O Conceito De Influência Na Construçâo Da Tradiçâo Na
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O CONCEITO DE INFLUÊNCIA NA CONSTRUÇÂO DA TRADIÇÂO NA OBRA DO BARROCO AO MODERNISMO: ESTUDOS DE POESIA BRASILEIRA DE PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS Talita de Barcelos Ramos (FURG) O presente artigo busca promover uma análise reflexiva acerca da obra Do Barroco ao Modernismo: estudos de poesia brasileira de Péricles Eugênio da silva Ramos, visando ao conceito de influência e como por meio deste o autor constrói a ideia de tradição. Cabe salientar, contudo que a obra em questão se propõe a trabalhar exclusivamente com poesias, portanto a apreciação realizada está voltada a este gênero literário. Péricles Eugênio da silva Ramos era tradutor, ensaísta e poeta teve seus primeiros poemas publicados no jornal carioca Diário de Notícias, em 1936. Além disso, era formado em direito. Péricles era bastante envolvido com poesia, foi inclusive um dos fundadores da Revista Brasileira de Poesia e do Clube da Poesia de São Paulo. Sua obra poética é vinculada à terceira geração do modernismo. A obra a qual nos propormos a discutir, Do Barroco ao Modernismo foi originalmente publicada em 1967, tratando-se de uma reunião de ensaios, que foram publicados anteriormente no jornal O Estado de São Paulo. A proposta inicial da obra era ser voltada a um público especializado, ou seja, a estudantes de letras, e a outros dedicados à cultura brasileira, em nível de graduação e pós-graduação. A obra não apresenta um prefácio de apresentação, possivelmente pelo fato de se tratar de uma reunião de ensaios. No entanto, a falta dessa introdução causa alguns prejuízos ao leitor, sobretudo se pensarmos no leitor menos especializado, pois o prefácio auxilia ao leitor na inferência de qual a proposta do autor. Inicialmente a obra nos apresenta uma abordagem da “Poesia Barroca” onde o autor começa propondo uma revisão conceitual do barroco, na qual irá salientar que Anchieta é um poeta da medida velha, sem os influxos do Renascimento, e por isso não pode ser tomado como Maneirista, nem como Barroco. A menos que se busquem raízes medievais para a poesia Barroca, em meio estas colocações realiza um contraponto com Bento Teixeira, o qual segundo sua definição é um barroquista. Procedendo em sua conceituação o autor recorre a uma elucidação sobre os maneiristas, barrocos e barroquistas, para isso se reporta a Europa e a acontecimentos da literatura europeia. Neste primeiro momento já podemos perceber a problemática que norteia nosso estudo, pois se sobressai, de maneira clara a influência europeia que o autor credita a nossa literatura. A respeito desta influência norteadora do estudo da poesia brasileira de Péricles, percebemos que em nenhum momento esta é utilizada como forma de descrédito a nossa 1 poesia, pois Ramos a utiliza como modo de construção de tradição. Este modelo de construção do autor nos remete a Harold Bloom (1991), quando este salienta que a influência não consiste em imitação, como também não acarreta a diminuição da originalidade, sendo capaz inclusive de tornar um poeta mais original. Logo, após Péricles procede a uma periodização da literatura, para isso faz um levantamento de alguns autores que já haviam procedido esta periodização como, Domingos José de Magalhães, Artur Mota ou Afrânio Coutinho. Por meio destas construções de distintos autores que nos apresentam diversas periodizações para a história da literatura, e que seguem diferentes preceitos para isso, o autor reflete acerca desta questão afirmando que os critérios, tanto podem ser políticos, como puramente literários, ou mesmo baseados na ideia de formação. Quanto a isto não podemos deixar de abordar o que nos traz David Perkins (1999), quando propõe: Desejos conscientes e inconscientes têm seu papel na história narrativa da literatura. É obvio demais mencionar que nossas emoções encontram satisfação ao escrever (e ler) uma história da literatura. A questão é até que ponto as emoções dão forma ao enredo de suas narrativas (PERKINS, 1999:4). Com isso, já observamos que inclusive o conceito de tradição que é construído pelo autor não ocorre de modo isolado, mas vem imbuído de significação de desejos conscientes e inconscientes. Em seguida das assertivas acerca das influências da literatura europeia o autor conclui que nossa literatura não conhece o Maneirismo e que, portanto, se faz necessário conceituar nosso Barroco. Logo, ressalta um teórico que propõem sua periodização, Soares Amora, e remete a Arnold Hauser que percebeu, segundo Péricles, na França o mesmo que Amora no Brasil, ou seja, que a produção artística se divide em duas fases, uma de forma liberal, e a outra com a produção artística sob a tutela estatal, salientando o que ele define como academicismo, que no país seria a fundação da Academia Brasílica dos Esquecidos. Em resumo poderíamos dizer que a análise de Péricles sobre o barroco brasileiro referencia em inúmeros momentos para a França, salientando dessa forma a influência francesa em nosso Barroco, lembrando que a influência defendida por Ramos não desqualifica de modo algum a literatura nacional. Para comprovar, segue um trecho, no qual o autor constrói um argumento em torno da frança e logo o aplica ao Brasil: Tais esforços, porém, revelam-se ineficazes e obscurecem o problema em vez de o esclarecer, pois integrar nos esquemas do barroco um doutrinador como Boileau, um dramaturgo com Racine, um pintor como Poussin – expoentes mais significativos do classicismo francês – ao lado de Gracían, Góngora Marino, Tesauro, Rubens, etc. equivale a transformar o conceito de barroco num conjunto de elementos contraditórios e muitas vezes sem sentido. O argumento parece-nos válido, igualmente para neoclassicismo brasileiro, que teorizou conscientemente contra as diretrizes barroquistas, tais como seguidas em Portugal e no Brasil (RAMOS, 1979:9). 2 O autor afirma que o barroco se inicia com Bento Teixeira e se estende até Claúdio Manuel da Costa, o qual é qualificado como figura de transição. Além disso, o autor também demonstra uma grande preocupação com os aspectos formais da poesia. Realizando uma análise focado, sobretudo nas figuras de linguagem, contudo podemos observar que mesmo nesta análise de aspectos formais o autor não perde seu foco, quanto a influências e o modo como elas interferem em nossa literatura. Assim, quanto os aspectos formais abordados na obra podemos nos remeter a Tynianov (1971) quando este aponta que a relação entre a função e a forma não é arbitrária. Pois, se refletirmos, perceberemos que o gênero literário poético é em grande parte “forma”, com isso existe a necessidade da abordagem feita por Péricles, não esquecendo que este era poeta, logo podemos inferir que conhecia bem as questões formais da poesia. O encerramento da poesia barroca resume as coloções de Péricles ao longo de sua obra, pois este observa: “Nosso refinamento de resto, não foi só nosso, mas característico da cultura ocidental da época” (RAMOS, 1979:30). Com isso percebemos que o autor salienta o fato de estar trabalhando com as influências e interferências culturais. As influências são uma das principais preocupações do autor, como já foi dito anteriormente e por isso também aprece na poesia arcádica, e nos demais períodos literários trabalhados por Péricles. Na poesia arcádica ele realça a influência da Itália, sobretudo sobre Basilio da Gama, e as influências teatrais francesas. Como podemos elucidar por meio do seguinte trecho: “De um modo ou de outro, seriam a influência italiana, com a arcádica e a ópera, e da ilustração francesa, com o culto da razão, que explicariam o setecentismo luso-brasileiro” (RAMOS, 1979:34). Além destas influências Ramos, ainda nos apresenta outras como a indução que existiu, segundo ele, dos árcades portugueses sobre os árcades mineiros. O autor cita e faz uma abordagem de muitos autores deste período como, José Basílio da Gama, Tomás Antonio Gonzaga, Santa Rita Durão, dentre outros. Assim como são objetos de seu estudo “Os poetas Menores”, como o autor definiu os poetas que produziram durante este período, mas que não alcançaram grande destaque. Contudo, é explícito que Cláudio Manoel da Costa é a figura central do estudo de Péricles, já que este dedica um capítulo inteiro para analisar e defender o autor árcade. O autor é inclusive centro da discussão do papel da crítica literária na História da Literatura. Uma vez que é através deste autor que Péricles expõem uma série de questionamentos acerca do posicionamento dos críticos em relação à produção literária de Cláudio Manoel da Costa. Aspecto bastante interessante e pertinente nesta parte da análise de Péricles a respeito da poesia Arcádica é a abordagem que o autor faz sobre as influências que os árcades exerceram em outros períodos, como nos poetas românticos e nos parnasianos. Afirmando, por exemplo, a influência de Basílio da Gama em Gonçalves Dias, e que as 3 irregularidades métricas dos árcades mineiros tiveram influência sobre os românticos. Ainda, há um subcapítulo específico em que Péricles faz um estudo em que retoma as influências sofridas pelos árcades. Neste ele alega que dentre elas estão os gregos com as Odes Anacreônticas, os latinos como Vergílio, Hóracio e Ovídio, dos italianos como Petrarca, e dos bucólicos como Guarani, e Tasso e Metastasio. Essas são algumas das influências sofridas pelos árcades, segundo Péricles. Já a análise que o autor faz do Romantismo, traz questões sociais que influíram para a eclosão dessa nova forma de poesia, como a independência política do Brasil. O autor nos apresenta como influências norteadoras do romantismo, Garret, Byron e Alphonse de Lamartine. Péricles realiza um estudo bastante completo do surgimento do Romantismo no Brasil, apresentando, inclusive os poetas denominados figuras de transição. Entretanto, segundo ele só é viável considerar a poesia romântica após Gonçalves de Magalhães, assim sendo essas figuras de transição pouco ou nada colaboraram para o surgimento da nova escola literária. A influência que o autor delega a Byron no romantismo é de significativa proporção, ao longo do desenvolvimento das afirmações de Péricles, a figura deste surge em incontáveis referências, e em todas as gerações do romantismo.