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II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007.

COLETÂNEA DAS PROSAS CLASSIFICADAS E PREMIADAS (ORGANIZADA POR J OÃO BOSCO DE CASTRO).

Alunos Premiados: Thiago José Rodrigues de Paula, Márcio Rogério dos Santos e Jonathan de Freitas Souza.

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Coletânea 2.pmd 1 29/05/07, 16:58 2 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 2 29/05/07, 16:58 FUNDAÇÃO GUIMARÃES ROSA. II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007.

COLETÂNEA DAS PROSAS CLASSIFICADAS E PREMIADAS (ORGANIZADA POR J OÃO BOSCO DE CASTRO).

Alunos Premiados: Thiago José Rodrigues de Paula, Márcio Rogério dos Santos e Jonathan de Freitas Souza.

Editora O Lutador. Belo Horizonte-MG, Brasil. 2007.

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Coletânea 2.pmd 3 29/05/07, 16:58 Direitos Autorais: patrimoniais, da Fundação Guimarães Rosa; morais ou intelectuais, dos autores dos textos publicados.

Capa: André Ferreira Santos, com engenhos armoriais de João Bosco de Castro.

Diagramação: 1º Sgt. PM Antônio Geraldo Alves Siqueira.

Planejamento, organização e coordenação de editoração e arte- finalização: João Bosco de Castro.

Revisão: dos textos classificados e premiados: Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta; dos conteúdos pré-textuais e pós-textuais: João Bosco de Castro. Coadjuvação Editoral: Jornalista Juliana Leonel Peixoto.

Tiragem: mil e quinhentos exemplares.

Ficha Catalográfica*:

C694 Coletânea das Prosas Classificadas (Fundação Guimarães Rosa, II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/ 2007). João Bosco de Castro (org.). Belo Horizonte-MG: O Lutador, 2007. 134 p.

Autores premiados: Thiago José Rodrigues de Paula, Márcio Rogério dos Santos e Jonathan de Freitas Souza.

Prefaciada por João Bosco de Castro.

1. História da Literatura Brasileira. 2. Biobibliografia de João Guimarães Rosa, prosa literocientífica __ coletânea. I. Castro, João Bosco de. II. Paula, Thiago José Rodrigues de. III. Santos, Márcio Rogério dos. IV. Souza, Jonathan de Freitas. V. Fundação Guimarães Rosa. CDD __ B 869.8. CDU 82-94(81).

* Elaborada por Rita Lúcia de Almeida Costa, CRB 6ª R1730.

4 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 4 29/05/07, 16:58 II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007.

Curador (provedor intelectual e acadêmico): Prosador e Crítico Professor João Bosco de Castro (da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias, Cadeira no 32).

Julgadores de Texto: Prosador e Crítico Professor João Bosco de Castro; Professor Capitão Giovanni Franco, da Academia de Polícia Militar da PMMG; Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta, Presidenta do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa.

Fundação Guimarães Rosa (provedora logístico-financeira): Superintendente-Geral: Álvaro Antônio Nicolau; Superintendente Operacional: Pedro Seixas da Silva; Gerente do Departamento Social: Helvécio Gomes.

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Coletânea 2.pmd 5 29/05/07, 16:58 6 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 6 29/05/07, 16:58 SUMÁRIO

Resultado do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007 ...... 9

Prefácio, por João Bosco de Castro ...... 11

Textos Classificados e Premiados ...... 19

PRIMEIRO LUGAR: GUIMARÃES ROSA: VIDA OBRA E OBRA VIDA DO ESCRITOR QUE REVOLUCIONOU O MUNDO DAS PALAVRAS. Thiago José Rodrigues de Paula ...... 21

SEGUNDO LUGAR: A TRAVESSIA EM GUIMARÃES ROSA. Márcio Rogério dos Santos ...... 41

TERCEIRO LUGAR: JOÃO: O SERTÃO VIROU MUNDO! Jonathan de Freitas Souza ...... 63

DOIS POEMAS ...... 103 OUTONO Giovanni Franco ...... 105

HOMENAGEM ACRÓSTICA Sílvia de Lourdes Araújo Motta ...... 107

Regulamento e Atos do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa” 2007 ...... 109

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Coletânea 2.pmd 7 29/05/07, 16:58 8 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 8 29/05/07, 16:58 RESULTADO DO II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007.

Identificação de Autores.

O Gerente do Departamento Social da Fundação Guimarães Rosa e o Curador do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa” / 2007, de acordo com os incisos I e II do art. 7º do Regulamento do mesmo Certame, identificaram os autores mais bem-classificados em tal Concurso Literocientífico, de acordo com o resultado exarado pela competente Comissão Julgadora, da seguinte forma:

Primeiro Lugar: Autor: THIAGO JOSÉ RODRIGUES DE PAULA (do Colégio Tiradentes da PMMG, Barbacena, MG). Texto: Vida Obra e Obra Vida do Escritor que Revolucionou o Mundo das Palavras. Segundo Lugar: Autor: MÁRCIO ROGÉRIO DOS SANTOS (da Escola Estadual Martinho Fidélis — Bom Despacho, MG). Texto: A Travessia em Guimarães Rosa.

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Coletânea 2.pmd 9 29/05/07, 16:58 Terceiro Lugar: Autor: JONATHAN DE FREITAS SOUZA (do Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias / PMMG – Belo Horizonte). Texto: João: o Sertão Virou Mundo.

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Coletânea 2.pmd 10 29/05/07, 16:58 PREFÁCIO.

João Bosco de Castro (Curador e Provedor Intelectual e Acadêmico do Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”)*.

O Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa” foi instituído pela Fundação Guimarães Rosa, em 22 de agosto de 2005, para incentivar alunos do ensino médio ao exercício da leitura crítica, pesquisa documental e bibliográfica , e redação, em Língua Portuguesa, de prosa literocientífica (fundada em achados críticos, literários, históricos e filológicos) sobre a vida e a obra do ficcionista e poeta João Guimarães Rosa, diplomata brasileiro e capitão-médico da Força Pública de Minas Gerais. Desde aquela data marcante, emparelho-me com a Fundação Guimarães Rosa — provedora logístico-financeira desse bem-aprestado Certame —, no papel de seu curador e provedor intelectual e acadêmico, em busca de qualidade epistêmica, literária e socioeducativa compatível com o padrão

* Tenente-Coronel da PMMG: recompensado pela Academia Brasileira de Letras com o Prêmio “A Vida da Palavra” (2003); educador na Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro; professor de Línguas Românicas e respectivas literaturas, Ética, Ciências Militares, Ciências Policiais e História Militar; romancista, contista, poeta e ensaísta; crítico, pesquisador e jornalista; tupinólogo, escultor e heraldista; Acadêmico Efetivo-Comunial e Presidente do Conselho Superior da Academia de Letras “João Guimarães Rosa” (da PMMG); titular da Cadeira no 32 da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias; membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (Seção de História Militar).

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Coletânea 2.pmd 11 29/05/07, 16:58 desejável à efetividade mais alta do ensino médio brasileiro, particularmente nestas Alterosas. Graças ao apoio garantido por estratégias estabelecidas pelo Conselho Permanente, dirigido por S. Exa. o Coronel Hélio dos Santos Júnior, Comandante-Geral da Polícia Militar de Minas Gerais, e proativamente implementadas pelo Coronel Álvaro Antônio Nicolau, Superintendente-Geral da Fundação Guimarães Rosa, e respectivos assessores e auxiliares, tenho conseguido satisfatória realização da curadoria e provedoria a mim confiadas, contidas nas seguintes atribuições de coordenação literocientífica para produção ensaística: 1. indicação dos integrantes da Comissão Julgadora de Textos, em regime de voluntariado; 2. convite a especialistas da Comunidade Literocientífica para colaboração no Certame, em regime de voluntariado; 3. misteres de planejamento e normalização de competências, julgamento de textos inscritos e premiação dos alunos mais bem-classificados, segundo ditames técnico- regulamentares; 4. organização e controle, ou até execução, dos procedimentos de revisão, prefaciação, editoração, ilustração, arte-finalização, publicação e lançamento da Coletânea dos Textos Premiados e Classificados no Concurso; 5. presidência da Comissão Julgadora de Textos; 6. solução de casos fortuitos ou omissos, em primeira instância.

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Coletânea 2.pmd 12 29/05/07, 16:58 A marca melhor e mais confiável desse grandioso empreendimento de erudição e cultura é a co-participação de talentos humanos especiais! Para a arquitetura da Coletânea dos Textos Premiados e Classificados no Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”, tenho contado com a respeitável qualificação e singular habilidade artística ou técnica de colaboradores excelentes. A arte da capa, com engenhos armoriais de minha autoria, reflete a sensibilidade, bom-gosto e fina expressão de André Ferreira Santos, componente da capacitada Equipe da citada Provedora Logístico-Financeira. A coadjuvação editoral exercida pela Jornalista Juliana Leonel Peixoto, da mesma bem-qualificada Equipe da Fundação Guimarães Rosa, agrega valores de confiabilidade e zelo profissional a meus critérios de planejamento, organização e coordenação de editoração e arte-finalização. Das pródigas searas do Centro de Pesquisa e Pós- Graduação da Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro, bem-cuidadas pelo domínio gestorial do Tenente-Coronel Ricardo Santos Ribeiro, obtive duas maravilhosas espigas de produtivo labor: a Bibliotecônoma Rita Lúcia de Almeida Costa, para a catalografação informativa da Coletânea, e o Primeiro- Sargento Antônio Geraldo Alves Siqueira, para o esmero da editoração e arte-finalização da Obra, tarefas em cuja lavra também reluz a excelência profissional da Jornalista Ana Lívia Azevedo Castro.

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Coletânea 2.pmd 13 29/05/07, 16:58 Os engenhos críticos, lingüísticos e filológicos indispensáveis à melhor avaliação e à mais imparcial classificação dos textos inscritos no Certame, somente logrei executá-los, com rigor técnico-sinfrônico, estilístico e glotológico — principalmente quanto aos modos sincrônicos da Lusofonia para a elaboração literocientífica no Brasil —, graças a dois notáveis estudiosos e experientes artesãos da Língua de Camões e Florbela: o Professor Capitão Giovanni Franco e a Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta. O Primeiro — habilidoso e premiado poeta, regente de saberes lusofônicos no Centro de Ensino de Graduação da Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro, licenciado em Letras e jovem Mestre em Lingüística pela Universidade Federal de Minas Gerais (de cuja elevadíssima permissividade comunicativa e graúda aversão aos parâmetros morfossintáticos e evidências filológicas ele ainda não se contaminou!...) — prepara-se para o lançamento de dois livros de deliciosos poemas. A Segunda — talentosa tecelã de trovas e acrósticos, educadora aposentada nas redes públicas estadual e belo-horizontina de ensino, licenciada em Pedagogia e pós-graduada em Ensino da Língua Portuguesa, prosadora e revisora, Presidenta do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa e representante de areópagos e oficinas de cultura (algumas das quais vocacionadas ao embutimento dos signos da tal cultura nas coisas da erudição, principalmente por embaçado e plúmbeo estrelismo desses mesmos areópagos e oficinas de cultura, pois nosso querido “Brasil-brasileiro” semineoliberal, pseudo-sindicalista, plenijeitista e pluriniilista nunca soube distinguir erudito de culto!...) — já tem bojudas publicações, como “Versos e Carversos Sazonados”. Ambos, Giovanni e Sílvia, sempre cooperam comigo nesse ofício dadivoso de estímulo de pessoas

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Coletânea 2.pmd 14 29/05/07, 16:58 à leitura e redação. Sempre se auto-entregam ao sacerdócio malcompreendido da depuração vernacular e adequação da mensagem ao tema, segundo os propósitos de cada concurso e a respectiva espécie, gênero, modalidade de discurso e forma de expressão ou comunicação, para avaliação dos textos inscritos e escolha dos melhores dentre eles. A prosa literocientífica, necessariamente dissertativa e fundada em pesquisa — mais comumente bibliográfica e documental, particularmente como recurso para a construção da biobibliografia —, exige muito de quem a redige, mais de quem a avalia, muito mais de quem a revisa. Isso não esfacela o ânimo crítico nem a Giovanni Franco, nem a Sílvia Motta, graças a cujo espírito de voluntariado proativo e excelente qualificação em cultura luso-brasileira e erudição lusófona, temos alcançado, eu e a Fundação Guimarães Rosa, excelsos resultados nas fornalhas intelectuais e editorais do Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”. Nas duas primeiras versões desse relevante empreendimento socioeducativo, a Professora Sílvia Motta ainda poliu as respectivas Coletâneas, as de 2006 e 2007, com a percuciente revisão dos textos classificados e premiados, e a mim somente me permitiu a dos conteúdos pré-textuais e pós- textuais. Graças a Deus!... A Fundação Guimarães Rosa publica os três melhores textos de cada versão do Concurso em bem-trabalhada Coletânea, com tiragem de mil e quinhentos exemplares. Aos titulares desses textos conferem-se prêmios valiosos: ao primeiro-lugar — diploma, importância em dinheiro, a Medalha de Ouro Fantásticas Veredas — FGR de

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Coletânea 2.pmd 15 29/05/07, 16:58 Prosa Simples com a respectiva Réplica e vinte exemplares da Coletânea; ao segundo-lugar — diploma, importância em dinheiro, a Medalha de Prata Fantásticas Veredas — FGR de Prosa Simples com a respectiva Réplica e vinte exemplares da Coletânea; ao terceiro-lugar — diploma, importância em dinheiro, a Medalha de Bronze Fantásticas Veredas — FGR de Prosa Simples com a respectiva Réplica e vinte exemplares da Coletânea. O II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007 premia, em 29 de junho, seus três Vencedores:

Primeiro Lugar: Aluno THIAGO JOSÉ RODRIGUES DE PAULA — do Colégio Tiradentes da PMMG, Barbacena, MG ___, com a prosa literocientífica Guimarães Rosa: Vida Obra e Obra Vida do Escritor que Revolucionou o Mundo das Palavras.

Segundo Lugar: Aluno MÁRCIO ROGÉRIO DOS SANTOS — da Escola Estadual Martinho Fidélis — Bom Despacho, MG —, com o texto A Travessia em Guimarães Rosa.

Terceiro Lugar: Aluno JONATHAN DE FREITAS SOUZA — do Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias/ PMMG, Belo Horizonte, MG —, com o texto João: o Sertão Virou Mundo.

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Coletânea 2.pmd 16 29/05/07, 16:58 Dentre tantas, a melhor das láureas a cada Vencedor é a publicação de seu premiado texto na Coletânea do Concurso, espalhada a cantos e recantos do Brasil e de Minas Gerais, à disposição de bibliotecas e leitores, principalmente porque a maior gratificação a quem escreve é saber-se lido, analisado, motivador de discussões e reconhecido. Isso não se compra nem se paga: recebe-se, conquista-se! Isso faz a pessoa crescer!... Além de laurear autores de prosa literocientífica, artistas da ilustração, colaboradores de editoração e arranjos gráficos, julgadores dos textos inscritos e curador, a Fundação Guimarães Rosa também se laureia a si mesma com a sublime alegria de contribuir para o desenvolvimento humano de estudantes do Ensino Médio, por meio da gema socioeducativa nutrida no veio viçoso da leitura sinfrônica, erudição, domínio da cosmovisão, amor à pesquisa, exercício dos melhores debates, qualificação para a prática maiúscula da saudável interpretação — tanto por exegese, quanto por hermenêutica —, afeição à Língua Portuguesa e à cultura lusíada, destreza lingüística e dialógica, sabedoria e habilidade para o pensamento lúcido, e capacidade para a comunicação e expressão verbal, oralmente e, acima de tudo, por meio dos engenhos mais cultos e elegantes da produção de texto, mais enfática e objetivamente por meio dos cânones e técnicas indispensáveis à redação da prosa literocientífica. Isso é humanização de talentos! Isso faz bem ao espírito: é importante à respeitabilidade das Pessoas e necessário à soberania da Pátria e à dignidade do Estado Brasileiro!

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Coletânea 2.pmd 17 29/05/07, 16:58 Parabéns aos Alunos autores dos textos inscritos, aos Vencedores do Prêmio, aos Especialistas em Língua Portuguesa e Crítica Textual auto-entregues ao Certame, aos outros diversos e respectivos Colaboradores e à Fundação Guimarães Rosa, por esse grandioso empreendimento de erudição e cultura: o notável Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”! Belo Horizonte, 29 de junho de 2007.

18 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 18 29/05/07, 16:58 TEXTOS CLASSIFICADOS E PREMIADOS.

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Coletânea 2.pmd 19 29/05/07, 16:58 20 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 20 29/05/07, 16:58 PRIMEIRO LUGAR.

Guimarães Rosa: Vida Obra e Obra Vida do Escritor que Revolucionou o Mundo das Palavras.

Thiago José Rodrigues de Paula.

Falar de Guimarães Rosa não é uma tarefa fácil. Uma vez o próprio autor declarou sobre sua biografia:“ Às vezes, quase acredito que eu mesmo, João, seja um conto. Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não têm princípio nem fim.” Realmente, a vida de Guimarães é tão complexa e cheia de aventuras que mais parece uma de suas obras, e suas obras são tão reais que parecem um retrato da vida. João Guimarães Rosa nasceu a 27 de junho de 1908 na pequena cidade de Cordisburgo, interior de Minas Gerais. Era o primeiro dos seis filhos de Floduardo Pinto Rosa (seu Fulô) e de Francisca Guimarães Rosa (dona Chiquitinha).

Desde cedo Joãozito, como era chamado pela família, demonstrava um grande interesse pelo mundo das palavras. Adorava ler, mas a miopia que já se desenvolvia nele obrigava-o a se curvar, quase encostando o rosto no livro. Outra paixão do garoto, aos sete anos já estudava francês sozinho e já lera seu primeiro livro nesta língua Les femmes qui aimment.

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Coletânea 2.pmd 21 29/05/07, 16:58 Entretanto, Joãozito não se preocupava só com a leitura e com o estudo de línguas, mas também se dedicava a diversões infantis. Gostava muito de jogar futebol e de montar armadilhas para capturar pequenos passarinhos que logo depois soltava.

“Seu Fulô”, pai de Guimarães, possuía um armazém em Cordisburgo. Nessa “venda” o pequeno Joãozito ficava prestando atenção nas conversas da população sertaneja que freqüentava o estabelecimento, vindo daí, boa parte do material humano que mais tarde constituíram suas obras. Também foi no armazém do seu pai que Guimarães Rosa escreveu seus primeiros textos, sendo estes, jornais feitos a mão no papel de embrulho. Estes pequenos jornais traziam notícias, contos e sessões humorísticas que muitas vezes criticavam a vida local. Sobre sua prática de escrever declarou uma vez Rosa:

Desde menino, muito pequeno, eu brincava de imaginar intermináveis estórias, verdadeiros romances; quando comecei a estudar Geografia – matéria de que sempre gostei – colocava os personagens e cenas nas mais variadas cidades e países. Mas, escrever mesmo, só comecei foi em 1929, com alguns contos, que naturalmente, não valem nada. Até essa ocasião (21 anos), eu só me interessava, e intensamente, pelo estudo, da Medicina e da Biologia.

Rosa começou seus estudos na própria cidade de Cordisburgo, com mestre Candinho. Desde cedo se mostrava como um aluno muito aplicado e que adorava Geografia. Depois, com a chegada de Frei Esteves, um padre

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Coletânea 2.pmd 22 29/05/07, 16:58 franciscano, continuou seus estudos em francês, e começou a estudar holandês.

Os dez primeiros anos da vida de Guimarães Rosa passaram-se na cidade de Cordisburgo, mas para os estudos secundários ele precisou mudar-se.

Foi então matriculado no Colégio Santo Antônio de São João Del Rey, em regime de internato, mas ficou pouco tempo por lá, já que detestava a comida. Assim, foi morar com seu avô e padrinho, o senhor Luís Guimarães, em Belo Horizonte, onde o matricularam no Colégio Arnaldo, de padres alemães, o que foi decisivo para que iniciasse seus estudos nessa língua. Além da Geografia, Rosa descobriu outra matéria de sua preferência a História Natural. Por isso, foi colecionador de insetos, sobretudo, borboletas e quando ia a Cordisburgo nas férias, participava das caçadas feitas por seu pai. Em 1925, com apenas 16 anos de idade, Guimarães Rosa matriculou-se na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (hoje pertencente a UFMG). Foi no seu segundo ano de faculdade que pronunciou para o seu amigo Ismael de Faria, na ocasião da morte de seu colega de turma Oséas, sua famosa frase: “As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Ainda como estudante de Medicina e precisando de dinheiro, Guimarães, em 1929, concorreu ao concurso de contos promovido pela revista o cruzeiro, ganhando com quatro textos: “Chronos kai Anagke” (tempo e destino em

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Coletânea 2.pmd 23 29/05/07, 16:58 grego), “Caçador de Camurças”, “O Mistério de Higmore Hall” e “Maquiiné”. Estes contos renderam-lhe 400.000 réis e o mais famoso dele foi o “Mistério de Higmore Hall”, que era uma história cheia de mistério e castelos, sendo muito diferente de suas obras posteriores.

A 27 de junho de 1930, quando completava 22 anos casou-se com Lygia Cabral Penna. Nesse mesmo ano formou-se na Faculdade de Medicina e devido a sua desenvoltura para falar, foi escolhido como orador de sua turma. No seu discurso publicado no Minas Gerais Rosa demonstrou seu grande conhecimento lingüístico e ressaltou a necessidade de “uma prática médica que privilegiasse o calor humano”.

Um ano depois de formado, Guimarães iniciou sua atividade em Itaguara, então distrito de Itaúna, cidade onde não havia outro médico. Foi nesta cidade que nasceu sua primeira filha, Vilma Guimarães Rosa que também se tornou escritora.

A participação de Lygia na vida de Guimarães Rosa foi importantíssima como relata Vilma anos mais tarde:

A grande companheira que saiu de Belo Horizonte deixando o luxo e o conforto para começar uma vida difícil, numa cidade pitoresca onde não havia eletricidade e tudo aquilo que estava acostumada.

Naquela época era difícil a prática de Medicina em cidades do interior. O Doutor Guimarães Rosa tinha que galopar horas e horas, às vezes, até de noite, para atender seus pacientes.

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Coletânea 2.pmd 24 29/05/07, 16:58 Rosa, como médico, não suportava a morte e ficava impressionado com o parto tendo inclusive assistido a sua mulher dar à luz a sua primeira filha sozinha, já que o médico chamado atrasara e o ele chorava desesperadamente. Em Itaguara, Guimarães criou vários laços de amizade com o povo local. Seu mais famoso amigo neste tempo era um raizeiro espírita chamado Emanuel Rodrigues de Carvalho o “seu Nequinha”, que mais tarde parece ter inspirado a criação do compadre Quelemém, uma espécie de oráculo sertanejo em Grande Sertão: Veredas. Em 1932 Guimarães Rosa juntou-se a outros compatriotas para trabalhar como capitão-médico voluntário da Força Pública (atual Polícia Militar do Estado de Minas Gerais), na Revolução Constitucionalista que ocorria em São Paulo.

Ao fim do movimento que durou 9 de julho a 3 de outubro de 1932, Rosa e outros voluntários foram liberados da Força Pública, destituindo-se assim os batalhões provisórios criados. Entretanto, Guimarães querendo continuar no trabalho militar, se inscreveu para um concurso que a Força Pública abriu para pessoas que serviram na contraguerrilha, tendo passado em 4º lugar, com média de 65, 49 pontos.

A princípio, Guimarães Rosa prestou seus serviços no Departamento de Materiais e no Estado Maior. Posteriormente, foi transferido para o Nono Batalhão de Infantaria, em Barbacena.

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Coletânea 2.pmd 25 29/05/07, 16:58 Do tempo que Guimarães exercia suas atividades no Nono Batalhão de Infantaria relata o historiador Anatólio Alves de Assis:

E no que contava aos serviços médicos, eles [militares do 9º BI] estavam em muito boas mãos. Eram exercidos por um jovem, trinta anos de idade, fino, educado, gentil, dominando meia dúzia de idiomas... contudo, ele era sóbrio, reticente, tímido. O melhor amigo do capitão-médico no Nono Batalhão de Infantaria era o Segundo Sargento Jose Meira Junior, amanuense do batalhão, com quem, por força de suas funções, tratava de seus relacionamentos profissionais.

Os tempos em Barbacena foram muito importantes para Guimarães Rosa como relata sua filha Vilma em seu livro Relembraremos: João Guimarães Rosa, Meu Pai: “Tempos de muito estudo, muita Medicina, escrevendo cada vez mais”. Fazendo amigos e selecionando seus personagens entre as pessoas interessantes que encontrava. Com um russo-branco que arribara em Barbacena, aprendeu os primeiros rudimentos de sua língua. Por intermediários de antigos oficiais do Exército Czarista que haviam ido a Barbacena como componentes do coro dos cossacos de Juban e do Don, pode aperfeiçoar aqueles primeiros ensinamentos. Um nissei que trabalhava na Campanha de Força e Luz. Foi quem lhe transmitiu os primeiros conhecimentos de japonês.” Foi também em Barbacena que nasceu a segunda filha de Rosa e Lygia, Agnes.

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Coletânea 2.pmd 26 29/05/07, 16:58 Achando-se sem vocação para Medicina e influenciado por amigos, Guimarães resolveu fazer um concurso para ingressar no Itamaraty, o que conseguiu com facilidade.

Na nova função Rosa obteve grande sucesso devido o seu grande conhecimento lingüístico. Ele falava português, espanhol, francês, italiano, inglês, alemão e esperanto (língua artificial elaborado por Luduik Lejzer Zamenhof) também conseguia ler livros em latim, grego clássico e moderno, dinamarquês, servo-croata, russo, húngaro, persa, chinês, japonês, hindu, árabe e malaio. Sobre seu conhecimento lingüístico uma vez o autor relatou: “acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração”.

Como a literatura não estava ausente nas preocupações de Guimarães Rosa, que sempre escrevia contos e versos, resolveu participar do curso de poesia da Academia Brasileira de Letras com o livro Magma, que ganhou o primeiro lugar. Magma nas palavras de , membro da comissão julgadora era “poesia centrífuga universalizada, capaz de dar ao resto do mundo uma síntese perfeita do que temos e somos”.

Magma foi o único livro de poemas que Guimarães Rosa escreveu, mas o autor não quis publicá- lo sendo que somente em 1997, 30 anos depois da morte do autor, é que o público pode vislumbrar-se com mais esta obra do escritor mineiro.

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Coletânea 2.pmd 27 29/05/07, 16:58 Um ano após ganhar o concurso de poesia com Magma, Guimarães começou a escrever uma série de contos que reuniu em um único livro chamado simplesmente de Conto. Com Contos, Rosa participou do concurso Humberto de Campos de livraria José Olympio, tendo como membro na banca julgadora Graciliano Ramos. Rosa ficou em segundo lugar perdendo apenas para Luís Jardim, que concorria com o livro Maria Perigosa.

Logo depois, em 1938, foi nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, na Alemanha. Foi lá que conheceu sua segunda esposa, Aracy Moebius de Carvalho (Ara). Sua ex-esposa, Lygia, também conheceu o advogado Arthur Auto Nery Cabral, com quem se casou.

Durante o tempo em que estiveram na Alemanha, Guimarães e sua mulher, Aracy, ajudaram inúmeros judeus a fugirem dos nazistas. Por esse ato, em 1983, o nome do casal foi dado a um bosque em Israel. Uma vez interrogado de porque motivo salvara tantos judeus Rosa respondeu: “Eu, homem do sertão, não posso presenciar injustiças. No sertão, num caso desses imediatamente a gente saca o revólver, e lá isso não era possível. Precisamente por isso idealizei um estratagema diplomático, e não foi assim tão perigoso”. Por este motivo, em 1983, deram o nome do autor e de sua esposa para um bosque em Israel.

Quando o Brasil rompeu com a Alemanha em 1942, devido à segunda guerra mundial, o autor foi internado pelos Alemães em Baden-Baden, juntamente com outros funcionários da Embaixada Brasileira.

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Coletânea 2.pmd 28 29/05/07, 16:58 Retornando ao Brasil, ficou pouco tempo no Rio de Janeiro, sendo designado logo depois para trabalhar em Bogotá, na Colômbia, como secretário da Embaixada Brasileira, onde permaneceu ate 1944.

Em 1945, o escritor regressou ao Brasil e voltou a trabalhar com o livro Contos. Alguns contos que participaram de concurso foram suprimidos, inclusive um que Graciliano não gostara. Depois de cinco meses de trabalho, Guimarães concluiu o livro e publicou-o com um novo nome: Sagarana.

Já no título percebemos a característica mais marcante de Guimarães Rosa, a criação de palavras. Ao unir saga (radical germânico que quer dizer lenda) com rana (sufixo tupi indicando semelhante a) o autor já não mostrava que os 9 contos que compõem a obra foram escritos a partir de sua observação da cultura popular.

As narrativas do livro falam da vida e dos assuntos sertanejos, mas que ao mesmo tempo, se encaixam na realidade de pessoas que vivem muito longe do sertão. Em alguns de seus contos, como o burrinho Pedrês e Sarapalha, Rosa incorporou procedimentos do verso na prosa. A personificação de animais também foi uma característica marcante do escritor.

Em Sagarana aliam-se as linguagens cultas ao falar do sertanejo. O próprio narrador, ao mesmo tempo em que usa uma linguagem rebuscada, também se vale de expressão coloquiais como no seguinte trecho de “São Marcos” em que a própria língua que se vale o autor é questionada: “Sim, que, a parte, o sentido prisco, valia o ileso gume do

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Coletânea 2.pmd 29 29/05/07, 16:58 vocábulo pouco visto e, menos ainda ouvido (...) E não é assim que as palavras têm canto e plumagem.”.

O grande senso de observação de Guimarães também foi marcante nesse livro, como a grande enumeração que ele fez dos bois em “O Burrinho Pedrês”: “galhudos, gaiolos, estrelos, espácios, combucos, cubetos lobunos, lompardos, caldeiros, cambraias, chamurros, curriados, corombos, cornetos, bocalvos, borralhos, cumbados, chitados, vareiros, silveiros...”.

As personagens de Sagarana também possuem uma característica em comum: todos são seres (homens e animais) subjugados, solitários, ou colocados à margem da sociedade.

O primeiro conto do livro é “O Burrinho Pedrês”, que conta a história de uma enchente, causada por um córrego que começou a crescer e surpreendeu uma boiada e os vaqueiros que a conduziam. Dessa enchente só sobreviveram dois homens e um burrinho pedrês, que embora fosse rejeitado por ser velho, foi o único a se salvar e a salvar a mais duas pessoas.

Em “A volta do Marido Prodígio” temos um trabalhador braçal de nome Lalino Salanthiel, que trabalhava na construção de uma estrada, mas que dizia que não fazia falta no serviço. É aí que se mistura à política corrupta da região e vende sua esposa a recuperando de graça depois.

“Sarapalha” conta a historia de dois primos, Argemiro e Rubens que ficam sozinhos numa cidade abandonado devido a um surto de malária e que passam todo o contos acertando contas antigas.

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Coletânea 2.pmd 30 29/05/07, 16:58 Em “O duelo” temos a figura de Turíbio Todo, um seleiro desempregado por causa do “advento de duas estradas de automóvel” e da construção de uma estrada de ferro. Seu adversário, Cássio Mendes, e um ex-cabo das milícias aposentado. Durante toda a narrativa os dois perseguem-se mutuamente, mas só no fim da vida e que se encontram, numa surpresa do destino.

O conto “Minha Gente” fala de quatro pessoas que foram passar uma temporada em uma fazenda no interior de Minas e se surpreenderam com a prática coronelista da região.

“São Marcos” é um conto que traz assuntos como feitiçaria e misticismo, no qual a personagem principal fica cega por causa de magia. É interessante ressaltar que o próprio Guimarães sempre foi muito supersticioso e que acreditava que fora salvo de em bombardeio na Alemanha por forças ocultas.

No conto “Corpo fechado”, Manuel Fulô, protagonista, ex-vendedor de cavalos, e uma criatura sem qualquer atividade, a não ser, os seus passeios e piqueniques, conta a estória de um pacto de fechamento de corpos que fez com outros dois valentões.

“Conversa de bois” é um estória de animais falantes que conversam durante o transporte de um cadáver. No fim, ao invés de um corpo, os dois animais, levados por seu senso de justiça, terminam com dois mortos.

O ultimo conto é “À Hora e a vez de Augusto Matraga” que conta estória de Matraga, um homem rico e

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Coletânea 2.pmd 31 29/05/07, 16:58 arrogante que perde tudo que tem e se vê auxiliado por um pobre casal de negros.

Até a quinta edição do livro, Guimarães Rosa fez constante modificações no texto, que alcançou grande destaque. Sagarana foi agraciado com o prêmio da Sociedade Filipe de Oliveira e é considerado uma das principais obras de ficção do Brasil contemporâneo.

Em 1946, Guimarães Rosa também foi nomeado chefe do Gabinete do ministro João Neves de Fontoura. Dois anos depois, mudou-se para Paris como primeiro secretário do Embaixada Brasileira.

Rosa participou como mestre da delegação brasileira na Conferência de Paz de 1946 e como secretário-geral da delegação brasileira na IX Conferência Inter-Americana.

Aos 43 anos, em 1951, de volta ao Brasil, é nomeado novamente chefe do gabinete de João Neves de Fontoura. Aproveitando suas férias daquele ano, participou de uma viagem pelo sertão mineiro, junto com um grupo de boiadeiros. Durante a viagem, Guimarães fez várias anotações sobre a flora e fauna local, além de outras sobre a população sertaneja. Foi nessa viagem que conheceu Manuel Narde, que inspirou o Manuelzão de “Uma Estória de Amor”. Em 1953, tornou-se chefe da Divisão de Orçamento. Três anos depois, publica seu segundo livro: Corpo de Baile. Sobre ele fala Guimarães: Sete novelas (que o doutor chama também de ‘poemas’ ou de ‘romances’ e ‘contos’), desenrolados na região

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Coletânea 2.pmd 32 29/05/07, 16:58 dos campos-gerais, ou do gerais [...] Como se vê o título do livro é apenas simbólico. Corpo de Baile são narrações sertanejas, de temática universal, com extraordinária pulsação de vida, enredos inéditos, empolgantes, e novas revelações sobre a realidade social de nossos trabalhadores de gleba. A partir da terceira edição, o livro foi dividido em três volumes: Manuelzão e Miguelim; No Urubuquaquá: no Pinhém; e Noites de Sertão.

“Campo Geral” e “Uma Estória de Amor” são as narrativas que compõem Manuelzão e Miguelim.

“Campo Geral” conta a estória de Miguelim, uma criança que tenta entender o mundo a sua volta, mas que nem sempre consegue. A narrativa é em 3ª pessoa, porém só a experiência de Miguelim é narrada. Algumas pessoas apontam essa novela como o texto em que os dados e experiências do autor aparecem mais claramente. Um dos momentos mais emocionantes da narrativa é quando Miguelim descobre que tem miopia, o que guarda profunda semelhança com Guimarães Rosa que só descobriu aos oito anos que era míope, graças ao doutor José Lourenço, que lhe emprestou seus óculos.

Já em “Uma Estória de Amor (Festa de Manuelzão)”, aparentemente nada acontece. Toda a narrativa se concentra apenas numa festa em que o capataz da fazenda Samarra, Manuel José Rodrigues, inaugura uma capela nova. O mais importante nessa novela não é o que é contado, mas como os fatos são transmitidos. Assim, tem- se como o tema principal da narrativa a origem e o poder

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Coletânea 2.pmd 33 29/05/07, 16:58 das histórias. Outra característica marcante é que essa novela, como as demais estórias de Guimarães Rosa, é como um tecido em que cada “fio” (ou “causo” isolado) é sempre importante para o todo. Todavia, só percebemos isso no fim da narrativa , quando, ao termos todo o conjunto dos acontecimentos, percebemos que tudo estava se tecendo desde o início. O segundo volume em que Corpo de Baile foi dividido é chamado de No Urubuquaquá, no Pinhém, devido ao nome das fazendas que compõem duas das estórias do livro: a Urubuquaquá de “Cara de Bronze” e a Pinhém de a “A Estória de Lélio e Lina”. Além dessas duas narrativas, o livro traz mais uma: “O Recado do Morro”, que se desenvolve durante uma viagem. Todo o livro é muito interessante. Nele aparece o mundo dos vaqueiros com seus sentimentos, temores e esperanças, bem como as suas péssimas condições de vida. Neste livro não se esquece de suas características mais marcantes: a poeticidade na prosa e a criação de palavras. Um exemplo claro dessa prodigiosa atividade criadora é o nome de um dos vaqueiros de Urubuquaquá: “Moimeichego”, formada pela justaposição de moi, me, iche e ego, palavras de várias línguas com o mesmo significado: eu. Noites de Sertão compõe-se das duas outras estórias de Corpo de Baile: “Lão-Dalalão (Dão-Lalalão)” e “Buriti” que se caracterizam por apresentarem mulheres marcantes. Em “Lão-Dalalão (Dão-Lalalão)” temos a figura de Doralda, uma prostituta de Montes Claros, que se

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Coletânea 2.pmd 34 29/05/07, 16:58 casou com um homem de nome Soropita. Doralda era uma mulher muito erótica como percebemos em: “Do cheiro, mesmo, de Doralda, ele gostava por demais, um cheiro que ao breve lembrava sassafrás, a rosa mogorim e palha de milho viçoso; e que se pegava, só assim, no lençol, no cabeção, no vestido, nos travesseiros (...) Respirava. O aroma do capim apendoado penetrava no ar, vinha – nem se precisava de abrir os olhos, para saber das roxas extensões lindas na encosta – maduro o melosal”. Já “Buriti” também mostra um tema bastante claro a Guimarães Rosa: o amor vinculado ao erotismo. Assim Glória e Lalá mostram-se como mulheres que não vêem o sexo como algo pecaminoso, mas como o começo de uma trajetória.

Em maio de 1956, no mesmo ano em que publicou Corpo de Baile, Guimarães também publicou outro livro: Grande Sertão: Veredas. Esse livro é considerado um marco importantíssimo da historiografia brasileira e, ao mesmo tempo em que rendeu grandes elogios, foi ferido por críticas ferozes.

Grande Sertão: Veredas é o único romance de Guimarães Rosa. Ele é um longo monólogo, no qual, um homem de nome Riobaldo conta em três dias a estória de sua vida a um homem culto que toma notas do que é dito. O interessante é que não aparece nenhuma fala desse homem no livro. Só sabemos de suas intervenções pelas respostas de Riobaldo.

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Coletânea 2.pmd 35 29/05/07, 16:58 A linguagem do romance também é muito complexa. Ao mesmo tempo em que encontramos falas do povo sertanejo (Riobaldo era jagunço e não tivera muito estudo), encontramos palavras de outras línguas, neologismos e relato poetizado.

Na narrativa Riobaldo se faz profundos questionamentos que no fundo, aparecem na mente de todos os homens. Indagações sobre o bem e o mal, Deus e o Diabo e a existência ou não de um ser superior são constantes nesta obra, como na vida de Guimarães. Em Grande Sertão: Veredas também temos o amor impossível. Riobaldo apaixona-se por seu companheiro Reinaldo, o que o deixa profundamente abalado. Entretanto só com a morte de Reinaldo é que Riobaldo descobre que seu amigo era uma mulher, chamada Maria Deodorina da Fé Bettancourt Marins. Além desta história de amor, o livro trás muitas outras sobre as aventuras de Riobaldo tendo como pano de fundo o sertão. Sobre o sertão diz Riobaldo: “Sertão –se diz- o senhor querendo procurar, nunca se encontra. De repente, por si, quando a gente não espera o sertão vem.”. O Grande Sertão: Veredas é considerada a maior obra de Guimarães Rosa, que recebeu com ela três grandes prêmios - o , o Carmem Dolores Barbosa e o Paula Brito - e se tornou um dos três maiores escritores da 3ª Geração Modernista, ao lado de Clarisse Lispector e João Cabral de Melo Neto. Em 1957, Guimarães candidatou-se pela primeira vez à Academia Brasileira de Letras, mas não foi aceito.

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Coletânea 2.pmd 36 29/05/07, 16:58 Seis anos depois do sucesso de Grande Sertão: Veredas,em 1961, Guimarães Rosa publicou mais um livro, constituído de 21 estórias (pequenos contos fictícios) que durante os anos de 1960 e 1961 foram publicados no jornal O Globo e na revista Senhor. Este livro de poucas páginas recebeu o simples nome de Primeiras Estórias.

Nesse livro encontramos diferenças marcantes com os três livros anteriores de Rosa. A narrativa curta e alguns contos como “O Espelho” mais se aproximam de ensaios da natureza estética ou científica que de contos. Eles mostram uma ruptura com as obras anteriores de autor. Entretanto, em alguns aspectos, Guimarães continuou inalterado. O tratamento artístico dado às palavras prosseguiu no mesmo caminho de Sagarana.

As personagens de primeiras estórias são todos seres inadaptados, que não se ajustam à sociedade, ou que possuem atitudes surpreendentes. A maior ênfase dos contos recai sobre crianças, que como Miguelim de “Campo Geral”, não compreendem o mundo adulto.

Apesar de ter sido visto com alguma reserva, Primeiras Estórias recebeu o prêmio Pen Clube Brasileiro.

Em 1962, Guimarães também assumiu a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras e no ano seguinte candidatou-se pela segunda vez à Academia Brasileira de Letras, sendo eleito para ocupar a vaga de seu amigo e ex- chefe do Ministério do Exterior, João Neves de Fontoura. Ainda em 1966, Guimarães Rosa participou da criação da Primeira Sociedade de Escritores Latino-

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Coletânea 2.pmd 37 29/05/07, 16:58 Americana, da qual se tornou vice-presidente. No ano seguinte, publicou mais um livro: Terceiras Estórias (Tutaméia), constituído de 40 estórias extremamente curtas, que haviam sido veiculadas anteriormente no jornal Pulso, uma publicação dedicada a médicos. No seu lançamento, o livro causou grandes inquietações nos leitores. Por que “Terceiras Estórias” se não houveram as “segundas”? As pessoas dividiram suas idéias sobre esta obra, uns achavam uma “anedota de abstração” como disse Guimarães em um dos quatro prefácios, mas outros acreditavam que era um novo momento da escrita do autor em que a metalinguagem seria predominante. Interessante nesse livro é o enredo muito tênue, como disse Assis Brasil em seu livro Guimarães Rosa: “apenas seqüências’, situações’, episódios’, atos ‘circunstanciais’ – a trama eliminada, a história, fica apenas a vida a expor- se, a entremostrar-se, neste painel de tutaméias”. Isso faz com que o leitor atento, pelo raciocínio complete a situação descrita dando-lhe continuidade. Assim, nesse livro deve haver uma participação ativa do leitor. A posse de Guimarães Rosa na Academia Brasileira de Letras ocorreu no dia 16 de novembro 1967. O escritor nunca manifestara grande interesse para ocupar tal cargo, mas acabou aceitando para dar glória a sua pequena cidade de Cordisburgo. A cerimônia de posse de Guimarães na Academia Brasileira de Letras fora um grande acontecimento, uma verdadeira peça literária. O discurso de Guimarães Rosa

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Coletânea 2.pmd 38 29/05/07, 16:58 comoveu a todos os presentes. O escritor rememorou seu antecessor e amigo João Neves da Fontoura, que se vivo, completaria 80 anos, e o poeta Álvares de Azevedo patrono de sua cadeira, a número 2. As palavras finais do discurso foram: “De repente, morreu: que é quando um homem chega inteiro, pronto, de suas próprias profundidades”. Passou para o lado claro... A gente morre para provar que viveu (...) Porém, que é o pormenor da ausência? As pessoas não morrem, ficam encantadas’’. E como se suas últimas palavras fossem um prenúncio, num domingo, o grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa se encantou. Na segunda-feira seguinte o corpo do escritor foi levado para a Academia Brasileira de Letras, onde foi exposto a visitação. Inúmeras pessoas foram dar o seu último adeus ao gênio das palavras, desde as figuras mais importantes da política até os mais simples anônimos. O sepultamento do autor se deu no mausoléu da Academia Brasileira de Letras no cemitério São João Batista. No mesmo ano de sua morte, Guimarães seria indicado para o prêmio Nobel, mas devido a sua morte, a iniciativa foi barrada. Dois livros de Guimarães foram publicados como obras póstumas: Estas Estórias e Ave, Palavra. Estas Estórias foi lançado em 1969 e reunia 5 textos já publicados pelo autor e 9 inéditos. Dos já publicados, três deles saíram na revista Senhor: “A Simples e Exata Estória do Burrinho do Comandante”, “Meu Tio, o Iauaretê” e “A Estória do

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Coletânea 2.pmd 39 29/05/07, 16:58 Homem Pinguelo”. Os outros dois eram as novelas: “Os Chapéus Transeuntes”-que saíra no volume Os Sete Pecados Capitais, que era composto por trabalhos de diferentes autores - e a reportagem poética “Com o Vaqueiro Mariano”, publicada originalmente no jornal Correio da Manhã. Os demais textos de Estas Estórias – “Páramo”, “Bicho Mau”, “Retábulo de São Nunca” e “Odar de Pedras Brilhantes” – haviam sido datilografados pelo escritor, mas como era seu hábito ainda deveriam ser revistos. Já o livro Ave, Palavra foi publicado em novembro de 1970 e reunia 56 textos publicados na imprensa entre 1947 e 1967 no final do livro seu organizador o professor Paulo Ronai inclui cinco crônicas – “Jardim fechado”, “O Riachinho Sirimim”, “Recados de Sirimim” e “As Garças” – que Guimarães preparava, pouco antes de morrer, para integrar um livro que se chamaria Jardins e Riachinhos. O título Ave, Palavra foi escolhido por Guimarães Rosa que o escolheu como uma miscelânea, ou seja, uma mistura de coisas diversas. Os textos do livro têm ambientação urbana, sendo que o autor se inspirou no tempo em que viveu na Alemanha. Os únicos textos que falam do sertão e de seus segredos são aqueles que iriam compor Jardins e Riachinhos. Enfim, Guimarães Rosa foi realmente um dos maiores escritores do Brasil. Sua vida foi realmente uma vida obra e sua obras uma obra da vida.

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Coletânea 2.pmd 40 29/05/07, 16:58 SEGUNDO LUGAR.

A Travessia em Guimarães Rosa. Márcio Rogério dos Santos.

Ele buscou na pura simplicidade a sofisticação. Deixando sua marca de trindade: o escritor, o lápis e o papel.

Uma homenagem a João Guimarães Rosa.

(Luis Fernando.)

O trabalho que ora se apresenta tem como objetivo apresentar a vida e obra do escritor João Guimarães Rosa que tem sido fonte de pesquisas entre estudiosos e admiradores da literatura brasileira. Falar de um grande escritor não é tão fácil quanto parece, principalmente quando se trata de ROSA, um dos maiores escritores da literatura brasileira, reconhecido internacionalmente pela sua obra Grande Sertão Veredas. Rosa, juntamente com outros escritores, incrementa o rol dos escritores da literatura contemporânea que surge após a Segunda Guerra. Época que marcava uma nova perspectiva para o Brasil - desenvolvimento econômico, democratização política e o surgimento de novas tendências artísticas.

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Coletânea 2.pmd 41 29/05/07, 16:59 Uma das primeiras mudanças surge com a geração de 45, cujo objetivo é renovar a pesquisa em torno da linguagem. Mais adiante, no final dos anos 50 e início dos 60, esse movimento conviverá com o Concretismo, que continuará com as pesquisas iniciadas pela geração anterior, contribuindo para abrir espaço para o cinema e a Bossa Nova, que revolucionou a Música popular brasileira retomando de certa forma as propostas do Modernismo de 22. Assim surge João Guimarães Rosa, este mineiro ilustre que desde cedo mostrou interesse por línguas e pelas coisas da natureza - bichos, plantas, insetos.

Joãozito, como era conhecido, nasceu em Codisburgo (MG) aos 27 de junho de 1908, filho do casal D. Francisca e seu Fulô. Aos sete anos começou a estudar francês por conta própria e logo adiante continuou seus estudos sob a supervisão do Frei Canísio Zoetmulder. Chegou a ser aluno do Grupo Escolar Afonso Pena, em Belo Horizonte, onde fez o primário, iniciou os estudos do secundário no Colégio Santo Antônio em São João Del Rei, onde permaneceu por pouco tempo e quando voltou a capital mineira ingressou no Colégio Arnaldo e iniciou seus estudos em alemão. Era exímio em tudo que fazia e por assim dizer, um poliglota, foi ele mesmo quem afirmou:

Falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do

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Coletânea 2.pmd 42 29/05/07, 16:59 lituânio, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.

Estudante de medicina, ingressou na Universidade Federal de Minas Gerais em 1925, com apenas dezesseis anos e três anos depois seu trabalho começou a ser conhecido, quando escreveu seus quatro primeiros contos para um concurso promovido pela revista Cruzeiro: Caçador de Camurças,Chronos Kai Anagke, O mistério de Highmore e Makiné, os quais foram premiados, por ora não os escreveu pelos mesmos motivos que mais à frente o consagrariam.

Com apenas 22 anos, casou-se com Lígia Cabral Penna em 27 de junho de 1930 e ainda no mesmo ano formou-se em medicina. Apesar de o seu casamento ter durado poucos anos teve duas filhas: Vilma e Agnes.

Guimarães Rosa foi exercer a profissão em Itaguara, pequena cidade que pertencia ao município de Itaúna (MG), onde permaneceu cerca de dois anos. Tempo este que proporcionou a oportunidade de conhecer raizeiros e receitadores, reconhecendo sua importância no atendimento aos pobres e marginalizados, a ponto de se tornar grande amigo de um deles, de nome Manoel Rodrigues de Carvalho, mais conhecido por “seu Nequinha”, que morava num grotão enfurnado entre morros, num lugar conhecido por Sarandi.

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Coletânea 2.pmd 43 29/05/07, 16:59 Essa figura mística, “Seu Nequinha” foi responsável pela criação do personagem Compadre meu Quelemém, espécie de oráculo sertanejo, personagem de Grande Sertão: Veredas.

Diante de sua incapacidade de por fim às dores e aos males do mundo numa cidade que não tinha nem energia elétrica,segundo depoimento de sua filha Vilma, o autor, sensível como era, acaba por afastar-se da Medicina. Contribuiu também para isso o fato de o escritor ter que assistir o parto de sua mulher, pois o farmacêutico e o médico da cidade vizinha de Itaúna só terem chegado quando Vilma já havia nascido.

Nos anos 30 chegou a participar de dois concursos literários, neles publicou: Magma, uma coletânea de versos, obra inédita que recebeu o prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras, com elogios do poeta Guilherme de Almeida e concorrendo ao prêmio Humberto Campos, Contos ( renomeado em 1946 como Sagarana) .

Tornou-se oficial-médico em 1933, em Barbacena e em um ano foi promovido a capitão. Na corporação militar, encontrou-se com o seu antigo colega de estágio na Santa Casa de Misericórdia, o então oficial-médico Juscelino Kubitschek de Oliveira, futuro presidente do Brasil. Em 1958, já presidente e conhecedor do brilhantismo de João Guimarães Rosa, o nomeou embaixador.

Este mineiro simples conheceu bem outras partes do mundo, as palavras lhe eram por demais importantes e como

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Coletânea 2.pmd 44 29/05/07, 16:59 sabia bem se utilizar delas passeou entre cargos importantes dentro e fora do país, sempre com sucesso e entusiasmo. Diplomata por concurso que havia realizado em 1934, foi cônsul em Hamburgo (1938- 1942); primeiro- secretário e conselheiro da embaixada em Paris (1942- 1944); chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura (1946); secretário da Delegação do Brasil à Conferência da Paz, em Paris (1948). Representante do Brasil na Sessão Extraordinária da Conferência da Unesco, em Paris (1948). Delegado do Brasil à IV Sessão da Conferência da Unesco, em Paris (1949). Em 1951, volta ao Brasil, sendo nomeado novamente como chefe de gabinete do Ministro João Neves da Fontoura. Depois,chefe da divisão de Orçamento (1953) e promovido a Ministro de primeira classe. Em 1962, assumiu a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras. Vivenciou realidades diferentes bem como histórias diferentes. Registrou paisagens e conheceu pessoas de variadas crenças e culturas e ainda assim, vemos estampada na sua obra as características de terra. Desbravar as Veredas de Guimarães é fornecer ao leitor conhecer uma nova linguagem, personagens e lugares desconhecidos, que à primeira vista parecem complexos, porém mais adiante veremos as aventuras e maravilhas jamais vistas antes. Sua genialidade tem deslumbrado as várias tendências da crítica e público. Em suas andanças pelos sertões mineiros em busca de material literário, sempre estava atento às suas anotações, e assim registrava os contos e memórias.

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Coletânea 2.pmd 45 29/05/07, 16:59 Segundo depoimento do próprio Manuelzão, grande amigo do escritor, durante os dias que passou no sertão, uma longa excursão que fez pelo Mato Grosso, Rosa pedia notícia de tudo e tudo anotava “ele perguntava mais que padre” -, tendo consumido “mais de 50 cadernos de espiral, daqueles grandes”, com anotações sobre a flora, a fauna e a gente sertaneja, usos, costumes, crenças, linguagem, superstições, versos, anedotas, canções, casos, estórias. Com as informações em mão escreveu o conto “Com o vaqueiro Mariano”. Este livro integra o livro póstumo Estas histórias (1969), sob o título “Entremeio: Com o vaqueiro Mariano”.

Partindo desse principio, poderemos verificar o que aponta PEREIRA (1996):

A memória preserva os contos orais e, no mesmo cadinho, mistura informações lidas, vistas ou ouvidas, noções acumuladas por várias gerações, que se juntam aos experimentos atuais, concretos para o narrador, no momento de contar. Dessa substância origina-se uma alquimia feita de conselhos, sugestões, práticas, ensinamentos e normas de vida que, além de matéria das narrativas, se transforma no suporte da consciência de si da coletividade. Fundem-se aí, também, os elos dessa cadeia de narradores que, através dos contos, revela sua própria óptica do processo histórico em que figuram como coadjuvantes esquecidos.

A era Roseana foi estabelecida a partir da prosa regionalista que surgiu durante o Romantismo e ressurgiu com o Pré-Modernismo. Essa tendência, uma das mais

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Coletânea 2.pmd 46 29/05/07, 16:59 duradouras da Literatura brasileira, que viria a ser tomada na terceira fase modernista, entretanto com grandes inovações temáticas e lingüísticas.

Estreou nas letras em 1946, com o lançamento de Sagarana, uma obra de cunho regionalista, título criado pelo próprio autor, um neologismo híbrido, composto por um radical germânico, “saga”, pra designar narrativas em prosa, histórica ou lendária, e o sufixo tupi-guarani, “rã ou rana”, que significa ao feitio de, à semelhança de. Tal publicação levou o escritor ao renome, em virtude da originalidade de sua linguagem e técnicas narrativas, que apontavam uma mudança substancial na velha tradição regionalista.

Em 1956, reapareceu com duas obras- primas no mercado editorial com a novela Corpo de Baile e a publicação do romance Grande Sertão: Veredas que causou grande impacto no ponto de vista da literatura brasileira. A crítica e o público ficaram repartidos, entre louvores apaixonados e ataques ferozes, tornando-se um sucesso comercial, além de ter recebido três prêmios nacionais: Machado de Assis, do Instituto Nacional do livro; Carmem Dolores Barbosa, de São Paulo e Paula Brito do Rio de Janeiro.

Desta forma, ele se confirmou junto com Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto, como os melhores romancistas da terceira geração modernista brasileira.

O autor publicou ainda em 1962: Primeiras Estórias e Tutaméia, Terceiras estórias (1967). Atualmente a obra Copo de Baile é publicada em três partes: Manuelzão e

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Coletânea 2.pmd 47 29/05/07, 16:59 Miguilim, No Urubuquaquá , no Pinhém e Noites do Sertão, Ave, Palavra, diversos (1970); além de obras em colaboração: O Mistério dos MMM (1962) e Os Sete Pecados Capitais (1964).

O autor era um escritor incansável, chegou a candidatar duas vezes à Academia Brasileira de Letras: em 1957 obteve apenas 10 votos, sucedeu a João Neves da Fontoura na Cadeira número 2, para a qual foi eleito em 6 de agosto de 1963 e recebido em 16 de novembro de 1967, pelo acadêmico de Melo Franco. Eleito por iniciativa e indicação de seus editores alemães, franceses e italianos, no dia de sua posse afirmou: “... a gente morre é para provar que viveu”, aquelas palavras soaram como pressentimento, um prêmio que durou tão pouco tempo, pois três dias depois veio a falecer com seus 59 anos no Rio de Janeiro.

Rosa, um fumante compulsivo, começou a apresentar problemas de saúde que se complicariam mais tarde, hipertensão arterial, problemas cardiovasculares, excesso de peso e vida sedentária.

Guimarães Rosa revolucionou a prosa regionalista brasileira, seus contos, não só apresentando riquezas de linguagem como também traduzem uma profunda visão do ser humano. Ele foi capaz de recriar, na literatura, a fala do sertanejo não só em nível de vocabulário, como também na sintaxe e na melodia das frases. Explorou as técnicas do foco narrativo em primeira pessoa, do discurso direto e do indireto livre. A língua falada do sertão assume uma forte presença em toda sua obra.

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Coletânea 2.pmd 48 29/05/07, 16:59 Vemos que tudo que ele criou, foi devido um trabalho incansável em busca de informações, observações e incansáveis pesquisas lingüísticas.

Observemos o fragmento abaixo retirado do conto “Sarapalha”, de Sagarana, que mostra de forma clara, o conhecimento do autor em relação à vegetação e língua locais:

Ai a beldroega, em carreirinha indiscreta- ora-pro- nobis!ora-pro-nobis!-apontou caules ruivos no baixo das cercas das hortas, e, talo a talo, avançou.Mas o cabeça-de-boi e o capim mulambo, já donos da rua, tangeram-na de volta; e nem pôde recuar, a coitadinha rasteira, porque no quintal os joás estavam brigando como o espinho-agulha e com o gervão em flor. Vemos dessa maneira o ofício desse grande escritor, que tece através dos “retalhos” da história a “trama da lembrança” dos afazeres de um povo, que, de maneira simples construiu sua história. Como ainda pode ser percebido no trecho encontrado em No Urubuquaquá, no Pinhém:

...- Mulher na roca e no tear, fiando e tecendo seu algodão, sentada em esteirinha de buriti. Moça com o camocim à cabeça, na rodilha. Mulher velha, com um rosário no pescoço. Mulher velha cruzando bilros. Geralista caçador. Um que mangabeia. Veredeiro com chapéu-de-couro... Uns que vigiam seu chiqueirinho com o porco, de de dentro de sua casinha choupana, toda cheia com três dúzias de espigas de milho.

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Coletânea 2.pmd 49 29/05/07, 16:59 O escritor não só inventou, mas buscou uma fonte de extração para formular suas obras, não que tivesse a intenção de utilizar uma linguagem realista do sertão mineiro de forma literal. Sua preocupação vai além: tomando por base a língua regional, ele recria sua própria língua, a partir de termos em desuso, da criação de neologismos, do empréstimo de palavras e da exploração de novas estruturas sintáticas. Essas novas palavras causam um estranhamento aos leitores, como já dizia o crítico português Oscar Lopes:

As metáforas de Guimarães Rosa são tantas e tão originais que produzem um efeito poético radical: o efeito de ressaca do significado corrente. A gente lê, por exemplo, que ‘o sabiá veio molhar o pio no poço, que é bom ressoador’, e então fica apenas com uma admirável vocação acústica; as palavras molhar e poço descongelam-se, libertam-se da sua hibernação dicionarística ou corrente e perturbam como um reachado todavia surpreendente.

Com isso ele utilizava a linguagem coloquial e os termos regionais, assim como a construção de termos sintáticos típicos da língua expressada, abrindo caminho para a criação de uma nova língua: o Mineirês.

Ou seja, o escritor preserva uma linguagem que exalta e resgata o modo de falar das pessoas e de sua terra, mantendo as origens, não se atendo aos formalismos lingüísticos gramaticais, utilizando-se de termos como “caçôa”, “uai”, “arrecebo”, “similhante”, que fogem aos parâmetros formais da língua.

A respeito disso ele afirmou:

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Coletânea 2.pmd 50 29/05/07, 16:59 Escrevo e creio que este é o meu aparelho de controle; o idioma português, tal como usamos no Brasil: entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros. A gramática e a chamada filologia, ciência lingüística, foram inventados pelos inimigos da poesia.

É importante ressaltar que o misticismo é outro aspecto importante em sua obra. O autor Carlos Drummond em seu poema-homenagem aponta da seguinte maneira:

Tinha parte com ... o diabo”? Ou era ele a “ponte entre o sub e o sobre”, dividido entre os que lutam “de antes do princípio”, Deus e o diabo, o Bem e o Mal?

Em Guimarães Rosa transparece todo o misticismo do sertão, uma religiosidade quase medieval, baseada apenas nos dois extremos e marcada pelo medo, pelo pavor, em que há até mesmo a preocupação de não invocar o demo, para que ele não “forme forma”; daí o diabo ser tratado por “o que não existe” ou “o que não é, mas finge ser” e expressões semelhantes.

Assim é o sertão de Rosa: ora particular, pequeno e próximo; ora universal e infinito, pois “o sertão é o mundo” ou, melhor ainda, “o sertão é dentro da gente”.

Que nasci no ano de 1908, você já sabe (...) Minha biografia literária não deveria ser crucificada em anos. As aventuras não têm tempo, não tem princípio nem fim. E meus livros são aventuras, para mim são minha maior aventura. Escrevendo descubro sempre um

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Coletânea 2.pmd 51 29/05/07, 16:59 novo pedaço do infinito. Vivo no infinito, o momento não conta. Vou-lhe revelar um segredo: creio já ter vivido uma vez. Nesta vida, também fui brasileiro e me chamava João Guimarães Rosa. Quando escrevo repito o que já vivi antes (...) Como escritor, não posso seguir a receita de Hollywood, segundo a qual é preciso sempre orientar-se pelo limite mais baixo do entendimento. Portanto, torno a repetir: não do ponto de vista filosófico e sim do metafísico, no sertão fala-se a língua de Goethe, Dostoievski e Flaubert, porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão (...). No sertão, o homem é o ‘eu’ que ainda não encontrou um ‘tu’.

Em Grande Sertão: Veredas, o narrador Riobaldo afirma:

O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu Cristo Jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucúia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá - fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniões... O sertão está em toda a parte.

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Coletânea 2.pmd 52 29/05/07, 16:59 Na verdade, nota-se em suas obras uma enorme capacidade de operacionalizar criativamente as memórias, contos permeados por elementos da natureza, desejos, medos e anseios do homem, além de usar princípios da metafísica, da psicanálise e ideologias. Nada lhe escapava, resultando num trabalho árduo e minucioso.

Ao contar suas histórias, Rosa recorre à linguagem poética, utilizando-se de metáforas, aliterações, imagens, intertextualidade.

Dessa perspectiva, pode-se afirmar que Rosa constrói um texto polifônico, isto é, verifica-se a presença de várias vozes no texto, uma vez que a polifonia se constrói na articulação de instâncias de enunciação envolvendo enunciadores em tempos e espaços constituídos na situação de enunciação. Tais recursos são muito bem trabalhados nas mãos de Rosa, que como um artesão busca a perfeição em cada obra publicada.

Tais recursos podem ser verificados no verso de Tutaméia: Comprei uns óculos novos, óculos dos mais excelentes não têm aros, não têm asas, não tem grau e não têm lentes... O mesmo pode ser observado em Burrinho Pedrês:

As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, eu berro queixoso

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Coletânea 2.pmd 53 29/05/07, 16:59 do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...

Este pequeno fragmento sugere o movimento de marcha dos bois. É possível perceber que muitas palavras estão apoiadas no ritmo e na pontuação as quais poderiam estar dispostas em versos de redondilhas menores.

Nada nos textos de Guimarães Rosa é gratuito. Os mínimos detalhes podem ter um significado importante na compreensão global do texto. Os nomes, por exemplo, são criteriosamente pensados.

No conto Desenredo (1967) encontramos a seguinte passagem:

(...) Jó Joaquim, derrubadamente surpreso, no absurdo desistia de crer, e foi para o decúbio dorsal, por dores, frios, calores, quiçá lágrimas, devolvido ao barro, entre o inefável e o infando. Imaginara-a jamais a ter o pé em três estribos; chegou a maldizer de seus próprios e gratos abusufrutos.

O personagem Jó do conto acima se assemelha ao personagem bíblico na medida em que ambos são caracterizados pela paciência e sofrimento.

Rosa foi muito astuto ao escolher o nome do complexo personagem de Grande Sertão Veredas: Riobaldo, ou seja, “rio”, razão suprema de sua existência, no sentido do qual o personagem corria, “baldo”: falho. Frustração completa, na linguagem antiga baldo quer dizer “sem modo de vida um

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Coletânea 2.pmd 54 29/05/07, 16:59 herói problemático, através do próprio sentido etimológico do seu nome, rio baldo, falho, infecundo”.

Esta grande obra-prima é uma das mais importantes da literatura brasileira. O personagem acima, Riobaldo, é seu narrador-protagonista, agora um velho e pacato fazendeiro que faz um relato de sua vida a um interlocutor, um doutor que nunca aparece na história, mas cuja fala é sugerida pelas respostas de Riobaldo.

A narração é um monólogo em que Riobaldo traz à tona suas lembranças em torno de lutas sangrentas de jagunços, perseguições e emboscadas nos sertões de Minas, Goiás e sul da Bahia, bem como suas aventuras amorosas.

Riobaldo faz suas travessias ao longo da história: a travessia do rio São Francisco; a travessia do sertão, do amor e medo, da morte, do diabo. Nelas conhece três amores: Otacília, Nhorihá e Diadorim, sendo este último o mais importante e impossível: Diadorim, valente jagunço e melhor amigo de Riobaldo, que entra na guerra para vingar a morte de seu pai.

Diadorim consegue cumprir sua passagem, mata Hermógenes, mas acaba morrendo e somente nesse momento Riobaldo consegue entender seus sentimentos em relação ao personagem: Mas Diadorim, conforme diante de mim estava parado, reluzia no rosto, com uma beleza ainda maior, fora de todo comum. Os olhos-vislumbre meu-que cresciam sem beira, dum verde dos outros verdes, como o de nenhum pasto. (...) De que jeito eu podia amar um

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Coletânea 2.pmd 55 29/05/07, 16:59 homem, meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas armas, espalhado rústico em suas ações?! Me franzi. Ele tinha a culpa? Eu tinha a culpa?

Assim é Guimarães Rosa, criador de mundos mágicos, de universos, de demônios, de loucos, de titãs, de fadas, buscou seus personagens entre crianças açoitadas pelo sofrimento, Miguilim - o Dito, e outros com nomes tão incomuns: Urigem, Xaviel, Qustraz, Qualhacoco, Guégue, Nominodêmine, Jubileu Santos Óleos, Nhorinhá, Doroalda , além da galeria dos grandes heróis, são eles: Joãozinho Bem-Bem, Riobaldo, Diadorim, Medeiro Vaz e Joca Ramiro.

Até mesmo os animais elencam papéis de personagens portadores de sabedoria, são possuidores de transcendência, principalmente o gado, como encontramos em Sagarana (2001):

... Corta ao meio o grupo de vacas leiteiras, já ordenhadas, tranqüilas com as crias ao pé. E desvia- se apenas da Açucena. Mas, também, qualquer pessoa faria o mesmo, os vaqueiros fariam o mesmo, o Major Saulo faria o mesmo, pois a Açucena deu à luz, há dois dias, um bezerrinho muito galante e é bem capaz de uma brutalidade sem aviso prévio...

O mesmo pode ser observado no conto Seqüência (in Primeiras Estórias,1988: 60)

Na estrada das Tabocas, uma vaca viajava. Vinha pelo meio do caminho, como uma criatura cristã. A vaquinha vermelha, a cor grossa e afundada(...)

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Coletânea 2.pmd 56 29/05/07, 16:59 Na obra, Primeiras Estórias, encontramos um universo enigmático, composto por 21 contos, um mundo povoado por crianças, loucos, jovens valentões e idosos. Tais personagens rondam ao redor de fatos estranhos que as colocam em situações extremas, as quais vivem situações concretas, mas com profundo valor transcendente. O espaço, como nas demais obras, remete ao sertão mineiro: “Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor –de Deus”. (A Menina de Lá,1988:22)

A obra apresenta um homem em busca de sua existência, diante de suas angústias e dramas em busca de seu destino. Uma literatura repleta de significados metafísicos e arquetípicos.

Certa vez o autor afirmou:

Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens.

Para Rosa o rio tinha um significado profundo como a alma do homem, como em “A Terceira Margem do Rio”, um conto de denso teor metafísico. Na estória, um simples, mas sofrido homem não admite que o “rio da vida” não tenha uma “terceira margem”. Então começa uma busca em navegar o rio até o fim de sua vida, porém depois de muitas tentativas

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Coletânea 2.pmd 57 29/05/07, 16:59 em vão, a família deixa o local. O filho, também narrador, é um único a continuar tentando e assim pede aos gritos para substituí-lo naquela “busca”, como podemos notar em: “Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!...” , até que seu pai transfigurado reaparece, o narrador foge apavorado, gesto este que acarreta em graves seqüelas físicas e psicológicas. O conto nos leva a reflexão a respeito de nossa existência, diante da saudade daqueles que partiram, pois ao final o filho, já envelhecido com as bagagens da vida, falta-lhe a coragem para o salto. Carrega, por isso, a vida como a um fardo, fazendo a si mesmo uma dura pergunta: “sou homem depois desse falimento?”, implora para que no final de sua vida o depositem numa canoa: “ e, eu, rio abaixo, rio afora, rio adentro- o rio” .. Tal obra comprova um espaço formidável e mítico, sem fronteiras geográficas bem definidas, mas onde simbolicamente tudo é noite, traiçoeiro, irônico, trágico e ancestral. É importante ressaltar que o conto em questão, a Terceira Margem do rio, estreou nos cinemas brasileiros em fevereiro de 1994, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, após grande expectativa entre público e crítica.. É possível ainda perceber a dimensão intertextual de seus contos, como em Famigerado. O texto é repleto deste recurso, no seu início “Foi de incerta feita...”, que remete aos contos das histórias infantis, o cenário e os personagens

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Coletânea 2.pmd 58 29/05/07, 16:59 são semelhantes a um faroeste americano. O bandido da história, Damázio, estava armado, enquanto que o mocinho, médico, corria perigo: “Eu não tinha armas ao alcance. Tivesse também não adiantava com um pingo no i, ele me dissolvia”...., porém no conto terminam o duelo sem que houvesse tragédia. O autor ainda neste conto utiliza provérbios e ditos populares nas falas dos personagens: “Era para se empenhar a barba...”, ... “Só pra azedar a mandioca”... Recurso também verificável em Desenredo: “De sofrer e amar a gente não se desafaz”, que apesar de não ser provérbio, apresenta um tom proverbial. Ainda no mesmo conto, observa-se a astúcia do autor ao utilizar a metalinguagem, ou seja, ele ressalta o significado da palavra “Famigerado”, quando Damázio pergunta “- o que é mesmo que é famigerado...faz-me- gerado...falmisgerado...familhasgerado...?” Ficando o narrador com a tarefa de responder “O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.- Famigerado é inóxio, é célebre, notório, notável...” Vemos assim que o próprio conto explica através da linguagem o significado da palavra “Famigerado”. No Conto “A Menina de Lá”, apesar e de ser narrado em terceira pessoa, há um momento em que ele, o narrador, se transforma em personagem: “conversávamos agora”, ou seja, funciona como narrador- testemunha, que é onisciente de tudo que acontece na trama. O nome do conto, “A Menina de Lá”, permite compreender ao longo da leitura que Nhinhinha, não

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Coletânea 2.pmd 59 29/05/07, 16:59 pertencia ao cá, terra, mas lá, céu, isso se dá através das pistas e palavras como: céu, estrelinhas, luas, alturas, aves, mortos, saudade. Ela era dotada de muitos poderes, dentre eles o de profetizar a própria morte: “Eu quero ir para lá (...) falava-se de parentes já mortos, ela riu: Vou visitar eles...” Na passagem, verificamos o desejo da menina, ou seja, queria encontrar com aqueles de quem sentia saudades, um confronto entre os dois mundos pelos quais somos subjugados. Em todas as obras, podemos ver ROSA, este grande e ilustre mineiro que de maneira simples e espontânea, busca recuperar uma história já esquecida com o passar do tempo, inserindo, para tanto elementos da oralidade, palavras e expressões que nunca antes foram ouvidos, isto é, conta as pessoas, os lugares e os costumes que construíram toda a razão de sua existência: escrever a história e o insondável coração humano. Dessa forma, a partir do seu trabalho, faz com que aqueles que não conhecem a história do lugar, passe a conhecê-la e os outros que tiveram o prazer de viver os “bons tempos”, tragam de volta, à memória, lembranças do vivido deixando vir à tona recordações que, muitas vezes, põem em xeque a história e a cultura oficiais de Minas Gerais. Foi insistente e perspicaz, não parou até conseguir seu objetivo, levar a cultura e conhecimento a outros povos até ser reconhecido. Conseguiu vencer as críticas, fazendo assim sua travessia, como disse NUNES (In O Dorso do Tigre, 1976):

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Coletânea 2.pmd 60 29/05/07, 16:59 Os espaços que se entreabrem, na obra de Guimarães Rosa, são modalidades de travessia humana. Sertão e existência fundem-se na figura da viagem , sempre recomeçada - viagem que forma, deforma, e transforma e que, submetendo as coisas à lei do tempo e da causalidade, tudo repõe afinal nos seus justos lugares. Em suma, o escritor utiliza-se da voz para lembrar o passado, e essa tem uma função importante desde os tempos medievais. ZUMTHOR (1993:21) expõe que: “Uma longa tradição de pensamento, é verdade, considera e valoriza a voz como portadora da linguagem, já que na voz e pela voz se articulam as sonoridades significantes”. Assim, Guimarães Rosa, através de suas estórias, articula toda significância do cenário sertanejo em sua voz poética de um contador de “raiz”. Bem-aventurado o povo que não esqueceu a sua história, que ama a sua terra, que sabe recordar e exaltar os seus heróis e servidores, que sabe honrar os seus antepassados e os seus feitos. Felizes os homens e os povos que não fizeram uma ruptura com a história e com o passado e que são capazes de sentir no presente uma resultante da trama de esperanças, de sacrifícios, de ideais e de conquistas do passado, enquanto no presente projetam, arquitetam e constroem o futuro. Infelizes são os povos sem história ou dela desvinculados, pois serão sempre povos sem vocação, sem ideal. (Trecho do sermão do Monsenhor Benedito Mário Calazans, na Missa solene, 04 de Janeiro de 1975 pela passagem dos 100 anos de fundação do jornal “O Estado de São Paulo”).

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Coletânea 2.pmd 61 29/05/07, 16:59 REFERÊNCIAS: COUTINHO, Afrânio (dir). A Literatura no Brasil. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Global, 1997.

ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. 47. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.

______.No Urubuquaquá, no Pinhém (Corpo de Baile). 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteiro, 2001. ______. Grande Sertão: Veredas. 20. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

______. Noites do Sertão (Corpo de Baile). 9. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

______. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

PEREIRA, Vera Lúcia Felício. O Artesão da Mmemória no Vale do Jequitinhonha. Belo Horizonte: UFMG/PUC- MINAS, 1996, p.31,68.

ZUMTHOR, Paul. A Letra e a Voz: a “Literatura” Medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

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Coletânea 2.pmd 62 29/05/07, 16:59 TERCEIRO LUGAR.

JOÃO: O SERTÃO VIROU MUNDO!

Jonathan de Freitas Souza.

O prosador da vida do Genial João Guimarães Rosa é uma criança, não se estranhe, pois tudo sabe ele, levando em conta que os livros são eternos, e que ele viveu junto com os pensamentos do escritor que foi e sempre será absolutamente genial na criação de contos, novelas, romance, entre outros; prosear sobre a vida e a obra daquele que antes de morrer se tornou um imortal na Academia Brasileira de Letras. Miguilim, que só veio a sair de seu criador para empenhar em compreender as pessoas e coisas que o cercam, é o convidado que vive em um lugarejo das Gerais, o Mutum, para prosear sem inventar, sobre aquele que brincava de reinventar as palavras, usando termos e expressões extraídos de várias línguas modernas e clássicas antigas, adaptando-as, pois era um poliglota além de diplomata. Miguilim, que até hoje é uma criança, começa:

De ante mão vos digo que a medicina não foi o seu forte, nem a diplomacia, atividade a que se dedicou a partir de mil novecentos e trinta e quatro, levado pelo domínio e interesse por idiomas, e a dimensão de seu brilho vai além das fronteiras do Brasil, onde livros seus foram traduzidos para

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Coletânea 2.pmd 63 29/05/07, 16:59 os mais importantes idiomas: o francês, o inglês, o alemão... Aliás! O conhecimento de línguas estrangeiras seria seu aliado, especialmente no que diz respeito à tradução da sua obra, já que o escritor mineiro se notabilizou pela invenção de vocábulos, além do registro da linguagem sertaneja brasileira, inacessível a tradutores estrangeiros.

João Guimarães Rosa, o Joãozito da infância em Cordisburgo, desde pequeno já mostrava seu talento para lidar com a linguagem. Nasceu em um município sertanejo de Minas, sertão o qual nunca deixou de ser retratado misticamente em suas obras. O Sertão de todos: dos jagunços, dos fazendeiros, dos cantores, dos loucos, e até mesmo das lendas e crendices da cultura popular. Prosador que foi a fundo, que analisou o psicológico de suas criações, para revelar seus dramas e angústias, e os problemas de todos os homens: o destino, a existência ou não de Deus, o significado da morte, a luta entre o bem e o mal... superstições. Guimarães Rosa passou por uma experiência que detonou seu lado supersticioso, durante a Segunda Guerra, onde foi salvo da morte porque sentiu, no meio da noite, uma vontade irresistível, segundo suas palavras, de sair para comprar cigarros, e quando voltou, encontrou a casa totalmente destruída por um bombardeio. A partir daí a superstição e o misticismo acompanhariam o escritor por toda a vida. Ele acreditava na força da lua, respeitava curandeiros, feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que

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Coletânea 2.pmd 64 29/05/07, 16:59 pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos, que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres humanos e animais. Aconselhava os filhos a terem cautela e a fugirem de qualquer pessoa ou lugar que lhes causasse algum tipo de mal estar. Ah! Vamos deixar isto de lado porque graças a Deus ele foi salvo e pode nos deixar uma herança de magníficas obras... sem deixar faltar a superstição, e as lendas do maravilhoso sertão ora mineiro, ora nordestino, com uma geografia brilhante. Rosa, desde menino, brincava de imaginar intermináveis estórias, colocando seus personagens e cenas nas mais variadas cidades e países, fato que o acompanhou durante toda sua vida, pois mais tarde levou-o a dizer que a inspiração é um estado de transe, que só escrevia atuando. E, confessou à filha Vilma que quando estava dormindo, às vezes, sonhava com uma estória completa, acordava e ia escrevê-la. Um fato magnífico, que embora consciente dos perigos que enfrentava, foi que ele e sua segunda mulher, D. Aracy, a qual conhecerá sete anos antes, protegeram e facilitaram a fuga de judeus perseguidos pelo Nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, onde Guimarães Rosa, na qualidade de Cônsul Adjunto em Hamburgo, concedia vistos nos passaportes dos judeus, facilitando sua fuga para o Brasil. Os vistos eram proibidos pelo governo brasileiro e pelas autoridades nazistas, exceto quando o passaporte mencionava que o portador era católico. Sabendo disso, a mulher do escritor, D. Aracy, que preparava todos os papéis, conseguia que os

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Coletânea 2.pmd 65 29/05/07, 16:59 passaportes fossem confeccionados sem mencionar a religião do portador e sem a estrela de Davi, que os nazistas pregavam nos documentos para identificar os judeus. Em reconhecimento a essa atitude, o escritor e a diplomata, sua mulher, foram homenageados em Israel, em abril de mil novecentos e oitenta e cinco, com a mais alta distinção que os judeus prestam a estrangeiros - o nome do casal foi dado a um bosque que fica ao longo das encostas que dão acesso a Jerusalém. A concessão da homenagem foi precedida por pesquisas rigorosas com tomada de depoimentos dos mais distantes cantos do mundo onde existem sobreviventes do Holocausto, sendo assim a forma encontrada pelo governo israelense para expressar sua gratidão àqueles que se arriscaram para salvar judeus perseguidos pelo Nazismo. Nos arquivos do Museu do Holocausto, em Israel, existe um grosso volume de depoimentos de pessoas que afirmam dever a vida ao casal Guimarães Rosa. Segundo D. Aracy, que compareceu a Israel por ocasião da homenagem, seu marido sempre se obteve a comentar o assunto já que tinha muito pudor de falar de si mesmo. Apenas dizia que se não fizesse, acabariam morrendo, e ficaria com um peso na consciência. Iremos agora onde tudo começou, no dia vinte e sete de junho de mil novecentos e oito, lá para o lado de Curvelo, Sete Lagos, das Minas Gerais, e bem perto da Gruta de Maquiné.

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Coletânea 2.pmd 66 29/05/07, 16:59 Naquele dia nascia o célebre João Guimarães Rosa, primeiro dos seis filhos de dona Francisca Guimarães Rosa e de Floduardo Pinto Rosa, mais conhecido por “Seu Fulô”. Com menos de sete anos, iniciou seus estudos primários no Mestre Candinho, em Cordisburgo, e começou a estudar francês sozinho, por conta própria, quando ganhou de um viajante, amigo de seu pai, uma gramática e um dicionário para ler revistas francesas que chegaram à cidade, mas somente com a chegada do Frei Esteves, frade franciscano, deu continuação ao Francês, e aos seis anos leu o primeiro livre em francês, Les Femmes Qui Aiment. Florduardo Pinto Rosa, genitor do Grande Rosa, “Seu Fulô”, abastado negociante e contador de estórias, homem de escasso estudo, inteligência aguda e memória louvável; tinha uma venda, que era freqüentada pela gente sertaneja, especialmente por vaqueiros que conduziam boiadas a Cordisburgo para embarque nos trens da Central do Brasil com destino a Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo; e a seu contragosto, Joãozito, menino calado, sossegado ... calmo, mas observador; ficava a escutar a um canto do estabelecimento as conversas e as estórias contadas pelos vaqueiros enquanto comiam, bebiam e descansavam. Mais tarde, porém, “seu Fulô”, em muito contribuiria para a elaboração dos livros do primogênito, fornecendo-lhe rico material representado por estórias, casos, relatos de caçadas, cantigas, informação sobre

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Coletânea 2.pmd 67 29/05/07, 16:59 crimes e demandas, e muitas outras coisas vistas e ouvidas na roça, das Minas Gerais. Depois de mais experiência, Guimarães Rosa veio a falar que não gostava de recordar sua infância, porque era um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas lhe incomodando, estragando os prazeres ... um excesso de adultos, mesmo os mais queridos, ao modo de “soldados e policiais do invasor”, em um lugar já ocupado. Dizia ele que foi rancoroso e revolucionário, gostava de estudar sozinho e de brincar de geografia, e que o melhor de tudo só começou quando conquistou algum isolamento, com a segurança de poder fechar-se num quarto, deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances; botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas vistas e ouvidas. Quando pequeno, gostava de armar alçapões para apanhar sanhaços; puxar sabugos de espigas de milho, fazendo-os de boizinhos de carro, atrelando um sabugo branco com outro vermelho, e mais uma junta de bois pretos - sabugos enegrecidos ao fogo. Que maravilha de distrações infantis! Prendia formiguinhas em ilhas, que eram pedras postas num tanque raso, unidas por pauzinhos, pontes para as formiguinhas passarem. E por gostar de Geografia, aproveitava um fiozinho d’água, que vinha do posto das lavadeiras, e mudava-lhe duas vezes por dia o curso, fazendo-o de Danúbio ou de São Francisco, ou de Sapakral-lal – velho nome inventado – com todas as curvas dos ditos, com as cidades marginais marcadas por grupos

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Coletânea 2.pmd 68 29/05/07, 16:59 de pedrinhas. Genial! Brincadeiras que não ficam atrás de videogame nenhum. Cordisburgo, que já foi o Arraial do Saco dos Cochos, era assim chamado em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus, pois a etimologia vem do hibridismo cordis, do latim, que significa coração; e burgo, do alemão, que significa vila ou cidade. E, Seu tio Vicente Guimarães, dois anos apenas mais velho que Rosa, disse que a posição preferida de seu sobrinho para a leitura era sentado no chão, de pernas cruzadas, com o livro aberto sobre elas, curvado até bem próximo deste e com dois pauzinhos nas mãos, batendo sobre as páginas, ora um, depois o outro, compassadamente, em ritmo variado, ligeiro ou mais lento, conforme na leitura se movesse o pensamento. Essa preocupação com o ritmo do discurso, desde cedo manifestada, ajudaria a compor, mais tarde, juntamente com outros atributos, a magistral prosa- poética roseana. Por conta de ler curvado até bem próximo dos livros, o Dr. Lourenço, do Curvelo, descobriu a miopia do garoto. Situação relatada mais tarde, no episódio final da novela Campo Geral, a esplêndida novela de abertura de Corpo de Baile, que nos traz muito do ambiente de meninice do escritor onde se detém na investigação da intimidade de uma família isolada no sertão, destacando-se a figura do menino Miguelim. Quem será este? Hehehe... E o seu desajuste em relação ao grupo familiar; surge como uma fábula do despertar do

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Coletânea 2.pmd 69 29/05/07, 16:59 auto-conhecimento e da apreensão do mundo exterior, onde o esplendor de um mundo surgido de repente através dos óculos. Mas, só em Belo Horizonte, aos nove anos incompletos, Rosa começou a usar óculos. Ele sempre foi aluno excelente, surpreendendo os professores pela inteligência e aplicação. Seus primeiros textos foram jornais feitos à mão, escritos quase sempre em folhas de papel de embrulho da venda do pai, sendo ele o diretor e único redator. Cada número trazia artigo, conto, noticiário, seção humorística e crítica de costumes sociais. Nenhum exemplar foi guardado. Também escrevia cartas para os irmãos, com charadas cheias de logogrifos, tipo de enigma ou adivinhação em que a seqüência das letras de uma palavra deve ser alterada para se chegar à resposta certa, e desenhos horográficos que irá manter por toda a vida, dando futuramente as indicações para Poty, primeiro e único ilustrador de todas as suas, e que se emocionou ao reconhecer, nos poemas de Magma, o estilo inigualável do amigo de juventude. Rosa desconfiava que era um individualista feroz, mas disciplinado. Com aversão ao histórico, ao político, ao sociológico. Para ele a vida neste planeta é caos, queda, desordem essencial, irremediável aqui, tudo fora de foco. Guimarães Rosa viveu em Cordisburgo durante quase os seus primeiros dez anos de vida, onde em mil novecentos e dezoito foi morar com o avô e padrinho Luís Guimarães, em Belo Horizonte, onde foi matriculado

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Coletânea 2.pmd 70 29/05/07, 16:59 no primeiro ano ginasial do Colégio Arnaldo, onde estudaram também Carlos Drummond de Andrade e Gustavo Capanema; o Colégio, de padres alemães, fez com que imediatamente, iniciasse o estudo do alemão, que aprendeu em pouco tempo. Dos dez aos quatorze anos colecionou insetos, borboletas; amava os animais, aprendeu a conhecê-los intimamente, e a sua obra mostra bem os profundos conhecimentos que tem da matéria. Quando ia a Cordisburgo, pelas férias, explorava os matos, à procura de cobras. Antes dos dezesseis, Rosa obteve licença para freqüentar a Biblioteca da Cidade de BH, que embora o seu grande amor era o estudo, não desprezava os esportes, principalmente futebol, mas foram as línguas a sua principal paixão - estuda-as com dedicação, sem se descuidar das respectivas gramáticas; outra matéria de sua predileção foi a História Natural. Lia bastante, tendo conhecido Os Sertões, de , ainda nos bancos escolares. Entretanto, o estilo árido, difícil para a sua idade, fazia-o pular páginas. Só muito tempo depois, quando trabalhava no livro Sagarana, é que o releu devidamente. Quando tinha dezesseis anos, terminados os preparatórios, Guimarães Rosa matriculou-se na Faculdade de Medicina de Belo Horizonte, fundada em mil novecentos e onze; passou a chamar-se, a partir de mil novecentos e vinte e sete, Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais (Faculdade da UMG);

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Coletânea 2.pmd 71 29/05/07, 16:59 e em mil novecentos e sessenta e cinco passou a vigorar a denominação Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (Faculdade de Medicina da UFMG). Não sabia ele que faltava pouco para ele expressar um lirismo impressionante, que seria repetido quarenta e um anos depois por ocasião de sua posse na Academia Brasileira de Letras. Aconteceu quando cursava o segundo ano de medicina, em mil novecentos e vinte seis, ocorrendo um fato infeliz - a morte de um estudante de Medicina, de nome Oséas, vitimado pela febre amarela. O corpo do estudante estava sendo velado no anfiteatro da Faculdade; lá estava presente Guimarães Rosa e seu colega de turma, o Dr. Ismael de Faria, que juntos ao caixão do desventurado Oséas, Ismael teve a oportunidade de ouvir a inédita e comovida exclamação de Guimarães Rosa: “As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Magnífica filosofia que encanta e que prevê de ante mão que iria fazer uma prosa que aprofunda a tendência, à análise psicológica das personagens, para revelar seus dramas e angústias, e os problemas comuns de todos os homens - o significado da morte... Sua estréia nas letras se deu quando tinha vinte e um anos, por necessidade financeira e ainda como estudante, quando escreve quatro contos: Caçador de Camurças, Chronos Kai Anagke, título grego, significando Tempo e Destino, O Mistério de Highmore Hall e Maquiné, para um concurso promovido pela revista O Cruzeiro. Todos os contos foram premiados

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Coletânea 2.pmd 72 29/05/07, 16:59 e publicados com ilustrações em mil novecentos e vinte e nove e no ano seguinte, alcançando o autor seu objetivo, que era o de ganhar a recompensa nada desprezível de cem mil réis - num total de quatrocentos mil réis. Chegou a confessar, depois, que nessa época escrevia friamente, sem paixão, preso a modelos alheios, mas seja como for, essa primeira experiência literária de Guimarães Rosa não poderia dar uma idéia de sua produção futura, confirmando suas próprias palavras em um dos prefácios de Tutaméia: “Tudo se finge, primeiro; germina autêntico é depois.” Depois de completar vinte e dois anos, casou-se com Lígia Cabral Penna, então com apenas dezesseis anos. Ainda nesse ano, formou-se em Medicina, tendo sido o orador da turma, escolhido por aclamação pelos trinta e cinco colegas. Ah! E durante o curso médico conheceu no hospital da Santa Casa de Belo Horizonte o Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, de quem se tornou bom amigo. A propósito dele, dizia que nunca uma pessoa lhe tratou tão bem como JK. O discurso de Guimarães Rosa foi publicado no jornal Minas Geraes, de vinte e dois e vinte e três de dezembro de mil novecentos e trinta, que denunciava, entre outras coisas, o grande interesse lingüístico e a cultura literária clássica de Guimarães Rosa, que começa sua oração argumentando com uma “lição da natureza”, que diz que quando o excesso de seiva levanta a planta jovem, só à custa de troncos alheios, logo ela chega a altura, faltando-lhe as raízes que somente com

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Coletânea 2.pmd 73 29/05/07, 16:59 os anos vêem a crescer; sugerindo algo muito importante para a turma, e que se percebe claramente. Pense e confira, então! Itaguara... pequena cidade que pertencia ao município de Itaúna, Minas Gerais. Já com seus vinte e três anos, formado e casado, Guimarães Rosa foi exercer a profissão de médico naquele município, permanecendo por lá cerca de dois anos. Lá relaciona-se com a comunidade, até mesmo com raizeiros e receitadores, reconhecendo sua importância no atendimento aos pobres e marginalizados, a ponto de se tornar grande amigo de um deles, de nome Manoel Rodrigues de Carvalho, mais conhecido por “seu Nequinha”, que morava numa... “caverna” enfurnado entre morros, num lugar conhecido por Sarandi. Espírita, “Seu Nequinha” parece ter sido o inspirador da figura do Compadre meu Quelemém, espécie de oráculo sertanejo, personagem de Grande Sertão: Veredas. Guimarães revela-se um profissional dedicado, respeitado, famoso pela precisão dos seus diagnósticos. O período em Itaguara influi decisivamente em sua carreira literária. Para chegar aos pacientes, deslocava- se a cavalo. Inspirado pela terra, costumes, pessoas e acontecimentos do cotidiano, Guimarães inicia suas anotações, colecionando terminologias, ditos e falas do povo, que distribuía pelas histórias que já escrevia. Perder um doente, era para ele, particularmente, algo de trágico. E uma vez em que isso aconteceu ficou

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Coletânea 2.pmd 74 29/05/07, 16:59 aflitíssimo, sem saber que solução tomar. O padre já esperava ao lado do morto, para encomendar-lhe o corpo, e Rosa ainda lhe aplicava injeções sobre injeções, como se pretendesse ressuscitá-lo. Foi uma noite de agonia. Em casa, mais tarde, o futuro escritor fechou-se no quarto, sem querer jantar, imaginando represálias por parte dos parentes e amigos do morto, quem sabe um linchamento. Soube depois que a preocupação era inteiramente infundada, e que todos haviam reconhecido que ele fizera o impossível. Diante de sua incapacidade de por fim às dores e aos males do mundo numa cidade que não tinha nem energia elétrica, segundo depoimento de Vilma, o autor, sensível como era, acabou por afastar-se da Medicina; onde contribuiu também para isso o fato de o escritor ter que assistir o parto de sua mulher, isso porque o farmacêutico de Itaguara, Ary de Lima Coutinho, e seu irmão, médico em Itaúna, Antônio Augusto de Lima Coutinho, chamados com urgência pelo aflito Dr. Rosa, só chegaram quando tudo já estava resolvido. E ainda é Vilma quem relata que sua mãe chegou a se esquecer das contrações para apenas se preocupar com o marido que chorava convulsivamente. Havia duas coisas que impressionavam o Guimarães Rosa médico: o parto e a incapacidade de salvar as vítimas da lepra, duas coisas opostas, mas de grande significado para ele. Segundo sua primeira filha Vilma, que lançou na década de oitenta o livro Relembramentos, Guimarães

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Coletânea 2.pmd 75 29/05/07, 16:59 Rosa, Meu Pai, uma coletânea de discursos, cartas e entrevistas concedidas pelo escritor; ele passava horas estudando, queria aprender, rapidamente, a estancar o fluxo do sofrimento humano, que logo constatou que seria uma missão difícil, se não impossível. A falta de recursos médicos e o transbordamento de sua emotividade impediram que ele prosseguisse a carreira de médico. Mas para a filha, João Guimarães Rosa nasceu mesmo, é para ser escritor. Ademais, consta que o Dr. Rosa cobrava as visitas que fazia, como médico, pelas distâncias que, a cavalo, tinha de percorrer. Nem podia ser de outra forma, porque, quando chegava ao local, o dono da casa, a fim de baratear a consulta, aproveitava-lhe a presença para uma revisão geral na saúde da família. No conto Duelo, de Sagarana, o diálogo entre os personagens Cassiano Gomes e Timpim Vinte-e-Um testemunha esse critério, comum entre os médicos que exerciam seu ofício na zona rural, de condicionar o montante da remuneração a ser recebida à distância percorrida para visitar o doente. Semelhante critério aplicava-o, também, o Dr. Mimoso a seu ajudante-de-ordens Jimirulino, protagonista do conto – Uai , eu?, de Tutaméia. Outra ocorrência curiosa, contada por antigos moradores de Itaguara, diz respeito a atitude do Dr. Rosa quando a chegada de um grupo de ciganos àquela cidade. Valendo-se da ajuda de um amigo, que fazia às vezes de intermediário, o jovem médico procurou

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Coletânea 2.pmd 76 29/05/07, 16:59 aproximar-se daquela gente estranha; uma vez conseguida a almejada aproximação, passava horas envolvido em conversa com os “calões” na “língua disgramada que eles falam”, como diria, mais tarde, Manuel Fulô, protagonista do conto Corpo fechado, de Sagarana, que resolveu viajar no meio da ciganada, por amor de aprender as mamparras lá deles. Também nos contos Faraó e Água do Rio, O Outro ou O Outro e Zingaresca, todos do livro Tutaméia; Guimarães Rosa refere-se com especial carinho a essa gente errante, com seu peculiar modo de viver, seu temperamento artístico, sua magia, suas artimanhas e negociatas. Algum tempo depois Guimarães Rosa fez um concurso e entrou para o quadro da Força Pública, como médico voluntário, fardado, na Revolução de mil novecentos e trinta e dois, com prodígios no Trem- Hospital do Túnel da Mantiqueira, juntamente com os capitães-médicos Juscelino Kubitschek de Oliveira, Bayard de Lima, Vicente Vono e Flávio Neves, coordenados pelo major-médico Pinto de Moura. Mediante concurso público, entrou, em mil novecentos e trinta e quatro, para o quadro de saúde da corporação, como capitão-médico, do Nono Batalhão de Infantaria, em Barbacena. Encontrando-se de novo com o amigo Doutor Juscelino, estreitaram as ralações numa pequena localidade. Segundo ele, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, o quartel pouco exigia dele, quase que somente a revista médica, rotineira, não tendo mais as dificultosas viagens a cavalo que

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Coletânea 2.pmd 77 29/05/07, 16:59 eram o pão nosso da clínica em Itaguara, e solenidade ou outra, em dia cívico, quando o escolhiam para orador da corporação; sobrava-lhe tempo para dedicar- se com maior entusiasmo ao estudo de idiomas estrangeiros. Aliás, através de um russo branco que se encontrava meio perdido por aquelas bandas, como soldado da Polícia Militar de Minas, pôde confrontar pela primeira vez a sua pronúncia. Depois, por intermédio de cadetes e de antigos oficiais do exército czarista, aparecidos em Barbacena como componentes do coro dos cossacos do Juban e do Don, pôde aperfeiçoar seus estudos. No convívio com velhos milicianos e nas demoradas pesquisas que fazia nos arquivos do quartel, o escritor pôde estar obtendo valiosas informações sobre o jaguncismo barranqueiro que até por volta de mil novecentos e trinta existiu na região do Rio São Francisco. Quando servia em Barbacena, um amigo de convívio diário, impressionado com sua cultura e vasto e variado saber, e, particularmente, com seu notável conhecimento de línguas estrangeiras, lembrou-lhe a possibilidade de prestar concurso para o Itamarati, conseguindo entusiasmá-lo. Foi aí então que o Oficial Médico do Nono Batalhão de Infantaria, após alguns preparativos, seguiu para o Rio de Janeiro onde prestou concurso para o Ministério do Exterior, obtendo o segundo lugar. Nesse mesmo ano nasceu sua segunda filha, Agnes.

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Coletânea 2.pmd 78 29/05/07, 16:59 Já era por demais evidente sua falta de “vocação” para o exercício da Medicina, conforme ele próprio confidenciou a seu colega Dr. Pedro Moreira Barbosa, em carta datada de vinte de março de mil novecentos e trinta e quatro, onde ele alegou não ter nascido para exercer a medicina, fazendo ainda uma analogia de que era um jogador de xadrez, e não um jogador de bilhar ou futebol ... o negócio com ele era nas teorias, nos textos, no raciocínio; subjetivismo. Nunca deixou de manter ligações com a literatura, escrevendo contos e versos. E, em mil novecentos e trinta e seis, organizou uma seleção de versos intitulada Magma, cujo com o qual concorreu ao prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras, onde o livro saiu vitorioso, e o poeta Guilherme de Almeida, relator do parecer da comissão julgadora, dirigiu palavras altamente elogiosas ao livro do escritor mineiro, concedendo-lhe o primeiro lugar e negando-se a aprovar qualquer outro trabalho a segundo lugar, tal o desnível de qualidade que havia entre os demais concorrentes e o primeiro colocado. Não seria injusto considerar Guilherme de Almeida o verdadeiro descobridor de Guimarães Rosa, aquele que teve a lúcida antevisão do “gênio engarrafado”. Mas o livro só veio a ser publicado em mil novecentos e noventa e sete; o único livro de poemas de Guimarães Rosa; em meio a discussões sobre a conveniência desta publicação, já que o próprio autor havia, de uma certa forma, manifestado o desejo de que seus poemas permanecessem inéditos.

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Coletânea 2.pmd 79 29/05/07, 16:59 Para os leitores de Rosa é um privilégio a publicação desse livro, por tanto tempo intocado e por muitos até mesmo ignorado na sua existência. Magma apresenta, de forma poética, o esboço do que seria a prosa roseana, que encanta pessoas do mundo inteiro com a sua peculiaridade e qualidade narrativa. Isso testemunha a preferência de Guimarães Rosa pela prosa, em detrimento dos versos, conforme atestam suas próprias palavras, quando ele fala que revisando seus exercícios líricos, não os achou totalmente maus, mas tampouco muito convincente; principalmente quando descobriu que a poesia profissional, tal como a forma de manejo na elaboração de poemas, pode ser a morte da verdadeira poesia, dando preferencia, por isso, para o conto simples, pois quem escreve estes assuntos é a vida e não a lei das regras chamadas poéticas. Convencido que era possuidor de uma receita para fazer verdadeira poesia, e que por sorte, começou a ser absorvido pela sua profissão, viajando pelo mundo, conhecendo várias coisas e línguas ... passando-se dez anos até ele poder dedicar-se de novo à literatura; e depois de toda essa reflexão, Guimarães Rosa sentou e começou a escrever Sagarana. Livre das amarras das regras poéticas, Rosa foi em busca, portanto, da verdadeira poesia. Nessa trajetória, incorpora procedimentos dos versos na prosa, transformando poemas de Magma, como Boiada e Maleita, em um acervo poético a ser vivificado em O Burrinho Pedrês e Sarapalha respectivamente, contos de Sagarana.

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Coletânea 2.pmd 80 29/05/07, 16:59 Quando ele tinha aproximadamente trinta anos, durante “sete meses de exaltação e deslumbramento” que ele próprio declararia mais tarde; escreveu uma série de contos e os reuniu em um volume; em dezembro do mesmo ano resolveu concorrer ao prêmio Humberto de Campos instituído pela Livraria José Olympio Editora. Remeteu os originais à comissão julgadora, constituída por Graciliano Ramos, autor de Vidas Secas, , Prudente de Morais Neto, Dias da Costa e Peregrino Júnior, usando, na oportunidade, o pseudônimo de Viator, e o título dos originais era tão-somente Contos. Participaram do concurso mais cinqüenta e sete candidatos e Guimarães Rosa obteve o segundo lugar, perdendo por três votos contra dois no confronto direto com Luís Jardim, a que concorria com o livro Maria Perigosa. Esses Contos, depois de retrabalhados, viriam a dar forma ao livro Sagarana. Um ano depois, em mil novecentos e trinta e oito, com trinta anos, foi nomeado Cônsul Adjunto em Hamburgo, e segue para a Europa; lá fica conhecendo Aracy Moebius de Carvalho, “Ara”, que era funcionária graduada, que viria a ser sua segunda mulher, casados pelas leis de outro país. Desquitou-se, então, de Lígia, que casou com o advogado Arthur Auto Nery Cabral, em mil novecentos e quarenta e dois. Quando Guimarães Rosa tinha aproximadamente trinta e quatro anos, o Brasil havia rompido com a Alemanha, e ele foi internado em Baden-Baden, juntamente com outros compatriotas, entre os quais se

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Coletânea 2.pmd 81 29/05/07, 16:59 encontrava Cyro de Freitas Vale e o pintor pernambucano Cícero Dias. Eles ficaram retidos durante quatro meses e foram libertados em troca de diplomatas alemães. Retornando ao Brasil, após rápida passagem pelo Rio de Janeiro, o escritor seguiu para Bogotá, como Secretário da Embaixada, lá permanecendo até mil novecentos e quarenta e quatro. Sua estadia na capital colombiana, fundada em mil quinhentos e trinta e oito e situada a uma altitude de dois mil e seiscentos metros, inspirou-lhe o conto Páramo, de cunho autobiográfico, que faz parte do livro póstumo Estas Estórias. O conto se refere à experiência de “morte parcial” vivida pelo protagonista, provavelmente o próprio autor; experiência essa induzida pela solidão, pela saudade, pelo frio, pela umidade e particularmente pela asfixia resultante da rarefação do ar. Retornando ao Brasil depois de longa ausência; dirigiu-se, inicialmente, à Fazenda Três Barras, em Paraopeba, berço da família Guimarães, então pertencente a seu amigo Dr. Pedro Barbosa e, depois, a cavalo, rumou para Cordisburgo, onde se hospedou no tradicional Argentina Hotel, mais conhecido por Hotel da Nhatina. Nesse mesmo ano, Guimarães Rosa “retrabalha” os contos que obtiveram o segundo lugar, ao concorrer ao Prêmio Humberto de Campos, da Editora José Olympio, e, em cinco meses de trabalho árduo, refaz inteiramente o livro, suprimindo duas estórias.

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Coletânea 2.pmd 82 29/05/07, 16:59 João, em carta ao pai, disse que conseguiu a retomada dos originais de Sagarana à custa de horas de sono, de descanso dos domingos ... e segundo ele, o livro foi escrito quase todo na cama, a lápis, em cadernos de cem folhas, em sete meses; e depois de sete anos de repouso, em mil novecentos e quarenta e cinco, foi retrabalhado em cinco meses de reflexão. Na primeira edição, em mil novecentos e quarenta e seis, pela Editora Universal, do Rio de Janeiro, assinada por Guimarães Rosa, Sagarana não tem Uma História de Amor e Questões de Família. A edição foi esgotada em poucos dias e já se falava em segunda edição em maio do mesmo ano, conforme reportagem de Ascendino Leite. A escritura de Sagarana foi até a quinta publicação, onde em cada edição houve modificações no livro, até que na quinta publicação, Guimarães, deixou de modificar seus textos. O dossiê de Sagarana compõe-se dos seguintes documentos - dois volumes encadernados, um em couro vermelho e outro em couro preto, ambos com o título Sezão; seis pastas com folhas soltas, com os originais datilografados; originais da quarta e quinta edições, realizados sobre exemplares da terceira e quarta edições, respectivamente; e dois volumes de provas tipográficas da quinta edição. A publicação, alcançou sucesso imediato, garantindo-lhe um privilegiado lugar de destaque no grande quadro circular da literatura brasileira; onde o livro recebeu o prêmio da Sociedade Filipe d’ Olivera e

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Coletânea 2.pmd 83 29/05/07, 16:59 foi aclamado como uma das mais importantes obras de ficção aparecidas no Brasil contemporâneo. Apresentando a paisagem e o homem de sua terra numa linguagem já então exclusiva, fez de Sagarana a semente de uma obra cujo sentido e alcance ainda estão longe de ser inteiramente decifrados. Sagarana reúne nove contos nos quais estão presentes os temas básicos de João Guimarães Rosa: a aventura, a morte, os animais metaforizados em gente, as reflexões subjetivas e espiritualistas. Cinco deles; O Burrinho Pedrês, Duelo, São Marcos, A Hora e a Vez de Augusto Matraga e Corpo Fechado, trazem para os sertões de Minas Gerais acontecimentos em drama, de antigas histórias épicas ou heróicas. O lirismo dos temas do amor e da solidão transparece em Sarapalha e Minha Gente. Em A Volta do Marido Pródigo há uma espécie de heroísmo gaiato, enquanto que as reflexões sobre o poder e a fraqueza centralizam- se em Conversa de Bois. O narrador dos contos de Sagarana muitas vezes caracteriza como folclóricas as histórias que conta, inserindo nelas quadrinhas populares e dando-lhes um tom épico e/ou de histórias de fada. Por exemplo, temos o Era uma vez que inicia o conto O Burrinho Pedrês. Neste conto, assim como em Conversa de Bois e em A Volta do Marido Pródigo, os animais se transformam em heróis, questionando o saber dos homens com o seu suposto não saber. A onisciência do narrador dos contos em terceira pessoa é propositadamente relativizada, dando voz

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Coletânea 2.pmd 84 29/05/07, 16:59 própria e encantamento às narrativas e acentuando sua dimensão mística e poética. Repletos de histórias dentro de histórias, de digressões filosóficas e de monólogos interiores que desvendam o universo dos homens, dos bichos e das coisas, os contos de Sagarana nos permitem uma espécie de ritual de iniciação, ao longo da leitura. Esta iniciação ocorre se conseguirmos compreendê-los em sua simbologia, na cosmovisão alógica, mágica, mística e poética que humaniza em sentido profundo os protagonistas, aparentemente apenas sertanejos dos Gerais, e universaliza o sertão. O sertão é o mundo, diz o Riobaldo de Grande Sertão: Veredas. A publicação do livro de contos Sagarana, garantiu-lhe um privilegiado lugar de destaque no panorama da literatura brasileira, pela linguagem inovadora, pela singular estrutura narrativa e a riqueza de simbologia dos seus contos. Com ele, o regionalismo estava novamente em pauta, mas com um novo significado e assumindo a característica de uma experiência estética universal. No mesmo ano em que é publicado Sagarana, Guimarães Rosa é nomeado chefe de gabinete do ministro João Neves da Fontoura, indo, também, à Paris como mestre da delegação à Conferência de Paz. Dois anos depois, o escritor se encontrava novamente em Bogotá como Secretário-Geral da delegação brasileira à Nona Conferência Inter-Americana; durante a realização do evento ocorreu, infelizmente, o

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Coletânea 2.pmd 85 29/05/07, 16:59 assassinato político do prestigioso líder popular Jorge Eliécer Gaitán, fundador do partido Unión Nacional Izquierdista Revolucionaria, de curta mas decisiva duração. De mil novecentos e quarenta e oito a mil novecentos e cinqüenta, o escritor encontrava-se em Paris, respectivamente como primeiro-secretário e conselheiro de embaixada. E quando retornou ao Brasil, foi novamente nomeado Chefe de Gabinete de João Neves da Fontoura. Já com seus quarenta e três anos, entre outubro e novembro, Guimarães Rosa e a mulher Aracy realizaram uma viagem turística à Itália. No ano seguinte, nos meses de setembro e outubro, o casal refez o roteiro, visitando as mesmas cidades; e como de costume, o escritor utilizou cadernetas para gravar sensações, descrever tipos e paisagens, anotar expressões, burilar algumas outras. Essas anotações não têm um objetivo específico, anotou como um viajante curioso, como um permanente estudante da vida e da natureza, sempre voltado para o seu trabalho, documentando, armazenando idéias, exercitando-se no manejo da língua portuguesa. Quando retornou de sua primeira viagem, Guimarães Rosa fez uma viagem pelo sertão de Minas Gerais com um grupo de vaqueiros, durante dez dias, na qual houve a participação de Manuel Narde, vulgo Manuelzão, protagonista de Uma História de Amor, incluída no volume, Manuelzão e Miguilim. Ainda sobre

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Coletânea 2.pmd 86 29/05/07, 16:59 a viagem, escreveu o conto Com o Eestórias, sob o título Entremeio: Com o Vaqueiro Mariano, que é uma reportagem poética. Segundo depoimento do próprio Manuel Narde, falecido em cinco de maio de mil novecentos e noventa e setE, durante os dias que passou no sertão, Guimarães Rosa pedia notícia de tudo e tudo anotava: “ele perguntava mais que padre”, tendo consumido “mais de cinqüenta cadernos de espiral, daqueles grandes”, com anotações sobre a flora, a fauna e a gente sertaneja, usos, costumes, crenças, linguagem, superstições, versos, anedotas, canções, casos, estórias... A curiosidade inesgotável demonstrada pelo escritor durante essa famosa viagem, aproximou-o dos naturalistas europeus que percorreram o Brasil no século passado e o redescobriram, como é o caso, por exemplo, do extraordinário botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, e do dinamarquês Peter Wilhelm Lund, o pai da paleontologia brasileira, que explorou a Gruta que foi descoberta em mil oitocentos e vinte e cinco pelo fazendeiro Joaquim Maria Maquiné, a Gruta de Maquiné, da qual foi arrancada a pia batismal que banhou o nosso escritor mineiro... uma peça singular talhada em milenar pedra calcária. A Gruta hoje, é responsável pelo grande fluxo de turistas à Sua cidade natal. E! A propósito; o próprio Guimarães Rosa prestou carinhosa homenagem a esses estudiosos ao criar a figura ímpar de seu Alquiste, ou Olquiste, que aparece no conto O Recado do Morro, cuja trama se desenrola em Cordisburgo e arredores.

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Coletânea 2.pmd 87 29/05/07, 16:59 Em mil novecentos e cinqüenta e três, com seus quarenta e cinco anos, tornou-se Chefe da Divisão de Orçamento. Três anos depois, lançou as novelas de Corpo de Baile. Na Segunda edição, Guimarães Rosa dividiu-a em dois volumes numerados, Corpo de Baile 1 e Corpo de Baile 2. Em seguida, ele estabeleceu a edição dos três títulos separados que prevalece até hoje, desde mil novecentos e sessenta, e Manuelzão e Miguilim passou a formar um único volume – os outros dois são Noites do Sertão e No Urubuquaquá, no Pinhém. Este último citado inclui as novelas O Recado do Morro, que conta a história de uma canção a formar-se, e Cara-de-Bronze, que refere-se à poesia; além do romance A Estória de Lélio e Lina; que recebeu o Prêmio Jabuti de Produção Gráfica - menção honrosa - em dois mil e dois. Em Manuelzão e Miguilim, a primeira novela, Campo Geral, é sobre um certo Miguilim, de novo estamos aí, que morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, muito longe daqui, no Mutum, no meio dos Campos Gerais... Mas o que é novela seu Miguilim? Ah! A novela como espécie literária... não se dIstingue do romance, evidentemente, pelo critério quantitativo, mas pelo essencial e estrutural. Tradicionalmente, a novela é uma modalidade literária que se caracteriza pela linearidade dos caracteres e acontecimentos, pela sucessividade episódica e pelo gosto das peripécias. Contrariamente ao romance, a novela não tem a complexidade dessa espécie literária, pois não se detém

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Coletânea 2.pmd 88 29/05/07, 16:59 na análise minuciosa e detalhada dos fatos e personagens. A novela condensa os elementos do romance: os diálogos são rápidos e a narrativa é direta, sem muitas divagações. Nesse sentido, muita coisa que chamamos de romance não passa de novela. Naturalmente a novela moderna, como tudo que é moderno, evoluiu e não se sujeita a regras preestabelecidas. Tal como o conto, parodiando Mário de Andrade, “ sempre será novela aquilo que seu autor batizou com o nome de novela”. Como autor “pós”- modernista, Guimarães Rosa procurou ser original, imprimindo, em suas criações literárias, a sua marca pessoal, o seu estilo inconfundível. Suas novelas, contudo, apesar das inovações, sempre apresentam aquela essência básica dessa modalidade literária, que é o apego a uma fabulação contínua como um rio, de caso-puxa-caso... e é isso aí... entendeu! Voltando ao assunto. O universo de Corpo de Baile se aproxima da forma de vida mais primitiva, a de uma comunidade tribal, ou das comunidades rurais gregas que predominaram num passado muito distante, ou quem sabe num feudo medieval. Por isto o sertão de Guimarães Rosa não é apenas um espaço, é também um tempo; sertão que pertence a um mundo no qual espaço e tempo se entrelaçam estreitamente. Em ensaio crítico sobre Corpo de Baile, o professor Ivan Teixeira afirma que o livro talvez seja o mais enigmático da literatura brasileira. As novelas que o compõem formam um sofisticado conjunto de

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Coletânea 2.pmd 89 29/05/07, 16:59 logogrifos, em que a charada é alçada à condição de revelação poética ou experimento metafísico. O conjunto das novelas surge como passeio cósmico pela geografia rosiana, que retoma a idéia básica de toda a obra do escritor: o universo está no sertão, e os homens são influenciados pelos astros. Em relação a Uma Estória de Amor, iremos citar apenas o início; e a novela em si parece que nos leva para o outro lado da existência, já que seu protagonista, Manuelzão, tem sessenta anos. No estágio que atingiu, torna-se o responsável pela fazenda Samarra, pertencente a Federico Freyre, alguém que nunca aparece, sendo apenas mencionado - cuidar das terras de alguém que não aparece fisicamente, só na forma de uma carta, faz lembrar o próprio papel de Adão ou até mesmo do ser humano em relação a Deus. Estabelecido, depois de uma ampla vida de atribulações, Manuelzão resolve instalar sua mãe e pouco depois, sentindo falta, provavelmente, de um sentimento de família, busca um seu descendente, fruto de um relacionamento perdido no tempo. É o seu filho, Adelço de Tal, sujeito desamistoso, seco, casado com Leonísia, mulher linda a ponto de inspirar desejos perigosos em Manuelzão, o que provoca nele um conflito interior. O casal tem um filho, Promitivo, rapaz sem rumo certo na vida – um vagabundo. Com a morte de sua mãe, Manuelzão resolve erguer uma capela para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, atendendo, quase que inconscientemente, a um pedido da progenitora, quando ainda viva.

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Coletânea 2.pmd 90 29/05/07, 16:59 Coincidência ou não, essa determinação ocorre logo após o riacho que cortava a fazenda ter misteriosamente secado no meio de uma noite; e o dilema é - haveria aqui uma relação entre a vida de Manuelzão e o curso do rio? Bem. Leia Uma Estória de Amor e descubra! No mês de maio, é publicado o romance Grande Sertão: Veredas - no meio da rua, no redemoinho. Livro diferente, terrível, consolador e estranho, diz Rosa. Segundo ele o livro é uma autobiografia irracional; sua própria reflexão irracional. Grande Sertão: Veredas é a obra-prima de Guimarães Rosa e um dos mais importantes romances de nossa literatura. Riobaldo, seu narrador-protagonista, um velho e pacato fazendeiro, faz um relato de sua vida a um interlocutor, um “doutor” que nunca aparece na história, mas cuja fala é sugerida pelas respostas de Riobaldo. Assim, apesar do diálogo sugerido, a narração é um longo monólogo em que Riobaldo traz à tona suas lembranças em torno de lutas sangrentas de jagunços, perseguições e emboscadas nos sertões de Minas, Goiás e sul da Bahia, bem como suas aventuras amorosas. Ao mesmo tempo, Riobaldo vai relatando as preocupações com as doutrinas da essência das coisas que sempre marcaram a sua vida; entre elas, destaca- se a questão da existência ou não do diabo. Pelo que se depreende da obra, ele provavelmente fizera um pacto com o demônio a fim de vencer Hermógenes, chefe do bando inimigo; sendo assim, desse fator depende a sua salvação e daí advêm as inquietações do personagem.

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Coletânea 2.pmd 91 29/05/07, 16:59 O lançamento de Grande Sertão: Veredas causou grande impacto no cenário literário brasileiro. O livro foi traduzido para diversas línguas e seu sucesso deve-se, sobretudo, às inovações formais. Crítica e público dividiram-se entre louvores apaixonados e ataques ferozes; tornando-se assim um sucesso comercial, além de receber três prêmios nacionais: o Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro; o Carmen Dolores Barbosa, de São Paulo; e o Paula Brito, do Rio de Janeiro. A publicação dessa famosa obra, faz com que Guimarães Rosa seja considerado uma figura singular no panorama da literatura moderna, tornando-se um “caso” nacional. Ele encabeça a lista tríplice, composta ainda por Clarice Lispector e João Cabral de Melo Neto, como os melhores romancistas da terceira geração modernista brasileira. Um ano depois da publicação de Grande Sertão, Guimarães Rosa candidatou-se pela primeira vez à Academia Brasileira de Letras. E, no começo de junho do ano seguinte, ele fez uma viajem para Brasília; escreveu para seus pais que o clima da nova capital era “simplesmente delicioso”; e que os trabalhos da construção se adiantavam num ritmo e entusiasmo inacreditáveis... e que quando acordava, todo dia para assistir o sol nascer, via um enorme tucano colorido, “belíssimo”, às seis horas e quinze minutos – segundo ele – para comer frutas, na copa da alta árvore pegada à casa. As chegadas e saídas desse tucano, para ele, foram uma das cenas

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Coletânea 2.pmd 92 29/05/07, 16:59 mais bonitas e inesquecíveis em sua vida... disse em carta. Em mil novecentos e cinqüenta e oito, infelizmente, aquele já então escritor consagrado, começou a apresentar problemas de saúde; e estes seriam, na verdade, o prenúncio do fim próximo, tanto mais quanto, além da hipertensão arterial, o paciente reunia outros fatores de risco cardiovascular como excesso de peso, vida sedentária e, particularmente, o tabagismo. E, era um tabaquista contumaz, e embora afirme ter abandonado o hábito, em carta dirigida ao amigo Paulo Dantas em dezembro do ano anterior; e numa foto tirada dois anos atrás, quando recebia do governador Israel Pinheiro a Medalha da Inconfidência, apareceu com um cigarro na mão esquerda... e na referida carta, o escritor chega mesmo a admitir, explicitamente, sua dependência da nicotina, citando que após trinta e quatro dias sem fumar, botava-o vazio, vago, incapaz de escrever cartas; que só escrevia aquela, por causa do Natal e de tantas outras coisas; desafiando a “fome-e-sede tabágica da pobrezinhas das células cerebrais”. É importante frisar ainda que, coincidindo com os distúrbios cardiovasculares que se evidenciaram a partir de seus cinqüenta anos, Guimarães Rosa parecia ter acrescentado a suas leituras espirituais publicações e textos relativos à Ciência Cristã (Christian Science), seita criada nos Estados Unidos em mil oitocentos e setenta e nove por Mrs. Mary Baker Eddy, que afirmava a primazia do espírito sobre a matéria, negando

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Coletânea 2.pmd 93 29/05/07, 16:59 categoricamente a existência do pecado, dos sentimentos negativos em geral, da doença e da morte. Com cinqüenta e três anos, conferem-lhe a consagração oficial, com a atribuição do Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, para conjunto de obra. E essa obra começa, inclusive, a ser reconhecida no estrangeiro. Nesse mesmo ano, ao mesmo tempo que Sagarana era editado em Portugal, apareceu na França a tradução da primeira parte de Corpo de Baile, lançada pelas edições Du Seuil, onde a segunda parte só viria a ser publicada no ano seguinte. Um ano depois, o escritor reapareceu com um novo livro, desta vez um volume magro, com vinte e um contos curtos. Os temas destas estórias são múltiplos, e é diversas também as situações, onde entre elas encontram-se exemplares de vários tipos de conto - o fantástico, o psicológico, o autobiográfico, o anedótico, o satírico, entre outros... também o tratamento dado a esses temas é diversificado - ora jocoso, ora patético, sarcástico, lírico, erudito e popular. Este é Primeiras Estórias, que constitui, certamente, o melhor livro para iniciação em Guimarães Rosa, sendo assim mais assimilável pelo leitor. Mas o título desse livro, no entanto, requer uma explicação, como já observou Paulo Rónai, dizendo que “estória é o neologismo que distingue a história como conto, isto é, relato de acontecimentos fictícios...” E “primeiras” não é no sentido de trabalhos já realizados antes, mas sim por ser a primeira vez que o autor pratica o gênero

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Coletânea 2.pmd 94 29/05/07, 16:59 “estórias”, ou seja, o conto curto. A maioria dos contos dessa obra desenrolam-se muma região não- especificada, mas reconhecível como a das obras anteriores, embora o seu cenário seja apenas esboçado. Nesse mesmo ano foi editada a obra O Mistério dos MMM, pela Gráfica O Cruzeiro, que foi escrito com colaboração de Viriato Correa, Dinah Silveira de Queirós, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, , José Condé, Antônio Callado e Orígenes Lessa. Tratasse de um romance policial de autoria coletiva, que pode ser definido como uma brincadeira muito séria, porque cada um dos nove autores, na época já escritores consagrados, escreveu um capítulo dando seqüência ao capítulo recebido de outro. Também assumiu a chefia do Serviço de Demarcação de Fronteiras. E, em maio de mil novecentos e sessenta e três, candidatou-se pela segunda vez à Academia Brasileira de Letras, quanto possuía cinqüenta e cinco anos, e foi eleito por unanimidade a oito de agosto, para ocupar a vaga de João Neves da Fontoura; mas não foi marcado o dia da posse. Nesse mesmo ano Primeiras Estórias recebeu o Prêmio do PEN Clube do Brasil. Em mil novecentos e sessenta e quatro, Grande Sertão: Veredas alcançou três edições sucessivas, onde na festa de lançamento, compareceu o Presidente da Alemanha, Luebke. Um ano depois, seus livros já apareciam traduzidos na França, Itália, Estados Unidos, Canadá e Alemanha; e passa a interessar, igualmente aos nossos cineastas.

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Coletânea 2.pmd 95 29/05/07, 16:59 Levado à tela, Grande Sertão: Veredas constitui uma experiência não muito feliz; mas o conto A Hora e Vez de Augusto Mantraga possibilitou a Roberto Santos a realização, em mil novecentos e sessenta e seis, de um filme admirável, que se projeta em vários festivais internacionais. Nesse mesmo ano, Guimarães Rosa participou do Congresso de Escritores Latino- Americanos, em Gênova... e como resultado do congresso ficou constituída a Primeira Sociedade de Escritores Latino-Americanos, da qual o próprio Guimarães Rosa e o guatemalteco Miguel Angel Asturias foram eleitos vice-presidentes. Com cinqüenta e nove anos, foi ao México, a fim de representar o Brasil no primeiro Congresso latino- americano de escritores, no qual já atua como vice- presidente. No regresso, é convidado para fazer parte, ao lado de Jorge Amado e Antônio Olinto, do júri do segundo Concurso Nacional de Romance “Walmap”, que pelo valor do prêmio é o mais importante do país, que foi arrebatado pelo livro Jorge, um Brasileiro, de Oswaldo França Júnior. Nesse mesmo ano foi publicado Tutaméia, livro cujo subtítulo é Terceiras Estórias; pequeno como o anterior, apresentando um conjunto de quarenta e quatro estórias curtas. Numa entrevista a Paulo Rónai, quando o mesmo perguntava sobre a obra, foi feita a seguinte pergunta sobre o subtítulo - Por que Terceiras Estórias se não houve as segundas?... O que diz o Autor?

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Coletânea 2.pmd 96 29/05/07, 16:59 E ele respondeu com uma risada de menino grande – o autor não diz nada -; depois de passado algum tempo, João Guimarães Rosa mostrou a ele o índice, atento para ver se Rónai descobria o mistério. Logo Rónai retrucou – será a ordem alfabética em que os títulos estão arrumados?... Olhe melhor, há dois que estão fora de ordem, disse Rosa. Segundo ele, era para que os críticos não achassem tudo fácil. E o interessante é que os títulos “fora de ordem” compõem as iniciais JGR; sendo assim o seu desejo, o subtítulo terceiras estórias. Ainda no mesmo ano, em outubro, participou, na qualidade de relator, do debate promovido pelo Concelho Nacional de Cultura, em torno do problema levantado pelos filólogos brasileiros e portugueses, em favor de um novo acordo lingüístico luso-brasileiro. Ele manifestou-se contra o acordo, sendo o seu parecer apoiado, por unanimidade, pela comissão, constituída ainda por , , Moisés Vellinho e . Agora vem o momento de glória!... Passando pouco tempo, finalmente, depois de quatro anos de adiantamento, quatro anos de reflexo do medo que sentia da emoção que o momento lhe causaria, decidiu- se tomar posse na Academia; e marcou a solenidade para o dia dezesseis de novembro, data do aniversário de nascimento de seu antecessor - João Neves completaria oitenta anos.

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Coletânea 2.pmd 97 29/05/07, 16:59 Era o dia dezesseis de novembro de mil novecentos e sessenta e sete. João Guimarães Rosa, aos cinqüenta e nove anos, vestiu o fardão e preparou- se para ir à Academia Brasileira de Letras tomar posse na cadeira número dois, que tinha como patrono o escritor Álvares de Azevedo, e pertenceu a seu amigo e antigo chefe no Itamarati, João Neves da Fontoura. Neste dia, Rosa almoçou com a mãe na casa de seu tio, o também escritor Vicente Guimarães Rosa; e por ser muito supersticioso, e com muito temor, confessou a seu tio que só houve o adiamento da posse por quatro anos, porque de seus sete tios, quatro morreram quando tinham cinqüenta e oito anos, e posse na Academia , por esse fato, só depois dos cinqüenta e nove anos, e ainda com alguns meses “distanciados”. E o interessante ainda é que quando o escritor Antônio Callado lhe perguntou sobre o porque de tanto empenho em se eleger para a Academia, ele respondeu – o enterro, meu querido, os funerais. Vocês cariocas, são muito imprevidentes. A academia tem mausoléu e quando a gente morre cuida de tudo. Quando se candidatou pela primeira vez à Academia Brasileira de Letras, disse a Otto Lara Rezende, num almoço no Itamarati, que só se candidatava por duas razões: Primeira porque sua mãe só acreditaria que ele era um grande escritor se entrasse para a Academia; e a segunda porque não podia negar a glória acadêmica à sua pequena cidade de Cordisburgo.

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Coletânea 2.pmd 98 29/05/07, 16:59 A notícia de sua posse na Academia foi dada por Otto, que disse que uma vez um jornal mencionou o nome de Guimarães Rosa para possível candidato ao Prêmio Nobel, procurando-o aflito, pedindo-lhe, por favor, que desse uma nota sobre a candidatura de outro brasileiro ao mesmo Prêmio Nobel... pois com o outro não acontecia nada. Concluindo; ele temia a morte, que estava associada à sua posse na Academia, talvez porque tomasse a Academia como “consagração”, isto é, fim de uma obra e portanto fim da vida. Na cerimônia da posse, foi saudado pelo acadêmico Afonso Arinos, e seu discurso foi uma página magnífica, página tipicamente rosiana... E infelizmente! Veio a falecer três dias depois da posse... numa noite de domingo, dezenove de novembro de mil novecentos e sessenta e sete, subitamente em seu apartamento em Copacabana; sozinho - a esposa havia ido à missa - mal tendo tempo de chamar por socorro. Antes, ainda que risse do mal pressentimento, afirmou no discurso de posse a típica frase – a gente morre é para provar que viveu. Quando se ouve a gravação do discurso de Guimarães Rosa nota-se, claramente, ao final do mesmo, sua voz embargada pela emoção, era como se chorasse por dentro. É possível que o novo acadêmico tivesse plena consciência de que chegara sua “hora” e sua “vez”. Havia luto na manhã de segunda-feira... dia o qual foi o corpo transportado para Academia, onde ficou exposto à visitação. Desfilaram diante do esquife

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Coletânea 2.pmd 99 29/05/07, 16:59 centenas e centenas de pessoas, desde anônimos às mais ilustres figuras da política, da diplomacia, e da literatura. Ao sair o corpo da Academia, falou em nome dos companheiros o Presidente Austregésilo de Athayde. O sepultamento, com grande acompanhamento, teve lugar no Cemitério de São João Batista, no mausoléu da Academia. No mesmo ano de sua trágica morte, João Guimarães Rosa seria indicado para o prêmio Nobel de Literatura. A indicação, iniciativa dos seus editores alemães, franceses e italianos, foi barrada pela sua morte. A sua obra havia alcançado esferas talvez desconhecidas até hoje. Seus volumes de publicação póstuma foram, Estas Estórias e Ave, Palavra, respectivamente; onde o primeiro foi organizado por Paulo Rónai, e traz contos, como Meu Tio o Iauaretê. Já o original do segundo, foi deixado por Guimarães Rosa sob o título Ave, Palavra. Título escolhido por ele! Guimarães Rosa definiu o Ave, Palavra como uma reunião de escritos sobre vários temas, querendo caracterizar com isto a despretensão com que apresentava estas notas de viagem, diários, poesias, contos, flagrantes, reportagens poéticas e meditações, tudo o que, aliado à variedade temática de alguns poemas dramáticos e textos filosóficos; constituíra sua colaboração de vinte anos, em jornais e revistas brasileiras, durante o período de mil novecentos e

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Coletânea 2.pmd 100 29/05/07, 16:59 quarenta e sete até o final de sua vida; durante vinte anos, trazendo assim um total de cinqüenta e quatro textos. Aquele que não mais vive, mais reside em vários lugares, até no estrangeiro, como parte da cultura literária, juntamente com sua criação absolutamente genial; faz parte da História da Humanidade, pois ele não morreu, apenas ficou encantado. O maior revolucionário histórico não é apenas Ernesto Che Guevara, que disse que “ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética”; mas é também João Guimarães Rosa, que provou que não basta ser jovem para revolucionar, pois já de idade, valorizou a linguagem da boca-do-povo e recriou, artisticamente, a fala do sertanejo. Grande mineiro. Ele possibilitou ao mundo um estilo de narração que estava em baixa, aquele que evolve, faz imaginar, viajar, num mundo encantador como só por si é o Sertão de variadas Veredas, naturalmente impressionista com o seu tom poético verdadeiramente da alma; sem estar ligado a modelo já predefinido algum. Tudo que foi dito, leva-nos a crer que sua aberrante erudição, que adquiriu desde os primórdios da vida, fez com que o Sertão virasse Mundo; e o mundo paira sobre crendices, ditados populares, enfim, sobre o mundo visto por um Sertanejo; João Guimarães Rosa.

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Coletânea 2.pmd 101 29/05/07, 16:59 102 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 102 29/05/07, 16:59 DOIS POEMAS.

“Poesia é voar fora da asa” (Manoel de Barros).

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Coletânea 2.pmd 103 29/05/07, 16:59 104 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 104 29/05/07, 16:59 OUTONO*.

Cap. PM Giovanni Franco, do Regimento de Cavalaria Alferes Tiradentes*.

Sob a negra madrugada cavalgo E o vento então separa meus destroços; A chuva fina traz-me apenas algo: Ruínas vãs de não-momentos nossos.

O céu que se enuvia esconde o breu De minha sombra, já prostrada ao chão; Teus olhos dormem: a luz se perdeu... E de perder-se as esperanças hão.

Vagam as folhas, às quais se destina Só o ignorar de um caminho sequer... Serão tormentas desta minha sina, Quando Eros Thánatos a mim fizer.

Declino o céu – é tão-somente escuro, E o som da madrugada aterroriza: Custa-me crer que é o silêncio puro, No amargo espectro de minha ojeriza.

* Belo Horizonte, 7 de dezembro de 2006. Ao Prezado Coronel QOR João Bosco de Castro: dedico-lhe, sabedor de sua vasta cultura, o poema “Outono”, o qual, talvez, seja digno de ser lido por olhos tão sapientes. Giovanni Franco, Cap. PM. * Vencedor do VIII Prêmio PMMG de Poesia/2006.

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Coletânea 2.pmd 105 29/05/07, 16:59 Passam minutos, como longos anos, E o verdejar de outrora não conforta: Tão onírico o lume do que amo, Que sou cada folha, esquecida, morta.

Lamento então do céu toda essa bruma, Que mistura em mim invernos e outonos; Sou a névoa fria, a tristeza duma Folha desgarrada: tudo o que somos!

Vejo campos, sobre altivo cavalo, Que se fizeram verdes, belos, quando O teu rosto eu via, e, por tanto amá-lo, Vi-me perdido em destino nefando.

Pelos meandros de lassidão esta, Haure-me lembrar de ti a presença, Quando toda essa ausência me sobresta, Se intento que teu amar me pertença!

Vai-me cada instante, passa o agora; Vejo secar-me viço, neste outono... Seja eu ainda tão jovem, embora, As folhas secas eu me sinto como.

Cavalgo, à beira da velhice, apenas... O tempo, de trazer-te a tempo há? E, à mercê do vento, as folhas, amenas, Perdem-se, como nós, em algum lugar.

106 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 106 29/05/07, 16:59 HOMENAGEM ACRÓSTICA.

Sílvia de Lourdes Araújo Motta*.

J - João Bosco de Castro, escritor, O - Ostenta mais de trezentas premiações, A - Amigo, Filólogo, Ecdótico, Escultor, O - O seu talento merece considerações.

B - Bastariam na sua identificação O - Os livros, tantos títulos, sua Poesia, S - Sua imortal e séria publicação... C - Conhecido pesquisador da Policiologia, O - O Comunicador, Vate-Crítico-Textual,

D - Doutor em estudos de Manual de Redação... E - E agora? Autor, hoje, de Peça Musical?!...

C - Companheiro, Acadêmico, venho e lhe faço A - A mais sincera e querida homenagem: S - Sua vida merece mais este laço T - Tecido de cores, nesta simples mensagem: R - Receba, pois, pela sabedoria, meu abraço, O - O efusivo aplauso, por sua coragem.

Parabéns!

* Parceira-Assessora da ALJGR, Presidenta do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa e Cônsul Z – NO dos Poetas del Mundo, em BH – MG – Brasil.

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Coletânea 2.pmd 107 29/05/07, 16:59 108 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 108 29/05/07, 16:59 REGULAMENTO E ATOS DO II CONCURSO DE PROSA LITEROCINETÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007.

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Coletânea 2.pmd 109 29/05/07, 16:59 110 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 110 29/05/07, 16:59 II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007.

REGULAMENTO.

Art. 1o __ O II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007 (ou II Concurso “João Guimarães Rosa” __ FGR, __ identificado também e simplesmente como Concurso ou Certame) será promovido, co- participativamente com entidades literoculturais e outros colaboradores, pela Fundação Guimarães Rosa (CNPJ 04.853.455/0001-00) e pelo adequado Provedor Intelectual e Acadêmico.

Parágrafo único __ Do Certame disposto no caput a Fundação Guimarães Rosa será a provedora logístico- financeira, à qual compete a divulgação do Certame e o custeio de prêmios, publicações (principalmente da Coletânea do Concurso), impressões e outros serviços ou recursos necessários à execução deste Regulamento; o Prosador e Crítico Professor João Bosco de Castro (CPF 056896276-15), o provedor intelectual e acadêmico.

Art. 2o __ Do II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007 poderão participar alunos regularmente matriculados em cursos de nível médio, satisfeitas as exigências contidas neste Regulamento.

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Coletânea 2.pmd 111 29/05/07, 16:59 Art. 3o __ As inscrições no Certame serão feitas, de 3 de julho de 2006 a 17 de novembro de 2006, por meio de postagem convencional (serviços realizados pelos Correios) ou pela Internet em formulário próprio disponibilizado no sítio eletrônico www.fgr.org.br , mediante remessa do texto e ficha de inscrição do respectivo Autor, de acordo com o modelo constante do Anexo Único a este Regulamento.

Art. 4o __ Cada Concorrente inscreverá apenas um texto em prosa literocientífica (trabalho dissertativo fundamentado em pesquisa), escrito em Língua Portuguesa e inédito, sobre a vida e a obra do escritor João Guimarães Rosa, com extensão de quinze a vinte páginas, datilografado ou digitado em papel A4, espaço dois, corpo doze, com título, sem nome nem pseudônimo do Autor.

§ 1o __ Em caso de remessa por meio de postagem convencional, o Concorrente deverá encaminhar o texto em uma única via impressa e outra em disquete ou cd (acondicionadas, com a respectiva ficha de inscrição, em envelope opaco e lacrado), explicitamente endereçadas ao

II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007. Aos cuidados da Fundação Guimarães Rosa/ Departamento Social. Rua Paraíba, no 1441 – Sala 1002. Savassi.

CEP 30130-141 – Belo Horizonte – MG.

112 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 112 29/05/07, 16:59 § 2o __ Na pauta do Remetente, apenas se registrarão os caracteres dos Promotores:

REMETENTE: FGR. CEP 30130-141.

Art. 5o __ Até 24 de novembro de 2006, o Departamento Social da Fundação Guimarães Rosa consolidará as inscrições e codificará, numericamente, os textos recebidos e respectivas fichas de inscrição.

§ 1o __ Em 27 de novembro de 2006, o Curador do II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007 encaminhará a julgamento os textos validamente inscritos e codificados.

§ 2o __ O Departamento Social da Fundação Guimarães Rosa custodiará as fichas de inscrição codificadas e, em época oportuna, com o Curador do Certame, identificará os Autores mais bem-classificados.

Art. 6o __ Em 16 de março de 2007, o Curador proclamará os resultados do Concurso, os quais serão divulgados pela Fundação Guimarães Rosa.

Parágrafo único __ Os Promotores do Concurso poderão exigir do Prosador inscrito a comprovação de seus dados pessoais informados na Ficha de Inscrição ( Anexo Único ).

Fundação Guimarães Rosa 113

Coletânea 2.pmd 113 29/05/07, 16:59 Art. 7o __ O Curador do II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007 é o Prosador e Crítico Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, da Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias, a quem compete, afora as atribuições típicas de curadoria de ensaística e produção literocientífica: I __ a indicação dos integrantes da Comissão Julgadora (em regime de voluntariado); II __ o convite a especialistas da Comunidade Literocientífica para colaboração no Certame (em regime de voluntariado); III __ a coordenação das atividades de planejamento e execução, julgamento e premiação, explícitas ou implícitas neste Regulamento; IV __ a organização e coordenação, ou até a execução, dos procedimentos de revisão, prefaciação, editoração, ilustração, arte-finalização e publicação da Coletânea dos Textos Premiados e Classificados no Concurso; V __ a presidência da Comissão Julgadora; VI __ a solução de casos fortuitos ou omissos, em primeira instância.

Art. 8o __ O julgamento das prosas literocientíficas inscritas caberá a uma Comissão composta de três Especialistas em Ensaística e, particularmente, em João Guimarães Rosa: sua vida e obra, para a escolha dos

114 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 114 29/05/07, 16:59 três melhores textos do Certame, os quais serão publicados na Coletânea do II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007, também denominada simplesmente Coletânea.

§ 1o __ A Comissão Julgadora ? cujas decisões premunem-se de soberania e irrecorribilidade ? será designada, em ato conjunto, pelo Superintendente-Geral da Fundação Guimarães Rosa e pelo Provedor Intelectual e Acadêmico do Concurso. § 2o __ A Comissão Julgadora decidirá sobre seus critérios de julgamento e método de trabalho.

Art. 9o __ Ao Curador e a cada Julgador designado na forma do § 1o do art. 8o será conferida, nas cerimônias dispostas no art.14, a Medalha de Crítica Literocientífica “Graciliano Ramos”, acompanhada da respectiva Réplica para lapela, ambas cunhadas em ouro simbólico, e do Diploma delas consagrador.

Parágrafo único __ A legitimidade ético-estética da Medalha disposta no câput é a efígie do romancista e crítico Graciliano Ramos de Oliveira (autor de Vidas Secas e integrante da Comissão Julgadora do Concurso do qual participou João Guimarães Rosa, com Sagarana, em 1938), insculpida no centro de expressivo engenho armorial respeitante ao Certame. Art. 10 __ Haverá prêmios, com os respectivos diplomas, aos três Autores mais bem-classificados: o primeiro-lugar será premiado com R$ 600,00 (seiscentos reais) em dinheiro e a Medalha de Ouro Fantásticas Veredas

Fundação Guimarães Rosa 115

Coletânea 2.pmd 115 29/05/07, 16:59 – FGR de Prosa e respectiva Réplica; o segundo-lugar, com R$ 400,00 (quatrocentos reais) em dinheiro e a Medalha de Prata Fantásticas Veredas – FGR de Prosa e respectiva Réplica; o terceiro-lugar, com R$ 200,00 (duzentos reais) e a Medalha de Bronze Fantásticas Veredas – FGR de Prosa e respectiva Réplica.

Parágrafo único __ Os textos premiados, na forma deste artigo, serão publicados pela Fundação Guimarães Rosa na Coletânea do II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007, em tiragem de mil e quinhentos exemplares, destináveis às pessoas voluntariamente empenhadas na elaboração da citada Coletânea, ou na organização, coordenação ou execução do Concurso, e distribuíveis a críticos e estudiosos de Literatura, escolas, bibliotecas, entidades literoculturais e patrocinadores, gratuitamente.

Art.11 __ Outras láureas poderão ser conferidas aos Autores Premiados, Julgadores de Texto e pessoas voluntariamente empenhadas na elaboração da Coletânea ou na organização do Concurso, segundo proposta oferecida aos Promotores pelo competente Curador.

Parágrafo único __ Retroativamente à primeira versão do Concurso “João Guimarães Rosa”__ FGR, conferir-se-á um exemplar de cada categoria de cada Medalha disposta nos arts. 9o e 10, com a respectiva Réplica, ao Autor do respectivo engenho armorial.

Art.12 __ Se, por falta de mérito literocientífico ou valor redatorial sentenciada pela Comissão Julgadora, os textos apreciados não perfizerem as quantidades previstas

116 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 116 29/05/07, 16:59 no art. 8o, alguns ou todos os prêmios do art. 10 poderão ser cancelados, ou a Coletânea poderá ser publicada com menos textos, em quantidade não-inferior a duas prosas e volume do miolo não-inferior a cinqüenta páginas.

Art.13 __ Cada Autor de texto publicado na Coletânea estabelecida nos arts. 8o e 10, o Curador e os Julgadores de texto receberão de tal livro vinte exemplares; as pessoas voluntariamente empenhadas na elaboração da Coletânea, ou na organização, coordenação ou execução do Concurso, dez exemplares; o convidado presente às cerimônias dispostas no art.14, um exemplar.

Parágrafo único __ Ao Provedor Intelectual e Acadêmico disposto no parágrafo único do art. 1o serão entregues quinze por cento dos exemplares de cada tiragem da Coletânea.

Art.14 __ As cerimônias de premiação dos Autores Laureados e lançamento da Coletânea do II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007 serão concomitantemente realizadas na semana de junho de 2007 na qual incidir o dia 27, data natalícia do insuperável romancista João Guimarães Rosa.

Parágrafo único __ Após as cerimônias dispostas neste artigo, as vias dos textos não-classificados serão destruídas.

Art.15 __ Os Promotores e Patrocinadores deste Concurso poderão expor, divulgar e editar o texto e a imagem pessoal de qualquer Autor inscrito, sem a ele dever nenhum direito autoral nem ônus financeiro ou cível.

Fundação Guimarães Rosa 117

Coletânea 2.pmd 117 29/05/07, 16:59 Art.16 __ Não poderão inscrever-se neste Concurso as pessoas envolvidas no respectivo processo de planejamento, ou execução, ou julgamento, ou premiação, nem seus familiares, dependentes, ascendentes ou descendentes de até terceiro grau.

Art.17 __ Ao Prosador premiado no II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007 residente fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte, e a um acompanhante dele, a Fundação Guimarães Rosa assegurará alimentação e pousada por dois dias, na Capital, quando se realizarem as cerimônias dispostas no art.14.

Art.18 __ Será desclassificado todo e qualquer texto contrário a este Regulamento.

Art. 19 __ Os casos fortuitos ou omissos serão resolvidos, em segunda instância, pelo Superintendente-Geral da Fundação Guimarães Rosa.

Art. 20 __ Este Regulamento entra em vigor em 22 de agosto de 2006.

Art. 21__ Revogam-se as disposições contrárias.

FGR, em Belo Horizonte-MG, 22 de agosto de 2006.

ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da Fundação Guimarães Rosa.

JOÃO BOSCO DE CASTRO, Provedor Intelectual e Acadêmico do Concurso.

118 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 118 29/05/07, 16:59 II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007. FGR.

FICHA DE INSCRIÇÃO

Nome do Autor inscrito

Cart. Ident. (RG) do Autor

Nº Endereço Rua

Bairro Cidade CEP

Telefone Escola

Texto Título inscrito

Se servidor ou civil da Posto/Grad.: Unidade CTPM de: PMMG ou CBMMG, ou alunos de Colégio Tiradentes

Concordo com todo o conteúdo do Regulamento do II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA “JOÃO GUIMARÃES ROSA”/2007.

Ass.: ------

FGR, em Belo Horizonte-MG, 22 de agosto de 2006.

ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da Fundação Guimarães Rosa.

JOÃO BOSCO DE CASTRO, Provedor Intelectual e Acadêmico do Concurso.

Fundação Guimarães Rosa 119

Coletânea 2.pmd 119 29/05/07, 16:59 II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA ‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2007.

INDICAÇÃO DE COMISSÃO JULGADORA.

Belo Horizonte - MG, 27 de dezembro de 2006.

Senhor Superintendente-Geral:

De acordo com os incisos I e II do art. 7º do Regulamento do II Concurso de Prosa Literocientífica ‘‘João Guimarães Rosa’’ / 2007, indico a V. Sa., para a Comissão Julgadora dos Textos inscritos no mesmo Certame, os seguintes Especialistas:

Presidente: Prosador e Crítico Professor João Bosco de Castro*, da Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro;

Membros: Prosador e Crítico Professor Capitão Giovanni Franco, do Centro de Ensino de Graduação da APM/PMMG;

Prosadora e Crítica Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta, do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa.

120 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 120 29/05/07, 16:59 * Inciso V do art. 7º do citado Regulamento, como Curador do Certame.

Atenciosa e academicamente,

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Concurso.

______Ao Sr. Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da Fundação Guimarães Rosa. Rua Paraíba, Nº 1441 – 8º Andar. 30130-141 – Belo Horizonte – MG.

Fundação Guimarães Rosa 121

Coletânea 2.pmd 121 29/05/07, 16:59 II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA ‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2007.

COMISSÃO JULGADORA. O Superintendente-Geral da Fundação Guimarães Rosa (FGR), Álvaro Antônio Nicolau, no uso de suas atribuições e em atenção ao disposto no Regulamento do II Concurso de Prosa Literocientífica ‘‘João Guimarães Rosa’’ /2007, particularmente nos respectivos arts. 7º e 8º, designa a competente COMISSÃO JULGADORA DE PROSA LITEROCIENTÍFICA: Presidente: Prosador e Crítico Professor João Bosco de Castro, da Academia de Polícia Militar do Prado Mineiro; Membros: Prosador e Crítico Professor Capitão Giovanni Franco, do Centro de Ensino de Graduação da APM/PMMG; Prosadora e Crítica Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta, do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa. Registre-se e cumpra-se! FGR, em Belo Horizonte – MG, 27 de dezembro de 2006. ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da FGR.

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Concurso.

122 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 122 29/05/07, 16:59 II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA ‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2007.

PROCLAMAÇÃO DE RESULTADOS.

O Curador do II Concurso de Prosa Literocientífica ‘‘João Guimarães Rosa’’ / 2007, de acordo com o art. 6º do Regulamento do mesmo Certame e com base na decisão prolatada pela competente Comissão Julgadora, proclama os

RESULTADOS DO CONCURSO:

I. Primeiro Lugar:

Autor: THIAGO JOSÉ RODRIGUES DE PAULA (do Colégio Tiradentes PMMG – Barbacena, MG). Texto: Guimarães Rosa: vida obra e obra vida do Escritor que revolucionou o mundo das palavras.

II. Segundo Lugar: Autor: MÁRCIO ROGÉRIO DOS SANTOS (da Escola Estadual Martinho Fidélis – Bom Despacho, MG). Texto: A Travessia em Guimarães Rosa.

Fundação Guimarães Rosa 123

Coletânea 2.pmd 123 29/05/07, 16:59 III. Terceiro Lugar:

Autor: JONATHAN DE FREITAS SOUZA (do Colégio Tiradentes Nossa Senhora das Vitórias / PMMG – Belo Horizonte, MG). Texto: João: o Sertão Virou Mundo!

Belo Horizonte – MG, 27 de fevereiro de 2007.

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Certame.

124 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 124 29/05/07, 16:59 II CONCURSO DE PROSA LITEROCIENTÍFICA ‘‘JOÃO GUIMARÃES ROSA’’/2007.

COMISSÃO JULGADORA.

DECISÃO.

A Comissão Julgadora dos Textos inscritos no II Concurso de Prosa Literocientífica ‘‘João Guimarães Rosa’’ /2007, após meticuloso julgamento dos Textos a ela submetidos, prolata a seguinte DECISÃO: I. Primeiro Lugar: Texto: Guimarães Rosa: vida obra e obra vida do Escritor que revolucionou o mundo das palavras; Inscrição Nº 0001; Média: 9,0 (nove); II. Segundo Lugar: Texto: A Travessia em Guimarães Rosa; Inscrição Nº 0004; Média: 8,5 (oito e meio); III. Terceiro Lugar: Texto: João: o Sertão Virou Mundo; Inscrição Nº 0005; Média: 7,5 (sete e meio).

Fundação Guimarães Rosa 125

Coletânea 2.pmd 125 29/05/07, 16:59 Desclassificaram-se os textos qualitativamente deficitários e os contrários às exigências estabelecidas no Regulamento do Certame, principalmente as contidas no caput do art. 4º.

Belo Horizonte – MG, 6 de fevereiro de 2007.

Professor João Bosco de Castro, Presidente.

Professor Capitão Giovanni Franco, Membro.

Professora Sílvia de Lourdes Araújo Motta, Membro.

126 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 126 29/05/07, 16:59 Belo Horizonte – MG, 16 de março de 2007.

Prezado Prosador Thiago José Rodrigues de Paula:

Temos o prazer de cumprimentá-lo pela forma e substância de seu texto Guimarães Rosa: vida obra e obra vida do Escritor que revolucionou o mundo das palavras, com o qual Você mereceu classificar-se em Primeiro Lugar no II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007, promovido por esta Fundação Guimarães Rosa. Solicitamos-lhe divida seu justo orgulho e louvável êxito com seus Familiares e Amigos, Professores, Orientadores e sua Escola – o renomado Colégio Tiradentes da Polícia Militar, Barbacena, MG, a cuja Diretoria Você poderia entregar a correspondência a esta anexa. Com seus Prêmios, Você receberá vinte exemplares da Coletânea dos Textos Classificados em tão significativo e importante Concurso Literocientífico. Parabéns!

Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da FGR.

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Concurso. ______Ao Aluno Thiago José Rodrigues de Paula. Rua Oswaldo Basílio, 431. Bairro Diniz II. Cep: 36.202-176 – Barbacena – MG.

Fundação Guimarães Rosa 127

Coletânea 2.pmd 127 29/05/07, 16:59 Belo Horizonte – MG, 16 de março de 2007.

Prezado Prosador Márcio Rogério dos Santos:

Temos o prazer de cumprimentá-lo pela forma e substância de seu texto A Travessia em Guimarães Rosa, com o qual Você mereceu classificar-se em Segundo Lugar no II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa” /2007, promovido por esta Fundação Guimarães Rosa. Solicitamos-lhe divida seu justo orgulho e louvável êxito com seus Familiares e Amigos, Professores, Orientadores e seu Educandário – a renomada Escola Estadual Martinho Fidélis, Bom Despacho, MG, a cuja Diretoria Você poderia entregar a correspondência a esta anexa. Com seus Prêmios, Você receberá vinte exemplares da Coletânea dos Textos Classificados em tão significativo e importante Concurso Literocientífico. Parabéns!

Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da FGR.

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Concurso.

______Ao Aluno Márcio Rogério dos Santos. Rua Tabatinga, 342. Bairro Ana Rosa. Cep: 35.600-000 – Bom Despacho – MG.

128 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 128 29/05/07, 16:59 Belo Horizonte – MG, 16 de março de 2007.

Prezado Prosador Jonathan de Freitas Souza:

Temos o prazer de cumprimentá-lo pela forma e substância de seu texto João: o Sertão Virou Mundo!, com o qual Você mereceu classificar-se em Terceiro Lugar no II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/ 2007, promovido por esta Fundação Guimarães Rosa. Solicitamos-lhe divida seu justo orgulho e louvável êxito com seus Familiares e Amigos, Professores, Orientadores e sua Escola – o renomado Colégio Tiradentes PMMG – Nossa Senhora das Vitórias, Belo Horizonte, MG, a cuja Diretoria Você poderia entregar a correspondência a esta anexa. Com seus Prêmios, Você receberá vinte exemplares da Coletânea dos Textos Classificados em tão significativo e importante Concurso Literocientífico. Parabéns!

Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da FGR.

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Concurso. ______Ao Aluno Jonathan de Freitas Souza. Av. Dom João IV, 760 – Apto. 301A. Bairro Palmeiras. Cep: 30.580-270 – Belo Horizonte – MG.

Fundação Guimarães Rosa 129

Coletânea 2.pmd 129 29/05/07, 16:59 Belo Horizonte – MG, 16 de março de 2007.

Senhor Diretor:

Temos o prazer de comunicar a V. Sa. que o vencedor do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007 é o Aluno Thiago José Rodrigues de Paula, do Ensino Médio desse Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Barbacena, MG, com o texto Guimarães Rosa: vida obra e obra vida do Escritor que revolucionou o mundo das palavras.

Transmitimos-lhe a felicidade maior dessa Fundação pela importante conquista e solicitamos-lhe repasse a esse valoroso Vencedor e respectivos Professores e Orientadores nossa mensagem de regozijo e respeito por tão nobre desempenho. Essa Escola merece nosso aplauso e incentivo a novas conquistas, principalmente porque a produção de bom texto implica a melhor leitura, para humanização de talentos. Cordialmente,

Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da FGR.

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Concurso. ______Ao Sr. Diretor do Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Barbacena, MG.

130 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 130 29/05/07, 16:59 Belo Horizonte – MG, 16 de março de 2007.

Senhor Diretor:

Temos o prazer de comunicar a V. Sa. que o Segundo-Lugar no II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007 é o Aluno Márcio Rogério dos Santos, do Ensino Médio dessa Escola Estadual Martinho Fidélis, Bom Despacho, MG, com o texto A Travessia em Guimarães Rosa.

Transmitimos-lhe a felicidade maior dessa Fundação pela importante conquista e solicitamos-lhe repasse a esse valoroso Vencedor e respectivos Professores e Orientadores nossa mensagem de regozijo e respeito por tão nobre desempenho. Essa Escola merece nosso aplauso e incentivo a novas conquistas, principalmente porque a produção de bom texto implica a melhor leitura, para humanização de talentos. Cordialmente,

Coronel ÁLVARO ANTÔNIO NICOLAU, Superintendente-Geral da FGR.

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Concurso. ______Ao Sr. Diretor da Escola Estadual Martinho Fidélis, Bom Despacho, MG.

Fundação Guimarães Rosa 131

Coletânea 2.pmd 131 29/05/07, 16:59 Belo Horizonte – MG, 16 de março de 2007.

Senhora Diretora Pedagógica:

Temos o prazer de comunicar a V. Sa. que o Terceiro-Lugar no II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007 é o Aluno Jonathan de Freitas Souza, do Ensino Médio desse Colégio Tiradentes PMMG – Nossa Senhora das Vitórias, Belo Horizonte, MG, com o texto João: o Sertão Virou Mundo!

Transmitimos-lhe a felicidade maior dessa Fundação pela importante conquista e solicitamos-lhe repasse a esse valoroso Vencedor e respectivos Professores e Orientadores nossa mensagem de regozijo e respeito por tão nobre desempenho. Essa Escola merece nosso aplauso e incentivo a novas conquistas, principalmente porque a produção de bom texto implica a melhor leitura, para humanização de talentos. Cordialmente,

Coronel HELVÉCIO GOMES, Gerente do Departamento Social da FGR.

Professor JOÃO BOSCO DE CASTRO, Curador do Concurso. ______À Sra. Professora Rosemeire Melo Franco Nicolau, Diretora Pedagógica do Colégio Tiradentes PMMG – Nossa Senhora das Vitórias __ Prado, Belo Horizonte, MG.

132 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 132 29/05/07, 16:59 GRÁFICA E EDITORA O LUTADOR. Pça. Pe. Júlio Maria, 01 – Bairro Planalto. CEP.: 31740-240 – Telefax: (31) 3441-3622. Belo Horizonte-MG.

Fundação Guimarães Rosa 133

Coletânea 2.pmd 133 29/05/07, 16:59 134 Coletânea do II Concurso de Prosa Literocientífica “João Guimarães Rosa”/2007.

Coletânea 2.pmd 134 29/05/07, 16:59