Zuenir Ventura

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Zuenir Ventura Reeditado em 14/1/2016 em homenagem a Célia Chaim, coordenadora da série, falecida em 12 de janeiro. Edição 1 - 30 de abril de 2008 No dia 5 novembro de 2007, Jornalistas&Cia circulou uma edição especial, a 615A, com uma entrevista de fôlego com os dois principais executivos da Infoglobo, o diretor-geral Paulo Novis e o diretor de Negócios Corporativos Agostinho Vieira. Foi uma entrevista de mais de duas horas que eles concederam a mim e a editora regional Cristina Vaz de Carvalho. Daquela experiên- cia e do desejo de abrir espaço para que se pudesse conhecer um pouco melhor a alma de alguns de nossos mais importantes jornalistas nasce agora a série Jornalistas&Cia ENTREVISTA. Ela chega com a proposta de mensalmente trazer para nossos leitores informações relevantes e curiosidades de personagens que povoam o nosso dia-a-dia, o nosso imaginário e, porque não dizer, os nossos corações, ídolos que são para muitos de nós. A série abre com Zuenir Ventura, jornalista e escritor consagrado internacionalmente, que tem uma carreira premiada, com passagens por alguns dos mais importantes veículos de comunicação do País. Além da entrevista que concedeu a Célia Chaim, e que publicamos na íntegra, o especial destaca todas as obras escritas por Zuenir e também o passo a passo de sua carreira. O tempero, além do texto da Célia, fica por conta de uma crônica de Luís Fernando Veríssimo publicada anos atrás no Estadão e que aqui resgatamos, e do texto com uma síntese da participação de Zuenir no Roda Viva que foi ao ar no dia 14 de abril. Boa leitura! Eduardo Ribeiro ZUENIR VENTURA - Quem lê nunca esquece Por Célia Chaim Zuenir Ventura é um dos Seu Zezé e dona Neném pu- ga às livrarias pela Editora Plane- principais nomes da seram no mundo um presentão ta. No livro, retorna a 1968 para, Cacalo Kfouri Fotos: imprensa brasileira. para os brasileiros, o jornalista a partir daí, investigar o que res- e escritor Zuenir Ventura. Acon- tou da herança daquele que mui- Trabalhou como repórter, teceu em Além Paraíba, Minas tos consideram o mais polêmico redator e editor de jornais Gerais, no dia 1º de junho de ano do Século XX. 1968 – O ano e revistas, ganhou os 1931. Terceiro dos quatro filhos que não terminou, escrito por ele prêmios Esso de do casal Antônio José Ventura, e lançado há 20 anos, é referên- Reportagem e Vladimir seu Zezé, e Herina de Araújo, cia para o estudo da década de dona Neném, começou a traba- 60, best-seller com mais de 40 daqueles tempos? A liberdade Herzog de Jornalismo em lhar cedo, na adolescência, pri- edições e 400 mil exemplares sexual pós-pílula e pós-Aids se- 1989. Além de crônicas, é meiro como ajudante do pai, vendidos. “Minha preocupação ria uma conquista daquela ge- autor de livros como os pintor, depois como contínuo do é buscar no mundo de hoje o que ração? E os jovens de hoje? Es- best-sellers 1968 – O ano Banco Barra do Piraí, faxineiro nasceu ou se desenvolveu em tariam perdidos em meio ao que não terminou e do Bar Eldorado, balconista da 1968”, explica. “O que teve ori- consumismo ou encontram na Cidade partida. E já está Camisaria Friburgo, professor gem nesse ano e não se perdeu causa ecológica e nos movimen- primário do Colégio Cêfel. Zue- no tempo? Há respostas para tos sociais de periferia uma nova nas livrarias 1968 – O nir é terno, um chefe que se im- muitas perguntas. O movimento luta? Seria a globalização o novo que fizemos de nós, sobre pôs pela competência e não da periferia tem conexão com os inimigo a ser enfrentado? Dia- o que ficou daquele ano pelo grito, um intelectual sem movimentos sociais da década logando com ícones da geração inesquecível. Quatro soberba, dono de uma escrita de 60? Que caminhos tomaram de 68 e com jovens de hoje, ou décadas depois, Zuenir rara e de um amor eterno por a juventude, a política e a socie- valendo-se de pesquisas e estu- Mary, também jornalista, sua dade a partir dos movimentos dos, Zuenir encontra pessoas foi atrás da herança mulher há 45 anos. Êpa! Nada que tiveram seu auge em 68?” que se lembram com carinho de deixada por aquela de injustiças: na vida real, esse O livro é dividido em duas 68 e quem não quer mais saber geração polêmica, de mineiro que se tornou carioca é partes. Na primeira, Zuenir bus- dele. Ele escreve: “É possível que ouro. Zuenir torce pelo o marido de Mary, uma doce ca o caminho percorrido por 68 no Século XX tenha havido um Fluminense, tem dois criatura que, ele admite, o con- nestes 40 anos, e vai descobrir ano igual ou mais importante do filhos – Mauro e Elisa – e duz. “Mary manda em mim”. traços dele até em raves, assim que 1968, como defendem al- Zuenir passou por São Paulo como encontra remanescentes guns. Mas nenhum tão lembra- uma mulher que se em 14 de abril para acertar o lan- dos Meia-Oito no governo e na do, discutido e com tanta dis- chama Mary, sua doce çamento de seu novo livro, 1968 oposição. A droga, então ideali- posição de permanecer como companheira há 45 anos. – O que fizemos de nós, que che- zada, seria a herança maldita referência, por afinidade ou por contraste. Ao se comportar Naquela mesma noite, em São simo é um Bial ou um Jabor”. grande Vera, prepara, sabendo como se fosse um ser animado, Paulo, Zuenir Ventura ocupou a E olha que o magnífico escri- que esse é o seu almoço diário suspeita-se que 1968 não foi um cadeira principal do programa tor e cronista Luís Fernando Ve- e que a “refeição” mesmo é só ano, mas um personagem ines- Roda Viva, da TV Cultura (ver ríssimo passa longe, sempre, de no jantar. Zuenir e Mary vivem quecível e que teima em não sair Cesar Benjamim: o rosto de microfones, gravadores e – Deus ali, felizes da vida. “Gosto mui- de cena”. 1968). No sábado, 19, abriu o o livre! – de uma câmara de tevê. to do Rio”, ele afirma. Quem No livro, Caetano Veloso, o coração na crônica Pânico na Mas Deus não livrou Zuenir de, não gosta de uma das cidades compositor da trilha sonora da- TV, publicada no jornal O Glo- poucos dias depois, ser um dos mais bonitas no mundo, a “ci- queles tempos, aponta a mudan- bo, sobre sua sofrida experiên- entrevistados de Jô Soares. Esta- dade maravilhosa” do País? É ça de comportamento da socie- cia. Um trecho: “Sofro antes, va mais à vontade, deu risadas, perigosa e violenta? “É uma tra- dade como o melhor legado de durante e sobretudo depois... Na foi aplaudido pela galera e mos- gédia”, ele diz, como dizem os 68: “O melhor foi as meninas de véspera, torço para que o pro- trou que, se nunca vai ser um galã paulistanos sobre a insegurança família passarem a poder transar grama ou o convite seja cance- de novela, sempre será um dos em São Paulo. A diferença insus- com os namorados, em muitos lado. No dia, alimento a espe- melhores jornalistas do País. peita é que o Rio é o Rio que casos dentro da casa dos pais. O rança de que um beclaute re- Zuenir e Mary voltaram para mora no mar, o Rio de Janeiro, pior foi a volta da religião”. Per- pentino tire a estação do ar. Ou casa dois dias depois da passa- fevereiro e março, de Gilberto guntado se o socialismo ainda então que um grande aconteci- gem por São Paulo. A casa é um Gil; o Rio da Garota de Ipane- tem algo a dizer, ele resume: “O mento, uma catástrofe, desvie apartamento em Ipanema que ma, de Tom Jobim e Vinicius de desejo de superar as injustiças todas as atenções para outros lhes permite ver o mar, atrás da Moraes. É o Rio de Janeiro. sociais sempre terá algo a dizer”. canais e não deixe nenhum avenida Vieira Souto, caminhar A seguir, a integra da entrevista Daquela época, Caetano só tem amigo assistir o meu vexame. pela orla, comer sua saladinha que ele concedeu a J&Cia EN- uma saudade, “ser jovem”. (...) Comparado comigo, Verís- de alface e tomate que Vera, a TREVISTA. “A geração de 68 queria tudo a que não tinha direito; a atual tem tudo do que precisa e por Edição 1 - Página 2 isso se apresenta cheia de ambigüidades e paradoxos. Desapegada ideologicamente, essa turma bem de vida e de poder aquisitivo não se interessa pela política, não tem preocupações sociais e não protesta nem contesta, pelo menos na forma como faziam seus antecessores. É uma geração auto-centrada.” Jornalistas&Cia – A primeira Tribuna da Imprensa, de Carlos achou que era recordista. Quan- fissão. Não tem receita. Acho pergunta seria sobre 1968 – O Lacerda. Quando voltei para o do eu disse que tinha 45, ficou que é uma construção a dois, que fizemos de nós. Mas, se- Brasil e para o jornal, ela estava meio sem jeito. E aí ficamos pro- não é um mar de rosas. É real- guindo réstias do espírito anár- lá, como repórter. Aí a gente co- curando saber se tinha alguma mente uma conquista, uma quico de 68, começo por Mary, meçou um namoro que dura 45 fórmula. Não tem. Ele atribui a construção conjunta, você tem a co-autora de sua vida. Como anos já. O que é uma coisa duração do casamento dele às que ceder, dar espaço. Mas é vocês se conheceram? muito rara hoje.
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