RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 76 [ 16/2/2012 a 22/2/2012 ] Sumário

CINEMA E TV...... 3 Agência Brasil - Filmes produzidos em parceria por Brasil e Uruguai vão receber apoio da Ancine pelo segundo ano...... 3 Reuters - "Real in Rio" é a esperança brasileira no Oscar...... 3 Folha de S. Paulo – 'Xingu' divide público e crítica em Berlim...... 4 Folha de S. Paulo – Ator de "Tabu", Ivo Müller é o único brasileiro na competição...... 5 O Estado de S. Paulo – Redescobrindo o Brasil no Longa Xingu...... 6 Folha de S. Paulo – "Reis e Ratos" aposta em elenco aclamado...... 7 Folha de S. Paulo – Produção parece ter algo a dizer, mas acaba por se perder no supérfluo...... 7 Folha de S. Paulo – Ministério Público pede legendas em filmes nacionais...... 8 Folha de S. Paulo – Sabatella estreia na direção com filme de temática indígena...... 9 Folha de S. Paulo – Cinema: 'O Palhaço' e 'Riscado' competem em Lisboa...... 10 O Estado de S. Paulo - Flashes / Acordo...... 10 O Estado de S. Paulo - Ok, vocês venceram...... 10 Folha de S. Paulo – Andrucha Waddington estreia na comédia...... 12 Folha de S. Paulo – Longa satiriza os excessos da classe média...... 13 O Estado de S. Paulo - Os penetras bons de humor...... 13 TEATRO E DANÇA...... 14 Correio Braziliense - Travessura literária...... 14 O Estado de S. Paulo - Mamma África...... 16 O Estado de S. Paulo - Retrato em branco e preto...... 17 ARTES PLÁSTICAS...... 18 Correio Braziliense - Das ruas para a galeria...... 18 O Estado de S. Paulo - Arte latina em alta...... 19 O Estado de S. Paulo - Feira em crise, mas Brasil comemora êxito...... 20 La Nación - América latina, la gran estrella de la feria del arte de Madrid...... 21 Portal Terra - América Latina avança com força no mercado de arte...... 22 El Cultural – Espanha - Trás Ia euforia latinoamericana...... 22 Folha de S. Paulo – Prova de artista...... 24 IstoÉ - Brasil além-mar...... 25 MÚSICA...... 26 Estado.com - 'Real in Rio' é a esperança brasileira no Oscar...... 26 - Virtuose entre o Molejo e as sinfônicas...... 27 Estado de Minas – Ligado no mundo...... 29 O Globo - O tradicional power trio em nova versão ...... 30 O Globo - A mistura de rock e carnaval não para de dar samba ...... 31 O Globo - Edital do funk destaca memória do movimento ...... 32 Carta Capital - Samba, suingue e Mocotó...... 33 O Globo - Geração fora do tempo...... 34 Jornal de Brasília - Sem o nome do pai ...... 36 Folha de S. Paulo - Palíndromos e melodias simples guiam estreia de Marina Wisnik...... 37 Folha de S. Paulo - Do Pará, Gang do Eletro vibra mesclando ritmos dançantes...... 38 LIVROS E LITERATURA...... 39 Zero Hora – Livros: A lista da feira de Bolonha...... 39 OUTROS...... 39 Agência Brasil - Brasileiros diminuem participação em atividades culturais em 2011, mostra pesquisa da Fecomércio-RJ...... 39 Estado de Minas – Patrimônio desprotegido ...... 40

2 CINEMA E TV

AGÊNCIA BRASIL - Filmes produzidos em parceria por Brasil e Uruguai vão receber apoio da Ancine pelo segundo ano

15/02/2012 - 15h52

Alana Gandra, repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Edital da Agência Nacional do Cinema (Ancine) para estimular a parceria entre produções cinematográficas uruguaias e brasileiras está com as inscrições abertas para apoio financeiro em 2012. Segundo o presidente da Ancine, Manoel Rangel, o edital de coprodução Brasil- Uruguai é uma forma de aproximar o cinema feito nos dois países, “a troca de experiências, de expertises e de talentos bilaterais”.

Ambos os países se beneficiam, segundo Rangel. Para o Uruguai, o edital representa a oportunidade de acessar o mercado brasileiro. “Para o Brasil, representa a oportunidade de acessar o mercado uruguaio que, embora pequeno, é um mercado relevante culturalmente.”

Em 2011, no primeiro edital, foram apoiados dois filmes. Agora, a expectativa é que o número de coproduções aumente. “Não apenas com os projetos que acabam sendo premiados, e são dois a cada ano, mas também pelas parcerias que vão se firmar e que vão utilizar outros mecanismos financeiros que a legislação reserva para apoiar a produção brasileira e a uruguaia”, observou Rangel.

A Ancine apoiará a participação minoritária brasileira no filme uruguaio com US$ 150 mil. Poderão concorrer projetos de longa-metragem de produção independente, nos gêneros ficção, documentário ou animação, cujas filmagens ainda não tenham sido iniciadas.

A coprodutora majoritária brasileira em filme uruguaio será apoiada pelo Instituto do Cinema e do Audiovisual do Uruguai (Icau) com US$ 50 mil. As inscrições serão encerradas no dia 10 de abril.

REUTERS - "Real in Rio" é a esperança brasileira no Oscar

(15-02-2012) Por Jordan Riefe

LOS ANGELES, 15 Fev (Reuters) - Aos 71 anos, dono de uma carreira com inúmeros sucessos e trilhas para cinema, o lendário compositor Sérgio Mendes poderia passar a impressão de que já conseguiu tudo na vida, mas a verdade é que lhe falta uma coisa: o Oscar. E neste ano ele pode levar a estatueta para casa.

A canção "Real in Rio", composta por ele, Carlinhos Brown e Siedah Garret para a animação "Rio", foi indicada ao prêmio e tem grandes chances de vitória na cerimônia do dia 26, pois só enfrenta um concorrente.

Na manhã em que os indicados ao Oscar foram anunciados, em janeiro, Mendes foi acordado por um telefonema do diretor do filme, Carlos Saldanha, perguntando-lhe se o seu smoking estava passado.

"Eu não podia acreditar", disse Mendes. "Ainda estou meio que me beliscando. Que momento maravilhoso na minha vida!", afirmou o compositor.

E momentos maravilhosos não faltaram na história dele. Quando jovem, Mendes se apresentava em casas noturnas cariocas e teve Tom Jobim como mentor. Depois disso, faria uma bem sucedida carreira internacional.

Mas compor "Real in Rio" foi uma experiência especial para Mendes, que se disse honrado com a oportunidade.

3 "Me pediram para escrever uma canção que abrisse o filme", disse Mendes. "Ela meio que atravessa todo o filme e no final explode em um desfile carnavalesco. Então isso é 'Real in Rio'."

Mendes se radicou nos Estados Unidos no começo da década de 1960 e logo gravou alguns trabalhos, mas sua carreira fora do Brasil só decolaria na pareceria com Herb Alpert -o hit "Mas Que Nada" estava no primeiro álbum importante dele, "Herb Alpert Presents Sergio Mendes & Brasil '66".

"Ele (Alpert) foi não só um mentor, foi um amigo. Ainda hoje venero sua música", disse Mendes, lembrando-se "da forma como ele abordava as harmonias, suas vocalizações, a orquestração".

"Mas Que Nada", de Jorge Ben, se tornou a primeira canção brasileira cantada em português a fazer sucesso mundial, segundo Mendes. Ele a reinterpretou em 2006 numa colaboração com Will.i.am, do Black-Eyed Peas, que produziu o álbum "Timeless", de Mendes.

"Se você faz a canção de um jeito totalmente diferente do que eu fiz em 66, eu gostei de fazer", disse Mendes. "Essa é uma geração totalmente diferente, que nunca escutou aquela música nos anos 60, e eles estavam apresentando-a como uma canção totalmente nova."

Depois de "Mas Que Nada" vieram outros sucessos, como "Fool on the Hill" e "Look of Love", e o conjunto Brasil 66 começou a excursionar com Alpert e sua Tijuana Brass, que Mendes observa com orgulho ter sido "a banda instrumental mais quente do mundo" naquela época.

Apesar de ter meio século de carreira, Mendes não perdeu o entusiasmo pelos shows. Comemorando 71 anos na semana passada, ele tocou "Fool on the Hill" em um evento em homenagem a Paul McCartney.

No Oscar, "Real in Rio" enfrenta apenas "Man or Muppet" na disputa pelo prêmio de melhor canção original. "Vou ficar rezando", disse Mendes.

A escassez de indicados resulta de recentes mudanças no formato do Oscar, respondendo às críticas de que canções medíocres estavam sendo selecionadas.

Por isso, gente como Madonna, Elton John, Elvis Costello, Alan Menken e Mary J. Blige ficaram de for a, o que deu motivo a outras críticas da indústria fonográfica.

Mas Mendes disse que mal soube da mudança de regras, e comentou apenas que "gostaria que houvesse mais canções" indicadas.

O compositor lamentou o fato de os organizadores do Oscar não terem incluído apresentações musicais na cerimônia televisionada. "É uma canção tão feliz", disse ele sobre "Real in Rio". "Seria uma vibração realmente incrível para todos."

FOLHA DE S. PAULO – 'Xingu' divide público e crítica em Berlim

Filme de Cao Hamburger, exibido na seção Panorama, aborda de forma épica a criação do Parque Nacional do Xingu Produção cria drama na relação entre os irmãos Villas-Bôas, que passaram mais de 40 anos naquela região FABIO CYPRIANO, ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

(16/02/12) Com uma acolhida gélida na sessão para imprensa, em uma sala de 500 lugares com lotação de menos de 10% de sua capacidade, "Xingu" teve, ontem, sua segunda exibição no 62º Festival de Berlim, a Berlinale. Entretanto, na primeira sessão para o público, no último sábado, a situação foi bem distinta, com sala lotada e aplausos no final. A nova produção de Cao Hamburger, que deve estrear no Brasil em abril, conta a saga dos irmãos Villas-Bôas, responsáveis pela criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961, uma área de mais de 27 mil quilômetros quadrados, que se equipara à de um paí¬s como a Bélgica.

4 "Essa não é uma história muito conhecida e, através de gerações, ela vem sendo esquecida. Por isso quisemos resgatá-la", disse Hamburger, em Berlim, cidade de origem de seu pai. Em 2007, o diretor concorreu ao Urso de Ouro com "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias". "Além disso, ela é muito atual, já que os problemas continuam até hoje." "Xingu" é exibido na seção Panorama, a segunda mais importante do festival. O filme não só relata de forma épica a criação do parque, como apresenta de forma dramática a relação dos irmãos. Eles eram três, apesar de dois deles, Orlando (1914-2002) e Cláudio (1916-1998), terem ficado mais conhecidos, por se dedicarem o tempo todo à causa. Leonardo (1918-1961), que teria sido o primeiro a ir para a região, a abandona e morre cedo do coração. A EXPERIÊNCIA Os atores João Miguel (que interpreta Cláudio) e Caio Blat (Leonardo) também estão em Berlim. "Posso dizer que sou outra pessoa depois deste filme, porque passei a ter um entendimento do Brasil que só essa experiência proporciona. Os í¬ndios incorporam rito e mito, e isso está além de qualquer treinamento teatral", afirmou João Miguel. "Xingu", contudo, não é um documentário ilustrativo sobre a criação do parque. "Para fazer o filme, ouvimos muita gente, não nos baseamos apenas nos livros dos Villas-Bôas, mas em pessoas que os conheceram. Ouvimos muitas versões. O filme é a minha", definiu Hamburger. O CONVITE Segundo o diretor, a ideia do filme partiu da própria família dos indianistas: "A viúva de Orlando e seu filho nos procuraram e aceitei com a condição de ter total liberdade para fazer o longa". Nesse sentido, por exemplo, o filme aposta que assim como Leonardo teria saído da região após ter se relacionado com uma í¬ndia, Cláudio também teria. "Eles passaram 40 anos na região. Seria difí¬cil que nada tivesse acontecido", disse Andrea Barata Ribeiro, uma das produtoras de "Xingu". O contato com os índios parece ter sido tão forte que Hamburger pretende continuar com o assunto em suas próximas produções. "Quero abordar a Amazônia profunda. Eu ouvi falar de í¬ndios que fogem da civilização branca. É esse universo que quero investigar a partir de agora." O jornalista FABIO CYPRIANO se hospeda a convite do Festival de Berlim.

FOLHA DE S. PAULO – Ator de "Tabu", Ivo Müller é o único brasileiro na competição

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES, DE SÃO PAULO

(16/02/12) O sobrenome pode confundir, mas o ator Ivo Müller é brasileiro. E mais: o único brasileiro a disputar um Urso -o troféu da competição oficial do Festival de Berlim. Nascido em Santa Catarina, está em "Tabu", coprodução entre Portugal, Brasil, Alemanha e França dirigida por Miguel Gomes (o mesmo de "Aquele Querido Mês de Agosto", prêmio da crítica na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2008). Dividido em duas partes, "Tabu" conta a história de uma mulher chamada Aurora (Ana Moreira), seu amante (Carloto Cotta quando jovem e Henrique Espírito Santo mais velho) e o marido dela (Müller), que viaja muito a negócios e acaba traído. "No fundo, é sobre as coisas que estão acabando", define o ator. "Afinal, o filme foi feito em película e em 16 mm, com a estética de um filme mudo e em preto e branco." Também serve de homenagem ao cineasta F.W. Murnau (1888-1931), marcante para o diretor português. Apesar do destaque, o ator diz que o convite para ir à Berlinale teve um lado triste: ter de deixar temporariamente as duas peças com que está em cartaz em São Paulo. "Cartas a um Jovem Poeta", texto de Rainer Maria Rilke adaptado pelo próprio Müller, é um monólogo "meio suicida", como diz. "Parece que estou me jogando de um prédio toda noite." Já "Doze Homens e uma Sentença", dirigida por Eduardo Tolentino (fundador do grupo Tapa), é um esforço coletivo, premiado com o APCA de melhor espetáculo em 2010. "Foi mais fácil me substituir enquanto viajo." A troca de atores já tinha sido feita antes, quando Ivo Müller foi filmar em Moçambique, em maio do ano passado. "Miguel imaginou a história na África. Foi importante rodarmos lá, porque ele usa o que as circunstâncias oferecem nas locações."

5 Müller conta que o fato de ele ter vindo do teatro foi muito valorizado pelo diretor português. "Ele não queria alguém muito conhecido. Sempre me dizia que captar momentos especiais é o importante no cinema." O fato de "Tabu" unir um novo trabalho a uma viagem para a África foi muito convidativo. "Também tinha um desafio com o personagem, uma dificuldade. É isso que busco em um trabalho." No próximo sábado saem os premiados do festival. A conferir se Müller não traz na bagagem um Urso.

O ESTADO DE S. PAULO – Redescobrindo o Brasil no Longa Xingu

Luiz Carlos Merten (16.02.12) É uma discussão interessante e, mais do que isso, importante. Meryl Streep arrastou uma multidão anteontem para a coletiva de A Dama de Ferro, que estreia amanhã no Brasil. Meryl recebe um Urso de Ouro por sua carreira na Berlinale deste ano. Terá outra coletiva, específica para falar do prêmio. A de terça foi sobre sua participação no filme de Phyllida Lloyd a respeito da primeira-ministra Margaret Thatcher. Como se representa uma personagem? Como se apresenta, uma pergunta que pode ser formulada à diretora. Meryl disse uma coisa que pode gerar polêmica. "Todas nós (mulheres) temos mais em comum com Margaret do que gostaríamos de admitir." O feminismo, talvez?

Esse mesmo tema, o da representação histórica, pode ser retomado a partir de Xingu, o novo longa de Cao Hamburger, que estreia dia 6 de abril no Brasil - em plena Sexta-Feira Santa. A produtora Andrea Barata Ribeiro acrescenta: "Para ver se Deus ajuda a gente". Havia cerca de 50 pessoas - numa sala de 300 - na sessão de imprensa de Xingu. No sábado, quando o filme teve sua primeira exibição com público, a sala, muito maior, estava lotada. A coletiva também teve pouca gente, mas em defesa de Cao e do filme deve-se dizer que tudo isso ocorreu durante a projeção do concorrente chinês, e a imprensa estava, majoritariamente, no Palast. Quantidade não quer dizer, necessariamente, qualidade. Foi uma das melhores coletivas desta Berlinale.

Pode ser que tenha influenciado o fato de o filme interessar tanto aos brasileiros. Xingu, ao reconstituir o esforço dos irmãos Villas Boas para criar o Parque Nacional do Xingu, corria o risco de ser hagiográfico. Não é. No quadro do que não deixa de ser um esforço para salvar as nações indígenas, o filme narra a história da desintegração de uma família. Os irmãos, de três, reduzem-se a dois e os sobreviventes (Orlando e Claudio) amargam a culpa pela morte do terceiro (Leonardo). Como é preciso negociar cada movimento com os militares, durante a ditadura, Orlando e Claudio fazem-se acusações. E, no limite, apesar de todo o esforço, o parque carrega essa sensação de um paraíso perdido para a civilização. Na última tribo contactada pelos Villas Boas, havia 600 índios. Morreram mais de 500 antes de chegar ao Xingu.

Todos, dos atores (João Miguel e Caio Blat) ao diretor, foram unânimes em dizer que não foi uma simples filmagem. Foi uma experiência reveladora, uma espécie de redescoberta do Brasil. Quando se fala em índios, o teor da conversa, até mesmo entre ecologistas bem-intencionados, a preocupação é quase sempre preservacionista. Como impedir que eles sejam contaminados pelo consumismo da civilização? Um índio não pode desejar um tênis Nike? "O objetivo da criação do parque foi preservar a cultura dos índios, mas não impedir o curso da história. Se eles quiserem o tênis Nike, é uma escolha deles. Me interessa muito mais a via inversa. Teremos um dia a humildade de ver que podemos aprender com os índios?", pergunta-se o diretor.

Os choques culturais estão em muitos filmes - e nas diferentes seções da Berlinale. Ontem pela manhã, o repórter se encontrou com o diretor Miguel Gomes, do belo Tabu. Resumindo, ele falou do seu filme - metade em preto e branco, sem diálogos e imerso num clima onírico, de sonho - como expressão de seu desejo por um cinema não realista nem naturalista. É uma tendência que domina boa parte da produção atual. É a opção estética presente no cinema do presidente do júri, Mike Leigh. Tabu não tem chance por isso? "Não se esqueça de que ele tem um filme que foge disso em sua carreira, Topsy Turvy." O negócio é esperar que, na hora de premiar, Mike Leigh esteja em seu momento Topsy.

6 FOLHA DE S. PAULO – "Reis e Ratos" aposta em elenco aclamado

Longa de Mauro Lima tem Selton Mello, Rodrigo Santoro e Cauã Reymond e retrata com humor período pré-ditadura

Diretor rodou o longa em apenas 17 dias com orçamento de R$ 2 milhões; "Era para ser um filme pequeno", diz ROSANGELA HONOR, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

(17/02/12) Renovar o retrato da tensão e da expectativa que tomavam conta do país às vésperas do golpe militar de 1964 não é tarefa das mais simples. O período parece já ter sido explorado exaustivamente ao longo dos últimos anos. Em "Reis e Ratos", filme que entra em cartaz hoje nos cinemas, o diretor Mauro Lima ("Meu Nome Não É Johnny") enfrenta o tema com olhar apurado e até irônico, com o amparo de um time de atores encabeçado por Selton Mello, Rodrigo Santoro e Cauã Reymond.

Lima não teve a pretensão de fazer um filme político. O tema serve apenas de pano de fundo para a narrativa.

"Era para ser um filme pequeno, feito por amigos, não imaginávamos fazer um lançamento grande", diz o diretor, que rodou o longa em apenas 17 dias e com orçamento de R$ 2 milhões.

"Reis e Ratos" se passa em 1963 e mostra o clima de conspiração que tomava conta do Brasil do ponto de vista de alguns personagens.

O roteiro, de 2003, saiu do papel graças à produtora Paula Lavigne. "Estava na coprodução de 'O Bem-Amado' e a Paula ficava dizendo que aquilo daria para um outro filme. Foi uma sacada de produtora", lembra Lima, que reciclou cenários e figurinos de "O Bem-Amado" para ajudar a colocar o filme de pé.

Ele ressalta que o projeto também se viabilizou graças à disponibilidade dos atores, que abraçaram a ideia sem se preocupar com o cachê.

Selton Mello ajudou a "escalar" o time. "Tenho uma afinidade enorme com o Mauro e já conhecia o roteiro. Não me preocupo com o fato de o projeto ter sido feito em pouco tempo. Cinema é aqui e agora", diz Mello, que vive um agente da CIA escalado para uma missão no Rio.

Cauã Reymond admite ter ficado nervoso ao saber que dividiria a cena com Santoro e Mello. "Senti uma responsabilidade enorme. No primeiro dia de filmagem, fiquei nervoso e fumei 25 cigarros."

Ele vive um radialista médium e afeminado. "Fiquei vendo vídeos do 'Repórter Esso' durante dias", conta, acrescentando que passou dez dias sob os cuidados de uma fonoaudióloga e de um professor de russo para dar maior veracidade ao desempenho de seu personagem.

Para viver o ex-cafetão do filme, Santoro aparece praticamente irreconhecível graças à maquiagem que deixa sua pele com marcas de ferimentos, ao cabelo ensebado e à prótese dentária.

O filme tem a participação de Caetano Veloso, que interpreta a música tema composta para o longa.

FOLHA DE S. PAULO – Produção parece ter algo a dizer, mas acaba por se perder no supérfluo

Crítica Comédia RICARDO CALIL, CRÍTICO DA FOLHA

(17/02/12) "Reis e Ratos" tem a virtude inicial de não se parecer com nenhuma das comédias de costumes brasileiras que têm feito sucesso com um humor tão ou mais banal que o televisivo.

7 O primeiro diferencial do trabalho de Mauro Lima (do competente "Meu Nome Não É Johnny") é sua ambição temática. Ele faz uma comédia com personagens fictícios envolvidos em uma conspiração golpista de 1963, usando como pano de fundo os acontecimentos históricos que levaram à ditadura militar.

A segunda é o desejo de passear por gêneros clássicos do cinema, em particular a "screwball comedy" (as farsas frenéticas da Hollywood dos anos 30) e o "filme noir" (os policiais de trama intrincada da década seguinte), trabalhando na chave paródico-contemporânea.

Nesses dois gêneros, há filmes em que a trama complexa e o ritmo ajudam a nos lembrar: o mundo é mesmo uma bagunça. E há filmes que são, eles próprios, uma bagunça. "Reis e Ratos" fica mais perto desta classe.

O filme deixa a impressão de que tem algo a dizer, pela ótica da farsa, sobre o caos que se instalou no Brasil em 1963. Mas o espectador dificilmente ficará sabendo, porque o filme se perde no supérfluo: a excentricidade dos personagens, a esperteza das citações, os excessos nas caracterizações de atores.

Dentro da confusão, o filme tem um núcleo bem resolvido: o agente do FBI (Selton Mello) e o major brasileiro (Otávio Muller) conspiram contra o golpe. Aí a simplicidade se impõe: são só dois belos atores, alguns bons diálogos e um humor bem brasileiro.

Quando eles estão em cena, tudo faz sentido: o Brasil de 1963 não era nem "filme noir" nem "screwball comedy". Era já uma tragédia e ainda uma chanchada.

FOLHA DE S. PAULO – Ministério Público pede legendas em filmes nacionais

Medida mira deficientes auditivos e aponta para inércia do governo na promoção de ações pró- acessibilidade ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, DE SÃO PAULO

(17/02/12) Moacyr de Mello, 94, desistiu de cinema. O último filme que viu foi "Avatar", no ano passado. Depois, nunca mais. Produções dubladas ou nacionais? Fora de cogitação.

"Tenho deficiência auditiva. Sem legenda, nem adianta ir ao cinema. Nos DVDs que você compra, tem a legenda bonitinha. Assisto a filmes em casa agora", diz o cinéfilo do Paraná.

Nesta semana, o Ministério Público Federal em São Paulo entrou com processo para cobrar que o governo saia da "inércia" e defenda os deficientes auditivos.

A proposta: legendas devem ser obrigatórias para obras nacionais patrocinadas com dinheiro público.

A ação aponta que essa medida beneficiaria cerca de cinco milhões de brasileiros que têm algum problema para escutar (os dados são da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos).

Para espectadores mais velhos, por exemplo, má acústica das salas e dicção embolada de atores podem prejudicar a apreensão do filme.

A notícia chegou à Folha por meio do Folhaleaks, canal pelo qual o jornal recebe informações e documentos.

Na ação civil pública proposta pelo procurador Jefferson Aparecido Dias, os réus são União (que representa o Ministério da Cultura), Ancine (Agência Nacional do Cinema), Petrobras e BNDES.

Dias pede uma liminar para obrigar Petrobras e BNDES a adequar editais e contratos em até 40 dias. A ideia é que os principais patrocinadores do cinema brasileiro exijam cópias legendadas para liberar dinheiro ao setor.

8 A fiscalização, segundo Dias, deve ficar a cargo do MinC e da Ancine. A desobediência significaria multa diária de ao menos R$ 100 mil.

Ele diz que "a inércia [dos órgãos] está dificultando a adoção das medidas".

Petrobras e BNDES, por sua vez, "se recusam a adotar postura em prol da acessibilidade [...] somente por falta de exigência dos órgãos públicos reguladores".

OUTRO LADO

A Ancine se diz "alinhada com a proposta de acessibilidade", mas "zelosa". Para a agência, "custos devem ser equacionados" a fim de não "prejudicar a consolidação da indústria do cinema".

O BNDES afirmou que seguirá diretrizes da Ancine, e que só apoia projetos aprovados por ela. MinC e Petrobras não comentaram o caso, pois ainda não foram oficialmente citados pela Justiça.

FOLHA DE S. PAULO – Sabatella estreia na direção com filme de temática indígena

Codirigido por Gringo Cardia, "Hotxuá" registra cotidiano dos krahô, do Tocantins MATHEUS MAGENTA, DE SÃO PAULO

(17/02/12) Conhecida pelo ativismo em causas como a preservação do meio ambiente, a atriz Letícia Sabatella estreia na direção com o documentário "Hotxuá" (2009). O filme, que chega hoje aos cinemas, é um registro do dia a dia de índios krahô, do Tocantins, narrado a partir da figura de um palhaço indígena -o "hotxuá".

Segundo ela, o objetivo do longa, dirigido em parceria com o artista plástico e cenógrafo Gringo Cardia, é fazer um intercâmbio entre a cultura krahô e outras culturas.

"A gente não quer ver o índio como algo que precisa ser preservado num zoológico, numa redoma de isolamento", disse ela à Folha.

O documentário de 70 minutos registra principalmente a festa da batata, ritual que marca a passagem da estação chuvosa para a seca, com foco na figura do "hotxuá".

O palhaço sagrado, ou sacerdote do riso, como descreve Sabatella, usa o humor para melhorar a autoestima da tribo e amenizar disputas.

"A figura do palhaço mostra uma aceitação do diferente em qualquer sociedade. Ele revela outra visão de mundo, fundamental para a manutenção de reinos e sabedorias e inibição de ditaduras."

A princípio, o filme abordaria também o papel do palhaço na sociedade, de forma geral. Durante as gravações, porém, os diretores optaram por uma experiência de imersão na vida da tribo.

Atendo-se ao registro factual, o filme aborda temas atuais -como o avanço do plantio de monoculturas (soja, por exemplo) e a construção de barragens- apenas superficialmente, em trechos de conversas na tribo.

PRIMEIRO CONTATO

Sabatella conheceu a etnia krahô em 1996, durante uma pesquisa dramatúrgica feita com um grupo de atores. O encontro decorreu de um convite do antropólogo e indigenista Fernando Schiavini.

Segundo Schiavini, a população da etnia krahô é formada atualmente por quase 3.000 pessoas em 28 aldeias.

A terra indígena ocupada por essas aldeias -uma área de 320 mil hectares (equivalente a cerca de 2.020 parques Ibirapuera)- foi demarcada, conforme ele conta, em 1951, após um conflito entre índios e fazendeiros da região.

9 FOLHA DE S. PAULO – Cinema: 'O Palhaço' e 'Riscado' competem em Lisboa

(17/02/12) "O Palhaço", de Selton Mello, e "Riscado", de Gustavo Pizzi, estão selecionados para a competição do FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, que acontece entre 9 e 16 de maio, no Cinema São Jorge, em Lisboa. Também faz parte da programação um longa de Guiné-Bissau.

O ESTADO DE S. PAULO - Flashes / Acordo

(17.02.12) Brasil e assinaram o segundo ano de um acordo de coprodução entre o Incaa argentino e a Ancine nacional. O fundo de coprodução deve beneficiar quatro filmes, dois de cada país, em 2012. Cada um receberá o equivalente a US$ 200 mil, segundo dados da Variety, publicados na edição de ontem.

O ESTADO DE S. PAULO - Ok, vocês venceram

Há 30 anos, a Blitz derrubava o mau humor do rock nacional com cores e ironia. Agora um documentário conta tudo

JULIO MARIA

(18/02/2012) A criação da juventude se deu em Saquarema, , em um dia de verão de 1982. Seu autor é um surfista das antigas que odiava quando se referiam a ele como Zeca Mendigo - prefere Zeca Proença até hoje. Sem vontade de ser nada além do que já era, com uma vida que se resumia a pegar ondas na praia de Itaúna e a tocar rock and roll à beira da fogueira, Zeca rascunhou um refrão de cinco palavras que um dia poderia virar música, ou não. "Você não soube me amar, você não soube me amar." A letra criou asas e saiu voando da região dos Lagos para Ipanema. Caiu nas mãos de uma outra banda de rock, ganhou arranjos, solo de guitarra, estrofes gigantes, entrou

10 em um estúdio e saiu aos milhares em formato de LP. Num país em que os velhos estavam tensos e os jovens pareciam velhos demais, Você Não Soube Me Amar era um choque de vida nos espíritos revolucionários da época. Ao ser lançada primeiro em EP (os disquinhos que traziam uma música de cada lado) e depois em LP, ajudaria a banda Blitz a sair vendendo mais de 1 milhão de cópias com um discurso ingênuo apenas na superfície.

A história da canção que fez eclodir a banda Blitz em 1982, e que por tabela ajudou a criar o rock brasileiro dos anos 1980, será contada no documentário de curta duração chamado Mais de Três Foi o Diabo Que Fez, uma referência às quatro cabeças que assinam a música: Zeca Proença (o surfista autor do refrão), Evandro Mesquita (que recebeu o refrão de um amigo que tinha em comum com Zeca), Guto Barros (guitarrista da Blitz que pensou nos arranjos, harmonia e melodia), e o guitarrista Ricardo Barreto (que completou a letra com Evandro). Ao saber da poliautoria, Caetano Veloso disse a frase que batizaria o projeto. O filme deve estrear somente no circuito de festivais, em março.

Os versos de Zeca foram sendo lapidados por um longo caminho até serem gravados no EP que tinha de um lado Você Não Soube Me Amar e, do outro, uma voz que repetia "nada, nada, nada, nada". A brincadeira vendeu 100 mil cópias em três meses. Sessenta dias depois de lançada, aparecia de novo no LP As Aventuras da Blitz. "Foi uma música criada em meio àquela cultura de surfe dos anos 80", diz Zeca Proença.

O restante da letra de Você Não Soube Me Amar, o equivalente a 90% do todo, foi inspirada em um espetáculo que Evandro dirigia à época no grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, semente da Blitz que tinha como casa o Circo Voador, na divisa das Praias de Ipanema e Copacabana. "Existia uma cena onde o ator contracenava com seis ou sete garotas. Elas representavam na verdade uma mulher que, de tão boa, era várias em uma só. A letra estava sendo desenvolvida, mas, por ser grande e meio falada, estava difícil de ser musicada", diz o produtor do documentário, Daniel Accioly, 26 anos (nenhum dos parceiros de Accioly no projeto tem idade para ter curtido 1982 com a idolatria que se instalou nas rádios FM a partir da gravação da Blitz. O diretor Leonardo Souza tem 22 anos e a editora Tita Berredo, 24). A tarefa de fazer aqueles versos virarem música ficou com o guitarrista Guto Barros. Apenas com um refrão pronto, ele criou o riff de guitarra e musicou as partes.

Quando o Circo Voador ficou pequeno para a Blitz, que tinha em sua formação o baterista Lobão e a bailarina e backing Fernanda Abreu, a censura cresceu os olhos. Nem tudo seria verde limão e rosa new wave para um grupo que chegava ao Olimpo tão rápido. Cruel, Cruel Esquizofrênico Blues e Ela Quer Morar Comigo Na Lua receberam o carimbo de impróprias. Em sinal de protesto, Evandro e amigos riscaram a master do LP com um prego, fazendo com que todas as cópias saíssem com o que Evandro chama hoje de cicatriz. "A ideia era passar ao público a agressão que sofremos." Mais tarde, as duas músicas censuradas seriam lançadas em um novo compacto.

Foi preciso ali dar um chute na porta, nas palavras de quem viveu os primeiros anos da década de 1980 sob a lona do Circo Voador. E pior, a porta estava fechada com cadeado. A música brasileira não estava para piadas, com artistas ainda tateando no escuro de uma ditadura traumática. O presidente João Baptista Figueiredo vinha em um processo de abertura mais lenta do que gradual e a inflação batia nos 200% ao mês. As rádios e TVs não tinham clima para festa. Os artistas ouviam a Blitz e torciam o nariz. Quando o segundo disco chegou, em 1983, com o nome de Radioatividade e dois cavalos de batalha, a balada A Dois Passos do Paraíso e a quase censurada Betty Frígida, não deu para segurar. A nova juventude estava criada. E o rock virou pop.

'Ainda temos flecha'

Ninguém sabia ao certo no que aquelas brincadeiras todas poderiam dar. Evandro Mesquita lembra bem de quando o seu carrossel começou a girar.

Vocês sabiam o que estavam fazendo naquele momento?

Queríamos fazer música que a gente curtisse, os amigos, namoradas e família. Queríamos fazer o que não ouvíamos nas rádios. Ouve um período que nada acontecia depois dos Mutantes, Novos Baianos e Raul, fora os mestres Gil, Caetano e Chico. Mas a música da minha geração não tinha vez nem voz nas gravadoras, rádios e TVs. Antes de querer gravar não tínhamos a menor esperança de

11 abrir essas portas das gravadoras e seus homens de terno. Depois dos primeiros shows, sentimos no bairro e na praia que nossa galera adorava e queria mais!

Como foi que a classe artística viu a chegada da Blitz?

Caetano Veloso falava da nossa Disneylândia pop. Gilberto Gil disse que demos uma blitz na MPB. Paulinho da Viola assistiu a um show nosso no Canecão e falou que começou a ter mais simpatias pelo rock. Dorival Caymmi foi ao camarim do Canecão nos abençoar. Roberto nos chamou para uma grande participação em seu especial de fim de ano.

Rock, no momento, não era coisa séria demais?

O Rio era mais o berço do samba e Sampa sempre foi mais rock and roll, mas tinha aquela onda dark, todos de preto e com cara de bandido. O que não tinha muito a ver com nossa realidade de praia, verão e cores. Viemos nessa contramão, o que incomodou muita gente. Estávamos impregnados de Bob Marley e sua sonoridade tropical com energia rock. Hoje, a Blitz segue na turnê sem fim. Enquanto houver bambu... tem flecha.

FOLHA DE S. PAULO – Andrucha Waddington estreia na comédia

Marcelo Adnet e Eduardo Sterblitch são protagonistas de "Os Penetras", que traz referências de filmes italianos Obras do italiano Mario Monicelli serviram de referência à produção; Folha acompanhou um dia de filmagens no Rio MORRIS KACHANI, ENVIADO ESPECIAL AO RIO

(21/02/2012) De um lado, Eduardo Sterblitch, criador dos personagens Freddy Mercury Prateado e Cesar Polvilho, do programa "Pânico na TV". De outro, o rei do improviso Marcelo Adnet, da MTV, célebre pelas imitações de nomes como Silvio Santos, Arnaldo Jabor, Dercy Gonçalves, e Joel Santana. O primeiro fazendo o papel de um bobalhão ingênuo, mas cheio da nota, perdido na noite e prestes a ingressar no vestibular da canalhice. O outro é a versão repaginada do malandro carioca, um personagem que, como o mafioso, parece não morrer nunca nos cinemas. O que esperar desse encontro, por enquanto, só os deuses da comédia saberão dizer. Ambos estreiam como protagonistas no cinema no filme "Os Penetras", deve ser lançado no segundo semestre deste ano. O diretor é Andrucha Waddington, 42, o mesmo de "Lope" e "Casa de Areia", e do elenco participam, entre outros, Mariana Ximenes, Stepan Nercessian, Susana Vieira e a exuberante modelo russa Elena Sopova. O longa se passa em um período de 48 horas em que nenhum dos dois personagens principais dorme, e cobre uma noite de Réveillon. Como o título sugere, eles entram de bico nas festas e aplicam uma variedade de golpes. Há até uma cena de perseguição com policiais, todos sob efeito de um alucinógeno, rodada no centro do Rio. A convite da produção, a Folha visitou o set de filmagens no penúltimo dia das gravações, em janeiro. Acompanhou a cena em que Beto (personagem de Sterblitch) tenta cometer suicídio, atirando-se de uma pedra no mirante Dona Marta, vizinho ao Corcovado. Marco (Adnet) o salva, e assim começam as desventuras da dupla. Quando a equipe de filmagem estava toda a postos, aguardando a entrada de Adnet no cenário, com Sterblitch agarrado ao tronco de uma árvore de cabeça para baixo, como se tivesse sobrevivido à queda, o comediante da MTV brincou: "Xi, deu vontade de fazer cocô, dá pra esperar?". R$ 7 MILHÕES As gravações duraram praticamente um mês e meio, com direito a duas festas com 120 figurantes cada e locações várias, sempre na capital carioca -Palácio do Catete, Piscinão de Ramos, praia do Arpoador. E não se trata de um filme de baixo orçamento. Waddington, que em 2011 calcula ter dirigido 30 filmes publicitários, pela produtora Conspiração, da qual é sócio, afirma que o valor de "Os Penetras" baterá os R$ 7 milhões.

12 DESAFIO Esta será sua primeira comédia, o que configura um desafio para o diretor, cujo currículo cinematográfico carrega dramas densos e suspenses. Assim, ele definiu sua regência em "Os Penetras": "Toda comédia é meio dramática. Neste filme, procuramos contar a história de uma geração que, de certo modo, é a minha, feita de jovens urbanos da cidade grande se virando para viver". O diretor afirma ter sentido "um frio na barriga" ao pisar em gênero novo para ele. "Mas é uma comédia clássica, em que o tempo de interpretação dos atores prevalece sobre a edição", diz. "Não se trata de um filme feito de esquetes. Por isso fomos buscar inspiração nas melhores obras do gênero." A lista de referências tem clássicos como "Meus Caros Amigos" (1975) e "Quinteto Irreverente" (1982), do cineasta italiano Mario Monicelli (1915-2010).

FOLHA DE S. PAULO – Longa satiriza os excessos da classe média

"Até que a Sorte nos Separe" tem Danielle Winits e Leandro Hassum como novos ricos ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, NO RIO

(21/02/2012) Acertou na loteria? Seus problemas não acabaram. O novo filme dos irmãos e produtores Caio e Fabiano Gullane oferece uma reflexão para o sortudo que já pensa em trocar a "banheira velha" pelo carrão e mandar o limite do cartão às favas. Em "Até que a Sorte nos Separe", Danielle Winits e Leandro Hassum vivem um casal que ganha R$ 80 milhões. Dez anos depois, contudo, eles já torraram a bolada. Previsto para estrear em outubro, o filme tem muito a ver com "essa nova classe média cheia da grana, aquela coisa do exagero, do descontrole", diz Hassum -protagonista de primeira viagem no cinema, assim como Winits. E dinheiro na mão é vendaval querendo virar furacão nas posses de Tino (Hassum) e Jane (Winits). A fanfarronice é tanta que os novos ricos tratam de manter cama elástica no jardim, jet ski na piscina e Ferrari na garagem. Quando a fonte seca, começam as trapalhadas tentativas dele em esconder da mulher a falência. Jane está grávida, e o médico desaconselha "fortes emoções". A Folha acompanhou um dia de filmagem, numa mansão na Barra da Tijuca -bairro carioca já associado a um playground dos emergentes. Na cena rodada naquela tarde de janeiro, Tino convocara o amigo (Aílton Graça) para fingir ser um decorador gay. O farsante tenta convencer Jane de que "´vintage´ é o ´must´" -assim, ela adota um estilo menos luxuoso. Não à toa, o longa se inspira em "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos", best-seller de Gustavo Cerbasi. Não faz tanto tempo que cineastas brasileiros acabavam com o estoque de pé de coelho para arrastar mais de um milhão de espectadores para ver um filme nacional. Roberto Santucci deixa claro que dirige o longa "por encomenda" dos irmãos Gullane. Ele deveria fazer um filme que reprisasse "o mesmo alcance popular" (leia-se: ao menos 3,5 milhões de público) de outro filme seu, "De Pernas pro Ar" (2010). Para Hassum, "é uma grande babaquice" achar que o único cinema brasileiro digno de nota é aquele autoral. O colega Aílton Graça polemiza: "Não dá para viajar na coisa Glauber [Rocha], que ninguém assiste".

O ESTADO DE S. PAULO - Os penetras bons de humor

Tudo se passa no réveillon nesta comédia prevista para estrear no 2º semestre

ROBERTA PENNAFORT / RIO

(21/02/2012) Os créditos de Os Penetras, que anunciam Marcelo Adnet e Eduardo Sterblitch (o Freddie Mercury Prateado do Pânico) como a dupla de protagonistas, são, ao mesmo tempo, o chamariz e a pegadinha do filme. Sim, eles são estrelas da nova geração do humor brasileiro, colecionam fãs pelos stand ups no teatro, os vídeos no You Tube e os humorísticos na TV. Não, não se trata de transplantar o deboche, as piadas e as sátiras para a tela grande.

13 "Eu queria uma comédia não televisiva", explica o diretor, Andrucha Waddington, em seu quarto longa e primeira incursão cinematográfica no gênero, que sucede o épico Lope. "O grande desafio era fugir do que eles fazem na TV, e tentar construir personagens que têm uma tragédia pessoal. Eles embarcaram nessa onda e saíram da zona de conforto."

Adnet e Sterblitch são Marco e Beto, dois opostos que se atraem. O primeiro é um carioca fanfarrão e espertinho; o segundo, vindo do interior, é introvertido, deslocado e inseguro. Eles se conhecem acidentalmente e, com a convivência, em que Marco tenta se dar bem e Beto corre atrás da mulher amada, as personalidades se entrosam. A ação se dá toda nas últimas 48 horas do ano.

Promessa de blockbuster, produzido pela Conspiração Filmes e com Stepan Nercessian, Mariana Ximenes, Susana Vieira, Andrea Beltrão, Luis Gustavo e Luiz Carlos Miele no elenco, Os Penetras tem estreia prevista para o segundo semestre.

Foi rodado entre dezembro e janeiro, no Rio, em locações facilmente reconhecíveis: Copacabana no réveillon, o Mirante Dona Marta, o Palácio do Catete... Numa mansão em Santa Teresa, de propriedade de uma tradicional família grã-fina, Andrucha filmou uma exclusiva festa de réveillon que se tornou um prato cheio para a dupla de bicões.

Esqueça Cilada.com, Muita Calma Nessa Hora e Agamenon - O Filme. O diretor quis o foco nos personagens, e não em piadas. Ele cultiva o projeto desde 2006 e escreveu o roteiro com colaboradores - inclusive os dois atores, mais recentemente.

Quando assistiu a Penetras Bons de Bico, filme de 2005, em que Vince Vaughn e Owen Wilson "penetravam" em festas de casamento para tirar proveito das convidadas encalhadas e vulneráveis, hesitou em levá-lo adiante. Depois o retomou e decidiu fazer uma comédia de humor "bem carioca".

Sterblitch, que vem do teatro (estudou desde criança), está em seu primeiro filme, e bem à vontade. "Eu sempre fui nerdzinho de cinema. Já tinha recebido propostas, mas tive bastante cautela. O Andrucha nos deu toda a liberdade. Aqui, a graça vem da situação", afirma o ator, que fez 25 anos na quarta-feira.

Adnet, que festejou os 30 no ano passado, conta que ambos já conheciam o trabalho um do outro, mas nada mais havia além disso. "Estávamos procurando o Beto, e quando o Eduardo leu, veio a certeza na hora. A gente tem uma musicalidade diferente, respira diferente, e dá muito certo."

Stepan Nercessian tinha um papel menor, mas o entrosamento com a dupla ("dois cariocas que foram ganhar dinheiro em São Paulo", como brincam) fez com que cenas fossem reescritas. "É bom estar colocando mais uma pedrinha na construção do cinema brasileiro. A gente perdeu a embocadura para fazer comédia, e eu sempre fui muito fã de comédias simples", acrescenta Stepan Nercessian.

TEATRO E DANÇA

CORREIO BRAZILIENSE - Travessura literária

Peça encena a farsa da criação do suposto escritor JT Leroy pela norte-americana Laura Albert

Mariana Moreira

(16.02.12) O escritor americano JT Leroy surgiu como uma avalanche no universo da literatura. Durante a última década, publicou livros que revelavam sua infância infeliz, passada na Virgínia. Criado por uma prostituta de poucos recursos, desde cedo foi usuário de drogas e vítima de abuso sexual e violência. Seus relatos, traduzidos em mais de 30 países, acabaram ganhando a admiração de artistas como Madonna e Bono Vox. Para apimentar um pouco a trama, descobriu-se que JT, na verdade, nunca existiu. O personagem controverso não passava de uma travessura literária de Laura Albert. A trama rocambolesca é matéria-prima da peça JT — Um conto de fadas punk, que estreia hoje e segue em temporada até 11 de março.

14 Natália Lage e Nina Moreno em cena na peça JT Leroy - Um conto de fadas punk, em cartaz na cidade: drama da identidade de um escritor

Com direção-geral de Paulo José, em parceria com Susana Ribeiro, a peça foi escrita pela jornalista, escritora e dramaturga Luciana Pessanha, que chegou a entrevistar JT Leroy durante sua participação em um evento alternativo da Festa Literária Internacional de Paraty. O escritor era, na verdade, a jovem Savannah Knoop, modelo, atriz e cunhada de Laura. Na ocasião, Luciana chegou a perceber que o escritor tinha contornos muito femininos, mas se deixou levar pela comoção coletiva. “Você quer acreditar que alguém violentado, drogado que se f… para se salvar pela literatura consegue virar uma estrela internacional. Ele despertava uma coisa maternal”, explica a autora.

A trama que deu origem à peça é intrincada: cantora punk mal sucedida e funcionária de um serviço de Disque-Sexo, Laura Albert decide escrever um livro, batizado de Maldito coração, e cria JT Leroy. O menino prostituído, gay e vítima de transtornos mentais foi logo adotado pela comunidade literária underground. Laura manteve a farsa durante anos, alegando pânico social e comunicando-se, como JT, apenas por telefone.

Mas um dia foi preciso dar um corpo a essa personagem, devido a pressões do mercado editorial, e ela escolheu Savannah, que entrou para um círculo restrito de eventos literários, lançamentos e entrevistas. A farsa só foi descoberta quando o marido de Laura, Geoffrey Knoop, revelou tudo à imprensa. Na montagem brasileira (a primeira de que se tem notícia), coube à atriz Natália Lage dar vida ao autor maldito e à sua intérprete. “A peça faz a defesa da ficção e da necessidade de olhar para a arte como transgressão”, reforça a atriz.

Depoimentos “A gente toma um pouco de liberdade sobre a história. Existe uma certa reconstrução”, avisa a diretora Susana Ribeiro. Além dos atores em cena, a montagem recorre a depoimentos de artistas sobre JT, projetados em tapadeiras, no fundo do palco. No estilo do espetáculo, há depoimentos dublados, legendados e entrevistados assumindo outras personalidades. A banda de Laura Albert também está presente. “Foi uma sacada do Paulo”, conta Susana. Em cena, os atores tocam a trilha sonora composta por Ricco Viana. A atriz Nina Morena, que se desdobra em cinco papéis diferentes, precisou aprender noções de bateria.

Embora façam um esforço para não aderir a nenhum dos lados da história, evitando tomar partido da autora ou dos leitores que se sentiram ludibriados, os diretores da montagem tratam de legitimar as

15 ações de Laura. “O crime que ela cometeu é comum na literatura, de um autor se esconder atrás de diversas personas”, destaca Paulo José. O que o encantou, de imediato, no projeto, foi a teatralidade natural da história de Laura e JT, com cenas que ele classificou como curiosas. “É uma comédia cruel e impiedosa. É pop e punk”, define.

JT — Um conto de fadas punk Texto de Luciana Pessanha. Direção geral de Paulo José. Direção: Susana Ribeiro. Com Débora Duboc, Natália Lage, Nina Morena, Hossen Minussi e Roberto Souza. De quinta a sábado às 21h, e domingo, às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB — SCES, Trecho 2, Lote 22, 3108-7600). Ingressos a R$ 6 e R$ 3 (meia). Não recomendado para menores de 16 anos. Até 11 de março.

Três perguntas - Luciana Pessanha

A Laura é uma impostora? Não, ela é uma artista. Só deu corpo a uma personagem. Desde que o mundo é mundo, escritores mentem e ganham dinheiro com isso. Me encantei pela coragem e pela cara de pau dela de se jogar. Então, foi uma traição à morbidez das pessoas. Se elas queriam sangue, queriam saber que aquela dor é real, então foram traídas.

O que mais te interessou nessa história? Ela discute a questão de não se prender a uma identidade fixa, rígida, a um mercado editorial rígido, do consumo de biografias. A ficção é tão maravilhosa, o negócio é fazer catarse. Conversei com um psicanalista sobre a diferença entre a leitura de biografias e a ficção. Segundo ele, se você lê uma história verídica, pode sofrer e se emocionar, mas tem um depositário. Você devolve a dor ao dono, o biografado. Mas quando é ficção, não há dono para aquela dor, e ela fica com o leitor.

Você já teve contato direto com ela? Ela sabe que há uma peça sobre ela estreando no Brasil? Nos falamos por telefone duas vezes. Queríamos fazer contato, pagar os direitos. Tínhamos medo porque os direitos sobre a obra estavam presos. (Laura foi processada e perdeu os direitos sobre os livros que publicou sob o pseudônimo. Conseguiu recuperá-los há duas semanas). Mas temos autorização da Geração Editorial, que a publica no Brasil. Três advogados foram consultados e o que eles dizem é: tudo isso saiu nos jornais. No mais, foi um trabalho de chinês aposentado, reunindo histórias, livros, jornais e depoimentos. Ela sabe da peça e está muito feliz. Esse julgamento matou a personagem dela e a peça mantém JT Leroy vivo.

O ESTADO DE S. PAULO - Mamma África

Em sua nova peça, diretora Cibele Forjaz leva adiante sua investigação sobre formação do Brasil Maria Eugênia De Menezes

(16.02.12) É como se o País inteiro fosse um navio negreiro. Uma nau à deriva, perdida em algum lugar entre dois continentes. Em seu novo espetáculo, a diretora Cibele Forjaz e a sua Cia. Livre lançam olhar para a questão da identidade nacional. Mas o fazem sob um viés incômodo. Abrem as feridas não cicatrizadas da escravidão. Tratam de relacioná-las à trágica história de Édipo, o rei que padece justamente por desconhecer sua origem.

A Travessia da Calunga Grande, que entra em cartaz no Sesc Pompeia no dia 8 de março, é resultado de uma extensa pesquisa do grupo. Levou mais de um ano para ser gestado. E, além disso, guarda parentesco com um projeto que movimenta a companhia há quase uma década: investigar a formação brasileira, detendo-se especificamente sobre os mitos de morte e renascimento dentro dessa cultura.

Foi com essa temática nada palatável que Cibele Forjaz cunhou seu espetáculo de maior sucesso: VemVai - O Caminho dos Mortos. A montagem, com dramaturgia de Newton Moreno, estreou em 2007 e mirava as concepções de morte dos povos indígenas. De tão vasto, o assunto renderia ainda uma outra criação: Raptada pelo Raio, peça de 2009. "O contato com o pensamento dos povos da floresta foi um choque", lembra a atriz Lucia Romano, protagonista da atual montagem.

16 O novo trabalho foca questões semelhantes, mas direciona o olhar para um outro território. Investiga os vínculos entre África e Brasil, centrando-se em dois dados fundamentais: a mestiçagem e a escravidão. "O tráfico de escravos é algo muito determinante em toda a relação África-Brasil", considera a diretora. "Foi uma diáspora terrível, um holocausto. Não haveria como tratar de morte sem passar por aí. Além disso, a estrutura escravista é algo que tentamos jogar para baixo do tapete, mas está presente hoje, aqui e agora."

O ESTADO DE S. PAULO - Retrato em branco e preto

Em A Travessia da Calunga Grande, Cia. Livre investiga a formação do Brasil através do passado escravocrata

Maria Eugênia De Menezes (16.02.12) Um passado edulcorado. Fundado sobre a ilusão de um povo pacífico, gentil, cordial. Ao revolver os mitos de morte e renascimento dentro da cultura negra, o espetáculo A Travessia da Calunga Grande esbarrou em muitos dos pressupostos da formação do País.

A conciliação entre as raças alardeada por Gilberto Freyre. O futuro glorioso do Brasil mestiço louvado por Darcy Ribeiro. Todas essas teses - algumas delas reabilitadas pelo modernismo festivo e nacionalista - caem por terra neste novo trabalho da Cia. Livre.

Escrita pela dramaturga Gabriela Almeida, em colaboração com o grupo, a peça detém-se sobre uma narrativa nada idílica. Flagra um amontoado de mortes e atos de violência extrema. "Começamos a perceber quanto a origem escravista está arraigada na estrutura do Brasil", observa a diretora Cibele Forjaz. "Todos os nossos grandes problemas, sejam eles sociais, políticos, econômicos, sejam aqueles relacionados ao trabalho e às relações humanas, têm na estrutura escravocrata um dado fundamental. É uma violência tremenda, mas preferimos esquecer." Flagra-se uma atitude conciliadora que não está circunscrita apenas ao episódio da escravidão, mas expandida para outras situações da história recente. Entre elas, a anistia mal resolvida que abafa os crimes cometidos durante o período militar.

Para criar a peça, o grupo deteve-se sobre as análises de uma série de "intérpretes" do Brasil. Um passeio que abarca desde o abolicionista Joaquim Nabuco até estudiosos contemporâneos como Luiz Felipe de Alencastro e Eduardo Viveiros de Castro. Há, no entanto, um outro componente que auxilia a Cia. Livre a transformar as ambiguidades da mestiçagem brasileira em fábula. O paralelo que foi traçado entre o passado sangrento nacional e o Édipo Rei, de Sófocles.

Em sua releitura do mito grego, A Travessia da Calunga Grande transfigura o rei que desconhece a própria origem. "Como é que se pensa identidade em um país composto basicamente de diferenças? Uma diferença não só de formações mas uma desigualdade imensa", questiona a encenadora, um dos nomes mais festejados do teatro paulistano. "Tal qual um Édipo, o brasileiro está sempre perguntando 'quem eu sou, de onde eu vim?'"

Na obra eternizada por Sófocles, Édipo mata seu pai, o rei Laios. E, por não conhecer sua descendência, casa-se com a própria mãe, Jocasta. Sua ignorância está na raiz do mal. Um assassinato funda a sua linhagem.

Sob a lente da Cia. Livre, esse anti-herói deixa de ser apenas um personagem e torna-se uma metáfora da crise identitária que paira sobre o Brasil. A montagem flagra o interior de um navio negreiro, em eterno trânsito entre o Brasil e a África. O cenário de Simone Mina deve dar ao galpão do Sesc Pompeia a aparência de uma imensa embarcação. O palco está cercado por água, escotilhas pendem das paredes, os figurinos evocam as cordas típicas da navegação.

Como se também estivesse encerrado dentro desse barco, o público segue a história de um prisioneiro que alcança o posto de capitão. Faz acordos com as forças que estão no poder, mas acaba se perdendo pela própria ambição desmedida. Será morto e terá seu lugar tomado por uma mulher, Nora.

17 Aparentemente mais ponderada, ela assume a função de "mãe" dessa tripulação. Em pouco tempo, porém, será também corrompida. "A mulher é colocada em uma posição de poder, mas reproduz os padrões que chamaríamos de masculinos", diz Lucia Romano, intérprete da personagem. De certa forma, Nora se aproxima da imagem da nossa República, sistema no qual existe a liberdade, mas a desigualdade persiste como base.

Outra aproximação da trama com o mito edipiano se dá pela menção a um crime de sangue não vingado. Neste caso, contudo, não se trata apenas do Rei Laios assassinado. O cadáver insepulto não é individual, mas um corpo coletivo: representação de milhões de africanos transportados à força para o Brasil. O enredo termina aí. Mas o espetáculo só chega ao fim após um ritual. É hora de cultuar os que morreram. E de não esquecer.

QUEM É: Cibele Forjaz - A artista paulista, que é também iluminadora, passou pelo CPT de Antunes Filho e pelo Teatro Oficina com Zé Celso. À frente da Cia. Livre, assinou diversas montagens marcantes como Toda Nudez Será Castigada (2000), Arena Conta Danton (2004) e VemVai – O Caminho dos Mortos (2007).

ARTES PLÁSTICAS

CORREIO BRAZILIENSE - Das ruas para a galeria

Quarenta e dois grafiteiros do DF têm trabalhos reunidos em exposição no Espaço Cultural Contemporâneo

Nahima Maciel

(16.02.12) No meio do Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco) está uma pista de skate de 13m x 9m. É o indício da transformação sofrida pela galeria para se transformar numa pequena vitrine da cultura urbana do Distrito Federal. Tapumes com grafites rodeiam a pista e completam o cenário de Arte radical. Distribuídos por dois andares da galeria, 42 artistas de rua do DF realizam uma amostra do que costumam imprimir nos muros e tapumes da cidade. Munidos de sprays de todas as cores, máscaras e ao som de hip-hop, grafiteiros transformaram o Ecco em um painel gigante da arte de rua e recontextualizaram criações e modos de trabalho para poder adaptar as pinturas ao formato da galeria.

Idealizada pela curadora Karla Osório, também proprietária do Ecco, a exposição — aberta para visitação de hoje a 29 de abril — nasceu da vontade de realizar um mapa do grafite no DF e associar a arte de rua a esportes radicais como o skate e o in line (praticado com patins) e o break, típicos da cultura hip-hop. “Eu queria desenvolver um projeto entre arte e esporte, e o skate é o esporte que tem menos espaço no DF”, diz Karla.

A pista montada no meio da galeria será o palco de performances de atletas profissionais e de quatro campeonatos de skate. Já os trabalhos dos artistas foram inteiramente criados dentro da galeria. “Foi a primeira vez que o Ecco produziu todos os trabalhos de uma exposição”, avisa a curadora.

É também a primeira exposição em galeria para alguns dos artistas convidados. Conhecido na rua como Kogu, Gleysson Alves Ferreira, 26 anos, grafitou um rosto distorcido em preto e branco. O único detalhe colorido é uma calcinha cor de rosa pendurada ao lado do personagem, o que faz muita gente questionar se o artista é fã de Wando. Não, Kogu não gosta de música romântica, prefere rap e nunca havia mostrado seus grafites fora das ruas. Como faz parte da crew DF Zulu, de Ceilândia, e da Vômito e Terror, do Recanto das Emas, Kogu costuma pintar pela periferia. “O legal da galeria é que a gente pode trabalhar com rascunhos”, repara.

Para Sowtto, ou João Batista Souto, 46 anos, a galeria pode ajudar no combate ao preconceito. “Porque ele existe. É uma opção para difundir o grafite, especialmente para uma classe que não tem sensibilidade para perceber o trabalho na rua. Mas ainda acho que a melhor galeria para o grafite é mesmo a rua”, diz o artista, que se divide entre a pintura e trabalhos como arte-educador e segurança.

18 Já Flávio Batista, o Soneka, não vê muita diferença entre pintar na rua e na galeria. Também não acredita que haja muito preconceito em relação aos grafiteiros. “Acho que tem mais é curiosidade para ver como é feito.” A única diferença em relação à prática nas ruas está no tempo. A galeria possibilita mais dedicação . “O trabalho fica mais fino, mais delicado”, garante.

“Fofismo” Também é preciso pensar em como a obra vai ser recebida pelo público. Por isso, Juliana Borges, 24 anos, uma das poucas meninas da exposição, criou um desenho narrativo e objetivo. Conhecida como Borgê e dona de um traço arredondado e bem feminino, a artista chama de “fofismo” a cena em que a personagem brota da paisagem e parece rasgar a parede para entrar em um mundo cujo guardião é um lobo-guará. “É um pouco onírico”, admite a estudante de artes plásticas, que escolheu a rua como suporte porque acredita na coletividade como forma de criação. “Pintar na rua é bem legal, você fica em contato com a galera e isso agrega, você pede opinião e o trabalho vai crescendo.”

Na galeria superior, Dom Pedrone, 29 anos, divide espaço com a segunda pista de skate. Integrante da crew Colors, de Ceilândia, ele deixou de lado o colorido e criou para a galeria um desenho em preto e branco. Só com tempo e sossego ele pode trabalhar os detalhes como gosta. Na rua, nem sempre isso é possível. “O legal da galeria é que você tem a oportunidade de se mostrar como artista plástico”, diz o também estudante de artes plásticas, que fora das ruas atende por Pedro Henrique de Abreu.

Para João Daniel de Souza, que assina um painel com a mulher, Maria Joana Rodrigues, a galeria é um ambiente interessante, mas não traduz o que é grafitar nas ruas. “Dentro da galeria não existe grafite. Você pode falar em muralismo, street art, mas não grafite. Na galeria, você precisa de uma abordagem mais lúdica. Na rua, você não precisa de um contexto, a obra se adequa ao local. E o acabamento também é outro.”

O bonde Crew é um termo de grafiteiros e significa equipe, grupo, conjunto de pessoas que saem para grafitar juntas, embora sejam donas de estilos completamente diferentes.

ARTE RADICAL Visitação de hoje a 29 de abril, de terça a domingo, das 9h às 19h, no Espaço Cultural Contemporâneo (Ecco — SCN Q. 3, Bl. C; 3327-2027).

O ESTADO DE S. PAULO - Arte latina em alta

Nesta edição, a feira espanhola, que será oficialmente aberta hoje, lança um programa especial para artistas da região

Camila Molina / Madri (16.02.12) Uma fileira de bandeiras hasteadas em bases de concreto, rígidas, se transformou, este ano, numa espécie de monumento sobre a crise da União Europeia na Arco Madri, feira de arte contemporânea, aberta ontem, na capital espanhola. Trata-se da obra Questão Nacional, do gaúcho Marlon de Azambuja, que vive e trabalha em Madri. A Espanha - a Europa - passa por um de seus piores momentos de arrocho econômico. Mesmo assim, a Arco 2012, que tem hoje sua inauguração oficial com a presença do príncipe Felipe e amanhã abre-se para o público, continua sua toada, reunindo, nesta edição, estandes de 215 galerias e apresentando a Holanda como país convidado. É um número considerável de participantes. "A feira Miami Basel é a concorrente direta da Arco e tirou muito a força da representação latina aqui", diz a galerista paulistana Luciana Brito, que integra o comitê do evento espanhol. Apenas quatro galerias do Brasil integram o Programa Geral da atual edição da feira de Madri - além do estande de Luciana, em que os destaques são o painel da fotoperformance Art Must Be Beautiful, de Marina Abramovic (por € 300 mil), e instalação de Ricardo Basbaum (€ 15 mil), há as paulistanas Casa Triângulo (com obras de Eduardo Berliner, Camila Sposati, Sandra Cinto e Albano Afonso, entre outros), Dan Galeria (com concretos e neoconcretos de altos valores) e Ybakatu Espaço de Arte (de

19 Curitiba). Para se fazer uma comparação, a feira Miami Basel de 2011, realizada em dezembro nos EUA, contou com 17 galerias brasileiras. Mas há mais Brasil na Arco 2012. Na seção Solo Projects: Focus LatinoAmérica, de mostras individuais, o brasileiro Cauê Alves participou do grupo de curadores do segmento e estão entre os selecionados as artistas Lia Chaia (galeria Vermelho), Rochelle Costi (Luciana Brito) e Ester Grinspum (Transversal), além da dupla Dias&Riedweg (representados pela marchande Filomena Soares, de Lisboa). É possível ainda ver criadores nacionais no novo programa expositivo da feira, o Solo Objects, para esculturas ou instalações escultóricas de grande porte - dele participam Azambuja, pela galeria madrilenha Max Estrella, e Adriano Amaral (da Transversal). Outros criadores nacionais estão espalhados pelos estandes de galerias estrangeiras, como as obras de Lygia Pape, destaque do espaço de Graça Brandão, de Portugal. "Para driblar a crise, tivemos de convidar mais colecionadores estrangeiros", diz Carlos Urroz, diretor da Arco - e ele conta que o orçamento para esta 31.ª edição é de € 4 milhões (apenas 5% doado pelo governo da Espanha). "Trabalhamos pela internacionalização da feira, não é um evento de espanhóis." Destacar a Holanda como convidada é uma ação nesse sentido. No ano passado, foi a vez da Rússia ser homenageada (e este ano, cinco galerias russas voltaram ao evento). Tàpies. Ainda é cedo para avaliar os negócios realizados na Arco 2012, mas é possível dar alguns destaques em exposição. O pintor e escultor catalão Antoni Tàpies, que morreu dia 6, recebe homenagem - em um painel, galeristas, artistas e o público poderão pôr mensagens especiais sobre o artista. Uma de suas pinturas-assemblage, Principiel, de 1989, está à venda na feira por € 700 mil pela galeria Lelong de Paris. Já a mais valiosa do evento, que se encerra no domingo no complexo Ifema, é a pintura Study from the Human Body. Figure in Movement (1982), de Francis Bacon, avaliada em US$ 15 milhões (galeria Marlborough, de Madri). Mais ainda, o polêmico chinês Ai Weiwei, representado pela galeria madrilenha IvoryPress, tem uma escultura feita em porcelana cotada em 150 mil e o jovem cubano Wilfredo Prieto, criador de raiz conceitual, participa da feira com uma das peças entre as mais caras, o trabalho One Million Dollars - feito de uma nota do dinheiro americano e espelhos -, cujo preço é € 760 mil. "Fundação Coca-Cola, Ministério da Cultura, Museu Reina Sofia e Fundação Arco já garantiram que vão fazer aquisiçoes", informa ainda Urroz.

O ESTADO DE S. PAULO - Feira em crise, mas Brasil comemora êxito Ao contrário de brasileiros participantes, até ontem espanhóis não registravam vendas de destaque

Camila Molina / Madri (17.02.12) A Arco Madri, a tradicional feira de arte contemporânea na capital espanhola, não é um evento de obras milionárias. Há o problema da crise econômica da zona do euro, em que Itália, Holanda, Bélgica, Grécia e Portugal estão em recessão. A Espanha passa por um de seus piores momentos e, obviamente, esse contexto se reflete na Arco. "As vendas estão lentas, compradores têm interesse pelas obras, mas dizem que vão pensar", afirma a galerista Juana de Aizpuru, das mais antigas de Madri. Ela diz que a Arco 2012 tem mais qualidade, entretanto, até ontem, não havia promovido uma venda de destaque em seu estande, onde as peças variam entre € 6 mil e € 150 mil. "Posso apenas dizer que o Centro Pompidou (de Paris) reservou uma obra de Mike Kelley. Antes, vendia direto", conta Juana, famosa por seus cabelos vermelhos.

A pintura de Francis Bacon, Study from the Human Body (1982), da galeria Marlborough, avaliada em US$ 15 milhões, também não teve compradores nos dois dias em que a Arco recebeu colecionadores e instituições. A própria Marlborough, que exibe ainda Boteros, destacou, entre as vendas, pinturas de Juan Genovés por € 34 mil. Entre hoje e domingo, a feira se abre para o público que, na maioria, é de apenas visitantes.

A Arco passa, na verdade, por um momento de transição. Esta 31.ª edição, que traz a Holanda como convidada, marca o projeto de Carlos Urroz como diretor da feira. É sua segunda gestão da Arco, centrada em conter o número de galerias selecionadas. Vem se reduzindo, por exemplo, a entrada de participantes espanholas, cerca 40% das 215 expositoras da Arco 2012, abrigada no complexo Ifema (tema de polêmica por anos).

20 Mais ainda, Urroz vem destacando a arte latino-americana na seção Solo Projects Latinoamérica, que tem entre os curadores o brasileiro Cauê Alves. No segmento, obras de Lia Chaia, da Galeria Vermelho, foram vendidas, e a instalação de Rochelle Costi, da Luciana Brito Galeria, concorria ao prêmio Illy.

A Casa Triângulo, de São Paulo, também comemorava a passagem com êxito pela Arco. "Melhoraram muito a feira: vendemos para colecionadores da Inglaterra e dos EUA", diz Rodrigo Editore, diretor da galeria. A Triângulo, com obras que variam de US$ 3 mil a 80 mil, coloca como destaque a pintura de Eduardo Berliner. Agora, a galeria se prepara para, em maio, realizar mostra de Sandra Cinto na feira de Hong Kong, na Ásia, novo evento do mercado de arte.

LA NACIÓN - América latina, la gran estrella de la feria del arte de Madrid

Por Alicia de Arteaga, Argentina 16/02/2012

MADRID.- En la apertura de Arco para profesionales y coleccionistas, la sorpresa fue escuchar a la curadora argentina Sonia Becce, escoltada por el director Carlos Urroz, plantear los alcances de la sección Solo Projects, consagrada a América latina, que potencia un mosaico de identidades caracterizado por su vigor y originalidad.

La crisis, que ha puesto a España contra las cuerdas, ha sido también la oportunidad para los artistas latinoamericanos elogiados por su naturaleza híbrida y por obras que tensan la cuerda de los límites y los soportes. En este cambio de paradigma mucho ha tenido que ver el éxito de Art Basel Miami Beach, que se llevó consigo gran parte de la clientela latina a la base de operaciones de Florida; la joven Pinta, con sus dos ediciones anuales, una en Londres y otra en Nueva York, y la fuerte presión de los museos -como Tate Modern, Houston, MoMA y Reina Sofía- por potenciar el arte latinoamericano en sus colecciones. El balance del primer día indica que ha habido más compras de las esperadas y que el coleccionismo privado ha tomado la posta que dejó vacante la inversión pública en tiempos de ajustarse el cinturón.

A propósito de coleccionismo privado, recibió el premio al coleccionismo la Fundación Santander, con su colección digna de un museo, y el espacio de Boadilla del Monte, donde el arte de América latina ha sido tratado con excelencia. Dos años atrás se vieron en las salas de esa ciudad satélite de Madrid fundada por el banquero Emilio Botín obras de la Colección Daros de Zurich: de Benedit a Grippo, de Machi a Damasceno, Cildo Meireles, Kuitca, León Ferrari, Vic Muniz, Betsabé Romero, Leandro Erlich y Jorge Macchi. La Colección Daros, que tendrá en breve su "casa" en Río de Janeiro, mostró el potencial enorme de nuestros artistas, aún muy rezagados en las cotizaciones respecto del arte del resto del mundo.

La conquista del espacio de Arco lleva los nombres de artistas argentinos de las nuevas generaciones que trabajan con soportes y medios muy diversos: Karina Peisajovich (Vasari), Roxana Schoijett (Zabaleta Lab), Adriana Bustos (Ignacio Liprandi), Alicia Herrero (Mirta Demare), Luciana Lamothe (Orly Benzacar) y Cecilia Szalovichz (Alberto Sendrós). La curadora Sonia Becce integró el comité que seleccionó 23 de las 70 propuestas presentadas. Arco ha dejado atrás los compromisos con las comunidades autonómicas y sus promociones regionales. "Al arte lo que es del arte", parece ser la consigna de Carlos Urroz, decidido a "limpiar" la feria de sponsors para que ganen visibilidad las galerías y sus artistas.

Más de 250 coleccionistas de todo el mundo salieron de compras ayer por la tarde. Es pronto para trazar un balance o marcar una tendencia, pero la oferta es realmente atractiva, desde el Calder estupendo que fue de Ernst Beyeler y que exhibe Elvira González; los Torres García de Guillermo de Osma, las pinturas de Esteban Vicente y Eduardo Stupía, en Jorge Mara; el Tàpies de 750.000 euros que ha llevado Lelong, y la joya de ruedo ferial, un Bacon de 11,5 millones colgado en el stand de la Marlborough. Famosos como Pedro Almodóvar, Alaska, Elena Ochoa y Norman Foster recorrieron la feria que hoy tendrá su día estelar porque está previsto que los príncipes de Asturias, Felipe y Letizia, corten la cinta inaugural.

21 PORTAL TERRA - América Latina avança com força no mercado de arte

16 de fevereiro de 2012 • 15h21 • atualizado às 17h15

Em um mercado que luta para esquecer a crise, a América Latina oferece à arte compradores dispostos a investir e uma indústria criativa cada vez mais conhecida na Europa, como mostra a presença de artistas hispano-americanos na Feira de Arte Contemporânea de Madri. Com o programa Solo Projects: Focus Latinoamérica, a ARCOmadrid 2012 volta suas atenções para a cena artística latino-americana. A feira começou na terça-feira (14) e, até o domingo (19), apresenta obras de mais de três mil artistas vindos de 29 países. Em termos de arte, o Brasil é um aluno excepcional, constata Rochelle Costi, artista de São Paulo. "As coisas mudaram muito nos últimos dez anos, é um momento muito melhor. O Brasil tem muita visibilidade agora". "O interesse pela arte latino-americana está crescendo na Espanha", explica Eloisa Góngora, que vende obras de artistas espanhóis na Colômbia, na galeria El Museo, e de artistas da América Latina na Espanha, pela galeria Fernando Pradilla. Esse maior interesse, segundo Góngora, pode ser justificado por se tratar de "uma proposta diferente". "Muitas vezes, a arte latino-americana tem menos filtros, tem uma marca que representa o que eles realmente querem expressar, enquanto a Europa é mais fria", diferencia. Para a argentina Sonia Becce, uma das desenvolvedoras do Solo Projects: Focus Latinoamérica, o objetivo da ARCO foi dar "ênfase à quantidade e representatividade do que ocorre hoje na América Latina". O que une a obra desses artistas "não tem a ver com o mundo da arte, que segue sendo muito eurocentrista, tem a ver com as sociedades de onde viemos e as transformações que estão vivendo", considera o hondurenho Adán Valdecillo. Valdecillo, que em seus cinco anos vivendo de arte sempre expôs em ambos os lados do Atlântico, apresenta na ARCO uma enorme pintura feita de pneus velhos que viajaram centenas de quilômetros pelas ruas de Tegucigalpa. No entanto, a América Latina não é reconhecida apenas porque sua arte está aparecendo na Europa, mas também porque a riqueza de suas economias faz dos seus mercados um destino atraente para as vendas de obras de arte. O desenvolvimento da economia deve acarretar um aumento do número de feiras e exposições, cada vez mais frequentes na América Latina. Eduardo Brandão, co-proprietário da galeria Vermelho, com sede em São Paulo, que representa principalmente jovens artistas brasileiros de vanguarda, conhece essa realidade de perto. "O sistema brasileiro de museus e galerias é mais forte e, para os colecionadores, isso é muito importante, ajuda a vender no exterior", explica. Isso é algo que Mirta Demare observa na galeria Bergsingel, em Roterdã, na Holanda, onde percebe uma "diferença sideral" entre colecionadores latino-americanos e holandeses, que compram menos pelo medo que a crise econômica e financeira provoca na região. O mercado de arte está crescendo na América Latina porque é "o único lugar em que há dinheiro nesse momento", disse a galerista, que apresenta na ARCO uma instalação da artista argentina Alicia Herrero, que analisa o mercado de arte. Por meio de diagramas que misturam as linguagens financeira e artística, Herrero questiona para o espectador a "dicotomia entre o valor real como obra e o preço das obras". Valdecillo convida a aproveitar a boa fase do mercado de arte na América Latina: "é importante que nós, artistas latino-americanos, tenhamos mais consciência de fortalecer os vínculos regionais, porque é um mercado em desenvolvimento".

EL CULTURAL – Espanha - Trás Ia euforia latinoamericana

ARCO madrid quiere ganar terreno en Ia escena artística latinoamericana y, por ello, los Solo Projects están de nuevo dedicados ai arte dei subcontinente. 22 proyectos han sido elegidos por 6 comisarios de México, Argentina, Brasil, Gosta Rica y Colômbia. Ellos nos cuentan como se vive el arte en Ia región.

No es ningún secreto que una de Ias principales ambiciones de ARCO, potenciada desde Ia llegada de su director Carlos Urroz, es estrechar los lazos que unen los mercados latinoamericanos y espanol. El latinoamericano es un contexto comercial que se tuvo en Ia mano y se dejó escapar, dejando el camino despejado y fácil para que Art Basel Miami se apoderara de él sin problemas. Urroz y su equipo pretenden recuperar el espacio perdido y proyectan importantes esfuerzos en

22 consolidar una relación comercial que tenga en ARCO Ia puerta de entrada a Espana y a Europa. Este es el momento. La creciente bonanza económica de Ia que ahora disfruta el subcontinente americano, de Ia que el enorme interés y visibilidad de sus artistas es fiel reflejo, ha de ser aprovechada para tender puentes y crear sinergias no solo comerciales sino también institucionales. La selección de esta edición de Solo Projects: FocusLatinoamerica ha sido realizada por seis comisarios de México, Argentina, Brasil, Colômbia y Costa Rica que han seleccionado 22 proyectos procedentes de galerias de catorce países (três de ellos, Espana, Holanda y Suiza, europeos, y de Estados Unidos). La metodologia de trabajo de este jurado ha cambiado este ano, y Io ha hecho a mejor. Lãs dificultades que encontraban los comisarios a Ia hora de realizar su trabajo en ferias de arte residían, fundamentalmente, en no poder convencer a Ia galeria que lês interesaba para venir a Ia feria. Ahora, el jurado trabaja sobre una selección de galerias que ya han manifestado su voluntad de participar. Es más sen-cillo, aunque se juegue con menos opciones.

BRASIL Y SUS ESGUDEROS

El arte realizado hoy en Latinoamérica fue incomprensiblemente ignorado en Ia última bienal de Venecia, pêro esa no debe ser Ia vara con Ia que medir su potencial. Gonviene remontarse hasta Ia última Bienal de São Paulo, en 2010, para palpar Ia realidad dei contexto de una forma más nítida. Fue unânime Ia impresión de que se asistía a Ia gran Bienal Latinoamericana y no solo brasilena, tal y como se había dado antes, una noción más global fundada en el extraordinário trabajo realizado en torno ai arte de los sesenta en muy diferentes focos artísticos. Brasil tira dei carro, pêro tiene en países como Colômbia, Argentina o México, que ven ahora, sobre todo el primero, satisfechas sus viejas ânsias sociales y artísticas, sus principales y muy leales escuderos.

Manuela Moscoso, joven comisaria colombiana cuyo trabajo ha sido en buena parte realizado en Espana, es consciente de Ia euforia que se vive en Latinoamérica, una alegria que, sin embargo, hay que interpretar con cierta cau tela. Acaba de ser nombrada co-directora de Capacete, Ia residência de artistas más importante de Latinoamérica con sedes en Rio de Janeiro y São Paulo. "El momento es bueno -d ice- pêro no debemos perder Ia perspectiva. A finales de los 90, Ia crisis aqui era total. Y ahora parece que Ia economia despega, los líderes políticos gozan de cierto apoyo popular, Io que confiere a los estados una estabilidad que no existió durante décadas. Los artistas viajan más y, gracias a esta movilidad y a Ias tecnologías de Ia comunicación, se acortan Ias enormes distancias entre los diferentes países. La actual comunidad artística se ha emancipado dei espíritu que gobernaba el contexto de otras generaciones, más politizado, quizá, o pendientes en exceso de los vecinos de arriba".

COLECGIONISMO DESIGUAL

Es indudable que el coleccionismo se ha consolidado en Ia región, pêro tal vez no de un modo uniforme como seria conveniente, nos explica Ia costarricense Alexia Dumani, para quien Ia pujanza dei coleccionismo es desigual en el inmenso território latinoamericano. "En Ia región se cuenta de forma segmentada con grandes colecciones o coleccionistas, principalmente de Argentina, México, Venezuela, Colômbia y Brasil, pêro otras latitudes tienen uncoleccionismo más conservador y reducido. En los pequenos países de Centroamérica es más tímido. Hay grandes excepciones de coleccionistas de peso que han contribuído a mover el clima artístico en Ia región, pêro en anos recientes ha surgido un grupo más joven de profesionales interesados en adquirir obra, y algunos Io hacen más por decoración que por pasión".

Es algo en Io que coincide Sônia Becce, comisaria independiente argentina que vê como en su país Ia escena artística recae fundamentalmente sobre los hombros dei sector privado, Io cual no quiere decir que goce de un coleccionismo modélico. "En tiempos de enorme déficit institucional, son Ias galerias privadas y los espacios auto-gestionados los que dotan de buena salud ai escenario artístico dei país. Hay también instituciones privadas de calidad, como el Malba o Ia Fundación PROA, que hacen una labor importante, pêro diria que son Ias galerias Ias que asumen Ia responsabilidad de Ia institución y aportan una frescura que hoy resulta fundamental.

UN COLOMBIANO EN LA TATE

En Io que todos coinciden es en Ia importância que juega y jugará Colômbia en el mercado y en el arte en los próximos anos. Moscoso recuerda como hace anos "nadie decía que era coleccionista, ni

23 siquiera se visitaban Ias galeria de arte, por miedo a los secuestros". Hoy, con Ia violência razonablemente controlada, hay un ex-presidente dei país en el entorno de una de Ias galerias de mayor proyección. Sônia Becce no duda en vislumbrar un futuro esperanzador. "Los colombianos son rigurosos y trabajadores. Es importante que el comisario José Roca (uno de los comisarios de Solo Projecfs) sea ahora una de Ias personas más relevantes en el concierto internacional desde su puesto en Ia Tate Modern, pêro también se han tomado buenas decisiones desde el gobierno, otorgando ai prestigioso crítico Jaime Cerón un puesto de responsabilidad para asesorar el sistema dei arte en el país". La feria de Bogotá, que este ano ha celebrado su séptima edición, parece consolidarse, junto a Ia mexicana MAÇO y Ias ferias brasilenas, en el gran referente latinoamericano. Y no dejen de seguir a sus artistas, que se codean con los mejores en Ias grandes citas internacionales. JAVIER HONTORIA

FOLHA DE S. PAULO – Prova de artista

Vida e obra do gravurista pernambucano Gilvan Samico, um dos principais nomes do Movimento Armorial, são registradas em livro

Foto Divulgação (21/02/2012) MARCIO AQUILES, DE SÃO PAULO - A vida e a obra do artista Gilvan Samico, 83, um dos gravuristas mais importantes da história da arte contemporânea brasileira, podem ser conferidas pela primeira vez em livro, em uma edição de luxo publicada pela editora Bem-Te-Vi. Autor de peças expostas no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, o pernambucano vive hoje afastado das badalações e fatuidades dos grandes centros urbanos.

Ao lado de sua mulher, Célida, a quem o livro é dedicado, mora e trabalha em um casarão do século 17, na cidade de Olinda (PE).

Samico foi o principal expoente do Movimento Armorial nas artes plásticas.

No prefácio do livro, Ariano Suassuna classifica o trabalho dele como decisivo no estabelecimento da poética do projeto, enfatizando o engrandecimento do grupo com sua presença.

A adesão à cena deu-se por meio de um convite feito por Ariano Suassuna, em 1971, ano em que Samico voltava de uma temporada de dois anos na Europa.

"Eu nem sabia que havia um movimento que tinha sido deflagrado pelo Ariano", diz o artista. "Ele [Suassuna] me disse: 'Eu inaugurei o Movimento Armorial e você faz parte dele'. Eu respondi: 'Então você me explica o que é, para eu saber do que eu faço parte'.", afirma.

IMAGÉTICA

24 No início da década de 1960, após ter sido aluno de grandes mestres como Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi, Samico procurou Ariano Suassuna em busca de uma opinião sobre aspectos visuais de seu trabalho.

"Minha gravura era muito noturna, com influência do expressionismo. Mas era um expressionismo lírico, sem o pessimismo que essa escola de arte utilizava", explica.

Por sugestão de Suassuna, começou então a usar elementos do romanceiro popular nordestino. Os profetas, pássaros de fogo, dragões, serpentes e outros animais encantados oriundos do cordel e dos folhetins passaram a permear amiúde a sua obra.

"Fiz o que podia para dar uma roupagem erudita a essa linguagem popular. O mito me interessa mais do que a possível realidade de uma lenda", diz Samico.

Se certo minimalismo gráfico salta aos olhos num primeiro contato com sua obra, uma segunda contemplação mais apurada revela complexas camadas de significação.

O crítico de arte Weydson Barros Leal, autor do texto e curador do livro, destaca as sutilezas do artista.

"Samico desenvolveu uma arquitetura que extrapola a cena pictórica, por meio da criação de planos justapostos que são áreas de tempo narrativos, e não apenas divisões plásticas", afirma.

Outra referência imagética importante em seu trabalho é a trilogia "Memória do Fogo", do escritor uruguaio Eduardo Galeano, utilizada pelo artista como fonte de símbolos e personagens.

Barros Leal destaca as transformações no processo criativo do gravurista.

"A gravura dele começa goeldiana, bastante escura, e vai clareando até encontrar sua própria linguagem. O mais impressionante é que o apuro e a exatidão de seu traço permanecem intactos."

ENGENHOSIDADE

Buscando aperfeiçoar questões técnicas, Samico também desenvolveu inovadores engenhos e ferramentas, como a goiva, instrumento que não permite que o fio da madeira enrole e cubra o desenho, enquanto a superfície da placa é cortada.

"Gosto de dedicar um tempo desenvolvendo novas ferramentas e técnicas que irão servir ao meu trabalho", conta Samico.

Segundo Barros Leal, essas ferramentas são importantes para o alto grau de precisão exigido por sua arte.

"Sua inteligência prática para desenhar ferramentas é universal. Ele é um exímio desenhista industrial com qualidades 'davincianas'[em referência ao pintor Leonardo da Vinci], dono de uma genialidade múltipla singular."

ISTOÉ - Brasil além-mar

Fundação em Lisboa expõe individuais de Beatriz Milhazes e Rosângela Rennó, dois dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira

Paula Alzugaray e Nina Gazire

Enquanto diferentes instituições brasileiras realizam atividades para celebrar o ano da Itália no Brasil, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa, antecipa as comemorações do ano de Portugal no Brasil – que tem início no mês de setembro deste ano – com exposições de dois dos maiores nomes da arte brasileira na atualidade. Beatriz Milhazes e Rosângela Rennó ocupam o espaço sob a curadoria da crítica de arte Isabel Carlos, diretora do Centro de Arte Moderna desde 2009.

25 “Quatro Estações” é o nome da mostra com trabalhos recentes de Beatriz Milhazes, que também estiveram em exposição na Fundação Beyeler, em Basel, Suíça. Conhecida por suas pinturas em acrílico (que chegam a atingir US$ 1 milhão no mercado de arte internacional), a artista leva a Portugal obras que experimentam outros suportes. São colagens com materiais do cotidiano e móbiles que transferem para o plano tridimensional seus célebres florais geométricos e coloridos. “Esta é uma artista multifacetada, que construiu uma linguagem muito própria, capaz de trabalhar com diferentes suportes e materiais”, define a curadora Isabel Carlos, que também selecionou uma série de quatro pinturas que dão título à exposição.

A grande expectativa sobre o novo campo de atuação de Beatriz Milhazes recai sobre a instalação de grandes dimensões em vinil, denominada “Jardim Verde”, que ocupará os vitrais da nave central do Centro de Arte Moderna. Esse tipo de trabalho foi provado em 2008 pela artista, quando ela utilizou material translúcido para estampar as grandes janelas da Estação Pinacoteca de São Paulo.

“Frutos Estranhos”, a individual de Rosângela Rennó, é uma série de vídeos em loop, realizados a partir da edição e animação digital de imagens fotográficas. O estranhamento está no fato de que as imagens, ao contrário do ritmo convulsivo típico das obras de videoarte, possuem movimentos ínfimos e imperceptíveis. Esse aspecto inusitado inspira o título da série porque, segundo Rosângela Rennó, as 40 obras selecionadas, produzidas ao longo da última década, provocam o deslocamento do olhar diante de uma imagem mediada. “Esse trabalho evoca e repensa o que eu denomino ‘formas de mostrar’: a máquina fotográfica, o aparelho de DVD e os demais modos de visualização da imagem”, comenta a artista, que também apresenta em Portugal sua mais nova série de vídeos, “Turista Transcendental”, filmada em diferentes lugares do mundo, no último ano.

O lançamento de um livro, previsto para meados de 2012, também está na agenda de Rosângela. A obra “Menos Valia”, cuja primeira versão de 2005 está presente na exposição, será transformada em uma publicação com a reprodução de todos os objetos realizados pela artista que foram leiloados em uma performance durante a 29a Bienal de São Paulo. “Além do registro e catalogação dos objetos leiloados, a publicação trará um DVD com o vídeo do leilão realizado em 2011”, diz a artista. Já Beatriz Milhazes terá monografia publicada pela editora alemã Hatje Cantz. MÚSICA

ESTADO.COM - 'Real in Rio' é a esperança brasileira no Oscar

15 de fevereiro de 2012 | 21h 04

Música composta Sérgio Mendes e Carlinhos Brown foi indicada ao prêmio

(16.02.12) LOS ANGELES - Aos 71 anos, dono de uma carreira com inúmeros sucessos e trilhas para cinema, o lendário compositor Sérgio Mendes poderia passar a impressão de que já conseguiu tudo na vida, mas a verdade é que lhe falta uma coisa: o Oscar. E neste ano ele pode levar a estatueta para casa.

A canção Real in Rio, composta por ele, Carlinhos Brown e Siedah Garret para a animação Rio, foi indicada ao prêmio e tem grandes chances de vitória na cerimônia do dia 26, pois só enfrenta um concorrente.

Na manhã em que os indicados ao Oscar foram anunciados, em janeiro, Mendes foi acordado por um telefonema do diretor do filme, Carlos Saldanha, perguntando-lhe se o seu smoking estava passado. "Eu não podia acreditar", disse Mendes. "Ainda estou meio que me beliscando. Que momento maravilhoso na minha vida!", afirmou o compositor.

E momentos maravilhosos não faltaram na história dele. Quando jovem, Mendes se apresentava em casas noturnas cariocas e teve Tom Jobim como mentor. Depois disso, faria uma bem sucedida carreira internacional.

Mas compor "Real in Rio" foi uma experiência especial para Mendes, que se disse honrado com a oportunidade.

26 "Me pediram para escrever uma canção que abrisse o filme", disse Mendes. "Ela meio que atravessa todo o filme e no final explode em um desfile carnavalesco. Então isso é Real in Rio."

Mendes se radicou nos Estados Unidos no começo da década de 1960 e logo gravou alguns trabalhos, mas sua carreira fora do Brasil só decolaria na pareceria com Herb Alpert -o hit Mas Que Nada estava no primeiro álbum importante dele, Herb Alpert Presents Sergio Mendes & Brasil '66. "Ele (Alpert) foi não só um mentor, foi um amigo. Ainda hoje venero sua música", disse Mendes, lembrando-se "da forma como ele abordava as harmonias, suas vocalizações, a orquestração". Mas Que Nada, de Jorge Ben, se tornou a primeira canção brasileira cantada em português a fazer sucesso mundial, segundo Mendes. Ele a reinterpretou em 2006 numa colaboração com Will.i.am, do Black-Eyed Peas, que produziu o álbum Timeless, de Mendes.

"Se você faz a canção de um jeito totalmente diferente do que eu fiz em 66, eu gostei de fazer", disse Mendes. "Essa é uma geração totalmente diferente, que nunca escutou aquela música nos anos 60, e eles estavam apresentando-a como uma canção totalmente nova."

Depois de Mas Que Nada vieram outros sucessos, como Fool on the Hill e Look of Love, e o conjunto Brasil 66 começou a excursionar com Alpert e sua Tijuana Brass, que Mendes observa com orgulho ter sido "a banda instrumental mais quente do mundo" naquela época.

Apesar de ter meio século de carreira, Mendes não perdeu o entusiasmo pelos shows. Comemorando 71 anos na semana passada, ele tocou Fool on the Hill em um evento em homenagem a Paul McCartney.

No Oscar, Real in Rio enfrenta apenas Man or Muppet na disputa pelo prêmio de melhor canção original. "Vou ficar rezando", disse Mendes.

A escassez de indicados resulta de recentes mudanças no formato do Oscar, respondendo às críticas de que canções medíocres estavam sendo selecionadas.

Por isso, gente como Madonna, Elton John, Elvis Costello, Alan Menken e Mary J. Blige ficaram de for a, o que deu motivo a outras críticas da indústria fonográfica. Mas Mendes disse que mal soube da mudança de regras, e comentou apenas que "gostaria que houvesse mais canções" indicadas.

O compositor lamentou o fato de os organizadores do Oscar não terem incluído apresentações musicais na cerimônia televisionada. "É uma canção tão feliz", disse ele sobre Real in Rio. "Seria uma vibração realmente incrível para todos."

O GLOBO - Virtuose entre o Molejo e as sinfônicas

Hamilton de Holanda lança disco e amplia o alcance de sua música

Luiz Fernando Vianna

(16/2/2012) Há duas semanas, Andrezinho gravava com seu grupo de pagode Molejo e soube que Hamilton de Holanda estava num estúdio ao lado. Declarou-se fã do músico e conseguiu que ele participasse do novo CD do conjunto. Na novela “Fina estampa”, quando há um clima romântico entre Griselda (Lilia Cabral) e Guaracy (Paulo Rocha), é o bandolim de Hamilton que se ouve ao fundo, na sua composição “Flor da vida”.

O mesmo instrumentista acaba de participar do novo disco de Maria Bethânia acompanhando-a em “Lágrimas” (canção de Cândido das Neves, sucesso de Orlando Silva), vem ampliando, como solista e compositor, suas parcerias com orquestras e passa pelo menos um terço do ano apresentando-se fora do país, já tendo ido a todos os continentes.

‘Arroz soltinho’

27 — Eu vou aonde acho que a música está me chamando. Mas é preciso manter o padrão de qualidade, minha concepção de bandolim, se não vira zona. Arroz de festa eu já sou, mas quero continuar sendo arroz soltinho, não papa. E, com o meu trabalho de composição, boto o feijão — diz ele, que toca há 30 de seus 35 anos, tendo partido das rodas de choro de Brasília para se tornar um artista eclético. — Em Brasília, talvez por ser uma cidade nova, tudo sempre se misturou: o choro se transformava em samba, que emendava em música baiana, que virava Tim Maia. Isso era normal na minha vida.

“Brasilianos 3”, o novo disco de Hamilton, reúne alguns dos aspectos que movem seu trabalho. O nome do projeto de seu quinteto — os outros músicos são Daniel Santiago (violão), André Vasconcellos (contrabaixo), Gabriel Grossi (harmônica) e Marcio Bahia (bateria) — é uma referência a Brasília. A cidade ainda é tema da “Sinfonia monumental”, composta por Hamilton e Santiago e cujos movimentos ocupam das faixas 4 à 8. “Guerra e paz I” (com Milton Nascimento nos vocais) e “Guerra e paz II” foram feitas em função do mural de Cândido Portinari e, dada a boa acolhida, originarão uma suíte. E “Saudades de Brasília” e “ Saudades do Rio”, iniciadas em solitárias noites de hotel no exterior, satisfazem uma busca de anos.

— Consegui unir nelas choro, samba e jazz. O choro também não era 100% brasileiro, havia polca, valsa. Virou brasileiro porque aqui foi feita uma síntese. O choro é mais importante para a melodia, o samba dá o ritmo, e o jazz entra nos improvisos. A gente só procura alguma classificação depois que fez. Na hora em que se ouve, isso não tem nenhuma importância — afirma.

Essa liberdade ao encarar a música, somada ao virtuosismo, embasa a carreira de Hamilton, que participa de festivais de jazz e rock, toca com cantores populares (João Bosco, Beth Carvalho e Diogo Nogueira, por exemplo) e pode ficar horas numa roda tradicional de choro.

— Ele é o maior músico brasileiro hoje, um gênio — exalta Joel Nascimento, de 74 anos, que na década de 1970 sucedeu Jacob do Bandolim no posto de principal bandolinista do país. — Jacob é nossa referência, criou uma escola clássica, mas o choro precisava evoluir. Não sou chorão radical, fui tocar com Paulo Moura, jazzistas. E Hamilton já está criando outra escola. A nova linha é a do bandolim de dez cordas, que ninguém utilizara antes no Brasil — o mais comum tem oito.

O músico criou uma forma de tocar o instrumento que abriu novas possibilidades harmônicas e rítmicas, contribuindo para aproximar o choro das novas gerações. Por influência de Hamilton, quem começa hoje a estudar bandolim tende a preferir o de dez cordas.

— Eu era ligado ao samba, mas a forma de o Hamilton tocar permite que a gente vá por diversos caminhos e repertórios. Sempre fui muito influenciado por ele — diz o gaúcho Luis Barcelos, de 24 anos, que começou nas dez cordas com um instrumento cedido por Hamilton e é um de seus principais discípulos.

— Não vou negar essa pequena vaidade. Fico feliz vendo minhas músicas fazendo bem a pessoas e abrindo caminho para elas trabalharem — diz Hamilton, que tem seus momentos de popstar, já tendo sido saudado por jovens músicos com gritos de “eu te amo”.

“Brasilianos 3” é seu 23odisco. Ele e o empresário Marcos Portinari adotam a estratégia de lançar muitos CDs, parte a R$ 5 e R$ 10, para atingir um grande público. O novo, que custa R$ 10, está temporariamente disponível no site do músico e já tem 20 mil downloads.

28 ESTADO DE MINAS – Ligado no mundo

Graveola e o Lixo Polifônico mantém contato com festivais europeus

Thaís Pacheco (17/02/2012) Depois de lotar o Grande Teatro do Palácio das Artes para apresentar o show do CD Eu preciso de um liquidificador e realizar a gravação do primeiro DVD, a banda Graveola e o Lixo Polifônico acaba de alcançar outro feito. Rompeu fronteiras e foi parar, na quarta-feira, no blog musical do jornal britânico The Guardian. Como faz todos os meses, o blog publicou a lista que chama Best music from across the MAP , algo como “as melhores músicas do mapa”.

Entre as 36 faixas apresentadas, de diferentes países, lá está o Brasil representado pelos mineiros do Graveola com a música Insensatez: a mulher que fez. Na descrição do blog, “Graveola e o Lixo Polifônico é uma banda criativa que faz experimentos com a MPB (música pop brasileira de mainstream) e cria misturas orgânicas, se apropriando de estilos de bandas de vários gêneros para criar novos trabalhos. Sua nova gravação está disponível para download no website da banda”.

O grupo chegou lá pela indicação do blog Meio Desligado, representante brasileiro da Music Alliance Pact, projeto global que envolve cerca de 40 blogs especializados em música, de diferentes países, que mensalmente realiza uma coletânea com bandas independentes e alternativas.

Para José Luís Braga, integrante da banda, a oportunidade é válida. “Sair num jornal desses é sinal de que no exterior a gente começa a cavar uma trajetória que pode ganhar respaldo cada vez maior”, diz. Ele lembra que a banda investe em carreira na Europa, que já fizeram duas turnês pelo continente, têm agente em Portugal em busca de festivais e um convite para a próxima edição do Espírito Brum, em Birmingham, Inglaterra.

“Embora não seja um fruto direto, porque foi uma escolha do Meio Desligado, mostra uma articulação que a gente vem promovendo no exterior. Ajuda a chamar a atenção do público inglês”, diz Braga. E não serão só os ingleses. A lista foi publicada em blogs de outros 35 países. Para conferir o som do Graveola e outras músicas do mundo selecionadas pelo blog do The Guardian acesse http://hops.me/ jrm.

29 O GLOBO - O tradicional power trio em nova versão

Grupo formado por Liminha (guitarra), Sany Pitbull (MPC) e Dughettu (voz) estreia hoje na Rio Music Conference

Carlos Albuquerque

(20/02/2012) No clássico idioma do rock, power trio é um (virtuoso) grupo formado por baixo, guitarra e bateria, enxuto e seguro o suficiente para dispensar teclados e outros instrumentos. A partir de hoje, a expressão ganha um novo significado no Brasil, com o surgimento do novíssimo projeto Power Trio, que une as forças de Liminha (guitarra), Sany Pitbull (MPC) e Dughettu (vocais) e que faz o seu début na Rio Music Conference, que acontece até o próximo dia 25, na Marina da Glória. O Power Trio é a principal atração da noite no Palco Ipanema, cujos trabalhos começam às 21h. Apresentam- se também o DJ Nino, Eletricus, o DJ Revolution e Zegon.

O formato inusitado revela a intenção do grupo — que ainda não tem sequer uma música gravada — de misturar rock, funk, soul e eletrônica. Nada mais natural, já que sua formação traz um dos produtores mais renomados do país, um dos DJs de funk mais inovadores do estilo e um habilidoso vocalista de soul e R&B.

— Essa história começou no fim do ano passado, quando a gente estava tomando um café no intervalo das gravações de um documentário no Nas Nuvens (estúdio de Liminha) — conta Sany Pitbull. — O Dughettu comentou que tinha visto uma revista com o Eminem e o Keith Richards na capa. E disse que seria legal se existisse um grupo por aqui com esse formato e mais um DJ.

Velhos amigos da MPC

O papo imediatamente encontrou eco em Liminha, que já conhecia e admirava o trabalho de Sany.

— Fui apresentado ao Sany quando dirigi o prêmio Multishow de 2009 e trabalhamos juntos — conta Liminha. — Ele faz coisas inacreditáveis na MPC, transformando o sampler, ao vivo, em um instrumento. E olha que eu trabalho com MPC há muito tempo, em discos que fiz com Lulu Santos, Fernanda Abreu, Gilberto Gil, Titãs, Gabriel O Pensador e até com a Blitz. Por isso, quando ouvi a conversa deles, imediatamente me ofereci para ajudar em alguma coisa. Quando alguém falou em criar um grupo, topei na hora.

Dos poucos ensaios que o Power Trio fez (outro nome sugerido, usando as iniciais dos integrantes, LSD, foi rapidamente descartado), saiu o repertório que vai ser apresentado nessa primeira apresentação do grupo.

— Vamos refazer coisas que o Liminha produziu com Paralamas, Gilberto Gil, Titãs e outros artistas, acrescentando trechos das gravações, incluindo conversas entre ele e os músicos. Por cima dessas bases, que vou jogar na minha MPC, vão entrar riffs de guitarra feitos na hora por ele, acrescentados por outros vocais, feitos ao vivo pelo Dughettu.

Mesmo engatinhando, o projeto do Power Trio já rendeu um convite para uma outra apresentação, no Studio RJ, em data ainda a ser definida. Isso animou Liminha, Sany e Dughettu, que já pensam em gravar um disco de músicas inéditas.

— Esses primeiros shows vão nos dar o retorno necessário para vermos até onde podemos ir, mas gravar um disco é uma possibilidade bem forte — garante Liminha. — Eu adoro a ideia de unir eletrônica e guitarras. Talvez eu possa tocar baixo (seu primeiro instrumento) eventualmente. O Sany, essa usina de força, pode também transformar e manipular os vocais do Dughettu no estúdio. Há, enfim, várias possibilidades e caminhos que podemos seguir. Temos a disposição e as ferramentas para isso.

30 O GLOBO - A mistura de rock e carnaval não para de dar samba

Criadora do disputado Bloco Cru, que desfila hoje na Praça XV, Lu Baratz planeja o lançamento de um disco solo

(20/02/2012) Lu Baratz anda cozinhando uma ideia. A cantora, atriz e criadora do Bloco Cru — conhecido por suas versões em samba de hits do rock — quer lançar um disco solo em 2012. Mas é difícil encontrá-la sozinha. Hoje, por exemplo, ela e o bloco fazem um desfile- show na Praça XV, às 18h, que deve reunir cerca de 40 mil pessoas. A previsão não é exagerada. Desde o seu surgimento, em 2009, o Bloco Cru tem atraído cada vez mais gente para os seus eventos no carnaval, que então eram realizados em frente à Casa da Matriz, em Botafogo.

De seis para 20 mil fãs

Em dois anos, o público que curte, com os dedinhos para cima, as covers de Nirvana, Rage Against The Machine, White Stripes e Rolling Stones pulou de seis mil para 20 mil pessoas. E, para piorar as coisas para a estreita rua Henrique de Novaes, neste ano o Bloco Cru tornou-se uma das sensações do verão com seus concorridos bailes pré-carnavalescos, realizados no Espaço Acústica, na Lapa, com a presença de convidados como Lula Queiroga, Gabriel Thomaz (Autoramas), Moreno Veloso, Kassin (que assina o “rock enredo” deste ano, “Pira é natural”) e Helio Flanders (Vanguart).

— Foi o melhor esquenta que já tivemos. O Helio cantou “Ando meio desligado”. Foi uma temporada muito legal — conta Lu, que é formada em Produção Cultural e tem pós-graduação em Teatro Musical e Artes Cênicas. — Por isso, fomos para a Praça XV. No ano passado, a rua da Casa da Matriz ficou parecendo uma lata de sardinha. Foi desconfortável para todo mundo.

Curiosamente, quem vai ao encontro do Bloco Cru e espera encontrar um bloco de verdade, repleto de percussionistas, acaba dando de cara com um grupo bem mais modesto, numericamente.

— A multidão espera encontrar uma outra multidão tocando, e na verdade somos apenas sete — explica Lu. — Neste ano é que teremos mais um pouco de gente, já que vamos contar com alguns alunos da nossa escola de percussão. Mesmo assim, é bem menos do que os demais blocos da cidade.

Música, teatro e circo

Na verdade, apesar do nome, o Bloco Cru é um grupo formado para acompanhar Lu. Inicialmente chamado Cabaret Cruz, ele angariou um certo culto em 2009 ao se apresentar em bares e festas na Zona Sul, misturando música, teatro e performances circenses. As versões vieram depois, atendendo a pedidos do público.

— O Cru é um projeto multimídia que virou banda e que em todo carnaval faz o seu musical, o seu espetáculo. Essa transformação foi a forma que encontramos de viver com a arte — conta Lu, uma garota apaixonada por Patti Smith e Nina Simone.

Desde o começo, é ela quem faz a escolha das músicas que vão migrar do rock para o samba, das guitarras para o batuque.

31 — Eu faço uma primeira seleção e as pessoas vão sugerindo outras, também. Eu sempre ouvi viradas de samba no som dos Rolling Stones, por exemplo. Acho que o samba tem um potencial de rock e vice- versa. Neste ano, vamos ter Tom Waits e até uma versão kuduro dos Secos e Molhados.

Quando o carnaval passar, Lu vai cuidar então do seu disco “mais ou menos solo”, com produção de Kassin e assinado como Lu Baratz & Bloco Cru.

— Não se faz nada sozinha, não é? Quero que esse disco seja a cara da minha trajetória até aqui, à frente desse projeto do Bloco Cru. Vou chamar os amigos e manter esse lado roqueiro carnavalesco, misturando covers e músicas inéditas. Vai ser um disco cheio de alegorias.

O GLOBO - Edital do funk destaca memória do movimento

Histórias do Bonde do Tigrão e de MCs estão entre os 25 contemplados pela Secretaria estadual de Cultura

Luiz Fernando Vianna

(20/02/2012) Sete dos 25 projetos vencedores do primeiro edital Criação Artística no Funk, da Secretaria estadual de Cultura, estão na categoria Memória. E ainda há outros, como os dois de Audiovisual, que também se propõem a contar partes da história do funk no estado do Rio. Divulgado na última sexta-feira juntamente com a lista de 15 vencedores do edital Cultura Digital, o resultado indica que já havia uma demanda reprimida de projetos voltados para o passado desse movimento recente e de grande força.

— Ficou claro que é uma história muito presente no imaginário das pessoas e que precisa ser contada — diz Juliana Lopes, coordenadora de Diversidade Cultural da secretaria. — O balanço do edital é positivo pela diversidade dos projetos que foram contemplados e por aproximar das políticas públicas agentes sociais que ainda têm pouco contato com a secretaria.

O Edital do Funk, como ficou conhecido, dará R$ 20 mil a cada um dos 25 projetos, escolhidos dentre 108 inscritos. Os dois audiovisuais são “12 anos do Bonde do Tigrão”, documentário de Rodrigo Felha (um dos diretores de “5 x favela — Agora por nós mesmos”) sobre o grupo, e “Funk, a alegria do povo”, de Julio Pecly (diretor com Paulo Silva de “Enchentes”), sobre Menor do Chapa, funkeiro do Morro do Turano que se tornou fenômeno no YouTube.

Entre os de Memória estão os projetos “MC Magalhães, uma lenda viva do funk”, de Marcelo Gularte, e “101 funks que você tem que ouvir antes de morrer — O songbook do batidão”, de Julio Ludemir.

— Não vou contar só a história das músicas, mas também dos criadores delas. MC Leonardo, Mr. Catra, Menor do Chapa, vai ter muita gente no livro — diz o jornalista e escritor.

Parceiro de Ludemir na organização da Batalha do Passinho, torneio de dançarinos do estilo conhecido como passinho do menor, Rafael Soares, o Rafael Nike, teve aprovado o seu plano de realizar uma disputa na Baixada Fluminense.

— Os meninos da Baixada vinham me cobrando. Chegou a hora. Quero fazer um registro bonito deles — anseia Rafael, que é de Nova Iguaçu.

Idealizado pelo agitador cultural Marcus Vinicius Faustini enquanto ocupava a Superintendência de Cultura e Sociedade da secretaria de Adriana Rattes — ele deixou o cargo em dezembro passado —, o edital ainda aprovou projetos pioneiros como o Funkantarolar, criação de um coral de crianças e adolescentes da Rocinha para interpretar funk.

32 Os selecionados entre os 84 inscritos para Cultura Digital receberão R$ 30 mil cada. Eles precisavam ser vinculados a uma lan house ou a um “telecentro” (alguma organização com acesso à internet), pois esses lugares são pontos de socialização e produção dos jovens moradores de periferia e favelas. Doc-se (oficinas de documentários na Maré), e Yvy Porã, trabalho com indígenas de Paraty misturando tradição e tecnologia, estão entre os contemplados. Os resultados completos estão em www.cultura.rj.gov.br/editais/edcul turaesociedade.php.

CARTA CAPITAL - Samba, suingue e Mocotó

Aos 68 anos, Nereu Gargalo ri da fama de "doidão" da cena musical

ANA FERRAZ

(20/02/2012) “SENTA A PUA!", convoca o vozeirão grave do carioca Nereu São José, também conhecido como Nereu Mocotó. Na frente do palco, a plateia espera suingue dos bons. A magia brota dos dedos elétricos do pandeirista. São mãos calejadas. Por meio delas, o instrumento vira brinquedo, rodopia, treme, vibra e estrebucha. Os malabarismos do início da carreira há muito se renderam à técnica aprendida com o irmão mais velho, Máximo, violonista e percussionista, que lhe deu o grande toque: "Malabaristas há muitos, mas os que tocam de verdade são poucos. Concentre- se na técnica". Max apontava o relógio e avisava: "Você vai treinar por uma hora, numa pegada só", E assim foi.

À habilidade juntaram-se borogodó, ziriguidum e balacobaco. Coisa nata. Ne-reuzinho, como os mais afetuosos o chamam, tem ciência de que é isso que se espera dele. Em cada show, já sobe ao palco com o sorriso enorme e fácil a seduzir o ouvinte. Pai do samba rock, entronizado pelo detentor do título, Jorge Benjor, na época ainda Jorge Ben, o fundador do emblemático Trio Mocotó é o abstêmio doidão da cena musical. "Sei que ninguém acredita, mas nunca bebi nem fumei."

O garoto que usava o armário da cozinha de casa para batucar, aos 9 anos ganhou da mãe um pandeiro, seu passaporte para mais tarde descer o morro e subir 10 palco do Golden Room do Copacabana Palace. Na boate frequentada —pela high society era contratado de Carlos Machado, rei da noite carioca. Do elenco do musical O Teu Cabelo não Nega, em 1963, à icônica boate paulistana Jogral, morou em três morros (Ladeira dos Tabajaras, Rocinha e Botafogo), trabalhou em fábrica de cerveja (daí o apelido Gargalo) e laboratório farmacêutico. Sua admissão na multinacional onde "quase não tinha negro" se deu pelas mãos de um deputado de quem foi cabo eleitoral. "Eu carregava 16 elementos para cantar comigo e nove mulatas. Quando ele venceu a eleição, perguntou em que eu queria trabalhar. Pedi algo que não cansasse muito", conta, às gargalhadas. Foi parar no laboratório dirigido pelo irmão do político.

Chegava às 6 da manhã do show do Copacabana Palace e entrava às 8. Logo dona Duke, a chefe, percebeu que Nereuzinho demorava muito para executar as tarefas. Foi flagrado em pleno sono, acomodado sobre as caixas do estoque. Várias vezes. "Ela ficou invocada, na entendia por que eu dormia tanto. Até que viram o pandeiro guardado." Para driblar a ira do diretor do laboratório, Nereu conseguiu dois convites para o chefe e a mulher assistirem ao espetáculo em que contracenava com Grande Otelo. Primeira fila, coisa fina. Convencido de que havia contratado um artista, o diretor concedeu-lhe o direito de entrar às 13h30 e sair às 17h. E licença para viajar quando precisasse. Mamata das boas. "Só que Jorge Goulart e Nora Ney me chamaram para uma turnê na Rússia, coisa de dois meses. Apareceram outros convites e achei melhor pedir as contas, porque aí já era abuso."

Nos anos 1960, Nereu saiu do Rio d Janeiro e se instalou em São Paulo, onde integrou o elenco fixo da casa noturna mais concorrida da cidade, Jogral, na Rua Avanhandava. Foi no templo das novas sonoridades que conheceu Fritz Escovão e João Parahyba. O pandeiro juntou-se à cuíca e à timba e o trio se firmou. Numa das apresentações, o carioca Jorge Ben apareceu. "A batida do violão dele era diferente. Decidimos lapidar aquele som, criar em cima." Nascia samba rock. E junto com ele o Trio Mocoto, que ganharia projeção internacional ao emprestar seu sambalanço a mitos como Cartola, Vinícius de Moraes Dizzie Gillespie e Duke Ellington.

33 Quem batizou o trio foi Jorge Ben. O maestro Erlon Chaves queria saber com qual nome o grupo se apresentaria no IV Festival Internacional da Canção, em 1969, no Rio de Janeiro, para ajudar Jorge Ben a defender Charles, Anjo 45. "Mocotó", gritou Jorge Ben. Entre cariocas e fluminenses, mocotó era sinônimo de pernas bonitas. Na época, um bom par delas andava pela Jogral, a atiçar olhos cobiçosos. "Gargalo, mira no mocotó dela", provocava Jorge Ben. "Quem levou a melhor foi o Fritz", conta Nereu. Conduziu a dona das pernas ao cartório e se casou com ela.

Em 42 anos de carreira, Nereu perdeu a conta das personalidades que conheceu. Algumas histórias, porém, permanecem. Durante turnê com Jorge Ben, Rita Lee e Tim Maia, nos idos de 1970, a trupe ficou uns tempos hospedada no Hotel Glória, ícone da hotelaria carioca. "Eu saia muito, ia visitar a família, quase não parava. E o Tim ficava bolado com isso. Dizia: 'O Nereu vai se aplicar e depois volta pra cá numa boa'. Naquela época, se aplicar era fumar um. Ele brincava comigo, dizendo: 'vai buscar marijuana'. Eu dizia, 'segura aí que volto já'. Decidi que o Tim ia dançar na minha mão", conta, aos risos. Fã de Dulcora ("deixava um hálito gostoso que as bonecas gostavam"), Nereu aplicou o golpe dos dropes. "Cheguei pró Tim e disse: Tenho uma coisa boa ai, mas não conta pra ninguém'. Ele colocou a bala na boca e foi para o corredor do hotel, de onde se via a Praia do Flamengo e o Aterro. De repente começou a ficar tonto. A montanha se mexia. 'Segura a marimba, negão', falei. O Tim ficou doidão." O "Síndico" nunca desconfiou da brincadeira. A história correu e Rita Lee logo chegou em Nereu, invocada: "Só para o Tim, bicho?" "Eu disse que tinha parado. Ela ficou maluca. Até hoje pensa que sou doidão."

O Mocotó já dominava de norte a sul quando entrou gringo no samba. Era Dizzie Gillespie, que viera em busca de uma boa batucada para acompanhar seu bebop. Achou o que queria na boate Jogral. Foram para o estúdio, de onde saiu o disco Dizzie Gillespie no Brasil com o Trio Mocotó (1974). "Ele aprendeu suingue com a gente. Dizzie era grooveiro, quando viu a suingueira toda..." Foi diversão pura. "Ele chegava ao estúdio e plantava bananeira, ficava tocando trompete de cabeça para baixo."

Em 2005, Nereu lançou seu primeiro trabalho-solo, Samba Power. E esbaldou-se. "O Maurício Tagliari, da ybmusic, me deixou à vontade. Gravei o que quis. E peguei gosto, agora só quero saber das minhas músicas." Aos 68 anos, saúde e vaidade em dia, continua em ritmo acelerado. Faz questão de ser diferente. Pega a jaqueta jeans e diz: "Olha minha casaca, mandei bordar a estrela de Ogum. Sempre fui elegante. Usava sapato de cromo alemão, salto carrapeta, camisa de palha de seda. O Ibrahim Sued falava: 'Os dois pretos elegantes do Rio se chamam Nereu Gargalo e Jorge Ben". Foi assim que Nereuzinho se deu bem com a mulherada. "Peguei geral", ri. Isso antes de conhecer dona Silvia, com quem está casado há 30 anos.

Às segundas, quartas e sextas, Nereu recende a alfazema. "Sou filho de Xangô, tenho a cabeça feita e o corpo fechado. Rezo muito para Maria Padilha das Almas e às vezes vou à missa. Sou católico e macumbeiro." No pescoço, cordões de ouro com Nossa Senhora Aparecida e o nome dos filhos, Vitão Momento, 27 anos, e Nereu São José, 29. O caçula segue os passos paternos. "Meu maior orgulho é ter meu filho no palco. Ele toca em minhas bandas, Nereu Mocotó e o Suingue e Nereu e a Rapaziada." E se o Mocotó voltar (o trio parou de se apresentar há um ano por causa de desentendimentos), Vitão estará dentro.

Para quem cresceu no morro, defendeu a Império Serrano e dirigiu a bateria da São Clemente, o samba do carnaval de hoje desandou. "Acelerou muito. Na minha época era mais sincopado. Uma batida com suingue. Hoje ninguém mais samba, corre de olho no cronometro. E as escolas têm três, quatro mestres de bateria. Eu comandava 250 ritmistas sozinho."

O GLOBO - Geração fora do tempo

Na música e no discurso, grupo de artistas do Rio afirma diferença para a ‘nova MPB’ Leonardo Lichote

(22/02/2012) Fora do tempo. O conceito cai como luva a certa geração de músicos que, silenciosamente, desenvolve no Rio, ao longo da última década, uma cena particular e consistente. Por um lado, porque o termo pode sintetizar o anticonvencionalismo de sua produção (que, quase sempre, traz elaboradas provocações rítmicas, harmônicas e melódicas).

34 Por outro, porque — na obra e no discurso — esses artistas trabalham apoiados em valores que hoje parecem, à primeira vista, anacrônicos na esfera da canção popular: a valorização do estudo aprofundado (não só da técnica ou da teoria musical, mas de filosofia, literatura, história da arte, religião) no lugar da aproximação pop, rápida, no ritmo do olho que passeia frenético entre links e captura a informação em instantâneos; o desejo de estabelecer um diálogo mais intenso com a arte clássica do que com a produção cultural atual; o repúdio ao discurso de tolerância aplicado à música, que, alegam, nivela gênios e medíocres. — Uma palavra importante é transcendência — diz Pedro Moraes. — As questões que nos interessam não estão nas relações do homem com seu tempo, mas com o infinito.

Guinga é parceiro e referência Na conversa com cinco de seus representantes para esta reportagem — Armando Lôbo, Edu Kneip, Sergio Krakowski e Thiago Amud, além de Moraes —, definições possíveis passavam também por termos como “canção culta”, “música investigativa” e “rigor poético”. Ao ouvir a classificação “música acadêmica”, porém, Amud reage. — Música acadêmica, para mim, é sertanejo universitário — diz, com um humor que também está presente na obra deles, seja no escracho (a desbocada “Tratamento de choque”, de Kneip e Amud) ou na fineza corrosiva da ironia (a dedicatória de uma canção de Lôbo à música popular brasileira “in memoriam”).

A sério, Lôbo observa, com uma das tais afirmações que soa deslocada dita hoje: — As maiores vanguardas hoje estão dentro da academia. Amud continua:

— Há um preconceito com o cânone, mas é lá que está a violência criadora. Se você comparar a rebeldia roqueira e a rebeldia de Mozart, vai ver que Mozart era muito mais rebelde.

Um dos efeitos das escolhas estéticas do grupo — a escolha, em última instância, de estar fora do tempo — foi uma quase invisibilidade no debate sobre a nova música brasileira. Sua produção (alguns exemplos nas capas de CDs que ilustram esta página) tem o respeito da crítica e o aval de artistas como Guinga — parceiro e referência para muitos deles. Mas essa cena não é captada pelos radares que mapeiam o terreno, apontando os artistas agregados em São Paulo (Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Romulo Fróes, Criolo) e seus colegas cariocas (o núcleo +2, Thalma de Freitas, Rubinho Jacobina), os filhos do samba da Lapa (Casuarina, Pedro Miranda), certa neo- MPB (Maria Gadú, Roberta Sá, Edu Krieger e Rodrigo Maranhão) ou, no terreno ultrapopular, o sertanejo universitário de Michel Teló. Ao ouvirem a pergunta sobre como se encaixam aí, a resposta é simples: não se encaixam. Mais que isso, eles afirmam sua diferença com os artistas de São Paulo, destacados muitas vezes como a vanguarda da nova música brasileira. O centro da incompatibilidade é um diagnóstico que fazem dessa nova música: uma valorização da cultura num lugar que deveria ser da arte.

— Nessa arquibancada onde se aplaude a beleza da cultura, eu não estou — resume Amud. — Se essa é a geração pós-rancor (termo cunhado pelo produtor cultural Cláudio Prado para se referir à postura dessa geração), quero afirmar que sou da geração pós-pós-rancor. Essa ideia do pós-rancor é a opressão com um sorriso nos lábios. É como aquela bandeira de (Gilberto) Gil, citando (Andy) Warhol, dizendo que gosta de gostar das coisas, de que tudo é bacana. Isso é uma manipulação de discurso que esconde rancor.

Moraes complementa:

— Porque quando você diz isso, está implícito o que é gostar e o que são as coisas. O debate artístico acaba se deslocando, aponta Amud, para questões que periféricas, como “o fim da canção” ou assuntos técnicos. — Há um fascínio pelo aplicativo, pelo formato, se é MP3... — diz. — Fala-se muito em “canção expandida”, mas canção expandida para mim é o disco do Jorge Ben de 1969. Rogério Duprat viu a possibilidade de um terror expressionista naquela música, além da malandragem do Ben. É coisa séria, são dois cabras machos partindo para a porrada. — Entre Michel Teló e Romulo Fróes, sou mais o Michel Teló — afirma Lôbo, fazendo sua avaliação do sertanejo universitário e da nova geração paulista. — Prefiro algo feito para puro entretenimento do que algo cheio de pretensões mas que musicalmente é raso. Sem ironia, Amud ressalva: — Mas o disco do Criolo é uma sonzeira. Queria uma produção daquela para mim.

‘Música Pós-Björk’

35 Polêmicas à parte, a obra dos cinco entrevistados — representantes de um grupo que inclui nomes como Fernando Vilela, Francisco Vervloet, Mauro Aguiar, Thomas Saboga e Paloma Espínola — tem força independente de seu discurso. E cada um traz características bem particulares. Isso estava claro desde o embrionário projeto Confraria da Música Livre, que rendeu um CD em 2004 e reunia muitos deles. O pernambucano Lôbo “mete o dedo na ferida conceitual”, na definição de Krakowski. Suas canções têm forte carga filosófica e muitas vezes diálogos densos entre cultura popular e clássica (“O crepúsculo do frevo” tem Wagner unido ao ritmo pernambucano). Kneip carrega mais uma malícia da rua nos versos e no ritmo — com venenos de Hermeto Pascoal, Guinga e João Bosco. Sua leitura personalíssima do samba, segundo Moraes, “é tão renovadora quanto a de Djavan”.

Moraes é o que mais diretamente dialoga com a tradição da MPB, a geração da década de 1960. Sua música é, entre as deles, a que tem mais potencial de comunicação com o público do gênero, apesar de carregar um olhar provocador que escapa da abordagem comumente dada a essa tradição. Krakowski chamou atenção pelo vigor inventivo que imprimiu ao seu pandeiro como integrante do Tira Poeira. Instrumentista e produtor que circula nos discos dessa geração, trata o funk com a mesma inquietude com que toca choro em seu projeto Chorofunk. Criador do sarau Radial Sul, que reúne essa cena e é transmitido ao vivo pela internet, ele se vê como um articulador do grupo. Já Amud é descrito por Lôbo como “o portador da maior carga literária da música brasileira”. Para Guinga, é simplesmente gênio. A comparação com o Chico Buarque recente — apesar do universo poético distinto — é pertinente por seu trabalho de sofisticada ourivesaria da canção. Apostando na força de sua estranha MPB (“Música Pós-Björk”, propõe Amud, brincando com a sigla), eles acreditam que a visibilidade virá com o tempo.

— Nosso reconhecimento é mais gradual que viral — avalia Moraes. Bola levantada, Lôbo corta: — Nossa geração não é viral, é bacteriana.

JORNAL DE BRASÍLIA - Sem o nome do pai

Julia Bosco estreia com o álbum Tempo e diz que não quer ser comparada ao mestre João Bosco

Raquel Martins

(22/02/2012) Criada em um ambiente completamente musical e embalada pelas cordas do violão frenético de seu pai, João Bosco, por muito tempo Julia Bosco percorreu outros caminhos antes de seguir o que parecia ser seu destino certo: a música. Depois de oito anos trabalhando em uma empresa estatal, a ex-consultora de petróleo decidiu seguir seu sonho e lançar o primeiro disco independente.

O CD autoral Tempo , produzido por Plínio Profeta e Fábio Santana, é uma mistura de influências e gostos pessoais da cantora. “Quis fazer um trabalho baseado na minha verdade”, garante. Assim, Julia é inspirada por sons diversificados que vão desde uma das divas do jazz, Nina Simone, passando por ídolos da Música Popular Brasileira, como Gal Costa, Caetano Veloso e Chico Buarque, até a contemporaneidade da inglesa Amy Winehouse.

A cantora conta, ainda, que todo esse tempo em que se dividia entre o trabalho na Petrobras, as rodas de samba e os projetos de jazz dos quais participava, foi fundamental para o seu amadurecimento. “Eu pude me conhecer melhor, entender os meus sentimentos e tomar a decisão de me jogar nesse novo desafio na hora certa”, conta.

Segundo a artista, a intenção do disco “nasceu do zero”, sem qualquer pesquisa de repertório. “Sem - pre gostei de escrever, mas só durante esse projeto que compor se tornou um processo natural para mim”, afirma. Julia conta que o álbum é resultado de um trabalho a quatro mãos, pois, além de marido e produtor, Fábio Santana assina sozinho quatro das 13 faixas do disco e outras nove em parceria com ela.

36 SEM PRESSÃO

A compositora, que garante sempre ter o apoio do pai em qualquer decisão, afirma que ele não participou diretamente da produção do álbum. “Até pedi a opinião dele, mas era uma coisa de filha pedindo conselho ao pai e não algo formal”, conta a cantora. Julia revela, também, que ficou muito inibida ao convidar João Bosco para participar da faixa Na Oração. “Ele é, além de tudo, um ídolo pra mim. Fiz essa canção em homenagem a ele e às nossas memórias”, conclui.

Julia diz não sentir o peso de carregar no nome a tradição de sucesso e talento do pai, um dos grandes artistas da MPB: “Temos estilos diferentes e fica impossível tentar nos comparar. A minha responsabilidade é comigo e a minha verdade”. Vivendo um momento de pré-produção do show, ela se prepara para viajar o País com sua banda. “O que mais quero é alcançar a todos com a minha verdade e esperar que o público se identifique”, sonha.

Saiba+ Julia é a quarta da família a seguir a carreira artística. O pai é violonista, cantor e compositor; a mãe, Ângela, é artista plástica; e o irmão, Francisco, escritor e compositor

Os shows de estreia serão em março, no Rival, teatro na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro. E, em abril, no Café Pequeno, no Leblon. As datas ainda não estão confirmadas.

Tempo – Julia Bosco. Gravadora: Tratore, 13 faixas. Preço médio: R$ 29,90

FOLHA DE S. PAULO - Palíndromos e melodias simples guiam estreia de Marina Wisnik

Com 31 anos, filha de Zé Miguel Wisnik lança seu primeiro disco nesta sexta, no Sesc Pompeia

Marcelo Jeneci divide produção musical com Yuri Kalil, que já cuidou de trabalhos de Cidadão Instigado e Thiago Pethit

MARCUS PRETO DE SÃO PAULO

(22/02/2012) Na letra de "Relp", canção de seu segundo álbum, "São Paulo Rio" (2000), o compositor (e escritor, professor etc.) Zé Miguel Wisnik falava de "uma menina lá no espelho" que "fica rindo e polindo o que parece ter dentro e fora de si ou então construindo um lindo palíndromo".

Marina, a tal menina, é filha de Zé. Dos 13 aos 21 anos, ela construiu uma série de micropoemas em forma de palíndromos -como "O céu em meu eco" e "Lá vou eu em meu eu oval", que podem ser lidos tanto da esquerda para a direita quanto ao contrário.

Reuniu todos em 2008, no livro "Sós" (Oficina Raquel).

Já com 31, Marina Wisnik lança nesta semana o primeiro álbum, "Na Rua Agora", com show na sexta, no Sesc Pompeia. Junta 11 composições autorais, escritas desde 2007, quando descobriu que era capaz de fazer música.

Marina aponta relações entre o disco e os palíndromos.

"De uma maneira não proposital, essas frases que vão e voltam -e tratam do espelhamento no conteúdo e na forma- estruturaram também as músicas", diz. "São mantras, com melodias simples, que se repetem, tentando pensar as relações do mundo entre o eu e o outro."

Por todas essas referências, o disco quase se chamou "Marina Dentro do Espelho".

A produção musical foi dividida entre Yuri Kalil (que já cuidou de trabalhos de Cidadão Instigado e Thiago Pethit) e Marcelo Jeneci.

37 "Queria que o disco brincasse com uma coisa psicodélica e hippie. Até pelo nonsense das letras, Mutantes era uma referência importante", explica. "Quando fui ao show do Jeneci -o segundo da vida dele-, vi que já estava tudo lá: aquela coisa solar, astral, amor. Pensei: 'É isso!'."

Antes da música, Marina fez carreira como atriz. Tinha 16 anos quando foi convidada a participar da montagem de "Os Sertões", com direção de Zé Celso Martinez Corrêa.

"Tive que ser emancipada para participar. Ficávamos pelados, fumava-se durante a peça. Que pai aceitaria?"

Na sequência, foi estudar teatro e literatura. Formou-se em letras pela USP. Hoje, é professora. Ensina língua portuguesa, é arte-educadora em ONGs e ministra um curso de poesia.

"Dei toda essa volta, fui fazer teatro e tentar outros caminhos para chegar exatamente ao que meu pai é hoje. Mas entendi que, na verdade, fiz a volta para chegar a mim mesma. Mas é tranquilo. Minha música vai por outro caminho, sou mais simples."

Não teve jeito: é Marina Wisnik dentro do espelho.

FOLHA DE S. PAULO - Do Pará, Gang do Eletro vibra mesclando ritmos dançantes

Banda faz som original misturando house, rap e tecnobrega

FERNANDA MENA, ENVIADA ESPECIAL A RECIFE

(22/02/2012) "Sacode, muchacho!", grita Keila Gentil, 21, à frente da Gang do Eletro, grupo paraense da nova geração do eletromelody que se apresentou no sábado de Carnaval, no festival Rec-Beat, no Recife.

O bordão é emblema da mistura de sons operada pelo grupo: música caribenha, house, hip-hop e tecnobrega, com referências que vão de Michael Jackson a Daft Punk.

Difícil é ficar parado quando todos esses elementos se combinam aos beats divertidos e acelerados do DJ Waldo Squash, mentor da banda.

Nascida em 2008 nas festas de aparelhagem típicas do Pará, a Gang estourou naquela cena com uma música que trata do cotidiano do subúrbio e se tornou hit instantâneo com "Festa na Laje".

O grupo é formado ainda pelos MCs Marcos Maderito e William Love e foi escalado para a programação do festival Sónar, nos dias 11 e 12 de maio, em São Paulo.

Ao vivo, Keila é um show à parte. Rebola, joga os cabelos e faz passos de break. Quando a batida se torna ainda mais frenética, sacode os ombros e canta: "Treme, treme, treme, treme!".

"Desde os cinco anos, minha mãe me levava para cantar na igreja e meu tio, para dançar em um grupo de hip-hop. Ainda criança, passei a idolatrar Michael Jackson e sua dança. Já adolescente, me apaixonei pela eletro-house de Beni Benasse. Sou uma mistura de tudo isso."

Com a onda de redescoberta da música paraense, o ano de 2012 promete para a Gang, que deve lançar o seu disco de estreia no segundo semestre. Squash -que lançou um remix de "Sorver-te", de Kassin- também deve fazer neste ano uma parceria com a cantora Marisa Monte.

A jornalista FERNANDA MENA viajou a convite da Prefeitura do Recife.

38 LIVROS E LITERATURA

ZERO HORA – Livros: A lista da feira de Bolonha

(17/02/12) A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) divulgou esta semana as obras selecionadas para o catálogo que a entidade apresentará este ano na Feira do Livro Infantil de Bolonha. Dedicada a profissionais do livro, a feira é uma das mais tradicionais do mundo e grande vitrine da literatura para crianças e jovens. Todo ano, a FNLIJ apresenta em Bolonha uma exposição com amostras relevantes da produção do ano anterior. Dois grandes nomes da literatura infantil nacional ligados ao Estado, Sérgio Capparelli e Lygia Bojunga, serão homenageados em 2012. Capparelli, mineiro que fez toda a sua carreira literária no , teve seu A Lua Dentro do Coco incluído na Lista de Honra da Fundação. Já Lygia, nascida em Pelotas e residente no Rio, será homenageada pelo 30º aniversário de sua estreia literária, com Os Colegas. Ainda entre os gaúchos, Caio Riter foi indicado com Pedro Noite, e Hermes Bernardi Jr. com Pé de Sapato, ambos editados pela Biruta. Carlos Urbim comparece com Dever de Casa, ilustrado por Eduardo Vieira da Cunha, da Editora Projeto. Sérgio Napp foi selecionado por Menino com Pássaro ao Ombro (Artes e Ofícios), e Celso Sisto, vencedor do Açorianos 2011, teve dois livros destacados: A Compoteira, com ilustrações de Bebel Callage, e Raios de Sol, Raios de Lua, com ilustrações de Mauricio Negro, ambos da Editora Prumo. A.S. Franchini, autor que reconta lendas clássicas, foi selecionado por As 100 Melhores Lendas do Folclore Brasileiro (L&PM).

OUTROS

AGÊNCIA BRASIL - Brasileiros diminuem participação em atividades culturais em 2011, mostra pesquisa da Fecomércio-RJ

15/02/2012 - 17h41

Alana Gandra, repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Pesquisa feita pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) com mil pessoas em 70 cidades do país, incluindo nove regiões metropolitanas, aponta que houve uma redução das atividades culturais dos cidadãos brasileiros, no ano passado, em comparação a 2010.

Isso significa que, em relação a 2010, uma proporção menor de brasileiros participou de alguma atividade cultural, como ler livro, assistir a espetáculo de dança ou de teatro, visitar exposição de arte, ir ao cinema ou a um show de música, disse à Agência Brasil o economista da Fecomércio-RJ, Christian Travassos.

De acordo com o levantamento, em 2011 45% da população estiveram envolvidos com alguma atividade cultural ante a 53% do ano anterior. Segundo Travassos, a forte desaceleração da economia, que passou de um crescimento de 7,5%, em 2010, para cerca de 3% a 3,5%, no ano passado, contribuiu para a diminuição.

Entre 2010 e 2011, o hábito da leitura entre os brasileiros caiu de 34% para 28%, a ida ao cinema ou a shows musicais mostrou retração de 28% para 24% e de 27% para 24%, respectivamente. De todas as opções sugeridas na pesquisa, apenas a referente a peças ou espetáculos de teatro apresentou crescimento, passando de 7% para 9%.

O economista da Fecomércio-RJ avaliou que a principal razão para que o brasileiro não frequente intensamente ambientes culturais é a falta de hábito. “Não é uma questão financeira. Porque, quando você pergunta qual a razão de não ter frequentado um ambiente cultural, a maior parte diz que é a falta de hábito”.

39 Dentre os 55% que não foram a ambientes culturais no ano passado, 72% disseram preferiram ficar em casa e assistir à televisão, 20% declararam fazer churrasco com parentes ou amigos, 15% têm na igreja o seu meio de lazer, 11% manifestaram preferência pelo futebol e 8% ir a bares.

A cultura hoje em dia, destacou o economista, já está presente como instrumento de transformação social em muitos projetos e políticas de governo, além de ações de responsabilidade social das empresas e de organizações não governamentais. Travassos acredita que essas sementes irão gerar frutos no futuro. “É um movimento paulatino para os próximos anos”.

Para acelerar esse processo, considerou essencial que ele seja iniciado na escola, no ensino de primeiro e segundo graus. “Para que a gente forme o consumidor da cultura no futuro”. O economista da Fecomércio-RJ esclareceu que o interesse pela cultura está relacionado ao ambiente cultural onde a pessoa está inserida ou aos hábitos culturais da família. “E não tanto com a questão econômica”.

Na opinião de Travassos, o hábito de levar uma criança a um museu, ao teatro, a um cinema pode, no futuro, fazer uma grande diferença. “Faço uma analogia em relação ao meio ambiente. Uma criança que só conhece o meio ambiente degradado, é muito difícil ela entender a necessidade de preservação. Ao passo que, se ela tem contato com um ambiente saudável, preservado, ela vai entender porque é importante preservar os recursos naturais. Na cultura, é a mesma coisa”. É preciso ter acesso a hábitos culturais variados e com diversidade de opções, que tragam a realidade de outras regiões e países, sugeriu.

De acordo com a pesquisa, por ordem de preferência, os brasileiros gostam mais de ler algum livro (63%), ir a show de música ou ao cinema (53% cada), ao teatro (21%) e assistir a espetáculos de dança ou visitar exposição de arte (16% cada).

ESTADO DE MINAS – Patrimônio desprotegido

Ministério Público confirma que 40 santuários mineiros com peças históricas tiveram alarmes desligados por falta de renovação em 2011 de contrato entre o Iepha e empresa de segurança

Funcionários revelaram que sistema eletrônico de alerta está inoperante nas igrejas de Nossa Senhora do Carmo e de Nossa Senhora do Rosário, em Sabará, que guardam acervo de Aleijadinho, mestre do barroco Mateus Parreiras

40 (17/02/2012) Imagens sacras talhadas pelo mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho; quadros a óleo do século 18 com cenas e personagens da época colonial brasileira; castiçais, candelabros e relíquias religiosas em ouro e prata. O patrimônio que conta a história de Minas Gerais e fica abrigado em igrejas, santuários e sítios está vulnerável à ação de ladrões desde que o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) não renovou os contratos de 2011 com as empresas de segurança que instalaram alarmes em 40 locais, por meio do programa Minas para Sempre. A denúncia é do coordenador das promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais (CPPC), promotor Marcos Paulo de Souza Miranda. “Todos os dispositivos de vigilância estão inoperantes”, afirma. O instituto informou não ter notícia do desligamento, mas também não soube dizer se os equipamentos estão funcionando. O valor do contrato é de R$ 200 mil.

A ausência dos sistemas de alerta e vigilância trazem mais tranquilidade para as ações de quadrilhas especializadas em roubo e comércio de obras de arte tombadas, como a do grupo de ladrões que levou anteontem cerca de 20 objetos sacros de Itacambira, no Norte de Minas. “Estamos ainda mais expostos com a chegada do carnaval, quando é normal a vinda de veículos com placas de fora, disfarçando entre os foliões os ladrões de peças históricas”, destaca o promotor.

Segundo Miranda, o secretário de Estado de Defesa Social, Lafayette Andrada (PSDB), foi comunicado por telefone da situação e teria concordado em alertar as forças policiais sobre a necessidade de estender a segurança aos locais históricos até que o Iepha-MG resolva a pendência.

Três igrejas tombadas pelo Iepha na Grande BH foram visitadas ontem pelo Estado de Minas. Em Sabará, funcionários das igrejas de Nossa Senhora da Conceição e de Nossa Senhora do Carmo confirmaram que o sistema de alarmes estava inoperante. No primeiro templo, os padres não quiseram falar sobre o assunto, mas uma secretária confirmou que há dias não funciona o equipamento que monitora o movimento dentro da igreja. Faltam vidros nas janelas, outros estão quebrados e uma das janelas, voltada para a rua, não tem grades.

PRECIOSIDADES Na Igreja de Nossa Senhora do Carmo o sensor de alarme ficou sem uso por tanto tempo que teias de aranha que o cobriam foram escurecidas pela poeira acumulada no aparelho. Imagens históricas de Aleijadinho, como a de São Simão Estoque e São João da Cruz, ficam expostas, bem como quadros a óleo, documentos do século 18, castiçais e candelabros de metais preciosos. Tudo está sem a proteção eletrônica.

A Capela Nossa Senhora do Rosário, de Sumidouro, em Pedro Leopoldo, não é mais aberta durante a semana por medo de invasões e roubos. De acordo com uma das guardiãs do templo, Nadir Correia, em 13 de julho ladrões invadiram o local, desarmaram os alarmes, cortaram a energia, quebraram computadores que registravam imagens de segurança. Foram roubados o sistema de som e as galetas de prata usadas para vinho e água no ritual da eucaristia. “A gente fica preocupada com esse descaso. É a nossa história que vai se perdendo. Minha avó contava casos de coroações com uma santa que foi roubada. Desde o tempo dela, ninguém mais da comunidade pode repetir o ritual que vinha de séculos”, lamenta Vaneça Maria Soares, de 28 anos, que vive na comunidade Quintas do Sumidouro, onde fica a capela.

ABSURDO Enquanto não se resolve a questão de segurança, pessoas como ela, que moram perto da Capela de Nossa Senhora do Rosário tentam impedir os roubos. “Quando vemos carros estranhos ou gente que não é daqui, chamamos a polícia ou começamos a aparecer nas ruas para evitar os roubos”, conta Vaneça. A estudante Gabriela Cristiane Dias, de 22, frequenta a missa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Sabará, e acha um absurdo o desligamento dos alarmes. “Sabará não tem outras atrações históricas além das igrejas e o patrimônio dentro delas. Se isso acabar, os turistas não virão mais. Ou os investimentos voltam ou os padres usam o dízimo para a proteção da própria igreja”, sugere.

De acordo com o promotor que coordena o CPPC, 60% do patrimônio sacro móvel de Minas Gerais se perdeu em roubos e coleções particulares. “Se não agirmos logo, mais se perderá. As quadrilhas agem em todo estado e são formadas por gente de for a. Os grandes polos de venda são Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo”, afirma.

De acordo com o Iepha, nenhuma prefeitura nem o CPPC informaram sobre os desligamentos dos alarmes. Em nota, o instituto responsável pelo patrimônio estadual informa que “todos os procedimentos burocráticos para renovação dos contratos de manutenção no sistema de alarme

41 estão sendo realizados”. No entanto, foi apresentada uma previsão para sanar os problemas. A Secretaria de Estado de Defesa Social informou que o efetivo de policiamento foi ampliado em todas as cidades históricas no período de carnaval, o que contemplaria a necessidade de reforço na segurança do patrimônio. Enquanto isso...

POLÍCIA procura ladrões no norte

A polícia já identificou a quadrilha que roubou cerca de 20 peças sacras tombadas da Matriz de Santo Antônio, em Itacambira, no Norte de Minas, quarta-feira. “Não vamos divulgar ainda de onde vieram, mas tivemos informações de que ainda estão no Norte de Minas preparando outro roubo. As forças policiais estão avisadas, inclusive as rodoviárias que participam de bloqueios”, afirma o coordenador das promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, promotor Marcos Paulo de Souza Miranda. Até ontem apenas cinco imagens foram identificadas, a última delas a de São Vicente Férreo. De acordo com o promotor, quem leva as imagens pode ser processado por furto qualificado (pena de dois a oito anos), e quem compra, por receptação (três a oito anos).

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