Opiniões Número: Depoimentos ornalornal Novos Lançamentos 224 dede Mês: Junho Entrevista JJ Ano: 2017 LetrasLetras Literatura Infantil Preço: R$ 5,00

Centenário de Celso Cunha Celso Cunha faria cem anos em 10 de maio de 2017. Partiu aos 72 anos, mas continua entre nós, no afeto de seus familiares e amigos, na memória de alunos e colegas, na admiração de todos aque- les que se interessam pelos estudos da Língua Portuguesa. (Por Manoela Ferrari, Cilene da Cunha e Evanildo Bechara – págs. 10 e 11)

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JL Editorial JL Opinião Arnaldo Niskier

Em recente reunião, no Rio, o Ministro Mendonça Filho recebeu acervo JL A perda de um mestre o título de “Educador do Ano”. Para muitos, talvez haja estranheza, mas as razões são bastante objetivas e foram expressas pelo professor Eduardo Mattos Portella era baiano, Carlos Alberto Serpa de Oliveira, presidente da Academia Brasileira mas passou a maior parte de sua existência, de Educação: “Ele teve uma atuação decisiva para que houvesse efeti- de 84 anos, no Rio de Janeiro, onde construiu vamente uma reforma no ensino médio brasileiro.” Há muito que se uma sólida carreira universitária, especial- o comenta a necessidade de alterar os fundamentos da educação média mente na UFRJ. Era o 2 Decano da casa de , quando faleceu no dia 2 do nosso país. Embora o MEC não tenha tomado uma decisão de efeito de maio. imediato, o fato é que teremos uma reforma – e se dará um novo sentido Portella teve uma significativa carreira de homem público, primei- ao ensino profissional no Brasil. A partir do próximo ano, deverá entrar ro na Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (Governo Chagas em funcionamento um novo currículo, com profundas alterações nas Freitas). Depois, na Casa Civil do Governo JK, de quem foi um bom matérias fundamentais, como é o caso do Português e da Matemática, amigo. Depois, na Unesco, em Paris, onde chegou a exercer as funções além de uma nova configuração no ensino técnico. É quase certo que em de diretor, com grande destaque. Desde 1962, é o diretor-cultural das Edições Tempo Brasileiro. 2018 e 2019 se processarão essas modificações, dando novas esperanças Em 1979, convidado pelo presidente João Figueiredo, assumiu o de uma educação média à altura do que exige o país. Voltamos a afirmar Ministério da Educação, Cultura e Desportos. Ficou um ano e meio no que o Ministro Mendonça Filho deixará o seu nome na história do MEC, cargo. Deixou uma frase que se notabilizou: “Eu não sou Ministro, eu pela coragem de promover as medidas de que tanto se fala e pouco se estou Ministro.”. fez, até aqui. Merece a homenagem de prêmio de “Educador do Ano”, No discurso de recepção na Casa de Machado, onde foi o sexto a com que será homenageado pela Academia Brasileira de Educação. ocupar a Cadeira nº 27, na sucessão de Otávio de Faria, em 18 de agosto de 1981, o saudoso Afrânio Coutinho, com muita propriedade, desta- O editor. cou: “No Brasil, a Literatura é a mais importante expressão do espírito nacional. Somos um povo literário por excelência. Foi a Literatura que desenvolveu, desde Anchieta, a nossa identidade de povo e de Nação. É ela que vem empreendendo, de maneira progressiva e pertinaz, o pro- cesso brasileiro de descolonização mental. É ela que melhor reflete em nosso país as formas de sua unidade na variedade.” Portella foi mais do que um dos nossos maiores críticos de litera- tura. Foi um crítico de ideias, filosoficamente fundamentado e sustenta- “Não vemos o mundo como ele é, mas como nós somos”. do; um crítico da Cultura, voltado ontologicamente para tudo o que diga respeito ao homem universal. A sua família perde o líder e, agora, aumentam as responsabilida- Talmude des da esposa Célia e da filha Mariana. Que encontrem forças na imor- talidade de sua obra.

“Morre lentamente quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos....” Pablo Neruda

JL Expediente Diretor responsável: Arnaldo Niskier Editora-adjunta: Beth Almeida Colaboradora: Manoela Ferrari Secretária executiva: Andréia N. Ghelman Redação: R. Visconde de Pirajá N0 142, sala 1206 – 120 andar — Tel.: (21) 2523.2064 Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: [email protected] Distribuidores: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232.5048 Correspondentes: António Valdemar (Lisboa). Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda. Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N0 114 Jantar no Mr. Lam (o melhor chinês do Rio), oferecido pela Universidade Estácio de Sá, em Versão digital: www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras homenagem a grandes nomes da Educação no Rio, entre eles, o fundador do IBMEC, Antonio Alvarenga, o reitor da Estácio, Ronaldo Mota, o reitor da PUC, padre Josafá Siqueira, o professor O Jornal de Letras é uma publicação mensal do e acadêmico Arnaldo Niskier, recebidos por Pedro Thompson, presidente da Estácio, e Cláudia Instituto Antares de Cultura / Edições Consultor. Romano, vice-presidente de Relações Institucionais. ornalde JLetras 3

Caminha descansar ao relento, escreveria minha carta ao Rei que começaria assim: Senhor, imagine all the people nude. E me casaria com o escritor Mario Prata. Ficaríamos tendo ataques de riso no Parque. Ataque de riso espontâneo A Rainha Louca é o orgasmo da imaginação. Um dia, um amigo me disse que não preciso de drogas porque nasci com um baseado aceso dentro de mim. Deus foi generoso comigo, fazer o quê? Por Clarice Niskier* Nesse momento, leio Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda, pois pre- tendo sobreviver à crise estudando, já que o dinheiro sumiu, rsrs. Linguagem E se, ao invés de Pedro Álvares Cabral, desembarcasse no Brasil, a nave- de internet vale aqui, não? É um livro tão legal, que fico me perguntando por gadora e capitã-mor da Armada Geral, Isália I, que ao ouvir o primeiro grito de que não é dado no ensino fundamental para as crianças. Elas entenderiam per- terra à vista, dado em uníssono por suas 1.500 marinheiras, se jogasse ao mar feitamente a diferença entre a ética do trabalho e a ética da aventura, por exem- e nadando em direção à praia, lá tirasse seu vestido pesado, com o qual quase plo. Eu explicaria assim: “Vocês gostam de comer todas as mangas da primeira se afogou, e experimentasse diante das índias, em troca dos espelhos, penas Mangueira que encontram e depois sair correndo de alegria, certo? É divertido de pássaros sobre seu corpo nu – os índios de tocaia só observando o bafafá –, mesmo. Se mais tarde a árvore frutificar ou não; se morrer ou não, não é proble- e apesar de ninguém falar a língua de ninguém, nascesse a amizade entre os ma de vocês. Estamos na ética da aventura. Agora, imaginem vocês semeando povos, o juramento pela manutenção do paraíso e a felicidade das portugue- a árvore, acompanhando seu crescimento, comendo os frutos que plantaram. sas, que finalmente teriam encontrado o Caminho das Índias, o caminho da Processo incrível, não? Estamos no terreno da ética do trabalho. Em todos nós, riqueza material e espiritual, espécie de Caminho de Santiago de Compostela, existem as duas éticas. Não existe nenhuma das duas éticas em estado puro no só que diferente, onde a infinita diversidade cultural fosse o prêmio máximo homem, como ensina o Mestre Sergio. Então, como construirmos a ética do da existência e o poema de Oswald de Andrade achasse outro final mesmo que trabalho, sem nos tornarmos uns workaholics, e montarmos a teia da solida- estivesse chovendo? Quando o português chegou/ Debaixo duma bruta chuva/ riedade, da autonomia e da liberdade no país? E como mantermos a ética da Vestiu o índio/ Que pena!/ Fosse uma manhã de sol/ O índio tinha despido/ O aventura, sem nos tornarmos uns beócios, e desbravarmos o país, sem o legado português (Erro de Português, Oswald de Andrade). da devastação? O nosso caráter está em jogo, entendem? Fala, Joãozinho, o que Fosse eu Isália I, nome fictício de uma mulher fictícia, ao chegar à Bahia, você não entendeu? Só não entendi o que é beócio, professora.” teria pedido licença e demarcado o Parque Nacional do Além-Mar, para que Penso que estudar não é exatamente saber sobre algo. Mas imaginar vivêssemos por aqui sem perturbar os donos da terra: milhões de índios belos, algo, sabendo sobre ele. Assim, você sabe sobre algo em todo o seu esplendor. fortes, livres, étnicos, éticos e anticapitalistas. Depois, aguardaria a chegada dos Imaginar é um ato de consciência. É um ato político. Nos protestos de Maio de negros que viriam de livre e espontânea vontade, e todos nós nos misturaría- 1968, em Paris, um dos movimentos estudantis e operários mais importantes mos ao bel prazer e fundaríamos a ilha afortunada das raças miscigenadas, sem do século 20, lia-se nos muros: “A imaginação toma o poder”. A imaginação é passar pelo banho de sangue das civilizações, o que daria muita moral ao Brasil um poder. Ela também nos conta a História, pois imaginar o reverso de um na ONU para falar sobre o Terceiro Milênio. A imaginação seria celebrada, fato, por exemplo, é dar mobilidade a esse fato e compreendê-lo em suas várias considerada um dom sagrado, a mola mestra da comunicação e da produção dimensões. Um momentinho: celular tocando. Oi, Mario. Ele pergunta se eu já li de conhecimento. Milhares de tribos urbanas, rurais, virtuais, continuariam a a entrevista dele com o Bispo Sardinha, que está no livro Mario Prata Entrevista criar e a recriar seus mitos, a desenvolver seus saberes e ritos, não com o intui- Uns Brasileiros. Não. Vou ler. Sempre bom saber o que diz um homem antes de to de dominar ou exterminar o Outro, mas com a intenção de gerar avanços ser devorado em 1556 no caldeirão de uma cultura. evolutivos em torno do Fogo, redescoberto a cada dia. Haveria brigas, birras, Por favor, imaginem o final desse texto pra mim. rixas, raivas, roubos, ódios, mortes, celulares, sacos plásticos, pedágios, lutas, chatices, doenças, canibalismo, um ou outro Sardinha seria devorado, mas nada parecido com Anthony Hopkins fazendo Hannibal. Não haveria geno- cídios, barbáries, holocaustos, pestes, guerras, nem a escravidão. Anne Frank * Clarice é atriz e ouviu o Samba do Crioulo Doido, de Stanislaw Ponte completaria 88 anos e seria uma escritora feliz, lançando livros por aqui. E eu, Preta (Sergio Porto) enquanto escrevia esse texto, publicado originalmente na de posse dos direitos autorais de Imagine, de John Lennon, vendo Pero Vaz de Revista Cultura, da Livraria Cultura, edição de abril.

— Minha filha, pelo amor de Deus – rosto avermelhado, quase enfartan- do —, aqui é um órgão público federal, não pode ter uma pesquisa confusa assim! A pesquisa (humor) — O senhor não sabe o que significa “curtir”? — Óbvio que sei. Mas não entendo como a resposta se aplica aqui! — É porque eles usam linguagem de internet? — Por acaso nessa “internet” não se escreve em português? (Salvem nossa língua) — Claro que sim. Acho que quem está com problemas de interpretação é o senhor! Por Marcelo Oliveira* — Moça, de acordo com a ortografia oficial da norma culta, “curtir” é o ato de esticar a pele de um animal para produzir o couro! Dia de pagamento, geralmente não é bom para piadas, mas, como na — Mas na internet é igual a “gostei”! vida do jardineiro “nem tudo são flores”, tinha que ir a um banco público para — De onde tiraram essa conclusão? cumprir o grave dever cívico de colocar minha vida financeira “rigorosamente — Veio do inglês “like”! em dia” (só quem assiste Silvio Santos entenderá a referência). Nesse momento, minha face estava mais vermelha do que a conta ban- Assim que eu atravessei a porta giratória, que só trava com velhinhas cária e eu vociferava impropérios aos montes, punha o dedo em riste e dirigia centenárias e seus imensos guarda-chuvas de lona, fui abordado por uma toda minha fúria na direção dela, que, assustada, tentava se justificar: jovem senhorita, muito sorridente por sinal, que me entregou um pequeno for- — Senhor, eu só distribuo os formulários! mulário para ser preenchido. Porém, ao ler a bendita folha, minha já acentuada — Aaaaahhhh, claro, então está tudo certo, a senhorita não tem nenhu- intolerância teve picos de fúria digna dos maiores tremores na escala Richter. ma responsabilidade sobre o ocorrido, a senhorita “SÓ distribui o formulário”. Irado, fui até a moça que distribuía o famigerado documento: Pois saiba, minha cara, que a senhora está contribuindo para a corrupção e — O que significa isso? desvalorização de um dos maiores patrimônios de uma nação, ou seja, a língua — É uma pesquisa de opinião sobre a sua satisfação pelo nosso atendi- mãe, a nossa maior virtude como uma sociedade politicamente organizada, o mento! princípio da razão, o... — Minha filha, você tem problemas de interpretação de texto? Eu sei Nesse momento, fui agarrado pelos braços por corpulentos seguranças. que é uma pesquisa, eu quero saber o que significam essas opções de resposta: Nem havia percebido que a moça tinha pedido auxílio deles para me conter. “curti” ou “não curti”! – apontei uma parte específica do folheto. Bom, pra finalizar, tive que pagar as contas em outro banco, noutro dia. — Ah, é para saber se o senhor gostou ou não! * O carioca Marcelo Oliveira é escritor, autor do Blog www.moliveira68. — Então por que as opções não são: “gostei” ou “não gostei”? blogspot.com.br – Abobrinhas e o que vier. — O senhor pode dar essa sugestão aqui no espaço de comentários! ornalde 4 JLetras

JL Breves JL Humor por Manoela Ferrari [email protected] por Jonas Rabinovitch [email protected]

INTEGRANTE da Academia Paciente será filmado ainda Carioca de Letras, o cantor e com- este ano sob a direção de Sérgio ESPERANÇA positor Martinho da Vila revelou, Rezende, mesmo produtor de ao lançar seu 15o livro (Conversas “Zuzu Angel”. A obra trata do epi- cariocas), que seu interesse pela sódio que resultou na morte de literatura surgiu ao compor um Tancredo Neves. samba-enredo sobre Machado de PRESIDENTE DA ACADEMIA Assis para a “Aprendizes da Boca Espí- do Mato”, no Carnaval de 1959. rito-Santense de Letras, Francisco Aurélio Ribeiro acaba de lançar ATÉ O FINAL de junho, segue a Clarissa e o beija-flor e outras his- exposição “A Força da Arte Brasi- tórias, com ilustrações de Thiago leira”, na “Ars Longa Galleria”, Setúbal. A obra é dedicada à neta. em Helsinque, Finlândia. Entre MAIS NOVA INTEGRANTE os artistas convidados, Marlene do merca- Blois e Isabela Francisco. do editorial paulistano, a Morro Branco debuta com obra da escri- A ACADEMIA Brasileira de Letras tora norte-americana de ficção abriu sua série de Seminários científica Octavia Butler (1947- “Brasil, brasis” de 2017 com o 2006), denominada Kindred. tema A judicialização da política. COMANDADA Foi um sucesso a conferência da por Fernanda presidente do Supremo Tribunal Diamant e Paulo Werneck, chega Federal, ministra Cármen Lúcia, às bancas a revista Quatro Cinco aplaudida de pé. Um, voltada exclusivamente a resenhas e indicações de livros. Sai EM COMEMORAÇÃO aos 300 por seis meses encartada na revis- anos de Nossa Senhora Aparecida, ta Piauí, passando, em seguida, à NO SEGUNDO RESULTADO a Globo Livros vai lançar uma edi- venda avulsa e assinaturas. semestre, Daniel de três anos de ção ampliada da obra Aparecida, Filho começa a filmar a adaptação pesquisas do professor carioca LYGIA PAPE de Rodrigo Alvarez. , Rivane Neuesch- para as telonas do livro de Luiz Marcelo Campos, Escultura con- wander, Ernesto neto e Cildo Alfredo Garcia-Roza, Silêncio da temporânea no Brasil, da Cara- EMBALADA no capricho da Meireles foram os primeiros bra- chuva. Em seguida, dirigirá “Por murê Publicações, exibe em 420 Editora Teodolito, de Lisboa, sileiros selecionados para a Bienal um fio”, baseado em obra escrita páginas a transformação da arte Antônio Torres fechou a trilogia de Lyon, prevista para setembro, pelo médico Drauzio Varella. nacional nas últimas décadas, a par- de lançamentos em Portugal, ini- na França. tir da obra de 91 artistas nacionais. PRIMEIRO NEGRO ciada com o Essa terra e cotinua- a tornar-se TAMBÉM EM O ESCRITOR da com O cachorro e o lobo, finali- setembro, o MAM professor titular de neurociência Eric Nepomuceno zando com Pelo fundo da agulha. paulistano, organizado por Luiz da Universidade de Columbia, lançou, em Madri, a coletânea de Camillo Osório, realiza mais um nos Estados Unidos, o escritor contos Bangladesh, tal vez, pela UM PASSEIO pela história da TV Panorama da Arte Brasileira. Carl Hart volta ao Brasil para par- Ediciones Ambulantes. brasileira, desde o primeiro beijo Entre outros, participam Ricardo ticipar da 18a edição da Bienal do NORMA RODRIGUES na boca, transmitido pela TV Basbaum, Lourival Cuquinha, Livro-Rio. , viúva do Tupi, em 1951, até a última nove- Leandro Narefuh, José Rufino, artista plástico Glauco Rodrigues la que mobilizou a audiência no Dora Bahia e Clarice Hoffmann. DADOS DO SINDICATO Nacional (1929-2004), doou o arquivo pes- país (“Avenida Brasil, em 2012), é de Editores de Livros mostram soal do marido ao Museu de Belas CERCA DE 400 MIL oferecido pela jornalista Patrícia reais é que os resultados dos três primei- Artes. Entre os documentos, há Kogut, em delicioso texto na obra quanto a direção do Museu da ros meses de 2017 foram 6,89% correspondências trocadas com 101 atrações de TV que sintoniza- República, localizado no antigo maiores, em obras comercializa- amigos, como e ram o Brasil (Ed. Sextante, 2017). Palácio do Catete, no RJ, estima das, do que os alcançados em Erico Verissimo. ser necessário para recuperação igual período de 2016, com fatu- O ACADÊMICO O ATOR LÁZARO RAMOS empres- do local. ramento 7,09% maior. São 730 as e escritor Marcos tará sua voz a Lima Barreto (1881- editoras regularmente registradas Vinicios Vilaça doou à Biblioteca REFORMADO via Lei Rouanet, 1922), abrindo a Feira Literária no Brasil. da Academia Brasileira de Letras Internacional de Paraty, no dia após dois anos paralisado, o anti- o audiolivro Fernando Pessoa – 26 de julho. A direção da cena, go Teatro do Jockey, no Rio de EM SUA SEGUNDA edição, o livro uma quase biografia, de auto- com apresentação da biogra- Janeiro, reabre em julho, com 350 História da Moda no Brasil – das ria de seu conterrâneo e colega fia do autor homenageado, será poltronas e um contrato de loca- Influências às Autorreferências da Academia Pernambucana de de Felipe Hirsh. Durante a Flip, ção autorizando o uso do espaço (Ed. Disal) mostra nosso país Letras, José Paulo Cavalcanti Filho, Lázaro Ramos também falará do por dez anos, renováveis por mais como sendo o de maior regis- que recebeu diversos prêmios. uma década. tro de cursos de graduação em seu novo livro Na minha pele, A ESCRITORA moda, somando 140. Resultado Heloisa Buarque sobre sua trajetória como ator NEM TUDO É escândalo envol- de uma pesquisa inédita em sua de Hollanda foi a grande home- negro. vendo políticos e administração a abrangência, com 640 páginas, a nageada da 10 edição da Feira do pública no país. Em São Paulo, A VERSÃO CINEMATOGRÁFICA de obra é assinada por Luís André do Livro, em Porto Alegre. onde o prefeito João Dória des- Jantar secreto, livro de Raphael Prado e João Braga. ATÉ O FINAL de junho, as obras Montes que teve os direitos tina seu salário à resolução de de Rodrigo de Castro, filho de adquiridos pelo produtor de cine- problemas sociais do município, NAS LIVRARIAS, a biografia não Amilcar de Castro, podem ser vis- ma Rodrigo Teixeira, será toda o diretor da Biblioteca Mário de autorizada de Caetano Veloso, tas na Galeria Um, em Ipanema. A realizada nos Estados Unidos. Andrade – o editor Carlos Cosac escrita por Carlos Eduardo – direciona o que lhe cabe men- Drummond e Marcio Nolasco, primeira exposição individual do INSPIRADO NO LIVRO homôni- salmente para ajudar a própria lançada pela Editora Pensamento. artista plástico mineiro, no Rio de mo escrito por Luis Mir, O entidade. Janeiro, tem curadoria de Vanda Klabin. ornalde JLetras 5

Ninguém deve se achar melhor do que ninguém! Não aprendeu a nova regra: as titulações devem ser escritas com letra inicial minúscula, logo o certo, agora, é bacharel. Período correto: “A moça se acha melhor do que as demais porque é bacharel em Na ponta Direito.” Língua Divergência da “A opinião dos advogados de defesa do réu deferiu sobre o encaminhamento do Por Arnaldo Niskier – Ilustrações de Zé Roberto processo criminal.” Seria natural e chegariam a um consenso se o verbo usado fosse correto. O verbo “deferir” não é o adequado. Observe: Ledo engano deferir – atender a algo que é requerido ou pedido. diferir – divergir. “À entrada de uma loja está escrito: seja bem vindo!” Frase correta: “ A opinião dos advogados de defesa do réu diferiu sobre o encami- Isso não pode ser verdade. nhamento do processo criminal.” Ninguém é “bem vindo” e sim bem-vindo, porque o advérbio bem deve ser sepa- rado do segundo elemento por hífen, na maioria das palavras. Caso perdido Período correto: “À entrada de uma loja está escrito: seja bem-vindo!” “O diretor daquela empresa foi obrigado, pelo juiz, a pagar a custa do processo que lhe foi impetrado por um con- Bom sentimento corrente.” “O bem-querer a todos é próprio das pessoas que cultivam Certamente, esse diretor perdeu na justiça ao pagar “a bons sentimentos.” custa”. Esta palavra só pode ser usada no plural: as custas, são Não é assim, não! Este termo é uma exceção à regra ante- os gastos feitos em processo judicial. rior explicada. Escreve-se: benquerer. Outras exceções: benfazejo, Período correto: “O diretor daquela empresa foi obrigado, pelo juiz, a pagar as benfeito, benfeitor, benquerença e outras que lhes sejam vafins. custas do processo que lhe foi impetrado por um concorrente.” Período correto: “O benquerer a todos é próprio das pessoas que cultivam bons sentimentos.” Selvageria Obra indesejada Atualmente são muito poucos os aborígines que vivem no nosso país. “O paciente do hospital sofre com o barulho de bate estacas da obra no prédio Lamentável, mas verdadeiro. Aborígines ou aborígenes? Tanto faz! Os dois termos vizinho.” constam do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa/ VOLP, da Academia Brasileira Escrito desse modo (“bate estacas”), garanto que o barulho não deve ser inconve- de Letras/ABL e significam indígenas, habitantes primitivos de um país. niente. Os compostos de verbo+substantivo exigem o uso do hífen: bate-estacas. O que verdadeiramente importa é que atendamos a um dispositivo constitucio- Frase correta: “O paciente do hospital sofre com o barulho de bate-estacas da obra nal: a preservação da cultura, dos hábitos e dos costumes daqueles aborígines/aboríge- no prédio vizinho.” nes que restaram. Vale a pena lembrar Você precisa saber O atual Acordo Ortográfico determina que os nomes dos dias da semana e dos Os participantes do encontro vieram dos mais diferentes locais. meses do ano devem ser grafados com letra minúscula, a não ser que iniciem uma frase. Observe: nomes de lugar (topônimos) que devem ser escritos com hífen: Já as datas cívicas devem ser registradas com letra maiúscula. Exemplos: O dia 1o de Iniciados por verbo – Passa-Quatro; iniciados com os adjetivos grão e grã – Grã- janeiro de 2018 cairá numa segunda-feira. O Sete de Setembro é data importante para Bretanha, Grão-Pará; com os nomes ligados por artigo – Baía-de-Todos-os-Santos, todos os brasileiros. Fevereiro tem Carnaval. Trás-os-Montes. Atenção: nos demais lugares não se usa o hífen – América do Sul, Feira de Santana, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Rio Grande do Sul, Belo Horizonte, Mato Mudança Grosso do Sul, América do Norte etc. “A moça se acha melhor do que as demais porque é Bacharel em Direito.” ornalde 6 JLetras

esposa, estava com 81 anos. Como não teve filhos, teve que procurar um parente que tomasse conta dele. Uma sobri- J nha, cheguei a conhecer dona Josefina, que morava no Rio L Entrevista de Arnaldo Niskier de Janeiro, na Rua da Glória, número 32, o edifício está ainda de pé, e Said Ali saiu de Petrópolis, porque ele nasceu em Petrópolis e veio para o Rio, em 1861. Com o que ele Evanildo Bechara recebeu de direitos autorais pela publicação da coleção de língua portuguesa, ele fez uma belíssima casa lá na estrada da Saudade. Quando tive uma dúvida de português e que- ria saber se este homem ainda vivia, procurei no catálogo de telefone e encontrei lá M Said Ali, M de Manuel, Manuel O Acordo Ortográfico Said Ali. Telefonei, atendeu uma voz feminina e eu disse: “Olha, está falando aqui um discípulo dos livros do profes- sor Said Ali e tenho uma dúvida e queria saber se ele podia me atender.” “O senhor espere um minuto.” Logo depois voltou e disse: ”Titio mandou dizer que o senhor poder vir de unificação da língua amanhã, às duas horas da tarde.” Coloquei meu uniforme do colégio ginasial, do meu Ginásio Leverger, e apareci. Ele me recebeu, uma figura mitológica quase, falando alemão com a cachorrinha dele, que entendia o alemão. Eu disse portuguesa é o melhor que queria ser professor de língua portuguesa. Ele aí per- guntou se eu estava escrevendo – veja, eu estava com 15 Evanildo Bechara é professor Emérito da Estrangeiros, mas morreu quando ele tinha dois anos de anos de idade e ele, 81 – alguma coisa. Eu disse: “Professor, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1994) e da idade. Ele não chegou a conviver com o pai. O resultado li um capítulo seu das Dificuldades em que o senhor fala Universidade Federal Fluminense (1998). Atualmente, o é que a mãe, alemã, casou-se com outro alemão, e Said sobre entoação, em que fenômenos gramaticais podem acadêmico é apontado como o maior especialista em Ali, naturalmente dentro de casa, falava somente alemão. ser expressos com elevação da língua, elevação do mate- Língua Portuguesa do país. Nessa entrevista, o filólogo, que Pois bem, meu tio, fazendo essa faxina nos baús de coisas rial sonoro ou subindo ou descendo a voz, ou então pro- nasceu em Pernambuco, fala sobre a vinda para o Rio de velhas, me passou um livro do Said Ali chamado Lexiologia longando a voz.” Ele pediu que trouxesse o artigo. Meu Janeiro, onde foi educado por um tio-avô. do Português Histórico. Peguei o livro, botei num canto. No tio conhecia a fama de professor catedrático de alemão, Evanildo Bechara: Este é um episódio ao mesmo fim da tarde, comecei a ler. Como bom estudante, comecei porque ele foi catedrático do Pedro II e catedrático do tempo triste e sedutor. O papai internou-se no hospital pelo prefácio. Quando li o prefácio, vi que estava diante de Colégio Militar, tanto que ele tinha, como todo professor Português, lá no Recife, numa segunda-feira, e na sexta- um livro que, pela primeira vez, fazia relação entre a lín- catedrático, a patente de coronel. Levei o trabalho. Meu -feira, faleceu. Ele, que era sírio-libanês, chegou ao Brasil, gua e o falante, que, quando você pega a gramática, você tio disse: “Você vai levar uma surra desse velho, esse velho no Recife, com meus avós paternos, com 5 anos de idade. só vê regras. Said Ali não: começou falando do usuário é brabo!”. Eu disse: “O que eu vou fazer, se ele me pediu?” Nadando naqueles rios, deve ter pegado uma hepatite, da língua. Vi que, realmente, a língua é língua porque ela E aí Said Ali disse: “Daqui a uma semana, eu telefono para que era uma doença que, na época, ainda não estava devi- é usada pelos homens e pelas mulheres, pelas pessoas, o senhor.” Mas, antes disso, quatro dias depois, uma sex- damente diagnosticada e automaticamente tratada. De como se diz, hoje, tecnicamente, pelos utentes. Hoje tam- ta-feira, estava encerando a casa, o telefone tocou. Era a modo que ele contraiu essa hepatite, que o acompanhou bém chamamos de usuários, mas utente é a palavra que se sobrinha de Said Ali, dizendo que o professor queria falar até os 28 anos, quando faleceu. E a mamãe, pega assim de usa. Mas você não usa a língua, você se serve dela. Então, comigo. Fui à casa dele, que disse: “Você está com 15 anos surpresa, mais moça do que o papai... chamam-se de utentes os que fazem uso da língua. Vi que para 16. Para a sua idade o trabalho está interessante, de Arnaldo Niskier: A mãe era brasileira? aquele livro estava sendo escrito por uma pessoa diferente modo que você faz o seguinte: está vendo aquela pilha de Evanildo Bechara: A mamãe era maranhense. Eles que apresentava a língua, no caso o português histórico, de livros (tinha uma pilha enorme)? Aquilo tudo é para você, tiveram cinco filhos, dos quais o segundo filho deles, modo diferente. Digo: “Olha, vou fazer deste homem o que à medida que você vier aqui me visitar. Você quer aprender eu sou o mais velho, morreu atropelado. Quando papai Dante disse do nosso grande Virgílio: il mio autore.” Eu ia alemão? Porque você citou aí dois livros em alemão. Então, morreu, éramos quatro filhos, e a minha irmã caçulinha fazer de Said Ali meu autor. No dia seguinte, fui ao Méier. tome aqui minha Gramática. Quantas vezes você pode vir estava com 2 anos de idade e eu, com 10. Então, a mamãe, Havia uma papelaria, cujo dono era muito amigo do meu aqui por semana?” Eu disse: “Professor, se o senhor quiser, não suportando o trauma da viuvez, e não suportando tio, Papelaria Central, e procurei recolher tudo que, do pro- eu venho todo dia.” Ele disse: “Não, todo dia não precisa, financeiramente as despesas, pegou os dois mais velhos, fessor Said Ali, poderia encontrar. mas você venha três vezes por semana.” Então, ele marcou eu e meu irmão (hoje falecido, Everaldo) e se mandou Arnaldo Niskier: Ele já tinha publicado muita segunda, quarta e sexta. para o Rio de Janeiro. Fui para a casa de um tio-avô, um coisa. Arnaldo Niskier: O que você acha do Acordo irmão do pai dela, portanto, irmão de meu avô, que era Evanildo Bechara: Ele já tinha escrito a Gramática Ortográfico? Alguns portugueses estão falando mal do militar, Holanda Cavalcanti. Eles eram da família Holanda Secundária, a Gramática Elementar e tinha escrito tudo Acordo. Cavalcanti. isso porque, quando os irmãos Weiszflog fundaram a Evanildo Bechara: Não, quem está falando mal Arnaldo Niskier: Você fez o admissão do ano todo? Melhoramentos, em São Paulo, pediram a Capistrano de do Acordo é o usuário, não os técnicos. Os técnicos não Evanildo Bechara: Fiz o admissão do ano todo. E Abreu que indicasse uma pessoa para escrever a coleção falam do Acordo porque a língua portuguesa teve num fiz a primeira série ginasial, fiz até o quarto ano, que era de livros de português. O Capistrano de Abreu indicou grande foneticista português, que não era nem professor, um colégio que só tinha o primário e até a quarta série Said Ali. E, curiosamente, Said Ali nunca deu uma aula ele era funcionário dos Portos de Lisboa, era um homem do ginásio. Daí, fui para o Instituto Lafayette. Lá, já dava de português. Ele era professor de alemão, de inglês e de de um ouvido maravilhoso, chamado Aniceto dos Reis minhas aulas particulares, sempre de português. Eu queria francês. Era um professor de línguas estrangeiras e tem a Gonçalves Viana. Este homem, já em 1886, com outro estudar matemática, mas só me apareciam alunos de por- gramática alemã dele, metodicamente uma coisa extraor- grande estudioso português, os dois lançaram as primeiras tuguês e latim. E tive um professor no ginásio muito bom, dinária. Capistrano de Abreu conhecia bem Said Ali, o bases de uma feição científica do Acordo. Odeval Machado. Bom professor, aquele professor de cul- chamou, indicou a Melhoramentos para escrever a série e, Arnaldo Niskier: O Acordo está emplacando? tura geral, tanto que ele foi meu professor de português, de para essa série, Said Ali escreveu uma gramática elementar, Evanildo Bechara: Este Acordo que estamos acei- matemática e de história. E esse Odeval Machado, sabendo uma gramática secundária e uma gramática histórica. Mas tando e que aceitamos com mais sete nações da lín- da minha necessidade, inclusive de mandar dinheiro para ele, já naquela época (os livros apareceram na década de gua oficial portuguesa (cinco africanas, Brasil, Portugal e a mamãe, me conseguia alunos particulares. Eu comecei 1920), Said Ali já tinha aprendido com o primeiro grande Guiné-Bissau) é um Acordo ortográfico perfeito, tirando com matemática, mas só me aparecia aluno de português linguista, teórico, fundador da linguística científica, o suíço as diferenças, muitas das quais nascidas do excesso de e de latim. Então, entrei para esse trabalho. E numa faxina Ferdinand de Saussure, que não podia haver uma gramáti- conhecimento fonético que nosso Gonçalves Viana tinha. que ele fazia dos baús (ele era militar, viajava com a famí- ca histórica, porque gramática é uma descrição de regras, Este Acordo de 1990 é um filho legítimo do Acordo de lia para lá e para cá, era ele e a esposa, na época, porque e você não pode fazer uma gramática de uma língua que 1911, que foi o grande luminar das diversas tentativas de eles também tinham perdido o filho na espanhola), disse: está em movimento no tempo. Então, o Saussure tinha dito aproximação do sistema ortográfico, primeiro entre Brasil “Olha, você, que gosta de português, toma aqui esse livro.” que a língua evoluía, e esse estudo evolutivo da língua se e Portugal. Não há o que reclamar. Apenas há excessos E me deu o livro Lexiologia do Português Histórico, do pro- chamava diacronia, mas a língua podia ser estudada no seu do Gonçalves Viana. Por exemplo: Gonçalves Viana e os fessor Manuel Said Ali. estado permanente, no seu estado de uma época histórica portugueses não querem abrir mão de uma consoante que seria a sincronia. Por isso, o professor Said Ali, em vez Arnaldo Niskier: Esse é importantíssimo na sua muda. Os portugueses antigos eram mais inteligentes de escrever como todo mundo escrevia, na época gramá- vida. O que Said Ali representou para você e para a cultu- porque penetraram com suas navegações pelos mares tica histórica, o professor Said Ali queria escrever uma ra brasileira de um modo geral? desconhecidos. Como disse Humboldt, os portugueses gramática do português histórico, isto é, uma gramática do Evanildo Bechara: Ele era realmente um homem duplicaram o globo terrestre com as suas descobertas. Ora, português através dos tempos. extraordinário. Capistrano de Abreu foi grande amigo o que foi que houve? O que Gonçalves Viana quis e o que o dele, nosso grande historiador convidado para entrar para Arnaldo Niskier: Eu queria a conclusão da sua Brasil não aceitou, e que os colegas de Gonçalves Viana da a Academia. Capistrano de Abreu dizia do Said Ali coi- experiência junto a Said Ali e depois uma opinião sua, a reforma de 1911 diziam a ele que os brasileiros tinham sido sas extraordinárias. Uma vez, o Capistrano estava em mais recente, sobre o uso do Acordo Ortográfico de unifi- mais inteligentes do que os portugueses: abolir a consoan- Petrópolis com Said Ali, que pertenceu à primeira geração cação da língua portuguesa. te surda. Se a consoante não é proferida por que represen- de brasileiros oriundos dos alemães que colonizaram Evanildo Bechara: O professor Said Ali foi um tá-la? Esse Acordo é o que de melhor se pode chegar com Petrópolis. O pai era dono de um hotel chamado Hotel dos marco na minha vida profissional. Ele tinha perdido a uma ou outra nuance que pode ser resolvida. ornalde JLetras 7

JL Livros e Autores por Manoela Ferrari [email protected] Uma vida com Shakespeare Histórias da gente brasileira

O livro Uma vida com Shakespeare (Ed. Letra Capital, 2017) Depois do primeiro volume da série reúne, ao longo de 228 páginas, ensaios sobre William Histórias da gente brasileira, a premia- Shakespeare (1564-1616), com textos escritos por ex-alunos da escritora e historiadora Mary del da professora Marlene Soares dos Santos, uma das principais Priore mergulhou no período do Império. Nas 493 páginas da especialistas no dramaturgo inglês no Brasil. narrativa, o livro História da gente brasileira – Volume 2 (Ed. Todos os oito estudos, reunidos numa bem organizada obra LeYa, 2016) faz um convite ao leitor: descobrir como viviam por William Soares dos Santos, que também assina um texto os brasileiros na intimidade, no momento em que o Brasil (Coriolano: uma narrativa de masculinidades no mundo oci- dava os primeiros passos para sua autonomia como nação. dental), têm como tema central a análise de um determinado A obra aborda um dos momentos mais interessantes de nossa aspecto da obra de Shakespeare. trajetória. A partir de um ângulo que vai além do convencio- O primeiro trabalho, assinado por Deize Fonseca, traz uma nal, a autora foca nos detalhes da vida cotidiana. Hábitos, pesquisa sobre a influência de Shakespeare na obra de Olavo costumes, modos de vestir, de falar, moradias, divertimentos, Bilac. O segundo, de Élvio Pereira Cotrim de Freitas, investiga (re)configurações de o papel da mulher... Nada passa despercebido pelo olhar sensível da historiadora. identidades femininas. Ricamente ilustrado, o livro traz ainda reflexões sobre a formação das grandes cidades Temas como a questão judicial, a construção do amor, a linguagem sexual, contextos – ajudando a explicar as diferenças regionais que até hoje marcam o país. políticos e sociais também são investigados. Os estudos são resultados da orientação Este é o segundo volume da coleção “Histórias da gente brasileira”, que contará ainda que os autores tiveram com a professora Marlene Soares dos Santos em seus percur- com outros dois livros sobre a República. sos acadêmicos. Uma das mais importantes professoras de língua e literatura inglesa Vencedora de vários prêmios, como o Casa Grande & Senzala (2000), outorgado pela de sua geração, aos 80 anos, a professora galgou todos os estágios do ensino público Fundação e dois Jabutis (1998), Mary Del Priore fez doutorado em superior na Faculdade de Letras da UFRJ, onde, atualmente, é professora Emérita História Social na Universidade de São Paulo e pós-doutorado na Ecole des Hautes e continua atuando na Pós-graduação do Programa Interdisciplinar de Línguística Etudes en Sciences Sociales, na França. Atualmente, lecionando no curso de pós-gra- Aplicada. duação da Universidade Salgado de Oliveira, é autora de 45 livros de história.

A Arte Poética de Montobbio Crônicas econômicas

Na obra A arte poética de Santiago Montobbio – Análise e A obra Crônicas econômicas – Análise retrospectiva 2016 (CNC, Tradução (Ed. Opção, 2017) a professora Ester Abreu Vieira 2017) reúne os artigos elaborados pelo economista e ex- de Oliveira apresenta a textura poética do escritor espanhol ministro da Fazenda Ernane Galvêas publicados, quinzenal- Santiago Montobbio, com poemas que mostram os temas mente, no boletim Síntese da Conjuntura, da Confederação e formas principais do autor com altos índices de contem- Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, ao longo poraneidade. Montobbio procura evocar e recriar situações do ano passado. imagéticas, interpretando sua vida moral e espiritual, mos- Do alto de sua experiência no serviço público, Galvêas ana- trando, através de seu labor poético original, o objeto de sua lisa o cenário econômico, registrando os fatos com clareza e revelação de uma maneira criativa. objetividade, como faz há mais de 30 anos, desde que assu- Seus versos livres são como um diálogo entre um eu lírico e miu o cargo de consultor econômico do presidente da CNC, um leitor/ouvinte que flui para entranhar na alma. Um destaque desse livro são os Antonio Oliveira Santos, que afirma na apresentação da obra: poemas que contêm o tema do fazer poético. “Galvêas esquadrinhou a atual crise político-econômica desde o primeiro momento Mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- em que ela surgiu, em 2014, com a estagnação das atividades industriais e o surgi- Curitiba (1983), doutora em Letras Neo-Latinas pela UFRJ (1994) e pós-doutora mento do desemprego no mercado de trabalho, claramente divisados na antevisão e em Filologia Espanhola na UNED, em Madrid (2003), a autora Ester Abreu Vieira projeções do arguto analista.” de Oliveira pertence à Academia Espírito-santense de Letras, à Academia feminina Capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, nascido em 1922, Ernâne Galvêas é bacha- Espírito-santense de Letras, ao Instituto Histórico, Geográfico do ES, à Associação rel em Ciências e Letras, contador, economista e advogado. Completou seus estu- Interncaional de Hispanistas, entre outras instituições. dos de Economia no Instituto de Economia de Wisconsin, no Centro Monetário Professora Efetiva da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, Mestrado Latino-Americano, México. Fez mestrado em Economia pela Universidade de Yale, e Doutorado em Estudos Literários. Foi professora e diretora de Pesquisa e Pós- Connecticut. Ingressou no Banco do Brasil em 1942, onde desempenhou importantes Graduação (DIPEPG) do Centro de Ensino Superior de Vitória. Tem experiência na funções. De 1968 a 1974, foi presidente do Banco Central (BC). Em 1979, voltou para área de Letras, com ênfase em Línguas Estrangeiras Modernas, com vários estudos o BC, mas assumiu, no ano seguinte, o Ministério da Fazenda, onde ficou até 1985, publicados sobre a poesia, o teatro e a narrativa das literaturas hispânicas e literatura período que classifica como o “período mais difícil da história econômica no Brasil”. brasileira. Rei Baltazar Laminário Com prefácio do acadêmico, poeta e escritor Marco Lucchesi, Vinte e cinco livros publicados, entre ensaios, contos, nove- a Academia Brasileira de Letras lançou, em sua coleção las e literatura infantil, somados a sete prêmios literários Afrânio Peixoto, o livro (inacabado) Rei Baltazar, de autoria seriam o suficiente para indicação de leitura de Laminário do acadêmico José Cândido de Carvalho (1914/1989). (Ed. 7 Letras, 2017), da excelente escritora Margarida A edição foi possível graças ao trabalho de organização dos Patriota. manuscritos e textos datilografados dos filhos do autor, Laura Mas o que chama a atenção desse trabalho, além do com- Lione Carvalho Santos e Ricardo L. Viana de Carvalho: “Os pleto domínio da técnica, é o lirismo que surge a cada dois merecem nosso reconhecimento. Com amoroso labor e verso, revelando o instante em que a escrita se faz arte no cuidado, ordenaram as folhas, decifraram diversas passagens primeiro livro de poemas da autora. Como assina o escritor com a lente de aumento, ora a desbravar a letra miúda ora a Jorge Viveiros de Castro, na orelha: “Poesia deste quilate é tinta da máquina de escrever, às vezes forte, às vezes pálida, artigo raro. Com requinte, simplicidade e inventividade, seguindo quanto possível a cartografia da obra, em suas lacunas, para confrontá-la Margarida Patriota reafirma neste Laminário seu talento de escritora.” com a intenção ao autor”, escreveu Lucchesi no prefácio, intitulado por ele “Vivas ao Transitando com desenvoltura em todos os gêneros literários, a carioca Margarida Rei”. Patriota mora em Brasília e comanda, há vinte anos, o programa “Autores e livros”, da José Cândido de Carvalho, jornalista, escritor e bacharel em Direito, nasceu em Rádio Senado. Professora na Universidade de Brasília, de 1976 a 2002, publicou, entre Campos dos Goitacazes, no Rio de Janeiro. Além de Rei Baltazar, texto inacaba- outros, os títulos U’yara, rainha amazona (Ed. Saraiva), Elas por elas, Enquanto Aurora do, publicado nesta edição da ABL, escreveu mais dois romances: Olha para o céu (7 Letras), Explicando a Literatura no Brasil (Nova Fronteira), Modernidade e vanguar- Frederico (1939) e O coronel e o Lobisomem (1964), atualmente com 58 edições e con- da nas artes (Plano), além do romance A lenda de João, o assinalado (Topbooks). siderado sua obra de maior sucesso de público e crítica. Foi autor, também, de livros de contos e crônicas. ornalde 8 JLetras Nos anos 1960 e 1970, Aurélio Buarque de Holanda (o diciona- rista), vindo de Maceió, chegava ao Recife, pelo telefone se anunciava. Gostava de nossa casa da Rua Bento de Loyola. Antes deixava a bagagem A caixa de madeira e no hotel e vinha para o almoço, peixada ao molho de coco, feito com capricho por Maria José, os três empregados da família, Mauro apelida- ra com nomes de pedras preciosas: Maria José, de Esmeralda; Hamilton, o tempo de Topázio. Esmeralda chamava-o Topauzo; Rosa, de Safira. Por indica- ção de Mauro Mota, o jardineiro colocara placas azuis com os nomes dos nossos filhos, nos quatro cantos do jardim. Aurélio gostava da Praça Por Marly Mota * Tereza Alexandrina, com sombras da mangueira, goiabeira e balanços A tia Flora, nos seus verdes anos de sinhazinha, ninguém a imagi- de rede, onde depois do almoço ficava nos cochilos, recomendando a nava solteirona. Irmã do meu pai, ficara muito gorda, paciente, se ape- Esmeralda não deixar ninguém incomodar o sono do doutor. Ao voltar, gara às sobrinhas, ensinando a bordar os pontos-atrás e casa de abelhas, Aurélio já estava fora da rede, e Mauro perguntava à Esmeralda se o dou- sentada no alpendre da casa grande do Engenho Independência, onde tor roncou muito. Roncar, não roncou, não. Mas, peidar, peidou muito. chegavam as caixas de madeira, com vinhos encomendados pelo meu Os dois caíram na gargalhada. avô. De uma delas, apossei-me, para acomodar os meus guardados. Voltando da nossa viagem ao Cariri, passando por Campina Ávida em não partilhar com ninguém, fitas, contas de colares, desfei- Grande, na madrugada por Itabaiana, com a praça e o jardim público tos, linhas, agulhas e bordados. Com o tempo fui acomodando papéis, desertos, os personagens extintos tocam profundamente o poeta que convites e algumas cartas de amor, quando adolescente, escondidas de escreve uma sentimental e emocionante saudade. Escreve o poeta: minha mãe, já desbotadas de espera. “pequenos e esquivos diálogos familiares e sinto o coração do meu pai Com o decorrer do tempo, após o meu casamento com o poeta e de minha mãe pulsando no meu peito, sei que eles se conheceram e Mauro Mota, a mesma caixa guardou e guarda como um bálsamo o se amaram aqui e que não passariam indiferentes pelo caminho que os melhor dos nossos tempos juntos. Acompanhei-o em Nazaré da Mata, juntou para a eternidade. Parece que vou encontrá-los daqui a pouco. cidade que embalou o menino recifense e o seu mundo mágico que Sou transeunte antecipado. Que irei dizer ao jovem promotor Público nos trouxe o verde e o viço dos seus poemas de iniciação. É bom lem- da comarca, recém chegado da Faculdade do Recife e a sua noiva ainda brá-lo na sua produtividade literária, em atividades de administrador, colegial? Direi que não existo além do nada e do mistério, mas eles me na sua militância de professor, do intenso trabalho jornalístico há chamam e que, pouco depois serei uma criança inquieta nos seus bra- muitos anos, dedicado ao Diário de Pernambuco, ao lado do mestre ços (...). Decididamente não estarei aqui com o meu pai e minha mãe. O Aníbal Fernandes, nosso amigo, e sua mulher pintora Fédora Rego sono deles é tão profundo que é inútil que pise forte e fale alto na quieta Monteiro, , Samuel Soares. Com eles, eu e Mauro madrugada de Itabaiana.” Mota viajamos ao Crato, zona do Cariri, que compreende outros muni- cípios do Ceará. O Juazeiro do padre Cícero foi cenário de um dos mais * Marly Mota [email protected] é membro da Academia agitados capítulos políticos do nordeste. O roteiro do Cariri (Notas Pernambucana de Letras e colaboradora do JL. e Reportagens), de Mauro Mota, onde deixou registrado no Arquivo Público Estadual, Recife 1952.

Margot obedeceu e chegou ao hospital com seu chapéu de veuzi- nho preto. Então, o moribundo, no caso, seu cunhado, pediu para que Margot se aproximasse, afastasse o seu véu e chegasse o seu rosto o mais Lembranças de minha próximo possível do dele. Comovida, Margot achou que ele queria fazer as pazes com ela, dando-lhe um beijo de despedida, e aproximou-se o máximo que pôde tia Ivone do doente, que afastou o véu do seu rosto, sussurrando ao seu ouvido: “nariguda!” Por Maria Lucia Dahl E morreu. Ríamos muito com minha tia Ivone que usava expressões, que Como estamos vivendo uma época de eleger a mulher ao poder saíam do nada como a que ela empregava pra definir o horror que uma que ela merece, lembrei-me da minha tia Ivone, que morreu ao com- amiga sua casada com um milionário tinha a tudo que fosse chique, a pletar 95 anos, quando ia receber um prêmio da OAB (Ordem dos ponto de vender seu apartamento no Arpoador e se mudar para uma Advogados do Brasil), por ter sido a primeira advogada mulher do país. casa em Araruama na boca da favela. Estava animada e só falava disso, mas pediu para esperarem, pois – Sabe o quer dizer isso? – Perguntava tia Ivone. – Nostalgia do não queria receber o prêmio de braço quebrado, o que aconteceu ao sal- reles. tar daquela barquinha do clube Caiçaras, que ela frequentava, na Lagoa. E passei a acompanhar essa nostalgia do reles dessa sua amiga Aos 95 anos, queria arrasar no visual que minha irmã, figurinista que aparecia em sua casa muito mal vestida, implicando com os tapetes da Globo, a ajudaria a escolher, e não com um gesso no braço que não persa de tia Ivone, que ela quis uma vez trocar um deles, pequeno e com combinava nem com o seu visual nem com sua cabeça, de onde saíam aqueles desenhos orientais por outro onde se lia: “bem-vindo a este lar” histórias divertidas sempre que eu ia visitá-la. E, além do gesso ser um em tons de verde e amarelo. trambolho, como ela dizia, em relação ao seu requintado figurino, ainda Minha tia agradeceu o tapete e me cutucou dizendo baixinho: “tá a impediria de tocar piano elétrico, uma de suas manias. vendo o que eu disse? Nostalgia do reles!” Ivone tinha histórias e expressões que só ela dizia. A de uma tia Fui dama de honra de tia Ivone, aos 5 anos de idade junto com um sua, por exemplo, e minha tia avó, que não conheci, chamada Margot, menininho de terno e gravata. com quem o marido de sua irmã implicava, recusando-se a falar com Depois que seu marido morreu e minha tia já tinha 72 anos, reen- ela, por achá-la antiquada e chata. Então, contava tia Ivone, que quando controu um ex-colega de colégio, da sua idade, casou-se com ele, e disse este seu cunhado estava para morrer, no hospital, que seu último dese- que aquela tinha sido a maior paixão de sua vida. jo, surpreendentemente, era encontrar tia Margot. Encarreguei-me do seu prêmio da OAB como um marco de pessoa Sua mulher estranhou o seu desejo, mas, devido às circunstâncias moderna e transgressora que ela foi com seu estudo avançado e nenhu- chamou-a para visitá-lo no seu leito de morte, pensando numa tentativa ma nostalgia do passado nem do reles. de reconciliação. L Livre para todos os públicos Conferencista: José Carlos Azeredo Azeredo Carlos José Conferencista: Bechara Evanildo Acad. Moderação: Filho Proença Domício Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação lugares-comuns alguns sobre Refletindo materna? a língua ensina-se Afinal, IDIOMA DO POLÍTICA PARA UMA Conferências de Ciclo | 17h30min gamba) da (violas Orlando Mario e Augustin Trio Kristina espineta e gamba da violas duas para - RARA MÚSICA Câmara de Música | 12h30min 1º dejunho Conferencista: Ronaldo Vainfas Ronaldo Conferencista: Ventura Zuenir Acad. Moderação: Mello de Cabral Evaldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação holandês Brasil do ocaso no cristãos-novos e judeus cerco: sob Sefardismo COLONIAL HISTÓRIA DE CAPÍTULOS Conferências de Ciclo | 17h30min 6 dejunho José de Alencar de José familiar Demônio O 28 e 26 21, 19, 14, Dias: quartas e Segundas | 18h - 13h30min Leituras dramatizadas Teatro R.MagalhãesJr. fantasias, ária e danças danças e ária fantasias, e Eduardo Antonello Antonello Eduardo e (espineta) com MarinhoBoffaeMarcosSacramento Jobiniando -OrquestraCariocadeChoro TOM: OVOOLIVREDEUMPÁSSAROBRASILEIRO ABL na MPB | 12h30min 14 dejunho Conferencista: Ronald Raminelli Ronald Conferencista: Ventura Zuenir Acad. Moderação: Mello de Cabral Evaldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação coloniais elites das dinâmica a terra”: da “principais e Nobrezas COLONIAL HISTÓRIA DE CAPÍTULOS Conferências de Ciclo | 17h30min Conferencista: Heloisa Starling Starling Heloisa Conferencista: Ventura Zuenir Acad. Moderação: Mello de Cabral Evaldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação colonial Brasil no Republicanismo COLONIAL HISTÓRIA DE CAPÍTULOS Conferências de Ciclo | 17h30min Figueiredo Luciano Conferencista: Ventura Zuenir Acad. Moderação: Mello de Cabral Evaldo Acad. Coordenação: Machado Maria Ana Acad. Geral: Coordenação colônia Brasil no antifiscais resistências e revoltas As COLONIAL HISTÓRIA DE CAPÍTULOS Conferências de Ciclo | 17h30min 13 dejunho 27 dejunho 20 dejunho ,

Diretoria 2017: Presidente: Domício Proença Filho Secretária-Geral: Nélida Piñon 1ª Secretária: 2º Secretário: Merval Pereira Tesoureiro: Marco Lucchesi Acad. Cicero Sandroni e Acad. Evanildo Bechara Evanildo Acad. e Sandroni Cicero Acad. Participantes Filho Proença Domício Acad. Coordenação: Campos Roberto e Cunha Callado, Celso Antonio Acadêmicos dos nascimento de Centenário Mesa-Redonda | 17h30min Gentili Carlos José e Conferencistas Nejar Carlos Acad. Coordenador: Filho Proença Domício Acad. Geral: Coordenação PORTUGUESA LÍNGUA DA ENSINO NO LITERÁRIO TEXTO PAPEL DO O brasis BRASIL, Seminário | 17h30min 22 dejunho 29 dejunho [email protected] 3974-2526 (21) Agendamento: sextas e quartas Segundas, | 14h 30 e 26 23, 19, 14, 12, 9, 7, 5, 2, Dias: sextas e quartas Segundas, | 15h15min Visitas guiadas Petit Trianon Histórias imortais JosédeAlencar Sala : Acad. Alberto Filho,Venancio Alberto Acad. : : Deonísio da Silva da Deonísio : ornalde 10 JLetras

2 1. Celso Cunha recebendo o diploma do acadêmico Antonio Houaiss.

OO centenáriocentenário dede 2. Celso Cunha com o acadêmico . CelsoCelso CunhaCunha Foto: Cilene Cunha Pereira Por Manoela Ferrari [email protected] “É a fala que faz evoluir a língua, pois Quarto ocupante da cadeira 1 existe a força da no 35 da Academia Brasileira de Letras, o grande professor, filólogo inovação e a força da e ensaísta Celso Cunha teria com- conservação”. pletado 100 anos este ano se não Celso Cunha tivesse morrido no dia 14 de abril de 1989, no Rio de Janeiro. Nascido em Teófilo Otoni, Minas Gerais, em 10 de maio de “Povo que não forja 1917, Cunha era filho de Tristão da cultura tem de Cunha, professor e político minei- conformar-se à condi- ro, e de Júlia Versiani da Cunha e irmão do ex-deputado Aécio ção de mero usuário Cunha. Em 1921, sua família trans- de criações alheias.” feriu-se para o Rio de Janeiro, onde Celso Cunha iniciou sua formação no Colégio Anglo-Brasileiro. Bacharelou-se em Direito (1938) e licenciou- -se em Letras (1940) pela antiga Universidade do Distrito Federal. Entre seus professores, estavam filólogos de renome na Europa, como Jean Bourciez, Jacques Perret e Georges Millardet, e os brasileiros Antenor Nascentes e Sousa da Silveira, a quem Celso Cunha devotou, ao longo de sua vida, o mais profundo respeito e a quem deveu a sua opção pela crítica textual e o gosto pelos jograis e trovadores da Idade Média. Em 1947, formou-se doutor em Letras e Livre-docente em Literatura Portuguesa pela Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, com a tese O cancio- neiro de Paay Gómez Charinho, trovador do século XIII. Ser filólogo era, na época, conhecer a história da língua e, com base no latim e no desenvolvimento das línguas que dele se originaram, aprofundar-se na Romanística e descobrir, pela aplicação do método histórico-comparativo, a origem e solução de seus problemas. Por essa razão, os seus primeiros trabalhos tiveram por objeto o português arcaico. Celso Cunha deu contribuição essencial para o estudo dos cancioneiros, fundamentais para o conhecimento da origem e evolução da língua. Outra vertente dos seus estudos está nas inúmeras gramáticas que escreveu, a começar pelo Manual de português, publicado em 1965 e com muitas reedições. Editou uma Gramática do português contemporâneo (1966), uma Gramática moderna e uma Gramática da língua portuguesa (1972). Seu último trabalho de vulto foi a Nova Gramática do português contemporâneo (escrita em colaboração com Luís Filipe Lindley Cintra, da Universidade de Lisboa) considerada a obra mais importante desse gênero. Trata-se de livro completo, moderno, com grande riqueza de exempli- ficação colhida em autores de nomeada, inclusive poetas e prosadores como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Cecília Meireles, , Guimarães Rosa, Herberto Sales. Além disso, é raro em vários sentidos, especialmente no de denador-geral do Projeto de Estudo Coordenado da Norma Linguística Culta, Projeto demonstrar que sua construção obedeceu ao princípio, quase nunca observado, de NURC, em 1972; coordenador do Projeto de Estudo da Fala dos Pescadores na Região que nenhuma língua é jamais instrumento intelectual apenas, não sendo, portanto, dos Lagos, Projeto da FAPERJ, em 1980; coordenador do Atlas Etnolinguístico dos passível de submissão completa a lógicos princípios rigorosos e imutáveis. Pescadores do Estado do Rio de Janeiro, Projeto da FAPERJ, em 1986; membro do A terceira vertente da obra de Celso Cunha é a de ensaios com reflexões sobre Conselho Federal de Cultura. Era figura eminente da Comissão de Textos da Unesco e a língua, entre os quais os livros Língua portuguesa e realidade brasileira, A questão da representante do Brasil no Instituto Internacional de Língua Portuguesa. norma culta brasileira, Uma política do idioma, Conservação e inovação do português Foi membro da Comissão Machado de Assis, encarregada de elaborar a edição no Brasil, Língua, nação, alienação e Em torno do conceito de brasileirismo. crítica das obras do escritor, e da Comissão para fixação da Nomenclatura Gramatical Eleito para a ABL em 13 de agosto de 1987, na sucessão de José Honório Brasileira, em 1957; presidente do Grupo de Trabalho, criado pelo ministro da Rodrigues, Cunha foi recebido pelo acadêmico Abgar Renault, em 4 de dezembro Educação e Cultura Nei Braga, destinado a apresentar sugestões objetivando o aper- de 1987. No discurso de recepção, Reunault elogiou a erudição, o espírito crítico, a feiçoamento do ensino do Português, em 1976; revisor do texto da atual Constituição capacidade de pesquisador, a exatidão escolástica, a rigorosa propriedade vocabular, do Brasil, a convite da Assembleia Constituinte, em 1987. a claridade do estilo, a linguagem límpida e ágil, destacando “a autoridade incontes- Pertencia à Academia das Ciências de Lisboa, à Academia Mineira de Letras, tável de grandes especialistas de Portugal, Espanha, Itália, França, Inglaterra, Estados à Academia Brasileira de Filologia, ao Círculo Linguístico do Rio de Janeiro, à Unidos, que leram os livros de vossa autoria e sobre eles se manifestaram em estudos Société de Linguistique de Paris, à Société de Linguistique Romane, à Association publicados nesses países e vos conferiram nome e renome internacionais”. Internationale de Sémiotique, à Associación de Linguística y Filología de la América Celso Cunha Iniciou a carreira do magistério em 1935. Foi professor, como seu Latina, à Oficina Internacional de Información y Observación del Español e ao PEN pai Tristão da Cunha e seu avô Benjamin Ferreira da Cunha. Como são professores Clube do Brasil. sua filha Cilene da Cunha Pereira e o seu genro Paulo Roberto Dias Pereira. Era assim Recebeu o Prêmio José Veríssimo (Ensaio e Erudição) da Academia Brasileira que gostava de ser conhecido e lembrado. de Letras (1956); o Prêmio Paula Brito, da Prefeitura do antigo Distrito Federal Além do magistério e obra escrita, ocupou importantes funções públicas. (1958); o Prêmio Moinho Santista de Filologia (1983). Durante quatro anos, dirigiu a Biblioteca Nacional; foi Secretário Geral de Educação Em sua homenagem, foi publicado o volume Miscelânea de estudos linguísti- e Cultura do Governo Provisório do Estado da Guanabara, em 1960; membro do cos, filológicos e literários in memoriam de Celso Cunha, com a coordenação de Cilene Conselho Federal de Educação, onde exerceu dois mandatos, de 1962 a 1970; coor- da Cunha Pereira e Paulo Roberto Pereira, em 1995. ornalde JLetras 11 CentenárioCentenário dede CelsoCelso CunhaCunha –– nascimentonascimento dede umum FilólogoFilólogo dosdos queque gramáticogramático sese separamseparam brasileirobrasileiro Por Evanildo Bechara Celso Cunha entrou no cenário de atividades de grandes nomes dos estudos Por Cilene da Cunha Pereira* filológicos e linguísticos no Brasil numa época de apogeu desses domínios da vida universitária, herdeira que foi dessa geração de mestres da altura de Mário Barreto, Antenor Nascentes, José Oiticica, Padre Augusto Magne e Sousa da Silveira, que atu- Celso Cunha faria cem anos em 10 de avam no Rio de Janeiro. Ao lado destas personagens, em outras áreas geográficas bri- maio de 2017. Partiu aos 72 anos, mas con- lhavam Martinz de Aguiar no Ceará; Mansur Guerios no Paraná; Theodoro Maurer, tinua entre nós, no afeto de seus familiares Nicolau Salum e Segismundo Spina em São Paulo. Em Minas Gerais, atuavam e amigos, na memória de alunos e colegas, Cláudio Brandão, Aires da Mata Machado e Mário Casassanta. Na geração subse- na admiração de todos aqueles que se inte- quente, só no Rio de Janeiro tínhamos os excelentes e fecundos trabalhos de Mattoso ressam pelos estudos da Língua Portuguesa. Câmara e Silvio Elia, na área da Linguística; Serafim da Silva Neto e Ismael de Lima Bacharel em Direito e doutor em Coutinho, na área da Filologia Histórica e da Romanística; Clóvis Monteiro, Cândido Letras pela Universidade do Brasil, atual Jucá (filho), Rocha Lima e Gladstone Chaves de Melo, na área dos estudos de Língua Universidade Federal do Rio de Janeiro, Celso Cunha pertenceu a uma geração Portuguesa, como os representantes que mais apareciam em textos escritos em livros marcada pelo nascimento do curso superior de Letras no Rio de Janeiro e pela com- e revistas especializadas. Por essa época, todos nós antegozamos a esperança de ter petência e dedicação de alguns excepcionais professores brasileiros, como Antenor entre nós, trabalhando conosco e nos orientando em domínios mais profundos das Nascentes, Sousa da Silveira, José Oiticica, Ernesto Faria. ciências da linguagem, pela transferência para o Brasil, um jovem linguista, natural Foi professor, era assim que gostava de ser conhecido e era assim que decla- da Romênia, educado na Itália e adotado no Uruguai – Eugenio Coseriu – que, con- rou, repetidas vezes, preferir ser lembrado. Iniciou sua carreira docente no Colégio vidado por Mattoso, na década de 1950, ministrou três palestras muito fecundas na Pedro II, aos 17 anos. E, conquistou, segundo suas palavras, “pelas estradas largas e Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Essa esperança durou pouco tempo, porque, democráticas da competição pública, as duas das cátedras de maior responsabili- por convite do grande romanista alemão Harri Meier, foi ser professor universitário dade do ensino da língua do país”: a do Colégio Pedro II e a da Faculdade Nacional na Alemanha, preenchendo a cadeira vaga na Universidade de Tubingue pelo fale- de Filosofia, da Universidade do Brasil. cimento de Ernst Gamillscheg. Por um pouco não tivemos efetivamente entre nós Celso Cunha participou, com Afrânio Coutinho, e Thiers um dos maiores linguistas do século XX que, com toda certeza, iria produzir frutos Martins Moreira, da criação dos cursos de Pós-Graduação em Letras da UFRJ, com sazonados entre os jovens universitários brasileiros daquela época. a preocupação constante de formar professores de alto nível para suprir a carência Celso pôde brilhar dentro deste universo tão fecundo de talentos, inauguran- que existia, e ainda existe, no país. do ou reatando laços anteriores na área da Crítica Textual (deixados pelos estran- Suas atividades intelectuais, particularmente na Filologia e na Linguística, geiros radicados no Brasil – Oskar Nobiling e Nella Aita, o primeiro com sua edição abriram-lhe as portas para o mundo. Recebeu o título de Doutor Honoris Causa das Cantigas de Guilhade e ela com estudos sobre o Códice Florentino de Cantigas da Universidade de Granada (Espanha) e foi professor em várias universidades de Afonso X), da Métrica Medieval e Moderna e em algumas reflexões científicas e europeias, entre elas, a Universidade de Paris–Sorbonne; a Universidade de Colônia pedagógicas em temas muito discutidos na época como, por exemplo, a correção (Alemanha); a Universidade Clássica de Lisboa. gramatical, a conceituação de brasileirismos e o ensino da língua portuguesa na Além de professor, Celso Cunha assumiu vários cargos públicos. Dirigiu realidade brasileira. a Biblioteca Nacional; foi secretário de Educação e Cultura do antigo Estado da Mineiro, oriundo de uma nobre família de políticos e professores, Celso Guanabara e revisor do texto da atual Constituição do Brasil, promulgada em 1988. reunia ao seu talento de filólogo um bom conhecimento na área governamental Pertenceu à Academia Brasileira de Letras, à Academia Brasileira de Filologia, e administrativa do país, o que lhe permitiu não só um convívio demorado no à Academia Mineira de Letras, à Academia das Ciências de Lisboa e ao PEN Clube estrangeiro, em missões de docência que enriqueceram sua experiência e saber. do Brasil. Seus olhos atentos de professor souberam também aproveitar este prestígio para Celso Cunha é autor de obras capitais na área da crítica textual, da versifica- possibilitar oferecer a seus alunos o desenvolvimento de atividades e projetos na ção, da política do idioma e do ensino de língua portuguesa. Suas edições de trova- vida universitária. Assim foi que, por exemplo, enviou Nelson Rossi a Coimbra, para dores medievais o tornaram uma autoridade conhecida internacionalmente. Essas trabalhar no Laboratório de Fonética de Armando Lacerda, a fim de que, retornan- obras foram reunidas no livro Cancioneiro dos Trovadores do Mar. Seus estudos do ao Brasil, fosse útil à futura equipe que traçaria os atlas linguísticos preparados sobre versificação encontram-se na coletânea Estudos de Versificação Portuguesa na Universidade da Bahia, vitoriosamente iniciados com o Atlas Prévio dos Falares (Séculos XIII a XVI). Baianos. Lembro-me ainda do encaminhamento do talentoso jovem Hélcio Martins Dedicou-se ao estudo da modalidade americana da nossa língua, interes- que, na Espanha, seguindo as lições de Damaso Alonso e Carlos Bousoño, pôde, de sando-se pelas diferenças entre as variantes brasileira e portuguesa. Foi defen- volta ao Brasil, arejar os estudos estilísticos na atividade universitária brasileira. sor do Acordo Ortográfico e apaixonado pela preservação da unidade da Língua 4 Seu contato e amizade com o excelente linguista mexicano Lope Blanch Portuguesa dentro da sua natural diversidade. Esses trabalhos foram reunidos e acenderam-lhe as esperanças de, alargando as ambições no campo da Geografia serão publicados no segundo semestre deste ano. Linguística, favorecer o início das pesquisas levadas a cabo pelo Projeto da Norma As pessoas que não conheceram o filólogo e medievalista Celso Cunha, ou Urbana Culta brasileira, que, até hoje, quando cientificamente aproveitados os seus o pesquisador preocupado com os destinos da Língua Portuguesa no mundo, por testemunhos, orientam melhor o problema da correção idiomática. Ficamos também certo conviveram e convivem com o gramático. Essa é a face de sua obra de maior agradecidos à atividade internacional de Celso Cunha, o estreitamento do diálogo divulgação. Tanto a Nova Gramática do Português Contemporâneo, em coautoria com grandes nomes da Filologia e da Linguística do mundo universitário, na realiza- com Lindley e Cintra, quanto a Gramática Essencial são livros de consulta obriga- ção de alguns congressos internacionais, entre os quais vale lembrar o promovido na tória para aqueles que se interessam pelo estudo da Língua Portuguesa não só no Bahia, em 1956, sobre a língua do teatro, tão importante quanto o congresso realizado Brasil, mas também em Portugal e nas nações lusófonas da África. em 1937 em São Paulo sobre a língua cantada, graças à iniciativa de Mário de Andrade. No campo de suas preocupações pedagógicas, vale lembrar o que colaborou para que o Ministério da Educação reunisse os catedráticos do Colégio Pedro II a fim *Cilene da Cunha Pereira é doutora em Letras pela UFRJ, professora de de elaborar o projeto da Nomenclatura Gramatical Brasileira, tão útil e inspirador que Língua Portuguesa da UFRJ e pertence à Academia Brasileira de Filologia. estimulou a que Portugal também produzisse a Nomenclatura Gramatical Portuguesa. Depois de alguns textos escolares para o ensino da língua portuguesa, associou-se ao grande mestre lusitano Lindley Cintra na elaboração da Nova Gramática do Português Contemporâneo que, além da criteriosa visão científica, inaugurou entre nós a exem- plificação literária colhida em escritores brasileiros, portugueses e africanos, num testemunho eloquente da unidade da língua escrita culta portuguesa. ornalde 12 JLetras muitos lugares do mundo, simbolizando a paz e mantendo viva a J lembrança da menina aprisionada pelos nazistas. L Literatura InfantilPor Anna Maria de Oliveira Rennhack O homem do violino (Galerinha – Record) – Outro lindo livro escrito por Kathy Stinson, com ilustrações de DobradinhasDobradinhas Dusan Petricic e tradução de Rosa Amanda Strausz. O violinis- ta Joshua Bell inspirou essa histó- Mestre em educação, pedagoga, editora de livros infantis e didáticos — e-mail: [email protected] ria que mostra que as crianças têm sensibilidade especial para a música.

Os livros que recebi recentemente permitem uma brin- cadeira de afinidades e coincidências. Vejam só: Notícias Maurício Negro, ilustrador, escritor e designer gráfico está presente em duas obras com seu talento e arte. Cores fortes e magia Nos dias 20 e 21 de maio aconteceu mais um encontro da FLIST em cada desenho! – Festa Literária de Santa Teresa, tradicional bairro carioca, no Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas, com o tema Tributo às Mulheres. Apontamentos (Global) – Texto de Organizada pelo Centro Educacional Anísio Teixeira e com a curadoria Bartolomeu Campos de Queirós. Mais atual de Ninfa Parreiras, este ano os autores de literatura infantil e juvenil impossível, com genialidade e poesia, o queri- tiveram destaque especial: Graça Lima (homenageada), Eliane Ganem, do Bartô nos mostra o caminho das palavras, Stella Maris Rezende, Henrique Rodrigues, Cláudia Nina, Andrea Viviana dos direitos, da justiça, tudo está ali, na Carta, Taubman, Alex Gomes, Cris Alhadeff, Rosa Amanda Strausz participa- nosso maior documento. ram da festa. Fotos de divulgação e Alex Gomes

Graça Lima e Glória Valladares Grangeiro. Tem oba-oba no baobá – Histórias com perfume de África (Paulinas) – Texto de Claudia Lins. Nina Zina é uma tar- taruga que vive em um quilombo, seu povo é afrodescendente e os contos mágicos que ela espalha foram ditados pelo tempo. Suas histó- rias guardam o perfume, o encanto e a magia do ser africano.

Estes são alegres e sempre divertidos. O autor belga Guido Van Eliane Ganem, Stella Maris Rezende e Genechten cativa os pequenos leitores com seus textos e ilustrações. E Ninfa Parreiras. a dobradinha também é da tradutora: Camila Werner e dos cachorros!

O cachorro perdido (Brinque-Book) – O cachorro se perdeu de seu dono! Será que ele vai conseguir encontrá-lo? Uma dica: o dono usa sapatos pretos, grandes e com cadarços, e meias vermelhas com bolinhas brancas... Alex Gomes e Cris Alhedeff no lançamento de O cafofo do remelexo, de Thiago Taubman Apertado Costa, Marcello Pellegrino e (Brinque-Book) – E agora? O cachorrinho Andrea Viviana Taubman (Zit, está muito apertado e agora precisa ter ilustrações de Julio Carvalho). coragem para usar o banheiro, afinal, não há penicos disponíveis. Um livro para todos aqueles que estão apertados! Claudia Nina, Sol Mendonça e Rosa Amanda Strausz.

Sensibilidade e emoção em duas histórias baseadas em fatos reais.

A árvore no quintal –- Olhando pela janela de Anne Frank (Galera Júnior – Record) – Escrito por Jeff Gottesfeld, ilustra- do por Peter McCarty e traduzido por Luiz Antônio Aguiar. Esse lindo livro apresenta o castanheiro-da-índia, que foi testemunha silenciosa dos acontecimentos, no quintal ao lado do esconderijo da família Frank, na Henrique Rodrigues e a jovem leitora de Holanda. A antiga árvore não existe mais, O pé de meia e o guarda-chuva (Malê, porém suas sementes foram espalhadas em ilustrações de Walther Moreira Santos). ornalde JLetras 13

JL Biblioteca Básica Brasileira BBBO Jornal de Letras apresenta mais três autores cujas obras não podem faltar numa Biblioteca Básica Brasileira. acervo JL acervo JL acervo JL Aloysio de Castro Laudelino Freire Ramiz Galvão

Médico, professor e poeta, Laudelino de Oliveira Benjamin Franklin Ramiz nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em Freire, advogado, jornalista, pro- Galvão, Barão de Ramiz, médico, 14 de junho de 1881, e faleceu na fessor, político, crítico e filólogo, professor, filólogo, biógrafo e ora- mesma cidade, em 7 de outubro de nasceu em Lagarto, SE, em 26 de dor, nasceu em Rio Pardo, RS, em 1959. Foi aluno do Colégio Kopke, janeiro de 1873, e faleceu no Rio 16 de junho de 1846, e faleceu no onde fez os estudos fundamentais de Janeiro, RJ, em 18 de junho de Rio de Janeiro, RJ, em 9 de março de e cursou latim. Cursou a Faculdade 1937. Foi aluno da Escola Militar 1938. Após os estudos primários no de Medicina do Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro. Formou-se em Colégio Amante da Instrução, cur- onde formou-se doutor em medi- Direito em 1902. Além de advogar, sou o segundo grau no Colégio Pedro cina em 1903, tendo obtido o prêmio de viagem à Europa exerceu cargos públicos, o magistério e o jornalismo, colabo- II, bacharelando-se em Letras, em 1861. Aos 19 anos, escrevia oferecido pela mesma Faculdade. Foi interno de Clínica rando na imprensa também, sob os pseudônimos Lof e Wulf. o seu primeiro livro, O púlpito no Brasil, publicado em 1867. Propedêutica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro Depois de cumprir três mandatos como deputado estadual Formou-se em Medicina, em 1868. Trabalhou como cirurgião no (1901-1903); assistente de Clínica Propedêutica da Faculdade na Assembleia Legislativa de Sergipe, Laudelino Freire fixou-se Hospital Militar da Ponta da Armação, seguindo depois o magisté- de Medicina (1904-1908); subcomissário de higiene e assistên- no Rio de Janeiro. Foi professor catedrático do Colégio Militar, rio. Helenista emérito, foi professor de Grego no Colégio Pedro II e cia pública do Rio de Janeiro (1906-1908); professor substituto tendo lecionado várias disciplinas (Português, Espanhol, de Química orgânica, Zoologia e Botânica na Escola de Medicina e, a seguir, professor catedrático de Patologia Médica e de Geografia, História e Geometria) e consolidado sua carreira do Rio de Janeiro. Gozou da amizade de D. Pedro II desde os anos Clínica Médica (1915-1940); diretor geral da Faculdade de de escritor, jornalista e filólogo. Como jornalista, foi diretor da escolares. Por decreto do governo imperial de 18 de junho de 1888, Medicina (1915-1924); diretor geral do Departamento Nacional Gazeta de Notícias e colaborou em diversos jornais, entre eles o recebeu o título de Barão de Ramiz. Foi diretor-geral da Instrução de Ensino (1927-1932); médico da Santa Casa da Misericórdia. Jornal do Brasil, Jornal do Comércio e O País. Seus artigos foram Pública do Distrito Federal e o primeiro reitor da Universidade Aloysio de Castro publicou, além de obras científicas, ensaios reunidos em Notas e perfis, em onze volumes (1925-1930), defi- do Brasil. Dirigiu a Biblioteca Nacional e promoveu a publicação e conferências, alguns livros de poesia, além de compor peças nindo cada um deles a cultura e as ideias de Laudelino Freire, dos Anais da repartição. Organizou o Asilo Gonçalves de Araújo, musicais para piano e para canto. Era membro da Academia um dos maiores investigadores dos estudos clássicos e filológi- instituição destinada a educar crianças pobres, e foi seu diretor Nacional de Medicina; da Sociedade de Neurologia, Psiquiatria cos no Brasil. Em 1918, fundou a Revista da Língua Portuguesa, desde 1899 até 1931. Editou o Vocabulário etimológico, ortográfico e Medicina Legal do Rio de Janeiro; da Sociedade de Medicina que dirigiu, publicou, entre outros, a Réplica de Rui Barbosa. e prosódico das palavras portuguesas derivadas da língua grega, e Cirurgia do Rio de Janeiro; membro honorário da Sociedade Os seus 68 volumes publicados são até hoje um indispensável publicado em 1909. Foi Ramiz Galvão que, em 1904, indicou o de Medicina e Cirurgia de São Paulo; do Instituto Brasileiro da subsídio para quem pretende estudar a Língua Portuguesa. nome de Silogeu Brasileiro para o edifício construído na Praia da História da Medicina; do Conservatório Brasileiro de Música; Fundou e dirigiu também a Estante Clássica (15 volumes). É o Lapa, onde o governo se propôs a reunir instituições culturais, membro da Comissão de Cooperação Intelectual da Liga das autor do Grande e novíssimo dicionário da Língua Portuguesa, inclusive o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e a Academia Nações (1922-1930); diretor do Instituto Ítalo-Brasileiro de de publicação póstuma em cinco volumes, com a colabora- Brasileira de Letras. Entrou para a Academia em 1928, aos 82 anos. Alta Cultura; membro correspondente de instituições médicas ção de J. L. de Campos, Vasco Lima e Antônio Soares Franco Fez parte da Comissão do Dicionário (1928), da Comissão de internacionais e membro efetivo da Academia Pontifícia das Júnior. Segundo ocupante da cadeira no 10, foi eleito em 16 de Gramática (1929) e foi presidente (1934) da Academia. Foi sócio Ciências. Na Academia Brasileira de Letras, foi segundo-secre- novembro de 1923, na sucessão de Rui Barbosa, e recebido pelo grande benemérito do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; tário (1921-1922); secretário-geral (1926) e presidente (1930 e acadêmico Aloísio de Castro em 22 março de 1924. Recebeu o membro honorário da Academia Nacional de Medicina e de diver- 1951). acadêmico Aldemar Tavares. sas associações científicas e literárias. ornalde 14 JLetras

Drummond de Andrade registrou sua indignação ao escrever: “Esse Rio de Janeiro! O homem passou em frente ao Cinema Rian, na Avenida Atlântica, e não viu o Cinema Rian. Em seu lugar havia um canteiro de obras. Na Avenida Copacabana, Posto 6, passou pelo Cinema Caruso. Não havia Caruso. Havia um negro buraco, à espera do canteiro de obras. Aí alguém lhe disse: O banco comprou!” Outra citação importante que imortalizou o Cine Rian veio do talento de Nonato Buzar e Chico Anysio, na música “Rio Antigo”, gravada num divertido dueto pelo próprio Chico em parceria com o trapalhão Mussum, além da mais famosa gravação da obra, na voz da consagrada Por Zé Roberto [email protected] cantora Alcione, a Marrom. Nos versos, a dupla de compositores registrou: “Quero um bate- -papo na esquina/ Eu quero o Rio antigo/ Com crianças na calçada/ Brincando sem perigo/ Sem metrô e sem frescão/ O ontem no amanhã/ Eu que pego o bonde 12 de Ipanema/ Pra ver o Oscarito e o Grande Otelo no cinema/ Domingo no Rian/ Me deixa eu querer mais, mais paz...

Numa foto da revista Diretrizes, Nair de Teffé exibe ao jornalista Francisco de Assis Barbosa a maquete de seu cinema.

Nair de Teffé e seu cinema

Quem passa hoje entre as ruas Constante Ramos e Barão de Ipanema, mais precisamente pela Avenida Atlântica, 2964, vê apenas mais um dos muitos hotéis que existem em Copacabana. Mas o ende- reço já foi palco de uma cultura que aos poucos foi se extinguindo: o cinema de rua. Uma das salas mais famosas que existiu na cidade cha- mava-se Cine Rian, fundado em 28 de novembro de 1939 por Nair de Teffé, a Rian, nossa primeira caricaturista, que juntou suas últimas eco- nomias, a um empréstimo da Caixa Econômica, e construiu um prédio com capacidade para mais de mil pessoas. O cinema tornou-se famoso e abrigou diversos eventos importantes, como o Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro. Sem tino para os negócios, Nair de Teffé se viu obrigada a firmar parceria com Severiano Ribeiro, famoso empresário do ramo, para ten- tar manter seu cinema em atividade, mas acabou vendendo sua casa de espetáculos ao mesmo empresário, reconhecendo ter sido ingênua, tanto nos contratos de aluguel como no de venda do imóvel. “Severiano E por falar em Rian, está circulando pelas livrarias um novo livro não se portou à altura de um cavalheiro, aproveitando-se de minhas sobre nossa primeira caricaturista, Nair de Teffé: Artista do Traço e do dificuldades. Foi um castigo!”, disse Rian aos repórteres do jornal O Riso, de autoria da pesquisadora Maria de Fátima Hanaque Campos, Fluminense quando, em 1975, um incêndio destruiu parte das depen- publicado pela Appris Editora. A obra pode ser adquirida facilmente dências do prédio. no site da empresa editorial, bastando visitar o endereço editoraappris. Anos depois, o Cine Rian encerra suas atividades, mesmo destino com.br/. de outras famosas salas que foram se extinguindo, obrigando os cinéfi- Ainda sobre a obra de Maria de Fátima Hanaque, está sendo plane- los a frequentarem cada vez mais os shoppings da cidade. jado, para o final de 2017, o lançamento de seu livro em Niterói. A ideia No dia 16 de dezembro de 1983, o prédio que abrigou o Cine Rian é receber a escritora numa exposição sobre Rian, quando as duas filhas foi demolido para dar lugar a mais um hotel. Na época, o cronista Carlos da caricaturista serão homenageadas. Aguardem! ornalde JLetras 15 cenário cultural brasileiro. Na mesma década, escreveu regularmen- te para os jornais Folha da Manhã e O Diário de São Paulo. Em 1945, tornou-se professor catedrático da USP e publicou seu primeiro livro, A morte de Antonio Introdução ao Método Crítico de Sílvio Romero, sua tese de livre-docên- cia. Em 1954, concluiu o doutorado em Ciências Sociais, com a tese Os Candido Parceiros do Rio Bonito, ensaio sociológico e antropológico sobre o caipira paulista e sua transformação. Por Maria Cabral Dois anos depois, a convite de Júlio de Mesquita Filho, entregou o projeto do Suplemento Literário d’O Estado de S. Paulo, que seria edi- tado nos 10 anos seguintes por Décio de Almeida Prado. O Suplemento O JORNAL DE LETRAS lamenta a morte de Antonio Candido de Mello e Souza, um dos maiores críticos literários do país. Responsável pela for- Literário tornou-se um dos grandes paradigmas do jornalismo cultural mação de uma maneira única de pensar a literatura brasileira, Antonio no Brasil, fundamental para entender as relações entre o pensamento Candido morreu em São Paulo, aos 98 anos. universitário e a imprensa no país – relações que ajudou a estabelecer Aposentado em 1978 da cadeira de professor titular de Teoria e modelar. Literária e Literatura comparada da USP, Candido era Professor Emérito No período em que lecionava literatura brasileira na Faculdade da USP e da UNESP, e doutor honoris causa da Unicamp. de Filosofia de Assis (SP), lançou sua obra mais influente: Formação da Antonio Candido nasceu no dia 24 de julho de 1918, no Rio de Literatura Brasileira (1959), na qual estudava os momentos decisivos da Janeiro. Depois de passar a infância entre Minas Gerais e São Paulo, formação do sistema literário brasileiro. estabeleceu-se na capital paulista em 1937. Ingressou e abandonou a Respeitadíssimo estudioso da literatura brasileira e estrangeira, Faculdade de Direito da USP, para, em 1942, se graduar em Filosofia. com uma obra crítica extensa, reconhecido nas principais univer- Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, no fim dos anos 1930, sidades do país e do exterior, entre os prêmios que recebeu estão o encontrou o grupo que ajudaria a formatar a intelectualidade paulistana Camões, em 1998, e o Prêmio Internacional Alfonso Reyes, no México, por meio da crítica cultural – o Grupo Clima. Em contato com professo- em 2005. Foi casado com Gilda de Mello e Souza, professora de Estética res franceses da USP, Candido e os colegas do Clima promoveram uma no Departamento de Filosofia da FFLCH-USP, que morreu em 2005, renovação à ensaística brasileira, rompendo com a geração modernista e deixa as filhas Ana Luísa, Laura e Marina. O Instituto de Estudos da anterior – mais ligada à produção artística e doutrinação política. Linguagem da Unicamp (IEL) decretou luto oficial de três dias pela Nos anos 1940, editaram a Revista Clima, que os insere de vez no morte de seu fundador.

Principais resultados Retratos da leitura no Entre os alunos mais novos, as estatísticas indicam as seguintes preferências, pela ordem: 1) Livros Infantis; 2) Contos; 3) Bíblia; 4) HQ; 5) Livros Escolares; 6) Ciências; 7) Artes; 8) Poesia; 9) Religiosos; e 10) Romance. Brasil Já entre o segundo grupo, há uma inversão na ordem dos mais lidos: 1) Contos; 2) Bíblia; 3) Poesia; 4) Livros Escolares; 5) Livros Infantis; 6) Ciências; 7) HQ; 8) Juvenis; 9) Romance; e 10) Artes. Os livros de contos, poemas e de literatura infantil em geral lide- Os dados indicam que 67% das crianças de 5 a 10 anos são leitoras ram o Top 10 dos gêneros literários mais lidos entre os alunos do Ensino de livros, um número que cresce para 84% entre os alunos entre 11 e 13 Fundamental, com idade entre cinco e 13 anos, nas escolas brasileiras. anos. O dado preocupante, no caso, é o outro lado da moeda, que reve- Também aparecem na relação os livros escolares e os religiosos e a lou que 16% no grupo mais velho admite não ser leitor, um indicador bíblia, um traço comum em países católicos e de ascensão da população que chegou a alarmantes 33% entre os mais novos. evangélica. Mas o que chama mais atenção é a presença dos livros de Nos dois grupos, a capa do livro é o fator que mais influencia na arte e dos científicos entre os mais procurados nessa faixa etária. escolha da obra a ser lida, enquanto que as indicações de professores Os dados fazem parte de um estudo que está sendo preparado pela são responsáveis por 18% das leituras feitas entre os menores e por 11% Fundação Observatório do Livro e da Leitura, com base nas informações entre os maiores. O tema, o título e o autor só vêm depois. A boa notícia coletadas pelo Ibope para o Instituto Pró-Livro para a quarta edição da é que, embora um entre cada quatro alunos reconheça que a principal pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, concluída em 2016. Para efeito da razão para a leitura tenha sido a indicação feita pela escola, 45% deles análise, a população foi dividida em dois grupos: um com crianças entre afirmam que leram por gosto ou prazer. 5 e 10 anos, que cobre todo o primeiro ciclo do Ensino Fundamental, e O estudo também se dedicou a procurar entender as razões pelas o outro entre 11 a 13 anos de idade, que correspondem a três dos quatro quais os alunos do Ensino Fundamental avaliam tão bem as bibliotecas anos do Fundamental 2. escolares. Além do atendimento em si, quase dois terços dos entrevista- “A análise indica um ligeiro crescimento da leitura e reforça, ao dos disseram que encontraram nas bibliotecas de suas escolas todos os mesmo tempo, algumas preocupações com relação ao baixo estímulo livros ou pelo menos boa parte das obras indicadas pelos professores. Só em parte das escolas”, alerta o presidente da Fundação Observatório 7% não encontrou, enquanto 4% sequer procurou. do Livro e da Leitura, Galeno Amorim, que coordenou a implantação Embora a população estudantil – da Educação Infantil à Pós- da metodologia de medição que, atualmente, é utilizada pela pesquisa Graduação – apresente índices de leitura muito acima daquele produ- Retratos da Leitura no Brasil. zido pela população fora da escola (9,35 livros per capita lidos por ano, Segundo ele, que já foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional ante 3,35 do segundo grupo), a leitura continua longe de ser a atividade e o responsável pela implantação do Plano Nacional do Livro e Leitura preferida entre os alunos das escolas brasileiras. Entre aqueles com (PNLL), torna-se ainda mais evidente a necessidade de que as bibliote- Ensino Fundamental 1 completo, ela aparece em quinto lugar, enquan- cas escolares se prepararem de forma mais adequada para assumirem to que entre os que possuem o Fundamental 2 a leitura ocupa o penúl- papéis de maior relevância nos projetos pedagógicos para que os biblio- timo lugar entre os dez mais mencionados, atrás da TV, rádio, internet, tecários das escolas passem a atuar como uma espécie de consultores conversa com os amigos, vídeos, WhatsApp e mídias sociais como o em leitura junto aos professores e coordenadores pedagógicos. Facebook, Twitter e o Instagram. (MC) ornalde 16 JLetras A cada delação premiada, ouve-se ou se lê os fatos relatados, difíceis de serem contestados pelos cúmplices. Os testemunhos dados pelos antigos parceiros, agora presos pela Operação Lava Jato e que se Oceano de lama ofereceram para fazer a delação, a fim de diminuir as penas que lhes serão impostas, abriram uma clareira na negra trama urdida entre cor- Por Terezinha Saraiva* ruptos e corruptores, que imaginavam que por ter sido tão bem plane- jada nunca viria à luz. Lembro-me bem. Eu era pequena e minha mãe me dizia que, Delatores abriram suas agendas, seus registros, desvendando a quando eu pegasse em dinheiro, devia lavar as mãos porque dinheiro organização criminosa da qual faziam parte, com um cinismo, uma era sujo. Certamente, àquela altura, ela se referia ao fato de que cédulas fleugma, que mostram bem quem são e o quanto receberam em troca e moedas circulavam de mão em mão e, por isto, tornavam-se sujas. do que deram. Uma ação entre “amigos”. Segui à risca a advertência e, até hoje, ao pegar em dinheiro, lavo Por outro lado, é de estarrecer que os delatados neguem cinica- as mãos. mente ter participado do que está sendo revelado pelo extraordinário Aquele conselho seguiu-me ao longo da vida. Sempre tive, quan- trabalho realizado pelo juiz Sergio Moro na Operação Lava Jato e outras do me foi dado administrar orçamentos municipais, estaduais e fede- Operações, pela Procuradoria-Geral da República, pelo Ministério rais, o maior cuidado com a aplicação dos recursos que me eram entre- Público e Polícia Federal. Pelo trabalho do Supremo Tribunal Federal. gues para gerir a fim de não sujar minhas mãos, tingir minha biografia. Por juízes, promotores, procuradores. Evidente que isto ocorreu não só pelo ensinamento de minha mãe, mas O “mar de lama”, expressão usada por Getúlio Vargas pouco antes também pelos valores e exemplos com que fui criada e educada, e dos de se suicidar, em 1954, cedeu lugar a este “oceano de lama”, a este “tsu- quais jamais me afastei. nami” que se espraiou pelo país, envergonhando os brasileiros ínte- Hoje, já na velhice, depois de percorrer uma longa trajetória pes- gros, honestos que não aceitam que sua pátria seja denegrida por um soal e profissional, acompanho perplexa e estarrecida a que o dinheiro grupo de pessoas que amam o dinheiro sujo que ganharam, roubando pode levar. O que corruptos e corruptores podem fazer por causa do o próprio país e o povo brasileiro, dinheiro que não lhes trouxe poder, dinheiro e da compra do ilusório poder. como imaginavam, mas sim, o opróbrio, a vergonha, a desonra. Os brasileiros estão acompanhando desde 2005, com o escândalo Este desabafo precede a conclusão deste artigo. Diante de tudo do mensalão, a organização criminosa que, por baixo dos panos, des- isto, penso que os professores em suas salas de aula não podem deixar viou dinheiro que deveria ser aplicado para construir e equipar escolas de abordar este momento pelo qual o Brasil passa, adequando à faixa e hospitais; para ampliar o efetivo necessário para garantir a segurança etária o modo de abordar o assunto que está mobilizando a opinião da população; para investir em programas sociais, não assistencialistas, nacional, para que nossos adolescentes e jovens possam não só ouvir o capazes de permitir a inclusão social de milhões de brasileiros, des- relato isento de ideologia de seus professores como estabelecer juízo de viando-o para o bolso de alguns brasileiros desonestos. valor, e para que, sobretudo, aprendam quando chegar o momento, a Passados alguns anos daquele escândalo, explodiu o escândalo escolher com extremo cuidado aqueles em quem irão votar para cargos do petrolão, envolvendo ex-presidentes da República, ministros e no executivo e no legislativo, para que o que está ocorrendo no atual ex-ministros, governadores e ex-governadores, senadores, deputados momento brasileiro jamais se repita. federais e estaduais, secretários e ex-secretários de estado, marquetei- Os professores, que têm a elevada missão de ensinar e de educar ros, empresários – corruptos e corruptores – que desviaram recursos jovens de hoje, cidadãos e cidadãs de amanhã, não podem se omitir de de estatais, de fundos de previdência, drenado por meio de conhecidas participar da reconstrução do país, que sairá deste triste, decepcionan- empreiteiras, com seus contratos superfaturados, após licitações frau- te e lamentável episódio, honrado e amado por todos os seus filhos e dulentas, com propinas pré-estabelecidas, para campanhas eleitorais novamente admirado pelo concerto das Nações. e/ou para os bolsos e contas nos paraísos fiscais dos membros da quadrilha. * Terezinha Saraiva é educadora.

E lá estou eu pra recebê-los, a mesma velha emoção de sempre! Pouco a pouco, vamos nos conhecendo. E, juntos, vamos descobrindo pequenos segredos que nos permitirão decifrar os “códigos” que lhes Concurso de redação abrirão as portas para a vida. Passo a passo, vamos avançando, rumo ao fascinante mundo da leitura. E um dia, como que por encanto, eles Professora Sonia Regina Villarinho da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro. estão lendo. E as palavras ganham vida, enchem a sala de aula com seus muitos sons e cores. E, é impossível não me deixar envolver nesse turbilhão de emoções, Texto classificado em 21o lugar entre mais de doze mil trabalhos de novas e maravilhosas descobertas que parecem não terminar nunca. inscritos no Concurso de Redação para professores promovidos pelo As palavras, antes mudas e sem vida, como que à espera do grande jornal A Folha Dirigida. momento, ganham enfim significados – e uma sonoridade que parece música aos meus ouvidos. “Eles chegam, ruidosos e irrequietos, enchendo a sala de aula com Há trinta anos tenho estado no meio deles. No entanto, é sempre sua energia contagiante. Alguns, seguros e confiantes, outros tímidos e como se fosse a primeira vez. Muito mais aprendendo do que ensinando, assustados. Tão diferentes, e tão iguais em tudo! Muitos, pela primeira vez na maioria das vezes mera espectadora do milagre da vida que é a alfa- na escola, e já na Classe de Alfabetização. O coração acelerado, a respira- betização. É como se a mim fosse dado o privilégio de retirar-lhes a venda ção ofegante, o choro contido, o medo do desconhecido... É hora de deixar dos olhos, de mostrar-lhes o colorido e risonho mundo das palavras, que pra trás a segurança da família para, sozinhos, enfrentarem o enorme se eterniza ao longo dos séculos, e transcenderá aos homens.” desafio que têm pela frente. ornalde JLetras 17 Homenageada do Evento IV Feira Literária A FLIC-ES, neste ano, homenageou a historiadora Maria Stella de Novaes (1894-1981), historiadora capixaba com extensa obra, entre estu- dos publicados e inéditos. Nascida na cidade de Campos dos Goytacazes, em 13 de Agosto movimenta o ES de 1894, Maria Stella estudou no Colégio Nossa Senhora da Penha, em Cachoeiro de Itapemirim, e no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em Por Manoela Ferrari Vitória. Foi professora de desenho, caligrafia, ciências naturais e história natural. Representou o Espírito Santo em diversos congressos, receben- do prêmios e condecorações. A IV Feira Literária Capixaba (FLIC-ES) movimentou o campus da Maria Stella de Novaes foi membro de diversas instituições cul- Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), transformando-a num turais – como o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo – e é universo de livros e eventos literários. Com o apoio da Secretaria de uma das fundadoras da Academia Feminina Espírito-santense de Letras. Estado da Cultura (Secult), o evento foi idealizado em conjunto pela Publicou livros sobre botânica, pedagogia, história, folclore e literatura. Academia Feminina Espírito-santense de Letras, Instituto Histórico e Segundo a acadêmica Ester Abreu Vieira de oliveira, coordenadora-ge- Geográfico do Espírito Santo e Academia Espírito-santense de Letras. ral da FLIC-ES, o “entusiasmo de Maria Stella e sua presença enquanto A Feira atingiu, em média, 10 mil visitantes entre alunos de escolas mulher em um espaço ainda masculino, são o seu maio legado”. públicas do Estado, universitários e um público diversificado (crianças, jovens e adultos), ao longo dos cinco dias do evento. Com a participação de mais de 75 autores capixabas, 12 palestras (palestrantes da cena local, dos Estados Unidos, Rio de Janeiro e São Paulo), 12 mesas redondas (48 participantes), 15 contadores de histórias da capital e interior e mais de 120 pessoas envolvidos nas atividades culturais que ocorrem durante a feira como exposição de arte, contação de histórias para crianças, oficinas e muitas atrações no palco principal, desde música até danças folclóricas e regionais. Prêmio Capixaba de Literatura

Além de participar das atividades ofertadas na Feira Literária, os estudantes da rede estadual do ES, este ano, concorreram em pre- miações durante o evento, que contou com o novo Prêmio Literário de Ilustração e o Prêmio Literário de Textos Narrativos. O de Ilustração foi aberto a alunos de seis a dez anos e as ilustrações foram sobre lendas capixabas, baseadas nas narrativas de Maria Stella de Novaes. Já o Prêmio Literário de Textos Narrativos foi aberto a alunos de 11 a 18 anos, tendo também como ponto de partida as lendas capixabas escritas por Maria Stella de Novaes. Os vencedores ganharam um certificado de participação e livros de autores capixabas para os três primeiros colocados e um certificado para a professora e outro para a Instituição que participou do concurso.

O evento, com entrada gratuita, contou com intensa programação de palestras, oficinas, exposições, concursos literários, apresentações artísticas e culturais, lançamentos de livros, entre outras atividades.

A FLIC-ES, neste ano, homenageou a historiadora Maria Stella de Novaes (1894-1981). ornalde 18 JLetras

JL Novos Lançamentos

Uma grande mulher Gabeira, o mito

Com a prosa deliciosa que é a marca de suas colu- O que aconteceu com a jovem democracia brasilei- nas semanais, Artur Xexéo convida o leitor a pra- ra nos últimos 30 anos? Em que encruzilhada nos ticamente se sentar na poltrona da apresentadora metemos? Que país surgirá depois dos escombros para ouvir as suas histórias de vida, só que narradas de 2016? Democracia Tropical – Caderno de um por ele, em Hebe – a biografia (Editora BestSeller). aprendiz (Estação Brasil), nasceu das anotações de Durante o ano e meio em que se dedicou ao livro, Fernando Gabeira sobre o caminho percorrido pela o jornalista conviveu com alguns dos parentes de democracia brasileira desde o movimento Diretas Hebe, entrevistou seus amigos e gente que tra- Já até os dias de hoje. Esta narrativa, ilustrada com balhou com ela e mergulhou nos arquivos de sua fotos memoráveis, traz o Gabeira personagem da trajetória. Os namoros controversos, o casamento, história, contando e refletindo sobre o que viu e o filho, o aborto que ela confessou publicamente viveu ao longo de sua trajetória como jornalista, ter feito, os medos, as cirurgias plásticas, o tipo ativista e político. Entremeados a esses aponta- de comida favorita, o amor pelo pai, os primeiros mentos, os artigos que ele escreveu sobre o pro- passos na carreira, o sucesso, os ressentimentos, as cesso de impeachment de Dilma Rousseff ajudam brigas, as amizades, as viagens, as críticas políticas a entender os fatos que marcaram 2016, um ano que fazia na abertura de seu programa e lhe rende- que certamente entrará para a história como um ram brigas com o Congresso Nacional e conflitos no dos mais difíceis do país. Seja em seu caderno de SBT; nada de relevante parece ter ficado de fora – embora seja um desafio resumir anotações, seja nos artigos, Gabeira nunca se atém a um único tema, num cons- em menos de 300 páginas a vida de uma mulher que viveu intensamente. Mas tante exercício de ir e vir no tempo e enxergar o que um fato mais esconde do que Xexéo falou do essencial. E pediu aos amigos de Hebe que a definissem: “cativan- revela. Nos apontamentos, se lembra da resistência à ditadura, do exílio, do retorno te”; “extravagante”, “inteira”; “sincera”; “feliz”; “boa de copo e de garfo”; “generosa”; ao Brasil, das Diretas, de sua vida como deputado. Já nos artigos dá conta do ritmo “presenteadora”; “natural”; “boa de briga”; “muita vida numa pessoa só”. Essa Hebe alucinante com que nossas mazelas foram expostas ao longo de 2016, com o siste- que abriu caminhos na vida artística numa época em que a maior parte das mulhe- ma político derretendo enquanto a Lava Jato desvendava a corrupção endêmica. res largava tudo para casar; que se casou com um homem desquitado, escondida, Em meio a tudo isso, revisita antigas utopias e vasculha na memória os sinais da e que sofreu preconceitos e humilhações quando ainda não era uma estrela. Uma catástrofe que hoje nos toma de assalto. Democracia tropical é um livro para quem artista que, apesar de se ressentir de não ter estudado, recebeu em seus palcos os deseja pensar e aperfeiçoar o Brasil. Fernando Gabeira, escritor, jornalista e ex-de- principais personagens da vida política e cultural do país. Numa época em que putado federal pelo Rio de Janeiro (1998-2010), nascido em 1941, é mineiro de não se falava de feminismo, seu primeiro programa como entrevistadora na TV se Juiz de Fora e carioca por opção desde 1963. Destacou-se como jornalista, logo no chamava “O mundo é das mulheres”. Esse talk show estreou em setembro de 1955 início da carreira, na função de redator do Jornal do Brasil, onde trabalhou de 1964 na TV Paulista, tendo como convidado o então prefeito de São Paulo Juvenal Lino a 1968. Os colegas de redação diziam que o estilo marcante dos textos de Gabeira de Matos. O encerramento, com qualquer convidado, sempre era com a pergunta: podia ser reconhecido até em bilhetes. No final dos anos 1960, ingressou na luta “O mundo é das mulheres?” Por esse primeiro sofá da Hebe passaram grandes per- armada contra a ditadura militar. Foi preso e exilado. sonalidades, como Tom Jobim e Vinicius de Moraes e o deputado federal Nelson Carneiro, que então já defendia o divórcio no país.

Piores verdades Recomeço

A senhora de Wildfell Hall é a história da viúva Helen Um verão para recomeçar de Morgan Matson Graham e seu filho Arthur, que, quando se mudam (Editora Novo Conceito) narra a história de uma para a mansão quase abandonada de Wildfell Hall, família que se redescobre. “Foi somente então, no interior da Inglaterra, passam a conviver com quando cada dia que eu passava com ele era con- as intrigas da vizinhança, que desconfia de seu tado, que eu percebi o quanto eles eram preciosos. passado misterioso. Quem conta a história, por Milhares de momentos para os quais eu não tinha meio de uma longa carta a um cunhado, é o jovem dado o devido valor — principalmente por achar Gilbert Markham, um fazendeiro que se apaixona que teríamos milhares de outros...” A família de por Helen e tenta protegê-la das fofocas do vilarejo. Taylor Edwards não é muito próxima – todos estão O segredo de Helen será revelado na segunda parte ocupados demais com seus afazeres –, mas, quase do livro, quando ela entrega seu diário a Markham. sempre, eles se dão muito bem. Quando o pai de Helen sofreu nas mãos de um marido alcoólatra, Taylor recebe más notícias sobre a saúde dele, a agressivo e infiel. Suas posições contra os casa- família decide passar, todos juntos, o verão na casa mentos arranjados, seu ímpeto de viver de seu do lago Phoenix. Fazia cinco anos que eles não trabalho como pintora, independente da família, passavam o verão naquele lugar, que agora parece e seus questionamentos sobre a forma de criar e bem menor do que antes. E, apesar da tristeza, os educar filhos homens fazem da personagem uma momentos em família os aproximam novamente. mulher forte, bem à frente de seu tempo. Helen foi criada por Anne Brontë, filha Além disso, Taylor descobre que as pessoas que ela pensou ter deixado para trás mais nova da família Brontë, irmã de Emily Brontë, autora de O morro dos ventos continuam ali: sua ex-melhor amiga e seu primeiro amor (que está muito mais uivantes, e de Charlotte Brontë, autora de Jane Eyre – livros clássicos e reeditados bonito do que antes). Com o passar do verão, e com os laços quase refeitos, Taylor até hoje. Numa Europa conservadora do século XIX, Anne Brontë precisou usar um e sua família tornam-se cada vez mais conscientes de que estão correndo contra o pseudônimo masculino para que seus livros fossem lançados, assim como suas tempo diante da doença de seu pai. Mas, apesar de tudo, o aprendizado que fica é irmãs. Ao ser acusada de exagerada pela descrição das relações desproporcionais que sempre é possível ter uma segunda chance. Morgan Matson nasceu em Nova entre homens e mulheres, Anne escreveu um prefácio à segunda edição – incluído York e cresceu lá e em Greenwich, Connecticut. Frequentou o Occidental College neste volume –, no qual defende sua opção por mostrar as piores verdades, sem em Los Angeles, onde começou a trabalhar no departamento de crianças da livra- suavizações ou rodeios, a fim de educar seus leitores e impedir que cometessem os ria Vroman e se apaixonou por literatura. Após a formatura da faculdade, traba- erros de seus personagens. A senhora de Wildfell Hall, no entanto, foi considerado lhou como editora de romances. Seus romances foram traduzidos em dezenas de obscuro até mesmo por suas irmãs, uma vez que propunha temas considerados línguas, e publicados em todo o mundo. O primeiro romance de Morgan, Amy & tabus na época. Acometida pela tuberculose, a autora teve uma vida breve. Antes Roger’s Epic Detour, foi inspirado por seu amor por viagens rodoviárias, lanches e a de falecer, suas últimas palavras, direcionadas à irmã, foram: “Coragem, Charlotte.” busca pela lista de reprodução perfeita. “Esta tradução usa o texto integral de A senhora de Wildfell Hall e procura manter toda a complexidade e a ousadia desse romance corajoso no qual Anne Brontë mostrou toda a sua força literária”, escreve a tradutora e escritora Julia Romeu, no prefácio a esta edição, que chega às livrarias no fim de maio, pela Record. ornalde JLetras 19

tas fora das horas de cantar; no escuro a tua voz protesta e treme indignada. Inutilmente te atraímos para os domínios da poesia. Inutilmente buscamos nos céus a justificação da aurora. Procuramos explicar o teu canto, mas sentimos apenas que nos perturbaste, porque acusas a presença do mal – com a pontualidade e o rigor de nossa consciência. Quantos não OO galogalo brancobranco dede suspendem a negação e não choram como Pedro ao ouvir o teu grito de guerra! Quantos não sentem o sabor desconhecido das lágrimas, quantos não tentam fugir do destino, galo branco, quando cantas, quando a tua voz atravessa a noite como uma espada!” E o prosador-poeta prossegue: CopacabanaCopacabana “Por que não canta o galo branco, por que não o ouço cantar, se a antemanhã já chegou? É preciso que o acordem para que o seu canto suba aos céus ainda indecisos. É Por Danilo Gomes preciso que o acordem ao meu galo branco, tão exato em me avisar e assistir. Ele deve estar cego. Desçam, e acordem meu galo branco, e que domine os ares a sua voz viril.” (...) E arremata: O primeiro livro da memorialística de Augusto Frederico Schmidt intitula-se O “Despertem o meu galo branco, pois o sono do galo branco é o meu próprio sono e galo branco. Saiu em 1948, pela Liv. José Olympio Editora, Rio. Uma 2ª edição veio a lume, a sua morte será a minha morte. aumentada, em 1957. Despertem o meu galo branco: ele está certamente cego, mas a voz ainda vive na O galo branco logo se tornou famoso, uma espécie de ícone, de tótem, ligado ao sua garganta como o fogo no fundo das cinzas. poeta-cronista. Quase uma griffe literária. Acordem o meu galo branco; do contrário não poderei sair deste silêncio, do con- Mas, que galo quase mitológico é esse, na literatura brasileira? trário adormecerei, e a minha cabeça cansada cairá sobre o silêncio e será levada para o Com a palavra, Letícia Mey e Euda Alvim, no livro Quem contará as pequenas histó- abismo, para o nunca mais e para a morte.” rias?, biografia romanceada de A.F.S. Elas escrevem, referindo-se ao casal Augusto e Yedda: Mas o memorialista dedicou muitas outras páginas a seu belo animal de estimação. “De Bali, na Indonésia, o casal traria um filhote de galo. Era uma ave de penas Eis mais um trecho: brancas e crista vermelha, igual à que o poeta vira aquela única vez na Lapa, com Ovalle. A “Ouço na manhã muito jovem e muito lúcida o galo cantor. O seu canto é diferente partir de então, criaria o animal dentro de um cubículo envidraçado, em seu apartamento dos cantos dos outros galos. Sua voz se estende vagarosa, se arrasta e se derrama.” na Rua Paula Freitas, para escândalo dos vizinhos. E o galo cantava, todos os dias, antes E este: da alvorada chegar. Yêda o chamava de coq e não se incomodava com o bicho – belíssimo, “O canto noturno dos galos das fazendas próximas, que estou ouvindo agora, em por sinal – dentro do apartamento, tamanha era a satisfação do marido. O ‘galo branco’ se lugar de me trazer a ideia de mau agouro, como sempre acontece, desperta-me uma sen- tornou um símbolo, verdadeiro fetiche, servindo de inspiração para prosa e poesia.” sação de doçura, a lembrança de um passado desconhecido e distante, mas que foi feliz, de O galo andava também pelo apartamento. Pousava no braço do poeta. Cantava um passado vivido não sei quando, mas certamente vivido.” bonito. Era tratado como cria de um casal sem filhos. Tornou-se famoso no Rio e no Brasil Desde a infância o poeta foi fascinado pelo pacificante canto dos galos. que admirava o poeta. No livro O galo branco, Schmidt deixou escrito: Em As florestas, Schmidt escreve: “Numa pequena e escura prisão cercada de plantas, vive, sempre solitário, o galo “O galo branco se ergueu, despertou, ao ouvir tocar Scriabin. Parece que o bicho foi branco. tocado bem no fundo do seu ser.” Quantas vezes me esqueço de tudo a olhá-lo, repousando nas horas noturnas, a O poeta continua acompanhando, fascinado, os movimentos do estimado bicho, o crista vermelha e intensa caída como um galho pesado de frutos. coq de Yedda: Que imagens e sensações não palpitarão, contidas nesse bicho misterioso, nesse “O galo branco olha a lua através das vidraças. Olha a lua de longe, meio descon- bicho simbólico que tantos sortilégios e poderes encarnou, e está agora sufocado numa fiado.” estreita prisão cercada de plantas!” Que fim levou a célebre ave de Copacabana? Numa outra passagem do mesmo livro, o memorialista de fina prosa poética deixou Um dia, talvez com tedium vitae, talvez um tanto claustrofóbico, o galo branco sal- para a posteridade: tou pela janela. Acidente? “Suicídio”? Ninguém jamais saberá. Adeus, galo branco! Imagine- “És, meu galo branco, uma sentinela, uma candeia no escuro, e a tua voz queima. se a tristeza do poeta... Estás em guarda contra as falsificações que se instalam e crescem em nós. De repente, can- * Danilo Gomes é jornalista e membro da Academia Mineira de Letras.

33 PACOTES TEMÁTICOS

PLANETAPPLANPLALANETNETA UMA EXPERIÊNCIA CASACCASCAAASASA EDUCACIONAL COMPLETA Cuidando da nossa Terra Programa sobre sustentabilidade. Precisamos cuidar da nossa “casa”. Níveis Fundamental II e Ensino Médio

Prevenção contra o abuso de substâncias que provocam dependência. Livre O Edupark é um parque temático educativo para que se utiliza de tecnologias avançadas Ser e uma plataforma multissensorial para propósitos educativos. Precisamos falar sobre Bullying. Cada programa é compostos de até cinco experiências multissensoriais e dura 1h30min. Para agendamento, entre em contato com: Rua Visconde de Pirajá, 142 gr. 1201 Telefone: 21 2523-2064

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