Contar Histórias É Alimentar a Humanidade Da Humanidade Carlos Aldemir Farias
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CATALOGAÇÃO-NA-FONTE BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL-LÚCIA FIDALGO-CRB7/4439 C759 Contadores de Histórias: um exercício para muitas vozes/ Organização Benita Prieto. - Rio de Janeiro: s. ed, 2011. 240p. ISBN 978-85-65126-00-7 1. A arte de Contar Histórias. 2. Contadores de Histórias. I. Prieto, Benita, org. II. Título CDD: 808.068543 22. ed. “Assim definido, o narrador figura entre os mestres e os sábios. Ele sabe dar conselhos: não para alguns casos, como o provér- bio, mas para muitos casos, como o sábio. Pois pode recorrer ao acervo de toda uma vida (uma vida que não inclui apenas a própria experiência, mas em grande parte a experiência alheia. O narrador assimila à sua substância mais íntima aquilo que sabe por ouvir dizer). Seu dom é poder contar sua vida; sua dig- nidade é contá-la inteira. O narrador é o homem que poderia deixar a luz tênue de sua narração consumir completamente a mecha de sua vida. ” O Narrador. Walter Benjamin. prosas ....................................................................prosa de abertura 13 Contação de estória: vida e realidade Affonso Romano de Sant’Anna ............................................................................................) 19 Contar histórias é alimentar a humanidade da humanidade Carlos Aldemir Farias 25 Contos indígenas: uma experiência com narrativas dos primeiros povos brasileiros Daniele Ramalho 31 Negras histórias (a valorização da cultura oral afro-brasileira) Rogério Andrade Barbosa 37 DeusNumDé: dom da visão Edmilson Santini ............................................................................................( 45 Vozes, corpos e textos nos vãos da cidade Júlio Diniz 49 Muitas vidas, muitas vozes, muitas histórias Júlio Diniz & Morandubetá 59 Impressões de uma contadora de histórias – meu encontro com a arte narrativa Bia Bedran 67 A terceira margem da cena José Mauro Brant 73 A voz quente do coração do rádio Gilka Girardello 79 Contando na telinha Augusto Pessôa 85 Cinema: um griot cuja argila é o tempo e a estátua são os atores na fogueira da sala escura Paulo Siqueira 95 Blog, uma janela para o mundo Marcio Allemand 101 Paiquerê Piquiri Fiietó, um experimento com as linguagens Cléo Busatto 105 Duas histórias contadas nos múltiplos caminhos dos Role-Playing Games (RPG) Carlos Eduardo Klimick Pereira & Eliane Bettocchi Godinho 115 Como as histórias foram entrando na minha vida... Ana Luísa Lacombe 121 Da boca da noite para a acolhida na escola Almir Mota 127 Bibliotecas: vozes silenciadas? Nanci Gonçalves da Nóbrega 137 A contação de histórias vivenciada no chão da universidade: um quase relato de experiência Edvânia Braz Teixeira Rodrigues 143 Por onde passo, levo comigo os contadores de histórias Maria Helena Ribeiro 151 Narrativas na empresa Fernando Goldman 157 Fagulhas habitam multidões Célia Linhares 163 Nos caminhos da Maré Lene Nunes 169 Entre hospitais gerais e psiquiátricos: histórias humanas e literárias como um rio de caudaloso fio, tecendo redes de encontros na diversidade de afluências do viver saudável Kika Freyre 177 Contos na prisão: um espaço chamado liberdade Rosana Mont’Alverne 185 Histórias em sinais Lodenir Karnopp 191 Palavras táteis AnaLu Palma ............................................................................................* 196 E eles foram felizes para sempre. Regina Machado 203 O ofício de viver contando histórias Cristiano Mota Mendes 209 O paciente como contador de sua própria história: o olhar de um médico homeopata Conrado Mariano ...............................................................................prosa final 215 As águas da memória e os guardadores da corrente de histórias Maria de Lourdes Soares ............................................................................................& 225 De quem são essas vozes :prosa de abertura Contação de estória: vida e realidade o [Affonso Romano de Sant’Anna] ou arriscar uma definição. oVMais uma. VJá tentaram de várias maneiras dizer o que é que define essencialmente o ser humano. Uns dizem, “homo faber”, porque ele sabe produzir instrumentos industriais de trabalho ou de guerra; outros dizem – “homo economicus”, porque conseguimos estabelecer uma socie- dade baseada na economia, na qual viramos objeto de consumo; outros dizem – “homo ludens”, como Huizinga, e assim estudam o “jogo” pre- 13 sente na guerra, na poesia, no direito, etc. E assim continuam as intermináveis classificações que vêm desde o “homo sapi- ens” até aquilo que levou Cassirer a dizer que o homem é “animal simbólico” (“homo simbolicus”), ou seja, nossa habilidade em forjar símbolos exprime nossas perplexi- dades e faz nossa história. Outro dia li um texto que falava do “homo academicus”, referindo-se a esses indi- víduos com a cabeça ilhada dentro das universidades, falando um “trobar clus” moderno. Todas essas características são verdadeiras. E cada uma é uma maneira de entrar no mistério da natureza humana. Penso se nessa sequência se poderia introduzir um outro traço que nos caracteriza e que não é desprezível. Não vou mais usar a seródia palavra “homo”, isto já prescreveu depois que o feminismo botou por terra muitos preconceitos. Não dá para repetir aquela frase que, dizem, é de Monteiro Lobato: “um país se faz com homens e livros”. Bota mulher nisto. Portanto, falemos de pessoas e de indivíduos incluindo aí necessariamente as mulheres. Então, digo: somos seres que contam e ouvem histórias. E nisto as mulheres, até mais que os homens, são as grandes contadoras de história: mães, babás, tias, avós, madrinhas... Podemos avançar um pouco mais e dizer: o ser humano é não apenas um ser que conta histórias e ouve histórias, mas sobretudo é um ser que faz história. Fazer história é a suprema audácia dos humanos. Os romancistas, os cineastas e os líderes sociais, por exemplo, operam isto mais claramente. Não se contentam em ser atores, querem também ser autores, protagonistas de seu tempo. Portanto, somos seres irremediavelmente históricos. Digo isto e penso: eis uma observação banal. Qualquer pessoa sabe disto, não é necessário ser um erudito para chegar a essa conclusão. Aliás, até os analfabetos, que alimentam seu imaginário de contações de estórias, sabem disto. Então, por que fazer essa observação? Primeiro por uma razão, digamos pleonasticamente, “histórica”. Ou seja, a contação Contadores de Histórias: um exercício para vozes muitas de estórias passou a ser revalorizada de maneira notável nas últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 1980. Uma diversificada bibliografia que permeia diversos ramos do 14 conhecimento nos dá conta de uma verdadeira redescoberta da arte de contar histórias. Isto está até mesmo nos consultórios psicanalíticos, que utilizam a “narratividade” dos clientes como estratégia de tratamento, aperfeiçoando o que Freud há uns cem anos já praticara quando adotou “a cura pela palavra”, revalorizando assim a palavra falada capaz de destravar neuroses e traumas. E isto se tornou tão visível e notável que as universidades se voltaram para este fenô- meno estudando o renascimento da contação de estórias em nossa cultura. Cursos de contadores de história se espalham por todas as partes, ao mesmo tempo em que, parale- lamente, cursos sobre leitura, casas de leitura, secretarias de leitura e até mesmo Cátedras de Leitura (a exemplo da PUC–Rio) começam a ser criados nas universidades. Quer dizer, a leitura e a contação de estórias não apenas estão na moda, mas estão irremediavelmente geminadas. E isto, surpreendentemente, ocorre dentro de uma sociedade televisiva altamente tecnológica, em que o cinema, a TV, a internet e os novos suportes ocupam espaços imensos no nosso cotidiano. Isto sucede numa sociedade que, segundo alguns, reju- bilando-se de cultuar a imagem, desprezaria a oralidade como se ela fosse um suporte primitivo e ultrapassado. Nesse sentido, assim como nos últimos cem anos alardearam tantas mortes em nossa cultura – morte do autor, morte da arte, morte do homem, etc. – seria de se esperar que tivesse ocorrido a “morte” da arte de contar estórias. Não ocorreu. Ocorreu o contrário. Anotemos que uma das falácias de nosso tempo, seduzido pela visualidade, foi dizer que uma imagem vale mais que mil palavras. Será? Ou se poderia dizer o con- trário: uma metáfora, um hai-kai, uma estória valem mais que mil imagens? De qual- quer forma, são afirmativas radicais que não ajudam muito a entender a riqueza do nosso contexto cultural. Penso, para efeito de raciocínio, nuns exemplos concretos, dentro da própria arte da visualidade: o cinema, por exemplo. Poderia citar o caso de um filme nacional, Narra- dores de Javé, de Eliane