandre; “Lições de Trevas”, de Fernan- constitui um marco do processo cri- de revelar o seu envolvimento ínti- do Guimarães; “Nenhum Nome Depois”, ativo daquele artista plástico por lhe mo com as paisagens santantonen- de Maria do Rosário Pedreira; “O Esta- permitir a “concretização visual sin- ses, a força simbólica das cores e a do dos Campos”, de Nuno Júdice; “O

Pintura Tabaco de Deus”, de Paulo José Miran- Pintura cera” do seu pensamento. memória da sua infância, reprodu- da; “Os Livros”, de Manuel António Pina; Por isso para a sua exposição zindo figuras imaginárias do Ti “Repercussão” e “Rua de Portugal”, am- em França, o jovem artista selecci- Lobo, Chibinho e outras tantas per- bos de Gastão da Cruz; e “Zona de onou as gravuras em madeira. É com eles que expor no Mindelo no próximo dia 24 de sonagens dos contos tradicionais. Caça”, de Jaime Rocha. irá fazer a sua apresentação na terra em que Maio, por altura do aniversário da Visual Homem empenhado, Bento Oliveira está No ano passado, a obra vencedora foi nasceu o pintor Toulouse Lautrec, cujos tra- Design. Na verdade, aquilo que ele prefere em quase todas as iniciativas culturais na Ri- o romance “O Vento Assobiando nas Gruas”, da escritora portuguesa Lídia ços influenciam de algum modo as pincela- designar por “objectos tridimensionais” são beira Grande, não só a conceber cenários como Jorge. Este ano, o júri constituído por das e os desenhos de Oliveira. esculturas, construídas a partir de terra, pa- também para levá-los a bom porto. Passa até cinco elementos - Isabel Pires de Lima, De todo o modo, neste momento Bento lha, pau e corda de sisal, varas de marmelei- “noites em claro” a trabalhar no seu “espaço Rosa Maria Martelo, Luís Carlos Patra- Oliveira está mais empenhado na criação de ro e outros materiais que aquele jovem cria- de criação”, em Coculi, a tocar flauta para o quim, Vergílio Alberto Vieira e Patrícia Reis - premiará uma obra de poesia. “objectos tridimensionais”, feitos a partir de dor recolhe durante os passeios pelos vales “mar ouvir” ou a contemplar o luar da sua ja- Mas as Correntes d«Escrita, que co- materiais colhidos na natureza, e que ele vai e montanhas de Santo Antão. nela. Tudo pela pintura. João Almeida Medina nhece este ano a sua sexta edição, não é só o prémio literário. A festa da lite- ratura e dos livros, que acontece de 15 a 19 de Fevereiro, abre com a exposi- ção de pintura e desenho do artista moçambicano Malangatana e a exibi- Mário Barbosa expõe no PC ção de “A Costa dos Murmúrios”, fil- me de Margarida Cardoso baseado no O artista plástico Mário Barbosa apre- -Geral da Juventude, em São Vicente, Mário romance homónimo de Lídia Jorge. senta a partir do próximo dia 17, quinta-fei- Barbosa é, aos 33 anos de idade, um artista O programa inclui também os habi- ra, uma exposição de quadros em estilos mo- dos tempos livres. Professor do EBI, em São tuais encontros e mesas-redondas com dernos, no Palácio da Cultura Ildo Lobo. Filipe, é no fim de cada dia de trabalho e nos os escritores participantes, sessões em Esta é a terceira mostra do pintor foguense fins-de-semana que encontra tempo para pin- escolas dos concelhos, recitais, uma fei- na Praia, galardoado em 2003 com o primei- tar. Um prazer que descobriu em 1998. Nes- ra do livro, lançamento de novas obras e ro lugar no Concurso de Pintura Garantia se ano, Mário Barbosa foi convidado por dois uma conferência por Agustina Bessa- graças ao quadro “Minha Infância”. amigos para fundar um atelier de artes plás- Luís no dia 16, no Auditório Municipal. Em exposição vão estar 18 quadros, de- ticas - o Laboratório de Experiências Viven- No mesmo dia será apresentado, no Ca- dicados aos mais diversos temas da actuali- ciais (LEV). sino da Póvoa, o sexto número da Revis- dade cabo-verdiana, com destaque para a Por ironia da vida, os dois companhei- ta Correntes d«Escrita. violência doméstica e a discriminação dos ros abandonariam o projecto algum tempo A VI edição de Correntes d´Escrita vai doentes mentais. Uma provável reacção ne- depois para emigrarem em busca de uma contar com a participação de 60 auto- gativa a esses dois assuntos preocupa Mário vida melhor. Sozinho, Mário Barbosa foi le- res vindos de 12 países. 34 são portu- Barbosa, mas o artista, que diz sentir-se mais vando o atelier adiante, mas teve que fechar gueses, seis espanhóis, quatro angola- à vontade a pintar estilos como impressio- as portas quando o dono do espaço - a Câ- nos; o Brasil e Moçambique enviaram nismo, em 2003 foi o cubismo ou surrealis- mara Municipal do Fogo - exigiu a devolu- três cada e Argentina e a Colômbia dois mo, afirma que “é preciso enfrentar os as- ção do imóvel. Agora, é em sua casa que pin- cada; finalmente, São Tomé e Príncipe, pectos negativos da nossa sociedade”. ta os quadros que vai mostrar até o dia 3 de Cabo Verde, Perú, Chile e Croácia repre- Segundo classificado na Bienal de Jovens Março no PC. sentam-se cada por um seu escritor. Artistas promovido em 2002 pela Direcção- TSF Teresa Sofia Fortes 8 A Semana - Sexta-Feira, 11 de Fev. 2005 K R I O L I D A D I

Mindelo faz história

A cidade do Mindelo sambou o Carnaval movi- da pela lembrança enérgica do malogrado autor dos solos de “Boas Festas”. Grupos oficiais e espontâ- neos criaram alegorias e músicas numa clara home- nagem ao saxofonista Luís Morais, talvez o maior tributo feito pelo povo do Mindelo à memória do artista. “Vários tipos de mensagens são transmiti- CARNAVAL NA PRAIA das no Carnaval, por isso é preciso estarmos aten- EVOCA ESCRAVATURA tos para conseguirmos captá-las. Mas, na verdade, foi notória a intenção de alguns grupos em mostrar As ruas da Praia foram invadidas, na terça-feira que Luís Morais continua presente no coração dos passada, por uma multidão com vontade de brincar ao mindelenses”, diz Otelvina Barros. Carnaval. Rodeados pelo som da batucada, por cor e Num misto de cor e folia, S. Vicente cumpriu a ritmo, os grupos carnavalescos, Amigui e Afro da Es- promessa de um desfile para a história do Entrudo cola Técnica, prenderam a atenção das centenas de cabo-verdiano. Apesar dos contratempos, nomeadamente atrasos que afectaram três dos pessoas que ocupavam a avenida marginal e os mu- seis grupos oficiais, o Carnaval saiu às ruas com alma e criatividade. E foi isso mesmo ros do Plateau. Dias antes outros foliões, entre gru- que o Samba Tropical, o grupo que continua fora do circuito oficial dos prémios mostrou pos infantis e adultos, trataram igualmente de salvar a face do Carnaval na capital. O tema escolhido pelas logo na segunda-feira, ao tirar o chapéu à emigração cabo-verdiana. duas principais formações, Amigui e Afro da Escola A história foi contada em sequência com brilho, luxo, cor e animação e abarcou os Técnica, foi a escravatura. O Amigui foi rei e senhor ao principais países de acolhimento dos cabo-verdianos. levar para a pasarelle os ritmos, tradições, história e À frente dez meninas, esbanjando saúde e beleza abriam caminho a uma narrativa de cultura da Guiné, enquanto o Gamal e o seu grupo le- todos nós: a saga da emigração cabo-verdiana nos quatro cantos do mundo. O carro alegó- varam aos capitalinos toda a sua irreverência e senti- rico dava o condimento necessário ao conto através da reprodução dos principais países do da história das ilhas.É a Praia a dar o tom de um de acolhimento dos cabo-verdianos com os seus símbolos particulares: o tambor (África), carnaval diferente e baseado na cultura das ilhas, mas o Padrão dos Descobrimentos (Portugal), a Estátua da Liberdade (América), a Torre de que não consegue sair disso mesmo, de meros sinais. Piza (Itália), os Moinhos e tulipas (Holanda) e a Torre Eiffel (França), numa harmonia e sequência que emocionou Mindelo. PATCHÊ PARLOA VENCE NO SAL Patchê Parloa é o grupo campeão do Sonho realizado Carnaval na ilha do Sal, num concurso Sem contestação, “Sonhos sem Limites” arrastou para debaixo dos braços os três em que participaram também os Raios principais prémios do Carnaval mindelense: casal realeza e o primeiro lugar do desfile Vermelhos de Santa Maria e Horte- oficial. A persistência de São Costa deu finalmente o fruto que ela sempre quis saborear. Môrro. Este ficou em segundo lugar, e Além dos 550 contos de prémio, os sonhadores viajaram ainda mais longe e arrecadaram ainda arrecadou o prêmio de melhor o título da realeza, com a eleição do rei Paulo Fortes e da rainha Tatiana Furtado. presidente para Ângelo Nereu. De res- As “Baianas de Monte Sossego”, sérias candidatas ao título, ficaram no segundo to, Patchê Parloa conseguiu ainda o posto mas tiveram também direito ao prémio da segunda dama, atribuído a Dora Da- prêmio de melhor composição, por- vid, e também ao título de porta-bandeira, ganha por Neusa Silva. A primeira dama ta-bandeira, e só não levou o de me- veio das Flores de Alecrim, o nome dela Maria Neves. lhor rei que ficou com Raios verme- Estreante nas lides do carnaval, foi uma revelação, apesar dos cons- lhos. É opinião geral que o Sal viveu trangimentos sofridos no desfile. O prémio da música, composição da autoria de Vlú, um dos seus melhores carnavais dos ficou na zona libertada assim como o terceiro posto da geral. Apenas três dos seis grupos foram premiados no desfile oficial: Sonhos sem Limi- últimos anos, com tudo a indicar que tes, Baianas de Monte Sossego e Ribeira Bote. Quanto a Flores de Alecrim, Calhau e essa festa vai passar a fazer parte do Veteranos e Flores de Monte Sossego serão contactados pela edilidade, que lhes prome- produto turístico da ilha. teu outro tipo de compensação. CINZAS E ESCARAVELHOS Espalham-se cinzas, em quarta-feira festiva para o es- peixe à vista entre os dentes anestesiados em ponche e tômago. Come-se e bebe-se, inicia-se o período de absti- grogue que se mostram num sorriso. nência quaresmal com a festança barulhenta dos arro- São cinzas esborratadas de maquilhagem do dia tos no fim de almoço e das tonturas etílicas que fazem o anterior. Corpos ao léu, até a trutchida é feita à pres- mundo parecer perfeito. Queima-se o carnaval - o que sa com feijão ressacado, desnudo, uma única cue- resta dele - e espalham-se os seus restos mortais. Feria- quinha fio dental e plumas esbranquiçadas feitas do nacional para todos os seres viventes, em que estô- com ovo escalfado. Carnaval esturricado em todo magos e demais associados são flagelados com uma au- o seu esplendor, cuz-cuz melado por aquela dama têntica escravidão digestiva. bonita vestida de verde-couve e amarelo-xerém. São olhos esbugalhados, os que se sentam às mesas. Aos soluços e com comida acumulada até ao cére- Ramelosos e convictos de que o carnaval de ontem foi de bro, eis que se regressa a casa. No aconchego da sesta, arromba, mau grado as paródias desorganizadas em ave- criolinho meditará, seguramente, sobre o significado des- nidas marginais. Ao ritmo do desusado batuque ou do tão te dia cinzento, que marca o início do período de quaren- nacional samba brasileiro, os garfos elevam-se, os den- tena que o filho do Deus passou no deserto, seguramen- tes moem, a língua envolve e revolve o xerém, peixe seco te empanturrado de nutritivos e saborosos escaravelhos. humedecido na ácida saliva. No cumprimento da sua fun- “Os tempos e os desertos são outros”, pensa-se então, ção, os sucos estomacais põem a toda a prova a capaci- em acto de contrição fugitivo. O palito metido na bocarra dade das glândulas exploradas até ao tutano na sua acti- besuntada de mel encontra, escondido na cova de um vidade laboral. O sindicato do corpo reclama e boicota os dente, um pedaço de pecado. Um arroto traz à boca o movimentos, enchendo de pedras as barrigas que cheias, sabor da cinza que empanturra. pedem mais, sempre mais. E o sorriso abre-se, pedaço de Pedro Cardoso