A Geleia Geral Da Alegria, Alegria
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TRT Informativo Cultural 23 Cultural| Setembro / Outubro 2012 Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região A geleia geral da alegria, alegria Os 70 anos de Gil e Caetano lembram o início da carreira deles: a Tropicália, movimento artístico amplo que marcou profundamente o fim dos anos 60. Uma boa hora para refletir sobre o tropicalismo e suas expressões na música, artes plásticas, cinema, literatura e teatro. Veja os principais discos e saiba quem Vá ao cinema foi Torquato Neto e quem é Tom Zé, dois ícones ver o filme do tropicalismo. Págs. 3 a 11 Tropicália Comer e coçar Viajei & cliquei Em cartaz Comer, coçar e observar é só O TRT Cultural inaugura a seção No cinema destacamos Intocáveis, a começar. Veja o olhar obser- de fotos de quem viajou, clicou e imperdível história real de dois homens vador sobre o Centro de Inte- vai publicar aqui, dando dicas e que faz rir e chorar: um tetraplégico gração do TRT5 e o que tem enchendo os olhos de beleza. que precisa de um ajudante full time. a dizer da rotina e hábitos de Participem enviando fotos. No teatro, Homens que amam quem frequenta o lugar. Pág. 14 demais discorre sobre todas as fases Págs. 12 e 13 do amor, desde a sua descoberta, desenvolvimento, creise, término e retomada. Pág. 15 #23 - Setembro / Outubro 2012 Editorial Missivas Leu e devorou Esses jovens senhores setentões Caros colegas, tenho acompanhado o trabalho de vocês e vejo que a Voltamos nesta edição com a Tropi- do Banco do Brasil com Betânia cada dia está melhor. Parabens pela cália, movimento inspirado no mo- cantando Chico e Lulu Santos can- última edição, que li de fio a pavio. dernismo, cujo marco foi a Semana tando Roberto e Erasmo foram em Destaco a matéria sobre o centenário de Nelson Rodrigues, que disseca de Arte Moderna de 1922, e que pre- única apresentação. Para uma cida- a natureza provocativa, reacionária tendeu expressar e valorizar a iden- de de três milhões de habitantes, é e genial do polêmico jornalista/ tidade brasileira. A Tropicália é revi- um acinte: para comprar o ingresso, dramaturgo. Amigo Bomb, li sua vida nas próximas páginas por conta era preciso chegar às 5h da manhã matéria sobre o Peru e tive vontade de ir lá ver tudo aquilo de perto. A dos 70 anos de idade de Gilberto Gil com grande risco de não conseguir. matéria cumpriu sua tarefa. Carlo e Caetano, dois senhores revolucio- O mesmo para o show de Chico e sua paixão pelo cinema: me nários da nossa música, nascidos em Buarque, em abril. E claro, jamais lembrou que tenho dedicado pouco 1942. Muita gente brilhou no movi- chegarão aqui sessentão, setentão e tempo a esse prazer. Valorizar o passado, fortalecer o presente mento tropicalista, tenha quase 70 ou oitentão internacionais como Robert e repensar o futuro deveria ser mais, como Tom Zé e Jorge Mautner. Plant, Paul McCartney e BB King, também uma preocupação nossa, Todos parecem jovens e ainda são ído- que neste ano vieram ou vêm ao soteropolitanos, que vivemos em Brasil que não inclui a Bahia. uma cidade cheia de histórias e los, inclusive dos jovens de hoje com problemas. Bom exemplo o da seus 20 e poucos anos – e nós que já Já é hora de a Bahia deixar de ser mulher angolana. Por fim, o cabelo. cantamos “Não confio em ninguém província e virar metrópole cultural, Eu que tenho uma filha de 9 anos e com mais de 30 anos...”. E hoje, a gen- como fomos nas décadas eferves- com cabelos crespos, adorei. Até li a matéria com ela, pois já faço o te ouve quem com menos de 30? centes de 50 e 60, produzindo artis- mesmo trabalho de valorização da Pois bem, além de Gil e Caeteno, fa- tas como Tom Zé, Gil, Caetano, Gal, sua beleza, sem a necessidade de zem 70 também Paulinho da Viola e Betânia, Glauber Rocha e Torquato se “adequar” aos padrões que estão ai. Valeu, Solange. Mílton Nascimento. E cadê os filhos e Neto, que morou aqui por dois anos. Saiba mais nas próximas páginas. Valeu, galera, podem continuar, netos artísticos dessa galera que cami- pois o caminho é esse mesmo. Curta, divirta-se e participe mais do nha para a aposentadoria? Mas o mais Antonio José Góes importante é a gente se espelhar no TRT Cultural. 1ª Vara de Simões Filho vigor e produção deles: continuam a Envie seu comentário, crítica, compor, a fazer shows, turnês, gravam sugestão ou elogio [email protected] CD/DVD. Enquanto comemoramos os 70, choramos com a nossa condição de Jornal TRT Cultural Realização: estado esquecido das grandes tur- Serviço de Assessoramento em Projetos Coordenação Editorial: Especiais nês pelo Brasil, sejam atrações na- Vânia Fagundes - Projetos Especiais Projeto Gráfico: cionais ou internacionais. Gil, por Edição / Revisão: Luiz Alberto Gonçalves - Ascom sorte, fez sua comemoração no TCA Solange Galvão - Publicidade/Ascom Arte & Diagramação: com o brilhante show com a Orques- Participação: Marcelo Edington - Escola Judicial Ana Aragão, Carlo Borges, Glady Car- tra Sinfônica da Bahia que depois valho, Juca Pedreira, Solange Galvão e E-mail: percorreu outras capitais. Os shows Vânia Fagundes [email protected] 2 #23 - Setembro / Outubro2012 História Após compor tão revolucionária can- “Resisti a pôr em minha música o foi reprimido pela ditadura e Caetano ção, veio dúvida na cabeça de Caeta- nome da obra de um cara que eu e Gil exilaram-se em Londres por três no Veloso, jovem compositor baiano nem conhecia”, lembra Caetano. E anos, depois de ficarem presos aqui no com apenas 26 anos de idade e que o que tinha a ver a obra de Oiticica Brasil por dois meses. no ano anterior tinha estourado com com a música de Caetano? Barreto Oiticica inaugurou a proposta van- Alegria alegria, no Festival de Mú- havia entendido isso rapidamente: guardista da Tropicália: nos jardins sica na TV Record – ficou em sexto eram similares porque inauguravam do museu, o público participava da lugar, mas era a música mais execu- uma nova linguagem nas artes brasi- obra transpondo um labirinto cons- tada nas rádios. Qual nome teria esta leiras, da revolução, da indignação, truído com uma arquitetura impro- composição? O cineasta Luís Carlos da transposição. Vivia-se no país os visada, semelhante às favelas, um Barreto, que tinha ouvido Caetano anos de chumbo: a ditadura militar, cenário tropical com plantas carac- cantá-la em São Paulo, sugeriu Tro- endurecendo com o AI5. Por outro terísticas e araras. “O público cami- picália, inspirado na obra de arte de lado, a cultura efervescia e a Tropi- nhava descalço, pisando em areia, Hélio Oiticica, que um ano antes ti- cália foi um caldeirão cultural que brita, água, experimentando sensa- nha mexido com a cabeça de muita conseguiu, em pouco tempo, se ma- ções; no fim do percurso se defron- gente, na exposição Nova Objetivi- nifestar nas artes, na música, no cine- tava com um aparelho de TV ligado, dade Brasileira, no Museu de Arte ma, na poesia, na literatura, no teatro. um símbolo moderno. A nova ima- Moderna do Rio de Janeiro. E durou apenas um ano. O movimento gem do Brasil, os meios de comuni- 3 #23 - Setembro / Outubro 2012 História tudo vale, principalmen- Diabo na Terra do Sol e Idade da te o que violente nosso Terra, do diretor Glauber Rocha. bem-estar conformista”. E esses dois filmes e mais Terra em O movimento foi mui- Transe, também de Glauber, influen- to criticado por aque- ciaram o Tropicalismo. Terra em les que defendiam o Transe serviu de inspiração para Cae- engajamento político. tano ao compor Tropicália. O pesqui- Mas os tropicalistas sador Ricardo Janoário, da UFRJ, ava- não pretendiam se en- lia que a estética tropicalista assimilou cação de massa contrastando com a quadrar nessa catego- a linguagem de Glauber: “O corte, a miséria nacional”, escreveu o artista ria, pois eram revolucionários na justaposição, o uso de fragmentos e baiano Almandrade. estética, uma forma de subverter dos efeitos flashback, presentes na A Tropicália buscou a brasilidade. O os padrões vigentes. produção cinematográfica, pareciam tropicalismo foi inovador porque mis- Os novos padrões estéticos também atrair a atenção, não apenas do grupo turou aspectos tradicionais da cultu- ocorreram na poesia de Torquato Neto baiano, mas também dos expressivos ra nacional com inovações estéticas e Capinam (letristas do Tropicalis- setores da juventude interessados pela como a pop art, e se inspirou no con- mo), no cinema de Glauber Rocha e cultura”. Marcante também foi o fil- cretismo. E também bebeu na fonte no teatro de José Celso Martinez. E me Macunaíma, de Joaquim Pedro do Modernismo, no antropofagismo, influenciou muitas gerações. Também de Andrade, baseado no livro de Má- e misturou bossa com samba, guitarra fizeram parte desta corrente cultural o rio de Andrade, um dos mentores da com cuíca, sertão com Nova Iorque. maestro e arranjador Rogério Duprat; Semana de Arte Moderna, de 1922. Oiticica assim analisou: “O grande cantores e compositores como Tom Zé Influenciou também o movimento a erro é querer-se transformar a cultura, e Jorge Benjor, Jorge Mautner, Jards poesia concreta dos irmãos Augusto nas suas manifestações, em algo bem Macalé, Gal Costa e Nara Leão e o e Haroldo Campos e Décio Pignatari. comportado, bonito, digno dos lares grupo musical Os Mutantes (Arnaldo burgueses com seus preconceitos do e Sérgio Dias e Rita Lee). que seja bom ou mau etc. Desde cedo Nas artes plásticas, também se des- aprendi uma coisa importantíssima: tacou Rogério Duarte, que partici- nas manifestações da criação humana pou do Tropicalismo como mentor intelectual, criador das capas dos principais discos do movimento e como co-autor de algumas músicas com Gil e Caetano.