A Transcendência Pela Natureza Em Álvares De Azevedo
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ALEXANDRE DE MELO ANDRADE A TRANSCENDÊNCIA PELA NATUREZA EM ÁLVARES DE AZEVEDO Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Estudos Literários. Linha de Pesquisa: Teorias e Crítica da Poesia Orientador: Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires Bolsa: CAPES ARARAQUARA – SP 2011 2 Andrade, Alexandre de Melo A transcendência pela natureza em Álvares de Azevedo Alexandre de Melo Andrade – 2011 217 f.; 30 cm Tese (Doutorado em Estudos Literários) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara Orientador: Antônio Donizeti Pires 1. Álvares de Azevedo (1832-1851) 2. Literatura brasileira 3. Poesia brasileira 4. Crítica literária I. Título 3 ALEXANDRE DE MELO ANDRADE A TRANSCENDÊNCIA PELA NATUREZA EM ÁLVARES DE AZEVEDO Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/Araraquara, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Estudos Literários. Linha de Pesquisa: Teorias e Crítica da Poesia Orientador: Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires Bolsa: CAPES Membros componentes da Banca Examinadora: ________________________________ Prof. Dr. Antônio Donizeti Pires (Orientador) ________________________________ Prof. Dr. Adalberto Luis Vicente ________________________________ Prof. Dra. Karin Volobuef ________________________________ Prof. Dr. Jaime Ginzburg ________________________________ Prof. Dra. Solange Fiuza Cardoso Yokozawa Local: Universidade Estadual Paulista Faculdade de Ciências e Letras 4 UNESP – Campus de Araraquara AGRADECIMENTOS A meus pais, pelo incentivo e apoio; especialmente à minha mãe, que, sem que ela mesma o saiba, arrebata-me com seu olhar de ternura e compreensão. Ao meu orientador, Antônio Donizeti Pires, que foi exemplo de dedicação a toda atividade planejada; que acreditou em mim e em minha proposta de pesquisa; que se tornou amigo, terno e igualmente dedicado. A você, Tom, as palavras de Rilke: No fundo é esta a única coragem que se exige de nós: sermos corajosos diante do que é mais estranho, mais maravilhoso e mais inexplicável entre tudo com que nos deparamos . A meus irmãos, pela sempre disponibilidade e serenidade. A meu irmão Edvaldo, que, já tendo transposto o horizonte, deixou comigo sua alegria e seu olhar fraterno. À CAPES, pela concessão de bolsa durante a realização da pesquisa. Àqueles amigos que estiveram presentes nos últimos anos, contribuindo, ainda que indiretamente, para os meus projetos pessoais. 5 Transcendência Os pássaros que morrem, As flores que fenecem, Os córregos que correm Ao mar onde adormecem, Que calma de crepúsculo À quieta noite que os leva, Sem que um soluço, um músculo Se exalte contra a treva!... Como as folhas que a aragem, Como um trapo, retira De ombros onde a folhagem Nascente já se estira, Tudo se vai ritmado Num mesmo canto antigo, Enquanto em nós, torvado De um íntimo perigo, O olhar se atira além, Sem tal terrena calma Que o corpo nos contém Mas nunca a nossa alma. 6 (Alexei Bueno) RESUMO Benedito Nunes, em “A Visão Romântica” (1993, p. 58), afirma que na poesia romântica, “O Eu transcende a Natureza física [...]”, pois estabelece com ela um entendimento interno. Sob esse ponto de vista, a Natureza romântica é reveladora, pois exprime a experiência subjetiva do sujeito lírico e contribui para o alcance de uma consciência demiúrgica. Essa poesia referta de analogias será o ponto de partida para a abordagem de um universo onde cada elemento natural seja visto como metáfora de outra realidade superior, intuível pelo projeto poético. Álvares de Azevedo, em Lira dos vinte anos , desenvolve tal intuição panteística, especialmente na Primeira e na Terceira Parte, provocando contraponto em muitos poemas da Segunda Parte, quando substitui a intuição pela dedução irônica do mundo e dos homens. As outras obras do autor nos interessam na medida em que exploram as metáforas do anoitecer, como Macário , Noite na taverna e O Conde Lopo . Porém, entendemos que na Lira , a transcendência pela natureza se realiza mais plenamente, permitindo-nos uma leitura de seus versos por via dessa visada crítica. A intenção da tese é, dessa forma, entender a poética da natureza no jovem autor, de modo que possamos dialogar com a experiência transcendente do sujeito romântico e com os pressupostos da filosofia romântica disseminados a partir do Pré-Romantismo alemão. Palavras-chave: Literatura Brasileira; Romantismo; Álvares de Azevedo; Filosofia da Natureza; Transcendência. 7 ABSTRACT Benedito Nunes, in “A Visão Romântica” (1993, p. 58), claims that in romantic poetry, “o Eu transcende a Natureza física” (the ‘I’ transcends physical Nature) [...]”, for it establishes within itself inner understanding. Under this point of view, romantic Nature is revealing for it expresses the biased experience of the lyrical subject, and contributes to reaching a demiurgic awareness. Such poetry fulfilled with analogies shall be the start point for the approach of a universe where each natural element is seen as a metaphor of another superior reality, intuitable by the poetic project. Álvares de Azevedo, in Lira dos vinte anos , develops such pantheistic intuition, especially in the First and in the Third Part, causing a counterpoint in many poems from the Second Part, when he replaces intuition by the ironic deduction of the world and men. The other works by this author interest to us in what they concern the exploitation of the dusk metaphor, as in Macário , Noite na taverna and O Conde Lopo . Nevertheless, one understands that in Lira , the transcendence over nature is lived to its fullest, allowing us the reading of its verses through this critic look. The aim of this thesis is, thus, understand the poetics of nature in the young author in such a way one can dialog with the romantic subject’s transcendent experience and also the assumptions of the romantic philosophy spread since German Pre-Romantism. Keywords: Brazilian Literature; Romanticism; Álvares de Azevedo; Nature Philosophie; Transcendency. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO, 10 I – A NATUREZA NO ROMANTISMO, 11 1.1 – Aspectos gerais, 13 1.2 – Teorias filosóficas e literárias sobre a natureza, 23 1.2.1 – Rousseau: natureza e interioridade, 23 1.2.2 – Schiller: nostalgia da natureza e liberdade, 26 1.2.3 – Fichte e Schelling: o eu criador e a natureza viva, 32 1.2.4 – Novalis: a divinização da natureza, 39 1.2.5 – Wordsworth e Shelley: natureza e poesia como fontes de verdades eternas, 45 II – A NATUREZA EM ÁLVARES DE AZEVEDO, 49 2.1 – Aspectos gerais da crítica sobre a natureza no Romantismo brasileiro, 49 2.2 – Álvares de Azevedo, 50 2.2.1 – A crítica, 52 2.2.2 – Aspectos estéticos estabelecidos pelo poeta, 57 2.2.3 – A transcendência pela natureza: o princípio analógico, 62 2.2.4 – Ironia: o “furo no tecido das analogias”, 74 III – A NATUREZA DIURNA, 82 3.1 – Cintilações diurnas, 83 9 3.1.1 – O Sol como manifestação da harmonia, 85 3.2 – Arredores, 95 IV – A NATUREZA CREPUSCULAR, 113 4.1 – O Crepúsculo: mar e montanha, 117 4.2 – O Crepúsculo: verão e outono, 129 4.3 – Outras tardes, 139 V – A NATUREZA NOTURNA, 151 5.1 – Macário e Noite na taverna : entre o frenesi e a alegoria, 152 5.2 – A noite na poesia romântica, 157 5.3 – Noite: morte e libertação, 164 5.4 – Noite: inspiração, mistério e amor, 167 5.5 – A noite e o mar, 181 5.6 – Noite afora, 189 CONSIDERAÇÕES FINAIS, 204 REFERÊNCIAS, 207 10 INTRODUÇÃO Segundo Antonio Candido (2000, p. 53), no Romantismo a palavra “[...] é considerada menor que a natureza, incapaz de exprimi-la, abordando-a por tentativas fragmentárias”. Dessas tentativas resulta uma natureza multifacetada, plurissignificativa, oscilando entre a perfeição e a decadência, a claridade das formas e a obscuridade, a verdade e o mistério, obedecendo a um impulso lírico que também oscila entre a alegria e a tristeza, a divinização do mundo e a dor de viver. Essa relação entre o eu e a natureza é uma das marcas registradas do movimento, quando o poeta sensibilizou o mundo das formas naturais e enxergou nessas formas uma extrapolação de seus desejos e de suas angústias. O trabalho em questão visa a uma reflexão sobre os pressupostos da “natureza viva” no Romantismo, mais especificamente em Álvares de Azevedo, considerado uma das maiores manifestações do movimento no Brasil. Entender essa relação de implicação entre eu e natureza é, de certa forma, compreender o próprio Romantismo e os (des)caminhos da modernidade lírica. Pensamento e poesia estão, aqui, ligados pela reflexão permanente, pelo movimento de associação e dissociação entre o mundo interior e o mundo exterior, pela ruptura e pelos paradoxos instaurados pela própria consciência poética. É notório que a maior parte dos trabalhos acadêmicos que discutem a obra de Álvares de Azevedo se inicia com a fortuna crítica do poeta, conforme pudemos, também, realizar na dissertação de Mestrado, intitulada A veia irônica na voz sentimental de Álvares de Azevedo , defendida em 2003. Já no presente trabalho optamos por iniciar a discussão através de um estudo da natureza, levando em conta abordagens estéticas e filosóficas, para daí traçar uma linha de estudo que parta de questões amplas ligadas à tese até alcançar o poeta brasileiro. Dessa forma, o trabalho está compreendido em cinco capítulos. No primeiro, fazemos um apanhado das ideias românticas sobre a natureza, instauradas pelos primeiros românticos alemães; iniciamos com considerações gerais, depois passamos a uma apreciação do Werther , de Goethe, travando relações entre o percurso dos sentimentos do 11 personagem e a descrição da natureza. Em seguida, trazemos alguns pressupostos filosóficos e estéticos da natureza instaurados por escritores e pensadores, como o francês Rousseau, os românticos alemães Schiller, Fichte, Schelling e Novalis, e os ingleses Wordsworth e Shelley. Procuramos, neste primeiro capítulo, discutir o posicionamento crítico desses autores, fazendo ainda contraponto com outros críticos que comentam tais pensadores e contribuem para uma visão mais ampla dos desdobramentos dos pressupostos românticos.