Organização: Eduardo Lakschevitz Ensaios – Olhares Sobre a Música Coral Brasileira
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Organização: Eduardo Lakschevitz Ensaios – olhares sobre a música coral brasileira CARLOS ALBERTO FIGUEIREDO Estudou Regência Coral com Frans Moonen, no Conservatório Real de Haia, Holanda. Fez cursos complementares com Jan Elkema e Rainer Wakelkamp na Fundação Kurt Thomas da Holanda. Estudou com Helmuth Rilling na II Bachakademie de Stuttgart e repertório barroco com Philippe Caillard. É regente do CORO DE CÂMERA PRO-ARTE, com o qual tem quatro CDs gravados, com destaque para as obras de José Maurício Nunes Garcia. É professor de Regência Coral e Análise Musical na Universidade do Rio de Janeiro e nos Seminários de Música Pro-Arte. Cursou o Mestrado e Doutorado em Musicologia Histórica Brasileira na UNI- RIO, com pesquisa voltada para a edição de obras de José Maurício Nunes Garcia. É Diretor-Artístico da Associação de Canto Coral do Rio de Janeiro. ELZA LAKSCHEVITZ Fez seus estudos de graduação e pós-graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro nas áreas de composição, regência, piano e órgão. Foi coordenadora do Projeto Villa-Lobos, da FUNARTE, programa responsável pelo apoio e estímulo à atividade coral no país, onde, por quinze anos, promoveu cursos, seminários, reciclagens, concursos e dez edições do Painel FUNARTE de Regência Coral. Dentre os muitos coros que dirigiu destacam-se o Coro Infantil do Rio de Janeiro e o Canto Em Canto, com os quais gravou diversos CD’s, recebeu várias premiações e realizou tournées pelo Brasil, América Latina, Estados Unidos e Europa. Regeu em 1ª audição diversas obras de compositores brasileiros como Ronaldo Miranda, Vieira Brandão, Edino Krieger e Ernani Aguiar, muitas das quais a ela dedicadas. NESTOR DE HOLLANDA CAVALCANTI Nascido no Rio de Janeiro, em 1949, teve dentre seus professores Elpídio Pereira de Faria (iniciação musical), Maria Aparecida Ferreira (leitura e escrita), Guerra-Peixe (composição), Esther Scliar (análise) e Jodacil Damaceno (violão). Como professor, trabalhou no Conservatório Brasileiro de Música, na Escola de Música Villa-Lobos, e no Esquimbau Núcleo de Estudos Musicais. 1 Ensaios – olhares sobre a música coral brasileira Trabalhou no Instituto Nacional de Música da FUNARTE, onde foi pesquisador, revisor musical, arquivista e produtor fonográfico; na Fundação Biblioteca Nacional, onde foi, primeiramente, assessor e, depois, Chefe da Divisão de Música e Arquivo Sonoro; e no Instituto Municipal de Arte e Cultura RioArte, onde foi diretor da Divisão de Música. Foi diretor musical dos grupos Cobra Coral e Garganta Profunda do qual foi um dos fundadores. Tem, ainda, trabalhado como redator, arranjador e produtor de discos. Compôs mais de 300 obras, abrangendo trabalhos para orquestra, música de câmara, coro e canto, com várias gravações e edições, e apresentadas, com freqüência, tanto no Brasil como no exterior. SAMUEL KERR Professor de Canto Coral do Instituto de Artes da Unesp, tem marcado sua carreira artística em trabalhos corais, onde tem experimentado novos recursos de expressão, seja no repertório, seja da maneira de cantar. Nesse sentido foram marcantes seus trabalhos com o Coral da Santa Casa, Associação Coral Cantum Nobile, Cia. Coral, Madrigal Psichopharmacom, Coral da Unesp e em muitos corais comunitários que tem organizado. Samuel Kerr foi regente da Orquestra Sinfônica Jovem Municipal de São Paulo, de 1972 a 1982, e Diretor da Escola Municipal de Música da Prefeitura de São Paulo de 1972 a 1975. Regente Titular do Coral Paulistano, de 1979 a 1983 e de 1990 a 2001. Prêmio APCA 1974 pelo seu trabalho à frente da Escola Municipal de Música e em 1992 como Regente Coral. AGNES SCHMELING Bacharel em regência coral pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e mestre pela UFRGS em Educação Musical. Atua como professora e regente no Projeto Prelúdio da UFRGS e é regente dos Corais Infanto-Juvenil e Juvenil da UNISINOS (Universidade do Vale do Rio dos Sinos). 2 Ensaios – olhares sobre a música coral brasileira Reflexões sobre aspectos da Prática Coral Carlos Alberto Figueiredo Introdução Em 2010, quando este livro for novamente publicado, eu terei completado trina e seis anos de carreira como regente coral, tendo iniciado minha trajetória na Associação de Canto Coral do Rio de Janeiro, que tinha como regente principal Cleofe Person de Mattos, figura marcante na minha formação artística e profissional. Em 2003, ao escrever estas linhas, estou completando vinte anos como professor de Regência Coral, tendo criado minha primeira turma nos Seminários de Música Pro-Arte do Rio de Janeiro, já tendo perdido a conta de quantos alunos já passaram por minhas mãos nesse período. São muitas as experiências, impressões, realizações e questões formuladas por mim, meus coralistas e meus alunos, acumuladas neste longo período de minha vida, todas ainda não adequadamente sistematizadas. Ao ser convidado pela Oficina Coral do Rio de Janeiro para colaborar nesta coletânea, fiquei confuso, sem saber exatamente por onde começar, já que são tantos os assuntos sobre os quais eu gostaria de falar, e o espaço nem tanto assim, que tive que fazer algumas opções. Assim sendo, talvez as idéias que apresentarei a seguir não estejam perfeitamente concatenadas, servindo, na verdade, como um ponto de partida para um texto mais longo e abrangente sobre esse fascinante mundo que é o Canto Coral e suas derivações. De qualquer maneira, espero que possa contribuir com minhas idéias para um aprofundamento das questões sobre Regência Coral em nosso país, com suas peculiaridades. Um coro é uma espécie de tribo, com personagens essenciais, tais como os cantores e o regente; rituais típicos, tais como ensaios e apresentações; e objetos cultuais imprescindíveis, tais como a música e a partitura, sua representante material. Há, ainda, o público para o qual se canta, os representantes das Reflexões sobre aspectos da Prática Coral | Carlos Alberto Figueiredo 3 Ensaios – olhares sobre a música coral brasileira eventuais sociedades ou empresas mantenedoras, as gravações realizadas, o professor de técnica vocal, etc. Há todo tipo de coro: com finalidades religiosas, cívicas, formalmente educacionais, estéticas, lúdicas, de lazer, políticas, monetárias, etc. Todos esses tipos participam, de uma forma ou de outra, da dinâmica da tribo, conforme a imagem colocada acima, mesmo que alguns agentes não estejam presentes. Às vezes, até o regente não existe. Só não conheço um coro que não tenha cantores... Cantar em coro é uma experiência afetiva forte. Tudo se torna carregado de significados: o diapasão do regente (fascinante, para os inexperientes); o indefectível uniforme, às vezes bata, que sempre gera tantas discussões; a questão da afinação, sempre um objetivo mágico, que nem sempre os cantores entendem bem qual é, tornando-se, assim, um aparente privilégio dos iniciados; a correta colocação da voz, objetivo ainda mais vago, trabalhado pelo regente, ou professor de técnica vocal, com imagens incríveis, às vezes engraçadas e, às vezes, até, chulas (risinhos...); e, é claro, as partituras, que os cantores tratam de maneira variada, alguns as colocando em pastas especiais, protegidas, e outros que as carregam no bolso da calça, de onde saem completamente amarfanhadas. São imagens que as pessoas carregam pelo resto da vida, e seria bom que fosse sempre uma experiência positiva, uma boa lembrança, para aqueles que, por várias razões, já não mais cantam em coro. Cantar em coro deveria ser sempre uma experiência de desenvolvimento e crescimento, individual e coletivo: o desenvolvimento da musicalidade e da capacidade de se expressar através de sua voz; a possibilidade de vir a executar obras que tocam tanto no cognitivo quanto no coração, ensejando o crescimento intelectual e afetivo do cantor e de outros agentes envolvidos; o desenvolvimento da sociabilidade e da capacidade de exercer uma atividade em conjunto, onde existem os momentos certos para se projetar e se recolher, para dar e receber. Cantar em coro tem, ainda, uma vantagem, a meu ver, toda especial: a oportunidade de lidar com um repertório que associa música com textos literários ou religiosos. Apenas membros da tribo coral ou cantores, de maneira geral, têm essa rara oportunidade de experimentar essa maravilhosa fusão de duas artes tão expressivas. Não podemos esquecer, aliás, que toda a música ocidental, até o final do século XVI, foi essencialmente vocal. Cantar em coro, finalmente, cria a possibilidade de surgimento de novos regentes, assim como eu e tantos outros profissionais em atividade. Reger coro parece ter uma característica inicialmente negativa: o fato de nossa expressão, como regentes, ter que depender de outras pessoas, os coralistas. Tudo parece tão mais fácil para um pianista ou violonista. A sua expressão só depende dele e do instrumento. No entanto, a não ser que nós regentes tenhamos, por definição, um componente patológico em nossas personalidades, deve haver algo de muito bom em reger coros, senão não haveria tantos regentes em atividade, cada vez mais. Para mim, pessoalmente, ter o som de um coro na mão é uma experiência insubstituível, ainda mais quando eu tenho a consciência de que esse som é o Reflexões sobre aspectos da Prática Coral | Carlos Alberto Figueiredo 4 Ensaios – olhares sobre a música coral brasileira resultado do meu trabalho, da lenta construção de uma idéia interpretativa e de uma sonoridade. A consciência das várias etapas percorridas, ainda na primeira fase de leitura e aprendizado até o resultado final, é um antídoto poderoso para qualquer desânimo. E mais importante ainda que a construção de uma obra é perceber o processo de amadurecimento do grupo. É intensa a dinâmica que se estabelece entre os vários agentes da tribo coral - coralistas, regente, público – durante os rituais - ensaios e apresentações. Há todo um jogo de influências que resultam em permanente modificação dos agentes e, até mesmo, dos objetos cultuais, a música e a partitura. O ensaio, principalmente, é um momento de intensa troca, resultando em mudanças duradouras para todos os envolvidos, no bom e no mau sentido. O regente, com veremos, é um importante agente modificador.