C:\Job\ABL\REVISTA BRASILEIRA 56

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C:\Job\ABL\REVISTA BRASILEIRA 56 Revista Brasileira Fase VII Julho-Agosto-Setembro 2008 Ano XIV N. o 56 Esta a glória que fica, eleva, honra e consola. Machado de Assis ACADEMIA BRASILEIRA REVISTA BRASILEIRA DE LETRAS 2008 Diretoria Diretor Presidente: Cícero Sandroni João de Scantimburgo Secretário-Geral: Ivan Junqueira Primeiro-Secretário: Alberto da Costa e Silva Comissão de Publicações Segundo-Secretário: Nelson Pereira dos Santos Antonio Carlos Secchin Diretor-Tesoureiro: Evanildo Cavalcante Bechara José Mindlin José Murilo de Carvalho Membros efetivos Produção editorial Affonso Arinos de Mello Franco, Alberto da Costa e Silva, Alberto Monique Cordeiro Figueiredo Mendes Venancio Filho, Alfredo Bosi, Revisão Ana Maria Machado, Antonio Carlos Luciano Rosa Secchin, Antonio Olinto, Ariano Frederico Gomes Suassuna, Arnaldo Niskier, Candido Mendes de Almeida, Projeto gráfico Carlos Heitor Cony, Carlos Nejar, Victor Burton Celso Lafer, Cícero Sandroni, Domício Proença Filho, Eduardo Portella, Editoração eletrônica Evanildo Cavalcante Bechara, Evaristo de Estúdio Castellani Moraes Filho, Pe. Fernando Bastos de Ávila, Helio Jaguaribe, Ivan Junqueira, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS Ivo Pitanguy, João de Scantimburgo, Av. Presidente Wilson, 203 – 4.o andar João Ubaldo Ribeiro, José Murilo de Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-021 Carvalho, José Mindlin, José Sarney, Telefones: Geral: (0xx21) 3974-2500 Lêdo Ivo, Luiz Paulo Horta, Lygia Setor de Publicações: (0xx21) 3974-2525 Fagundes Telles, Marco Maciel, Fax: (0xx21) 2220-6695 Marcos Vinicios Vilaça, Moacyr Scliar, E-mail: [email protected] Murilo Melo Filho, Nélida Piñon, site: http://www.academia.org.br Nelson Pereira dos Santos, Paulo Coelho, Sábato Magaldi, Sergio Paulo Rouanet, Tarcísio Padilha. As colaborações são solicitadas. Os artigos refletem exclusivamente a opinião dos autores, sendo eles também responsáveis pelas exatidão das citações e referências bibliográficas de seus textos. Sumário EDITORIAL João de Scantimburgo Nossas efemérides. 5 CULTO DA IMORTALIDADE Marco Maciel Luís Viana Filho, o político e o biógrafo. 7 Murilo Melo Filho Luís Viana Filho – o grande biógrafo. 13 PROSA Otávio de Faria: três visões Antonio Olinto O senhor do mundo . 29 Álvaro Lins Processo da Burguesia . 33 Tarcísio Padilha A aragem metafísica do romance de Otávio de Faria . 42 Alberto Venancio Filho Alberto Torres . 57 Afonso Arinos, filho Carlos Drummond de Andrade – itinerário poético. 83 Arnaldo Niskier Padre Antônio Vieira e os judeus . 111 Lêdo Ivo O caminho de Ivan Junqueira . 117 António Braz Teixeira Silvestre Pinheiro Ferreira e a filosofia brasileira . 123 Eros Roberto Grau Breve nota sobre a prosa jurídica e Lúcio de Mendonça. 135 Anderson Braga Horta Cinqüent’anos da morte de Olegário Mariano . 139 André Seffrin O ano literário: 2007 . 155 Igor Fagundes Existe é rio humano: João Cabral na terceira margem de Rosa . 161 Larissa de Oliveira Neves Artur Azevedo e a dramaturgia de seu tempo. 175 Ronaldo Costa Fernandes Considerações sobre um poeta: Lêdo Ivo. 195 Gilberto Mendonça Teles O conto e o romance para Machado de Assis . 227 Nelson Saldanha A historiografia e o conceito de “Ocidente moderno” . 249 Leodegário A. de Azevedo Filho Vieira, glória da humanidade . 255 Pedro Marques Manuel Bandeira: trajetória e cotidiano. 265 Rachel Jardim Lúcio Cardoso, 40 anos depois . 279 Teresinha Marinho De “Era uma vez” a “para sempre” . 285 POESIA Rita Moutinho Poemas. 301 Denise Emmer Poemas. 309 POESIA ESTRANGEIRA Jorge Lobillo Traduções de Izacyl Guimarães Ferreira . 317 Atilio Bertolucci Traduções de Geraldo Holanda Cavalcanti. 334 GUARDADOS DA MEMÓRIA Machado de Assis Duas cartas de Machado de Assis a Carolina . 351 Euclides da Cunha Última visita . 357 Olavo Bilac Discurso de Olavo Bilac . 361 Editorial Nossas efemérides João de Scantimburgo ano em curso assinala duas datas de expoentes de nossas le- Otras: os centenários da morte de Machado de Assis e de nas- cimento de Guimarães Rosa. Multiplicam-se por todo o País justíssi- mas homenagens aos dois gigantes de nossa literatura, Machado, pa- trono e fundador da Academia Brasileira de Letras e ocupante da Ca- deira 23, e Rosa, sucessor de João Neves da Fontoura, na Cadeira 2. Cabe o registro de dois outros centenários de nascimento: o de Otávio de Faria, ensaísta, amante do cinema, dramaturgo, analista ideológico, e notável romancista, que ocupou a Cadeira 27 da ABL; e o de Luís Viana Filho que muito justamente Alceu Amoroso Lima considerava “o príncipe dos biógrafos”. Filho de Alberto de Faria e cunhado de Alceu Amoroso Lima, ambos acadêmicos, Otávio de Faria emergiu cedo para as letras, pu- blicando, na década de 1930, três livros de marcado conteúdo polí- tico: Maquiavel e o Brasil, Cristo e Cesar e O Destino do Socialismo impreg- nados pelas correntes à direita do espectro político, ao tempo em que o maniqueísmo ideológico dominava o horizonte do pensamen- to. Era o período das opções radicais. 5 João de Scantimburgo Alceu persuadiu Otávio a abandonar a sua sedução ideológica e o romancista talentoso irá enveredar definitivamente para a sua vocação maior: a literatura. É quando esboça seu monumental projeto A Tragédia Burguesa, que irá des- dobrar em 15 romances, concebidos na mocidade e ao qual dedicou 40 anos ininterruptos, em absoluta fidelidade ao que deu sentido à sua vida. Católico convicto, Otávio assentiu: “Sou um católico que é ou pretende ser romancista.” Leitor de Pascal, Dostoievski, Byron, Victor Hugo, Kierkegaard, Nietzsche e Léon Bloy, o romancista carioca recria a atmosfera do trágico escritor francês Bloy, sorvendo até o fim o cálice da luta interna do cristão extremado em per- seguição a uma santidade sonhada e não alcançada. Basta recordar os perfis existenciais de alguns de seus personagens, como Branco, Renée, o Padre Luís, Pedro Borges, dentre muitos que levaram a extremos seus destinos cinzelados por situações-limite, na acepção de Karl Jaspers, para se perceber o romance existencial que Miguel de Unamuno inaugurou em Niebla antes que Sartre o houvesse concebido. Nesta evolução intelectual e espiritual de Otávio de Faria cumpre ressaltar sua enfática declaração de que acima de tudo deve impor-se o primado do es- pírito. Esta, sim, é sua linha programática íntima, conatural ao seu ser e que imprime o sinete de unidade ao seu labor literário. Romancista que penetrou fundo na alma humana, Otávio de Faria bem pode ser reconhecido como um ser metafísico, pois seu universalismo suplanta de muito a fenomenalidade da epiderme psicológica para alçar-se a uma di- mensão transcendental sempre presente em seu opus magnum. 6 Culto da Imortalidade Luís Viana Filho, o político e o biógrafo Marco Maciel Ocupante da Cadeira 39 na Academia Brasileira de Letras. uem nasceu primeiro: o escritor ou o político? Esta é a pri- Qmeira questão que se deve levantar para entender Luís Via- na Filho, que em sua plurívoca personalidade tanto enriqueceu a pai- sagem humana do nosso país. A vocação não surge como relâmpago, tampouco como “esta- lo”, atribuído ao Padre Antonio Vieira, cognominado por Fernan- do Pessoa como o “imperador da língua portuguesa”. A vocação é, além de um dom, uma predestinação. Poeta non fit, sed nascitur, isto é, o poeta não se faz, nasce, reza uma conhecida expressão latina. O mesmo se pode aplicar ao político, cujo carisma, étimo de ori- gem grega, parece marcar seus gestos e ações em todas as circuns- tâncias de sua vida. Ao procurar definir a múltipla e estuante figura do Senador Luís Viana – o intelectual e o político –, a resposta parece difícil. É ele mesmo, porém, quem responde. No discurso de posse da Academia Brasileira de Letras confessa: “...o ambiente que me cercou a infân- 7 Marco Maciel cia, e por mais que meu pai se desvelasse por afastar de mim o demônio da po- lítica, foi esta que primeiro medrou, confundindo-se com a própria vida que começava a desdobrar-se aos meus olhos.” O pendor para a política também se revela no chamamento, ainda quando es- tudante, para presidir o Centro Acadêmico da Faculdade de Direito da Univer- sidade Federal da Bahia. Mais adiante, contudo, observa Luís Viana: “O que eu acreditava ser o caminho largo para a política levar-me-ia concomitante e irre- versivelmente para o campo das letras, que, bem ou mal, não mais pude deixar, tanto é certa a observação de Schopenhauer de que o homem nunca pode ‘querer o que quer’.” Ademais, sabemos, não há conflito. Pelo contrário, existe uma plena intera- ção entre o intelectual e o político, atividades que dialogicamente se associam no pensar e no agir na busca de tornar, como pretendeu Camões, melhor essa “estranha máquina que se chama mundo”. São talentos que se justapõem em total harmonia. “O ato de escrever é o mais público de todos os atos”, como, certa feita, defi- niu Adonias Filho. Por isso, aditava Menotti del Picchia: “No fundo, todo ver- dadeiro escritor é, de certa forma, um político. Não trarei à baila o caso específi- co de Dante – o vate supremo –, uma vez que o divino guelfo, por político, aca- bou exilado....” A política não ousa, portanto, dispensar como virtude “a ciência e a arte do bem comum”, segundo, aliás, ensinamento tomista. Luís Viana Filho foi cidadão de dois mundos: o vir probus, no território da política, e o escritor, que tanto contribuiu para adensar a cultura brasileira, es- pecialmente no sáfaro campo da biografia. Disse um crítico francês que alguns livros são merecidamente esquecidos, mas nenhum é imerecidamente lembrado... Quer dizer, há obras que, ao tem- po, não tiveram a repercussão devida e jazem nas estantes ensombrecidas de poucas bibliotecas públicas. Uma dessas é sempre lembrada: um pequeno vo- lume do Luís Viana, editado em 1945 – A Verdade na Biografia. Dissertava ele, inicialmente, no favor então pouco dispensado às biografias, o que não é hoje – frise-se – um aspecto peculiar aos nossos tempos, e recordou os 8 Luís Viana Filho, o político e o biógrafo exemplos de Carlyle escrevendo sobre Cromwell; Voltaire, sobre Carlos XII; Southey, sobre Nelson; ou Boswell, sobre Johnson, sem citar As Vidas de Plutarco.
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