Parecer N.º 229/2020 Processo N.º 408/2020 Queixoso: A
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Parecer n.º 229/2020 Processo n.º 408/2020 Queixoso: A. Entidade requerida: Ministro das Infraestruturas e da Habitação I – Factos e pedido 1. A., jornalista, solicitou ao Ministro das Infraestruturas e da Habitação «o acesso aos seguintes documentos que configuram estudos de viabilidade sobre os seguintes eixos ferroviários: «Linha da Beira Alta- Análise de intervenção no âmbito do PETI3+ Eixo Sines- Vilar Formoso via Beira Baixa- Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária Linha do Leste: troço Abrantes- Elvas - Badajoz. Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária Linha de Vendas Novas- Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária Linha do Vouga: troço Espinho- Oliveira de Azeméis. Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária com vista à reconversão em via larga Linhas do Sul e Algarve: troço Torre Vã- Tunes - Faro. Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária Linha do Oeste e Ramal de Alfarelo - Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária Ligação ferroviária ao aeroporto internacional de Faro Linha do Alentejo: troço Casa Branca- Beja- Funcheira. Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária Linha do Minho: troço Ermesinde- Valença Fronteira. Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária com vista ao aumento de velocidades Ligações Ferroviária aos aeroportos do Porto, Lisboa e Faro. Rede Ferroviária Ibérica- Caracterização e identificação de restrições». 2. Inconformado com a falta de resposta, o requerente apresentou queixa à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) e mais disse que «Um dos estudos solicitados - "Linha do Minho: troço Ermesinde- Valença Fronteira. Análise de intervenções na infraestrutura ferroviária com vista ao aumento de velocidades" - foi também requerido pelo jornalista (...), tendo, após recusa da IP - Infraestruturas de Portugal, sido apresentada queixa na CADA que, através do Parecer nº 95 de 2020/05/19 (Proc. 204/2020) deliberou no sentido lhe de ser facultado o acesso». 3. Convidada a pronunciar-se, a entidade requerida afirmou: «Os documentos (...) tratam-se de comunicações internas entre a lP- Infraestruturas de Portugal e os autores dos ditos documentos, não incidindo os mesmos sobre informação relativa a emissões para o ambiente. Deve, por isso, ser indeferido o pedido de acesso, nos termos do artigo 18.º, n.º3 da Lei n.º 26/2016 de 22 de agosto. Com efeito, o objetivo dos sobreditos documentos é o de comparar diferentes opções de intervenção e perceber, ainda numa versão exploratória, as vantagens e as desvantagens de cada uma. São por esse motivo, documentos menos rigorosos, a nível cientifico, do que estudos de viabilidade técnica. Uma leitura menos atenta destes estudos e do contexto em que os mesmos são produzidos pode gerar conclusões ou expetativas públicas desajustadas sobre a viabilidade de concretização de uma determinada intervenção. Acresce que uma eventual decisão pela publicidade deste tipo de estudos acarretará constrangimentos quer para os técnicos responsáveis pela sua realização, quer para a própria lP Infraestruturas de Portugal, uma vez que esta instituição acabará por ficar diminuída na sua capacidade de suscitar discussões sobre hipóteses que, ab initio, poderão parecer contraintuitivas, devido às expectativas que tais discussões poderão gerar no espaço público e nas populações abrangidas pelas intervenções em análise. Em súmula, a publicidade destes documentos poderá ser lesiva do interesse público, na medida em que acabaria por inevitavelmente constranger a capacidade da lP Infraestruturas de Portugal de realizar, de forma apenas exploratória, estudos internos sobre possibilidades de investimentos estruturais para o país». II – Apreciação jurídica 1. No caso em apreço, é peticionado o acesso a diversos estudos de viabilidade/análise de intervenção sobre determinados eixos ferroviários 2 Proc. n.º 408/2020 que são identificados, não tendo os mesmos sido facultadas com a fundamentação, apenas em sede de pronúncia, de que se trata de comunicações internas «entre a IP – Infraestruturas de Portugal e os autores dos ditos documentos, não incidindo os mesmos sobre informação relativa a emissões para o ambiente. Deve, por isso, sere indeferido (...) nos termos do artigo 18.º, n.º3» e que a «publicidade destes documentos poderá ser lesiva do interesse público, na medida em que acabaria por inevitavelmente constranger a capacidade da lP Infraestruturas de Portugal de realizar, de forma apenas exploratória, estudos internos sobre possibilidades de investimentos estruturais para o país». Vejamos. 2. A requerida alega que são «comunicações internas» entre a IP, SA e os autores dos documentos que cai na alçada do artigo 18.º, n.º 3, da Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto (LADA), pelo que a queixa deverá ser indeferida. 3. Importa, em primeiro lugar, dizer que a Lei n.º 26/2016, de 22 de agosto (LADA), contém uma secção própria para o «direito de acesso à informação ambiental» - Secção II, do Capítulo II – nela se inserindo aquele artigo 18.º, que prevê o indeferimento do pedido de acesso a informações constante de comunicações internas entre entidades. 4. Mas, no caso vertente, não é certo, nem sequer provável, que os estudos incindam, se incidirem, apenas sobre questões ambientais, já que, a julgar pelo pedido, respeitam particularmente a intervenções na estrutura ferroviária. 5. Ademais, alega a requerida que «o objetivo dos sobreditos documentos é o de comparar diferentes opções de intervenção e perceber, ainda numa versão exploratória, as vantagens e desvantagens de cada uma» e refere «estudos internos sobre a possibilidade de investimentos estruturais para o país», sem nunca referir que se trata de estudos ambientais. 6. Assim, a requerida deve proceder à apreciação da matéria, de modo preciso, apontando, se for o caso, os efetivos segmentos dos documentos em que possa estar situada informação ambiental sujeita a restrição de acesso. 3 Proc. n.º 408/2020 7. Não basta, uma mera alegação, vaga e genérica, a remeter para um normativo legal, desprovida de concretização factual. 8. Quanto ao alegado de que o acesso poderá ser lesivo do interesse público «por inevitavelmente constranger a capacidade da lP Infraestruturas de Portugal de realizar, de forma apenas exploratória, estudos internos sobre possibilidades de investimentos estruturais para o país». 9. A requerida segue aqui um caminho argumentativo num quadro hipotético - «poderá». 10. Haverá de concretizar a dimensão dessa lesão/prejuízos de modo a suplantar o direito de acesso à informação. E na circunstância é muito difícil conceber que o acesso, pelo menos, à maior parte dos estudos possa causar prejuízos dessa natureza. 11. Diga-se que este mesmo risco de prejuízos foi alegado pela Infraestruturas de Portugal (IP, SA) em queixa que deu origem ao parecer desta comissão n.º 95/2020 (todos os pareceres da CADA estão acessíveis em www.cada.pt). Estava aí em causa o acesso aos estudos respeitantes à Linha do Minho, 12. Ora, tal como então, deve sublinhar-se que a Infraestruturas de Portugal, SA é uma empresa pública, sob a forma de sociedade anónima, cujo único acionista é o Estado Português. 13. O seu objeto é a conceção, projeto, construção, financiamento, conservação, exploração, requalificação, alargamento e modernização das redes rodoviária e ferroviária nacionais, assumindo a posição de gestora de infraestruturas e para o desenvolvimento da sua atividade principal, detendo os poderes, prerrogativas e obrigações conferidos ao Estado pelas disposições legais e regulamentares aplicáveis (art. 6º, nºs 1 e 2 e 12.º, n.º 2 do Decreto-Lei n.º 91/2015 de 29 de maio). 14. Deste modo, há especiais deveres de transparência, na medida em que são utilizados dinheiros e recursos públicos, sendo, por isso, a atividade da IP, S.A. e o processo de tomada decisão passíveis de escrutínio e de sindicância pública. 15. Assim, mesmo a existir alguma parte de documentação sujeita a restrição de acesso por parte do requerente, a eventual reserva, necessariamente concretizada e fundamentada, não implica a completa inacessibilidade na 4 Proc. n.º 408/2020 parte restante, devendo, então proceder-se, como dispõem os artigos 6.º, n.º 8, e 18.º, n.º 6 (se for o caso), da LADA, ao acesso parcial. 16. Recebido o presente parecer, deverá a Entidade Requerida comunicar ao Requerente a sua posição final fundamentada, nos termos do artigo 16.º, n.º 5, da LADA. III – Conclusão Deverá ser facultado o acesso no quadro exposto. Comunique-se. Lisboa, 20 de outubro de 2020. João Miranda (Relator) - Carlos Abreu Amorim - Fernanda Maçãs - Antero Rôlo - Renato Gonçalves - Paulo Braga - João Perry da Câmara - Pedro Mourão - Alberto Oliveira (Presidente) 5 Proc. n.º 408/2020.