Revista Brasileira Fase Viii

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Revista Brasileira Fase Viii Revista Brasileira fase viii janeiro-fevereiro-março 2017 ano vi n.o 90 ACADEMIA B RASILEIRA R EVISTA B RASILEIRA DE L ETRAS 2017 Diretoria Diretor Presidente: Domício Proença Filho Marco Lucchesi Secretária-Geral: Nélida Piñon Conselho Editorial Primeira-Secretária: Ana Maria Machado Arnaldo Niskier Segundo-Secretário: Merval Pereira Merval Pereira Tesoureiro: Marco Lucchesi Murilo Melo Filho Comissão de Publicações Membros Efetivos Alfredo Bosi Affonso Arinos de Mello Franco, Antonio Carlos Secchin Alberto da Costa e Silva, Alberto Marco Lucchesi Venancio Filho, Alfredo Bosi, Ana Maria Machado, Antonio Carlos Produção Editorial Secchin, Antônio Torres, Arnaldo Niskier, Monique Cordeiro Figueiredo Mendes Arno Wehling, Candido Mendes de Revisão Almeida, Carlos Heitor Cony, Carlos Vania Maria da Cunha Martins Santos Nejar, Celso Lafer, Cícero Sandroni, Cleonice Serôa da Motta Berardinelli, Projeto Gráfico Domício Proença Filho, Edmar Lisboa Victor Burton Bacha, Eduardo Portella, Evaldo Cabral Editoração Eletrônica de Mello, Evanildo Cavalcante Bechara, Estúdio Castellani Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Carneiro, Geraldo Holanda Cavalcanti, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS Helio Jaguaribe, João Almino, José Murilo Av. Presidente Wilson, 203 – 4.o andar de Carvalho, José Sarney, Lygia Fagundes Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-021 Telles, Marco Lucchesi, Marco Maciel, Telefones: Geral: (0xx21) 3974-2500 Marcos Vinicios Vilaça, Merval Pereira, Setor de Publicações: (0xx21) 3974-2525 Murilo Melo Filho, Nélida Piñon, Nelson Fax: (0xx21) 2220-6695 E-mail: [email protected] Pereira dos Santos, Paulo Coelho, Rosiska site: http://www.academia.org.br Darcy de Oliveira, Sergio Paulo Rouanet, As colaborações são solicitadas. Tarcísio Padilha, Zuenir Ventura. Os artigos refletem exclusivamente a opinião dos autores, sendo eles também responsáveis pelas exatidão das citações e referências bibliográficas de seus textos. Vinhetas coligidas do acervo da Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça. Transcrições feitas pela Secretaria Geral da ABL. Esta Revista está disponível, em formato digital, no site www.academia.org.br/revistabrasileira. Sumário Marco Lucchesi Editorial 7 Iconografia Fabrizio Augusto Poltronieri 9 Dossiê Entrevista Paulo Bezerra Um brasileiro na Rússia? 11 Zoia Prestes Minha revolução 27 Angelo Segrillo 1917-2017: Cem anos da história da história da Revolução Russa 33 Bruno Barretto Gomide Jayme Adour da Câmara, uma bibliografia russa e uma carta tolstoiana 41 Homenagem a Ferreira Gullar Nélida Piñon Um rosto que julguei sempre belo 53 Ana Maria Machado Infinita gratidão 55 Antonio Carlos Secchin Uma obra admirável 57 Prêmio Senador José Ermírio de Moraes José Pastore Elogio da obra 59 Angela Alonso Discurso de agradecimento 63 Ensaio Evaldo Cabral de Mello A descoberta de Portugal por Robert Southey 69 Celso Lafer Hannah Arendt – 110 anos 73 Arnaldo Niskier Os estrangeirismos na Língua Portuguesa 77 Cristina Soreanu Pecequilo A política externa brasileira e o Oriente Médio: desafios do século XXI 89 Marcus Vinicius Furtado Coêlho O novo Presidencialismo: uma proposta para o Brasil 99 Leonardo Barros da Silva Menezes Pluralismo moral e tolerância religiosa 111 Antonella Rita Roscilli O centenário de Zélia Gattai: uma ponte entre Itália e Brasil 121 Wagner Schadeck Poesia, eternidade e símbolo 129 Francisco Aurélio Ribeiro Haydée Nicolussi (1905-1970). A formação de uma escritora ítalo-capixaba 141 José Paulo Cavalcanti Filho Homenagem a Marcos Vilaça 163 Fabrizio Rusconi Um Haroldo de Campos italiano 171 João Almino Utopia é ficção 175 Conto Jorge Sá Earp O último cônsul em Trieste 185 Caligrama Rodrigo Gonçalves 197 Poesia Solange Rebuzzi 205 Ricardo Alfaya 211 Alexandra Vieira de Almeida 217 Hugo Langone 223 Suzana Vargas 229 Mauricio Cardozo 235 Ana Martins Marques 241 Poesia do Paraguai Jacobo Rauskin 247 Susy Delgado 259 Memória futura Graça Aranha Futurismo versus Passadismo 271 Esta a glória que fica, eleva, honra e consola. Machado de Assis Editorial Marco Lucchesi s cem anos da Revolução Russa não podiam passar Ocupante da ao largo da Revista Brasileira. Parte essencial da his- Cadeira 15 tória de nosso país, por adesão relativa ou reação na Academia O Brasileira de absoluta. Utopia concreta, para uns; perigosa distopia, para Letras. outros; atalho para o espectro multiface da nova esquerda. E não se trata de limitar o tema à história das esquerdas no Brasil, que constitui fato de alta relevância. Sabemos, contudo, que a Revolução Russa, mais que traduzir um repertório de acertos eficazes e desastres aterradores, representa um mo- saico de leituras sobre a igualdade dos homens e o modo de alcançá-la, como vemos na entrevista de Paulo Bezerra e nos ensaios de Bruno Gomide e Angelo Segrillo. Trata-se de um convite renovado para se pensar a utopia concreta e os mecanismos capazes de promover a igualdade, sem diminuir o volume da democracia plena, como pensa Agnes Heller. Será possível um dia? Essa metáfora segue viva e nos contempla, como um ruído insistente, mancha indelével, nas esquinas e nas ruas de nossa cidade. E indaga os limites da República para os que ainda não perderam seus olhos. Atena iconografia Fabrizio Augusto Poltronieri ste número é enriquecido com as obras de Fabrizio Augusto Poltronieri. E Artista e pesquisador. Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP), realizou pesquisas de Pós-Doutorado no Royal College of Art, em Londres, e na Leuphana Univer- sität Lüneburg, na Alemanha. Atualmente é pesquisador per- manente do Institute of Creative Technologies na De Montfort University (Leicester, Inglaterra). Apresentando os deuses O acaso levou Fabrizio Augusto Poltronieri ao encontro do poema de Hesíodo, justamente quando o artista pesqui- sava o papel do poeta na arte computacional para sua tese de doutorado. Logo, a criação dos deuses cantada pelo poe- ta grego foi unida à ideia de criador aplicada aos aparelhos tecnológicos atuais. Poltronieri, que também é programador, desenvolveu um software que adentra as profundezas da me- mória computacional, procurando padrões de correspon- dência entre o poema antigo e a informação digital para a produção das obras desta exposição. Atualmente, os sistemas operacionais não permitem que o usuário tenha acesso dire- to aos recantos mais escondidos do computador. O artista subverte esta lógica, pirateia a memória do aparelho, conver- te seu conteúdo poeticamente em imagens e apresenta-as ao público. Apolo dossiê/ entrevista Um brasileiro na Rússia? Paulo Bezerra REVISTA BRASILEIRA Quando se deu o primeiro sinal de que ????????? a cultura russa acabaria ocupando um espaço de primeiro plano em ???????????? sua vida? PAULO BEZERRA Em 1963, o Partidão me enviou a Mos- cou para fazer um curso de formação política na escola do PCUS. Eu era operário metalúrgico, soldador, estava com 23 anos, acabara de concluir um curso de desenho mecânico na Escola SEMOG, em São Paulo, minha formação regular era o curso primário completo, portanto, não fizera o segundo grau e, consequentemente, não falava nenhuma língua estrangeira. Assim, a cultura russa entrou em minha vida como uma força transformadora, a começar pela língua. Os primeiros contatos com uma cultura in loco naturalmente se dão pela língua. Já cheguei a Moscou conhecendo o alfabeto e algumas expres- sões como dóbroe utro (bom dia) dóbriy viétcher (boa tarde), chto eto (o que é isto?), moiô ímya...) (meu nome é...) e mais alguma coisa, pouca. Minhas primeiras impressões do russo falado fo- ram de certa estranheza, talvez por sua pouca nasalidade em comparação com o português, sobretudo o que falamos no Brasil. Mas conforme fui entendendo e também me expres- sando, a estranheza inicial foi sendo substituída por certo en- cantamento, que acabou transbordando em paixão. Para um jovem unilíngue, de pouquíssima cultura, falar uma língua tão difícil, entender seu interlocutor e fazer-se entender era algo 12 Paulo Bezerra simplesmente maravilhoso. Logo aprendi a cantar em russo (coisa im- portantíssima no aprendizado de uma língua estrangeira por facilitar a memorização das palavres e seu entendimento), a ler jornais, decifrar letreiros. É verdade que tínhamos aula de russo três vezes por sema- na, mas a insistência em falar além das aulas foi fundamental para a familiarização com a língua e, claro, com a cultura. Seis meses depois de minha chegada eu já tinha amigos fora da escola, ia ao cinema e ao teatro, a shows, em suma, começava a viver a cultura russa em seu dia a dia. Uma experiência inapagável foi o Teatro Bolchoi com suas óperas e balé. O primeiro espetáculo a que assisti e se cravou em minha memória como uma tatuagem foi O Lago dos Cisnes. A música, a plasticidade da dança, aqueles movimentos vaporosos, enfim, todo aquele clima um tanto misterioso produziam uma espécie de sortilégio numa sensibilida- de que até então parecia adormecida para as formas mais avançadas da cultura. A ópera foi outra experiência excepcional. Era a história, a vida cultural da Rússia e do resto da Europa que desfilavam naquele cenário suntuoso para o encantamento do público. Acrescento ainda a música popular, a canção lírica do dia a dia e a tradicional romança, a música de resistência debochada dos estudantes e sobretudo do furacão Vladi- mir Vyssotsky, o maior fenômeno musical da URSS dos anos sessenta- -setenta. Ainda cabe mencionar o Conservatório Tchaikovski, que eu frequentava com certa assiduidade depois de ter aprendido a gostar de música clássica. Tudo aquilo, somado à tomada gradual de conhecimen- to da riquíssima história,
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