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Opiniões Número: Depoimentos ornalornal Novos Lançamentos 223 dede Mês: Maio Entrevista JJ Ano: 2017 LetrasLetras Literatura Infantil Preço: R$ 5,00

“O Canal Bíblia Católica é um valioso curso bíblico grátis que os tempos modernos possibilitam ofere- cer pelas ferramentas que temos hoje.”

“A Palavra irá nos transformando e nos fazendo novas criaturas, segundo o coração de Deus.”

Frases de D. Orani João Tempesta, cardeal arcebispo do Canal Bíblia Católica InovadorInovador e pioneiro, o Canal Bíblia Católica, ofe- recido em português pela plataforma YouTube, reúne o conteúdo completo da Bíblia – do Gênesis ao Apocalipse – com 73 livros em 146 vídeos, 150 Salmos, além das orações católicas. O Grupo Gol, focadofocado na divulgação de cultura, informação e entretenimento na internet, é o responsável pela modernização do Canal, lançado no final do ano passado, recebendo, em um trimestre, 75 milhões de visitas. (Por Manoela Ferrari – págs. 10 e 11)

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Arte sobre foto ©Václav Mach_Stock.Adobe.com ornalde 2 JLetras

JL Editorial JL Opinião

Um dos bons amigos do JORNAL DE LETRAS foi o escritor gaúcho acervo JL A genialidade de . Tínhamos uma relação muito boa, pois ele era assíduo na frequência à Academia Brasileira de Letras, às quintas-feiras, e não Defensor intransigente da livre inicia- deixava de trazer de Porto Alegre colaboração muito apreciada. A sua tiva, frasista de mérito, Roberto Campos foi morte foi precoce. Fez uma operação na sua cidade natal e sofreu uma combativo e combatido. O seu livro Lanterna queda, que foi fatal. Agora, sua dedicada esposa Judith está promovendo na popa fez grande sucesso e chegou a ven- uma série de homenagens ao grande escritor, com a adesão de muitos der mais de 100 mil exemplares. Nele colo- cou a essência do seu pensamento liberal, dos seus companheiros de ofício. Aqui nos solidarizamos com o autor que muitos consideravam “entreguista”. que dedicou boa parte da sua obra à cultura judaica, inclusive com Por isso mesmo, quando ele resolveu se candidatar à Academia uma obra de muito relevo sobre o humor, com destaque para aspectos Brasileira de Letras, sofreu forte resistência. Foi derrotado nas duas pri- da ironia em que os judeus são mestres. Vale a pena ler o artigo que se meiras tentativas. Tinha o apoio da escritora , minha encontra neste número do JORNAL DE LETRAS, destacando a performance madrinha, que me pediu que a ajudasse na tarefa de convencer os imor- de Moacyr Scliar, um autor de muitas obras. Foi também um médico tais. Acabou vencendo o 3º pleito, em 1999, com os 20 votos necessários. Foi um acadêmico solidário. Quis ajudar a ABL a resolver os seus especializado em saúde pública, cuja memória é lembrada com todo problemas econômicos, com a sua vasta experiência. Como presidente respeito em nosso país. da Casa de , aproveitei a brecha do pedido de demis- O editor. são da diretoria de , por motivos pessoais, e colo- quei Roberto Campos como secretário. Foi utilíssimo com suas ideias práticas e avançadas. Infelizmente, ficou pouco tempo entre nós, pois faleceu em 2001, sempre coerente na defesa da livre iniciativa. Foi dele a ideia de criação da estatal do petróleo, mas depois combateu vivamente a Petrobras, que chamava de Petrossauro. Era contra o monopólio da atividade, assim como combateu com veemência a reserva do mercado da informática, adotada em 1984 e que permaneceu até 1992. Escreveu que os defensores das iniciativas praticavam “um nacionalismo raivoso e incompetência treinada”. Mas, foi um diplomata brilhante. Ao lado do economista Octávio Gouvêa de Bulhões, foi o respon- sável pelo Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), que organizou o Estado nos primeiros anos da ditadura militar. O Brasil alcançou um crescimento milagroso de 11% a.a., no período de 1967 a 1973, quando criou o fundo de participação de estados e municípios, implantou a correção monetária, o Banco Central, o Banco Nacional de Habitação, o FGTS etc. Sem dúvida, foi uma presença notável na economia do país. Lembro de uma frase na sua posse, em 1999, na Academia Brasileira de Letras: “Hoje, 122 depois, continuamos despreparados para as secas e ainda se fala na indústria da seca, pois há enorme vaza- mento de recursos em benefício de intermediários, burocratas e políti- cos.” Como se vê, a ideia da corrupção vem de muito longe. Pode-se ainda afirmar que não passou em branco pela presidên- cia do BNDE (ano de 1995) sempre preocupado em não falhar como representante da sua geração. Um homem assim preparado não se furtaria a falar da importância Foi um sucesso a tradicional peça de teatro que integra os festejos temáticos da Cesgranrio, apre- da educação para o seu país. Lembro bem que, por iniciativa de Moacir sentando a divertida história “A Páscoa dos Brinquedos”, no prédio anexo à sede da Fundação, no Masson, homem de televisão (na época, TV Rio), fui intermediário de Rio Comprido. É um trabalho de Beth Serpa. um convite para que debatesse com , no programa “Eu, o júri”, as soluções viáveis para resolver as nossas questões educacionais. J Dois homens de cultura extraordinária, imaginem o sucesso desse pro- L Expediente grama, que tive a honra de coordenar. Diretor responsável: Arnaldo Niskier Editora-adjunta: Beth Almeida Colaboradora: Manoela Ferrari Secretária executiva: Andréia N. Ghelman Redação: R. Visconde de Pirajá N0 142, sala 1206 – 120 andar — Tel.: (21) 2523.2064 Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: [email protected] Distribuidores: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232.5048 “A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso,nem mesmo a delícia da Correspondentes: António Valdemar (Lisboa). Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda. companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N0 114 confia em você.”” Versão digital: www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras O Jornal de Letras é uma publicação mensal do Emerson Instituto Antares de Cultura / Edições Consultor. ornalde JLetras 3 Não tardei em descobrir The Paris Review Interviews, uma inicia- tiva ambiciosa e sensacional que reuniu, ao longo de quatro décadas e em três volumes, dezenas de depoimentos dos mais consagrados A memória da cultura escritores do século XX, como Bellow, Borges, Cheever, Dorothy Parker, Hemingway, Falkner, Garcia Marquez, Grahan Greene, Harold Pinter, Por André Amado* Norman Mailer, Rushdie, Stephen King, T. S. Elliot, Toni Morrison e Vonnegut, entre muitos outros. Ilustro apenas com uma reflexão: The Morar na Espanha é um verbo plural, tantas as recompensas, da most essential gift for a good writer is a built-in, shockproof, shit detec- comida à maneira de viver, da música cigana à produção literária, da tor (Hemingway). beleza das mulheres ao charme dos bailaores, tudo isso ao vivo ou pelas No Brasil, ao que eu saiba, apenas o Correio Braziliense embarcou páginas fantásticas de El País. em proposta semelhante. Entre 1997 e 1998, equipes do jornal entre- Como diplomata, não surpreende que lesse todos os dias El vistaram cerca de trinta nomes maiores da língua portuguesa, em uma País, não só por ser o jornal mais rico em matérias sobre política inter- série chamada Arte de Escrever. Não me consta que o conteúdo desses nacional, mas também pela capacidade de usar a cultura como veículo diálogos tenha sido transformado em livro nem inspirado a atualização de aproximação entre o leitor – sobretudo se estrangeiro – e a Espanha ou a ampliação dos entrevistados. Como tantas outras coisas em nosso profunda. Lembro-me da primeira vez em que uma crônica sobre a cor- país, boas ideias como essa só veem uma única vez a luz do dia. Rápido rida de touros do fim de semana. De início, não entendi muito bem, até fenecem nos arquivos dos mais teimosos. dar-me conta de que escrever sobre as touradas e o ritual que emoldura A Arte de Escrever do CB incluiu, entre outros, Autran Dourado, o mundo taurino já pode ser considerado como uma modalidade espe- , , João Cabral de Melo Neto, Jorge cial de arte. Se duvidam, revejam Goya e leiam Hemingway. Amado, José Saramago, Lígia Fagundes Telles e Nélida Piñon. Penso com Em meio à amplitude de matérias sobre cultura publicadas pelo meus botões por que não se repetiu o trabalho, para que pudéssemos periódico, acompanhei os textos que buscavam obter dos grandes escri- reviver momentos de beleza como o que nos ofereceu Lígia, Escrever é tores sua visão sobre o ato de escrever, bem como o mundo em que um ato de amor. E o amor não pode ser adiado, tanto quanto reforçar a viviam. Escrevo para matar os demônios, provocou uma vez Umberto memória de nossa cultura. Eco em uma entrevista em fins dos oitenta. * André Amado é diplomata e foi embaixador em Lima, Tóquio e Bruxelas.

1913, os parisienses, enfurecidos, atiraram centenas de objetos no palco aos gritos de fora Stravinsky, a ponto de fazer o compositor, os músicos e os bailarinos fugirem por uma porta lateral do teatro para evitar um Temer e sucessos grave linchamento. Villa-Lobos, nos anos 1920 do século passado, teve a sua música condenada ao lixo pelos críticos que não aceitavam motivos e instrumentos da cultura popular brasileira como berimbaus, pandei- ros, cuícas etc., tocados ao lado dos sofisticados violinos Stradivarius musicais das orquestras sinfônicas. Por José Pastore – Júlio Medaglia* No fim dos anos de 1950, João Gilberto, interpretando o desco- nhecido Antonio Carlos Jobim, cantava baixinho, com harmonias com- pactas e ritmos estranhos a ponto de ele e o autor das novas peças (esta- As pesquisas de opinião pública têm dado ao presidente Michel va nascendo a bossa nova) causar grande estranheza ao público. Os dois Temer os mais baixos níveis de popularidade. Esses podem cair ainda foram obrigados a fugir do Rio de Janeiro para São Paulo, onde cada um mais, pois vêm pela frente as difíceis reformas previdenciária e tra- conseguiu um programa de tevê para expor a nova música e garantir o balhista. Haja resistência. Nisso tudo há algo intrigante. Ao lado da seu sustento. Hoje, o coral da 9ª Sinfonia de Beethoven é mundialmente referida impopularidade, verifica-se que, em pouco tempo, Michel aplaudido, tendo se tornado o hino da União Europeia. A Sagração da Temer montou uma equipe econômica de reconhecida competência, Primavera de Stravinsky é considerada o grande monumento musical viu o Congresso Nacional aprovar a nova regra para controle dos gastos do século XX. E Villa-Lobos e a bossa nova são os maiores arrecadado- públicos, o fim do monopólio da Petrobras no pré-sal, normas moder- res de direitos autorais do Brasil no exterior. Para conhecer melhor as nas para o setor energético e de saneamento e as diretrizes para a ter- lutas, trombadas, desafios e rejeições dos que revolucionaram a música ceirização ampla. Em menos de um ano, controlou a inflação, profissio- do século XX, sugerimos o livro de Júlio Medaglia, Música impopular, nalizou a gestão das empresas estatais e agências reguladoras, definiu Editora Global, 2009. regras de lucratividade para os investimentos privados na infraestrutura É isso mesmo. A história é marcada por obras de estadistas e artis- e enviou ao Congresso Nacional as duas reformas acima referidas – tas que só foram reconhecidos bem depois do seu tempo. É claro que ambas cruciais para o crescimento do Brasil. É uma invejável folha de todo governante sonha em desfrutar de popularidade ao longo de seu ações concretas. E, apesar disso, o “Fora Temer” está em todo o país. mandato. Mas, quando isso é impossível, fica para a história o even- Impopularidade é um fenômeno surpreendente. A história tem tual reconhecimento definitivo. No caso das reformas conduzidas por muitos exemplos de governos impopulares que deixaram uma herança Temer, quem viver verá. de grandes realizações. Nos Estados Unidos, Abraham Lincoln foi impo- pular quando abraçou a causa da libertação dos escravos. Na Inglaterra, *José Pastore é professor, membro do Conselho de Emprego e Relações Winston Churchil foi questionado pela imprudência de seus atos na do Trabalho da Fecomércio-SP e da Academia Paulista de Letras. Segunda Guerra. Na Alemanha, Gerhard Schröder foi criticado por ter *Julio Medaglia é mestre e membro do Conselho de Empregos e revolucionado a legislação trabalhista. No entanto, os três foram reco- Relações do Trabalho da Fecomércio-SP e da Academia Paulista de Letras. nhecidos pela história como tendo prestado os mais relevantes serviços aos seus países. No campo da música, os casos de impopularidade são eloquentes. Em 1824, ao apresentar o final da sua 9ª Sinfonia, Beethoven acrescentou uma grande massa coral no último movimento, impostan- do as vozes nos registros mais agudos, como se fossem um grito pela paz, baseado em um poema de Schiller. Recebeu a mais negativa reação da plateia vienense e os críticos disseram que, além de surdo, o gênio teria ficado louco. Na primeira audição da Sagração da Primavera, em ornalde 4 JLetras

JL Breves JL Humor por Manoela Ferrari [email protected] por Jonas Rabinovitch [email protected]

A IGREJA comemora os 250 antes restrito a obras publicadas anos de nascimento do padre no Brasil, poderá ser disputado PONTILHISMO EXPRESSIONISTA José Maurício Nunes Garcia, o por autores de língua portugue- maior músico sacro brasileiro. sa com livros editados em qual- Vários eventos musicais e aca- quer país. Serão 230 mil reais dêmicos serão promovidos ao distribuídos entre os vencedo- longo do ano na Igreja de Nossa res. A expectativa para este ano Senhora da Antiga Sé, com entra- é de um aumento de 50% dos da gratuita. interessados. As inscrições estão abertas e podem ser feitas por P VÊNUS ENTE DE , livro da escri- meio do site www.itaucultural.org. tora Heloisa Seixas, ganhou br/oceanos2017. adaptação para o cinema com o título de “Amor assombra- MARCADO PARA SETEMBRO do ano do”. Será estrelado por Vanessa que vem, a 33ª Bienal de São Gerbelli e Carolina Oliveira, com Paulo terá curadoria do espanhol direção de Wagner Assis. Gabriel Pérez-Barreiro, diretor da Coleção Patrícia Phelps de E -MINISTRO DA CULTURA X , o Cisneiros, em Nova York, que cientista político Francisco já esteve à frente da Bienal do Weffort completa 80 anos no dia Mercosul, em Porto Alegre. 17 de maio. Em junho, come- ça a dar aulas na cátedra de ESCRITO PELAS JORNALISTAS Ana Democracia e Desenvolvimento Carolina Ralston e Edna Campos, da Universidade de Notre Dame, a Editora Leya prepara, para em Indiana, EUA. setembro, o lançamento do livro sobre a vida do médium goiano T ERÁ RELANÇAMENTO da Editora João de Deus. Civilização Brasileira, no segun- APÓS DOIS VOLUMES infantis de abertura conduzida por Paulo do semestre, o livro Cartas a um SEM NOME DEFINIDO, a novela seguidos, o ator global Lázaro Herkenhoff. jovem político, do acadêmico e que Cristianne Fridman desen- Ramos está entregando à A TRADICIONAL FÁBRICA de choco- ex-presidente Fernando Henri- volve para a TV Record será Companhia das Letras o livro lates Garoto acaba de inaugurar que Cardoso. inspirada nos livros Casamento adulto Na minha pele, para um museu voltado para o produ- blindado e Namoro blindado, de publicação ainda este ano. PROFESSORA DE DIREITO to, em Vila Velha, ES. Constitu- Cristiane Cardoso, filha de Edir cional e autora de livros na área, COM ELENCO SUPERANDO 50 artis- Macedo, dono da emissora. ATÉ DEZEMBRO, SAEM duas bio- Flávia Piovesan concorre à vaga tas, a companhia canadense do grafias de Silvio Santos. Uma, na Comissão Interamericana de DROGAS: AS HISTÓRIAS que não Cirque du Soleil volta ao Rio e pela Companhia das Letras, assi- Direitos Humanos da OEA, em te contaram, recente lançamen- São Paulo, após 4 anos, no segun- nada por Ricardo Valladares. A eleição marcada para junho. Se to da especialista em segurança do semestre. Será a sexta apre- outra, pela Ed. Matrix, escrita por for eleita, assume em janeiro de pública Ilana Szabó, através da sentação do grupo no país. Fernando Morgado. 2018. Atualmente, ela exerce a Ed. Zahar, vai virar filme até o UMA PINTURA DO austríaco Secretaria especial do setor, no final do ano. M Gustav Klimt, de 1918, acaba de AIOR FESTIVAL DE ARTE e cultura Governo Federal. da sustentabilidade do Brasil, a ATÉ O DIA 25 DE JUNHO, a coleção tornar-se a terceira obra mais “Virada Sustentável”, após seis GANHA NOVA EDIÇÃO da Rocco A de arte da Fundação Edson de cara leiloada na Europa. Foi ven- anos, terá edição em junho, no mulher que matou os peixes, livro Queiroz, de Fortaleza, considera- dida pela inglesa Sotheby´s por Rio de Janeiro. infantil de Clarice Lispector. O da das mais importantes do país, 59,3 milhões de dólares, equiva- lentes a mais de 180 milhões em detalhe são as ilustrações, feitas pode ser vista na Casa França- A ESCRITORA BRITÂNICA Jojo moeda brasileira. pela neta da saudosa escritora, Brasil. Exibe 75 obras de nomes Moyes, de Como eu era antes de Mariana Valente. como Alfredo Volpi, Cândido DEMONSTRANDO que carnaval você, com quase dois milhões de Portinari, Hélio Oiticica e Lasar livros, foi a autora estrangeira O HISTORIADOR Marco Antônio também é cultura, a escola de Segall. mais vendida no Brasil, em 2016. Villa prepara um livro com os samba Império Serrano, que APÓS 30 ANOS NO venceu o desfile do grupo de “discursos que abalaram o exterior, o bai- SE VIVO FOSSE, Roberto Campos acesso carioca, retorna à elite da mundo”, pela Editora Planeta. larino Ismael Ivo volta ao Brasil teria completado 100 anos, no próxima competição utilizando, para dirigir o Balé da Cidade, do dia 17 de abril. Suas memórias FICOU COM A EDITORA Globo o no enredo, uma homenagem ao Teatro Municipal de São Paulo. – A lanterna na Popa – editado direito de lançar, no Brasil, O far- poeta mato-grossense Manoel por José Mário Pereira, desde macêutico de Auschwitz, da escri- MAIS DE MIL OBRAS do Masp já de Barros, morto em 2014. o lançamento, tornou-se livro tora britânica Patrícia Posner. se encontram disponíveis pelo de referência sobre o Brasil e Google Arts & Culture, platafor- ASSINADO POR BRUNO Lucena, ULTRAPASSOU 65 MILHÕES se transformou em best-seller, de ma on-line gratuita. Helvécio Marinho e Marcelo dólares (mais de 200 milhões Abinader, A História de todos os com mais de 115 mil exemplares de reais) o acordo editorial do ANTENA PRODUTORA foi autori- gols de Zico sai pela Editora Tinta vendidos. casal Michelle/Barack Obama zada pelo MinC a captar, atra- Negra. O ACADÊMICO Antônio Torres com a Penguin Random House vés da Lei Rouanet, recursos que foi um dos palestrantes convida- para relato de sua recente pas- somam 1.837.630 reais para levar PROPONDO-SE A SER UM dos mais dos do Festival Literário Douro, sagem pela Casa Branca. No obras de artistas brasileiros a importantes do país, o Centro realizado no início deste mês, Brasil, a publicação sairá pela conclave audiovisual e música, Cultural Sesc 24 de maio, em no Espaço Miguel Torga, em São Companhia das Letras. previstos para Berlim, no segun- São Paulo, assinado pelo pre- Marinho de Anta, Portugal. do semestre. miado arquiteto capixaba Paulo MUDANÇA NO PRÊMIO Oceanos: Mendes da Rocha, terá a mostra ornalde JLetras 5

Muito doce “Marcela achou que o sorvete estava docíssimo.” Muito bem! A palavra docíssimo existe e é uma das for- Na ponta mas corretas do grau superlativo absoluto sintético do adjetivo doce. Geralmente, é utilizada na linguagem informal (docíssimo). Língua Refere-se a algo muito doce, extremamente doce. da Na língua portuguesa, a principal regra de formação do grau superlativo absoluto sintético dos adjetivos é a junção Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Roberto do sufixo – íssimo. Desse modo, forma-se a palavra docíssimo: doce+íssimo. Esse ou este? Ex.: Esse bolo de baunilha está docíssimo. As palavras este e esse são pronomes demonstrativos, ou seja, situam alguém ou algu- Frase correta: “Marcela achou que o sorvete estava docíssimo.” ma coisa no tempo, no espaço e no discurso em relação às próprias pessoas do discurso: quem fala (este) ou com quem se fala (esse). Sem tranquilidade Esse e este são palavras parecidas, mas utilizadas em situações diferentes. O que “Mariana achou que seria mais tranqüilo viajar de carro.” distingue estes dois conceitos é uma questão referencial (tempo e espaço). Muita gente ainda esquece, mas não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a Este é usado quando o que está sendo demonstrado está perto da pessoa que fala letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui. ou no tempo presente em relação à pessoa que fala. Usa-se ainda para referir o que vai ser Veja: Como era Como ficou Como era Como ficou mencionado no discurso, fazendo referência a uma informação que ainda não foi mencionada agüentar aguentar eloqüente eloquente no texto. quinqüênio quinquênio lingüiça linguiça Ex.: “Este brinco na minha orelha é meu.”; “Este patê ainda está no prazo de validade?” sagüi sagui Esse é usado quando o que está sendo demonstrado está longe da pessoa que fala Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. e perto da pessoa a quem se fala ou no tempo passado ou futuro em relação à pessoa que Ex.: Müller, mülleriano. fala. Usa-se ainda para referir o que foi mencionado no discurso, fazendo referência a uma Frase correta: “Maria achou que seria mais tranquilo informação previamente mencionada no texto. Ex.: “Quando você comprou esse livro?”; “Esse viajar de carro.” foi o ano do meu casamento.” O pronome demonstrativo esse é mais utilizado do que o pronome este, cuja utiliza- Abelhas nervosas ção ocorre com mais frequência na linguagem escrita e pouca frequência na linguagem oral. “Lívia mexeu na colméia de abelhas e elas a ataca- O pronome esse é também utilizado juntamente com advérbios de lugar, como “esse aqui” e ram!” “esse aí”. Tadinha! Mas não se deve mexer nos animais silves- tres, muito menos escrever dessa maneira. Despercebido x desapercebido Outro erro ainda comum, mesmo depois da reforma Estas duas palavras existem na língua portuguesa e estão corretas. São palavras com ortográfica. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi significados diferentes, devendo ser usadas em situações diferentes. e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico Veja: a palavra despercebido significa algo ou alguém que não chamou atenção, que na penúltima sílaba). não foi visto, que não foi sentido nem notado. Também pode significar uma pessoa desatenta Veja: Como era Como ficou Como era Como ficou e distraída. estréio estreio estréia estreia Ex.: “Aquela moça passava despercebida na aula de ginástica.” idéia ideia epopéia epopeia A palavra desapercebido significa algo ou alguém que não está preparado, que está heróico heroico desprovido, desprevenido, desacautelado. Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam Ex.: “Aquela cliente me pegou desapercebida e eu não soube dar a explicação que ela acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis. Exemplos: papéis, herói, desejava.” heróis, troféu, troféus. Frase correta: “Lívia mexeu na colmeia de abelhas e elas a atacaram!” ornalde 6 JLetras

no é com o conhecimento. Depois, já a primeira preocupação é saber as coisas, qual é a segunda? J Entrevista de Arnaldo Niskier Contar para os outros o que se sabe. Contar para L os outros o que se sabe é o mesmo que tornar Domício Proença Filho comum ao outro aquilo que você conhece. Arnaldo Niskier: Mestre Domicio, você vai falar sobre seu livro em Paris? Domício Proença: Não exatamente sobre esse. Vou falar sobre outro livro que estava prepa- Leitura do texto, rado há algum tempo, que fiz aqui no Brasil. Não disse que alguém, um dia, daria voz a Capitu? Pois é. A editora me encomendou um roteiro de leitura de Dom Casmurro, e comecei a fazer. Resolvi que leitura do mundo ia dar voz a Capitu. Difícil. Como fazer? Podia inventar um manuscrito falso, mas isso Eco já tinha feito, vários escritores fizeram, não ia dar certo. Pensei em imaginar como Capitu foi exi- lada na Suíça e teria encontrado num brechó Uma visão pragmática e integrada dos Casmurro. Lia, relia, trelia, decorei várias passa- suíço uma pasta, e dentro da pasta as memórias conceitos relacionados com a escrita e a leitura gens. de Capitu. Sei que também não era novidade. Aí, obtém-se com a leitura das 272 páginas da obra Arnaldo Niskier: Você era aluno do Pedro II? simplesmente, resolvi deixar a musa falar, assu- Leitura do texto, leitura do mundo (Editora Rocco, Domício Proença: Pedro II Internato. O mir o discurso dela. Ela fala em primeira pessoa e 2017), do acadêmico e presidente da Academia internato dava uma vantagem muito grande: responde a todas as acusações que o marido fez. Brasileira de Letras, Domício Proença Filho, que tempo para ler. Havia uma biblioteca fabulosa. Como ela fez isso? Quem me deu a pista? Machado falou ao JORNAL DE LETRAS sobre a obra. Eu era um leitor tão ávido que a bibliotecária, de Assis. Ela aprendeu a fazer isso com Brás Cubas Domício Proença: Esse livro é resultado da muito exigente, me concedeu um privilégio. Abriu e diz no começo “aprendi com meu irmãozinho minha ação de professor. Durante muitos anos, os livros proibidos para que eu lesse. O cortiço, A Brás Cubas e, como ele me pediu segredo, não vou trabalhei com professores, com estudantes de carne, de Júlio Ribeiro. O crime do padre Amaro, dizer como isso aconteceu”. E foi por aí o livro. Letras em seminários, em grupos de estudos, na entre outros. Ela relutou muito, mas ao final me Tive certo receio quando lancei, porque estava me Universidade Federal Fluminense. Andei também concedeu o direito. Eu tinha acesso aos livros que apropriando de uma personagem, estava traba- por vários estados, capitais e centros de estudos. não eram adequados à faixa etária, como se diria lhando numa personagem. Verifiquei algo muito curioso: a preocupação fun- hoje. Com isso, fiquei muito ligado a Machado de Arnaldo Niskier: Era domínio público. damental das pessoas era com uma conceituação, Assis, e Alencar (José de) também. Praticamente Domício Proença: Não, não é isso. É o fato uma concatenação dos conceitos ligados à área da li tudo de Alencar, na época, a ponto de decorar de você fazer romance usando uma personagem língua. Aproveitei as questões levantadas por eles passagens inteiras: “Longe, muito além daquela do outro. É metaficcão. Mas foi muito bem recebi- para respondê-las no livro. O grande problema serra que dá azul ao horizonte morava Iracema. do o livro. Simultaneamente, apareceram outros era exatamente esse: precisamos saber das coisas, Iracema que tinha os cabelos mais negros do que livros fazendo a mesma coisa, o que é curiosíssi- saber dos conceitos que estamos usando, qual é a asa da graúna e nos lábios o favo de mel da jati.” a relação entre a leitura e a linguagem, qual é a mo. Praticamente, um pouco depois, ou um pouco relação entre a literatura, língua, cultura. Eram Arnaldo Niskier: Sobre esse livro, o que o antes, Fernando Sabino lançou Capitu sou eu, Ana essas as questões. E os seminários tinham uma atraiu mais para construí-lo? Maria lançou Audácia dessa mulher e, na sequên- formulação diferenciada. Não era um seminário Domício Proença: O que mais me atraiu cia, houve quase uma espécie de Machadomania, para informar e cobrar: era lançar problemas, lan- foi exatamente essa relação entre o ato de ler e o porque, mais tarde, Lucchesi escreveu O dom çar ideias, discutir, responder o que fosse possível conhecimento do mundo. Na verdade, se a gente do crime, também aproveitando Dom Casmurro, responder, e só. pensar bem, através da leitura você vai atender Silviano acabou de lançar Machado, também na a uma das preocupações fundamentais do ser mesma linha de dialogar com o autor e persona- Arnaldo Niskier: Qual é exatamente essa humano. Lembro que começava os cursos de gens. Deu certo. Os franceses descobriram o livro relação entre leitura e linguagem? uma maneira completamente inusitada. Cheguei e resolveram fazer uma tradução. Vou lançar em Domício Proença: Na verdade, a epígra- a fazer seminários com mil pessoas no auditório, Paris, inclusive na embaixada e no Salão do Livro. fe que coloquei no livro é “viver é compartilhar fora do Rio. Eram 900 professoras e 100 professo- Arnaldo Niskier: Quem, na França, se inte- discursos”. Tanto orais como escritos, principal- res, a proporção é mais ou menos essa. E come- ressa pela obra de Machado de Assis? mente o discurso escrito, na medida em que ele çava o curso totalmente fora de propósito, como Domício Proença: Sobretudo o público uni- ajuda ao leitor a organizar a sua visão do mundo. a pergunta “Antes de dizer qualquer coisa, quero versitário, do que eu penso, do que eu pude obser- Li um linguista famoso, Iuri Lotman, que diz que saber quem é casado aqui?” As pessoas se mani- var. Os universitários da Sorbonne. Há cursos “a vida nos envia seus sinais”. Captamos as coisas festavam. E eu prosseguia. “Das mulheres casa- sobre Machado e há muita tradução. Machado da vida através, basicamente, dos sentidos. É o das, quem tem filho? Das que têm filho, quantas é traduzido em dezenas de idiomas: dinamar- que se vê, se cheira, se sente, o que você toca. O têm filho naquela idadezinha das perguntas? Qual quês, polonês, alemão, inglês, árabe. Machado é homem sentiu a necessidade de organizar esses é a pergunta que incomodou mais você?” Porque o primeiro romancista brasileiro que sai da copa e sinais num conjunto que ele chamou de Sistemas todas as pessoas tinham um crachá com o nome, cozinha da nossa realidade, passa a abordar uma de Linguagem. Várias linguagens foram usadas, era fácil. Claro que eu sabia onde eles iam chegar. temática universal e inova: ele é o nosso escritor e todos nós passamos a usá-las para conceber o Obviamente, as três perguntas que eu queria apa- moderno, no sentido técnico do termo. mundo e expressar a ideia de mundo que a gente receram. tem. Essas ideias transcritas se corporificam em Arnaldo Niskier: Acho que quem quiser vários sistemas de signos: na música, na pintura, Arnaldo Niskier: Quais eram elas? saber mais sobe Machado deve ler Leitura do na escritura, nos sinais, na linguagem dos sinais e, Domício Proença: “Papai, por que você tem texto, leitura do mundo. principalmente, na língua. E eu queria chegar aí. barba e mamãe não tem? Mamãe, como é que eu Domício Proença: E uma novidade última. nasci? Vovó, quando a gente morre vai pra onde?” Esse livro, além disso, tem uma parte final, que Arnaldo Niskier: E, curiosamente, o maior A partir daí, fazia outras perguntas e dizia: também não é muito usual em nossos professores escritor brasileiro, Machado de Assis, é muito Vocês devem estar estranhando, mas a verdade e entre nós, que é o que ler, como ler, por que ler. utilizado na sua obra. Por que você tem essa atra- é que, quando as crianças fazem essas pergunti- Tem um capítulo que responde a essas pergun- ção por Machado de Assis? nhas, elas estão traduzindo uma das preocupa- tas. Como é que você escolhe um livro para ler? Domício Proença: Primeiro, porque foi um ções fundamentais do ser humano, desde que se Escolheu? Por que você vai ler esse livro? O que dos primeiros autores que li na juventude. Li entendem por gente. Essa preocupação é saber isso faz interessar na sua vida? tudo do Machado, dos 12 aos 16 anos. Frequentei das coisas. Saber das coisas é o mesmo que conhe- Machado com assiduidade, principalmente Dom cer. A primeira preocupação natural do ser huma- ornalde JLetras 7

JL Livros e Autores por Manoela Ferrari [email protected] O homem que pensou o Brasil Histórias da Tapioca

A obra O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual Transformar a tapioca em refeições de Roberto Campos (Ed. Appris, 2017), organizado pelo pro- variadas e saudáveis é o que propõe a fessor Paulo Roberto de Almeida, comprova a vastidão e a chef Morena Leite em seu oitavo livro, atualidade dos conhecimentos do grande economista-diplo- Tapioca (Companhia Editora Nacional, 2017). Apresentando mata, que foi, segundo o autor, o “maior estadista brasileiro da 23 opções para inovar o cardápio com esse ingrediente que segunda metade do século XX.” No ano em que estaria com- faz parte da história do Brasil, a chef baiana mostra que pre- pletando cem anos de nascimento, cabe reler os argumentos parar comida saudável é mais simples do que parece. teóricos, julgamentos práticos, hipóteses e antecipações que O livro explora todas as vertentes desse alimento, a nossa Roberto Campos formulou em torno da política e da econo- pérola branca, extraída da goma da mandioca. A publicação conta com a bela foto- mia mundial, assim como a explicação racional das raízes grafia de Cristiano Lopesom. dos problemas brasileiros, expostos numa síntese muito bem A baiana Morena Leite estudou em Paris, na renomada escola de culinária francesa Le elaborada pelo organizador do texto, em 323 páginas. Doutor Cordon Bleu, onde se formou Chef de Cozinha e Pâtisserie. Lançou seu primeiro livro, em Ciências Sociais (Université Libre de Bruxelles, 1984), mes- em francês, em 2006. O Brésil Sons et Saveurs (Brasil, sons e sabores) foi premiado na tre em Planejamento Econômico (Universidade de Antuérpia, 1977), licenciado em Suécia como melhor livro de cozinha do mundo, quesito “inovação”. Deste evento, Ciências Sociais pela Université Libre de Bruxelles, 1975, Paulo Roberto de Almeida é originou-se o Buffet Capim Santo. Em maio de 2010, Morena celebrou os 25 anos do diplomata de carreira, por concurso direto, desde 1977. Foi professor de Sociologia Capim Santo de Trancoso com o livro Capim Santo – Receitas para Receber os Amigos, Política no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília (1986-87) e, desde no qual revela suas melhores receitas. No final do mesmo ano, abriu o Restaurante 2004, é professor de Economia Política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Santinho, no Instituto Tomie Ohtake. Em junho de 2012, em parceria com a confeitei- Doutorado) em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Desde agosto ra Otávia Sommavilla, editou o livro Doce Brasil – Bem Bolado, onde conta a história de 2016, é diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), afiliado à dos bolos brasileiros. Na FLIP do ano seguinte, em Paraty, lançou Mistura Morena – Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), do Ministério das Relações Exteriores. Cozinha Tropical Brasileira. O Brasil da política e da politicagem Genuína Fazendeira

O Brasil da política & da politicagem: perspectivas e desafios Para celebrar o centenário de , referên- (Ed. Novo Século, 2017) reúne mais de 200 artigos de autoria cia maior dos estudos das literaturas portuguesas no Brasil, a do empreendedor, mestre e doutor em Direito José Janguiê obra Genuína Fazendeira (Ed. Bazar do Tempo, 2016) reúne Bezerra Diniz. Com 528 páginas, uma linguagem acessível textos de 100 autores, numa tentativa de fazer um balanço e variedade de temas, publicados entre 2012 e 2014, boa plurifacetado da secular vivência humana e intelectual da parte dos artigos aborda como o sistema político-eleitoral e homenageada. Organizada por Gilda Santos e Paulo Motta os desequilíbrios socioeconômicos evoluíram – em alguns Oliveira, a obra busca captar as múltiplas facetas dos férteis casos, involuíram – nesse período. As reflexões oferecem, 100 anos desta grande mestra, responsável por estudos e também, análises de como é possível superar as situações, publicações definitivas das obras de escritores, tais como contribuindo para o desenvolvimento do país. Fernando Pessoa, Luís de Camões e Mário de Sá-Carneiro. De acordo com o prefácio, assinado pelo ministro da Defesa Nas palavras das maiores autoridades intelectuais da área, Raul Jungmann, “a análise de Janguiê é, ao mesmo tempo, entre acadêmicos, colegas, artistas, amigos, familiares, engajada e equilibrada, bem informada, atenta às tendências do país e do mundo, ex-alunos, admiradores e confrades, a vida e a obra de D. Cleo, como é carinho- sempre preocupado com a necessidade de transformação e renovação.” samente chamada, ganham amplo e inédito realce em valiosos ensaios críticos, Nascido em 21 de março de 1964, no distrito de Santana dos Garrotes, na Paraíba, testemunhos e depoimentos, que revisitam alguns dos temas mais relevantes da José Janguiê Bezerra Diniz graduou-se em Direito pela Universidade Federal de literatura portuguesa e também brasileira. Divido em várias seções, nomeadas com Pernambuco (UFPE) e em Letras pela Universidade Católica de Pernambuco versos recortados do poema que intitula o livro, a obra conta também com imagens (UNICAP). Com mestrado e doutorado em Direito, foi juiz do Trabalho e procu- e entrevistas da centenária professora. “Genuína fazendeira” é como o poeta Carlos rador do Ministério Público do Trabalho. Hoje, comanda um dos maiores grupos Drummond de Andrade nomeou Cleonice, numa dedicatória feita em sua Obra com- educacionais do país – o Grupo Ser Educacional – com representação nas regiões pleta, datada de 1965 (transcrito nas páginas 28 e 29). Além de Drummond, o livro Norte, Nordenste e Sudeste, atendendo mais de 150 alunos. É autor da autobiografia apresenta textos de nomes como Arnaldo Niskier, Helder Macedo, Maria Bethânia, Transformando sonhos em realidade (Ed. Novo Século). Marco Lucchesi, Nélida Piñon, Pilar del Rio e . A História do Poder Legislativo do Brasil Diários de Brennand

A História do Poder Legislativo do Brasil – Através do Tempo – Em quatro volumes de uma publicação luxuosa e artistica- 1826-2009, do jornalista e escritor Josué dos Santos Ferreira, mente impecável publicados pela Editora Inquietude, pode- lançada pelo Instituto de Estudos Legislativos Brasileiro, -se conhecer melhor o artista Francisco Brennand através trata da valorização histórica do Poder Legislativo, dando de anotações feitas por ele durante 50 anos. Aos 22 anos de ênfase à premiação de 150 melhores projetos de lei do idade, quando foi a Paris estudar pintura, Francisco Brennand Parlamento Nacional, ocorrida pelo “Prêmio do Mérito começou a escrever o diário que o acompanhou por toda a Legislador”, realizado em 2009, no Senado da República –, vida. Durante a reconstrução do que hoje é a Oficina Cerâmica um marco na história política do país. Numa edição luxuo- Francisco Brennand, seu diário se transformou no fiel depo- sa, de capa dura, com 323 páginas, a obra é prefaciada pelo sitário de seus pensamentos e companhia nas intermináveis ex-presidente do Senado Federal, Renan Calheiros, que horas de solidão. Em seus escritos, Brennand reflete sobre assinalou a importância da publicação: “É preciso, sempre, história da arte, pintura, filosofia, cinema, seu trabalho artísti- afirmar o papel do Legislativo na estabilidade e longevidade co e seus amores. Apesar de ter mantido o conteúdo do diário de nosso sistema democrático. Por isso, publicações como esta, do IDELB, que subli- em segredo, o artista o escreveu para que um dia fosse descoberto e publicado, como nham a relevância de políticas públicas originadas no Parlamento, são indispensáveis um documento importante que poderia no futuro esclarecer quem era, o que pensava para ajudar a formatar a história brasileira.” e o que pretendia Brennand. “Não temos a menor dúvida ao afirmar que o Diário de Nascido em 1969, em Natal, Rio Grande do Norte, Josué dos Santos Ferreira é for- Francisco Brennand compõe a obra maior no gênero do diário já aparecida na literatura mado em Administração de Empresas com ênfase em Finanças Corporativas pela brasileira, com suas mais de seis décadas de composição”, afirma o poeta e ensaísta University of California Berkeley (EUA). Cursou, no Brasil, o Programa de Direção Alexei Bueno, autor do prefácio. Divididos em quatro volumes, que somam mais de 2 Estratégica e Planejamento Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, na Escola de mil páginas, os textos foram escritos entre 1949 e 2013. A edição de luxo organizada pela Administração de Empresas de São Paulo. É autor do livro Os Meandros do Congresso sobrinha-neta, Marianna Brennand Fortes, reúne meio século de memórias do artista, Nacional – Como interagir e participar das atividades legislativas brasileiras, que se um dos maiores escultores e pintores vivos do país. “Um caso singular de memoria- encontra nas principais bibliotecas do mundo. Editor do jornal Notícias do Congresso lismo no Brasil”, observa o crítico de arte Paulo Herkenhoff na apresentação da obra. Nacional e fundador presidente do IDELB, Ferreira é membro, entre outras, da União Os três primeiros volumes, intitulados “O nome do livro” pela insistência com que as Brasileira de Escritores – UBE – e da Associação Brasileira de Jornalistas – ABJ. pessoas lhe perguntavam qual seria o nome do livro, abrangem os diários escritos entre 1949 e 1999; o quarto, “O nome do outro”, é uma versão ficcional criada pelo autor, um acerto de contas com o passado em que preferiu lidar com personagens inventados. ornalde 8 JLetras (União XV de Novembro e São José, não sei se operando juntas, pois que rivais). O poeta Schmidt estava lá, na antiga cidade episcopal, ele, tão reli- Schmidt em Mariana gioso e até místico, metafísico. Devia estar gostando. Eu também estava lá, menino de 11 anos a completar 12 dezessete dias depois. Por Danilo Gomes* É possível que o menino tenha passado perto do poeta-orador que viera do Rio, amigo de Juscelino, este já em discreta e incipiente marcha O grande poeta simbolista Alphonsus de Guimaraens nasceu em batida para a Presidência da República. Ouro Preto em 1870 e faleceu em Mariana, em 1921. Foi sepultado no O menino não saberia que estava próximo de um famoso poeta e modesto cemitério da igreja de N. S. do Rosário. prosador, político e empreendedor visionário, com seu famoso chapéu Governador de , Juscelino Kubitschek de Oliveira preto. É possível que tenham passado um ao lado do outro, no vaivém tomou a iniciativa de erguer um mausoléu de mármore no Cemitério do povo ali reunido com espírito cívico-religioso. Esse mesmo meni- de Santana, para onde foram transferidos os restos mortais do autor de no ficaria, muitos anos mais tarde, amigo do também grande poeta Setenário das Dores de Nossa Senhora e outras obras-primas da literatu- Alphonsus de Guimaraens Filho, nascido em Mariana em 1918. ra de língua portuguesa. Pois é, Augusto Frederico Schmidt esteve em Mariana, naquela O mausoléu – discreto, sem pompas suntuárias – foi inaugurado luminosa e histórica manhã de 13 de dezembro de 1953. O menino não com a presença do governador e outras autoridades civis, militares e se esqueceria da movimentação intensa no Cemitério Municipal da eclesiásticas, políticos, imprensa, familiares do poeta (como o também velha Capela de Santana. Só lamenta, até hoje, não saber, então, que poeta Alphonsus de Guimaraens Filho) e povo em geral. Clero, nobreza estava tão próximo de um de seus futuros autores prediletos, que relê e povo. Era a manhã de 13 de dezembro de 1953. Schmidt proferiu o dis- até hoje, com unção de devoto. curso oficial, uma peça de fino lavor. Naquele ano, ele havia publicado Assim o poeta inicia o seu poema “Paz dos túmulos”: Morelli e Os Reis, livros de poesia. Naquele ano de 1953, eu estudara interno no Colégio Dom Bosco, “Ó paz dos túmulos, em Cachoeira do Campo, para onde voltaria no ano seguinte. Estava, Ó frio das tardes invernais nos cemitérios, pois, passando férias na casa de meus pais. Menino curioso, eu não Ó mármores gelados, rosas frias, Cristos de gelo, como vos espero! poderia perder aquele evento, ao mesmo tempo fúnebre e festivo. Quando serei silêncio e frio apenas?” A velha cidade – a primeira Capital e o primeiro Bispado de Minas – estava em festa, embandeirada. Foguetório, sinos dobrando nas mui- tas igrejas. O velho campo-santo apinhado de gente. Bandas de música * Danilo Gomes é jornalista e membro da Academia Mineira de Letras

Bráulio Tavares, ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura Infantil em 2009; Cintia Moscovich, vencedora do concurso de Contos Guimarães Rosa; e Rafael Gallo, vencedor do Prêmio São Paulo 2016. As atividades Arte da palavra começaram em Maceió e em Belém. No caso do circuito dos autores, os convidados fazem duas apre- sentações: uma para estudantes e outra para o público em geral. Antes Por Maria Cabral do evento, há um trabalho pedagógico de formação literária. As obras são lidas e discutidas pelos alunos nas escolas. O “Arte da Palavra”, um projeto inédito de promoção da literatura Os clubes de leitura do Sesc também vão debater os livros. É uma através de um circuito nacional, foi lançado em 12 estados brasileiros, maneira de difundir a literatura brasileira contemporânea e tornar mais pelo Serviço Social do Comércio (Sesc). Serão implementadas diferentes rico o encontro com os autores. Todos os participantes serão remune- ações da cadeia da literatura, desde a formação e divulgação de novos rados. autores, até a valorização das obras de escritores brasileiros e formas de O segundo circuito de oralidades é voltado para contadores de produção literária. história, rappers e outras pessoas que trabalham mais a expressão oral Com o objetivo de fazer circular a produção contemporânea do da literatura. país, o projeto traz para a literatura iniciativas já consagradas do Sesc O circuito de criação literária vai sistematizar oficinas já existen- nas áreas de música e artes cênicas. O “Arte da Palavra” vai passar por 48 tes. Além de servir de base para a implantação desse trabalho em novas cidades, em todas as regiões brasileiras, e é dividido em três Circuitos: Unidades do Sesc, oferece instrumentais para o desenvolvimento da “Autores”, voltado para a valorização e divulgação de autores nas dife- escrita, qualificando os níveis de leitura, oferecendo condições para o rentes comunidades literárias; “Oralidades”, para contadores de histó- surgimento de novos talentos literários. rias, saraus e apresentações que mesclam poesia com outras manifes- A programação é aberta ao público em geral. O que se estabeleceu tações artísticas; e “Criação Literária”, que será composto por oficinas como metodologia é que nos encontros com autores e no circuito de literárias variadas, com o objetivo de exercitar a prática da escrita e criar oralidade seja feita também sessão voltada para instituições de ensino leitores com maior bagagem. Várias dessas iniciativas já existiam dentro da rede pública. Isso significa que, à tarde, há sessões voltadas para o do Sesc, mas agora compõem um conjunto organizado que vai percor- público escolar e, à noite, sessões abertas para o público em geral. A rer as cidades ao longo do ano. entrada é gratuita. Somente para as oficinas de criação literária, que têm Para garantir a diversidade dos participantes, o escritor Henrique carga horária, é preciso fazer pré-inscrição, com taxa simbólica no valor Rodrigues, técnico de literatura do Departamento Nacional do Sesc, médio de vinte reais. afirma que a curadoria foi dividida com as unidades regionais do Sesc. O “Arte da Palavra” visa, principalmente, a formação de leitores Ele destaca que há uma série de comunidades literárias dinâmicas no espontâneos de literatura, considerando as diferentes possibilidades país que dialogam muito pouco entre si. A mistura é o grande diferen- de leitura, que ultrapassam o campo do livro impresso e abrangem as cial desse projeto. manifestações orais, entre outras frentes. O Sesc pretende fazer do cir- De março até dezembro deste ano, 91 artistas irão participar dos cuito uma ação permanente, realizada todos os anos e integrada com a bate-papos, oficinas literárias e apresentações. Serão oferecidas ofici- cadeia produtiva do livro. nas de criação em Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Tocantins, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Entre os nomes confirmados, estão L Livre para todos os públicos A JUDICIALIZAÇÃO DA POLÍTICA DA JUDICIALIZAÇÃO A brasis BRASIL, Seminário | 17h30min Conferencista Carvalho de Murilo José Acad. Coordenador: Filho Proença Domício Acad. Geral: Coordenação Villar Mauro Conferencista: Bechara Evanildo Acad. Moderação: Filho Proença Domício Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação conhecimento do fronteiras e as sem-fim o Dicionários, IDIOMA DO POLÍTICA PARA UMA Conferências de Ciclo | 17h30min 2 demaio 5 demaio (agendamento prévio)(agendamento - palavras as moram Onde 29 e 22 segundas-feiras, | 12h - 10h Alencar de José familiar Demônio O 24 e 17 quartas-feiras, | 18h - 13h30min Teatro educação Leituras dramatizadas Teatro R.MagalhãesJr. : Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha Antunes Lúcia Cármen Ministra : Presidente do Supremo Tribunal Supremo Presidente Federal do ABL 120 anos 120 ABL Monarco eJulianaDiniz Raízes efrutos ABL na MPB | 12h30min 10 demaio Conferencista: Cristine Gorski Severo Gorski Cristine Conferencista: Bechara Evanildo Acad. Moderação: Filho Proença Domício Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação diálogos construindo Brasil: no linguísticas políticas das panorâmica visão Uma IDIOMA DO POLÍTICA PARA UMA Conferências de Ciclo | 17h30min Conferencista: Carlos Alberto Faraco Alberto Carlos Conferencista: Bechara Evanildo Acad. Moderação: Filho Proença Domício Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação futuro o para políticos consensos construindo portuguesa: Língua IDIOMA DO POLÍTICA PARA UMA Conferências de Ciclo | 17h30min Azeredo Carlos José Conferencista: Bechara Evanildo Acad. Moderação: Filho Proença Domício Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação lugares-comuns alguns sobre Refletindo materna? a língua ensina-se Afinal, IDIOMA DO POLÍTICA PARA UMA Conferências de Ciclo | 17h30min 9 demaio 23 demaio 16 demaio

Diretoria 2017: Presidente: Domício Proença Filho Secretária-Geral: Nélida Piñon 1ª Secretária: 2º Secretário: Tesoureiro: Marco Lucchesi Conferencista: Acad. Domício Proença Filho Proença Domício Acad. Conferencista: Bechara Evanildo Acad. Moderação: Filho Proença Domício Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação contemporaneidade na Brasil do linguística realidade da Aspectos IDIOMA DO POLÍTICA PARA UMA Conferências de Ciclo | 17h30min Serpa Alberto Carlos e Conferencista Niskier Arnaldo Acad. Coordenador: Filho Proença Domício Acad. Geral: Coordenação BRASILEIRA ESCOLA DA CURRÍCULO NOVO O brasis BRASIL, Seminário | 17h30min 30 demaio 25 demaio [email protected] 3974-2526 (21) Agendamento: sextas e quartas Segundas, | 14h 31 e 29 26, 22, 19, 15, 12, 10, 8, 5, 3, Dias: sextas e quartas Segundas, | 15h15min Visitas guiadas Petit Trianon Histórias imortais JosédeAlencar Sala s: Maria Helena de Castro de Helena Maria s: ornalde 10 JLetras ElogioElogio dada vidavida nana posseposse dede GeraldoGeraldo CarneiroCarneiro

Por Manoela Ferrari [email protected] Fotos: Guilherme Gonçalves

Ribeiro Carneiro –, a metade inicial (Geraldo/Eduardo) estampa rima toante, enquanto a metade final apresenta rima consoante (Ribeiro/ Carneiro). Diante de tantas evidências, quando ele nasceu, um anjo do Pico de Itabira decerto lhe terá decretado: ‘Vai, Geraldo, ser poeta na vida.’ Como esta é uma Casa que estatutariamente zela pela literatura brasileira e pela língua portuguesa, tampouco posso me abster de recordar a etimologia de seu nome. Geraldo significa ‘o senhor da lança’, o guer- reiro que se expõe. Eduardo, o guardião do tesouro, da riqueza; portanto, não é o que avança, mas o que retém. Tal movimento pendular entre a permanência do que se guarda e a expansão do que se projeta condensa- -se no signo ‘carneiro’, que, se de um lado, remete ao animal doméstico abrigado no espaço de uma propriedade rural, por outro aponta a ampli- dão cósmica de uma constelação boreal, Carneiro, também conhecida por Áries. Certa feita, dirigindo-me ao novo acadêmico, enviei ‘prolfaças ao poeta’. ‘Prolfaças’, como todo mundo sabe, é sinônimo de ‘parabéns’; mas o que quer dizer ‘poeta’? É aquele que abraça a palavra e a protege, como Foi marcante a cerimônia de posse do poeta Geraldo Carneiro, na o guardião Eduardo, porém o faz para liberá-la mais tensa e intensa na cadeira no 24 da Academia Brasileira de Letras (ABL). O novo acadêmico, ponta de seu verso ou lança, como o guerreiro Geraldo. Poeta é quem dramaturgo, tradutor, letrista e roteirista mineiro, de 64 anos, eleito em torna pública a potência da palavra íntima, numa perpétua dádiva ao outubro do ano passado, sucedeu o crítico teatral, jornalista, professor, outro, seja ele alguém próximo ou um longínquo habitante destes nossos ensaísta e historiador Sábato Magaldi, que morreu em julho de 2016. ‘subúrbios da galáxia’, para valer-me do feliz título de recente antologia A solenidade foi marcada pela excelência dos discursos, cujos tex- do escritor. tos (resumidos), o JORNAL DE LETRAS não poderia deixar de destacar. Em Não sou afeito a injunções numerológicas, mas não me furto a nome da ABL, o acadêmico e poeta Antonio Carlos Secchin fez o discur- observar que Geraldo, nascido numa quarta-feira, é o quarto acadêmico so de recepção, representando a satisfação dos acadêmicos, manifesta- com o sobrenome ‘Carneiro’, após Levi, Paulo e Carneiro Leão. Torna-se o da em votação unânime: quarto mineiro na história da cadeira 24, em sequência ao patrono Júlio “A arte de Geraldo se divide, ou melhor, se multiplica em várias Ribeiro e aos antecessores imediatos Ciro dos Anjos e Sábato Magaldi. A frentes. Excluídas a parcela musical, a televisiva, a cinematográfica, soma dos dígitos do seu dia de nascimento – 11 do 6, mais 5 e 2 – perfaz a dramatúrgica e a infantil, o restante – que é muitíssimo – já seria exatamente o total de 24, como se, por insondáveis artes aritméticas, essa suficiente para inflar seu espírito, fazendo-o desprender-se daqui, leve, fosse a cadeira desde sempre a ele predestinada.” volátil, e suavemente deslocar-se para outro lugar, Belo Horizonte, e Depois de analisar os processos de composição, percorrendo as retroceder a outro tempo, 23671 dias atrás, até pousar em 11 de junho de publicações originais da obra do novo acadêmico, Secchin encerrou o 1952. Nascia, provavelmente já bem fornido de negra e farta cabeleira, discurso, com uma homenagem: Geraldo Eduardo Ribeiro Carneiro. Relevo dois fatos curiosos relativos “Num poema, você declarou: ‘só me interessam os deuses da ale- à sua data natalícia: ela registrou o recorde da mais baixa temperatura gria.’ É bom imaginar que agora eles aqui estejam, iluminando você, de todos os tempos no Brasil – 14 graus negativos, em Caçador, Santa iluminados por seus versos. Para homenageá-lo, procurei uma frase que Catarina, o que não deixa de contrastar com a futura poesia quase sem- pudesse reunir e resumir seu amor à música, à cidade, aos jogos de lin- pre ensolarada do autor; e, nessa mesma noite, a Boate Casablanca, na guagem. Por isso, só me resta dizer: o Rio de Carneiro continua lindo; Rio Praia Vermelha, Rio de Janeiro, exibia o espetáculo ‘Pif-paf, edição extra’, de janeiro, fevereiro e 31 de março.” de Millôr Fernandes, que viria a ser dos maiores amigos de Geraldo, seu parceiro no teatro e no cinema. Permitam-me uma digressão: este que hoje o saúda veio ao mundo O Acadêmico e 24 horas antes do novo acadêmico. Somos rigorosamente coetâneos. Tal poeta Antonio proximidade, muito provavelmente inédita na Academia, reveste-se, em Carlos Secchin meu benefício, de um aspecto prático; sempre que discutirmos, e me fal- em seu discurso tarem melhores argumentos, poderei recorrer à precedência cronológica de recepção. e adverti-lo: ‘Respeite os mais velhos’. Em função disso, em relação à minha pessoa, ele será um benjamim constante. Desnecessário, porém, pedir-lhe consideração para com os mais antigos. No plano do conví- vio, pauta-se por indefectível gentileza e cordialidade. A única pessoa de quem fala mal é de si mesmo, sempre com tiradas espirituosas: nele, simpatia é quase humor. Se, como quer Guimarães Rosa, ‘Nome não dá: nome recebe’, o de Geraldo já emergiu bafejado por desígnios poéticos: além de por exten- so constituir-se num perfeito decassílabo provençal – Geraldo Eduardo ornalde JLetras 11 O elogio da vida

Conforme o costume acadêmico, Geraldo Carneiro discorreu sobre seu antecessor, o crítico de teatro Sábato Magaldi. Intitulou-o de “O Elogio da vida”, e definiu como tema central o livro Panorama do teatro brasileiro, no qual Magaldi avalia historicamente os autores teatrais, desde José de Anchieta até Nelson Rodrigues, passando pelas aventuras dramatúrgicas dos principais nomes da cultura brasileira, como José de Alencar e Machado de Assis. Relembrou alguns de seus predecessores. Os ocupantes anterio- res da cadeira foram: Garcia Redondo (fundador), que escolheu como patrono Júlio Ribeiro, Luís Guimarães Filho, e . Segundo disse, “foi uma celebração do Brasil, desde seus primeiros passos até os dias de hoje”. Sobre Manuel Bandeira, destacou: “O poeta merece uma reflexão toda sua. Talvez esteja em sua poe- sia o centro da história da poesia brasileira, a ponte entre o passado e o presente. Para ele convergem a herança portuguesa, desde Dom Dinis e Camões, a quem é dedicado um de seus primeiros poemas, e toda a tradi- Os acadêmicos presentes na cerimônia de posse do poeta Geraldo Carneiro, na ABL. ção romântica e parnasiana. Nele se funda o Modernismo. Seu poema ‘Os Sapos’, como todos sabem, fez parte da Semana de Arte Moderna de 22. que passou a perambular pelos sanatórios do Brasil e da Suíça. Como Bandeira foi o grande leitor de nossa tradição poética. Reescreveu vários diria o Conselheiro Acácio, há males que vêm para o bem. Bandeira era de seus poemas, ora como paráfrase, ora como paródia. Era pós-moder- um condenado à morte. Sua melancolia pode ter começado com a cons- no, antes que existisse pós-modernidade. Vinicius de Moraes o chamou ciência de sua mortalidade. ‘A vida inteira que poderia ter sido e que não de ‘poeta, pai, áspero irmão’. Sendo pai de todos, Bandeira estabeleceu o foi.’ Tudo conspirava para que sua vida fosse uma chama breve. Uma nosso paideuma, se me perdoam o palavrão. Bandeira é a fonte de onde história sem muito som e fúria, significando pouca coisa. Mas a vida nascem quase todos os rios significativos da poesia do Brasil. Mesmo tinha outros planos. quem não escreve sob o influxo de Bandeira é obrigado a escrever contra- Suponho que convivessem no poeta pelo menos duas identidades. riando a sombra de Manuel Bandeira. Primeiro, Bandeira ele mesmo, professor do Pedro II e da Universidade do Seus poemas estão guardados na memória de quase todos os aqui Brasil. Um scholar, se me permitem o anglicismo. E seu duplo, Manduca presentes. Sua biografia se oferece n’ O itinerário de Pasárgada, no qual Piá, o codinome com que Bandeira assinava suas letras de música. Este o próprio poeta relata os lances fundamentais de sua vida. Quem quiser era frequentador da Lapa, dos batuques, da boêmia – ou boemia, para os conhecê-la em minúcias pode consultar depoimentos como os de Antenor íntimos. Nascentes, seu colega de Colégio Pedro II. Segundo ele, Bandeira era bri- Não tive a felicidade de conhecer Bandeira. Contudo, inspirado gão e ficava indignado com qualquer erro que se cometesse no uso da lín- numa dedicatória de Jorge Luis Borges a Leopoldo Lugones, seu anteces- gua portuguesa. E arremata: ‘criou-me um hábito que hoje me impede de sor na Biblioteca de Buenos Aires, gostaria de pensar que um dia todos colocar os pronomes à brasileira.’ Logo Bandeira, que depois diria numa os tempos se confundirão, e será como se eu tivesse feito este discurso na entrevista: ‘Aos poetas e escritores compete o dever de trabalhar artistica- presença dele, como se ele o tivesse ouvido, e talvez tivesse até gostado, mente os brasileirismos, até dar-lhes foros de linguagem literária.’ por reconhecer nele ecos de sua própria voz. Por caminhos e veredas que Até São Pedro, na poesia de Bandeira, fala em português do Brasil: se bifurcam, Manuel Bandeira, cabe a mim, em nome dos girassóis das ‘Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.’ futuras gerações, manifestar a você a nossa gratidão e o nosso apreço.͇ Bandeira tinha a intenção de ser arquiteto, mas a tuberculose impe- Para finalizar, expressou gratidão à família, aos parceiros e ami- diu que seguisse a carreira. A poesia se instalou na vida do rapaz tísico, gos, sendo muito aplaudido.

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A solenidade de posse do poeta Geraldo Carneiro emocionou a plateia, no Petit Trianon, na ABL. ornalde 12 JLetras

O selo juvenil Escarlate já é reco- nhecido como importante marca de J Literatura InfantilPor Anna Maria de Oliveira Rennhack qualidade editorial. Kalinda, a L princesa que perdeu os cabelos e outras lendas africanas, com texto e ilustrações de Celso Sisto, foi destaque na premia- ção da Cátedra Unesco de CoresCores dodo OutonoOutono Leitura (PUC-Rio), selecionado para o estande da FNLIJ na Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha, na Itália, e agora recebeu o selo Altamente Recomendável, Reconto, da FNLIJ. O certificado será entregue durante o 19o Salão FNLIJ, que vai acontecer de 21 a Mestre em educação, pedagoga, editora de livros infantis e didáticos — e-mail: [email protected] 28 de junho, no Centro de Convenções SulAmérica, no Rio de Janeiro. A Escarlate lança agora um novo título com a temática das lendas afri- Marcelo Del’Anhol, editor querido, é responsável por nova casa, a Olho canas: O amuleto da chuva, de Maté. Uma movimentada viagem ao passado de Vidro (que me fez recordar com carinho do Bartolomeu Campos de Queirós e africano. Quando dois clãs inimigos precisam sobreviver às mudanças climá- o livro O olho de vidro do meu avô). O primeiro lançamento da editora é A alma ticas que assolam o Saara, três personagens são destaque: uma velha vidente secreta dos passarinhos, lindo livro de Paulo Venturelli, com ilustrações de que não faz mais chover, uma órfã que tem olhos cor de água e um crocodilo Elisabeth Teixeira e que aconteceu na Livraria que usa pulseiras. Blooks, em Botafogo, no Rio de Janeiro. Com texto de Heloisa Prieto e ilustrações O livro de Venturelli desperta a curio- de Laurabeatriz, a Brinque-Book apresenta O sidade infantil sobre questões como Deus e a guardião da floresta e outras histórias que vida. Com a metáfora de um pequeno pássaro você já conhece. A autora e a ilustradora pro- cativo nas mãos do menino, o autor revela põem novas leituras de contos clássicos, como dúvidas e estimula o pensamento. A página de Chapeuzinho Vermelho, Os três porquinhos e o abertura já adianta a intenção do texto: Gato de botas, entre outros. Será que são as mes- “Vivendo, se aprende; mas o que se mas histórias? Era assim que você conhecia essa aprende, mais, é só a fazer outras maiores per- história? As “novas” histórias vão surpreender e guntas.” (João Guimarães Rosa) divertir.

Mia Couto cita uma pesquisa apresen- Com uma tada na Revista Pazes, que revela que as crianças que estudam filosofia têm edição primorosa, melhor desempenho escolar. Nada de autores ou teorias, mas observações que com capa avelu- aumentam a capacidade dos pequenos de realizarem questionamentos, parti- dada onde sobres- cipando de discussões e levantando hipóteses. Foi exatamente o que senti com saem o roxo e o A alma secreta dos passarinhos! ouro (quase personagens da história), a editora Ricardo Benevides, Nilma Lacerda, Anna Intrínseca apresenta uma nova versão das len- Rennhack e o editor Marcelo Del’Anhol, das árabes, escrita por Emily Kate Johnston (E.K. acompanham os autógrafos de Paulo Johnston – com tradução de Viviane Diniz). As Venturelli e de Elisabeth Teixeira. mil noites – A história que nunca foi contada narra a lenda mística e arrebatadora em que a jovem noiva busca poderes em seus ancestrais e Ricardo, Nilma, Anna e na força do deserto para sobreviver, a cada noite, Venturelli (com Fabíola Farias e à tirania de um rei que, dominado por forças dia- Luiz Antônio Aguiar) estarão na bólicas, sequestrara e matara inúmeras jovens, próxima obra da Olho de Vidro: noivas apenas por uma noite. Temas polêmicos da literatura Reunindo ação, aventura e encantamento, o texto ressalta sentimentos infantil. de amizade, coragem, respeito e honra. Um lindo livro para os jovens.

E para aqueles que gostam de teatro e de Chegam da Peirópolis duas pesquisas cuidadosas e enriquecedoras para músicas, aí vai uma sugestão para montar na os educadores: Terra de cabinha – Pequeno inventário da vida de meninos e escola e divertir a garotada. Com cenário sim- meninas do sertão ples e músicas conhecidas, Amor de vinil, de (texto de Gabriela Flavio Marinho, dramaturgo com mais de vinte Romeu, fotos de espetáculos de sucesso (Cauby! Cauby!, Abalou Samuel Macedo Bangu, Estúpido Cupido, dentre outros), nos e ilustrações de transporta para uma loja de discos, com uma Sandra Jávera) e história cheia de romance, comédia e música! Brinquedos do Uma delícia! Como afirma o autor: “Para ler e chão – A natureza, ser visto!” o imaginário e o brincar, de Gandhy Piorski. Terra de cabinha traz o ima- ginário, o cotidia- no e o brincar das crianças do Cariri cearense. Cabinha é como na região é chamada a criança, principalmente meninos. Flavio Marinho no lançamento de Vem de “cabra”, que vira “caba”, e daí “cabinha”. Brinquedos do chão apresen- Amor de Vinil, na Livraria Travessa, ta a relação da criança com o ambiente e seus elementos, interagindo e crian- em Ipanema. do. Este volume é dedicado aos brinquedos da terra. ornalde JLetras 13

JL Biblioteca Básica Brasileira BBBO Jornal de Letras apresenta mais três autores cujas obras não podem faltar numa Biblioteca Básica Brasileira. acervo JL acervo JL acervo JL Rodrigo Octavio Augusto de Lima Fernando Magalhães

Rodrigo Octavio de Antônio Augusto de Lima, Fernando Augusto Ribeiro Langgaard Meneses, advogado, poeta e magistrado, nasceu em Magalhães, médico, profes- professor, magistrado, contista, Congonhas de Sabará, hoje Nova sor e orador, nasceu no Rio de cronista, poeta e memorialista, Lima, MG, em 5 de abril de 1859, Janeiro, RJ, em 18 de fevereiro nasceu em Campinas, SP, em e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, de 1878, e faleceu na mesma 11 de outubro de 1866, e faleceu em 22 de abril de 1934. Cursou cidade em 10 de janeiro de 1944. no Rio de Janeiro, RJ, em 28 de humanidades no Seminário de Bacharelado em ciências e letras fevereiro de 1944. É o fundador Mariana, depois o Seminário do pelo Colégio Pedro II, doutorou- da cadeira no 35, que tem como Caraça. Em 1878, ingressou na -se na Faculdade de Medicina do patrono Tavares Bastos. Fez seus estudos de Direito na Faculdade de Direito de São Paulo. Fundou, em 1880, com Rio de Janeiro, em 1899. Foi professor interino de Clínica Faculdade de São Paulo, onde se formou em 1886. Foi magis- , Alexandre Coelho e Randolfo Fabrino, Ginecológica e Obstétrica, em 1900-1901; livre docente de trado, secretário da Presidência da República no governo de a Revista de Ciências e Letras. Obteve o título de bacharel Obstetrícia, de 1901 a 1910; professor de Clínica Obstétrica, Prudente de Morais (1894-1896). Exerceu a advocacia até em 1882, também exercia o jornalismo, no qual se mos- de 1911 a 1915; diretor do Hospital da Maternidade do Rio 1929, quando foi nomeado ministro do Supremo Tribunal trou propagandista das ideias da República e da Abolição. de Janeiro, de 1915 a 1918; catedrático de Clínica Obstétrica, Federal, cargo em que se aposentou em 1934. Professor da Colaborou na imprensa, sobretudo no jornal O Imparcial, em 1922. Foi diretor da Faculdade de Medicina, em 1930; Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade do às vezes sob os pseudônimos Lívio e Lauro. Voltou a Minas reitor da Universidade do Rio de Janeiro, em 1913. Teve Brasil. Fez conferências nas universidades de Paris, Roma, Gerais, onde foi promotor do Termo de Leopoldina, e juiz atuação na política nacional, como deputado do Estado do e Montevidéu. Doutor Honoris Causa das universidades do municipal. Em 1889, foi nomeado promotor de Direito Rio de Janeiro à Constituinte em 1934. Foi o fundador da México, Buenos Aires, Lima e Havana. Consultor geral da de Conceição da Serra, no Espírito Santo, onde perma- Pró-Matre, entidade beneficente que ele dirigiu por muitos República (1911-1929); delegado plenipotenciário do Brasil neceu até 1890. Foi professor na Faculdade de Direito de anos. Exerceu a presidência da Academia Brasileira de Letras em conferências Internacionais (1910 e 1912); de Bruxelas Minas Gerais, regendo a cadeira de Filosofia do Direito, (em 1929, 1931 e 1932), era membro da Academia Nacional (1909, 1910 e 1912); da Paz, de Paris (1919). Subsecretário acumulando o cargo de diretor do Arquivo Público, até de Medicina, do Conselho Nacional de Ensino; da Sociedade de Estado das Relações Exteriores no governo Epitácio 1910. Deputado Federal pelo seu Estado, foi reeleito em de Medicina e Cirurgia; do Instituto Histórico e Geográfico Pessoa (1920-1921). Presidente do Instituto da Ordem dos várias legislaturas. Na Câmara, o nome de Augusto de Lima Brasileiro; da Liga de Defesa Nacional, da Academia das Advogados Brasileiros; presidente da Sociedade Brasileira aparece relatando e assinando pareceres na Comissão de Ciências de Lisboa; da Société Obstétrique de Paris e outras de Direito Internacional; membro honorário e vice-pre- Diplomacia e Tratados, de que foi membro, notadamente associações médicas, nacionais e estrangeiras. Doutor hono- sidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Na de 1910 a 1913 e de 1920 a 1923. Em 1934, foi eleito para ris causa das universidades de Coimbra e de Lisboa; prêmios ABL, além de primeiro-secretário (1897-1908), foi secre- a Assembleia Constituinte. É um dos grandes poetas de Alvarenga e Madame Durocher da Academia Nacional de tário-geral (1915-1924) e presidente (1927). Fez parte da índole filosófica na literatura brasileira. Segundo ocupante Medicina. Segundo ocupante da cadeira no 33, foi eleito em Comissão de Bibliografia (1909-1910); da Comissão de da cadeira no 12, foi eleito em 5 de fevereiro de 1903, na 22 de julho de 1926, na sucessão de Domício da Gama, e Redação da Revista (1911-1912 e 1915-1916) e da Comissão sucessão de Urbano Duarte, e recebido em 5 de dezembro recebido pelo acadêmico em 8 de de Publicações (1919). Em 13 de novembro de 1905, Rodrigo de 1907 pelo acadêmico Medeiros e Albuquerque. setembro de 1926. Recebeu os acadêmicos João Neves da Otávio propôs a criação da Biblioteca que hoje tem o nome Fontoura, Barão de Ramiz Galvão e . de Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça. ornalde 14 JLetras

Por Zé Roberto [email protected]

Nice Lopes

Fascinada pelo escritor Edgar Allan Poe e pelo cineasta Tim Burton, Nice Lopes traduz em sua obra uma parte de seu mundo ima- ginário onde convivem personagens oníricos, surreais e melancólicos. Ilustradora e publicitária, a artista teve seus trabalhos publicados na revista Claudia, da Editora Abril, e no jornal nova-iorquino The Wall Street Journal. A arte de Nice Lopes aparece em dois grandes livros de ilustração: Illustration Now!, considerado a “bíblia dos ilustradores” – uma reunião de 150 artistas do mundo todo, e Illustration Now Portraits, uma coletânea de retratos de 80 desenhistas ao redor do mundo, ambas da editora alemã Taschen. Já desenhou estampas para coleções de Camila Guimarães e para a famosa grife infantil Bicho Comeu. Entre os livros infantojuvenis que a desenhista ilustrou, podemos citar As aventuras de Firmina Dalva e seus amigos, de Érika Freire, de 2012, A Nuvem Vermelha, de Mô Amorim, lançado em 2010 na Bienal Internacional do Livro; e os mais recentes, Sebastião, com textos de sua autoria, e Ajardinando Poesia, de Marciano Vasques, lançados em 2016 e 2017. Desde o início de 2017, Nice Lopes e seu marido, o artista-plástico Gabriel Montenegro, inauguraram o espaço de artes La Casita, na ver- dade, a residência dos artistas, mas que durante alguns dias da semana se transforma em ponto de encontro de amantes das artes para cursos diversos, lançamentos de livros, exposições, saraus e muito bate-papo cultural. La Casita fica em Santos, no litoral de São Paulo, na Rua Dr. Antonio Bento, 13, Vila Matias. Nice e Montenegro acolhem ideias de todos que tenham interesse em ocupar o simpático espaço cultural. Alguns dos trabalhos de Nice Lopes podem ser vistos no seu site pessoal, no endereço: www.nicelopes.com. ornalde JLetras 15 J. Carlos: originais

Maria Cabral

A exposição “J. Carlos: originais”, na Galeria Marc Ferrez do Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, reúne trabalhos de um dos maiores cronistas visuais do Rio de Janeiro no século XX. Com curadoria de Cássio Loredano, Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires, a mostra reúne 290 desenhos originais, selecionados a Desenho para publicação em Para Todos, 11.7.1925. partir dos mil que pertencem à família de J. Carlos e estão sob a guarda Acervo IMS. do IMS desde 2015. O acervo inclui não só as coleções encadernadas das publicações em que J. Carlos atuou, como Careta, Para Todos, Fon-Fon e Almanaque Tico-Tico, como também os traços originais, muitas vezes anotados. A exposição mostra o caminho das ilustrações da prancheta para as pági- nas. Um percurso que fica claro quando se vê lado a lado o original e a página da revista. A primeira seção é uma espécie de visita aos bastidores dos dese- nhos que viriam em seguida. Dedicada ao J. Carlos “artesão”, nela estão letras, vinhetas, rascunhos, logotipos. No centro do segundo núcleo temático, está o Brasil. Reuniram- se a crônica da política, sobretudo dos governos Dutra e Vargas, e dos costumes do Rio de Janeiro, do Carnaval, das melindrosas e do povo sofrido. Outra série de desenhos é uma verdadeira aula de história. Há o registro de momentos importantes da Segunda Guerra Mundial, inter- pretados por desenhos que vão do humor simples a alegorias em defesa da liberdade. O segmento final mostra um J. Carlos pouco conhecido, dese- nhando para crianças em histórias em quadrinhos no Tico-Tico ou como autor de Minha babá, livro infantil que hoje é raridade. José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950), o J. Carlos, é autor de Desenho para publicação em Careta, 12.6.1943. uma das mais poderosas crônicas visuais do Brasil na primeira metade Grafite, nanquim, aquarela e guache sobre papel, 34,5 x 40 cm. Coleção Eduardo Augusto do século XX. Sua vasta produção, que se acredita ter passado de 50 mil de Brito e Cunha / Instituto Moreira Salles. desenhos, inclui caricaturas, charges, cartuns, alfabetos tipográficos, vinhetas, publicidade, enfim, todo o universo gráfico das primeiras revistas ilustradas do Brasil. O artista foi um dos primeiros representan- tes do modernismo no Brasil, com a leitura – direta ou indireta – que fez do art nouveau e da art déco, a partir da década de 1910. Desenvolveu um estilo inconfundível e inimitável. Aos 18 anos, publicou seu primeiro desenho, um retrato de Campos Sales, presidente da República de 1898 a 1902, e não largou mais a imprensa. Com a imagem chegando, nesse início do século XX, em pé de igualdade com a palavra, as redações e a publicidade precisa- vam recorrer ao desenho para vender seus produtos e valorizar o que era noticiado. Tudo tinha que ser desenhado, já que a fotografia ainda era um processo laborioso e caro, e sua reprodução impressa ainda era quase exclusiva- mente em preto e branco. J.Carlos A exposição fica em cartaz até o dia 22 de outu- bro. De terça a domingo, das 11h às 20h, com entrada franca e classificação livre.

Desenho para publicação em Para Todos, 18.12.1926. Grafite, nanquim e guache Desenho para publicação em Para Todos, sobre papel, 37,6 x 35 cm. Coleção Eduardo 23.6.1923. Grafite, nanquim e aquarela sobre Augusto de Brito e Cunha / Instituto Moreira papel, 38 x 27,9 cm. Coleção Eduardo Augusto Salles. de Brito e Cunha / Instituto Moreira Salles. ornalde 16 JLetras

JL Novos Lançamentos

Perdas Verdades

Após a excelente acolhida crítica de seu livro anterior – Ar de Uma mudança na lei de arquivos na China permitiu que o his- arestas, finalista do Prêmio Jabuti e semifinalista do Prêmio toriador holandês Frank Dikötter tivesse acesso a mais de mil Portugal Telecom –, Iacyr Anderson Freitas ressurge com uma documentos do Partido Comunista, do Ministério das Relações obra completamente distinta. Neste contundente Estação das clí- Exteriores em Pequim e de grandes coleções de províncias, cida- nicas, a teia lírica envolve e mobiliza o leitor, levando-o a dialogar des e condados da China. Ele leu relatórios secretos, minutas com personagens tomados pelo sentimento de perda, em seus de reuniões, confissões de assassinatos, cartas com queixas de diversos níveis de referência. Em primeiro plano, como o próprio gente comum e descobriu, entre outros dados, que pelo menos título indica, a perda da saúde. Algumas vezes medicada, pelo 45 milhões de pessoas morreram entre 1958 e 1962, vítimas do poeta do também premiado Viavária, com doses homeopáticas Grande Salto Adiante de Mao. A grande fome de Mao conta essa de ironia e humor. “Iacyr Anderson Freitas é hoje, sem dúvida história em detalhes, trazendo novas provas e relatos de uma das alguma, o maior nome de sua geração – e um dos maiores poetas maiores catástrofes humanitárias do século passado. Segundo vivos da língua portuguesa. E este belíssimo Estação das clínicas ele, as novas provas encontradas nesses arquivos mostram que (Escrituras Editora) vem corroborar a opinião daqueles que como eu acreditam na poesia coerção, terror e violência sistemática foram a base do Grande Salto Adiante. Nos relató- alicerçada no cotidiano do ser humano comum convertida em metáfora da Humanidade rios a que teve acesso, ele constatou que, entre 1958 e 1962, em estimativa aproximada, pela empatia (o outro como nós mesmos). Ponto alto de uma obra iniciada na já dis- de 6% a 8% das vítimas foram torturadas até a morte ou sumariamente mortas — ascen- tante década de 1980 e consolidada ao longo de vasta bibliografia, Estação das clínicas é dendo, no mínimo, a 2,5 milhões de pessoas. “Outras vítimas foram deliberadamente madura meditação a respeito da transitoriedade da vida e dolorosa busca de superação privadas de comida e morreram de inanição. Muitas outras desapareceram porque eram metafísica.”, analisa Luiz Ruffato. Iacyr Anderson Freitas nasceu em Patrocínio do Muriaé, velhas, fracas ou doentes demais para trabalhar — e, portanto, incapazes de ganhar seu Minas Gerais, em 1963. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Juiz sustento. Pessoas eram mortas seletivamente porque eram ricas, porque faziam cera, de Fora, o poeta obteve também, pela mesma instituição, o título de mestre em Teoria porque falavam, porque simplesmente não eram estimadas ou por qualquer outra razão, da Literatura. Publicou diversos livros de poesia, ensaio literário e prosa de ficção, tendo pelo homem que empunhava a concha no refeitório. Incontáveis pessoas foram mortas recebido várias premiações no Brasil e no exterior. Sua obra se encontra bastante divul- indiretamente por negligência, uma vez que os oficiais estavam sob pressão para focar gada em outras línguas e países (Argentina, Chile, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, mais os números que as pessoas, para garantir que preenchessem as metas que lhes eram França, Itália, Malta, Nicarágua, Suíça, Peru, Portugal e Venezuela). entregues pelos responsáveis pelo planejamento”, revela o autor no prefácio.

Inquisição Arte reinventada

A LerLisa Livros acaba de levar às livrarias O tempo entre som- Nos últimos 15 anos, o carioca Antonio Bokel testou quase todas bras, de Neida Lúcia Moraes, um romance histórico não por as possibilidades da arte. Interage com o espaço urbano através dedicar-se exclusivamente à História, e sim por estar alicerçado no do lambe-lambe de propaganda, das pichações e do grafite. O processo histórico da Inquisição no Estado do Espírito Santo e na discurso das ruas, em palavras e imagens, ganha vários outros Inquisição de Portugal, no século XVIII. A autora entremeou esses significados com o uso de técnicas mistas. Colagem e fotografia. dois episódios para rascunhar e configurar o protagonista Nuno Os suportes utilizados por ele passam pela instalação, quadros, Alvares de Miranda, um humilde homem do campo como todos moda, esculturas. Artista incansável, seu acervo tão diverso con- os outros, mas ao mesmo tempo firme e sem meias palavras no tabiliza mais de três mil imagens. 100 delas, a parte mais repre- que diz respeito às suas ideias sociopolíticas e filosóficas, pouco sentativa de sua trajetória em ordem cronológica, foi selecionada comuns, porém admiráveis para sua época e tempo. Pesquisadora para o livro Antonio Bokel: Ver (Réptil Editora). A obra, com textos e professora aposentada de História da Universidade Federal do dos curadores Vanda Klabin, Daniela Name, Oswaldo Carvalho, Espírito Santo, a autora, durante uma temporada de estudos em Mario Gioia e do artista plástico Pedro Sánchez, será lançada dia Portugal, se debruçou sobre incontáveis documentos da Santa Inquisição guardados nos 8 de abril no Pavilhão da Bienal, durante a feira internacional arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa. Eram manuscritos e julgamentos relacionados à de arte moderna e contemporânea SP-Arte 2017. Uma parceria da Réptil Editora com a perseguição aos chamados cristãos-novos, muitos deles expatriados para o Brasil, a então Mercedes Viegas Galeria, o título percorre em 160 páginas os principais trabalhos do artis- colônia de além-mar. O processo de Nuno, um réu brasileiro, despertou imediato inte- ta carioca. “Um diplomata talentoso, um articulador, um criador de mundo.” A análise é resse para que ela esboçasse e escrevesse o romance. Nasceu em Vitória, Espírito Santo. de Pedro Sánchez, um dos cinco convidados a observar a produção de Bokel. Sánchez Diplomou-se em História pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), ingres- analisa a movimentação de Antonio Bokel de um lugar privilegiado. Os dois dividem com sando mais tarde no corpo docente da mesma instituição. Ocupou cargos de destaque Marcelo Macedo o ateliê e o espaço Galeria Quintal, no Rio Comprido, Zona Norte da na administração pública. É membro do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia capital carioca. Esse contato diário permite que ainda se impressione com “a capacidade Espírito-Santense de Letras. Também é membro da Sociedade de Estudos do Século XVIII que Bookel tem de veicular, de fazer circular a sua produção quase compulsiva, com a de Portugal e da Academia de Letras de Cascais, Portugal. Historiadora e romancista, suas independência e a autonomia que sustenta em relação ao circuito e aos cânones da arte obras vêm alcançando sucessivas edições, além de premiações pelo Instituto Nacional contemporânea”. O desenvolvimento da carreira de Antonio Bokel é acompanhado desde do Livro e pela Academia Brasileira de Letras e também traduções em países europeus. o início, quando ainda frequentava o curso de design gráfico da Univercidade.

Pai da Psicanálise Absurdo na literatura

Fundamentos da psicanálise de Freud a Lacan – vol. 3 – A práti- Bartleby, o escrivão (José Olympio Editores) é uma daquelas obras que ca analítica (Zahar Editora) de Marco Antonio Coutinho Jorge deixa os leitores sem certezas para definir quem seria o personagem tão é o terceiro volume da trilogia de grande sucesso entre psi- peculiar. Ao fazer da voz do patrão, um advogado, o narrador, Herman canalistas e estudantes. Freud adiou a escrita de seus artigos Melville – autor de Moby Dick, seu livro mais conhecido, e de tantos sobre técnica por alguns anos, nos quais a experiência clínica outros primores – dá campo e distância a um olhar original sobre a lhe permitiu conceber o método e a finalidade da psicanálise. história de um funcionário excêntrico e de comportamento talvez Marco Antonio Coutinho Jorge trata desse período, e situa depressivo, que, aos poucos, progressivamente, se recusará a cumprir o ciclo da técnica na sequência dos ciclos do inconsciente e suas obrigações. A situação logo chega ao limite. Não há alternativa da fantasia, abordados nos dois volumes anteriores. O autor senão demiti-lo. Neste momento, o livro tem acentuadas suas cores expõe os principais conceitos clínicos freudianos – como fantásticas: porque, falhadas todas as tentativas de despedir Bartleby, o advogado então transferência, resistência, repetição e elaboração – em toda a decide mudar-se e deixar o escritório e o escrivão para trás. É quando o tom fantasmagórico densidade que lhes dá a renovação empreendida por Lacan, controla a trama: o homem aprofunda-se na inércia da negação e se recusa a abandonar a com sua macro teoria do real-simbólico-imaginário e outros sala e o prédio em que trabalhara – até ser levado preso. A narrativa de Melville – um dos conceitos. Além de leituras teóricas e exemplos de consultório, precursores do absurdo na literatura – é tão curta quanto rica e múltipla; leitura para na Coutinho Jorge recorre a elementos tão variados quanto cinema, literatura, mitologia, qual se perder em interpretações. Não à toa, Jorge Luis Borges a definiu como “aplicação pintura, filosofia e música pop – dando vida aos pontos cardeais da prática analítica e deliberada a um tema atroz que parece preconizar um Franz Kafka, o das fantasias do com- reforçando a ponte da teoria com o cotidiano. Marco Antonio Coutinho Jorge, psicana- portamento e sentimento ou, como agora lamentavelmente se diz, psicológicas”. Nascido lista e médico psiquiatra, é professor associado do Instituto de Psicologia da UERJ, onde em 1819, em Nova York, Herman Melville desde jovem sonhou ardentemente em correr ensina no Programa de Pós-Graduação em Psicanálise. Diretor do Corpo Freudiano Seção mundo. Obrigado a trabalhar por motivo do falecimento do pai, o futuro viajante exer- Rio de Janeiro, é membro da Association Insistance (Paris) e da Sociedade Internacional ceu vários empregos modestos, até fazer sua primeira viagem, à Inglaterra, quando tinha de História da Psiquiatria e da Psicanálise. É autor, entre outros, de Fundamentos da psi- apenas 15 anos, e em 1841 já se dirigia aos Mares do Sul. Foi capturado pelos selvagens de canálise (3 vols.) e de Freud: criador da psicanálise e Lacan: o grande freudiano (ambos uma das ilhas daquelas longínquas paragens, de onde conseguiu fugir para o Taiti. A fim de com Nadiá Paulo Ferreira), todos publicados por esta editora. Dirige na Zahar a coleção garantir seu sustento ao regressar aos Estados Unidos, aceitou um emprego na Alfândega de Transmissão da Psicanálise e a série de bolso Passo a Passo/Psicanálise. Nova York, lá trabalhando de 1866 a 1885. Morreu em 1891 na mesma cidade onde nascera. ornalde JLetras 17 Bíblia Católica no Youtube

Por Manoela Ferrari

O locutor Cid Moreira gravou o conteúdo completo da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse, para o Canal da Bíblica Católica. Inovador e pioneiro, o Canal Bíblia Católica, oferecido em por- tuguês pela plataforma YouTube, reúne o conteúdo completo da Bíblia – do Gênesis ao Apocalipse – com 73 livros em 146 vídeos, 150 Salmos, além das orações católicas. O Grupo Gol, focado na divulgação de cul- seminação dos ensinamentos e mensagens bíblicas. Desde o início do tura, informação e entretenimento na internet, é o responsável pela seu magistério, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro se destaca como modernização do Canal, lançado no final do ano passado, recebendo, entusiasta da educação e comunicação, sendo o inspirador de grandes em um trimestre, 75 milhões de visitas. projetos de avanço da Igreja. A plataforma é singular, inédita e quer alcançar um número O canal permite assistir a vídeos produzidos para cada um dos expressivo de indivíduos que têm interesse na Bíblia, mas que não livros que compõem a Bíblia, o que ajuda os usuários a compreende- dispõem do tempo necessário. A importante iniciativa atende a uma rem melhor o Livro Sagrado e suas doutrinas. D. Orani vê no Canal recente conclamação do papa Francisco, para que a Igreja modernize Bíblia Católica a oportunidade de divulgar mais e melhor a Palavra de os seus instrumentos de evangelização. Em diversas audiências, o Deus, através de uma linguagem moderna, pelas novas mídias com papa vem salientando a importância de se diversificar as formas de tecnologia inovadora: “O Canal Bíblia Católica é uma ferramenta divulgação da Bíblia. No dia 5 de março deste ano, no 1º domingo que estava faltando e que, com certeza, vem para somar e agregar. A da Quaresma, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Sumo Pontífice Palavra irá nos transformando e nos fazendo novas criaturas, segun- chegou a questionar: “O que aconteceria se tratássemos a Bíblia como do o coração de Deus. O novo canal será um itinerário que ajudará tratamos o celular?” a navegar nas águas profundas da Palavra de Deus.” O objetivo da Dom Orani Tempesta foi o primeiro cardeal a materializar ação Arquidiocese é atingir o maior número possível de pessoas, fortalecen- neste sentido, valendo-se do Youtube como canal de distribuição e dis- do o povo católico não só na fé, como também no conhecimento: “O Canal Bíblia Católica é um valioso curso bíblico grátis que os tempos modernos possibilitam oferecer pelas ferramentas que temos hoje”, afirma D. Orani, esperançoso. O projeto, reunindo o conteúdo completo da Bíblia, foi gravado por Cid Moreira. O Canal contém dois vídeos de apresentação para cada livro. Um vídeo didático, narrado pelo locutor, e outro vídeo evangeli- zador, gravado pelo cardeal, por bispos, padres, freiras, leigas e leigos, indicados oficialmente pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, através do padre Waldecir Gonzaga. Curador do Canal da Bíblia Católica, padre Gonzaga é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e professor do departamento de Teologia da PUC-Rio. Foi ele quem “batizou” o termo “biblionauta” para indicar o internauta que navega no mundo da Bíblia pela internet, que sintetiza o objetivo do projeto e define carinhosamente quem se inscrever gratui- tamente no Canal da Bíblia Católica no Youtube. Ao longo da narração do Novo Testamento, o “biblionauta” pode- rá, além de ler e ouvir, ver com exclusividade os lugares onde Jesus nasceu, viveu, morreu e ressuscitou. Após concluir cada livro, o usuário é direcionado a uma página de perguntas e respostas e poderá partici- par de um “quiz”. Com o apoio da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), o projeto foi desenvolvido por uma equipe de editores, acadêmicos e O cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, D. Orani Tempesta, e o papa Franscisco, apoiam a teólogos. Depois de acessar todos os livros, quem quiser, poderá ganhar importância de se diversificar as formas de divulgação da Bíblia. um diploma, certificando que concluiu o curso. ornalde 18 JLetras chia-os com tópicos variados, respondendo em alguns circunstâncias a pautas suscitadas por acontecimentos que requeriam sua expertise, como saúde pública ou literatura. Entre os tópicos que ele dominava, As crônicas judaicas constavam as matérias relacionadas ao judaísmo, que incluíam epi- sódios e líderes políticos do Oriente Médio, retrospectivas históricas, atividades culturais, memória, comentários. de Moacyr Scliar A variedade da pauta não significa que Scliar detivesse um conhe- cimento genérico ou fosse superficial ao abordar os conteúdos propos- Por Regina Zilberman tos. Pelo contrário, ele se mostrou invariavelmente um especialista, bem informado e profundo, expondo-os, graças a seu talento, em linguagem atraente e acessível aos leitores. Adveio dessas virtudes a necessidade de No filme “Negação” (Denial), em exibição em Porto Alegre, uma republicar as crônicas, agora reunidas sob uma rubrica, a do judaísmo, das perguntas propostas pela trama refere-se ao posicionamento do inte- pois é o que as aproxima, e dirigidas a uma audiência mais ampla, por- lectual ou do homem de Letras, seja ele historiador ou cronista, perante que registradas em livro. acontecimentos do passado ou do presente: deve ele seguir sua opinião, A frágil condição humana é a dos judeus, mas é também a de todos ajustando a qualquer custo os fatos às suas ideias? Ou buscar o significa- nós, seres precários que habitamos esse planeta. A palavra de Scliar, em do dos eventos, considerando-os mais importantes que suas convicções suas crônicas, certamente colabora para que a árdua travessia de cada particulares ou ideais? Assim sintetizado o dilema, a segunda alternativa um possa ser mais serena, porque acompanhada pela sabedoria de um parece a mais indicada; porém, não é sempre que essa situação prevale- intelectual capaz de se posicionar perante os fatos sem submetê-los a ce. As pessoas, incluídos aí historiadores, escritores e pensadores, muitas conceitos prévios, ensinando-nos a assim também proceder. vezes preferem ater-se a conceitos previamente formulados sobre fatos ou pessoas, deixando de lado o que contraria aqueles juízos. As crônicas de Moacyr Scliar, reunidas em A nossa frágil condi- ção humana, são exemplo candente da alternativa correta, decorrente da atitude que opta, primeiro, por examinar o caso e, depois, julgá-lo, ainda que nem sempre o posicionamento enunciado se mostre agradá- vel ou simpático a si mesmo ou a outros. E isso que o escritor lida com uma matéria bastante sensível – o judaísmo, tema agudizado no século XX após a revelação dos crimes do Nazismo, da fundação do Estado de Israel e dos conflitos entre árabes e israelitas. Nunca foi muito fácil falar dos judeus, mesmo entre eles, e por várias razões: trata-se de uma nação que, formada na Antiguidade, não renunciou aos vínculos com esse passado distante; os judeus são os responsáveis pela Bíblia Hebraica, obra que, ao lado de epopeias como a Ilíada e a Odisseia, fundou a cultura ocidental e inspirou sua gêmea fraterna, a Bíblia Cristã; aquele povo sofreu perseguições religiosas e étnicas desde os primeiros séculos da era cristã que, se não foram con- tínuas, ameaçaram sua sobrevivência; além disso, foi expulso de sua pátria, mas nunca deixou de aspirar o retorno à Terra Santa, manifes- tando esse anseio desde as lamentações do profeta Jeremias até a reda- ção por Theodor Herzl, de O Estado judeu, concretizando-o, enfim, por sobre – e talvez por causa de – as ruínas deixadas pela Segunda Guerra. Nem sempre os próprios judeus gostam de falar do assunto, seja porque sofreram os traumas do antissemitismo e do holocaus- to, seja porque são objetos de blague, seja porque se sentem constran- gidos ou intimidados. Judaísmo é, mas esperemos que não para sempre, um tema espinhoso, e poucos percebem-se efetivamente habilitados a manifestar-se sobre ele. Pois Moacyr Scliar é o escritor que, desde o começo de sua traje- tória enquanto ficcionista e ensaista, optou por abordar frontalmente, porém de modo sereno e maduro, a questão do judaísmo. Quando publicou O carnaval dos animais, em 1968, e, pouco depois, A guerra no Bom Fim, em 1972, ele tinha pouco mais de trinta anos, mas a juventude não o impediu de criar o primeiro protagonista judeu do romance bra- sileiro e a discutir assuntos que feriam a sensibilidade de seu público, como o Nazismo ou o antissemitismo. Por outro lado, procurou incluir problemas não propriamente judaicos, como a renúncia aos ideais, o comodismo, o fracasso existencial, mas que também lhes diziam respei- to, porque relativos à sociedade brasileira a que pertenciam. A guerra no Bom Fim é, na sua versão de 1972, depois alterada pelo autor, um livro tão corajoso, que discute mesmo a questão dos palestinos e a sedução do terrorismo, quando o assunto era incômodo para os habitantes da região, mas não afligia os demais, como se passa em nossos dias. As crônicas de A nossa frágil condição humana recuperam essa Ao longo de 216 trajetória, percorrida pelos escritor desde o começo de sua carreira lite- páginas, A nossa frágil rária. Elas foram publicadas originalmente em Zero Hora entre 1977 e condição humana 2010, aparecendo nos diferentes espaços que o jornal lhe reservava: o tem como recorte as Segundo Caderno, a coluna Opinião, a Revista ZH, o suplemento domi- incursões em temas judaicos, com 68 nical Donna, a crônica semanal das terças-feiras no Informe Especial. reflexões. Nenhum desses espaços tinha um temário específico, e Scliar preen- ornalde JLetras 19 adjunta do Instituto de Letras da UFRGS, especialista na literatura de Scliar) sobre a temática judaica na literatura de Scliar. No dia 30 de março, um simpósio na Universidade de São Paulo, HomenagemHomenagem aa coordenado pela professora Berta Waldman, contou com a presença de Judith Scliar e Regina Zilberman. Em abril, no dia 18, no evento Eu Leio Scliar, realizado pelo IEL MoacyrMoacyr ScliarScliar (Instituto Estadual do Livro), vários escritores leram trechos de livros do homenageado. Por Maria Cabral No dia 26 de maio, no Centro Cultural da Santa Casa de Porto Alegre, uma mesa redonda reunirá os escritores Ignácio de Loyola Brandão, Luís Fernando Veríssimo, Zuenir Ventura e Antônio Torres, com apresentação do documentário Caminhos de Scliar, realizado pela O ano de 2017 marca a comemoração diretora Claudia Dreyer. de 80 anos de um dos escritores mais A série de homenagens se estende ao longo de todo o ano. Para o queridos e consagrados de nosso país: Moacyr Scliar. O saudoso acadêmico será segundo semestre, estão previstos ainda os relançamentos de três obras homenageado com uma vasta programa- que se encontravam fora de catálogo. A reunião de anedotas judaicas ção comemorativa. Do Éden ao divã (1991) sairá pela Companhia das Letras. Já a L&PM vai publicar Histórias que os jornais não contam (com crônicas escritas para a Folha de S. Paulo, entre 2004 e 2008) e o raro Mistérios de Porto Alegre, coletânea de lendas urbanas e histórias curiosas ambientadas na capital gaúcha.

“Usamos a imaginação para completar as lacunas da vida, pro- Consulta pública ver explicações para coisas que não entendemos, traçar caminhos e entender o passado.” (Moacyr Scliar) Desde 2015, estudiosos e fãs de Scliar têm a possibilidade de descobrir quase mil manuscritos e datiloscritos de seu acervo, digita- Nascido em Porto Alegre, no dia 23 de março de 1937, médico, lizados e disponibilizados para consulta pública no site do Espaço de escritor e autor de mais de 80 livros, entre eles obras-primas como Documentação e Memória Cultural da PUC-RS (delfosdigital.pucrs. O Centauro no Jardim, O Exército de um Homem Só e A Mulher que br). Entre os documentos que comprovam a compulsão de Scliar pela Escreveu a Bíblia, Moacyr Scliar foi colunista da Zero Hora e Folha de escrita, há anotações de ideias e esboços de narrativas que nunca foram São Paulo. Membro da Academia Brasileira de Letras, é considerado um escritas. dos autores brasileiros mais lidos no exterior. O autor, que escreveu sua primeira história aos seis anos em um Filho de imigrantes judeus, Scliar ficou conhecido como o escritor papel de cobrir pão, nunca perdeu o hábito de rabiscar em tudo que do Bom Fim, bairro onde se localiza a comunidade judaica de Porto surgia a seu alcance. Há anotações em recibo de posto de gasolina, car- Alegre, a qual ricamente retratou em sua obra. Em seus romances e tão de embarque e até receituário. novelas, ficou a marca de sua originalidade e pluralismo. Nas crônicas, emerge o crítico da sociedade capitalista. Além de sua vasta e significa- “Penso no leitor que eu fui durante minha juventude e que pro- tiva obra, ficou o registro de um ser humano preocupado com questões curava nos livros prazer, encanto e respostas para os problemas da sociais e na área da saúde pública, com a qual fez relevantes contribui- vida. Espero que os leitores encontrem a mesma coisa em meus livros.” ções. (Moacyr Scliar) Ao longo do ano, o escritor, apelidado na infância como Mico – e, depois, Dr. Mico – receberá uma série de homenagens, que englobará Sobre o livro: não só reedições de livros e crônicas, como também mesas redondas Após A poesia das coisas simples, sobre a cultura e a escrita literária sobre a obra do autor, exibição de filmes baseados em suas obras lite- e Território da emoção, sobre o exercício da medicina, o leitor encon- rárias, leituras dramáticas e peças teatrais que conduzirão a um passeio trará, em A Nossa Frágil Condição Humana, 68 crônicas de temática pelas diferentes temáticas abordadas pelo escritor. judaica organizadas por Regina Zilberman. De acordo com a viúva, Judith, organizadora do projeto Moacyr Apresentadas em ordem cronológica, as crônicas dividem-se em Scliar 80 anos, este é um ano muito especial para a família: “Para três eixos temáticos: a literatura, o antissemitismo e a política de Israel comemorar o seu aniversário de nascimento, preparamos uma intensa e dos países árabes. agenda de atividades, que se estenderá pelo ano todo, tendo como foco Além de vasta erudição da cultura hebraica, o engajamento de um levar este legado às novas gerações. Todos os eventos foram planejados intelectual que, tendo a pluralidade na origem de seu pensamento, não com três ingredientes básicos: paixão, empenho e profissionalismo. se furta à complexidade da vida, mas antes ressalta e celebra os “com- Qualidades que Moacyr tinha de sobra.” plicados e imprevistos labirintos da mente humana”. Com a honestidade intelectual que lhe é característica, Scliar alia Programação suas aspirações políticas a uma afirmação radical da tolerância. Neste volume único de crônicas, originalmente publicadas no jornal Zero Hora, o leitor encontrará a sensibilidade de Moacyr Scliar a serviço da As comemorações começaram no dia 22 de março, com uma cultura, história e memória do povo judaico. homenagem na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Literatura, cinema, política, humor — nada escapa ao olhar arguto no Hospital de Clínicas, onde Scliar foi graduado como médico em de um dos grandes nomes da literatura brasileira, que contrapõe sua 1962. Na cerimônia de formatura, como orador da turma, começa seu reflexão desapaixonada à barbárie dos fatos, mirando, sem rodeios, discurso, um dos mais emocionantes textos de sua vida profissional, uma defesa fervorosa da paz, tão esclarecedora quanto necessária em citando Ferreira Gullar: “Morrem quatro por minuto nesta América nossos tempos. Latina...” e concluiu exortando os colegas a uma medicina realizadora. No dia 23, data de nascimento do autor, foi realizado o lança- mento do livro de Crônicas A Nossa Frágil Condição Humana, publi- cado pela Companhia das Letras (resenha anexa). Houve concorrida mesa redonda, com a participação de Regina Zilberman (doutora em Romanística pela Universidade de Heidelberg, Alemanha e professora