(E No) Pensamento Político De Cassiano Ricardo
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DOUTORADO GEORGE LEONARDO SEABRA COELHO O BANDEIRANTE QUE CAMINHA NO TEMPO: APROPRIAÇÕES DO POEMA “MARTIM CERERÊ” E O PENSAMENTO POLÍTICO DE CASSIANO RICARDO Goiânia-GO Maio de 2015 1 GEORGE LEONARDO SEABRA COELHO O BANDEIRANTE QUE CAMINHA NO TEMPO: APROPRIAÇÕES DO POEMA “MARTIM CERERÊ” E O PENSAMENTO POLÍTICO DE CASSIANO RICARDO Tese de doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História da Universidade Federal de Goiás (UFG), como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em História. Área de concentração: Culturas, Fronteiras e Identidades. Linha de Pesquisa: Ideias, saberes e escritas da (e na) história. Orientadora: Profª. Drª. Fabiana de Souza Fredrigo Goiânia-GO Maio de 2015 2 AGRADECIMENTOS Por mais que a escrita seja solitária, o velho mito do “cientista” sozinho em seu laboratório, seu escritório ou biblioteca, não se pode esquecer a obrigação de utilizar o “nós” em lugar do “eu” ao expor sua posição no trabalho. A utilização da terceira pessoa não é simples pretexto para eximir-se de equívocos produzidos ao longo do trabalho acadêmico e, muito menos da necessidade de socialização dos méritos, mas um meio de garantir a coletividade na produção do conhecimento. Ao menos nesta parte dos agradecimentos, o historiador ou qualquer outro pesquisador pode utilizar o “eu” sem medo de retaliações ou ironias – uma vez que não demonstra egoísmo de sozinho descobrir a roda – por parte da comunidade acadêmica. Em minha trajetória acadêmica não posso deixar de agradecer a professores que no início da graduação despertaram em mim o gosto pela pesquisa: Prof. Dr. Fausto Miziara, Prof. Dr. Carlos Oitti, Profª. Drª. Libertad Borges e a Profª. Drª. Dulce Amarante. Como esse trabalho é fruto do esforço de leitura acadêmica e da necessidade de aprofundar no tema, tenho a satisfação de agradecer ao Prof. Dr. Barsanufo Gomides Borges pelas orientações durante a Especialização e o Mestrado. Agradeço profundamente à minha orientadora de Doutorado Profª. Fabiana Fredrigo pelas orientações, pela paciência frente a minha ansiedade e pela liberdade que possibilitou que eu traçasse os caminhos desse “bandeirante que caminha no tempo” e, mais, que eu não me perdesse pelos trajetos e encruzilhadas nas relações entre Literatura e História. Além da confiança, estímulo e acima de tudo, pelo respeito e amizade a mim destinados iniciados ainda na graduação. No que se refere a minha trajetória acadêmica, agradeço também aos Prof. Dr. Noé Freire Sandes que acompanhou as conclusões de meus trabalhos: monografia de graduação e especialização, na qualificação de meu Mestrado e Doutorado, e agora, na defesa de minha Tese. Um grande abraço. Agradeço também aos professores que participaram de minha qualificação. Ao Prof. Dr. Cristiano Pereira Alencar que com seu olhar crítico contribuiu bastante para que esse trabalho chegasse à forma final e a Profª Drª Renata Rocha Ribeiro da Faculdade de Letras que com sugestão de leitura foi possível não cometer os enganos de uniformizar poema, poesia e poética nesta Tese. 3 Não posso esquecer-me de agradecer ao colega Marcos Aurélio do departamento PPGH que sempre esteve a disposição sempre que solicitei sua ajuda. Tenho a satisfação de agradecer aos profissionais das Fundações que colaboraram com essa pesquisa, as quais foram fundamentais para a conclusão desta tese, seja na facilidade de acesso a informação, seja nas sugestões dadas. Meus sinceros agradecimentos à Alice Maria Magalhães Gianotti e Luiz Antônio de Souza, bibliotecários da Biblioteca Acadêmica Lúcio de Mendonça da Academia Brasileira de Letras no Rio de Janeiro que, mesmo em minhas visitas nos dias do chá da tarde dos acadêmicos, permitiu-me o acesso à biblioteca, onde foram cedidos livros para digitalização e cópias, principalmente algumas obras raras. Não posso deixar de agradecer ao Leonardo Pereira da Cunha, responsável pelo acervo e biblioteca São Clemente da Fundação Casa de Rui Barbosa também no Rio de Janeiro que gentilmente me recebeu e facilitou acesso as obras solicitadas. Não menos importante é o agradecimento a Nádia Del Monte Kojio e a Edna Martelo, historiadoras e curadoras do arquivo público de São José da Fundação Cultural Cassiano Ricardo em São José dos Campos – SP que sempre estiveram à disposição, mesmo em momento onde o prédio do acervo estava em reforma, facilitando o meu acesso aos arquivos do poeta joseense. Agradeço também a Profª Drª Maria Helena Capelato, Profª. Drª. Cláudia Wasserman, Prof. Dr. Noé Freire Sandes, Prof. Dr. Cristiano Pereira Alencar, Prof. Dr. Marcos Sorrilha e a Profª Ana Lúcia Vilela como membros da banca que aceitaram participar de minha defesa de Doutorado. Agradeço a todos pela certeza da leitura criteriosa e pelas excelentes contribuições acadêmicas. Agradeço a Pesquisadora da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Lourença Francisca da Silva (Tia Ló) pelas acolhidas no Rio de Janeiro e pelo contato com a Profª Drª Mônica Pimenta Velloso, contato este que possibilitou despertar questões que eu não havia ainda percebido neste trabalho. Não posso deixar de agradecer aos meus irmãos e a minha Mãe, pela paciência, dedicação, e acima de tudo confiança. Aos meus amigos de toda hora e de todos os lugares. E um agradecimento especial a minha amada esposa Thálita Maria Francisco da Silva que como companheira e amiga esteve sempre ao meu lado em todas as fases deste trabalho, e espero que esteja ao meu lado por muito tempo. Diante de todos esses outros, como não utilizar o “nós” nos resultados desta tese. 4 RESUMO Esta tese analisa os escritos literários e políticos de Cassiano Ricardo, produzidos no período entre as décadas de 1920 e 1930. Ao examinar os escritos, apreendemos os procedimentos intertextuais por meio dos quais um símbolo regional, “paulista por excelência”, foi adequado à representação da nação. O principal diálogo é com o poema Martim Cererê, que “canta o caminhar bandeirante”; dele emergiriam as apropriações, estendidas até a década de 1970, ainda pela pena de Cassiano Ricardo. Para a apreensão de tais procedimentos realizados em torno da figura do bandeirante, utilizamos a categoria “regionalismo totalizante”. Assim, listamos algumas das principais fontes presentes nesta tese: as versões do poema Martim Cererê (seis delas, a saber: 1927, 1928, 1929, 1932, 1934 e 1936), os ensaios (particularmente, O Brasil no original), o jornal Anhanguera e as revistas Novíssima (1923) e S. Paulo (1936). A hipótese defendida é: a reescrita do poema Martim Cererê – tanto em suas reedições (reescrita interna), quanto em outros suportes (reescrita externa, que seria “traduzida” e “abrigada” pela linguagem das revistas e jornais) – patrocinou a apropriação do “mito bandeirante”, concedendo singularidade ao projeto de escrita de Cassiano Ricardo e ao Movimento Bandeira, que padece de invisibilidade historiográfica. Ainda, essa apropriação, que permite reler a trajetória bio-intelectual de Cassiano Ricardo, interage, em uma dinâmica político-literária, com o grupo modernista verde-amarelo, perpassando pelo rompimento que o atinge e alcançando dois outros grupos políticos, articulados na década de 1930: a Ação Integralista Brasileira e o Movimento Bandeira. A transposição de enunciados literários para o discurso político estabelece um universo complexo, que foi capturado considerando as posições de Cassiano Ricardo em distintos campos intelectuais e o habitus por ele partilhado. Com tal perspectiva, a leitura de variadas escrituras oferece condições para entender como símbolos regionais são transfigurados em representações nacionais, em momentos de aferrada disputa política. PALAVRAS CHAVES: literatura, política, bandeirante, Nação 5 RESUMEM Esta tesis analiza los escritos literarios y políticos de Cassiano Ricardo, producidos en el período comprendido entre 1920 y 1930. Mediante el examen de los escritos, comprender los procedimientos intertextuales por el cual un símbolo regional "Paulista por excelencia", era una representación adecuada la Nación. El diálogo principal es con el poema Martim Cererê que "canta caminar bandeirante"; Ellos saldrían créditos, extendidas hasta la década de 1970, aunque la pena de Cassiano Ricardo. Para la toma de este tipo de procedimientos realizados en torno a la figura de pionero, utilizamos la categoría "totalizadora regionalismo". Así, enumeramos algunas de las pruebas clave para esta tesis: las versiones del poema Martim Cererê (seis de ellos, a saber: 1927, 1928, 1929, 1932, 1934 y 1936), pruebas (sobre O Brasil no original), el periódico Anhanguera y revistas Novíssima (1923) y S. Paulo (1936). La hipótesis planteada es: una reescritura del poema Martim Cererê - tanto en sus reediciones (reescritura interna) y en otros medios de comunicación (reescrito externo, sería "traducido" y "protegido" por el lenguaje de las revistas y periódicos) - patrocinado la apropiación de "bandeirante mito", dándole singularidad a la redacción de proyecto Cassiano Ricardo y la bandera del movimiento, que sufren de invisibilidad historiográfico. Aún así, este crédito, lo que permite volver a leer la historia bio-intelectual de Cassiano Ricardo, interactúa en una dinámica político-literaria, con el grupo modernista de color verde amarillo, pasando por la ruptura que las huelgas y llegar a otros dos grupos políticos, articulados en la década 1930: el integralismo brasileño y la bandera del Movimiento. La transposición de las declaraciones literarias para el discurso político establece