Centenário De Celso Cunha Centenário De
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Opiniões Número: Depoimentos ornalornal Novos Lançamentos 224 dede Mês: Junho Entrevista JJ Ano: 2017 LetrasLetras Literatura Infantil Preço: R$ 5,00 Centenário de Celso Cunha Celso Cunha faria cem anos em 10 de maio de 2017. Partiu aos 72 anos, mas continua entre nós, no afeto de seus familiares e amigos, na memória de alunos e colegas, na admiração de todos aque- les que se interessam pelos estudos da Língua Portuguesa. (Por Manoela Ferrari, Cilene da Cunha e Evanildo Bechara – págs. 10 e 11) Inovação: agora, o JL em versão digital. Acesse www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras ornalde 2 JLetras JL Editorial JL Opinião Arnaldo Niskier Em recente reunião, no Rio, o Ministro Mendonça Filho recebeu acervo JL A perda de um mestre o título de “Educador do Ano”. Para muitos, talvez haja estranheza, mas as razões são bastante objetivas e foram expressas pelo professor Eduardo Mattos Portella era baiano, Carlos Alberto Serpa de Oliveira, presidente da Academia Brasileira mas passou a maior parte de sua existência, de Educação: “Ele teve uma atuação decisiva para que houvesse efeti- de 84 anos, no Rio de Janeiro, onde construiu vamente uma reforma no ensino médio brasileiro.” Há muito que se uma sólida carreira universitária, especial- o comenta a necessidade de alterar os fundamentos da educação média mente na UFRJ. Era o 2 Decano da casa de Machado de Assis, quando faleceu no dia 2 do nosso país. Embora o MEC não tenha tomado uma decisão de efeito de maio. imediato, o fato é que teremos uma reforma – e se dará um novo sentido Portella teve uma significativa carreira de homem público, primei- ao ensino profissional no Brasil. A partir do próximo ano, deverá entrar ro na Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (Governo Chagas em funcionamento um novo currículo, com profundas alterações nas Freitas). Depois, na Casa Civil do Governo JK, de quem foi um bom matérias fundamentais, como é o caso do Português e da Matemática, amigo. Depois, na Unesco, em Paris, onde chegou a exercer as funções além de uma nova configuração no ensino técnico. É quase certo que em de diretor, com grande destaque. Desde 1962, é o diretor-cultural das Edições Tempo Brasileiro. 2018 e 2019 se processarão essas modificações, dando novas esperanças Em 1979, convidado pelo presidente João Figueiredo, assumiu o de uma educação média à altura do que exige o país. Voltamos a afirmar Ministério da Educação, Cultura e Desportos. Ficou um ano e meio no que o Ministro Mendonça Filho deixará o seu nome na história do MEC, cargo. Deixou uma frase que se notabilizou: “Eu não sou Ministro, eu pela coragem de promover as medidas de que tanto se fala e pouco se estou Ministro.”. fez, até aqui. Merece a homenagem de prêmio de “Educador do Ano”, No discurso de recepção na Casa de Machado, onde foi o sexto a com que será homenageado pela Academia Brasileira de Educação. ocupar a Cadeira nº 27, na sucessão de Otávio de Faria, em 18 de agosto de 1981, o saudoso Afrânio Coutinho, com muita propriedade, desta- O editor. cou: “No Brasil, a Literatura é a mais importante expressão do espírito nacional. Somos um povo literário por excelência. Foi a Literatura que desenvolveu, desde Anchieta, a nossa identidade de povo e de Nação. É ela que vem empreendendo, de maneira progressiva e pertinaz, o pro- cesso brasileiro de descolonização mental. É ela que melhor reflete em nosso país as formas de sua unidade na variedade.” Portella foi mais do que um dos nossos maiores críticos de litera- tura. Foi um crítico de ideias, filosoficamente fundamentado e sustenta- “Não vemos o mundo como ele é, mas como nós somos”. do; um crítico da Cultura, voltado ontologicamente para tudo o que diga respeito ao homem universal. A sua família perde o líder e, agora, aumentam as responsabilida- Talmude des da esposa Célia e da filha Mariana. Que encontrem forças na imor- talidade de sua obra. “Morre lentamente quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos....” Pablo Neruda JL Expediente Diretor responsável: Arnaldo Niskier Editora-adjunta: Beth Almeida Colaboradora: Manoela Ferrari Secretária executiva: Andréia N. Ghelman Redação: R. Visconde de Pirajá N0 142, sala 1206 – 120 andar — Tel.: (21) 2523.2064 Ipanema – Rio de Janeiro – CEP: 22.410-002 – e-mail: [email protected] Distribuidores: Distribuidora Dirigida - RJ (21) 2232.5048 Correspondentes: António Valdemar (Lisboa). Programação Visual: CLS Programação Visual Ltda. Fotolitos e impressão: Folha Dirigida – Rua do Riachuelo, N0 114 Jantar no Mr. Lam (o melhor chinês do Rio), oferecido pela Universidade Estácio de Sá, em Versão digital: www.folhadirigida.com.br/edicoes-digitais/jornal-de-letras homenagem a grandes nomes da Educação no Rio, entre eles, o fundador do IBMEC, Antonio Alvarenga, o reitor da Estácio, Ronaldo Mota, o reitor da PUC, padre Josafá Siqueira, o professor O Jornal de Letras é uma publicação mensal do e acadêmico Arnaldo Niskier, recebidos por Pedro Thompson, presidente da Estácio, e Cláudia Instituto Antares de Cultura / Edições Consultor. Romano, vice-presidente de Relações Institucionais. ornalde JLetras 3 Caminha descansar ao relento, escreveria minha carta ao Rei que começaria assim: Senhor, imagine all the people nude. E me casaria com o escritor Mario Prata. Ficaríamos tendo ataques de riso no Parque. Ataque de riso espontâneo A Rainha Louca é o orgasmo da imaginação. Um dia, um amigo me disse que não preciso de drogas porque nasci com um baseado aceso dentro de mim. Deus foi generoso comigo, fazer o quê? Por Clarice Niskier* Nesse momento, leio Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda, pois pre- tendo sobreviver à crise estudando, já que o dinheiro sumiu, rsrs. Linguagem E se, ao invés de Pedro Álvares Cabral, desembarcasse no Brasil, a nave- de internet vale aqui, não? É um livro tão legal, que fico me perguntando por gadora e capitã-mor da Armada Geral, Isália I, que ao ouvir o primeiro grito de que não é dado no ensino fundamental para as crianças. Elas entenderiam per- terra à vista, dado em uníssono por suas 1.500 marinheiras, se jogasse ao mar feitamente a diferença entre a ética do trabalho e a ética da aventura, por exem- e nadando em direção à praia, lá tirasse seu vestido pesado, com o qual quase plo. Eu explicaria assim: “Vocês gostam de comer todas as mangas da primeira se afogou, e experimentasse diante das índias, em troca dos espelhos, penas Mangueira que encontram e depois sair correndo de alegria, certo? É divertido de pássaros sobre seu corpo nu – os índios de tocaia só observando o bafafá –, mesmo. Se mais tarde a árvore frutificar ou não; se morrer ou não, não é proble- e apesar de ninguém falar a língua de ninguém, nascesse a amizade entre os ma de vocês. Estamos na ética da aventura. Agora, imaginem vocês semeando povos, o juramento pela manutenção do paraíso e a felicidade das portugue- a árvore, acompanhando seu crescimento, comendo os frutos que plantaram. sas, que finalmente teriam encontrado o Caminho das Índias, o caminho da Processo incrível, não? Estamos no terreno da ética do trabalho. Em todos nós, riqueza material e espiritual, espécie de Caminho de Santiago de Compostela, existem as duas éticas. Não existe nenhuma das duas éticas em estado puro no só que diferente, onde a infinita diversidade cultural fosse o prêmio máximo homem, como ensina o Mestre Sergio. Então, como construirmos a ética do da existência e o poema de Oswald de Andrade achasse outro final mesmo que trabalho, sem nos tornarmos uns workaholics, e montarmos a teia da solida- estivesse chovendo? Quando o português chegou/ Debaixo duma bruta chuva/ riedade, da autonomia e da liberdade no país? E como mantermos a ética da Vestiu o índio/ Que pena!/ Fosse uma manhã de sol/ O índio tinha despido/ O aventura, sem nos tornarmos uns beócios, e desbravarmos o país, sem o legado português (Erro de Português, Oswald de Andrade). da devastação? O nosso caráter está em jogo, entendem? Fala, Joãozinho, o que Fosse eu Isália I, nome fictício de uma mulher fictícia, ao chegar à Bahia, você não entendeu? Só não entendi o que é beócio, professora.” teria pedido licença e demarcado o Parque Nacional do Além-Mar, para que Penso que estudar não é exatamente saber sobre algo. Mas imaginar vivêssemos por aqui sem perturbar os donos da terra: milhões de índios belos, algo, sabendo sobre ele. Assim, você sabe sobre algo em todo o seu esplendor. fortes, livres, étnicos, éticos e anticapitalistas. Depois, aguardaria a chegada dos Imaginar é um ato de consciência. É um ato político. Nos protestos de Maio de negros que viriam de livre e espontânea vontade, e todos nós nos misturaría- 1968, em Paris, um dos movimentos estudantis e operários mais importantes mos ao bel prazer e fundaríamos a ilha afortunada das raças miscigenadas, sem do século 20, lia-se nos muros: “A imaginação toma o poder”. A imaginação é passar pelo banho de sangue das civilizações, o que daria muita moral ao Brasil um poder. Ela também nos conta a História, pois imaginar o reverso de um na ONU para falar sobre o Terceiro Milênio. A imaginação seria celebrada, fato, por exemplo, é dar mobilidade a esse fato e compreendê-lo em suas várias considerada um dom sagrado, a mola mestra da comunicação e da produção dimensões. Um momentinho: celular tocando. Oi, Mario. Ele pergunta se eu já li de conhecimento. Milhares de tribos urbanas, rurais, virtuais, continuariam a a entrevista dele com o Bispo Sardinha, que está no livro Mario Prata Entrevista criar e a recriar seus mitos, a desenvolver seus saberes e ritos, não com o intui- Uns Brasileiros.