O Poder Pelo Avesso: Mandonismo,Dominação E Impotência Em Três Episódios Da Literatura Brasileira
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O poder pelo avesso: mandonismo, dominação e impotência em três episódios da literatura brasileira Jean Pierre Chauvin Tese apresentada ao Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, como requisito para obtenção dos créditos de Doutorado. Orientador: Prof. Dr. Marcus Vinícius Mazzari São Paulo 2006 Há pessoas que marcaram e existe a que permanece. Há seres que fizeram bem, mas vive aquela que me faz melhor. Há dias em que sinto muito; os restantes serão para sentir tudo. Força, sempre, Grazi. 1 Agradecimentos A Marcus Vinícius Mazzari, pela segurança e paciência com que orientou a feitura deste trabalho. Pelas colaborações de José Antônio Pasta Júnior e Hélio Seixas Guimarães, também por ocasião da qualificação (2005). A Alfredo Bosi e Doris Natia Cavallari, pelas sugestões e recomendações bibliográficas. A minha filha, Morgana Miranda Chauvin, pelas dose de amor, compreensão e sabedoria com que (me) amadurece. Ao carinho, à paciência e o apoio de mãe, pai e irmão: Maria do Socorro Carvalho, Pierre e Henri Chauvin. A Pedrília e Luiz Antenor Mantoaneli, meus padrinhos. Aos amigos Caio Alexandre Bezarias, Carlos Alexandre Campos Dantas, Fábio Di Dário, Fábio Oliveira Pagan, Helder Rossi, Isabel Pacheco Bernini, Lili Menezes, Luciana de Paula Spedine, Marco Antonio de Menezes, Patrícia Bianchini (que também auxiliou em muito na versão do “Resumo” para o inglês) e Priscila Verduro Bezarias. Aos alunos e colegas do Mega Vestibulares (2002), CIPS (2002-2005), Cursinho Síntese (2003), Colégio Paralelo (2005-2006) e Eros Vestibulares (2006) A Maria Ângela Aiello Bressan Schmidt e Luiz de Mattos Alves (DTLLC), pela atenção de sempre. Aos professores e colegas de trabalho do IBUSP (1997 - 2006), pela amizade e estímulo aos estudos e demais atividades extra-funcionais: Elizabeth Höfling, Sergio Antonio Vanin, Miguel Trefaut Rodrigues, Sérgio Luiz de Siqueira Bueno, Fábio Lang da Silveira, Marly Salviano de Almeida e, especialmente, Abigail Lais de Barros Bartholomeu. 2 “ – Cada autor tem a sua maneira própria de fazer valer seus interesses; -- de minha parte, como detesto regatear e discutir por uns poucos guinéus, num portal escuro; --- decidi comigo mesmo, desde o princípio, negociar aberta e honradamente convosco, Gente Importante, neste assunto, a ver se não me sairia tanto mais vantajosamente dele.” (Tristram Shandy, Sterne) “Je consacre mes derniers jours à m’étudier moi-même et à préparer d’avance le compte que je ne tarderai pas à rendre de moi.”(Les rêveries du promeneur solitaire, Rousseau)* * Consagro meus últimos dias a estudar a mim mesmo e preparar de antemão a (minha) conta que não tardarei a prestar. 3 Índice Resumo ............................................................................................ 5 Abstract ........................................................................................... 6 Proscênio.......................................................................................7 Burocratas entre o jornal e o livro................................................... 15 Drama em três atos ........................................................................ 22 Literatura como remate de males.................................................... 27 PARTE I – POTÊNCIA (Mando) ......................................................31 Manuel Antônio de Almeida: recuo estratégico.............................32 Recepção ........................................................................................ 32 Recuo estratégico ........................................................................... 39 Um brasileiro.................................................................................. 44 O vagal e o mandão ........................................................................ 51 Festival simbólico ........................................................................... 57 PARTE II – PREPOTÊNCIA............................................................62 Machado de Assis: capítulo à parte...............................................63 Dois focos....................................................................................... 63 Quatro loucos................................................................................. 67 O poder dos símbolos ..................................................................... 72 Duelos de palavras vazias............................................................... 75 Da visão de longo alcance............................................................... 79 PARTE III - IMPOTÊNCIA .............................................................87 Lima Barreto: lúcidos e marionetes..............................................88 Vida e morte: o panfleto em fogo brando ......................................... 92 Morte e vida ................................................................................... 97 Injustiçados e oportunistas........................................................... 101 Sobre o mar.................................................................................. 106 Três tempos.................................................................................. 111 Bastidores..................................................................................118 Tablados e protagonistas .............................................................. 127 Rubricas....................................................................................... 133 “A vida é uma ópera” .................................................................... 139 Bibliografia................................................................................... 143 4 Resumo Este trabalho pretende anotar comparativamente Memórias de um Sargento de Milícias (1855), O Alienista (1882) e Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), com vistas a resgatar também a contribuição de estudiosos predecessores. Três obras a fornecer subsídios sobre o que pode haver de cômico e sério, no material do mundo de verdade, re-trabalhado sob a ótica de escritores que empregaram a Corte ou a República como cenário. Autores que, ao configurar tais personagens, nutriram-se de expedientes através dos quais os textos dialogam, em alguma medida, entre si: a anedota zombeteira, patente em Almeida, combina-se à crônica à beira do inverossímil, na novela de Machado. À parte o riso que despertam, estão possivelmente próximos, não apenas do ponto de vista estilístico, do romance de Lima. Nos três casos, os enredos se constituem a partir dos retratos e trajetórias das figuras centrais, todas mais ou menos deslocadas frente às convenções sociais. Em seu tempo e à sua maneira, Almeida, Machado e Lima traçaram paralelos entre certos procedimentos de suas personagens e aqueles dos homens não-ficcionais: uns e outros vivendo à base de fachadas. Literatura a desmontar o palco Brasil, para divertimento e drama dos leitores. 5 Abstract The purpose of this work intends to note comparativily Memórias de um Sargento de Milícias (1855), O Alienista (1882) and Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), with sights to also bring back the contribution of studious predecessors. Three studies supplying subsidies on what it can be of serious and comic regarding to the material of the true world, re-studied under the writers views who had used either the Court or the Republic as scene. Authors who, while configuring such personages, were fed by the expedients through which the texts, dialogue, in some way, itself: a mocking anecdote, which is clear in Almeida, agrees with the chronicle almost true, in the story of Machado. In spite of the laughs that ignite, they are possibly closer to the romance of Lima not only of the stylistic point of view. In the three cases, the plots constitute themselves through the pictures and trajectories of main characters, which more or less dislocated against the social conventions. In its time and way, Almeida, Machado and Lima had traced parallels between certain procedures of the personages and those of the non-fictional persons: some and others living to the base of veils. Literature disassembles the Brazilian stage, for entertainment and drama of the readers. 6 Proscênio A rigor, este trabalho não traz um tema exatamente novo. Manuel Antônio de Almeida, Machado de Assis e Lima Barreto – “romancistas da cidade”, como define parte da crítica1 – marcaram estética e ideologicamente a literatura de fundo social urbano, concentrados na representação da vida de cidadãos de estrato provinciano, tendo o Rio de Janeiro e seus arredores como tablado. Memórias de um Sargento de Milícias é reconhecido por ter gravado o nome de Almeida na história de nossa literatura. De tempos em tempos, o livro é reapresentado à lembrança dos leitores por conta de suas reedições, acompanhadas de novos estudos introdutórios. Destaquem-se os trabalhos recentes de Mamede Mustafa Jarouche (edição crítica do romance, de 2003) e Reginaldo Pinto de Carvalho (reedição das Memórias na versão em folhetim, de 2004). Nesse romance, o detalhamento dos espaços, o deslocamento temporal e a pormenorização do vestuário – este, diretamente associado à caracterização interna e externa das personagens -, são recursos que simultaneamente lembram os trechos descritivos dos prosadores da época e burlam os seus padrões romanescos. É que na forma, a narrativa parodia o jargão romanesco romântico. No conteúdo, apoiado em constantes assertivas irônicas, ridiculariza os costumes sociais. Em lugar de heróis nacionais