Ferroviário - Os Caminhos de Ferro na Internet

Edição n.º 27 | Outubro de 2012

A Ponte do Tâmega Índice

Trainspotter n.º 27 - Outubro 2012

Editorial 3 Redacção • Carlos Loução Spotting 4 • João Cunha • João Joaquim • João Lourenço Comboio Correio 5 • Pedro André • Pedro Mêda • Ricardo Cruz Passeios Ferroviários • Ricardo Ferreira • Ricardo Quinas : Esquecido no Espaço e no Tempo 10 • Tiago Ferreira

Cais de Embarque Colaboração • Álvaro Sousa Passeio pela praia 17 Contribuições para: Balastro [email protected]

Endereço: A Ponte do Tâmega 21 http://www.portugalferroviario.net

Cavalos de Ferro

As últimas 2500 24

Cais de Mercadorias

Terminal de Mercadorias do Fundão 25

Spotting 26

Figura do Passado

CP 553 27

Comboios Miniatura Locomotiva 1400 com um IR na ponte sobre o rio Tâmega, Agosto de 2005

Locomotivas Euro 4000 28 Fotografia: Pedro Mêda

Estação Terminal 31 Descarrilamentos

Trainspotter nº25 • Legenda página 23: autoria da foto errada - fonte correcta da foto: www.historiasdaraia.blogspot.pt • Legenda primeira foto da página 38: A Allan regressa do Marvão.

2 Editorial

Carlos Loução

oi em Outubro de 2004 que gal Ferroviário e outros espaços trariedades parecem ser enormes. Fum grupo de entusiastas, virtuais podem fazer muito mais. Com o apoio de todos e a união das mais diversas zonas do país, se As associações nacionais de entu- quer das associações, quer do mu- juntou para criar um fórum dinâmi- siastas, parece-me, ainda estão um seu, quer de entusiastas, miúdos ou co; apesar da liderança do mesmo pouco de costas voltadas para este decanos, eu acredito que é possível ser constituída sobretudo por jovens fenómeno da internet; e se de facto atingirmos as nossas metas, seja e de estar assente em algo que os todos ganhamos com a difusão da preservar-se uma locomotiva, adqui- mais idosos ainda tinham dificulda- Internet, no associativismo acho que rir-se alguma outra peça ferroviária, des em aderir (a internet), o Portugal perdemos, infelizmente. E, apesar fazer algo dedicado à ferrovia… o Ferroviário estava aberto a todas as de grande parte das pessoas que di- céu pode ser o limite. Especialmen- pessoas, numa altura em que tanto rigem as associações estarem já re- te nesta altura em que a FMNF e a as empresas como a comunidade gistadas em espaços virtuais ferrovi- Associação Voluntariado e Acção entusiasta tentavam singrar neste ários, transmitindo aos mais novos o Social do Entroncamento assinaram novo meio de comunicação. seu saber e os seus vastos conhe- um protocolo de colaboração, para Por via disso, na altura ainda cimentos sobre o CF em Portugal, que associados daquela instituição não existiam muitos espaços de dis- ainda há quem idealize os espaços possam colaborar com o Museu cussão online virados para o cami- virtuais de discussão como “um es- e ajudarem no que for preciso. Se nho-de-ferro – apenas uns dois ou paço de miúdos que apenas gostam havia barreiras a impedirem a par- três, se tanto. Por isso, o PF teve de tirar fotografias a comboios”. ticipação da comunidade entusiasta uma expansão bastante interessan- Acho que temos de abrir men- no MNF, estas deixaram de existir. te. Todavia, em 2005, problemas talidades e ver que não existem E porque não movermo-nos todos técnicos ditaram o encerramento do “novos” nem “velhos”, nem “miú- para o mesmo lado, nem que seja espaço, que só teria uma segunda dos” nem “graúdos”; podemos ser só por uma vez na vida? vida em Novembro de 2007. Desde diferentes uns dos outros, mas to- Para finalizar, gostaria de dei- então, o fórum cresceu, contando dos nós queremos os mesmos ob- xar também aqui as boas-vindas ao com participações de maquinistas, jectivos: que a ferrovia em Portugal Pedro Mêda, o mais recente mem- de entusiastas, enfim, de pessoas seja digna, moderna e adequada às bro da redacção desta revista. Para que se apaixonaram por este meio necessidades dos portugueses, e além de já ter colaborado connosco de transporte ou que fizeram dele o que a memória dos tempos passa- em outras ocasiões, os seus conhe- seu ganha-pão. E o aparecimento da dos não seja esquecida aquando do cimentos sobre engenharia ferroviá- Trainspotter, em Junho de 2010, foi desaparecimento dos mais velhos. ria serão, sem qualquer sombra de mais um passo para a divulgação de Pode-se dizer que “eu sou apenas dúvida, uma mais-valia para esta notícias da ferrovia, de artigos sobre um, não vale a pena fazer nada”, publicação. o passado, o presente e o futuro dos ou “eles não querem, não podemos Bem-vindo, Pedro! caminhos-de-ferro em Portugal. fazer nada”: não há que enterrar a No entanto, creio que o Portu- cabeça na areia só porque as con-

3 Spotting

PTG 2010, a chegar a Vidigal, Fevereiro 2011

Carlos Loução

4 Comboio Correio

Breves Nuno Morão

Pedro André

Locomotivas 027 e 855 estão a ser restauradas

No passado mês de Maio, iniciaram-se os trabalhos de restauro cosmético das locomotivas 027 e 855. Os trabalhos estão destacados ao pessoal técnico acific chegou ao do MNF e têm como objectivo a P 553 MNF exposição estática das locomotivas A locomotiva 553 foi deslocada revista e depois colocada em na rotunda do MNF ainda antes do para o MNF durante a noite de 29 exposição estática na rotunda final do ano. Ambas as locomotivas para 30 de Setembro. A operação do MNF – o objectivo é que já já tinham sido recuperadas para a recorreu a duas locomotivas esteja exposta antes do início do grande exposição que teve lugar no 1400 (frente e cauda) e foi próximo ano. Entroncamento em 1997, mas um efectuada à velocidade de 20 A 553 representa o expoente longo período de tempo presentes km/h, justificando as 2h26 para o máximo da tracção vapor em às intempéries levou-as ao estado percurso de pouco mais de trinta Portugal e é, por isso, um lamentável em que se encontravam quilómetros. marco histórico na preservação antes dos trabalhos. A 553 permanecia na secção ferroviária em Portugal. museológica de Santarém há A secção museológica de muitos anos: primeiro no exterior, Santarém fica agora praticamente Pedro André presente às intempéries, e já vazia, depois de há dois anos ter durante a última década acabou visto sair o Comboio Real. Em por ser restaurada e passou para material circulante apenas resta a dentro da secção museológica. locomotiva "Pejão" das minas do Não se sabe, por isso, que tipo de Pejão de 1918, a locomotiva de intervenção de restauro receberá via estreita E103 de 1907 e uma no MNF, mas, à partida, será Dresine de inspecção.

0111 e 1225 já estão “a Demolição das 1800 foi caminho” do MNF interrompida Takargo foi fazer formação ao Algarve A automotora Nohab 0111 e a Seis das oito locomotivas 1800 locomotiva 1225 foram salvas que estavam no Barreiro e que No passado dia 06 de Setembro e 02 da demolição e estão já a meio tinham ordem de abate por parte de Outubro a Takargo realizou duas caminho do MNF. Ambas as do sucateiro, afinal ainda poderão marchas de formação entre a Petrogal unidades já foram deslocadas ser salvas. em Sines e Faro. Em causa está um para o GOB, com objectivo Em causa estão interesses de novo tráfego que a Takargo espera de uma curta revisão onde se entusiastas britânicos em ficar conquistar e dentro das possibilidades pretende verificar a possibilidade com grande parte do lote, mas poderá estar um tráfego do Terminal de seguirem a reboque de um também do MNF, que pretende de Mercadorias de Loulé ou a madeira mercadorias da CP Carga até ao mais uma locomotiva 1800 de Santa Clara Sabóia, um tráfego que Entroncamento. A viagem para o para cedência de peças à 1805 em tempos pertenceu à CP Carga. Entroncamento está prevista para (locomotiva que ficará, ao que o próximo dia 13 de Outubro. tudo indica, operacional no MNF). A 0111 é a única peça motora A demolição desta série de Nohab de via larga que restou locomotivas ficou-se até ver pelas em Portugal e vai-se juntar ao locomotivas 1806 e 1807, mas reboque 0101 no MNF, que todas as restantes locomotivas também só será revisto quando a estão ainda nas mãos do motora chegar ao MNF. sucateiro.

5 Comboio Correio

Valério dos Santos Breves

Valério dos Santos

Jet-fuel viaja para Leixões

No passado dia 16 de Setembro, a CP Carga assegurou o transporte de jet-fuel entre a refinaria da Petrogal Serviços Internacionais Unidos de Sines e o terminal de Leixões, tendo como destino final a refinaria Os serviços internacionais "Sud- inverso a partida de Irún dá-se de Matosinhos. A composição de Express" e "Lusitânia Comboio pelas 18h50, enquanto o ramo de 24 cisternas, o mesmo material que Hotel" foram integrados num sai pelas 21h50. abastece o aeroporto de Faro a partir só comboio. A medida já tinha Com esta medida acordada com de Sines, teve a tracção a cargo da sido anunciada pela CP no mês a Renfe, a CP pretende reduzir o locomotiva 4720. O material viajou de Agosto, após o "Lusitânia prejuízo que ambos os serviços ainda na madrugada do dia 16 da Comboio Hotel" abandonar o têm acumulado e que alcançaram Petrogal de Sines para o Poceirão e Ramal de Cáceres, e vigora a no ano passado 7,3 milhões de partiu ao início da tarde para Leixões, partir do dia 2 de Outubro. euros, tendo transportado 140 mil onde chegou perto das 23 horas. O comboio constituído pelos 2 passageiros no total. O regresso da composição com o ramos parte às 21h18 da capital Paralelamente, a CP melhorou material vazio partiu na manhã de portuguesa e o regresso ocorre a articulação dos serviços quinta-feira, dia 20 de Setembro, de pelas 7h30. A chegada a Madrid do internacionais com a cidade do volta de Leixões para o Poceirão, respectivo ramo dá-se pelas 8h20 , criando um novo comboio encabeçada pela 4713. e o ramo para Hendaye chega a Intercidades em cada sentido Na origem desta novidade sobre essa cidade pelas 11h28, ambos para . Com partida às 22 os carris nacionais encontrou-se na hora espanhola. Pelo meio, horas da cidade do Porto, esta uma paragem para manutenção da efectuam paragens no Oriente, nova ligação efectua paragens em unidade de produção da refinaria Entroncamento, Caxarias, Gaia, Espinho, Ovar, Estarreja, de Matosinhos, produtora deste Pombal, Coimbra-B, Santa Aveiro, Mealhada e Pampilhosa, combustível destinado à aviação. Comba Dão, Mangualde, Celorico chegando pelas 23h21 à estação da Beira, Guarda e Vilar Formoso de Coimbra-B, de onde o serviço em território nacional e Fuentes Internacional parte 16 minutos Acidente no porto de Aveiro de Oñoro, Ciudad Rudrigo, depois. O comboio em sentido Salamanca e Medina del Campo, inverso tem partida às 5h20 e No passado dia 10 de Setembro, estação onde se separam os dois chegada pelas 6h35 à cidade do pelas 17h15, um comboio de cimento ramos do comboio. A composição Porto, com o mesmo tempo de chocou violentamente contra um com destino a Madrid apenas ligação na estação de Coimbra-B. camião pesado carregado de areia efectua paragem em Ávila antes A operação destes comboios à entrada do terminal de navios no de chegar à capital espanhola, e não difere do restante serviço porto de Aveiro. O comboio, com pode assim aproveitar a tracção Intercidades do eixo Lisboa- mais de 1.000 toneladas, recuava em eléctrica neste troço. O comboio Porto, contemplando o uso de três manobras para o respectivo terminal, com destino a Hendaye efectua carruagens CoRail. quando, na passagem de nível que ainda paragens em Valladolid, o antecede, embateu violentamente Burgos, Miranda de Ebro, Vitória, Fonte: O Público contra o camião e descarrilou. San Sebastian e Irún. No sentido O sucedido acabou por provocar um ferido grave, o operador de manobras, que seguia no vagão que embateu – foi projectado e ficou infelizmente debaixo do cimento e areia que se espalhou no local.

Pedro Sabino

6 Comboio Correio

Breves Pedro Mêda

António Gonçalves

Oferta remodelada na

A CP introduziu no dia 16 de Setembro alterações à oferta na Linha da Beira Alta, tanto no serviço Intercidades, DB Schenker com segunda ligação como no serviço Regional e vem no seguimento de uma medida com algu- semanal mas semelhanças já aplicada no mês de Maio na Beira Baixa. A DB Schenker inicia no início de dia seguinte. As composições têm Desta forma, todos os comboios do Outubro a operação da segunda igual capacidade, cada uma com serviço Intercidades passaram a con- ligação semanal com destino à disponibilidade para 32 caixas tar com paragem em Mortágua, Carre- Alemanha. Este aumento da ofer- móveis/contentores, totalizando gal do Sal, Fornos de Algodres e Vila ta já se encontrava anunciado 480 metros de comprimento. A Franca das Naves. Até à data, diaria- desde o passado mês de Julho, operação continua a ocorrer nos mente apenas um comboio por senti- devido ao sucesso que o serviço mesmos moldes, com a CP Car- do realizava serviço nestas estações, obteve logo desde o seu início, ga a assegurar a tracção no per- com excepção de Vila Franca das Na- em Fevereiro. curso nacional, a Renfe em Espa- ves que contava com três comboios Os comboios têm registado taxas nha e a DB no restante percurso. no total. Estas paragens adicionais re- de ocupação taxas de 100% à ex- A primeira composição já chegou presentaram um acréscimo no tempo portação mas apenas 50% à im- ao território nacional no dia 19 de total de viagem muito reduzido. portação, residindo neste aspecto Setembro, sendo que o primeiro Os preços do serviço Intercidades a sua principal lacuna. Segundo a comboio para a Alemanha partirá também sofreram uma revisão. As via- mesma empresa, a segunda liga- no dia 2 de Outubro. Na semana gens compreendidas entre Coimbra e ção semanal continuará a contar seguinte haverá uma paragem do a cidade da Guarda são agora mais com taxas elevadas à exportação serviço, justificada por motivos baratas para todos os dias da sema- e vai permitir melhorar as taxas técnicos. na (ao contrário da Beira Baixa onde de ocupação à importação. A DB Schenker deixou já em a medida apenas foi aplicada para os Este segundo comboio a ligar Lis- aberto a terceira frequência se- dias de menor procura). Foi também boa e Leixões a Braunschweig e manal, prevendo que possa vir a introduzido o Flexipasse, uma assina- Frankfurt, partirá às terças-feiras tornar-se uma realidade em 2014. tura mensal que permite viajar indis- de Portugal, e a composição tintamente em serviço Intercidades ou oriunda da Alemanha chegará no Fonte: Transportes e Negócios Regional entre Coimbra e Guarda. As alterações no serviço Regional prenderam-se com o corte de para- gens de alguns comboios em apea- deiros de procura muito reduzida, no- FMNF levará cortes de 30% meadamente Trezói, Papízios, Lapa do Lobo, Contenças, Abrunhosa, Ba- raçal, Maçal do Chão e Sobral. Agora, Resultado de avaliação às funda- Esta é naturalmente uma má no- apenas um comboio por dia em cada ções que foram realizados recen- tícia para a preservação ferrovi- sentido realiza paragem nestas loca- temente, a Fundação Museu Na- ária em Portugal, principalmente lidades. cional Ferroviário vai levar cortes nesta altura, uma vez que corre de 30% do total de apoios finan- um projecto de exposição e pre- ceiros públicos. servação no MNF até 2015, com O estudo previa uma avaliação o objectivo de abrir definitivamen- rigorosa a todas as fundações e te todo aquele espaço ao público grande parte delas levaram um com vários motivos de interesse. corte também de 30%.

7 Comboio Correio

José Sousa Breves

Metalsines apresenta eco- picker

A Metalsines apresentou na “Innotrans 2012” (evento que ocorreu em Berlim entre os dias 18 e 21 de Setembro) PTG em Portugal uma nova e revolucionária tecnologia multimodal para transporte de pesados O grupo PTG voltou a Portugal e o Marvão-Beirã, mas uma vez rodoviários por via ferroviária, com durante este mês de Outubro, que o Ramal de Cáceres se recurso a vagões Eco-pickers. entre os dias 06 e 13 de Outubro. encontra encerrado à circulação Os vagões apresentados são mais Em matéria ferroviária e além ferroviária o mesmo não se simples e fáceis de manusear quando de percursos em comboios chegou a confirmar. comparados com todos os que regulares, o grupo desloca-se Este passeio, apesar de não actualmente existem no mercado, no dia 09 de Outubro numa UTE apresentar tantos motivos de baseando-se na possibilidade de 2240 entre Évora e Tomar, via interesse para os entusiastas pela carregar e descarregar camiões semi- , e no dia ferrovia como outros, pretende reboque completos ou simplesmente 10 visita o MNF. apenas proporcionar aos semi-reboques de forma simples e Inicialmente o passeio previa viajantes uma união entre cultura praticamente em qualquer plataforma ainda um comboio especial com e história regional portuguesa logística com via embebida. Para os Allan 0350 entre o Entroncamento com um passeio de comboio. camiões saírem, os vagões necessitam apenas de ser desacoplados, ao contrário dos vagões actualmente Greves intensificam-se no mês de existentes no mercado, que utilizam pórticos, gruas, empilhadores ou Outubro rampas para o mesmo efeito. Estes vagões cumprem todas as O Sindicato dos Maquinistas tuado pela CP. normas e especificações ferroviárias, (SMAQ) convocou uma greve À greve do SMAQ juntam-se des- como bogies, rodados, componentes para o mês de Outubro, à seme- ta vez outras greves convocadas de freio, tracção, etc, e a única lhança do que já vem ocorren- para todo o mês de Outubro por desvantagem aparente é terem que de do há alguns meses. Para este alguns sindicados ligados à ferro- facto desacoplar todos os vagões para mês, além da greve abranger, por via, nomeadamente a Associação os camiões sairem, o que pode levar à exemplo, as horas extraordiná- Sindical de Chefias Intermédias necessidade de extensas plataformas rias, a tracção a vapor e os dias da Exploração Ferroviária (AS- logísticas para receber os comboios. de feriado, como já vem sendo CEF), o Sindicato Nacional dos Este é um projecto bastante ambicioso, habitual, vai também contemplar Trabalhadores do Sector Ferro- no entanto a Metalsines não teve a greve às primeiras duas horas viário (SNTSF), o Sindicato In- possibilidades de apresentar um de cada turno entre os dias 1 e 4. dependente dos Operacionais protótipo real no evento Internacional. Assim, haverá grandes perturba- Ferroviários e Afins (SIOFA) e o O seu pequeno stand apresentado no ções nos serviços da CP para a Sindicato Nacional dos Ferroviá- evento conseguiu, porém, chamar a primeira semana do mês, entre rios e Afins (SINFA). A greve da atenção dos gigantes Internacionais. supressões e atrasos, em par- ASCEF abrange também os tra- No próximo mês esperamos ticular nos comboios urbanos balhadores da Refer, além da CP desenvolver mais este tema. e de longo curso, conforme os e CP Carga. serviços mínimos definidos pelo Esta sucessão de greves que se Conselho Económico e Social. prolongam há vários meses con- Hugo Rego De fora da greve ficou o serviço tinuam sem fim à vista. No caso Regional, em virtude do SMAQ da CP, tem levado continuamente considerar que este serviço vindo à supressão de alguns comboios a ser prejudicado pela empresa. urbanos e regionais e deixa es- Contudo, isto não impedirá que ses passageiros na incerteza de ocorram algumas supressões um ter transporte ou não. Para a CP pouco por todo o país. O feriado Carga, as greves tiveram já efei- de dia 5 será o dia mais negro, tos mais severos, com o fim de esperando-se a circulação de vários comboios de mercadorias muito poucos comboios a nível de norte a sul do país. nacional, conforme o aviso efec-

8 Comboio Correio

CP procura destino para três Ricardo Ferreira

locomotivas a vapor de aia Pedro Mêda G Ricardo Ferreira

rês locomotivas a vapor que apodrecem em também outras houveram que pouco mais que TGaia procuram sítio para ficar. 072, 0184 e pintura levaram. A preservação cosmética destas 0190 são as três locomotivas que não têm qualquer peças de vapor é diferente, porque limita-se à interesse por parte do Museu Nacional Ferroviário, colocação estática (à partida), mas é um valor que já que existem locomotivas da mesma série não está totalmente deslocado, atendendo ao facto preservadas: a 072 tem as irmãs 070, locomotiva de nelas haver muito que reconstruir, mesmo para que foi recentemente colocada na rotunda do exposição estática. MNF, e a 094, que está exposta em pedestal no Ou então podemos ter como base os 500 mil Entroncamento; já as irmãs das 0184 e 0190 estão euros do Foguete (três unidades) em ponto estático reservadas à tracção do comboio histórico a vapor que foram adiantados há 13 anos atrás. São, ainda de via larga - a 0186 a circular no Douro e a 0187 em assim, valores em nada motivadores para que uma Contumil à espera de decisão. associação ferroviária, por exemplo, venha a ficar Sem grandes perspectivas, é provável que com uma… as associações não têm dinheiro para venham a morrer num destes sucateiros que por pagar as rendas da sua sede, vão ter dinheiro para ai andam. A CP contactou as diversas associações uma coisa destas? Ou entidades como autarquias, ferroviárias portuguesas e outras entidades à que estão estranguladas e encurraladas pelo procura de dono para elas… mas está difícil. E governo e troika. também não é efectivamente à CP que cabe dar-lhe Tirar uma locomotiva de lá custará também a sua preservação ou definir-lhes outro destino feliz. valores em tudo desmotivadores. Contar como base As três locomotivas deixaram de circular entre os 8750 euros que custou o transporte do salão 1974 e 1976. As 0184 e 0190 estiveram anos restaurante SyR 2 do comboio Presidencial entre encostadas em Contumil e depois da construção Estremoz e Contumil, uma destas locomotivas a da ponte São João no Porto foram deslocadas para vapor, que envolve uma operação à partida muito Gaia, já em condições de degradação. A 072 terá mais complicada no cais de carga, não ficaria com sido (à partida?) encostada em Gaia a partir de 1975, certeza por valores muito diferentes. assim como um conjunto vastíssimo de locomotivas Neste futuro muito sombrio esperemos que a vapor que ocupava a actual triagem de Gaia quase surja algum interesse particular... nem que seja que por completo. Internacional, muito comum nos últimos anos. Que Tomando como referência o primeiro valor base pelo menos as tire de onde estão para um lugar adiantado para a restauração das seis viaturas do seguro, longe de um sucateiro que vê ali nas três comboio Presidencial (1.2 milhões de euros… no locomotivas 280 toneladas de “ouro”. final acabou por ficar mais caro do que 1.5 milhões!), Melhor sorte terão as locomotivas 282, 294 e chegamos à conclusão que cada peça restaurada 701, também de Gaia, mas que têm como destino ficou por mais de 200 mil euros. Houveram peças garantido (se até lá não deslizarem ravina abaixo) o que tiveram que ser totalmente reconstruídas, mas MNF, por serem todas peças únicas.

0184 0190

072

9 Passeios Ferroviários

Pedro André

A estação de Moura, cada vez mais abandonada em 2010

Ramal de Moura Esquecido no espaço e no tempo

Pedro André Pedro André / José Sousa

Anos depois do encerramento do ramal de Moura, parti à descoberta do que resistiu ao abandono e à degradação consequente de tanto tempo de indiferença a que foi sujeito pelas autoridades competentes. Sem qualquer tipo de projectos futuros, continua na “solidão” dos campos alentejanos.

assaram-se cerca de doze após a estação de Beja, em direcção esperar, o mato vai tomando conta anos desde que o último à Funcheira, curvando ligeiramente de toda a infraestrutura. Pcomboio aqui circulou, já à esquerda, afastando-se da capi- Seguindo pela linha e avançando nessa altura, como um especial fre- tal do Baixo Alentejo e percorrendo mais uns quilómetros, chegamos a tado pela APAC com recurso a uma cerca de três quilómetros até chegar Vila Azedo, tendo ao nosso lado di- Nohab. Nos últimos anos, muito se a Alcoforado, primeiro lugar de pa- reito mais uma antiga casa de pas- tem discutido se as centenas de ragem. Neste local, pode-se ainda sagem de nível bastante degradada, quilómetros de ferrovia encerrados encontrar uma casa de passagem mas que ainda mantém os devem ou não ser tornados em “cor- de nível, a plataforma de terra e a com a indicação do PK 159.566. É redores verdes”, ou, como muitos ainda resistente placa com o nome neste local que se repara que alguns defendem, que devem ser reabertos da paragem. Em redor vê-se uma ou metros de carril desapareceram, ao tráfego. outra casa, e, não fosse o facto de quem sabe se para facilitar a passa- Ora bem, o Ramal de Moura saía Beja ficar lá ao fundo do horizonte, gem de veiculos pela estrada, ou se da – já não sai, poderiamos pensar que estávamos para utilização menos própria de um porque a REFER levantou a agulha num qualquer local isolado do Alen- qualquer particular. que dava ligação ao ramal – logo tejo profundo. Aqui, como seria de Logo após a passagem de nivel,

10 Passeios Ferroviários

José Sousa está a plataforma envolta de vege- tação, com o abrigo que ainda vai resistindo à passagem dos anos. Mais uma vez, as casas existentes em redor do apeadeiro são poucas, e o acesso faz-se por estrada de ter- ra batida. Apenas um quilómetro de linha nos separam do próximo apea- deiro, Neves, que fica situado na en- trada da aldeia. Também esta antiga paragem é formada por uma platafor- ma com um abrigo, sendo que este fica colocado no lado esquerdo da linha no sentido de Beja para Mou- ra. Quer o apeadeiro de Vila Azedo, quer o de Neves estão implantados na freguesia de Nossa Senhora das Neves, que contava, em 2011, com cerca de 1.747 habitantes. Seis quilómetros adiante, chega Estação do Baleizão -se à estação de Baleizão, que, nos tempos áureos do Ramal de Moura, tinha bastante movimento - chegou Pedro André a conter a certa a altura dois ramais particulares: um deles situava-se na entrada da estação, Baleizão – Fe- deração, e o outro estava colocado na saída do lado de Moura, Balei- zão – Celeiros. Ambos os ramais estavam afectos à FNPT (Federação Nacional dos Produtores de Trigo). Ainda nesta estação é possivel en- contrar vestigios dos ramais acima descritos, assim como das casas de pessoal, dos telheiros que abrigavam os materiais a serem transportados por comboio e o pequeno edificio de passageiros. A povoação que dá o nome à estação fica distante do local da mesma cerca de cinco quilóme- tros, e tinha em 2011 cerca de 900 habitantes na freguesia. De referir Apeadeiro de Neves ainda a existência de uma pequena ponte situada a Oeste da estação de Baleizão. Em 2012, a degradação era enorme, com a falta de várias de- José Sousa zenas de metro de carril das linhas desviadas, com alguns metros de via férrea completamente tapados por terra e por erva. No entanto, a linha directa parece estar completa, em- bora exista na estação algumas ve- dações que não permitem uma livre circulação de quem quer “vasculhar” ao pormenor toda a área. Avançamos em direcção a Moura, até onde existe a antiga paragem de Torre da Cardeira, que é apenas uma plataforma de terra situada no lado esquerdo da via. O acesso a este local é de uma enorme dificuldade, e foi efectuado a pé percorrendo al- guns quilómetros, já que fica num lo- cal ermo sem verdadeiros acessos, e no meio de terrenos plantados que se devem respeitar. Torre da Car- Estação de Pias

11 Passeios Ferroviários deira mais não é do que o nome de Pedro André uma herdade, sendo que as únicas habitações que se vêem em redor são as pertecentes à propriedade e que nos levam a pensar que a única razão para a existência desta para- gem foi uma exigência e uma contra- partida pela permissão da passagem da linha por estes terrenos. A desco- brir nas redondezas desta paragem um pequeno pontão, que tem como curiosidade ter sido preparado para levar linha dupla, um pouco à ima- gem do que se fez por exemplo na ou na Linha de Évora. Ao chegar ao PK 172.3, passamos pela aldeia de Quintos, que, sendo sede de freguesia com 255 habitan- tes (2011), deu o nome à estação. Foi o troço entre Beja e Quintos o pri- meiro a ser inaugurado, a 02 de No- Ponte do Guadiana, com o apeadeiro ao fundo vembro de 1869. Existe ainda junto da estação um depósito de água co- locado perto de um poço, onde ainda Pedro André é possivel ter contacto com os ves- tigios do antigo sistema de bomba- gem. Ainda no perimetro da estação existem os restos de um forno, situ- ados perto do que antigamente seria um jardim bem cuidado, e que hoje, à imagem de todo ramal, mais não é do que uma imensidão de mato. De Quintos até à Ponte do Guadiana são mais cinco quilómetros, que nos levam até à margem do rio, onde po- demos encontrar uma habitação dos caminhos-de-ferro, que servia para a colocação da guarda de passagem de nível. Isto aconteceu porque, du- rante a década de ‘20, a ponte fer- roviára sobre o Guadiana, com 255 metros de extensão, começou a ser- vir para a passagem de automóveis, Um dos vários pontões preparados para via dupla para além do tráfego ferroviário. Poder-se-ia dizer que durante os anos seguintes, esta seria sem dúvi- da uma passagem de nível sem com- José Sousa paração. A permissão para a passa- gem de veiculos era coordenada quer com a estação de Quintos, quer com o apeadeiro da Ponte do Gua- diana que ficava situado na margem oposta. Foi até ao ano de 1976 que esta situação se manteve, até ser er- guida uma nova ponte rodoviária. Éra passando a ponte em direcção de Moura, que se chegava ao dito apeadeiro, que servia as pessoas das redondezas, mas que está com- pletamente isolado, sem habitações por perto. Ainda hoje é possivel des- cortinar o antigo acesso que permitia aos veiculos rodoviários aceder ao tabuleiro da ponte. O resto da pla- taforma e uma casa em quase ruí- na total fazem um conjunto perfeito, A estação de Serpa-Brinches, envolta num “mar” de girassóis

12 Passeios Ferroviários

Pedro André troço de dez quilómetros, que incluía a ponte do Guadiana. Em tempos foi projectado um ramal que seguiria da estação até ao centro da vila de Ser- pa. Embora este projecto nunca te- nha sido concluido, é possivel, ainda nos dias de hoje, ver uma ponte e os encontros de uma futura passagem superior, estando o canal ferroviário ainda visivel nalguns pontos. A próxima paragem do ramal de Moura era Corte do Poço, e, mais uma vez, esta situa-se perto de uma herdade com o mesmo nome. Aquando da visita a este local, a linha encontrava-se “fechada” por uma rede, estando os vestigios da para- gem colocados atrás dessa mesma vegetação. Todavia, é possivel com facilidade observar o que resta des- Perto de Corte de Poço sa antiga paragem, saltando à vista que a plataforma tem condições de tendo em consideração o aspecto lómetros. É uma estação com uma construção que mais nenhuma tem miserável da ponte. Daqui até à es- grande área envolvente, onde exis- no ramal: ao passo que as outras tação de Serpa-Brinches, colocada tem uma série de armazéns que se simples paragens são compostas ao PK 183, ultrapassa-se mais uma espalham por cerca de 100 metros por terra batida rodeadas por placas trincheira bem funda, e vê-se que encostados à antiga linha de cais, de betão encaixadas em bocados de a cada dia a natureza vai tomando onde é também possivel encontrar carril, Corte do Poço tem a platafor- cada vez mais conta do canal, sen- a antiga curraleta. A referir ainda o ma composta por alvenaria e com do que já existem vários vestigios de facto de existir uma linha situada na degraus de acesso, o que nos pode- derrocadas que foram provocando a parte exterior, ou seja do lado da rá levar a pensar que pode em tem- queda de algumas pedras de médio frente do edificio de passageiros, o pos ter existido um abrigo, ou algo porte sobre a linha. que facilitaria na altura um transbor- mais do que uma simples paragem. A estação de Serpa-Brinches fica do de mercadorias de vagões para Aqui, a linha percorre uma zona tipi- situada numa planicie, mas aquando camiões ou carroças. O edificio de camente alentejana, onde a planicie da sua construção sofreu do mes- Serpa-Brinches caracteriza-se por com as típicas árvores “abrem” pas- mo mal de outras tantas dezenas ter uma arquitectura diferente de to- sagem à linha ferroviária. Também de estações espalhadas por este dos os outros existentes no ramal. aqui não existe uma única habitação país fora. Serpa fica a cerca de nove Aqui, o comboio chegou no dia 14 por perto, e os caminhos que se vêm quilómetros de distância da estação de Abril de 1878, ou seja, foram pre- são todos em terra batida. Torna- e a aldeia de Brinches a cinco qui- cisos nove anos para completar o -se um esforço da imaginação ten-

Pedro André

A linha no Alcoforado, em direcção a Beja

13 Passeios Ferroviários tar compreender de onde vinham os Pedro André passageiros para o comboio. Mais uns quilómetros de viagem e chegamos à entrada de Pias, ao qui- lómetro 195.546 do ramal, onde as cancelas continuam ao alto, como que esperando que um comboio surja no horizonte para que possam voltar a ser utilizadas. Junto à casa de pas- sagem de nível aí existente, já se vê ao fundo a estação de Pias, local da nossa próxima paragem. Aqui sim, a escolha da localização da estação é excelente, estanto situada em pleno aglomerado populacional. Foi, duran- te algum tempo, local de algum movi- mento ferroviário, estando a estação servida por mais um ramal da FNPT, que se situava na saída do lado de Moura. É possivel observar ainda o gabarit que vai resistindo ao tempo, Paragem de Pipa, com a placa resistindo ao passar do anos tal como as diversas habitações que faziam parte do complexo ferroviário de Pias. Foram precisos nove anos Pedro André mais para que o comboio chegasse de Serpa-Brinches até esta bonita al- deia alentejana: em 14 de Fevereiro de 1887, as aspirações ferroviárias destas gentes ficaram satisfeitas. Após a saída da aldeia de Pias, ain- da tempo para um “salto” até uma outra passagem de nível situada ao PK 195.685 onde a casa de aspecto pré-fabricado se distingue das outras existentes. A linha que daqui saí em direcção a Pipa segue praticamente em linha recta sem quaisquer curvas ou des- níveis, atravessando “rapidamente” os campos. Ao PK 202.1 estamos por fim na paragem de Pipa, e es- tamos também no meio de campos de cultivo, onde não há sinal de ha- A vegetação vai tomando conta do ramal bitações em redor. Junto à paragem, podemos encontrar uma das inúme- ras passagens de nível sem guarda, onde ainda é possivel observar a pla- Pedro André ca tão caracteristica do “Pare, Escute e Olhe”. Estas três palavras, hoje em dia, só têm sentido para quem gos- ta de se sentir envolvido pela calma da natureza pois, se já não existe o silvo das locomotivas, existem vários locais do ramal onde os sons mais puros da natureza se fazem sentir. Esta paragem é também constituida por apenas uma plataforma de terra batida, e que foi buscar o nome ao Monte da Pipa. Daqui até até à antiga estação dos Machados entramos num imenso olival, e, logo de seguida, dentro da herdade que dá o nome à estação. Esta herdade teve nos seus tempos mais áureos, por volta das décadas de ‘50 e de ‘60 cerca de 700 traba- Estação da Herdade dos Machados

14 Passeios Ferroviários lhadores. A opção pela construção geiros segue os mesmos traços de avista-se a estação de Moura e todo da estação na herdade justificava- Quintos e Baleizão, existindo ainda o ambiente ferroviário que ainda vai -se plenamente, já que o movimento nas redondezas mais uma casa que sobrevivendo. de mercadorias e dos trabalhadores abrigou em tempos os ferroviários A estação de Moura acabou por fazia lembrar uma qualquer estação que neste ramal faziam serviço. ficar como ponto final de uma linha inserida num meio populacional. O Mais uns quilómetros em direc- que deveria ter continuado, mas que facto é que a estação fica afastada ção a Vale de Rãs. Esta paragem é seguindo o mau exemplo de outras do Monte dos Machados, e está iso- quase uma cópia exacta de todas as acabou por ficar “incompleta”. Só lada de quaisquer habitações. Longe outras anteriormente referidas. Uma em 27 de Dezembro de 1902 o com- vão os tempos em que a adega, os placa no meio de uma plataforma boio inaugurava o troço compreendi- lagares, as moagens e tudo o mais diz nos que era aqui que o comboio do entre Pias e Moura, cerca de 33 relacionado com a produtividade da parava servindo passageiros que anos depois de ter chegado a Quin- herdade, viviam dependentes do andavam na altura quilómetros a fio tos. Sendo esta estação o término transporte ferroviário. Nos dias de para apanhar o único meio de trans- da linha, foi construida uma placa de hoje, nem o ramal tem qualquer fun- porte colectivo que por aqui existia. inversão de locomotivas até 12 me- ção, nem a herdade tem a importân- Daqui até Moura ainda há tempo tros, tendo em tempos cocheira para cia que tinha, embora por lá exista para visitar mais uma casa de pas- guardar material. A estação contava um dos maiores olivais do país. Esta sagem de nível ao PK 211.132 que com várias linhas de serviço, e várias estação chegou a ter duas linhas, está completamente arruinada, fa- casas de apoio ao pessoal ferroviá- mais uma linha de cais que servia o zendo um conjunto perfeito de aban- rio. Ainda hoje ali estão os imponen- armazém e a curraleta. dono e destruição a que o ramal está tes silos onde se armazenavam os A arquitectura do edificio de passa- sujeito. Com uma curva à esquerda cereais que depois eram enviados por comboio para outros pontos do país. A estação esteve durante vá- Pedro André rios anos ocupada por elementos que levaram a uma enorme degra- dação do local e de todo o espaço envolvente, e só mais recentemente foi alvo de obras de emparedamen- to de praticamente todos os edificios existentes. No meio do abandono é ainda possivel descortinar as linhas que serviam os celeiros e os silos, as linhas de serviço e os pormenores que identificavam esta como sendo uma estação inserida no meio rural intimamente ligada ao modo de vida habitual das populações que duran- te décadas usufruiram do comboio. Vários cais cobertos e descobertos, a curraleta e outros aspectos fazem nos voar a imaginação para os tem- pos de grande movimento que Mou- O armazém e a curraleta vão resistindo ra viveu enquanto “dona” do ramal.

Nota: Este texto foi escrito com Pedro André base nos vários passeios efectuados entre 2008 e 2012 a diferentes tro- ços do ramal, sendo que alguns dos pontos acima referidos apenas são acessiveis de modo pedonal e pode- rão ter havido algumas alterações a nivel da infraestrutura. No entanto aqui fica “lançado” o de- safio para que se possa partir à des- coberta de mais um ramal ferroviário abandonado como tantos outros que existem no país, e que fazem parte da história recente.

Fontes:

- Gazeta dos Caminhos de Ferro; - Fórum Portugal Ferroviário; - Livro “Os Comboios em Portugal, volume V” Ramal de Moura, já sem ligação à rede

15 Passeios Ferroviários

Pedro André

Correndo em solidão, o ramal permanece igual a si próprio como que parado no tempo!

Pedro André

16 Cais de embarque

Carlos Loução Passeio pela praia Carlos Loução

no após ano, o Transpraia tem sido votado ao esquecimento pelas entidades municipais e governamentais e, Apor arrasto, pelos utentes das praias da Costa da Caparica. Depois de anos a fio a transportar pessoas entre a Fonte da Telha e a Costa, esta ferrovia decauvilleana corre sérios riscos de desaparecer de vez do cada vez mais diminuto mapa ferroviário português. Para que não caia no esquecimento, depois do artigo na Trainspotter nº 13, nada como recordar uma viagem.

Todos os anos surgem notícias sobram. Poder-se-á apontar que o sível fazer esse trajecto via ferrovi- de que o Transpraia vai deixar de preço dos bilhetes é proibitivo (7,5€ ária. Eram perto de 14h50 quando circular, derivado das receitas dos é quanto custa um bilhete de ida e chegámos ao abrigo metálico cober- bilhetes não chegarem para as des- volta de duas zonas) e afasta mui- to com lona branca, colocado ao pé pesas, da falta de apoios da Câma- tos dos potenciais utentes, mas o das duas linhas, das agulhas e da ra Municipal de Almada, do projecto facto mantém-se: o afastamento do rotunda que assinala o fim da linha. POLIS que matou o Transpraia ao Transpraia da costa da Caparica foi O comboio chegou pouco depois, mover o terminal do centro da vila um rude golpe na vida da pequena com a locomotiva nº 3 à frente, de da Costa da Caparica para a zona companhia que, desde 1960, vai as- pintura azul e branca, e duas carru- da Nova Praia, com a promessa – segurando este serviço. agens com meia-dúzia de passagei- eternamente adiada – de voltar à Mas adiante. Com todas estas ros. Assim que a composição se de- zona baixa quando as obras estives- condicionantes, numa quente se- teve, trata-se logo de desengatar a sem concluídas. E se, nos tempos gunda-feira de Agosto de 2011, eu locomotiva, levá-la à rotunda, girá-la áureos, as composições de quatro mais um amigo predispusemo-nos a no novo sentido da marcha, coloca- carruagens andavam lotadas, mes- fazer o passeio de Transpraia desde -la na outra linha da estação, levá-la mo a motivar desdobramentos, hoje a Fonte da Telha até à Nova Praia à agulha de entrada, virar a agulha, em dia, duas carruagens chegam e e voltarmos, enquanto ainda é pos- meter a locomotiva à frente das car-

A chegada à Nova Praia, com um comboio já posicionado para partir no sentido oposto

17 Cais de embarque ruagens e voltar a engatar o conjun- to. Todo este processo não demora mais de cinco minutos, tempo em que os poucos passageiros se vão acomodando nos bancos de madeira da carruagem – que possuem apoios de costas manobráveis consoante o sentido da marcha. Às 15h, mais coisa menos coisa, o maquinista dá um pequeno toque na buzina e arrancamos. Connos- co, vão mais cinco passageiros, es- palhados pelas duas carruagens. À medida que a locomotiva de motor “Schoma” vai acelerando, vamo-nos apercebendo que o conforto daque- le meio de transporte é inexistente: para além dos lugares em madei- ra serem duros, o estado da via há muito que deixou de ser adequado. E, normalmente, isso para mim seria A inversão da locomotiva, na Fonte da Telha algo a evitar. Aqui, ao invés, neste comboio, neste ambiente, não me afecta minimamente: diria que faz parte do encanto e do charme deste meio de transporte que já ultrapas- sou o meio-século de idade. Do lado direito, deixam de se ver carros ou tão-pouco a estrada de ter- ra batida proveniente do centro da Fonte da Telha: estamos a chegar às praias praticamente inacessíveis desta língua arenosa que se esten- de da Trafaria até para lá da Lagoa de Albufeira, praias essas que, por isso mesmo, são poiso frequente de nudistas. Aparece-nos o cobra- dor à nossa beira: dizemos-lhe que queremos dois bilhetes de ida e vol- ta para a linha toda, pagamos-lhe e ele dá-nos os bilhetes, fazendo um pequeno rasgão numa das pontas e avisa-nos que o último comboio para Encontro de comboios na praia do Castelo a Fonte da Telha sai às 19h. Agrade-

Um cruzamento na Praia do Castelo, em 2009

18 Cais de embarque cemos e ficamos a vê-lo dirigir-se -nos de mais uma placa de para- praias acessíveis por automóvel. para as filas da frente agarrado aos gem: aproximamo-nos da “Praia 19”, A primeira das quais é a praia ferros da carruagem pois, para mu- baptizada assim, precisamente, por da Bela Vista, marcada com o nú- dar de fila, tem de o fazer por fora da causa do Transpraia, e uma praia mero 17 e baptizada como “Casa carruagem, pois não existe comuni- bastante procurada pela comuni- da Praia”, pelo restaurante situado cação entre os lugares – nem entre dade homossexual. Perto da placa à sua beira – à semelhança de mui- as carruagens. está um passageiro, que nos faz si- tas outras paragens – entra mais um Passamos por uma placa branca nal para parar. Detemo-nos durante passageiro: ainda não chegam à de- com o número ‘20’: é a Praia Azul, alguns segundos, o tempo suficiente zena, no total das duas carruagens. aqui não está ninguém à espera do para aquele se sentar, o maquinista Ali as praias são todas umas encos- comboio. O comboio não se detém toca a campainha e voltamos a cor- tadas às outras, por isso, é num ápi- – apenas o faz se houver gente para rer pelo carril fora. ce que passamos pela Nova Vaga entrar ou sair – e continuamos aos Ainda se demora algum tempo (ou “Tartaruguinha”, como aparece saltinhos pela linha fora, a ver o mar até se chegar à próxima praia com no esquema) e chegamos a um dos do lado esquerdo e as dunas e a Ar- paragem; passamos pela porção de pontos de cruzamento, uma curta ex- riba Fóssil da Costa da Caparica do areal denominado como “praia das tensão com duas linhas, onde circu- lado direito. Malvinas”, que, em tempos, também lações em sentidos opostos podem Aqui e ali, do lado das praias, teve direito a paragem mas que já passar uma pela outra sem proble- lá se avista um banhista, mais ou a perdeu há muito tempo. Até que mas; contudo, aqui, não há comboio menos descascado. Aproximamo- o isolamento acaba: chegamos às nem nós fazemos paragem, e assim passamos a toda a velocidade (ou seja, a uns 30 km/h). Ainda assim, avista-se uma travessa de cimento espetada no areal ao lado dos carris, com “km 4” escrito a vermelho, qua- se passando despercebido ao olhar dos passageiros. A praia do Infante é a seguinte, mas é um caso estranho, pois esta não tem direito a placa numerada; ainda assim, duvido que o Transpraia não faça aqui paragem – se bem que, desta vez não é o caso, pois não há quem queira entrar ou sair aqui. Quando começamos a avistar a placa com o número ‘15’, na praia da Sereia, ou “Waikiki”, o maquinista começa a abrandar: há gente para entrar. Uma família com duas crian- ças faz sinal, ainda com o comboio ao longe, e tomam lugar na segunda carruagem, quase nos últimos luga- res. Um bocadinho mais composto, o Transpraia arranca mais uma vez. Nas carruagens, apesar do des- conforto causado pelos duríssimos assentos e pelos altos e baixos da via, há de tudo um pouco: há quem vá olhando a paisagem, vendo a praia, ou os arbustos, e ao longe a ravina, há quem vá conversando, e também há quem vá tirando fotos ao que se avista dos carris – o que é o nosso caso. Então, ouve-se uma campainha tocar: alguém quer sair na próxima praia. Cada carruagem está dotada de botões no topo das mesmas, ligados à campainha colo- cada perto do maquinista, um pouco como os autocarros de há uns anos atrás (hoje em dia, logicamente que, na rodovia, esse sistema sofisticou- -se). À passagem da Praia Morena (“Borda D’Água”), o comboio detém- -se e um dos passageiros provenien- O loop da Praia do Infante, em 2009.

19 Cais de embarque te da Fonte da Telha apeia-se. Aqui nosso lado direito, onde estão mais já sentadas. Às 15h24, o comboio ninguém embarca, e logo seguimos três pessoas junto da placa nº 9 da detém-se, com quinze passageiros viagem. Passamos por mais duas praia da Riviera – diferente das ou- no interior das duas carruagens; to- placas de paragem, a da praia do tras por ser mudança de zona. Nes- dos eles se apeiam com o final da Rei (ou “Hula Hula”) e a praia da te momento, estão quinze pessoas viagem. Princesa, quase encostada à ante- dentro das duas carruagens, fora o Depois de tirarmos umas fotos rior e uma paragem recente – tão cobrador. à manobra e à estação, decidimos recente que a sua placa de paragem Entramos então na primeira zona, regressar no último comboio em di- nem tem número. Não paramos em e a praia nº 8 está logo ali, quase recção à Fonte da Telha; e, depois nenhuma delas. colada à da Riviera: praia do Forte, de uma tarde passada numa das De seguida, a linha faz uma curva logo seguida da praia da Mata – ou inúmeras esplanadas da Costa da ligeira à esquerda, e surge a placa nº “Bar da Fonte”. Tanto numa, como Caparica, às 18h55 lá estávamos 12, que assinala a praia da Cabana na outra, não há gente para entrar nós já a sentarmo-nos nos bancos do Pescador. Aqui não sai nem en- nem para sair. A partir da praia da de madeira das carruagens. Havia- tra ninguém. Para além das placas Mata, após mais uma ligeira curva à -se levantado uma brisa algo inco- de paragem, também vemos outras esquerda, a paisagem do nosso lado modativa, com algumas nuvens no placas ao longo da linha, colocadas direito muda, pois entramos na zona horizonte. Iria ser a locomotiva nº 4 sempre que há carreiros ou locais dos parques de campismo. Do lado a traccionar o nosso comboio, e, ao por onde seja frequente as pessoas esquerdo, começam a aparecer as invés do que acontecera na ida, não passarem a linha: placas encarnadas casinhas de madeira dos pescado- se vislumbrava mais ninguém que de passagem de nível, com a célebre res, algumas ainda em uso, outras quisesse ir de comboio. E, efectiva- inscrição “Pare, Escute e Olhe”. apenas utilizadas durante o Verão, e mente, às 19h, quando a composi- Mesmo antes de chegarmos à ainda outras já sem dono. ção saiu da Nova Praia, nós éramos próxima paragem, a praia do Caste- A paragem nº 6, da praia do Clu- os únicos passageiros. lo, o comboio abranda: aqui há mais be de Campismo do Piedense (sem A viagem de regresso foi mais um troço de via dupla, para cruza- acesso via automóvel), é atravessa- desinteressante: já era tarde, e, ape- mentos, e nós entramos na via da da sem que o comboio altere a sua sar de ainda se vir a ter mais uma esquerda, lentamente, pois na outra velocidade; logo a seguir, a praia hora de Sol, pelo menos, a aragem está outro comboio parado, à nossa da Cornélia, com mais um parque já havia feito muita gente ir-se em- espera para poder retomar viagem. de campismo ao lado – desta feita, bora. E, dos que partiam naquela O cobrador, que seguia viagem na o Clube de Campismo de Lisboa – altura, ninguém apanhou o comboio. traseira do comboio, apeia-se e vira também não tem passageiros. Uma Assim foi que só viríamos a parar no a agulha, por forma a permitir a saí- quase imperceptível curva à direita e desvio da praia do Castelo – e ape- da do comboio que vai em direcção estamos na praia da Saúde (apesar nas por causa do cruzamento com o à Fonte da Telha; à nossa frente, a de, na lista das praias disponível na comboio que rumava à Costa da Ca- agulha norte daquele desvio também antiga bilheteira, hoje armazém dos parica e que, por acaso, até ia razo- já está feita para o nosso comboio. funcionários, situada na Nova Praia, avelmente bem preenchido, acima As suas duas carruagens têm menos a paragem nº 4 referir-se ao “Golfi- das quinze pessoas, sensivelmente; gente que as do nosso comboio – nho” e a nº 3 à praia da Saúde). Ao dava ideia que, às horas de saída da uma mão-cheia de passageiros, se lado direito, temos o terceiro parque praia, o movimento dos passageiros tanto. Há quem tire fotos ao nosso de campismo da viagem, o Clube de é mais acentuado no sentido Fonte comboio, do nosso comboio há quem Campismo do concelho de Almada. da Telha – Costa da Caparica. Só na fotografe o deles. Então, ambas as Com mais uma ligeira curva à es- praia 19 é que lá apareceu um pas- composições seguem caminho rumo querda, passamos pela placa nº 3 sageiro para embarcar, chegando o aos seus destinos. e o comboio começa a abrandar: lá grupo de três pessoas mais dois fun- A praia do Castelo também não ao fundo já se vê o final da linha, na cionários à Fonte da Telha por volta tem passageiros para o Transpraia, Nova Praia. Do nosso lado esquer- das 19h20. Ali, algumas pessoas es- e assim continuamos aos saltos pela do, as casinhas acompanham-nos peravam o comboio – mas o tempo linha, já se avistando, ali ao pé, os quase até à agulha de entrada na era escasso, não podendo nós ver edifícios dos restaurantes/bares da estação. Vamos entrar na linha da com quantos passageiros partia o praia da Rainha – durante a minha esquerda (no nosso sentido), pois Transpraia. E assim se deu assim infância, sempre ouvi os mais velhos na outra já se encontra uma compo- como terminado este passeio, espe- referirem-se a esta como a “praia sição à espera de ser horas de par- rando sinceramente que, de futuro, dos ricos”, presumivelmente por cau- tir, com um par ou dois de pessoas seja possível repeti-lo mais vezes. sa do parque de estacionamento ser pago. Tal como nas últimas praias, esta também não tem motivos para a alteração da nossa marcha. Então, passamos pela única obra de arte do percurso, um pontão de cimento so- bre um curso de água que, em meses de Inverno, corre abundantemente para o mar; todavia, estamos em pleno Verão, e agora é apenas um barranco seco e arenoso. Estamos a chegar às oficinas do Transpraia, do O fim da linha... até quando?

20 Balastro

A ponte do Tâmega

Linha do Douro é um dos percursos ferroviários mais Pedro Mêda bonitos em Portugal. Este reconhecimento ultrapassa as nossas fronteiras e não será certamente arrojo excessivo referirA que o mesmo ocupará um dos lugares cimeiros no ranking Pedro Mêda das mais belas viagens de comboio do mundo. A paisagem e toda a envolvente que o Douro proporciona contribuem de forma inequívoca para este estatuto. No entanto, existem outros atractivos nesta linha. Certamente que estes não se destinam a grandes massas. São mais específicos de quem, além da paisagem se debruça sobre a infra-estrutura ferroviária em si e sobre o património que nela reside. São estes aspectos de maior pormenor que iremos desvendar e explorar. Aliás, não faria sentido abordar questões da paisagem, que tão bem são descritas por diferentes autores (cada um à sua maneira) em tantas publicações. Olhemos então para os aspectos dentro da paisagem, mais especificamente para as obras de arte, pontes e túneis da .

A linha tem 212 quilómetros de Grande parte das pontes foi truídos em pedra. extensão (entre Ermesinde e Barca construída com recurso à pedra, Os tráfegos da Linha do Douro D’Alva), dos quais cerca de trinta mais concretamente o granito e ao sempre foram exigentes ao nível das se encontram fora de serviço. Estes ferro. Muitas das soluções eram mis- cargas. Nas mercadorias (tráfegos pertencem à parte final da linha, en- tas conjugando pilares e encontros deveras exigentes), entre os produ- tre as estações do Pocinho e a fron- em cantaria de granito e o tabuleiro tos mais transportados podem refe- teira com Espanha em Barca D’Alva. em ferro. Noutros casos utilizou-se rir-se o vinho do porto (em pipas), Em todo o percurso existem 36 pon- apenas um destes materiais. cimento, cereais e minério, todos tes (incluindo a ponte internacional) O cruzamento da Linha do Dou- materiais transportados a granel e e 24 túneis. ro com o rio Tâmega ocorre ao PK com alguma densidade. Durante os 125 anos de servi- 75, localizando-se entre as estações O aumento da capacidade de ço (construção entre 1873 e 1887) de Livração-Caldas de Canaveses reboque das locomotivas e a capa- algumas destas estruturas, desig- (lado do Porto) e do Marco de Cana- cidade resistente dos vagões impli- nadamente as pontes foram sendo veses (lado de Barca D’Alva). cou alterações às tabelas de carga. substituídas, devido à incapacidade A travessia inicial integralmente Estes factores levaram à evidência de resposta de forma eficiente às em ferro foi projectada e construí- de fortes limitações ao nível da ca- crescentes exigências ao nível das da pela casa Eiffel. Era constituída pacidade resistente dos pilares, di- cargas. por quatro pilares metálicos e cinco tando a sentença desta obra de arte. A ponte do Tâmega é um dos ca- vãos. Os encontros e a base dos pi- A solução passou pela substituição sos onde a situação descrita ocor- lares, sobretudo a dos dois centrais integral da estrutura. reu. situados no leito do rio, eram cons- A nova ponte foi construída ligei-

21 Balastro

ramente a jusante (do lado direito no Autor Desconhecido sentido Porto-Barca D’Alva), distan- do cerca de dez metros da anterior. Totalmente construída em can- taria de granito passou a marcar de uma forma imponente a paisagem daquele local. Com 313 metros de extensão e onze arcos semicirculares, dos quais três (ao centro) com quinze metros de raio (30 m de vão) e oito (nas ex- tremidades) com nove metros de raio (18 m de vão), a ponte garante uma travessia à cota de 60 metros em re- lação ao nível médio das águas do Tâmega (com a linha à cota 97,54 m e o leito do rio Tâmega à cota 38,3 m). Será porventura uma das maio- res pontes deste género em Portugal e sem dúvida a maior da linha. A ponte do Tâmega A primeira ponte ferroviário que atravessou o Tâmega No entanto, não tem um estatuto tão emblemático como outras estru- turas que em momento oportuno ire- mos certamente abordar. Arquivo CP Vários factores contribuem para este facto. O principal está natural- mente associado à sua localização. A Linha do Douro é mais reconhe- cida no troço que se desenvolve ao longo do rio que lhe dá a designação. Esta parte corresponde a pouco mais de metade da totalidade do percurso. Situando-se sobre o rio Tâmega, a montante da imponente barragem do Torrão, as rotas turísticas do Douro não passam por perto. Acresce não se situar próxima de nenhuma das estações referidas, in- viabilizando uma visita a quem viaja de comboio. Mesmo para quem cir- cula de automóvel, os acessos são estradas secundárias com tráfego local. A estrada principal, que liga o Inauguração da nova ponte sobre o rio Tâmega em 1947 Porto ao Marco de Canaveses, não permite grande visibilidade, passan- do despercebida a quem por ali cir- cula. No que diz respeito à sua constru- ção, a escolha do material prendeu- -se com motivos que se encontram bem explícitos na reportagem sobre a inauguração que a seguir se trans- creve. Este tipo de estruturas, embo- ra tenham um custo de construção bastante significativo, apresentam várias vantagens ao longo da sua vida útil. De todas, realça-se o facto fornecer um apoio contínuo, permi- tindo o assentamento da via sobre balastro. Têm também menores ne- cessidades ao nível da manutenção, comparativamente com as pontes metálicas. O Boletim da CP de Dezembro de 1947 apresenta uma breve notícia sobre a inauguração, do qual se re- Múltipla de automotoras 0600 na ponte do Tâmega, Julho de 2009

22 Balastro tiram os seguintes excertos: aprovado pelo Governo. A constru- com o corte da fita simbólica pelo Sr. “No período de ressurgimento ção da ponte, na qual se consumi- Ministro das Comunicações…” que vimos atravessando, os cami- ram 9.000 contos, foi custeada pelo A notícia, embora sintética, apre- nhos de ferro têm sido largamente Fundo Especial de Caminhos de senta alguns aspectos interessantes. beneficiados, não só com a cons- Ferro.” O momento de pós-guerra que a Eu- trução de linhas férreas, oficinas e “É curioso notar que tanto mão ropa atravessava, afectou todos os casas para o pessoal, mas com a de obra como os materiais emprega- países, e Portugal não foi excepção, substituição das antigas pontes, al- dos na construção desta ponte são embora não tenha estado directa- gumas das quais dificilmente supor- inteiramente portugueses. mente envolvido. A forma de continu- tavam o tráfego actual.” Para inauguração deste impor- ar o desenvolvimento tinha de pas- “A C.P. como arrendatária das tante melhoramento, deslocou-se ao sar obrigatoriamente pelas soluções antigas linhas do Estado, estudou norte do país o Sr. Ministro das Co- internas e pela utilização dos recur- a substituição da antiga ponte me- municações, que era acompanha- sos locais. tálica, chegando à conclusão que a do do Director Geral de Caminhos Durante este tempo tem permitido nova ponte devia ser de alvenaria, de Ferro, Eng.º Rogério Ramalho, a passagem de composições a uma o que além de vantagens de ordem Administrador Eng.º Mário Costa, velocidade de 90 km/h. técnica, evitaria a saída de ouro para Director Geral da C.P. Eng.º Espre- Próxima de assinalar 65 anos de fora do país. gueira Mendes…” idade, desde 2006 que sofreu uma O projecto da ponte foi executa- “A viagem entre Campanhã e alteração na sua aparência, mais do no Serviço de Estudos da Divisão Marco foi feita em automotora e concretamente a construção de seis da Via e Obras da C.P., tendo sido inaugurada a “Ponte do Tâmega”, cintas de betão armado pré-esforça- do no pilar mais próximo da margem direita, ou seja no terceiro pilar da ponte a contar do lado do Porto. A construção destas cintas são a face mais visível de uma interven- ção que teve como objectivo a reali- zação de trabalhos de consolidação das fundações, reforço estrutural do referido pilar e a protecção das fun- dações dos pilares em contacto com a água. A construção da Barragem do Torrão em 1988, veio alterar as condições hidrográficas do rio, no- meadamente a velocidade do rio e o nível das águas. Sumariamente, a construção das cintas à volta do pilar têm como objectivo impedir a progressão de fissuras que estavam a surgir,devido a deslocamentos de uma parte do mesmo. 1960 com um mercadorias para Godim em Junho de 2011 A intervenção realizada permitiu restabelecer todas as condições de segurança e reforçar as fundações face às condições actuais do rio Tâ- mega. Uma ponte que sem dúvida mere- ce uma visita.

Fontes:

Comboios em Portugal – Do Vapor à Electricidade – Vol. I Boletim da CP nº 217 a 222 Engenharia e Vida Nº 30

Passagem de um 592 em Junho de 2011

23 Cavalos de Ferro

As últimas 2500...

O comboio 77232 Irivo - Gaia, em Águas Santas

João Cunha João Cunha

009 foi o último ano da carreira comercial das até à curva de Águas Santas, onde não raras vezes 22550, após mais de 45 anos de intensos e tinha visto passar estas locomotivas, em dias leais serviços na rede nacional. muito mais bonitos e com comboios muito mais impressionantes. A entrada ao serviço das 4700 dizimou-as no início do segundo trimestre do ano, e já a baixa do Às 17h10, a típica buzina destas locomotivas tráfego de mercadorias que ocorreu no final de 2008 faz-se ouvir no apeadeiro. E segundos depois, tinha feito as primeiras vítimas. O tempo escapava- o momento tão aguardado, com a 2560 e 2557 se com a mesma velocidade com que anos a fio a posarem para o fotógrafo diante de uma estas simpáticas locomotivas carregaram uma composição de vagões areeiros vazios. parte da nossa economia pelos carris deste país. A fotografia ficou uma desgraça. Mas não é mais Lembro-me como se fosse hoje dos últimos repetível. Três dias depois, este mesmo par de dias da série, no final de Março. E lembro-me locomotivas, abandonou de vez o Norte do país, particularmente de uma tarde em que, de forma à frente do comboio Valença – Alcântara, com imprevista, duas 2550 foram parar a um comboio contentores. No fim de semana seguinte, a 2557 de mercadorias de Irivo. já não saiu do Entroncamento. E uma semana mais tarde, a 2560 juntou-se ao cortejo fúnebre Meia dúzia de telefonemas, e confirmava- nas linhas da Fernave, também no Entroncamento, se: 2557 e 2560 em Irivo! O dia estava cinzento, juntamente com as últimas irmãs que também como que anunciando as trevas que se haveriam cessaram funções nesse dia 17 de Abril. de abater sobre a série dias mais tardes. Nestas alturas, as condições climatérias não são elementos Dos cerca de cinco milhões de quilómetros que de ponderação para sair para fazer fotografias. Tal qualquer uma destas duas locomotivas percorreu, como seria impossível negar um copo de água, os 36 quilómetros que possibilitaram esta fotografia mesmo que turva, no meio do deserto. foram talvez dos mais insignificantes. Mas o último fôlego tem sempre o condão de deixar mais Pouco antes das 17h, com uma pontualidade saudades. Não me importava de voltar aos dias britânica, 77232 Irivo – Gaia lançava-se na linha chuvosos que faziam reluzir o inox canelado destas do Douro, rumo ao seu términus. Ainda não estava locomotivas. no local certo, e apressadamente acelerei o passo

24 Cais de Mercadorias

Terminal de Mercadorias do Fundão

Ricardo Quinas O terminal de mercadorias do Fundão situa-se sensivelmente quatro quilómetros a norte desta localidade, adjacente à zona industrial. A operação de mercadorias encontra-se concessionada pela CP Carga. José Sousa

O ramal ferroviário de acesso inse- quer circulação regular com destino plataforma abertos mas nos últimos re-se a norte da estação do Fundão, ao mesmo, tornou-se muito raro al- meses foi possível registar também ao PK 149.5 da guma circulação se dirigir até lá. De a visita de vagões fechados (His e e estende-se por um quilómetro até notar que até 2009 chegaram a exis- Gabs) a assegurarem o seu trans- ao início do feixe de linhas, comple- tir dois comboios regulares aos dias porte. tando quase dois quilómetros no ex- úteis com destino ao mesmo, acres- Para a história ficou já o movimento tremo do terminal. cendo ainda outro comboio que cir- de adubos, de resto uma mercadoria O terminal dispõe de três linhas, culava apenas aos sábados. praticamente extinta da circulação sendo duas delas electrificadas na No que se refere às mercadorias, sobre carris a nível nacional. Como sua extensão total e a terceira linha actualmente apenas há a assinalar a registo, também já se carregou mui- sem dispor de catenária. Foi a partir descarga de areia e de cimento em to esporadicamente balastro. de Outubro de 2011 que a tracção palete, tendo no seu conjunto pouco O carregamento de madeira de eléctrica assumiu a operação ferro- relevo em termos de carga total, ou eucalipto que até há poucos anos viária por completo, em detrimento seja, raramente ultrapassando es- se assumiu com grande expressão, da tracção diesel, sobretudo das lo- cassas unidades de vagões. foi afectado pela crise e desde en- comotivas 1550 que durante muitos O movimento de areia atingiu o tão apenas se tem vindo a realizar anos foram presença habitual. Em seu auge nos anos da construção da de forma muito pontual ao longo do termos de equipamentos este ter- auto-estrada da Beira Interior (A23) tempo. minal apresenta um fosso para des- e hoje em dia goza do desinteres- O declínio do movimento de mer- carga de areia e uma balança para se da CP Carga, fruto da sua baixa cadorias na Beira Baixa, associada à pesagem de camiões. rentabilidade, associada neste caso racionalização progressiva dos tráfe- No que se refere a tráfego, o termi- em particular à descarga limitada a gos da CP Carga e ainda os proble- nal de mercadorias do Fundão tem apenas três vagões de cada vez, de- mas de falta de pessoal para realizar vindo a registar um declínio significa- vido ao facto do fosse se situar no comboios com destino ao Fundão tivo de mercadoria movimentada ao extremo do terminal e que torna a ditam um futuro muito incerto, cor- longo dos anos, atingindo mesmo o operação muito demorada. rendo mesmo o sério risco dos carris pico mais baixo dos últimos tempos. O cimento tradicionalmente era deste terminal da Cova da Beira fica- Hoje em dia além de não haver qual- transportado sobretudo em vagões rem praticamente ao abandono.

Mercadorias no Terminal de Mercadorias do Fundão, Maio de 2011

25 Spotting

IR Valença - Porto, à saída do túnel de Carreira, Julho de 2011

Ricardo Ferreira

26 Figura do Passado

Principais Caracteristicas

Numeração: CP 553 Numerações prévias: CFS 303, CP/SS 1503 Construtor: Henschel & Sohn Numeração de fábrica: 19828 Data de construção: 1924 Comprimento: 20,890 m Largura: ? m Altura: 4,412 m Peso (ordem de marcha): 130,395 t Disposição dos rodados: 4-6-2 Velocidade máxima: 120 km/h Esforço de tracção (arranque): 8974 kgf Potência nas rodas: ? Cv

Fontes: Documentação CP; O Foguete; LusoCarris.

Fotografia: D. Michel Costes Fonte: www.railpictures.net Em final de carreira, a 553 foi passar pelo menos dois anos a Contumil, Abril de 1969

CP 553

Ricardo Ferreira

O mês de Setembro fica marcado pela transferência para o MNF da única Pacific portuguesa que restou até aos nossos dias. É, nesse sentido, a altura justa para a locomotiva em questão surgir como “Figura do Passado”.

A 553 fez parte de um conjunto 500), uma vez que à data algumas na Linha do Douro até à Régua. Fez de dez locomotivas (série 551 a 560) Pacific da rede de sul foram desloca- também comboios de mercadorias, adquiridas em 1924 a título de repa- das para o depósito de Campolide, principalmente com composições de rações da I Grande Guerra Mundial, devido a uma lacuna de material de madeira na , embora com assinatura de fábrica Henschel tracção naquele depósito. não fosse esse o melhor destino a & Sohn. Foram entregues aos Cami- Durante os anos ‘40, a 553 so- dar a esta máquina. nhos de Ferro do Estado Sul e Sues- freu o processo de fuelização (até ali Como era das locomotivas que te, inicialmente com a numeração queimava carvão) e acabou por pas- exigia manutenções complicadas e CFS 301 a 310, e daí colocadas no sar as décadas de ‘50 e ‘60 ao ser- tinha limitações na rotunda de Bar- depósito do Barreiro. viço do Barreiro, depósito que tinha ca d’Alva (razão pela qual raramente De rodado Pacific (4-6-2), com a fama de tratar impecavelmente as passava da Régua), viria a ser apa- rodas motoras de 1.900 mm, possi- 550. As pontes a Sul foram refor- gada em finais de 1971 (chegou a bilitavam composições de 400 tone- çadas durante os anos ‘40, daí que 1972?) e foi entretanto enviada para ladas a velocidades sustentadas de a margem de manobra para a 553 o Entroncamento, aparentemente 120 km/h em patamar e foram consi- foi estendida até Vila Real de San- com destino de abate. Devido a for- deradas por muitos as jóias do vapor to António. O Rápido do Algarve foi ças entusiastas acabou por se salvar em Portugal (juntamente com as 500 provavelmente o comboio que mais e foi recuperada cosmeticamente e – muito semelhantes), até pela pró- dignificou esta locomotiva. colocada durante alguns anos em pria Companhia. Manteve-se ao serviço nos prin- pedestal à porta da secção muse- A 553 entrou ao serviço na rede cipais comboios para o Alentejo e ológica de Santarém. Presente às do Sul e Sueste, mas devido ao seu Algarve até meados da década de intempéries, foi-se degradando, até elevado peso (130 toneladas) foi, ‘60 e entretanto começou a perder à data em que (por passar a caber nos primeiros anos, apenas utilizada importância, surgindo à frente de dentro da referida secção) foi restau- nos comboios para o Alentejo, até comboios para o Montijo ou para rada e guardada na secção. Beja (Correios e Onibús). Praias-Sado. Hoje, à falta de unidades da série A partir de 1927, com a integração Devido à falta de material vapor 501 a 508 (mais utilizadas na e Sueste na Companhia dos no depósito de Contumil, a 553 foi do Norte), a 553 representa o expo- Caminhos de Ferro Portugueses, é deslocada para o norte do país em ente máximo da tracção vapor em possível que tenha sido deslocada 1969, altura em que o vapor a Sul Portugal e vai finalmente merecer para Lisboa para dali surgir à fren- acaba. Ali era frequentemente utili- um lugar no MNF. te dos principais comboios na Linha zada na Linha do Minho nos serviços do Norte (juntamente com as 350 e semi-directos e em alguns comboios

27 Comboio Miniatura

Locomotivas Euro 4000

João Joaquim e Álvaro Sousa Sudexpress Scale Model Trains

s locomotivas Euro4000 são locomotivas As principais características destas locomotivas diesel-eléctricas de linha de grande porte, são: fabricadas pela Vossloh na sua unidade • Comprimento: 23,02m emA Valência, Espanha. Estas locomotivas têm, • Peso: nos últimos anos, sido adquiridas por companhias - Mercadorias: 123 ton ferroviárias um pouco por toda a Europa para o - Passageiros: 126 ton transporte de mercadorias e passageiros. Tal facto • Esforço de Tracção: deve-se às suas características e boas prestações, - Mercadorias – 400 kN que as tornam versáteis e fáceis de operar. - Passageiros – 325 kN • Motor: EMD 16-710 G3C-U2 A primeira locomotiva Euro4000 foi apresentada • Potência do motor: 3178 kW (4262 cv) em 2006, pertecendo actualmente ao operador • Motores de tracção: 6x D43 ferroviário espanhol Comsa Rail com o número de • Tipo de Rodado: Co’ Co’ série 335.001. • Velocidade Máxima: - Mercadorias - 120km/h Em Portugal é possível ver em circulação as 7 - Passageiros – 160 km/h locomotivas deste modelo pertencentes ao operador • Tipo de Freio: dinâmico (electro-pneumático) e Takargo, assim como duas do operador Comsa Rail. de disco. Em 2009 foi ainda possível ver circular em Portugal uma locomotiva pertença da empresa de aluguer de Até 2011 tinham sido fabricadas 71 unidades material circulante Angel Trains (actual Alpha Trains) deste modelo, quer em bitola ibérica, quer em bitola afecta à Takargo em compensação pelo atraso europeia. na entrega das locomotivas encomendadas pela Takargo por parte da Vossloh.

28 Comboio Miniatura

Modelo à escala reduzida

Pormenores do modelo

empresa portuguesa Sudexpress Scale Model para download na página do fabricante – www.sudex- A Trains lançou recentemente no mercado a ver- pressmodels.com) com relativa facilidade, graças ao são miniatura das locomotivas Euro4000 à escala H0 espaço livre destinado de origem para o efeito. (1:87), no esquema da Takargo. Os restantes esque- Como já vem sendo habitual nos modelos de loco- mas existentes para estas locomotivas serão lançados motivas lançados nos últimos anos pelos diversos fa- brevemente e de forma faseada. bricantes mundiais, as Euro4000 da Sudexpress Scale O modelo é apresentado numa caixa robusta e de Model Trains possuem luzes brancas e vermelhas re- grande qualidade, pelo que a protecção do modelo é versíveis consoante o sentido da marcha. Têm, ainda, elevada. Dentro da caixa é possível encontrar a loco- iluminação na cabina também consoante o sentido da motiva devidamente travada por apoios nas frentes e marcha, independente da iluminação dianteira e aces- nas laterais. Assim, a locomotiva não balançará dentro sível através de função auxiliar do decoder. da caixa, evitando que peças de detalhagem se estra- As peças de detalhagem para pormenorizar a loco- guem. motiva são enviadas numa embalagem à parte, pelo Dimensionalmente o modelo cumpre rigorosamente que deverão ser montadas no modelo por quem o de- a escala não havendo diferenças significativas face à sejar. Para tal basta seguir a instruções que acompa- conversão das medidas do protótipo real. Estamos pe- nham todo o conjunto. rante uma redução bastante fiel do original, algo que De notar e agradecer o pormenor do fabricante ao nem sempre é possível de forma a conseguir um com- juntar às peças de detalhagem dois eixos sem aros de promisso entre fidelidade e operacionalidade. aderência que possibilitam a troca dos dois eixos com A caixa das Euro4000 da Sudexpress Scale Model aros de aderência que vêm montados de origem. Trains é em plástico injectado de elevada qualidade, Embora melhorem o esforço de tracção dos mode- sendo a pintura e a tampografia de excelente acaba- los, os aros de aderência tendem a sujar os carris e a mento e detalhe. As inscrições presentes respeitam as degradarem-se com o tempo, sendo necessária a sua existentes no protótipo real, inclusive as de menor di- substituição sob pena de as prestações do modelo bai- mensão. xarem consideravelmente. Estas locomotivas possuem um bastidor em metal Num modelo com um peso elevado (cerca de 625 onde assenta o seu robusto motor ESU de 5 pólos, gramas) e um motor robusto, como é o caso das sendo a transmissão efectuada a todos os 6 eixos atra- Euro4000 da Sudexpress Scale Model Trains, o esfor- vés de cardans e cascatas de engrenagens. De notar ço de tracção é elevado pelo que a ausência dos aros que o rolamento deste modelo é suave, inclusive a bai- não será notada nas prestações do modelo. xas velocidades. Tendo em consideração o nível de detalhe apresen- As locomotivas são entregues em versão analógi- tado, a qualidade de fabricação, a excelência da mecâ- ca, estando preparadas para fácil digitalização através nica e o cuidado na embalagem estamos perante uma da colocação de um decoder de 21 pinos na ficha que peça de modelismo fantástica e que deixará feliz quem existe para o efeito. É, ainda, possível instalar um de- seja seu proprietário. coder com som (o ficheiro com o som está disponível

29 Comboio Miniatura

Aspectos do modelo

Netgrafia:

Wikipédia www.en.wikipedia.org/wiki/Vossloh_Euro Portugal Ferroviário www.portugalferroviario.net/forum/viewtopic.php?f=59&t=5165 www.portugalferroviario.net/forum/viewtopic.php?f=59&t=5166 www.portugalferroviario.net/web/reports/euro4000.pdf Vossloh www.vossloh-espana.com/en/products/diesel-electric_locomotives/ euro4000/euro4000.html

30 Estação Terminal

Curtas

useu Nacional Ferroviário e Avasocial Mcelebram protocolo de voluntariado No dia 25 de Setembro, a Fundação Museu Nacional Ferroviário e a Avasocial (Associação Voluntariado e Acção Social do Entroncamento) celebraram um protocolo de colaboração relativamente ao voluntariado. Exposição Este protocolo pretende permitir a colocação de voluntários nos 125 anos da Linha do douro serviços do museu, recrutados pelo Banco Local de Voluntariado do Entroncamento, que realizarão de forma directa ou indirecta om o intuito da celebração dos 125 acções de ajuda ao público alvo do museu. Os voluntários serão Canos da Linha do Douro, a AVAFER enquadrados em programas específicos e serão selecionadas (Associação Valonguense dos Amigos as pessoas que apresentem competências operacionais para a da Ferrovia) em conjunto com a Câma- actividade em concreto. ra Municipal de Valongo organizaram no Apesar de não ter ficado bem claro que tipo de áreas abrange este protocolo, é no entanto um dado importante para a preservação passado mês de Setembro uma exposi- ferroviária em Portugal, na medida em que o exemplo no estrangeiro ção fotográfica dedicada aos ferroviários apresenta-nos inúmeros exemplos bem sucedidos que recorrem ao que arduamente laboraram nesta linha de voluntariado. caminho-de-ferro e àqueles que viveram Fonte: www.entroncamentoonline.pt e testemunharam os tempos saudosos do comboio. A exposição foi composta por imagens Exposição: 130 anos da Linha da Beira Alta alusivas ao comboio a circular na Linha do Douro, com alguns registos fotográficos arregal do Sal é pela segunda vez a localidade para a realizados no tempo do vapor nesta região Cexposição ferroviária dos 130 anos da Linha da Beira Alta. de Trás-os-Montes. A exposição, que em parte também já passou pela Pampilhosa e Arazede, vai estar patente até ao dia 27 de Outubro no Museu Municipal de Carregal do Sal, desta vez com muitas novidades em matéria ferroviária, principalmente em documentação até agora Módulos Maquetren Porto desconhecida e cedida por diversas entidades e particulares. Além regressam a Lousado do espólio dos entusiastas que ajudaram a nascer a exposição, é possível visualizar, por exemplo, colaborações das Câmaras Nos dias 27, 28 e 29 de Outubro vai-se Municipais da Figueira da Foz, Carregal do Sal, Nelas e Tondela. realizar o 13º encontro do grupo “Mó- dulos Maquetren Porto” no Museu de Lousado, organizado pelos “Módulos de Comboios do Norte”. Mais uma vez haverá a presença do habitual circuito de modelismo, sempre com novas no- vidades.

31