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LUZ EM MOVIMENTO A FOTOGRAFIA NO CINEMA BRASILEIRO 10 a 28 jan 2007 CAIXA Cultural Rio de Janeiro ORGANIZAÇÃO Eduardo Ades e Mariana Kaufman A CAIXA Cultural inicia o ano de 2007, segundo ano de atividade de seu novo Espaço Cultural, com a realização da mostra Luz em Movimento – A Fotografia no Cinema Brasileiro. Há muitos anos não se realiza, no Rio de Janeiro, uma mostra panorâmica sobre a História do Cinema Brasileiro. Acreditamos que isto se deva, em grande parte, a uma dificuldade em estabelecer parâmetros e recortes coerentes e pertinentes. Luz em Movimento traz uma reflexão que vai naquilo que é essencial ao cinema: a imagem. Tendo como objetivo principal um questionamento sobre a estética, a mos- tra não deixa de lado, entretanto, as questões técnicas, pois é o cinema, de todas as artes, aquela que mais se caracteriza pela presença da tecnologia. Assim, a mostra se organiza de modo que se possa compreender qual foi a infra-estrutura técnica requisitada por cada proposta estética ou, em outros casos, quais foram as condições materiais que possibilitaram inova- ções artísticas, mantendo em tensão constante o binômio estética-técnica. Em última instância, o que se coloca em evidência aqui é o trabalho dos Diretores de Fotografia, os profissionais que resolvem as tensões desse binômio e respondem pelo resultado visual de cada filme. Deste modo, cada filme é apresentado não só como um momento importante da histó- ria de nosso cinema, mas também como um momento da carreira de um importante Diretor de Fotografia. A CAIXA Cultural espera trazer ao público alguns dos mais importantes filmes do Cinema Brasileiro e colaborar para a formação de um olhar mais atento à imagem, além de trazer uma importante colaboração para a refle- xão sobre a História do Cinema Brasileiro. CAIXA Cultural De que matéria se constitui um filme? Uma pintura, uma escultura, como objetos artísticos são acabados: são simultaneamente a obra e o suporte. De maneira semelhante, poderíamos dizer que um filme são algumas centenas de metros de poliéster, composto de cinqüenta e duas pequenas imagens por metro? O rolo de filme que se guarda em uma lata pode ser um análogo do filme, mas, em última instância, é radicalmente diferente dele. E, se um filme não é o que está guardado na lata, ele tampouco está na tela de cinema, o local para onde olhamos. Um filme, como uma música, ou uma peça de teatro, um espetáculo de dança, só existe no tempo, em sua duração. Mas, ao contrário dessas outras formas de arte, o cinema tem uma materialidade fugidia, pois, além do som, é constituído de luz – em movimento. Um filme pode ser entendido, assim, como uma seqüência de feixes lumi- nosos. Desde o período mudo, cineastas buscam uma ordenação perfeita desses feixes. Realizadores como Jean Epstein defendiam a “fotogenia” como a mais pura expressão do cinema. O conceito foi abandonado (e transformado), mas a preocupação com a estética visual se manteve sem- pre presente. Há mais de cem anos, cineastas e realizadores nos apresen- tam luzes que se transformam 24 vezes por segundo, constituindo linhas, massas, formas, volumes, cores, intensidades, contrastes; vibrações; cons- tituindo personagens, objetos, espaços, histórias. Se um filme é composto de luz em movimento, de maneira semelhante, podemos entender que a História do Cinema é também a luz em movi- mento. Cada filme constitui uma estética, apresenta uma “fotogenia” própria, uma luz própria. Muito mais que um conceito físico, luz, aqui, é uma noção estética. Ver, portanto, um pequeno panorama da história do cinema brasileiro é ver a luz em movimento ao longo da história. Esperamos que a mostra cumpra, portanto, esse duplo objetivo: que o espectador dedique mais atenção à fotografia do filme e possa fruir com mais intensidade sua estética visual, e que possa também começar a refle- tir sobre a história da estética fotográfica do cinema brasileiro. Assim, dedicamos essa mostra a todos aqueles que tornaram sensíveis as imagens latentes do cinema brasileiro. Os curadores A Associação Brasileira de Cinematografia, fundada em 2 de janeiro de 2000, conta na atualidade com mais de trezentos e cinqüenta associados. A ABC possui um site <www.abcine.org.br>, atualizado permanentemente, e várias listas automáticas na internet. As listas internas se constituem hoje num ponto de encontro entre os profissionais e artistas mais experientes e os iniciantes e estudantes, que lá obtêm informação atualizada sobre seus campos de atuação. A Associação promove ainda oficinas e workshops técnicos visando à for- mação e reciclagem de seus membros. Publica, em associação com edi- toras, obras relevantes para a cinematografia, como o livro Expor uma História, de Ricardo Aronovich. Apresenta mensalmente, junto com a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, uma sessão de cinema com a pre- sença dos principais técnicos envolvidos na produção, que debatem com a platéia após a projeção. Sessões similares são promovidas junto com a Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro. Somos fundadores do Congresso Brasileiro do Cinema. Em 2001, fomos reconhecidos como membro associado da IMAGO, a Federação Européia das Associações de Cinematografia. Participamos, a convite do MinC, do júri de seleção do 2º Grande Prêmio Cinema Brasil. Estamos representa- dos, por um de nossos conselheiros, no Conselho Superior de Cinema. Também em 2001, instituímos a Semana/Prêmio ABC de Cinematografia, que acontece todo ano no Rio e em São Paulo, alternadamente. Na ocasião, acontecem conferências, painéis e debates com personalidades das diver- sas áreas da cinematografia, convidadas no Brasil e no exterior. A semana culmina com a entrega dos Prêmios ABC de Cinematografia, outorgados por um júri constituído pelos associados a várias categorias (fotografia, som, arte etc). A ABC recebe com entusiasmo a proposta da mostra Luz em Movimento – A Fotografia no Cinema Brasileiro. Acreditamos que essa mostra colaborará para a aproximação do público ao universo da fotografia de cinema, assim como para o reconhecimento profissional e artístico do trabalho dos Dire- tores de Fotografia. ABC – Associação Brasileira de Cinematografia SUMÁRIO TRAJETÓRIA DA LUZ 8 Eduardo Ades e Mariana Kaufman MEMÓRIA FOTOGRÁFICA 11 José Carlos Avellar DE MUYBRIDGE A MATRIX 17 Walter Carvalho MINHAS CÂMERAS 19 Carlos Ebert ESTADO DE CONSERVAÇÃO 23 FILMES 24 GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS 109 Carlos Egberto BIBLIOGRAFIA COMENTADA 111 Andrea Capella CIRCUITO ASCINE-RJ 113 DEbaTES 115 FONTES DE PESQUISA 116 TRAJETÓRIA DA LUZ MOVIMENTO DA FOTOGRAFIA NO CINEMA BRASILEIRO Eduardo Ades e Mariana Kaufman “Não existe o cinema, existem filmes.” mostras retrospectivas (em geral, de cineastas), que acabam apresentando Essa frase, atribuída ao teórico Paulo Emílio Salles Gomes, talvez não um percurso histórico relativamente longo do cinema brasileiro, justificado seja um início muito auspicioso para a apresentação de uma mostra panorâ- pelo recorte da obra de um autor. mica sobre a História do Cinema Brasileiro (expressão cheia de maiúsculas), Nosso objetivo é resgatar esse pensamento mais amplo sobre o cinema mas dá uma boa medida da nossa proposta. O problema mais comum em brasileiro, mas numa noção histórica que se depreende dos filmes, e não o mostras panorâmicas está justamente no esvaziamento da experiência única inverso. Nisso já há uma diferença radical: não importam onde, como, ou do filme, em função de uma visão mais ampla, onde o filme acaba catalo- com quanto dinheiro foram feitos os filmes – importa o resultado estético, gado, reduzido a uma categoria que ele representa – o filme deixa de ser aquilo que enforma a experiência do espectador. Essa é, portanto, uma mos- uma obra para ser apenas uma parte do Cinema. A experiência irredutível do tra que traça uma pequena história do cinema brasileiro com um recorte es- cinema, no entanto, é mesmo a do filme; e, assim, o objetivo maior para se tético (neste caso, fotográfico), algo, infelizmente, muito pouco explorado. conhecer, se entender o cinema é aprimorar e intensificar essa experiência. Dessa maneira, cada filme concentra um conjunto de proposições es- As novas posturas teóricas têm questionado com força a chamada téticas de sua época ou é um filme de forte impacto estilístico – de uma “Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro”, que, além de reforçar cer- maneira ou de outra, são filmes que se impõem pela força de sua fotografia, tas noções míticas, apresenta uma grade de classificação que recai em di- repercutindo no processo histórico-artístico. Nesse sentido, não é de se versos clichês e incorreções teóricas. A grade é relativamente familiar ao estranhar a presença de tantos filmes clássicos – são filmes que ganharam público conhecedor de cinema brasileiro: os Primórdios ou a Bela Época, notoriedade devido à grande coesão e coerência estética, nos quais o tra- os Ciclos Regionais, a Chanchada (ou os Estúdios Cariocas), a Era (Indus- balho da fotografia tem muita força porque está totalmente integrado à trializante) dos Estúdios Paulistas (ou, muito resumidamente, Vera Cruz), o proposta mais geral do filme, em sintonia com os departamentos de roteiro, Cinema Novo, o Cinema Marginal, a Pornochanchada (ou Boca do Lixo), direção, arte, figurino, som, montagem. o Cinema Paulista da Década de 90, a Retomada. São categorias até Cada filme apresenta também, além de uma proposta estética, um bastante rígidas, mas que não são justificadas por um rigor teórico: a importante diretor de fotografia do cinema brasileiro. O que é impor- Bela Época, por exemplo, é um período definido pelo volume de pro- tante ressaltar – e está bem evidente pelas escolhas dos filmes – é que dução e pela relação entre produtores e exibidores; os Ciclos Regionais essa não é uma mostra sobre diretores de fotografia e seus melhores ou seguem uma definição de natureza econômico-geográfica; a Chanchada mais significativos trabalhos de sua carreira. Antes, é uma mostra sobre é uma definição de gênero (que, obviamente, não abarca o conjunto da a fotografia e filmes importantes sob esse aspecto, trazendo a assinatura produção do período); a definição da época industrialista dos Estúdios de um grande profissional.