Revista Brasileira 64-Completa.Pdf
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Revista Brasileira Fase VII Julho-Agosto-Setembro 2010 Ano XVI N. o 64 Esta a glória que fica, eleva, honra e consola. Machado de Assis ACADEMIA BRASILEIRA REVISTA BRASILEIRA DE LETRAS 2010 Diretoria Diretor Presidente: Marcos Vinicios Vilaça João de Scantimburgo Secretária-Geral: Ana Maria Machado Primeiro-Secretário: Domício Proença Filho Conselho Editorial Segundo-Secretário: Luiz Paulo Horta Arnaldo Niskier Tesoureiro: Murilo Melo Filho Lêdo Ivo Ivan Junqueira Comissão de Publicações Membros efetivos Antonio Carlos Secchin Affonso Arinos de Mello Franco, José Murilo de Carvalho Alberto da Costa e Silva, Alberto Marco Maciel Venancio Filho, Alfredo Bosi, Ana Maria Machado, Antonio Carlos Produção editorial Secchin, Ariano Suassuna, Arnaldo Niskier, Monique Cordeiro Figueiredo Mendes Candido Mendes de Almeida, Carlos Revisão Heitor Cony, Carlos Nejar, Celso Lafer, Luciano Rosa e Gilberto Araújo Cícero Sandroni, Cleonice Serôa da Motta Berardinelli, Domício Proença Filho, Projeto gráfico Eduardo Portella, Evanildo Cavalcante Victor Burton Bechara, Evaristo de Moraes Filho, Pe. Fernando Bastos de Ávila, Geraldo Editoração eletrônica Holanda Cavalcanti, Helio Jaguaribe, Estúdio Castellani Ivan Junqueira, Ivo Pitanguy, João de Scantimburgo, João Ubaldo Ribeiro, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS José Murilo de Carvalho, José Sarney, Av. Presidente Wilson, 203 – 4.o andar Lêdo Ivo, Luiz Paulo Horta, Lygia Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-021 Fagundes Telles, Marco Maciel, Marcos Telefones: Geral: (0xx21) 3974-2500 Vinicios Vilaça, Moacyr Scliar, Murilo Setor de Publicações: (0xx21) 3974-2525 Melo Filho, Nélida Piñon, Nelson Pereira Fax: (0xx21) 2220-6695 dos Santos, Paulo Coelho, Sábato Magaldi, E-mail: [email protected] Sergio Paulo Rouanet, Tarcísio Padilha. site: http://www.academia.org.br As colaborações são solicitadas. Os artigos refletem exclusivamente a opinião dos autores, sendo eles também responsáveis pelas exatidão das citações e referências bibliográficas de seus textos. Sumário EDITORIAL João de Scantimburgo Os caminhos. 5 CULTO DA IMORTALIDADE Murilo Melo Filho Nabuco: 100 anos depois . 7 PROSA Ivo Pitanguy Rachel de Queiroz . 13 Lygia Fagundes Telles Monteiro Lobato . 19 Marcos Vinicios Vilaça Nossos prêmios . 23 Cleonice Berardinelli “Portugal, meu Avozinho”. 27 Lêdo Ivo Rachel. 51 Celso Lafer A memória reverenciada: Miguel Reale . 57 Eduardo Portella Atualidade de Tancredo Neves. 71 Moacyr Scliar Ciência e arte: a visão de Carlos Chagas Filho. 75 Afonso Arinos, filho Sinopse dos diários de Carlos Magalhães de Azeredo . 85 Arnaldo Niskier Academia é mesmo brasileira . 145 José Thomaz Nabuco, filho O diplomata Joaquim Nabuco . 147 Mauro Benevides Aurélio, dicionarista e dicionário . 159 Floriano Martins Américo Facó: notas de acesso a uma obra perdida . 163 Edson Nery da Fonseca Um poema de Manuel Bandeira . 171 Vera Lúcia de Oliveira Reflexões sobre a poesia migrante na Itália . 173 Paulo Nathanael Pereira de Souza O ideário liberal de Joaquim Nabuco. 193 Maria Eli de Queiroz As mulheres de Rachel de Queiroz . 197 Marcos Santarrita A centenária Rachelzinha . 213 Franklin de Oliveira OqueéOs Sertões? . 221 Izacyl Guimarães Ferreira A indagação existencial de Igor Fagundes . 241 Teresa Cristina Meireles de Oliveira As eleições da memória em OQuadradoAmarelo,de Alberto da Costa e Silva. 251 Ida Vicenzia O teatro católico de Otávio de Faria . 259 André Seffrin 2010: o primeiro semestre literário . 265 POESIA Américo Facó Poesia . 275 POESIA ESTRANGEIRA Poemas de Guadalupe Grande . 287 GUARDADOS DA MEMÓRIA Constâncio Alves Joaquim Nabuco. 317 Graça Aranha Carta de Graça Aranha . 323 Aurélio Buarque de Holanda À margem da “Canção do Exílio” . 325 Editorial Os caminhos João de Scantimburgo evocação de alguns dos nossos grandes mortos continua pre- A sente nas páginas deste numero da Revista Brasileira. A comemoração do Centenário da morte de Joaquim Nabuco e o Centenário do nascimento de Rachel de Queiroz, Carlos Chagas Filho, Aurélio Buarque de Holanda e Miguel Reale suscitam novas aborda- gens, que evidenciam que uma literatura se faz e se consolida através da diversidade e da multiplicidade de expressões culturais e artísticas. Cada um dos membros da Academia Brasileira de Letras que aqui e agora estão sendo alvo de evocações e análises, representa um caminho a uma história. A essas manifestações acrescenta-se o ensaio clássico de Franklin de Oliveira sobre Os Sertões, o qual prolonga a intensa repercussão al- cançada pelo transcurso do Centenário do falecimento de Euclides da Cunha, ocorrido no ano passado. Os livros biográficos e ensaísticos que têm sido publicados este ano sobre Joaquim Nabuco – e entre os quais se salientam os dois volumes organizados pelo professor Severino J. Albuquerque sobre 5 João de Scantimburgo a sua atuação nas Universidades de Yale e Wisconsin, quando embaixador do Brasil em Washington – reafirmam a glória inarredável do grande brasileiro que, juntamente com Machado de Assis e Lúcio de Mendonça, fundou a Aca- demia Brasileira de Letras. Na mesma trilha privilegiada em que transitam nossos grandes estilistas literários, avulta Rachel de Queiroz. Os artigos sobre ela aqui reunidos, e marcados pela evo- cação pessoal, indicam de forma nítida a importância da autora de O Quinze. Ela é, sem dúvida, uma das mais altas expressões de nossa literatura e já está engastada numa galeria perene, ao lado do seu glorioso ascendente que foi José de Alencar. O artigo do Acadêmico Moacyr Scliar ressalta o papel relevante exercido por Car- los Chagas Filho no processo de desenvolvimento científico do Brasil. O ensaio do grande dicionarista e filólogo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira sobre a “Canção do Exílio” de Gonçalves Dias deve ser acolhido como uma das nossas primeiras mani- festações de crítica estilística e reclama uma atenção especial do leitor. A ação seminal do jurista e filósofo Miguel Reale, autor de uma Teoria do Di- reito internacionalmente consagrada, freme no ensaio que lhe dedica o Acadêmico Celso Lafer, com a sua autoridade de jurista e pensador político e social. Figura neste número da Revista um ensaio do poeta e ensaísta Floriano Martins sobre um admirável poeta esquecido, o cearense Américo Facó. Ele pertence à li- nhagem poética dos bichos-de-seda ou bichos de concha, segundo a fina observa- ção de Manuel Bandeira, que o incluiu em sua Antologia dos Poetas Bissextos, pois se escondia e só se revelava aos amigos mais íntimos que, como Carlos Drummond de Andrade, muito o admiravam. O trabalho de Floriano Martins nos mostra o seu alto nível poético. Américo Facó viveu nos tempos da eclosão e consolidação do Modernismo, mas seguiu um caminho diferente, praticando uma poesia apu- rada, e de peregrina musicalidade, que ostenta o selo do Simbolismo francês, sem embargo da vibrante nota nacional nela existente. Os seus poemas aqui reproduzidos nutrem o postulado de que a grandeza de uma literatura se assenta sobre a diversidade e a pluralidade dos caminhos seguidos. 6 Culto da Imortalidade Nabuco: 100 anos depois Murilo Melo Filho Ocupante da Cadeira 20 na Academia Brasileira de Letras. e 2008 foi o Centenário da morte de Machado e se 2009 foi o SCentenário da morte de Euclides, este 2010 está sendo o Cen- tenário da morte de Nabuco. Eles três foram fundadores e membros efetivos da Academia Bra- sileira de Letras, que justamente por isso tanto se tem empenhado em homenageá-los. Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, o “nhô Quim”, assim seria depois chamado pelos escravos do seu engenho Massangana, onde viveu os primeiros oito anos de vida. E uma das lembranças que o marcaram para sempre foi a de uma criança negra que havia recebido várias chibatadas de um feitor e que, numa desabalada correria, se ati- rou aos seus pés, pedindo-lhe que a comprasse dos seus senhores: – Qual é o seu nome? – Joaquim Felício. Na coincidência de nome daquele “xará”, decidia-se o destino de outro Joaquim, o Nabuco, no rumo do Abolicionismo. E ali mesmo 7 Murilo Melo Filho prometeu a si próprio lutar pela liberdade daquela raça sofrida. Anos depois, voltou a Massangana, onde visitou o catre dos escravos, que então já haviam morrido, quase todos. Horroriza-se então com o que vê. A casa e a igreja ha- viam sido destruídas. De repente, recordou-se de que, distante delas, havia o cemitério dos negros. Lembrou-se de quase todos eles e os chamou, um a um, pelo nome. E mais uma vez jurou mudar aquele cenário. Nessa época, Machado de Assis começava a sua vida de crítico literário e o recomendou: – Tomem nota deste nome: Joaquim Nabuco, um jovem patriota. Uma turma ilustre Na Faculdade de São Paulo, enturmou-se com alunos ilustres: Afonso Pena, Rodrigues Alves e Rui Barbosa. Formou-se em Direito e defendeu es- cravos no Tribunal do Júri, cujos crimes conheciam uma só sentença: a pena de morte. Já estava então envolvido no abolicionismo, que defendia como o primeiro passo para uma futura reforma agrária e um projeto de reforma educacional. Media 1,90 m de altura e já o conheciam como “Quincas, o Belo”. Solteiro e bem educado, era um orador esplêndido, com discursos que sempre tinham começo, meio e fim. Nunca se perdia e mantinha o rumo de suas palavras, com estilo próprio, que se adaptava conforme o público presente: das academias, dos comícios, das universidades, das embaixadas e do Parlamento. A bandeira da abolição Com o apoio de Castro Alves e de José do Patrocínio, empolga-se na prega- ção do Abolicionismo, que para ele devia ampliar-se a uma tematização mais abrangente até chegar aos problemas sociais, num país como o Brasil. 8 Nabuco: 100 anos depois Suas cartas, diários e discursos ainda estão à espera de um intérprete que os analise à luz de visões maiores do que a de uma simples crítica literária. Ele não era apenas um contemporâneo da cultura canavieira de sua época, mas um ob- servador atento ao futuro do potencial brasileiro. Na sua pregação abolicionista, recebe o apoio dos jovens, dos pobres e dos padres.