Revista Brasileira 88.Pdf

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Revista Brasileira 88.Pdf Revista Brasileira fase viii julho-agosto-setembro 2016 ano v n.o 88 ACADEMIA B RASILEIRA R EVISTA B RASILEIRA DE L ETRAS 2016 Diretoria Diretor Presidente: Domicio Proença Filho Marco Lucchesi Secretária-Geral: Nélida Piñon Conselho Editorial Primeira-Secretária: Ana Maria Machado Arnaldo Niskier Segundo-Secretário: Merval Pereira Merval Pereira Tesoureiro: Marco Lucchesi Murilo Melo Filho Comissão de Publicações Membros Efetivos Alfredo Bosi Affonso Arinos de Mello Franco, Antonio Carlos Secchin Alberto da Costa e Silva, Alberto Marco Lucchesi Venancio Filho, Alfredo Bosi, Ana Maria Machado, Antonio Carlos Produção Editorial Secchin, Antônio Torres, Arnaldo Niskier, Monique Cordeiro Figueiredo Mendes Candido Mendes de Almeida, Carlos Revisão Heitor Cony, Carlos Nejar, Celso Lafer, Vania Maria da Cunha Martins Santos Cícero Sandroni, Cleonice Serôa da Motta Berardinelli, Domicio Proença Filho, Projeto Gráfico Eduardo Portella, Evaldo Cabral de Mello, Victor Burton Evanildo Cavalcante Bechara, Evaristo Editoração Eletrônica de Moraes Filho, Fernando Henrique Estúdio Castellani Cardoso, Ferreira Gullar, Geraldo Holanda Cavalcanti, Helio Jaguaribe, Ivo Pitanguy, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS José Murilo de Carvalho, José Sarney, Lygia Av. Presidente Wilson, 203 – 4.o andar Fagundes Telles, Marco Lucchesi, Marco Rio de Janeiro – RJ – CEP 20030-021 Maciel, Marcos Vinicios Vilaça, Merval Telefones: Geral: (0xx21) 3974-2500 Pereira, Murilo Melo Filho, Nélida Piñon, Setor de Publicações: (0xx21) 3974-2525 Nelson Pereira dos Santos, Paulo Coelho, Fax: (0xx21) 2220-6695 E-mail: [email protected] Rosiska Darcy de Oliveira, Sábato Magaldi, site: http://www.academia.org.br Sergio Paulo Rouanet, Tarcísio Padilha, As colaborações são solicitadas. Zuenir Ventura. Os artigos refletem exclusivamente a opinião dos autores, sendo eles também responsáveis pelas exatidão das citações e referências bibliográficas de seus textos. Vinhetas coligidas do acervo da Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça. Esta Revista está disponível, em formato digital, no site www.academia.org.br/revistabrasileira. Sumário Editorial Marco Lucchesi 7 Iconografia Bruno Cury 9 Entrevista Ubiratan D’Ambrosio Matemática como metáfora 11 Sarah Glaz Ode aos números primos 19 Ana Maria Haddad Baptista Notas sobre a inexatidão da Matemática 33 Márcia Fusaro Contar se confunde com narrar 41 Prêmio Machado de Assis Ignácio de Loyola Brandão A noite coroada de murtas e de rosas 49 Candido Mendes de Almeida A ABL e o cânon de 97 53 Nélida Piñon O mestiço brasileiro 63 Homenagem a Sábato Magaldi Antonio Carlos Secchin Sábato: o amor ao mundo 67 Domicio Proença Filho Lembrança do amigo 69 Cícero Sandroni Boa noite, doce príncipe 71 Homenagem a Evaristo de Moraes Filho Celso Lafer Um notável polígrafo 73 Sergio Paulo Rouanet Sapere aude 77 Alberto Venancio Filho O perfil intelectual de Evaristo de Moraes Filho 79 Eduardo Portella Evaristo, o exemplo, a lição 87 Ensaio Dilip Loundo João Guimarães Rosa e os Upaniṣads: “Cara de Bronze” e o “Quem das Coisas” da Palavra Poética 89 Berthold Zilly Ambivalência, metamorfose, retorno em Raduan Nassar: Lavoura arcaica 109 Dinu Fla˘mând A fuga das ficções – Fernando Pessoa 125 Eduardo F. Coutinho O Comparatismo na América Latina 133 Evaldo Cabral de Mello Relembrando José Antônio Gonsalves de Mello 143 José Murilo de Carvalho Pedro II e Euclides da Cunha: Dois Republicanos 149 Dimitri Cervo Música, poesia e intertextualidade 163 Arnaldo Niskier Educação no embalo da música 173 Conto Ana Miranda Contos de escritores 207 Caligrama Tamar Guimarães 211 Poesia Antonio Miranda 219 Horácio Costa 227 Guilherme Zarvos 235 Diego Mendes Sousa 243 Frederico Gomes 251 Poesia da Turquia Bejan Matur 261 Tozan Alkan 269 Memória Futura Enrico Fermi A evolução da Física no século XX 275 Esta a glória que fica, eleva, honra e consola. Machado de Assis Editorial Marco Lucchesi presença da matemática na Revista Brasileira justi- Ocupante da fica-se por seus aspectos intrinsecamente estéticos e Cadeira 15 culturais. Sobretudo por seu labor metalinguístico. na Academia A Brasileira de Não foi sem razão que Yuri Manin escreveu um livro intitu- Letras. lado Matemática como metáfora. Assim, as páginas seguintes não trazem o demônio do cálculo, da prova e do resultado, diante do qual o homem de letras sente-se tentado a exorcizar o monstro, como quem apaga as memórias difíceis da escola. Seria longa a enumeração dos poetas que ao mesmo tempo se ocuparam com a poesia e a matemática. Cito somente dois nomes do século XX. Joaquim Cardozo, com seu admirável “Visão do Último Trem Subindo ao Céu”, edificado sobre geo metrias não euclidianas, com a famosa chuva de zeros a in- cidir nas janelas do trem, como fragmentos de infinito. Outro nome seria o do romeno Ion Barbu, autor de Jogo segundo, para quem a poesia se encontrava com a geometria em algum lugar impreciso, descontínuo e luminoso. Não poucos matemáticos admitem a beleza como última prova de um teorema. Há quem utilize os estilos de época para demarcar as diferenças entre a matemática antiga e a matemá- tica barroca, a matemática iluminista e a dos conjuntos. Nessa direção, a entrevista com Ubiratan D’Ambrosio, co- nhecido mundialmente pelos estudos pioneiros no campo da 8 Marco Lucchesi etnomatemática, reforça, com os ensaios relativos ao tema, a faixa cultu- ral do debate, quando a reflexão sugere que a matemática e a poesia não são inimigas. São antes dois fatos integrados da cultura humana. A matemática apresenta-se, afinal, como repertório estético, exercí- cio de cidadania e promotora da cultura da paz. iconografia Bruno Cury ste número é enriquecido com as obras de Bruno Cury. Pernambucano, morador do Rio de Janeiro há dez E anos começou a fotografar em 2011, após ir a Praia com alguns amigos para surfar e um desses amigos levou uma câmera à prova d`água, abandonou na hora a prancha para fo- tografar os surfistas, depois descobriu sua paixão em fotogra- far as ondas que quebravam na Costa. Foi então que resolveu estudar e se aprofundar. Realizou o curso técnico de Fotogra- fia no Senai-RJ, graduou-se em Fotografia pela Universidade Estácio de Sá; e atualmente cursa pós-graduação em Fotogra- fia e Imagem pela Universidade Candido Mendes. Suas fotos já estamparam vestuários e quadros. Existe um certo desafio nesse tipo de fotografia, que é a “leitura” da onda, do momento e local onde ela irá quebrar, o equipamento fotográfico tem que estar protegido por uma caixa estanque que evita a infiltração de água. Não existe um apoio ou algum tipo de colete para flutuação, o único auxílio para enfrentar as ondas é um par de nadadeiras. Surfistas depois de um dia de Surf em Maragogi, AL. entrevista Matemática como metáfora Ubiratan D’Ambrosio REVISTA BRASILEIRA O matemático romeno Solomon Marcus Doutor em afirmou recentemente que poesia e matemática coincidem na liberdade abso- Matemática pela luta que lhes é inerente, na imaginação criativa, bem como na forma de suas Universidade de respectivas ficções. Ainda com os romenos, o poeta Ion Barbu defendia uma São Paulo (1963) e Professor Emérito espécie de humanismo baseado no exercício profundo em torno da matemática. de Matemática Vejo nas páginas do Senhor uma preocupação análoga, por exemplo, da da UNICAMP. matemática ajudando a formar uma cultura da paz... Atualmente é Professor UbirataN D’AMBROSIO Tanto Solomon Marcus quanto Credenciado nos Ion Barbu (pseudônimo de Dan Barbilian) são matemáticos Programa de reconhecidos, com publicações sobre teorias das funções, álge- Pós-Graduação bra, geometria diferencial e outras áreas de matemática abstra- em Educação Matemática ta. Marcus estendeu seu interesse para computação, semiótica da UNIAN, e linguística computacional, e Barbilian adotou o pseudônimo Faculdade de Ion Barbu e distinguiu-se como um dos maiores poetas ro- Educação da menos. Lembro outros escritores com formação matemática USP e do IGCE que se distinguiram na literatura. Alexi Bely, cuja obra-pri- da UNESP, ma, Petersburg, é um exercício matemático sobre uma cidade, e Rio Claro e em História Eugene Guillevic, que faz uma leitura poética do Elementos, de da Ciência da Euclides, no poema Euclideennes, que teve uma primorosa tra- PUC-SP. Atua dução/recriação por Marco Lucchesi. É importante lembrar em História que, nas tradições da Índia, o clássico Sangitaratnakara (“Ocea- e Filosofia da no de Música e Dança”), escrito por Sharngadeva, é conside- Ciência e em rado uma importante referência para a música e a prosódia Educação. indianas, mostrando que poesia e aritmética, particularmente 12 Ubiratan D’Ambrosio a combinatória, desenvolveram-se juntas. Poderíamos enveredar pelas artes plásticas, pela música e por todas as manifestações de criatividade, ilustrando como esses exemplos mostram que o imaginário e a ficção, que transcendem a realidade natural, aproximam a matemática de todas as formas de arte. RB No livro Em defesa de um matemático, G.H. Hardy toma a beleza como primeira prova da matemática. Mas onde se encontra, afinal, a beleza: na perspectiva múltipla de um Portinari ou na garrafa de Felix Klein? UD Hardy foi um dos mais destacados matemáticos do século XX. Suas publicações são resultado de pesquisas muito formais em matemática pura. O rigor de suas deduções é um critério de beleza matemática. No visual, há o belo da faixa de Möbius e da garrafa de Klein ou de uma pintura de Portinari ou de Picasso e de uma arquitetura de Gaudí. Todas essas formas revelam coerência na sua elaboração. Coerência é a essência de uma matemática intrínseca à mente humana, que se manifesta de for- ma muito diversa, tanto como um diamante lapidado, no caso de criati- vos com formação matemática, exemplo Hardy e vários outros, quanto como um diamante bruto, no caso de criativos espontâneos, do homem comum sem formação específica. Nada escapa ao reconhecimento e à análise da matemática intrínseca à mente humana. RB E aqui entra em contraponto a sua visão da matemática com a antropologia. UD Minha pesquisa, que sintetizo no Programa Etnomatemática, re- conhece as manifestações intrínsecas à mente humana, não sendo apenas uma pesquisa sobre matemática de etnias, mas sendo muito mais ampla.
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