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ISSN 1415 - 2460 - 1415 ISSN

ECOS FALSOS MAIS QUE MÚSICA

E MAIS: OTARGOS - - ATTERA AUTORAMAS - CÓLERA - APHONIA E MUITO MAIS! Ano XVIII - 2009 * NÚMERO 108 Ano XVIII - 2009 * NÚMERO

Edição 108 - dezembro/2009 1 Edição 108 - dezembro/2009 2 índice

20 - Living Colour 22 - Attera 03 - Índice 15 - Otargos 05 News

25 - Autoramas

29 - Cólera 33 - Aphonia 09 - Shows 45 - Ears Up 45 - Ears

36 - Ecos Falsos 49 - Jukebox

Edição 108 - dezembro/2009 3 editorial

O final do ano por aqui é marcado pelos grandes Dynamite # 108 * dezembro/2009 festivais de música. Já virou tradição. Nessa época, todo mundo poupa um pouquinho daqui e economiza Publisher e jornalista responsável: um pouquinho dali para conseguir comparecer a esses André “Pomba” Cagni – Mtb: 34553 ([email protected]) tão aguardados eventos. Em 2009, as escalações, Editor: Bruno Palma Fernandes ([email protected]) mais uma vez, foram para todos os gostos, dos Diagramação: Rodrigo “Khall” Ramos ([email protected]) mais tradicionais aos mais modernos. A organização Foto da capa: Pedro Fogaça também vem sendo aprimorada, principalmente no Marketing: Hanilton Scofield ([email protected]) quesito pontualidade. Alguns problemas, contudo, Inti Anny Queiroz ([email protected]) ainda dificultam as coisas. Vou citar apenas alguns Webmaster: Daniel Zsigmond ([email protected]) festivais como exemplo do que ainda pode melhorar. Administrativo: Alexandre Carvalho ([email protected]) Em primeiro lugar, foi uma tristeza a realização do Relações Públicas: Lílian Vituzzo ([email protected]) Planeta Terra com o primeiro dia do Maquinária. As atrações do primeiro dia desse último dividem público Colaboraram nesta edição: Bruno Palma Fernandes, André “Pomba” Cagni, com atrações que passaram pelo Terra. Muitos fãs de Lívia Palma, Dum de Lucca Neto, Rodrigo “Khall” Ramos, Pepe Brandão, Jane’s Addiction e Faith No More, por exemplo, são Alexandre Carvalho Pereira, Maíra Hirose, Adreana Oliveira, Marcelo Teixeira, também fãs de Iggy Pop, Sonic Youth e Primal Scream. Carolina Sabatier, Adriano Coelho, Everton “Pardal” Soares, Thais Viana, Marcelo Ter que optar por um ou outro evento é muito frustrante “Franja” Sanctum, Danilo Máximo e Luciano “Carioca” Vitor para um brasileiro, que não tem tantas oportunidades para assistir a esses shows. No final, quem acabou perdendo com isso foi o público e os próprios Correspondentes: festivais. Estes certamente teriam mais pagantes, caso as datas não se encontrassem. Paraná: Herik Correia Rocha ([email protected]) No caso do Terra, o formato, que prioriza as atrações internacionais, poderia ser repaginado. : Guilherme Sorgine ([email protected]) Os nomes nacionais poderiam ser mais mesclados no meio da programação, ao invés de Santa Catarina: Luciano Santos ([email protected]) ficarem com os primeiros horários, como aconteceu em suas três edições. Minas Gerais: Fábio Ferreira de Medeiros ([email protected]) O Maquinária, por sua vez, cometeu um erro que vem ecoando em muitos festivais brasileiros: a Internacionais: ridícula instauração de uma área vip, cuja lógica é a de que vê mais quem paga mais. E o preço New York: Micki Mihich ([email protected]) da área vip desse evento em particular, aliás, foi salgadíssimo. O que torna tudo mais horrendo é : Silvia Mendes ([email protected]) que a tal área reservada na frente do palco é muitas vezes ocupada não por quem é muito fã de quem está tocando, mas por quem quer simplesmente marcar presença. Redação / Publicidade: Fone/Fax: (11) 3064-1197 O Indie Rock Festival foi um caso tão absurdo que é até difícil entender. O evento foi Rua dos Pinheiros, 730 – sala 1 - CEP: 05422-001 - Pinheiros - São Paulo/SP realizado no Rio de Janeiro com quatro atrações, e em São Paulo com apenas duas. O valor do ingresso na capital paulista, contudo, era o dobro do cobrado na Cidade Maravilhosa. Eu DYNAMITE é uma publicação sem fins lucrativos aberta a qualquer tipo de gostaria muito de ver soluções mais inteligentes para os problemas que apontei nas próximas colaboração não remunerada em qualquer forma de expressão. Envie e-mail para edições desses festivais, que espero que aconteçam em 2010. [email protected] ou xerox dos seus textos/trabalhos/ensaios para a Vamos para a Dynamite. Na capa desta edição de fim de ano temos a banda paulistana Ecos Caixa Postal 11253 - CEP: 05422-970 - SP/SP, com seu endereço e fone para Falsos, que está inovando no lançamento de seu segundo álbum, intitulado “Quase”. Também contato. Caso seu material seja aprovado, entraremos em contato. A opinião dos temos matérias com o Autoramas, que está lançando um desplugado, o Cólera, que está nossos colaboradores não representa necessariamente a opinião da revista. A comemorando 30 anos de , e o Attera. Aproveitando o finalzinho deste que foi o Ano cópia ou reprodução total ou parcial das fotos e matérias aqui contidas é permitida, da França no Brasil, entrevistamos a banda parisiense de Otargos. E completando desde que citada a fonte e a autoria. as matérias com nomes internacionais temos uma entrevista com o Aphonia e um bate-papo de cinco minutos com o baixista do Living Colour, que passou por aqui em outubro. DYNAMITE é uma publicação da ASSOCIAÇÃO CULTURAL DYNAMITE, CNPJ Boa leitura, bom Natal e bom ano novo a todos. Até 2010! 07.157.970/0001-44

Bruno Palma Fernandes - Editor

Edição 108 - dezembro/2009 4 By Bruno Palma Fernandes Imagens: reprodução NEWS

O Beastie Boys suspendeu o O guitarrista Joe Perry deu uma declaração afirmando que Em agosto, Noel Gallagher, lançamento de seu novo disco e Steven Tyler estava desistindo do Aerosmith e que a banda guitarrista e principal com- cancelou todas as datas de turnê procuraria por um substituto. Pouco tempo depois, Steven positor do Oasis, decidiu que tinha na agenda quando disse que não tinha a intenção de sair da banda. Depois, ain- deixar a banda após anos Adam Yauch, um dos MC’s do da, circularam boatos de que Lenny Kravitz seria um pos- de brigas com seu irmão, o trio, foi diagnosticado com um sível substituto. O próprio Lenny, contudo, negou esses ru- vocalista Liam Gallagher. câncer numa de suas glândulas mores, dizendo que seria incapaz de tomar o lugar de Steven. Com isso, esperava-se que salivares, em julho. No mo- O cantor ainda declarou que está torcendo para que a banda a banda de britpop fosse se mento, o grupo está decidindo continue junta. M dissolver. Liam, contudo, quando lançará o novo disco, continuou trabalhando com intitulado “Hot Sauce Com- os músicos que fizeram parte mittee, Pt. 1”. Yauch, também da última formação do Oasis conhecido como MCA, disse e pretende lançar um disco estar se sentindo melhor após a com essa banda no ano que operação de remoção do tumor vem. O vocalista já adiantou e adiantou que o Beastie Boys também que se não encontrar John Frusciante revelou que está abandonando o posto de pode voltar aos palcos no festi- nenhum nome que o agrade guitarrista do Red Hot Chili Peppers. De acordo com John, val californiano Coachella, que a tempo, esse álbum, que a decisão foi tomada há mais de um ano, na mesma época é geralmente realizado entre o começa a ser gravado entre em que o quarteto californiano anunciava que tiraria umas final de abril e o comecinho de o final desse ano e o começo férias. John explicou que sua saída se deve a diferenças de maio. M do próximo, pode sair sob o interesses e que ele agora se dedicará à carreira solo. O Red nome Oasis mesmo. M Hot ainda não anunciou um substituto oficial para John. O mais cotado, contudo, é Josh Klinghoffer, que já gravou na O site oficial do Guns carreira solo de John Frusciante e também já tocou com N’Roses (www.gunsnroses. nomes como Beck e PJ Harvey. M Cat Power revelou que gravará sozinha seu próximo ál- com) dá a entender que Axl bum de estúdio, ao invés de gravar com sua banda de apoio, e companhia farão uma turnê O Biohazard, reunido desde o ano passado após dois anos a Delta Blues Banda. A cantora norte-americana revelou já pela América do Sul no ano parado, entrará em estúdio em janeiro para começar a gravar ter um bom tanto de composições para esse novo trabalho, que vem. Se a dica que o site um novo álbum, sucessor de “Means To An End”, que saiu seu primeiro de inéditas desde “The Greatest”, que saiu em está dando na seção Tour em 2005. A formação que gravará esse disco será a mesma 2006. Cat Power ainda não disse quando dará início à grava- Dates estiver correta, a ban- da reunião: Evan Seifeld (vocal e baixo), Billy Graziadei e ção desse material e nem uma estimativa para o lançamento da californiana de hard rock Bobby Hambel (guitarras) e Danny Schuler (bateria). Esse do disco. M estará por aqui entre março e próximo trabalho da banda nova-iorquina de / abril do ano que vem. M hardcore, ainda sem título definido, tem lançamento espe- Um ônibus que transportava Rivers Cuomo, vocalista e gui- rado para o meio do ano que vem. M O ônibus de turnê da banda tarrista do Weezer, e sua família se envolveu em um sério norte-americana de acidente rodoviário próximo a Albany, capital do Estado de Embora tenha lançado um álbum, “The Eternal”, há menos Everytime I Die bateu na estra- Nova York. Rivers ficou com três costelas quebardas, uma de seis meses, o Sonic Youth já tem planos para um próximo. da durante a passagem do quar- leve perfuração no pulmão e um ferimento, também leve, no De acordo com o guitarrista e vocalista Lee Ranaldo, a banda teto pela Alemanha. Felizmente, baço. Devido ao acidente, a banda californiana de rock alter- nova-iorquina de rock experimental deve entrar em estúdio ninguém saiu ferido. O ônibus, nativo cancelou todo o restante da turnê que estava fazendo no ano que vem para começar a gravar novo material. M contudo, foi destruído. M pelos Estados Unidos. M

Edição 108 - dezembro/2009 5 NEWS O cantor Morrissey, ex- O Them Crooked Vultures, formado por Dave Grohl O U2 recebeu uma multa vocalista do The Smiths, e (Foo Fighters), Josh Homme (foto - Queens Of The Stone por ter tocado acima dos lim- Stella McCartney, filha de Age) e John Paul Jones (Led Zeppelin), lançou recentemente ites sonoros permitidos em Paul McCartney, estão tra- seu primeiro disco, homônimo. Podia-se esperar que o trio shows feitos em Dublin, na balhando juntos numa linha fosse parar por aí, já que seus integrantes tem grande en- Irlanda, em julho. A banda de roupas. O mote da dupla é volvimento com outros projetos. Os três, contudo, já deram tocou acima dos 75 decibéis criar peças de roupa não con- declarações que contrariam essas expectativas. Dave, Josh e estipulados como limite e feccionada com couro. Mor- John pretendem fazer pelo menos mais um disco do Them agora terá que desembolsar rissey e Paul sempre deram Crooked Vultures. Só não se sabe quando. M mais de 33 mil libras. M declarações públicas defen- dendo o direito dos animais. Ronnie James Dio foi diagnosticado com um câncer no A polícia federal norte-americana abriu uma investigação De acordo com Stella, o tra- estômago, o que o levou a cancelar todas as datas de uma para averiguar se a fabricante de instrumentos musicais Gib- balho ainda está em fase ini- turnê que faria pelo Reino Unido. A doença foi detectada em son anda utilizando madeira ilegal. A Gibson está sob sus- cial, mas pode ser lançado já estágio inicial, e, portanto, espera-se que o baixinho tenha peita de ter comprado jacarandá de Madagascar, de onde não no ano que vem. M recuperação total. M se pode comprar devido a problemas ambientais e de cor- rupção na região. Madeira, guitarras, computadores e docu- Depois de quase todo mundo da banda ter lançado projetos mentos foram confiscados por agentes federais da fábrica paralelos nos últimos anos (sendo o guitarrista Nick Valensi da Gibson, em Nashville. Apesar da investigação, a marca a única exceção), os integrantes do Strokes estão se prepa- garante que só compra madeira legal. M rando para dar início às sessões de gravação do que virá a ser seu próximo álbum, o primeiro da banda desde “First Impressions Of Earth”, que saiu no comecinho de 2006. Ao que tudo indica, os músicos entram em estúdio em janeiro para começar a trabalhar nesse novo disco. Ainda não há nenhuma previsão para o lançamento desse trabalho. M O PiL, a banda que o vo- calista John Lydon montou O vocalista Keith Buckley, do Everytime I Die, os gui- após o término do Sex Pis- tarristas Scott Ian e Rob Caggiano, ambos do Anthrax, e o tols, em 1978, fará alguns guitarrista Joe Trohman e o baterista Andy Hurley, ambos shows de reunião no mês De acordo com Digão, do Fall Out Boy, formaram um novo projeto, chamado The que vem, comemorando os guitarrista e vocalista do Damned Things. De acordo com Scott, a banda pode levar 30 anos de lançamento de , Tico Santa algum tempo para conseguir gravar seu primeiro disco devi- “Metal Box”, seu segundo Cruz, vocalista da banda ca- do aos projetos principais de seus integrantes. M álbum. Não estava claro se rioca Detonautas, assumirá o O Stone Temple Pilots, reunido desde o ano passado, está a reunião seria só para apre- posto que um dia pertenceu Reunido oficialmente desde o semestre passado, quando deu trabalhando em um novo álbum de inéditas, o primeiro da sentações ao vivo ou se a a Rodolfo na banda brasil- início a uma série de shows, o Blink 182 finalmente anunciou banda desde “Shangri-La Dee Da”, que saiu em 2001. Esse banda trabalharia em novas iense. Tico participará como planos concretos para entrar em estúdio e começar a gravar um novo trabalho do quarteto norte-americano de rock alterna- composições. John esclare- convidado de uma turnê que novo álbum. De acordo com o baixista e vocalista Mark Hop- tivo, que ficou parado por cinco anos, está sendo produzido ceu que a intenção do PiL é o Raimundos fará pelo Brasil pus, o trio começa a gravar em janeiro essas novas composições por Don Was, que já trabalhou com nomes como Bob Dylan, gravar coisa nova, mas que no ano que vem, fazendo a nas quais vem trabalhando desde o final do ano passado. Ain- Rolling Stones e Brian Wilson. O disco, cujo lançamento isso depende de um fator maioria dos vocais, mas ainda da não há previsão para o lançamento desse disco, que será o está previsto para o próximo ano, será o primeiro do STP crucial para se concretizar: dividindo-os com Digão. M primeiro da banda desde “Blink-182”, que saiu em 2003. M cuja produção não será assinada por Brendan O’Brien. M grana. M

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Os integrantes do Mayhem do Ignite) ocupando o posto vago. Zoli, contudo, é um sub- foram presos durante sua pas- stituto temporário, e a banda ainda deve anunciar um nome sagem por Tilburg, na Holanda. de um permanente. No entando, o Pennywise continua mar- Os membros da banda norueg- cando shows e também já anunciou planos para o lançamen- uesa de black metal se encre- to de um novo álbum no começo do ano que vem. M caram com a justiça holandesa por terem causado danos a um No dia 23 de outubro, o baixista Eric Wilson e o baterista quarto de hotel. Camas, tele- Bud Gaugh fizeram um show de reunião do Sublime num visões, pias e espelhos foram festival californiano, tendo o vocalista e guitarrista Rome destruídos, cortinas foram ras- Ramirez no lugar de Bradley Nowell, que faleceu em 1996, gadas, e plantas foram atiradas vítima de uma overdose de heroína aos 28 anos de idade. Slash, guitarrista que tocou da janela. Estima-se que a ban- Contrariando a família do falecido frontman, que alega que no Guns N’Roses e que faz da tenha causado um prejuízo o uso do nome da banda era direito exclusivo de Bradley, parte do Velvet Revolver, em torno de cinco mil euros ao a reunião foi feita sob o nome Sublime. Após uma ação le- lançará seu primeiro álbum hotel. M gal, a família de Bradley conseguiu o que queria: um juiz solo no começo do ano que determinou que os integrantes remanescentes não podem se vem. Participaram do disco apresentar como Sublime. M músicos famosíssimos, como O não teve outra alternativa senão fazer uma Ozzy Osbourne, Dave Grohl versão diferente de seu álbum mais recente, “Liebe Ist Fur Alle (Foo Fighters), Flea (Red Hot Da”, para que ele seja comercializado dentro de sua própria Chili Peppers), Josh Freese terra-natal, a Alemanha. Um órgão governamental que fiscaliza (A Perfect Circle), Chris formas de mídia prejudiciais aos jovens considerou uma foto do Chaney (Jane’s Addiction), guitarrista Richard Kruspe, com mulheres mascaradas e nuas Alice Cooper, e por aí vai. a seus pés, e a música “Ich Tue Dir Weh” (título que pode ser Uma das pessoas que Slash traduzido como “Eu Quero Ferir Você”) demasiadamente ofen- convidou, e com a qual ele sivas. A banda de metal industrial removeu a foto e a música em diz que gostaria muito de questão na versão alemã de “Liebe Ist Fur Alle Da”. M trabalhar, não aceitou o con- vite: Jack White, vocalista e O músico norte-americano Samuel Bartley Steele perdeu guitarrista das bandas White Trevor Peres, guitarrista da o processo por plágio que abriu contra Bon Jovi, e Warner Stripes, Raconteurs e The banda norte-americana de e a liga principal de baseball. Samuel entrou na justiça ped- Dead Weather. Slash conta Obituary, está indo nada menos que 400 milhões de dólares, alegando que que convidou Jack para cantar lançando seu próprio molho a música “I Love This Town”, de Bon Jovi, era excessiva- Sai no comecinho do ano que vem o álbum de estreia do em uma música, mas ele não para churrasco, o T-Bone’s mente similar a “(Man I Really) Love This Team”, música Triptykon, projeto que o vocalista e guitarrista Thomas Ga- quis. Jack respondeu que po- Famous (T-Bone, aliás, é o que ele gravou em homenagem ao time de baseball Boston briel Fisher montou quando deixou a banda suíça de metal dia tocar guitarra, baixo, bat- apelido pelo qual o músico Red Sox. Mas a história ainda não deve acabar aí, pois Sam- Celtic Frost, no ano passado. O disco, intitulado “Eparis- eria, qualquer coisa, mas que é mais conhecido). Por en- uel pretende apelar da decisão. M tera Daimones”, será lançado pelo Prowling Death, selo da não queria cantar. O disco, quanto, só está à venda o própria banda. Antes do fim do Celtic Frost, Thomas Gabriel produzido por Eric Valentine, molho sabor original. Em O Pennywise está sem vocalista desde agosto, quando Jim começou a compor material para um novo álbum da banda. tem lançamento previsto para breve, porém, estarão di- Lindberg decidiu abandonar a banda californiana de hard- Acredita-se que grande parte do que ele produziu para esse o primeiro trimestre de 2010. sponíveis as versões picante, core. Desde então os integrantes remanescentes fizeram al- disco que nunca saiu aparecerá nesse primeiro trabalho do O álbum deve se chamar extrapicante e agridoce. M gumas apresentações, contando com Zoli Teglas (vocalista Triptykon. M “Slah & Friends”. M

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Já havia sido anunciado Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, caiu do O guitarrista Eric Clapton que a banda inglesa de rock palco durante uma apresentação da banda de pop rock em foi forçado a cancelar a apre- dançante Bloc Party tirar- Patos de Minas/MG no dia 31 de outubro. O cantor caiu de sentação que faria no Madi- ia algum tempo de férias. costas de uma altura de aproximadamente três metros e ba- son Square Garden, em Nova Os integrantes do quarteto teu a cabeça. Lúcido e com estado de saúde estável, Dinho York, no dia 23 de outubro. aproveitarão esse tempo foi levado a um hospital da região, onde foi diagnosticado O músico não fez o show para poderem se dedicar a um leve traumatismo craniano. Devido ao ocorrido, o Capi- para se submeter a uma ciru- novos projetos. O vocalista tal cancelou cinco shows. M rgia de remoção de pedra na e guitarrista Kele Okereke vesícula. Clapton, que está está gravando um álbum com 64 anos de idade, está solo no momento. Pouco se se recuperando da operação sabe a respeito do disco. O no momento. M que parece certo é que Kele conta com a colaboração de membros do Spank Rock nesse trabalho. M Foram divulgados os nomes de alguns dos artistas que o cantor inglês Peter Gabriel regravou para um álbum de cov- ers que será lançado no começo do ano que vem. O disco, que se chamará “Scratch My Back”, trará releituras de Peter para músicas de clássicos de David Bowie, Paul Simon e Neil Young, e também de bandas mais recentes, como Radiohead Vizinhos do cantor inglês Ian Brown fizeram uma queixa à e Arcade Fire. As versões de Peter Gabriel em “Scratch My polícia londrina após ouvirem uma briga na casa do artista. Back”, que contou com a produção de Bob Ezrin, foram fei- Fabiola Quiroz, a esposa de Ian, contou aos oficiais que ele tas com arranjos para orquestra. M a havia atacado. Ian, que cantou à frente do extinto Stone Roses, foi preso, mas liberado logo em seguida, após o paga- Lily Allen negou que estivesse planejando colocar fim a mento de uma fiança, cujo valor não foi divulgado.M sua carreira musical. A cantora pop inglesa, que passou re- centemente pelo Brasil, revelou que pretende ficar os próxi- Tony Iommi, guitarrista Há anos circulam rumores a respeito de uma possível reunião mos anos sem cantar, sim, mas disse que não pretende deixar Anette Olzon, vocalista das bandas inglesas de met- da banda inglesa The Faces, da qual fizeram parte o cantor Rod de trabalhar com música. Um projeto no qual Lily anda pen- que entrou na banda fin- al Black Sabbath e Heaven Stewart e o guitarrista Ron Wood, que toca no Rolling Stones sando é abrir sua própria gravadora. “Amo trabalhar com landesa de gothic rock sin- And Hell, fez um tratamento desde 1975, mesmo ano em que o Faces acabou. A banda fez música. Gosto de ajudar outras bandas”, disse a cantora. M fônico Nightwish no lugar com células tronco há cerca um show de reunião beneficente no dia 24 de outubro, em Lon- de Tarja Turunen, está tra- de dois meses após sentir in- dres. Sem a presença de Rod, a banda contou com vocalistas A banda inglesa de indie rock The Rakes acaba de anunciar balhando em material para cômodo nas juntas. O músi- convidados. Entre eles, cantaram Mick Hucknall (Simply Red), sua separação. O quarteto, formado em 2004, sequer quis um álbum solo. A canto- co, que está com 61 anos de Mel C (ex-Spice Girls) e Kiki Dee (famosa pelo dueto com El- cumprir com as datas de sua próxima turnê, que seria inicia- ra está agora compondo idade, afirmou que, embora ton John em “Don’t Go Breaking My Heart”). Rod Stewart não da no próximo dia 26. Em declaração oficial, a banda alega músicas com os produtores o tratamento seja recente, participou do show porque está ocupado com a divulgação do que a condição para sua existência era a de que os quatro Stefan Orn e Johan Gloss- ele já tem sentido melhoras. recém-lançado álbum “Soulbook”. O cantor, contudo, revelou membros deveriam dar tudo de si, e eles não sentiam que ner. O disco, que será pro- Tony também disse que tem ter interesse em voltar a cantar à frente do Faces. “Eles fizeram podiam mais fazer isso. O Rakes, que passou pelo Brasil na duzido por Anders Bagge, tocado guitarra normalmente a reunião sem mim porque estou divulgado esse álbum. Espero primeira edição do Indie Rock Festival, em 2007, lançou no ainda não tem data de lan- durante a recuperação. M que eu consiga meu antigo emprego de volta”, disse Rod. M início desse ano seu último álbum, intitulado “Klang”. M çamento marcada. M

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Living Colour toca novas, antigas, covers e seus Ripper Owens dá uma aula de metal em São Paulo Kreator e Exodus: maiores sucessos em mais de duas horas de show 16/10/2009 – São Paulo – Manifesto Bar presente de Natal antecipado, em pleno Halloween 15/10/2009 - São Paulo - Via Funchal 31/10/09 – São Paulo – Via Funchal eis que um dos melhores vocalistas de metal da atu- alidade, (ex- Judas Priest e ex-Iced Earth) Tim “Rip- Eper” Owens volta ao Brasil para promover seu álbum solo, “Play My Game”. O Manifesto Bar recebeu um bom público, embora um pouco abaixo do esperado, fato ex- plicável pelo fato de grandes nomes do metal e rock que se apresentaram por aqui, como Kreator, Exodus e AC/DC. Muita gente com quem conversei na semana do show esta- va “quebrada” por causa dos ingressos para esses shows. A abertura ficou por conta da boa banda Burn Down, que apre- sentou um metal tradicional, com destaque para um cover do Ozzy Osbourne. O show de Ripper começava com a batida mor- tal de “Painkiller”, clássico do Judas Priest. O cantor entra no pal- co, de boné e óculos, já detonando na música que era cantada em uníssono pela galera. Em seguida, não dando tempo para ninguém respirar, ele vem com a clássica pergunta: “What’s My Name?”. E a galera: “Ripper!”. Foi a senha para a segunda pe- Living Colour iniciou sua apresentação em São Paulo drada, com mais esse clássico do Judas. A trinca inicial é fechada Kreator tocando uma música de cada um de seus primeiros com “Burn In Hell”, também da banda de Birmigham. Oquatro álbuns. “Já tocamos uma de cada um dos Ripper foi bem simpático, conversando e brincando com Via Funchal recebeu um ótimo público para as- primeiros. Agora vamos tocar uma do mais recente. Que o público. Embora tenha vindo para divulgar seu trabalho sistir a essa aula de thrash metal. Às 22h, em tal?”, anunciou o vocalista . O público, que solo, a maior parte das músicas do show eram do Judas. O ponto, entra o Exodus, já detonando com “Bond- já estava bastante animado, recebeu muito bem “Bruned Também foram tocadas “Eletric Eye”, a fantástica “Breaking ed By Blood”, levando os fãs ao delírio. Bridges”, a faixa de abertura de “The Chair In The Door- The Law”, “The Green Manalishi” (em soberba interpreta- O som estava meio embaralhado, mas a banda fez way”, que a banda havia lançado um mês antes. ção) e “Living Afer Midnight”, que ficou para o encerramen- uma apresentação bastante elétrica e raivosa, conta- Do trabalho mais recente do quarteto nova-iorquino ainda to. De seu novo trabalho, apenas a música “Believe”. giando toda a platéia. A banda ainda desfilou sucessos vieram “The Chair”, “Decadance”, “Method”, “Hard Times”, Ripper também cantou alguns covers, como “Higway Star” (Deep como “Fabulous Disaster”, “Piranha” e “Toxic Waltz”, en- “Out Of My Mind”, a balada-blues “Bless Those” (com dire- Purple), “Symptom Of The Universe” (Black Sabbath) e “Flight Of tre outras pancadas. ito a um slide) e “Behind The Sun”, perceptivelmente uma Icarus” (), todas interpretadas de forma magistral. Depois de um intervalo – realmente necessário para os das preferidas do público. Ripper fez um ótimo show. Sua garganta está em plena bangers recuperarem o fôlego – entra em cena o head- Como já era de se esperar, o Living Colour tocou al- forma, principalmente nos agudos. liner da noite: os alemães do Kreator. Com o som bem guns trechos de covers, como “Give It Away”, do Red Texto: Marcelo Teixeira melhor, a banda fez uma apresentação mais compor- Hot Chili Peppers, “Papa Was A ”, já Foto: Carolina Sabatier tada que a dos estadunidenses, mas não menos empol- gravada pelo Temptations, “Hound Dog”, gravada por gante. Elvis Presley e estrategicamente inserida no meio de Embora técnica, a banda exibe muito peso e riffs ver- “”, e “Should I Stay Or Should I Go”, do dadeiramente matadores. O único senão foi que o vo- The Clash, que veio já no finalzinho do show de mais calista Mille falou bastante com a platéia no intervalo de duas horas da banda. Além dos covers, a apresen- das músicas, às vezes em demasia. tação contou ainda com bons solos do baixista Doug Petardos como “Enemy Of God”, “Violent Revolution”, Wimbish e do baterista . “Extreme Agression” e a lendária “Coma Of Souls” fiz- Foi ótimo conferir como funcionam as novas músicas da eram a alegria dos militantes metálicos presentes. banda ao vivo, os covers e músicas do início da carreira do No dia em que muitas pessoas foram comemorar o Living Colour. Mas não tem como não dizer que os grandes Halloween, que nada tem a ver com a cultura e o folclo- momentos vieram com os maiores sucessos: “Glamour Boys” re brasileiros, os bangers provam que têm bom gosto, e “Cult Of Personality”. M prestigiando duas lendas vivas do metal. Texto: Bruno Palma Fernandes Texto: Marcelo Teixeira Foto: Lívia Palma Foto: Adriano Coelho

Edição 108 - dezembro/2009 9 SHOWS

No Planeta Terra pode até ter sido interessante para quem Sonic Youth se foca em último disco e Iggy Pop em seus maiores clássicos assistia através da internet, mas para os 07/11/2009 – São Paulo – Playcenter presentes foi uma tortura. Mas o pior escor- regão ainda estava por vir. Com tudo sendo acertado para a entrada do Sonic Youth, eis que surgem nos telões integrantes da banda Fresno, dando uma entrevista. Ganharam uma sonora vaia dos milhares presentes, num coro que deve tê-los feito tremer nas bases. Falta de noção da produção e falta de noção da banda emo. Ali não era o lugar de- les, e não era difícil saber disso. Coincidên- Primal Scream cia ou não, após as vaias a transmissão foi cortada, e assim a banda nova-iorquina de rulheira, Kim Gordon, que no momento não rock experimental dava início a seu show. tocava nem baixo e nem guitarra, começou O Sonic Youth focou a apresentação em a girar feito doida. Pulou, rodopiou e foi ao seu trabalho mais recente, “The Eternal”, chão, marcando o começo da parte final da que saiu no meio do ano. Mandaram ainda música, apoteótica. Na sequência veio “Pink grandes clássicos, de álbuns como “Sis- Steam”, obra-prima do mesmo disco, tocada ter” e “Daydream Nation”, ambos lançados à perfeição. Encerraram com mais um clás- há mais de 20 anos. Já quase no final da sico: “Death Valley 69”. Belíssimo show. apresentação, o Sonic Youth pareceu tentar Quem se incumbiu de encerrar a festa no compensar os brasileiros por não ter apare- Main Stage foi o vovô Iggy Pop. O velhote mandou logo de cara “Raw Power”, mostran- Iggy Pop cido por aqui na última turnê e tocou a sen- sacional “Jams Run Free”, do disco “Rather do que ainda tem muita lenha para queimar. Dançou o tempo todo, do seu jeitinho frené- Macaco Bong ficou encarregado de dar igual com nomes internacionais. A organiza- Ripped”, que saiu em 2006. No meio da ba- tico e único. Logo veio o hino “Search And a largada na terceira edição do festival ção do Planeta Terra, aliás, deveria repensar Destroy”, em execução avassaladora, que Planeta Terra. O trio cuiabano, que to- o formato do festival, pois, assim como nas O fez a geral despirocar de vez. Lá pelas tantas, cava no palco principal, agradou o público que duas edições anteriores, as bandas nacionais Iggy chamou algumas pessoas para subir ao ia chegando ao local. Os mais animados nem foram posicionadas no início do evento. Isso palco. Estava instaurado caos. Uma galera se incomodaram com o sol de rachar coco que ficou ainda mais descabido com a fraquíssi- subiu. Uns se limitavam a dançar e curtir, en- estava fazendo naquele meio de tarde e ficar- ma apresentação do Maximo Park, a primeira quanto outros partiram para a tietagem, agar- am em frente à grade, acompanhando tudo de banda internacional a tocar no Main Stage. rando Iggy e os músicos. Após uma música, perto. No set list da banda, que despertou o in- Prosseguindo, já à noite, entrava no palco o cantor mandou que todos descessem, en- teresse e a simpatia dos presentes com suas uma das atrações mais aguardadas do fes- quanto o saxofonista tocava o que realmente grandes viagens instrumentais, músicas como tival. O Primal Scream entrou com “Can’t parecia ser uma trilha sonora para uma des- a climática “Bananas For You All” e “Vamos Dar Go Back” e aí já deu para sacar que a coisa pedida. Ouvi dizer que os seguranças foram Mais Uma?”, a última do show. não ia ser boa. Parecia faltar teclado, guitar- um bocado truculentos com o público nesse Depois do Macaco, mais uma atração nacio- ra, peso, e o pior: energia. A cacetada “Miss momento, mas de onde eu estava não pude nal: Móveis Coloniais de Acaju. Começaram Lucifer”, que veio logo no começo, por ex- ver. Iggy deliciou o público com clássicos com a temperatura já lá em cima, com a empol- emplo, saiu anêmica, pálida como alguém atrás de clássicos: “I Wanna Be Your Dog”, gante “O Tempo”, e mantiveram o pique até o que tivesse acabado de vomitar uma fei- “Fun House”, “Passenger” e “Lust For Life”, a final, tendo diante de si um público maravilhado joada. Nem mesmo “Swastika Eyes”, uma última desse excelente show. e participativo. O que provoca tal efeito, além das mais eletrizantes do Primal, deu conta O Planeta Terra certamente se firmou da mistura bem pra cima de rock, ska e música de reverter o quadro. Decepcionante. como um dos melhores festivais musicais brasileira que a banda faz, é o entusiasmo com Após cada show os telões exibiam uma do Brasil. Ainda existem alguns problemas, o qual os músicos se movimentam em cima do transmissão ao vivo de um estúdio montado mas nada que não possa ser ajeitado. Que palco, tornando o show uma grande festa. no Playcenter, com entrevistas com músicos o próximo seja ainda melhor. As duas únicas atrações nacionais do palco que tocaram no evento e celebridades das Texto: Bruno Palma Fernandes principal mostraram que estão de igual para mais variadas que o acompanhavam. Isso Sonic Youth Fotos: Lívia Palma

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Maquinaria: dois dias destinados a faixas etárias distintas gar a noite de glória dos fanáticos que ali Dir En Grey 07 e 08/11/2009 – São Paulo – Chácara do Jockey se amontoavam aos berros e pulos, can- tando cada palavra das músicas que eram segunda edição do festival Maquinária Jane’s Addiction executadas de forma excepcional. O grupo aconteceu na Chácara do Jockey estava afiadíssimo, assim como a língua AClube de São Paulo com um leque de de Mike, que fez alguns pontos altos que variedades musicais. Foram dois dias de jamais serão esquecidos, tais como suas muitos decibéis, sol e chuva, que não tira- quedas, suas tentativas de cantar em portu- ram o ânimo do público. guês e quando se atirou em frente à grade O primeiro dia foi aberto pelos paulistanos de proteção, puxando o fio do microfone e do Lótus no palco MySpace. Eles executaram fazendo quantos conseguia gritar “Porra! um punk rock de responsa. Na sequência, no Caralho!” durante pelo menos 20 minutos palco principal, os pernambucanos da Nação seguidos. Zumbi tocaram de frente para um sol escal- Claro que os hits que todos queriam ouvir formado em sua maioria por adolescentes, dante, enquanto o público ainda ia chegan- O Jane’s Addiction era a segunda banda foram executados (menos “Falling To Piec- pareceu curtir bastante a apresentação. do. Depois foi a vez do Comodoros mostrar mais esperada do festival. Formando uma es”). Vieram “From Out Of Nowhere”, “Epic”, Um dos nomes mais esperados pela ga- seu som no segundo palco, enquanto todos dupla explosiva, o vocalista Perry Farrell, “Ashes To Ashes” e “Last Cup Of Sorrow”, rotada subia em seguida no palco principal: fritavam naquele sol flamejante. que já chamava a atenção pelo figurino entre outras não menos expressivas. A ban- o Panic At The Disco. Bem comportados e A segunda banda a se apresentar no palco brilhante que podia ser visto mesmo lá do da fez a festa dos trintões que ali se envolvi- profissionais, os membros da banda fizeram principal foi o , que ainda faz os fundão, e o guitarrista Dave Navarro aden- am num clima de nostalgia, enquanto “We um show que emocionou garotinhas e ga- fãs erguerem poeira onde quer que se apre- traram a noite dando um show à parte, com Care A Lot” e “Digging The Grave” foram as rotões. Em meio a gritos e lágrimas, a galera sente. A banda sofreu com o sol e alguns direito a dançarinas semi-nuas. Os dois responsáveis pelos encores, para fazer o curtiu e a banda saiu satisfeita do palco. paus que davam no som. Clássicos anti- maiores clássicos da banda estiveram pre- público ir embora bastante satisfeito. Com uma chuvinha que ia e vinha rapi- gos, como “Troops Of Doom”, “Inner Self”, sentes: “Been Caught Stealing” e “Montain damente e que nem por um segundo atra- “Arise”, “Dead Embrionic Cells” e outros, Song”. A última apresentação no palco se- palhou o humor da galera, subia ao palco a se mesclavam aos sons mais atuais, de ál- cundário foi dos irmãos Supla e João Su- banda mais aguardada do dia: o Evasnes- buns como “Dante XXI” e “A-Lex”, o último plicy, os Brotehrs Of , que misturam do cense, liderado por Amy Lee. O grande es- trabalho do grupo, que, além de ter sido o punk à bossa nova. petáculo da noite foi começado com “Going mais pesado do festival, foi o gás que os Under”. Durante a apresentação, rolaram presentes estavam precisando para entra- momentos solo de Amy Lee, como foi o rem no espírito do evento. caso de “Good Enough”, a qual ela cantou tocando piano. Também passaram pelo set list “Lacrimosa”, “My Immortal” e “Your Star”. Nenhum hit ficou de fora. A banda se despe- No segundo dia, o público foi reduzido e diu deixando seu público contente. mais jovem. A primeira atração do palco prin- cipal foi a banda Loaded, de Duff Mckagan. Iniciaram com “Sick”, faixa-título do álbum mais recente da banda do ex-baixista do Guns N’ Roses e Velvet Revolver. O Loaded Faith No More fez uma apresentação bastante empolgante Deftones e expressiva, tocando desde músicas anti- E para fechar a noite com chave de ouro, gas, novas e alguns covers. Apareceram no O Deftones foi a primeira banda gringa a o Faith No More. Mesmo de terno e gravata, set list músicas como “Slease”, “So Fine”, se apresentar. Mesmo com o calor infer- não conseguiram passar o clima sério que o “Attitude”, e “Easy”. nal, Chino Moreno e cia pareceram entrar traje exige, ainda mais se tratando do front- A segunda banda que subiu ao palco foi a Evanescence no clima da molecada, que gritava e pulava man Mike Patton, que lidera o grupo ao lado nipônica Dir en Grey. Com misturas bem cu- feito canguru. Do Rio de Janeiro, o Maldita do baixista Billy Gould, que também não riosas e pesadas, o da banda pare- Texto: Rodrigo “Khall” Ramos e Alexandre mostrou um show bastante interessante no parava no lugar. ceu agradar aos ouvidos dos presentes, com Carvalho Pereira palco MySpace, com suas letras macabras Nem a chuva, que resolveu cair de vez um som extremamente alto, que chegava a Fotos: Alexandre Carvalho Pereira, Adrea- e com participação de uma fã. bem na hora da banda, conseguiu estra- fazer zunir os ouvidos. O público da banda, na Oliveira e Everton “Pardal” Soares Edição 108 - dezembro/2009 11 SHOWS

Faith No More alterna porrada e mansidão em Belo Horizonte Super Furry Animals e Gogol Bordello: 08/11/2009 - Belo Horizonte - Chevrolet Hall um show frio e um pelando na versão paulistana do Indie Rock Festival 10/11/2009 - São Paulo - Via Funchal ntes de começar a falar do show do Faith No AMore tenho que criticar a péssima escolha das bandas de abertura. O Moptop, nossa caricatura de Strokes, abriu no Rio; a banda de pop rock Vé- spera abriu em Porto Alegre; e em Belo Horizonte as honras foram dadas ao Monno. É de entristecer ver bons músicos fazendo música com tanta falta de originalidade. Os in- tegrantes do Monno mostram ser bons no que fazem - espe- cialmente o baterista -, mas o que a banda produz só serve para a trilha da “Malhação”. Potencial desperdiçado. Mas vamos ao que interessa. O Faith No More abriu com “Midnight Cowboy”, tema instru- mental do filme homônimo, durante a qual Patton tocou uma escaleta. O clima singelo foi rompido com a cacetada “The Real Thing”. No meio da música, Roddy sentiu que o calor não estava combinando com o figurino e fez um malabarismo para tirar seu paletó enquanto ainda tocava. Após “Land Of Sunshine” e “Caffeine” veio mais um momento mais lento com a Confirmada meio de última hora, a versão paulistana do Indie Rock Festival contou com belíssima “Evidence”. No refrão desta, Patton improvisou uma hilária versão em português. metade das atrações (os paulistanos do Holger e os argentinos do El Mató A Un Policia A porrada voltou com “Surprise! You’re Dead!”, que foi seguida pela grandiosa “Last Cup Motorizado infelizmente ficaram de fora). O valor dos ingressos, mais infelizmente ainda Of Sorrow”. “Ricochet” manteve a vibração para mais uma pisada no breque. A balada e surpreendentemente, era o dobro do que foi cobrado no Rio de Janeiro. Sacanagem. “Easy”, célebre cover do Faith No More para o clássico do Commodores, levou muito Com isso, tocaram na edição da Terra da Garoa a banda galesa de indie rock Super Furry marmanjo às lágrimas. O show seguiu com “Epic”, um dos maiores sucessos da banda. Animals e a norte-americana de folk punk Gogol Bordello. “Midlife Crisis”, mais um grande hit do quinteto, foi a escolhida para dar continuidade à O Super Furry Animals começou na manha, com batidas eletrônicas suaves, com “Slow excelente apresentação. Life”, mandando na sequência a animada “(Drawing) Rings Around The World”, música que Outro momento relax veio com “Caralho Voador”, com o célebre verso em português “Eu dá título ao álbum que o quinteto lançou em 2001. A banda prosseguiu com três grandes não posso dirigir e agora aparece meu dedo enterrado no meu nariz”. Nessa música, Pat- sucessos: as serenas baladas “Golden Retriever” e “Hello Sunshine” e a obra-prima pop ton fez o público todo cantar a plenos pulmões “Porra! Caralho!”, no ritmo da batida. Ao “Juxtaposed With U”. O Super Furry apresentou ainda músicas de seu álbum mais recente, final da mesma, o vocalista ainda adicionou uns versos extras, em clima de bossa nova: “Dark Days/Light Years”, que foi lançado no começo do ano. Deste, vieram faixas como “Ela é carioca, ela é carioca...”. a divertida “Inaugural Trams”, a histérica “Crazy Naked Girls” e “Mt.”, que é cantada pelo O peso voltou mais uma vez e foi desembocar na genial e sombria “Ashes To Ashes”. A tecladista Cian Ciaran. As músicas são ótimas, os músicos são ótimos. Mas o show... Frio primeira parte do show foi encerrada com a mansa “Just A Man”. A volta para o bis foi ao demais. Ainda mais se comparado com o que estava por vir. som de “Carruagens de Fogo”, tema do filme homônimo que aqueceu os motores mais O Gogol Bordello animou a casa com sua mistura maluca de guitarras distorcidas, violão uma vez para as derradeiras “Stripsearch” e “Mark Bowen”. batido, violino, percussão, acordeão, um pouco de raggae, um pouco de punk, um pouco Ainda não está claro se o Faith No More só encherá os bolsos com essa turnê de reunião de folk. Tanta mistura deixou boa parte do público em dúvida. Muitos não conseguiam ou se resolverá pegar no batente e produzir material novo. O que é certo é que a química, se decidir se faziam danças à moda cigana ou se batiam cabeça. Era divertido assistir a apesar dos desentendimentos e de anos afastados, ainda está lá. Outra coisa que não esse impasse, que acabava resultando numa dança pra lá de curiosa. O Gogol mostrou pode deixar de ser dita é que Mike Patton é um dos maiores vocalistas da atualidade. Se muita competência numa apresentação quentíssima e conquistou onde a música deve não for o melhor, é pelo menos o mais dinâmico, sem dúvida. conquistar acima de qualquer coisa: no palco. Texto: Bruno Palma Fernandes Texto: Bruno Palma Fernandes Foto: Pedro Fogaça Foto: Pedro Fogaça

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Tiamat visita várias fases de sua carreira abrindo para o Moonspell em São Paulo Público se diverte com grandes clássicos no Chuveiro In Concert do Mix Music 17/11/2009 – São Paulo – Carioca Clube 19/11/2009 – São Paulo – Choperia do SESC Pompéia

m plena terça-feira, numa omeçou animado o Mix casa conhecida por abrigar Music na Choperia do Eeventos de pagode e samba, CSESC Pompéia, sob o quem compareceu pode conferir o comando de Érika Martins. A ex- local bastante cheio, apesar do tem- Penélope deu início ao show, po ruim que vem fazendo em São chamado Chuveiro In Concert, Paulo. O Tiamat, liderado por Johan cantando “Can’t Take My Eyes Edlund, único membro original, sobe Off Of You”, fazendo todo mundo ao palco, dando início ao show com pular e cantar em coro na hora “Will They Come”, de seu recente do refrão. “Amanethes”, fazendo o público já Depois de cantar “Jardins da delirar com a perfeita qualidade de Babilônia”, de Rita Lee, Érika chamou ao palco o cantor André Frateschi, o líder do projeto som que estava conferindo. O clás- Heroes, que faz covers de David Bowie. A primeira que André cantou foi “Can’t Buy Me sico “Whatever That Hurts” leva os Love”, do Beatles. Sua participação continuou com “Meu Erro”, do Paralamas do Sucesso, mais antigos fãs a ovacionarem e “Rebel Rebel”, de Bowie, esta já com sua mulher, Miranda Kassin, em cima do palco. O a banda. “Children Of The Under- casal, em seguida, fez um dueto flamejante em “Light My Fire”, doThe Doors. Tiamat world”, também do novo disco, dava Érika, que dançava e brincava com o público e os músicos o tempo todo, voltou a se desta- um gás a mais no público, assim como “Cain” e “Divided”, ambas do álbum “Prey”. car em cena na meiga “Estúpido Cupido”, de Celly Campello. Na seqüência, “Ando Meio Voltando no tempo, “In A Dream” deu ao evento a áurea death/doom executada pela Desligado”, do Mutantes, ganhou uma interpretação bem descolada de Miranda e André, banda nos idos de 1992, contrastando com a balada “Do You Dream Of Me?” e a dark/ mais uma vez, com destaque para os backing vocais em falsete do carismático cantor. progressiva “Cold Seed”. Johan Edlund conseguia se mostrar bastante carismático, apesar Assim como André é conhecido pelo Heroes, Miranda é famosa pelo projeto I Love Amy, de sua aparência mórbida. no qual interpreta Amy Winehouse. Sendo assim, “Rehab”, da garota problema inglesa, Mais uma nova, “Untill The Hellhounds Sleep Again”, e o ápice do show chega com “The também não podia ficar de fora. Depois dessa, Érika brilhou em “Perigosa”, das Frenéticas. Sleepin Beauty”, com a participação de Fernando Ribeiro, vocalista do Moonspell, ao mi- Essa levantou todo mundo. crofone, e Mike Gaspar, baterista do Moonspell, na percussão, e a banda encerra sua Mais um convidado entrava no palco da Choperia, e mais um casal se formava. Gabriel apresentação com “Gaia”. Uma pena que a duração foi curta. Thomaz, vocalista e guitarrista do Autoramas, foi apresentado por Érika, sua mulher, e O show principal ficou a cargo da banda lusitana Moonspell. A banda é bastante compe- mandou de cara “Twist And Shout”, do Beatles, seguindo com “É Proibido Fumar”, do rei tente no que faz. Fizeram um ótimo concerto com seu dark metal, que sincronizava com Roberto Carlos. O grande momento de Gabriel viria logo depois, com “Meu Sangue Ferve imagens refletidas ao fundo com Moonspell Por Você”, de Sidney Magal, cantada em dueto com Érika. O líder do Autoramas chegou a seus já clássicos, novos e antigos, tentar uns passinhos. Não foi lá muito bem sucedido, mas foi divertido de ver. Outro dueto como “Night Eternal”, “Wolfshade (A do casal veio em “A Mais Pedida”, que o Raimundos gravou no fim da década passada Werewolf Masquerade)” e “Opium”, com participação da própria Érika. “Abre a Rodinha”, de Sarajane, abriu rodas no meio do que levou a galera ao delírio. Não público e manteve o clima de diversão que tomava o ambiente. faltaram obras como “Vampiria”, Antes da última convidada aparecer rolou “A Menina Dança”, do Novos Baianos. “Mephisto”, “Ruin & Misery” e “Full Rosana entrou e ficou sozinha no palco. Foi para trás do teclado e de lá mandou “Custe o Moon Madness” para completar que Custar”. Depois a cantora chamou a banda e mandou outra balada, esta mais conhe- o circo de horrores (no bom sen- cida: “Nem Um Toque”. “O Amor e o Poder”, seu grande hit, veio em seguida. tido). Fernando, com sua aparên- No finalzinho da festa, todos os participantes do show subiram ao palco para cantar cia cada vez mais cadavérica, se “Dancing Days”, das Frenéticas. Érika Martins lembrou que o Mix Music era um evento que mostrou bastante satisfeito com preza pela diversidade sexual e que todos estavam ali para comemorar o direito que cada o resultado da turnê e esbanjava um tem de gostar de quem bem entender, independente das preferências. “Whisky A Go simpatia para com o público, que Go”, do Roupa Nova, e “I Will Survive”, de Gloria Gaynor, puseram fim à apresentação. respondia a altura sem parar uma Os cantores e os excelentes músicos da banda de apoio se despediram, mas o público não nota sequer. Enfim, uma boa dose estava pronto para ir embora. Para um último adeus, Rosana subiu mais uma vez e mandou de atmosfera sombria de duas das um bis de “O Amor e o Poder”, com participação especial de Érika Martins e de Hanilton Sco- melhores bandas da Europa numa noite só. field, produtor do Mix Music, que arrancou gritos do público com sua dancinha sensual. Texto: Rodrigo “Khall” Ramos - Fotos: Alexandre Carvalho Texto: Bruno Palma - Foto: Thais Viana

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Desalmado não deixa a desejar aos suecos do Entombed apresenta nova formação em show em São Bernardo 29/11/2009 – São Paulo – Hangar 110 04/12/2009 – São Bernardo do Campo/SP – Espaço Lux Desalmado a demora para a tão aguar- dada visita do grupo de Edeath metal com tendên- cias industriais Fear Factory che- gou ao fim. A banda veio com nova formação, contando com o vocalista Burton C. Bell (único que esteve em todos os discos da banda), a volta do guitarrista e fundador , e comple- tando com o baixista e com o ícone nas baquetas, substituindo a máquina . Abriram as bandas Hmennon, Encarregado de aquecer o público, o grupo paulistano Desalmado Piuke, Threat e Embrioma. Cheg- mostrou bastante competência, deixando no ar a dúvida de qual das uei na hora o Piuke, que exe- bandas foi a melhor. Com um grind de responsa e a casa enchendo aos cutava um grind de qualidade. O poucos, não ficou pedra sobre pedra. O set foi curto, com direito, inclu- público ia chegando aos poucos. sive, a um cover para “Wasting Away”, do . Mandaram bem pra O Threat também mandou bem, cacete; isso ninguém pode negar. com seu metalcore calcado nas Após uma longa espera, sobe ao palco o Entombed para o último con- bandas da Suécia. O Embrioma, certo de sua turnê sulamericana, mostrando um pouco de cansaço, mas contudo, foi bastante estranho, competência em honrar seu nome, ainda mais sendo a primeira e única com destaque para a figuraça do tecladista, que parecia estar ligado no 220. passagem pelo Brasil. Com muitos moshes, a galera fazia parte do es- A banda principal adentrou o palco com “Shock”, música que abre o álbum “Obsolete”, de 1998, seguida por petáculo, cujo ponto alto foi durante a canção “Demon”, do álbum “Wol- “Edgecrusher” e “Smasher/Devourer”, ambas do mesmo disco. verine Blues”, de 1993. O ponto engraçado era ver o vocalista Lars não Burton C. Bell tem a plateia nas mãos, e esta o acompanha fielmente, cantando em uníssono cada música se agüentando em pé de tão bêbado que aparentava. Quando cantava, que se segue. “Martyr”, “Scapegoat” e “Crash Test”, do primeiro álbum, “”, de 1992, porém, ainda era um monstro, e segurou o show até o final do quarto ou agradaram em cheio aos fãs mais antigos. “Linchpin” é a única representante do ótimo “Digimortal”, de 2001, quinto bis, valendo o dia feio que estava naquele domingo. álbum mais comercial do grupo californiano. Texto: Rodrigo “Khall” Ramos “Powershift”, a nova canção, também anima os presentes, Fotos: Ricardo Rizzo abrindo caminho para “Resurrection”, do já citado “Obsolete”, Entombed e esta, por sua vez, dá espaço para o último bloco da apre- sentação, que ficou calcado no segundo e melhor lançamento da banda: “Demanufacture”, de 1995. Desse trabalho vieram “Demanufacture”, “Self Bias Resistor”, “Zero Signal” (mesmo Gene Hoglan sendo um dos meus bateras favoritos, ainda fez sentir a falta de Raymond Herrera nesta música, embora tenha mandado bem), “Flashpoint”, “H-K (Hunter-Killer)”, “Pisschrist” e “Replica”. Era notória a satisfação dos fãs com o retorno de Dino Ca- zares à banda; a toda hora gritavam “Dino! Dino! Dino!”, e o músico retribuía com poses para fotos e com sua simpatia car- acterística.

Texto: Rodrigo “Khall” Ramos Fotos: Marcelo “Franja” Sanctun

Edição 108 - dezembro/2009 14 Texto Rodrigo “Khall” Ramos & Bruno Palma Fernandes Fotos: divulgação

riundos de Paris, o grupo de black metal Otargos difere das habituais hordas demoníacas por não retratar religião, seja cristã, satânica ou qualquer outra. Quando passaram por São Paulo, a Dynamite aproveitou para um bate-papo com a banda OTARGOS Ona redação. Nessa entrevista, o quarteto explicou como é viver em meio aos lobos da cena da es- O BLACK METAL DESCRENTE DA FRANÇA curidão. Contaram também como é excursionar em terras distantes por amor a música. Confira!

Edição 108 - dezembro/2009 15 OTARGOS Dynamite: Quem é quem no Otargos? o principal conceito. Além disso, também tratamos de conceitos físicos. XXX: Daggoth é o vocalista e principal compositor do Otargos, Thyr é o Não falamos sobre o fim dos tempos, como a maioria das bandas de black baterista Astaroth é guitarrista, e eu sou XXX, baixista. metal. Temos uma abordagem mais humana. Falamos sobre carne, morte e sobre o sentido da vida. Não colocamos nenhum tipo de visão religiosa Dyna: A banda tem um nome bastante incomum. De onde ele vem? no que fazemos. Outras bandas de black metal tentam negar as religiões, XXX: É uma palavra em grego antigo. Significa bode. Escolhemos esse especialmente o cristianismo. Nós não queremos negar deuses. O que nome há 10 anos porque queríamos um nome que fosse diferente da queremos dizer é só que Deus e Satanás são a mesma coisa. Ambos são maioria das bandas de black metal. É um nome estranho mesmo. criações humanas. XXX: Essa coisa de não sermos satanistas é que gera um certo problema Dyna: Há quanto tempo vocês estão com essa formação? do Otargos com outras bandas de black metal. Com alguns fãs também. XXX: Essa formação é recente. Thyr começou a tocar conosco há mais Tem gente que quer ouvir a banda cantando sobre Satanás ou contra as ou menos um ano. Ele já havia trabalhado conosco, como substituto religiões, mas não é isso o que fazemos. temporário, há cerca de dois anos. Quando nosso último baterista não podia tocar nós pedíamos para Thyr substituí-lo. Finalmente, decidimos Dyna: Engraçado vocês dizerem isso, pois li em alguns lugares que despedir nosso antigo baterista. Ele era muito preguiçoso; ele era bom, vocês eram satanistas mesmo. mas preguiçoso demais. O problema é que ele não tinha muito tempo para XXX: No começo nós chegamos a fazer algumas músicas que falavam a banda. de Satanás. Hoje nos chateamos um pouco ao tocá-las, mas temos que fazê-lo, pois são nossas músicas. Mas é claro que não sentimos vergonha Dyna: A úncia mudança pela qual vocês passaram foi esse baterista? dessas músicas. O que posso dizer é que estávamos indo pelo caminho XXX: Não, não. Tivemos outras formações antes. O Otargos começou errado no passado, mas que agora estamos onde queremos estar. Temos comigo e Daggoth, com outro baterista e outro guitarrista. Despedimos orgulho de não ser como as outras bandas de black metal. esse primeiro baterista e encontramos um outro. Esse cara decidiu deixar Daggoth: Para mim, tudo o que envolve religião não passa de conto-de- a banda, aí tivemos que ir atrás de outro batera. Quantos baterista nós fadas. Contos-de-fadas são para crianças, e nós não somos mais crianças. tivemos? XXX: Olhe para nós. Nós somos caras legais (risos). Não tem nada a ver Daggoth: Uns quatro. a gente sair por aí gritando o nome de Satanás. XXX: É, quatro bateristas. Tivemos dois outros guitarristas também. Todas as mudanças na formação ocorreram sem problemas. Dyna: Mas vocês usam corpse paint, não usam? XXX: Usamos, mas ela tem para nós o mesmo valor que uma pintura de Dyna: E essa formação atual vai durar? guerra. Usamos para fazer shows, pois cria um impacto visual e torna as Daggoth: Espero que sim. apresentações mais brutais. Para nós, corpse paint não tem nenhuma relação com satanismo. Eu poderia tocar desse jeito que estou vestido Dyna: Como tem sido a recepção do álbum “Fuck God” por aí? agora, mas não seria muito legal. Nós gostaríamos de usar uma palavra XXX: Na França, nós lançamos esse CD acompanhado de um DVD. Muita melhor que black metal para definir o que fazemos, mas ainda não gente tem comprado o pacote, pois o material está muito legal. encontramos. Daggoth: Esse disco mostra o Otargos tomando uma nova direção. Com o passar do tempo, tocando juntos, fomos descobrindo nossa sonoridade. Dyna: Como essas bandas que se dizem satanistas de verdade se Não é como se fôssemos uma nova banda. comportam em relação a vocês? XXX: Não. É mais uma concretização de algo que fomos amadurecendo XXX: Muitas das bandas que conhecemos não nos provocam, mas já ao longo do tempo. Agora nós sabemos para onde ir e o que queremos ouvimos muita gente dizer que nosso som é falso, que fazemos black fazer musicalmente. metal falso porque não acreditamos em Satanás. Nós não ligamos. Agora estamos quase em 2010, e quem acredita em Satanás? Nós achamos Dyna: Qual o universo abordado nas letras das músicas? ridículo quando vemos caras gritando o nome de Satanás. Quando querem Daggoth: Eu acho um pouco difícil responder. Vou tentar simplificar nos provocar por causa disso nós só dizemos para nos verem em cima do em poucas palavras. Existe uma frase que diz: “Nenhum deus criou a palco. Uma banda faz seu show, depois a outra faz o seu. Na maior parte humanidade, nós criamos deuses; Não há Deus e nem Satanás”. Esse é dos casos, nós acabamos com as outras bandas.

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Dyna: Muita gente analisa o black metal como um pacote completo: decisão fosse não pagar nada. Eu acho que eles acabaram ganhando mais som, letras satanistas, corpse paint e outros aspectos. Vocês diriam dinheiro com esse sistema do que se tivessem colocado o CD nas lojas. que o gênero é uma sonoridade, sem a necessidade de todo o resto? XXX: Como eu disse antes, nós queríamos um outro nome de gênero Dyna: Então você acha que esse é um sistema que funciona? para definir a banda,que não fosse black metal. Nossa música é agressiva XXX: Sim, mas para as bandas grandes. Quando você tem muitos fãs e bastante veloz. Nós nos enquadramos nessas regras do black metal, funciona. Eu posso baixar o disco do na internet porque eu não mesmo que não falemos sobre Satanás. Ao mesmo tempo que perdemos estou nem aí pro Metallica. Mas quando vejo shows menores, de bandas fãs por causa de nossa descrença em Satanás, ganhamos outros, que menores, eu compro os CD’s, pois sei o quanto é difícil. acham nossa mensagem mais legal. Daggoth: Existem outras bandas que também não tem essa coisa com o Dyna: Vocês vivem apenas do Otargos ou tem outros empregos? satanismo. XXX: Não, cara (risos). Cada um tem o seu trabalho. É impossível de viver XXX: Como o Behemoth. do black metal na França. Daggoth: Existem outras bandas do gênero que também não falam de Dyna: O que é que cada um faz fora da banda? Satanás, mas de coisas como inverno e escuridão. O difícil é encontrar XXX: Eu sou designer gráfico. Astaroth trabalha num escola, cuidando das bandas que digam não a Satanás. crianças. Daggoth também trabalha numa escola, mas como professor de Física e Química. Thyr trabalha na construção civil. Dyna: E vocês dizem. Daggoth: Sim. Não a Deus e não a Satanás. Dyna: E como vocês conseguem fazer turnês com esses empregos? XXX: Estamos preparando um novo álbum agora e ele se chamará XXX: Eu consigo dar um jeito no meu trabalho sem qualquer problema. Só justamente “No God No Satan”. É arriscado, mas não estamos nem aí. preciso de um computador. Os outros caras usam as férias. Daggoth: Eu e Astaroth temos as mesmas férias dos alunos. É um bom Dyna: Você havia falado desse DVD que saiu junto com “Fuck God”. tempo. Nós encontramos o conteúdo desse DVD num site russo para baixar XXX: Thyr tem que tirar uns dias. Às vezes esses dias são descontados, gratuitamente. Vocês estavam cientes disso? mas ele prefere a música. XXX: Mostraram para nós aqui. Mas será que é o DVD inteiro? Ele é bem grande, deve ter umas quatro horas de duração. Mas não ligamos muito, Dyna: Como é a cena black metal na França? de todo modo. XXX: É diferente a cena black metal na França e em Paris; são duas Daggoth: É muito difícil combater a pirataria. Além do mais, nós só coisas diferentes. Não quero soar muito orgulhoso do meu país, mas temos fizemos uma prensagem desse DVD, mas o mundo é muito grande. ótimas bandas de black metal na França. Mas as bandas de metal por lá, especialmente as de black metal, não apoiam umas às outras. Não vimos Dyna: Você acha que existe um lado positivo nisso, então? isso acontecer no Brasil. Por todos os lugares que passamos por aqui XXX: Sim, em termos de notoriedade. Mas não, quando se pensa no encontramos um monte de metaleiros dividindo cervejas e trocando CD’s. dinheiro. E nós, como todo mundo, precisamos de dinheiro. Daggoth: Isso não acontece na França. Daggoth: Mas talvez, com a banda ficando mais conhecida, consigamos XXX: Na França é como se fosse uma competição para ver quem faz mais mais dinheiro. pose e quem é mais satânico. Acho que é por isso que não temos muitos XXX: Mas não tem mesmo como combater a pirataria. Já vimos gente amigos nessa cena (risos). Temos nossas conexões, mas com esse nosso chegar na nossa barraquinha de CD’s, depois de um show, pegar um CD, jeito acabamos conseguindo muito mais inimigos. Não damos a mínima. copiar o nome de todas as músicas e dizer: “Vou baixar o CD todo na Existe um pouco de inveja nisso tudo, pois o Otargos está crescendo internet. Não vou comprar essa porra”. Eu acho que os jovens não tem bastante. muito dinheiro e não querem gastar muito dinheiro com música, pois é muito fácil achar tudo de graça na internet. Dyna: Vocês são bem conhecidos na França, mas por aqui pouca Daggoth: Nós não ligamos para isso agora. Talvez um dia liguemos. gente já ouviu falar de vocês. Como é essa sensação? XXX: Isso não é algo que gera polêmica apenas no metal. O Radiohead XXX: É uma situação esquisita. Nós somos conhecidos na França, mas lançou um disco e botou ali na rede, dando a oportunidade para quem na última turnê que fizemos por lá, por exemplo, não vimos tanta gente quiser baixar, pagando aquilo que cada um decidisse, mesmo que a quanto aqui. Talvez isso aconteça porque o custo de vida lá é muito caro,

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o que leva muita gente a preferir ficar em casa fumando maconha e assistindo a vídeos no YouTube do que ir ver um show. Quando eu contei para os caras que faríamos uma turnê pelo Brasil eles ficaram preocupados, pois ninguém nos conhecia. Mas cá estamos, e deu tudo certo. Os brasileiros são malucos e tem um ótimo público, realmente interessado em metal. Espero que consigamos fazer uma boa distribuição dos nossos discos por aqui para que possamos voltar e fazer uma turnê ainda maior.

Dyna: Por onde mais já passou a turnê “Fuck God”? XXX: Tocamos bastante pela França, é claro. Também passamos pela Bélgica, Hungria, Eslovênia, República Tcheca, Alemanha, Holanda... Daggoth: Itália... XXX: Ah, é. Cara, a Itália é uma bosta. Dyna: Na Europa existem países com uma cultura católica muito tradicional, onde bandas de metal às vezes tem problemas para conseguir tocar. Na Polônia isso acontece mais. Vocês já passaram por algo parecido? XXX: Nós nunca tivemos nenhum problema desse tipo. Mas nós temos um grande festival na França, chamado Hell Festival, onde já tocaram bandas como e Mötley Crüe, e esse ano religiosos tentaram impedir que ele acontecesse por causa do nome. Mas não deu em nada, pois o Hell Fest tem um público de cerca de 50 mil pessoas e gera muito dinheiro.

Dyna: O álbum “Fuck God” será lançado no Brasil? XXX: Eu não sei. Nós lançamos o CD junto com o DVD em formato digipack, mas essa versão só foi distribuída na França. Mas aí assinamos com a gravadora Season Of Mist, e eles estão interessados em distribuir o Otargos pelo mundo, mas eu não sei exatamente onde. Se o CD vender bem, talvez ele acabe saindo por aqui também.

Dyna: Você já falou um pouco sobre o público brasileiro, mas eu quero saber mais a fundo como foram os shows por aqui. XXX: Primeiro preciso falar sobre organização e divulgação para depois falar do público. Nós viemos para cá apenas com nossos instrumentos e nos disseram que não teríamos problemas, pois contaríamos com bons equipamentos nos shows e com uma organização profissional. O que posso dizer é que organização não significa nada no Brasil (risos). Nós levantamos, tomamos café às vezes... Nada de café, cerveja! Deixamos tudo pronto e estamos preparados para ir para o local do show. Aí nos dizem que ainda temos muito tempo, que não precisamos ter pressa. Na Europa, temos que estar na casa por volta das quatro da tarde, mas no Brasil só umas nove da noite. Aí vamos ver os equipamentos e é tudo velho e de má qualidade. Mas mesmo com essas adversidades nós damos um jeito de fazer um bom show. A divulgação foi bacana; vimos muita gente em todos os shows. A organização é uma merda. Nunca sabemos quando, onde ou como; às vezes temos passagem de som, às vezes não. Daggoth: E às vezes não rola comida também. XXX: Verdade. E a gente precisa comer, oras. Mas o público é fantástico. Nunca vi tanta gente vindo falar com a gente, dizendo que curtiram o show, e nunca tirei tantas fotos. Isso tudo é novidade para nós. O mais difícil para todos nós nessa turnê foram os horários. Na Europa, especialmente em Paris, os shows começam às seis da tarde e terminam à meia noite ou uma da manhã. Aqui nossos shows sempre começavam muito tarde. Na hora em que saíamos da casa de shows o sol já havia nascido. Depois a gente chegava no hotel e já era hora de partir. Uma vez mostraram um pôster de um desses shows, que

Edição 108 - dezembro/2009 18 OTARGOS começava à meia noite e no qual tocariam dez bandas. Eu perguntei que horas a gente entraria no palco e me disseram que nossa show seria às seis da manhã. O ruim era que a gente tinha que ficar lá, e não tinha nada a fazer a não ser esperar, o que deixava a gente mais cansado. O que faz tudo isso valer é o público. Todo mundo ficava até o final para ver nosso show.

Dyna: Qual o melhor e o pior lugar para se tocar aqui? XXX: Acho que não vou poder responder muito bem sua pergunta porque não lembro o nome de todos os lugares pelos quais passamos. Mas para mim o melhor show acho que foi em Santa Catarina. Foi muito legal. O pior foi no Underground, em Campinas. O palco era um lixo, não tinha ninguém e tivemos que esperar horas e horas para tocar. O primeiro show, na Fofinho, aqui em São Paulo, foi bem legal também. O palco era ótimo e os equipamentos também.

Dyna: Na primeira vez que nos vimos você reclamou da falta de mulheres por aqui. Foi assim durante toda a turnê? XXX: Cara, em São Paulo não há garotas, só homem. Só vi mulher feia, falando sério. Na Fofinho acho que vimos uma garota bonita. Santa Catarina foi muito legal também por isso. Muitas mulheres bonitas e simpáticas.

Dyna: Antes de virem para cá, vocês não conheciam muitas bandas brasileiras além de Sepultura e Krisiun. E agora? XXX: Nós gostamos muito de conhecer os caras do Pentacrostic. Eles são demais, são caras muito engraçados. A outra banda que excursionou conosco era mais tímida, mas isso pode ter acontecido por termos feito amizade muito rápido com os caras do Pentacrostic. Não conseguimos conversar com as bandas que tocaram com a gente nos festivais porque a maioria dos caras não falava inglês. Mas de qualquer forma, quando estávamos no camarim pudemos ver que os caras não ficavam fazendo pose. Gostei disso. Sempre vinha alguém oferecer ajuda, ou um pouco de maconha ou cerveja. Na Europa é bem diferente. Cada um fica no seu canto e ninguém se conversa.

Dyna: Que fireza! XXX: É o black metal, cara. Frio mesmo. Talvez em outras cenas, como o death metal ou o hardcore, as pessoas sejam mais amigáveis.

Dyna: Vocês estão se preparando para voltar para casa agora. O que o Otargos está planejando para quando chegar em Paris? XXX: No final do ano vamos começar a gravação do novo álbum, “No God, No Satan”. Depois disso gravaremos um videoclipe. Também temos planos para relançar o DVD, incluindo gravações que fizemos durante essa turnê pelo Brasil. Fora isso, temos uma série de shows marcados pela França.

Dyna: Quando pretendem lançar “No God, No Satan”. XXX; É difícil dizer, pois assinamos com a Season Of Mist há apenas um mês. Acho que se terminarmos o álbum em fevereiro e ligarmos para a gravadora avisando que ele está pronto, eles não vão querer lançá-lo imediatamente. Daggoth: Precisamos esperar pelo momento certo para lançá-lo. XXX: Eu não vejo a hora de lançar esse disco. As músicas novas arrebentam. Acho que ele será uma obra-prima. São as melhores músicas que já fizemos. M

Edição 108 - dezembro/2009 19 By Everton “Pardal” Soares Imagens: Livia Palma/divulgação LIVING COLOUR Cinco minutinhos antes do show

Living Colour fez uma turnê pelo Brasil em outubro, divulgando o álbum “The Chair In The Doorway”, que havia saído no mês anterior. Antes do quarteto subir ao palco do Credicard Hall, em São Paulo, conseguimos baterO um papo bem rápido com o baixista . Só fui entender direito o hálito de Doug cheirando fortemente a café e seus repetitivos movimentos de aquecimento quando o músico entrou em cena. O baixista é o que mais se movimenta durante o show. E olha que os shows do Living Colour são sempre bem longos. O preparo – tanto a bebida quanto o alongamento – são mais que compreensíveis. Durante nossa curtíssima conversa, Doug falou um pouco sobre o atual momento do Living Colour. O cara ainda me tirou uma dúvida: eu achava que “Bless Those (Little An- nie’s Prayer)” tinha sido inspirada em “Jesus Christ Superstar”, já que o vocalista Corey Glover interpretou Judas numa montagem da peça há poucos anos. Não foi. Confira aí o que mais rolou na mini-entrevista que fizemos antes do show:

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Dynamite: Grande parte, se não a maior parte, das bandas dos anos 90 que se re- uniram nessa década o fizeram apenas para apresentações ao vivo. Diferente disso, o Living Colour está lançando o segundo álbum depois que se reuniu, em 2003. O que leva vocês a continuar compondo? Doug Wimbish: Nós achamos que temos algo a dizer, e nos últimos anos percebemos isso ainda mais. A ideia de estarmos juntos numa mesma proposta, criando algo juntos, faz com que a gente prossiga produzindo. Foi isso que deu origem a “The Chair In The Doorway”.

Dyna: As diferenças musicais levram à separação da banda e também foi o motivo da saída do baixista Muzz Skilings, seu antecessor. Como vocês lidam com essa questão da individualidade no momento? Doug: Não acho que tenha havido um problema de diferenças musicais. Acho que foi algo que saiu na imprensa. O que aconteceu foi que Muzzy foi dispensado da banda. E Vernon acabou com a banda, mas a banda já devia ter tirado um tempo. Numa banda você tem que lidar com situações delicadas em vários momentos e tem que tomar decisões muito rápidas, sem muito tempo para repensá-las. São coisas que acontecem, simplesmente.

Dyna: Nesse álbum que vocês estão lançando agora senti que a guitarra de Vernon tem um pouco menos de suingue e um pouco mais de peso. Por quê? Doug: O que nós todos fizemos foi criar de forma diferente, tomando por base um mesmo tema, que partiu do título, “The Chair In The Doorway”. As músicas foram criadas em torno desse tema. Eu trouxe alguns ritmos novos para o nosso som. Eu também toquei guitarra nesse disco, na verdade. Partir de um tema para a composição das músicas fez com que a gente se focasse mais e possibilitou que nós captássemos o espírito do que estava se passando. Nós pudemos explorar coisas que nunca havíamos feito antes, mas sem deixar de ser o que somos em essência. Esse disco expandiu os horizontes do Living Colour.

Dyna: Uma curiosidade: “BlessThose” foi influenciada por “Jesus Christ Superstar”? Doug: Não. Eu escrevi essa música 20 anos atrás. Um dia eu estava tocando essa músi- ca e Vernon escutou e gostou. Aí a gente resolveu gravar. Tem uma história sobre ela. Eu estava gravando essa mesma música quando Will Calhoun me chamou para entrar para o Living Colour. Isso foi em 1991, eu acho. Ela é uma dessas músicas que pouca gente conhece, mas ela tem um balanço que a gente gosta muito.

Dyna: “Glamour Boys” é provavelmente o maior hit do Living Colour. Vocês tocam essa música em todas as apresentações? Como se sentem tocando essa música hoje em dia? Doug: Nós tocamos bastante, mas às vezes não tocamos. Quando as pessoas vão nos assistir elas querem sentir a transmissão da nossa energia. “Glamour Boys” é uma música cativante, que mistura muito daquilo que fazemos. Eu acho que isso é o que a torna tão popular, assim como “Cult Of Personality”, por exemplo. Mas nós vemos hoje que tanto esses grandes sucessos quanto as músicas de “The Chair In The Doorway” fazem parte de uma unidade musical na qual trabalhamos desde o começo e na qual continuaremos trabalhando. M

Edição 108 - dezembro/2009 21 By Humberto Finatti Imagens: Pepe Brandão e Danilo Máximo

Attera SEM MEDO OU VERGONHA DE SER POP E COMERCIAL Edição 108 - dezembro/2009 22 Attera

rock’n’roll tem dessas coisas. Em um mundo onde a “Quero fazer algo que o público música passa obrigatoriamente pela internet e onde o goste e que seja vendável” O pop virou um dos produtos mais rentáveis e descara- damente comerciais dentro da indústria cultural de massa, o grupo paulistano Attera embarcou na onda. Sem medo ou constrangimento de ser francamente pop e comercial em suas composições, a banda, que está lançando seu segundo álbum, batizado “A Vida, o Jogo, o Rock!”, faz jus à frase “A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante”, cunhada pelos gaúchos dos Engenheiros do Hawaii há mais de duas décadas, na canção “Terra de Gigantes”. “Quer- emos fazer um som de qualidade, mas que nos dê prazer em tocar”, afirma o vocalista Rafael Narezzi em entrevista à revista Dynamite. “E quero fazer algo que o público goste e que seja vendável. Qual é o problema ou a vergonha em ganhar dinheiro com o que você gosta de fazer?”, indaga. Nenhum problema, claro. E talvez o que as bandas mais tenham perseguido em toda a história da música tenha sido justamente isso: a combinação mágica, perfeita, entre quali- dade artística e sucesso comercial. Muitas conseguiram isso, aqui e lá fora (Led Zeppelin, Pink Floyd, U2, Rolling Stones, Legião Urbana, só para ficar em alguns exemplos). Mas outras milhares não conseguiram e aí parte-se para aquele discurso canhestro e algo ressentido de que “o que vende não presta”. Pois o Attera está na batalha para desmontar esse discurso e mostrar que, sim, qualidade pode rimar com quantidade (de discos vendidos ou downloads pagos, se for o caso). A banda foi fundada em 2000, e antes se chamava MP13. Depois de cinco anos tocando no circuito de bares da capital paulista, resolveu mudar seu nome. “O primeiro guitarrista saiu e levou o nome com ele”, resume o também guitarrista PJ, na mesma entrevista para a Dynamite. Foi então que o grupo (além de Rafael e PJ, também formado pelo guitar- rista Gabriel Elvas, pelo baixista Marcel Matins e pelo bat- erista Guinho) resolveu mesmo assumir uma postura mais pop do que rock em suas composições, mas sem perder a qualidade musical de vista. “Nosso som se parece com o trabalho recente do Capital Inicial, se for para fazer alguma comparação”, acredita Rafael. “Temos 21 músicas em nosso repertório, sendo que 11 foram lançadas no primeiro CD, em 2005. Era um bom disco, mas sofreu com problemas de mixagem, pois não tínhamos grana. Agora, no novo trabalho,

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investimos mais, contamos com a ajuda de alguns amigos e tudo ficou melhor”, diz ele. Entre esses amigos está o célebre baixista Mingau, músico lendário da cena punk paulistana, que toca baixo no e participa em três músicas do novo álbum do Attera. E o que falam as músicas dos rapazes? “Basicamente, eu costumo criar situações, histórias abstratas”, diz Rafael. “Mas meu irmão, que é o batera, também escreve letras, só que mais baseadas em fatos reais”. “Braços Abertos”, a primeira música de trabalho do novo disco, tem potencial radiofônico e poderá colocar a banda em evidência caso ela consiga por em prática seu manual de “como se tornar conhecido pelo grande público”. “Hoje não tem jeito; você tem que aproveitar ao máximo a internet”, defende Rafael. “Em segundo lugar, vem as revistas. Também é preciso fazer muitos shows. Todos nós sabemos que não se ven- dem mais CD’s hoje em dia”. E apesar desse lado abertamente pop e comercial, Rafael afirma que o Attera não abandonou seu lado rock’n’roll. “Se você ouvir o disco com atenção, vai sacar que ele tem uma pegada bem rock. Tem guitarras com distorção e tal. Ou seja, podemos ser pop, mas sem deixar o rock de lado. Nós somos um grupo de pop rock sem a preocupação de assumir algum rótulo, tipo grunge ou algo parecido”. Com disco sendo lançado, os garotos querem fazer o maior número possível de shows para mostrar seu tra- balho no palco e para o maior número possível de pes- soas. E mostrar que, sim, é possível ser pop, comercial, acessível e fazer ótimas músicas com espírito rocker, tudo ao mesmo tempo. M

“Podemos ser pop, mas sem deixar o rock de lado”

Edição 108 - dezembro/2009 24 By Bruno Palma Fernandes Imagens: divulgação Autoramas Desplugado, mas não menos rrrock!

epois de dez anos de carreira, o trio carioca Autoramas sentiu que era hora de fazer algo diferente. Em junho, a banda gravou um especial no qual os instrumentos elétricos foram deixados de lado para o lançamento do CD e DVD “MTV Apresenta: DAutoramas Desplugado”. Em novembro, pouco após a exibição do programa, o vocalista e guitarrista Gabriel Thomaz participaria do Chuveiro In Concert, um dos shows do festival Mix Music, no qual também cantariam Érika Martins (sua mulher), Rosana, Miranda Kassin e André Frateschi. Enquanto se preparava para subir ao palco da Choperia do SESC Pompéia, Gabriel aten- deu à reportagem da Dynamite e contou um pouco sobre o atual projeto de sua banda, na qual é acompanhado pelo baterista Bacalhau e pela nova baixista Flávia Couri, a terceira mulher a ocupar o posto no Autoramas. Para esse projeto, a banda não quis saber de arranjos muito diferentes, orquestrações e cenários faraônicos. Gabriel e Flávia até tocaram de pé. Os instrumentos são um pouco diferentes, mas a essência é a mesma: rrrock!

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Dynamite: Por que fazer um acústico nesse momento? Gabriel Thomaz: Nós queríamos fazer uma coisa diferente. Não era hora de compor músicas novas e fazer mais um disco. Era mesmo a hora de fazer uma coisa nova, e nós já tínhamos mesmo a vontade de fazer algo nesse formato.

Dyna: Mas esse formato desplugado não segue aquele mesmo padrão dos acústicos da MTV, mesmo também sendo um projeto da emissora, certo? Gabriel: Certo. E nós preferimos dizer que é desplugado porque quando falamos em fazer algo acústico a primeira coisa que pergun- tavam era “Mas vocês vão tocar sentadinhos?”. Nós queríamos fazer uma coisa tranquila, não elaborar arranjos de orquestra e toda essa parafernália. Até nos baseamos em alguns acústicos da MTV, como o do Nirvana, que foge bastante dessa cara mais pomposa.

Dyna: Apesar de ser desplugado, você usa efeitos no violão em algumas músicas... Gabriel: Uso, mas é que esse é o nosso som, né? No do Nirvana mesmo o Kurt usou ali uma distorção [fazendo com a boca o riff inicial de “The Man Who Sold The World”, cover de David Bowie que o Nir- vana gravou para o programa]. Usamos uns efeitos nas vozes também. Mas essas coisas não tiram o clima de desplugado.

Dyna: O cenário escolhido para esse especial também era bastante simples. Quem escolheu? Gabriel: A gente mesmo. A gravação foi num casarão no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, onde funciona um estúdio de ensaios e tal. Demos uma ajeitada ali. Fizemos o cenário com base nos shows do começo da carreira do Elvis, quando ele tocava em salas de cinema, só com uma cortina atrás. A MTV foi super bacana com a gente. Todas as sugestões que a gente fazia os caras ouviam e faziam como a gente estava falando. Algumas vezes deram algumas dicas, falaram para fazer de um outro jeito algumas coisas também. As sugestões foram bem produtivas e acatamos a boa parte delas.

Dyna: Como decidiram o repertório? Gabriel: Nós escolhemos as músicas que funcionavam melhor nesse formato. Não nos preocupamos em tocar as mais conhecidas. Amúsica tinha que funcionar. “Fale Mal de Mim”, por exemplo, é uma das nos- sas músicas mais conhecidas, mas não entrou. Mas “A 300 km/h” foi uma espécie de unanimidade. Sempre que falávamos com alguém so- bre o projeto ouvíamos que ela tinha que entrar, que era perfeita para o formato e tal.

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Dyna: Como foi tocar “I Saw You Saying”, composição sua que fez tanto sucesso com o Raimundos? Gabriel: Nós já chegamos a tocar algumas vezes. Mas no próprio especial eu disse: agora eu me sinto à vontade tocando essa música.

Dyna: Uma pergunta meio delicada: você deu uma escorregada na voltinha do solo nessa música? Gabriel: Não. Eu poderia ter refeito, se fosse o caso. Refizemos pouquíssimas coisas. Tenho orgulho em dizer, aliás, que o Autoramas é uma banda que refaz muito pouco o que grava. Já trabalhei como produtor e sei que grande parte das bandas refaz bastante.

Dyna: “Sonhador” sempre foi uma das min- has preferidas. Fiquei contente que ela foi incluída no especial. Vocês vão voltar a tocar essa música, finalmente? Gabriel: Vamos. Érika Martins: É a minha favorita também! Gabriel: A gente sempre toca ao vivo aquilo que a gente acha que combina com o clima. A gente não estava sentindo que “Sonhador” se encaixava. Mas “Música de Amor”, por exem- plo, a gente tocou bastante, depois paramos um tempão de tocar e agora estamos voltando. A gente vai variando bastante.

Dyna: E a participação do Frejat em “Sonha- dor”? Gabriel: Muito bacana! A gente queria que ele participasse disso e mandamos algumas músicas pra ele. “Sonhador” foi a que ele mais curtiu, en- tão ele escolheu fazer essa com a gente.

Dyna: Além dele, quem mais participou? Gabriel: A Érika participou em “Música de Amor”, “A gente sempre toca ao vivo aquilo que que é minha e dela. Também tivemos as partici- pações de Big Gilson, que tocou slide guitar, Jane a gente acha que combina com o clima” DeLuc, que tocou castanholas, e Humberto Bar- ros, que tocou acordeão.

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Dyna: Notei que o Autoramas ficou mais melodioso com a nova baixista. O que ela acrescenta? Gabriel: Cara, a Flavinha é ótima. Ela é uma puta baixista e o que ela faz nos vocais é uma outra parada, mais trabalhada, diferente do que a Simone e a Selma faziam. Os vocais que ela fez em músicas como “Coper- sucar” e “A História da Vida de Cada Um” nesse desplu- gado ficaram foda! Uma coisa é certa: sem a Flav- inha, não teríamos feito esse desplugado aí.

Dyna: E que tradição é essa de sempre ter uma mina no baixo? Gabriel: É por causa dos vocais mesmo. Sempre quis fazer uma banda que tivesse um dueto com aminha voz e uma voz feminina. Queria fazer uma coisa meio Rezillos, meio B-52’s mesmo.

Dyna: Não é meio estranho fazer um “MTV Apre- senta” quando vocês já tem uma década de car- reira? Gabriel: Eu entendo oq ue você quer dizer, mas você tem que ver que pra muita gente o Autoramas é uma novidade. A gente não é conhecido para a maioria das pessoas. Isso é até um lado bom; rola um clima de novidade.

Dyna: Mas você queria que todo mundo con- hecesse o Autoramas? Gabriel: Claro, cara. Eu gosto quando as pessoas ouvem minha música. Gosto quando assistem ao show da minha banda, sabe? O grande problema é quem está entre o artista e o público. Eu chamo es- sas pessoas de atravessadores. E, na moral, quem sai perdendo são eles. Mas muita coisa acontece independente disso tudo. Como que uma música do Wander Wildner, que eu acho que nunca tocou no rádio, vira hino de torcida? Mas a galera tá lá, can- tando “Bebendo Vinho” no estádio. Gostaria muito que o Autoramas fizesse muito sucesso, mas eu durmo um “Pra muita gente o Autoramas é uma novidade. A sono tranquilo porque sei que não me vendi e sei que nunca precisei fazer nada que eu não curtisse. O mais gente não é conhecido para a maioria das pessoas” louco é que quando rolam essas grandes premiações es- ses caras de bandas que fazem um puta sucesso sempre vem me cumprimentar e dizem que são fãs. M

Edição 108 - dezembro/2009 28 By Alexandre Carvalho Pereira Imagens: divulgação

banda de punk rock Cólera foi formada em 1979 pelos irmãos Edson “Redson” Lopes Pozzi (guitarra e vocais) e Carlos “Pierre” Lopes Pozzi (bateria) e Helinho (baixo), que foi substituído por Valdemir “Val” Pinheiro. Val, por sua vez, foi substituído mais tarde por Fábio, mas retornou mais tarde à banda após a saída do mesmo. O Cólera vem sobrevivendo no underground brasileiro, fazendo seu estilo próprio, com letras ecológicas, pacifistas e antimilitaristas. Con- Aquistaram públicos no mundo do rock, firmando-se como banda não apenas para punks, mas para roqueiros no geral. Mantendo a máxima “Faça você mesmo”, já estão há 30 anos na estrada, em turnê praticamente sem parar desde o início da carreira, e já são vários os ál- buns de estúdio, os registros ao vivo, compilações e coletâneas. Com um histórico desses, o Cólera já tem seu nome gravado na história do rock nacional. Em sua casa, situada no bairro da Mooca, o guitarrista e vocalista Redson, com simpatia e atenção, nos recebeu e respondeu a algumas perguntas.

Cólera 30 anos de punk rock

Edição 108 - dezembro/2009 29 CÓLERA

Dynamite: O Cólera surgiu como uma banda punk? Redson: Não. O Cólera surgiu com esse aspecto surrealista com country. Não era declaradamente uma banda punk. Depois do primeiro show, que “O Cólera surgiu com esse aspecto tocamos com o Condutores de Cadáver e Restos de Nada, aí a gente tocou pros punks e eles aceitaram nossa musica 100%. Tanto que era o nosso surrealista com country. Não era primeiro show e rolou aquele “Mais um! Mais um!”. Foi ali que surgiu uma declaradamente uma banda punk” música inédita, “Desratear”, com apenas uma nota e letra improvisada. Isso foi em 12 de dezembro de 1979.

Dyna: No álbum “Deixe a Terra em Paz!”, de 2004, vocês usaram alguns instrumentos extras para dar uma atmosfera diferente. Vocês pretendiam alcançar um público maior com isso? Redson: Desde as primeiras músicas, lá em 1979, já tínhamos uma liber- dade de expressão. As primeiras músicas são country rock. Você pode conferir no álbum “Primeiros Sintomas”, de 2006, no qual resgatamos as 20 primeiras músicas, de outubro de 1979 a dezembro de 1980. Então, no álbum “Deixe a Terra em Paz!” o uso de violão, zampoña, charanga, kenna e metais, es- pelhou muito bem nossa pegada de 30 anos atrás. No início, minha proposta era fazer um som simples, animado. Eu notava nos anos 70 que a galera do rock era a mais desprezada, criticada, mais triste e revoltada, uma galera que precisava de um som que fosse pra cima, que alimentasse a alma. Eu ia aos shows e até constatava que os caras solavam muito bem, mas eu não con- seguia participar. Meus pés não batiam e minha cabeça não balançava. Com o passar do tempo a gente sempre manteve o fio da meada: fazer o que nos empolga, do nosso jeito.

Dyna: No começo da carreira do Cólera, a maioria das bandas ouviam Dead Kennedys, Stiff Little Fingers, The Clash, Ramones etc. Depois de todo esse tempo, uma banda precisa de sonoridades novas. O que os caras da banda escutam hoje em dia como motivação sonora quando estão indo para o estúdio para gravar? Redson: Escutamos muito rock dos anos 60 e 70 e, é claro, grande parte do que o punk rock nos presenteou do meio dos 70 até o fim dos 80. Eu, particu- larmente, ouço Mestre Ambrósio, New Model Army, U.K. Subs, Ultravox, The Clash, e também reggae, world music, jazz, música clássica, barroca, música regional, moda de violão... Na hora de gravar, ouço bem alto New Model Army.

Dyna: E dessas bandas bandas novas, que tem vendo vindo com uma sonoridade diferente? Redson: Não tão atual, mas depois que ouvi fiquei fã do Faith No More e do Jane’s Addiction. Fiz um evento recentemente em São Paulo com algumas bandas brasileiras que gostei de conhecer: Pamonha Marota (Balneário Cam- buriú/SC), Último Grito (Simões Filho/BA), Horda Punk (União da Vitória/PR), e Macaca Sonora e Sociedade Sem Hino, ambas de Sampa.

Edição 108 - dezembro/2009 30 CÓLERA

Dyna: Vocês estão fazendo 30 anos. Quando vocês começaram a tocar vocês achavam que depois de uns cinco ainda estariam to- cando? Redson: Não. Ainda mais numa época de ditadura militar, quando o rock era referência de pessoas perigosas e quem fumava maconha era esquartejador de criancinhas. Nós queríamos mesmo era fazer um som juntos e que funcionasse. O tesão estava em dar certo, o arranjo fluir, a bateria e o baixo casando... Era o que o punk rock nos ensinou como pegada. Mas logo foi ficando mais cultural e menos ganguista, mais fes- tivais. Se queríamos fazer nosso som funcionar, melhor ainda, havia uma cena funcionando: o movimento punk rock em São Paulo, com bandas surgindo, zines e pessoas de outras cidades somando. Até ali não existia cena independente de rock. Em pouco tempo, vários lançamentos em vinil confirmavam a explosão do punk rock em São Paulo, em seguida no Rio de Janeiro e Brasília.

Dyna: O Cólera foi uma banda que nunca parou ou nunca teve tempo para parar? Redson: As duas coisas (risos). Quando está indo bem, a banda sem- pre dá uma crescida mesmo, mas quando está difícil, tentamos aprender com os desafios. Já tivemos fases difíceis, quando pensamos mesmo em parar. Mas foi só uma pílula azul no nosso caminho.

Dyna: Entre 1990 e 1992 a cena underground não estava do seu agrado e você montou o The Cult Cover. A banda tinha intenção de parar nessa mesma época, quando o underground também estava em baixa? Redson: O The Cult Cover tinha eu no vocal, Henrique na guitarra, Beto no baixo (ambos dos Virgulóides) e Bambam na bateria. Montamos a banda somente para tocar uma vez, no tributo ao The Cult, que rolou no Dama Xock. Alguns músicos se reuniam e tocavam um set da banda escolhida. Na noite do evento rolavam vídeos da banda oficial. Quando tocamos, numa quarta-feira, foi bem legal, e já saímos de lá com mais “Já tivemos fases difíceis, quando dois shows. Assim, a banda durou três anos. Tocou em Taubaté, Curitiba pensamos mesmo em parar. Mas foi e em muitas casas de São Paulo. Toda essa atividade só ajudou o Cólera a sobreviver numa época em que o rock nacional estava em baixa. só uma pílula azul no nosso caminho” Dyna: Desde a primeira turnê pela Europa e o retorno anos depois, o que mudou nesse tempo no movimento punk underground eu- ropeu? Redson: Quando fomos pela primeira vez, em 1987, o público era bem maior por show e havia uma paixão maior na maioria das pessoas que encontrávamos. Atualmente, existe menos paixão, mas um bom grupo de ativistas e squats bem organizados.

Edição 108 - dezembro/2009 31 CÓLERA

Dyna: Após a saída do Fábio vocês chegaram a procurar outro baixista ou o Val foi a primeira pessoa em mente, já que foi um dos pioneiros do Cólera? Redson: Antes do Fábio sair, em 2006, o Val já vinha cobrindo alguns shows que o Fábio não podia fazer. O Val passou a tocar fixo em janeiro de 2006. Tivemos um segundo baixista que poderia ter tocado, já que nem sempre o Val podia viajar também. Era o Kiko, de Barueri/SP. Ele já tocava comigo no Radio Clash e chegou a fazer parte da banda, tocando em São Carlos/SP e Rio de Janeiro.

Dyna: O Cólera sempre foi uma banda que trouxe letras positivas para as pessoas, tratando de diversos temas, como política, meio-ambientais e sociedade. Hoje muitos jovens se iniciam no rock ouvindo Cólera. Você tem a preocupação com a mensagem que você passa para essas pes- soas? Redson: Sim. A segurança está em ver raríssimos casos de pessoas me imitando e centenas de bandas iniciadas pelo positivismo e exemplo do Cólera. Isso é bom para todos.

Dyna: Na comemoração de 30 anos, vocês agendaram uma turnê por todos os lados do Brasil. Como tem sido a recepção desse público, fiel e renovado. Vocês sentem diferença ou ainda parece que estão tocando para o velho público inicial punk? Redson: A turnê de 30 anos começou em Jundiaí/SP, em janeiro de 2009, passou por Manaus, interior do , Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Bahia., SC, PR, interior do Rio e da Bahia. Em São Paulo foram quatro eventos comemorativos, dois deles gravando o DVD de 30 anos. A recepção vem de um público eclético, que vai desde a garotada de 14, 15 anos, que já tem banda, demo etc, até os velhos saudosistas, cada vez mais presentes nos shows e mais realizados com o crescimento da cena. É massa ver as gerações unidas no pogo.

Dyna: Com gravação de DVD e contrato com a DeckDisc, como está a cabeça da banda em relação aos planos para o futuro? Há muitas espec- tativas? Redson: Sim. Estamos com muito trabalho por aqui. Para o DVD de 30 anos estou procurando apoio para fazer virar uma caixa de 30 anos, com vários out- ros itens. O CD com a Deck está ficando corado, já no ponto. Esse está demo- rado, viu? Bem, fizemos a turnê de 30 anos e agora vamos para 2010 lançar o DVD e o CD novo. “É massa ver as gerações unidas no pogo”

Dyna: Gostaria que você finalizasse com um comentário de sua escolha. Redson: Quando me perguntam “O que é punk?”, eu me sinto seguro em saber a resposta: faça você mesmo. M

Edição 108 - dezembro/2009 32 By Bruno Palma Fernandes Imagens: divulgação

Aphonia Lavando a terra com ritmo e peso

m 2009, Zeena tirou umas férias e resolveu sair um pouco de Nova Jersey, onde reside. Aproveitando que um amigo conterrâneo estava pas- sando uns tempos no Brasil, veio conhecer nosso país tropical. Aproveitou como pode. Conseguiu um tempinho para dar uma descida para o litoral, mas ficou a maior parte do tempo em São Paulo, onde conheceu baladas e bares (num dos quais, aliás, impressionou os presentes com suaE interpretação de “Living On A Prayer”, de Bon Jovi, no karaokê). Zeena trouxe a tiracolo o EP “Tidals”, que sua banda Aphonia estava lançando. Nada a ver com Bon Jovi, que fique claro. O Aphonia faz um metal que aglutina outras referências em sua sonoridade, o que pode ser explicado pela boa diversidade de etnias em sua formação. Dona de uma voz e um senso de humor invejáveis, Zeena deu uma entrevista à reportagem da Dynamite. Conheça um pouco sobre o trabalho do Aphonia:

Edição 108 - dezembro/2009 33 APHONIA

Dynamite: Quando a banda começou? Zeena Koda: Entrei na banda há cerca de três anos, mas a banda já está junta há cinco. Antes disso, eu fazia parte de uma banda chamada Human Design e trabalhei um pouco com trip hop. Mas o Aphonia é minha família desde 2006. “ Toda a nossa bagagem musical, Dyna: Quais foram as mudanças de formação pelas quais o Aphonia passou? gostos e influências culturais faz com Zeena: Desde que eu entrei, algumas coisas mudaram. Nós trocamos de baixista, nosso tecladista entrava e saía porque ele desenvolveu câncer aos 25 anos de idade, e que nossa música tenha sabor” adicionamos um segundo guitarrista. No momento temos uma formação sólida, com inte- grantes que têm origens diferentes. As mudanças remodelam e definem o nosso som.

Dyna: O EP “Tidals” é o segundo lançamento do Aphonia, mas você diz que foi com ele que a banda começou de fato. Por que diz isso? Qual o problema com o primeiro EP, “Janus Geminus”? Zeena: O desenvolvimento da banda foi imenso nos últimos anos. Nós tivemos inte- grantes entrando e saindo, e uma porção de mudanças em nossas vidas. Com “Tidals”, eu sinto que estamos expondo a melhor mistura de todos esses elementos. “Janus” foi meu primeiro registro com essa banda, e representou um período diferente artisti- camente, e ele acabou se tornando datado. “Tidals” é a direção para a qual estamos seguindo.

Dyna: Através dos nomes dos integrantes da banda – incluindo o seu –, dá pra sacar que existem muitas culturas diferentes misturadas no Aphonia. De onde vêm esses nomes, e como essa mistura influencia na hora de compor? Zeena: Nós somos mesmo um grupo bem misturado e diverso. Eu tenho ascendên- cia filipina e polonesa e a maioria dos garotos é de origem latina, incluindo portuguesa. Tenho muito orgulho de nossa diversidade cultural. Além das etinias, somos uma banda com uma vocalista mulher, e, querendo ou não, nos Estados Unidos o rock é um mundo para homens brancos. Nós trazemos um ritmo a mais em nossa música, adicionando influências de vir de regiões onde não se tem comida na boquinha, trazendo a voz de batalhadores. Toda a nossa bagagem musical, gostos e influências culturais faz com que nossa música tenha sabor e nos dá a oportunidade de incorporar elementos rítmicos como o djembê e o bongô, sem ser algo não espontâneo; é parte de nossa cultura.

Dyna: Por que o nome Aphonia? Zeena: Quando eu entrei já era esse o nome. Aphonia [afonia] é uma condição vocal que faz com que você não consiga falar. É um conceito muito interessante, na minha opinião, então não discordei quando entrei. O nome é interessante, pois sinto que nossa música tem voz, mesmo que eu não esteja cantando nota alguma.

Dyna: E quanto ao som da banda, alguma inspiração que você possa apontar? Zeena: Não quero falar por todos, mas somos definitivamente um ponto de fusão, in- fluenciados por rock, música clássica, música latina e hip hop. Somos influenciados por música bonita de todos os gêneros, música sensível.

Edição 108 - dezembro/2009 34 APHONIA

Dyna: Sua voz é bastante singular, com agudos que chegam a comover em deter- minados momentos. Você tem algum cantor ou alguma cantora como inspiração? Zeena: Obrigada. Eu diria que uma das minhas maiores influências, como cantora de rock, veio da adoração à voz feminina, com a capacidade que ela tem de traduzir am- bos os gêneros, então presto bastante atenção no que outras mulheres transmitem com suas vozes. É um pouco difícil dizer o nome de algumas das minhas influências, pois a maioria não são cantoras de rock. Me prendo mais a cantoras de r’n’b, como Erykah Badu e Lauryn Hill, e também de outros mundos, como Beth Gibbond, do Portishead, e Björk. Do mundo do rock, eu gosto de Anneke, que cantou no The Gathering, e vozes diferentes, como a de Karen O, do Yeah Yeah Yeahs. Também estou tardiamente apa- ixonada pelo estilo da Santogold ultimamente. Gosto de acreditar que eu poderia ser a versão feminina do Chino Moreno, do Deftones, mas sei que estou me iludindo (risos).

Dyna: A faixa de abertura de “Tidals” é “Vida Por Vida”, cujo título pode ser tanto em português quanto espanhol. Por que esse nome, se ela é cantada em inglês? Zeena: É espanhol. Eu escolhi esse título porque a música é sobre nosso tecladista, que é colombiano e batalha contra o câncer ainda tão jovem. Por isso quisemos essa identificação com nosso lado latino. Veio do coração.

“Gosto de acreditar que eu poderia ser a versão Dyna: Quais temas costumam aparecer nas letras das músicas? Zeena: Eu escrevo todas as letras, então elas acabam sendo um apanhado sobre a feminina do Chino Moreno, do Deftones” minha própria vida. Em “Tidals”, embora houvesse um foco, eu falo sobre as marés da vida em vários graus: sucesso, amor e tragédia. Admito que minhas experiências amo- rosas pesaram mais na hora de compor as letras para essas músicas. Eu terminei um relacionamento estável de oito anos e me apaixonei por alguém que não me deu bola. Escrevo músicas tristes porque elas me ajudam a tirar a dor do meu peito.

Dyna: Existe algum plano para um álbum inteiro? Zeena: Nós gostaríamos de lançar um, eventualmente. Esse provavelmente será o nosso próximo passo. Estamos trabalhando em novo material e gostaríamos de lan- çar um disco no meio do ano que vem, mas ainda estamos trabalhando em ideias e focados na divulgação de “Tidals”.

Dyna: Após sua visita ao Brasil, cogitou fazer shows por aqui? Zeena: Eu adoraria. Espero que esse EP abra algumas portas para a gente chegar ao seu país. Eu amei o Brasil. A paixão e dedicação que vocês têm pela música são incomparáveis.

Dyna: Sobre suas viagens por nosso país, você acha que elas a afetarão artisti- camente ou em qualquer outro aspecto? Zeena: Já fizeram. Voltei com a sensação de que eu não estava suficientemente apa- ixonada por minha música ao ver a paixão e dedicação que o brasileiro tem por música e mesmo dança. Sua cultura também me levou a redescobrir alguns álbuns antigos, incluindo uma tonelada de death metal progressivo. Ver gente que tem amor por música sem limites ou pretensões foi um marco para mim; foi um reforço positivo. M

Edição 108 - dezembro/2009 35 By Bruno Palma Fernandes Imagens: Pedro Fogaça Ecos Falsos Experimentando no som e na forma

om a formação bem mudada, o Ecos Falsos deu uma respirada e constatou que era hora de experimentar. Em seu segundo disco, sucessor de “Des- cartável Longa Vida”, que saiu em 2007, o quinteto apresenta diferenças na sonoridade e nas letras. E não apenas as composições foram influencia- das. O formato também. Afinal, no atual momento o importante não é mais somente o que se lança, mas também como se lança. C“Quase”, o segundo álbum do quinteto, está saindo de forma inovadora, num projeto que inclui música, literatura, design de moda e internet, no mínimo. Foi para falar sobre esse novo trabalho que a reportagem da Dynamite conversou um pouco com a banda. Aproveitando as festas de fim de ano, ainda fize- mos uma sessão de fotos especial com os músicos, que ao final da longa entrevista ainda fizeram seus pedidos de Natal. Confira:

Edição 108 - dezembro/2009 36 ECOS FALSOS Dynamite: Contem aí um pouco a história da banda, como e quando ela se formou e tal. Gustavo Martins: A banda, como Ecos Falsos, surgiu em 2002. Daniel Akashi: Mas a gente se juntou na Fau [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo], no primeiro ano. Todo mundo entrou em 2000. A gente se juntou pra fazer cover... Eu, o Davi e o BB. O Tomás, irmão do Gustavo, também tocava nessa época, mas depois saiu. No final desse mesmo ano acabei indo para o Japão para trabalhar como policial. Gustavo: Guarda de trânsito, vai! Daniel: Policial, policial (risos). Então, aí a gente já tinha uns shows agendados ali na Usp mesmo, e o Tomás indicou o Gustavo para me substituir por um tempo. Gustavo: Eu entrei para fazer esse show na Semana dos Bixos da Fau, em 2002. Eu tinha uma banda com meu irmão, chamada Finnegans. Essa banda tinha umas músicas que o Ecos Falsos até chegou a gravar. Você acha que está ficando detalhado demais?

Dyna: Manda ver aí! Gustavo: Beleza. Então, eu mostrei umas músicas que eu tinha, o Davi mostrou umas dele também, aí o Daniel voltou e a gente combinou de tentar tocar. A primeira música que a gente fez como Ecos Falsos foi “Primeira Página”, que está no primeiro disco. Quando ela ficou pronta a gente resolveu continuar compondo. Nessa época a gente tocou muito na USP. Todo mundo era de lá. Eles todos eram da Fau e eu era da Eca [Escola de Comunicação e Artes]. “O Marcio Custódio curtiu nossa demo e chamou Daniel: Foi daí que veio o nome. Gustavo: A gente continuou fazendo músicas, tocando e gravando umas demos. a gente pra tocar no Plastic Fantastic. Foi o As primeiras gravações são de 2003. A gente entregou uma demo pro Marcio primeiro show que a gente fez no circuito indie” Custódio. Ele curtiu e chamou a gente pra tocar no Plastic Fantastic. Foi o primeiro show que a gente fez no circuito indie. Daniel: Aí a gente começou a tocar nessas casas. Tocamos na Torre, no Matrix, no Dynamite Pub, no Vila Rock... Essas casas de show da Vila Madalena. Gustavo: A gente finalmente conseguiu marcar um show no Tramp, mas ele foi fechado antes da data que a gente tinha conseguido. Daniel: Era o nosso sonho tocar lá. Gustavo: Em 2003 eu fui cobrir o Goiânia Noise pela MTV, onde eu trabalhava. Lá eu con- heci muita gente e comecei a me comunicar com essas pessoas pela internet. Um pessoal de Campo Grande me falou que em Cuiabá estava começando a virar uns festivais. E aí eu entrei em contato com um até então desconhecido Pablo Capilé, que me disse que estavam fazendo umas coisas por lá e chamou o Ecos Falsos para tocar na próxima edição do festival dele. Daniel: Foi no Oitavo Ato, em Cuiabá. Antes do Calango. Gustavo: Foi o primeiro show que a gente fez fora de São Paulo. Foi como começamos a entrar nesse circuito de festivais. Depois eu conheci o Cavalo, guitarrista do Velhas Virgens. Mostrei umas músicas da banda e ele curtiu e se ofereceu para produzir alguma coisa. A gente gravou com ele o EP “A Última Palavra em Fashion” no estúdio de um maninho que era d’O Terço. Gastamos uma puta grana; mais do que gastamos nesse novo disco. Grava- mos seis músicas. O EP saiu em março de 2005. Acho que começamos a gravar no final de 2004. Fizemos um show de lançamento bem legal no Centro Cultural São Paulo. Com esse EP a gente saiu mais de São Paulo. Fomos fazer o Calango, em Cuiabá também. A gente fez um show bem legal lá e foi nesse festival que entramos em contato com essas bandas da nossa geração, como o Zefirina Bomba, Daniel Belleza, Violins...

Edição 108 - dezembro/2009 37 ECOS FALSOS

Daniel: Detetives! Gustavo: 2006 foi o ano que a gente começou a aparecer na MTV. A gente fez os programas “Banda Antes” e o “Banda Antes Tour”. Nessa época meu irmão já tinha saído e o Thiago tinha entrado no lugar dele. Daniel: Aí a gente foi indicado pro VMB. Gustavo: Nesse ano a banda cresceu muito. A gente começou a fazer muito show e o disco foi demorando pra sair. A gente só conseguiu terminar o disco em setembro de 2007. O Thiago, na verdade, saiu da banda antes de o disco ficar pronto. Ele gravou algumas coisas, mas saiu fora antes da gente terminar. Aí a gente passou a tocar muito como quarteto. Hoje eu vejo que essa formação não me deixava muito feliz. Sempre faltava alguma coisa. Daniel: Nossos arranjos sempre foram com três guitarras. E daí a gente tinha que trocar de instrumento no palco e às vezes demorava muito. Gustavo: Em 2009 a gente resolveu dar uma parada pra pensar. E o Felipe saiu da banda também.

Dyna: Foi na saída do Felipe que vocês inventaram aquela história da apos- ta com o Banzé? Gustavo: Isso. Ele já tinha saído da banda e só estava cumprindo com os com- promissos que já estavam agendados. A gente não queria falar aquela coisa toda, que ele tinha saído por causa de divergências musicais e tal. Daniel: A gente resolveu transformar isso numa piada. Gustavo: A gente não estava com vontade de fazer um show de despedida. Aí eu tive essa ideia de fazer um show competitivo, contra o Banzé. Quem perdesse, ficava sem um integrante. Era essa a aposta. Daniel: Chamamos uns amigos para serem jurados. Era o Rodrigo, do Dead Fish, o Belleza, e o Martim, do Zefirina. O Rafa, da MTV, era o apresentador. Gustavo: E o Banzé também não estava numa fase muito boa nessa época.

Dyna: Tanto é que acabou... Gustavo: Sim, acabou logo depois. Quando o Felipe saiu da banda a gente ficou pensando em quem chamar pra colocar no lugar. O Rodrigo BB, que era da primeira fase do Ecos e que saiu logo no começo, falou que estava querendo voltar. E tem o Vini, que era próximo da gente. Ele era um bom baixista e a gente curtia o Jazz- blaster, a banda dele. Falamos com ele e ele topou entrar. Aproveitamos que o BB tocava teclado e o Vini também compunha e resolvemos começar um disco do zero, ao invés de usar material que a gente já tinha meio pronto. Acertamos essa formação no começo de 2009 e fomos pro sítio do Davi passar uns dias compondo. Gravamos no estúdio do Clayton Martim, do Cidadão Instigado, onde gravamos o primeiro disco também. Gravamos sem pressa. Fechamos um pacote com ele e fomos gravando conforme a necessidade. Paramos um pouco de fazer show para gravar direito. Daniel: Para não cometer os mesmos erros do primeiro. No primeiro demoramos mais de um ano. Gustavo: Fizemos tudo com mais cuidado. Tudo foi exaustivamente discutido.

Edição 108 - dezembro/2009 38 ECOS FALSOS Dyna: Eu tenho uma curiosidade sobre essa formação de vocês, com três guitarras. Às vezes fazer uma terceira linha de guitarra é um trampo a mais? Daniel: Como a gente está colocando bastante teclado agora nem tanto. Gustavo: A gente levou isso em consideração também. Tem música que eu não toco; tem música que o BB não toca. Mas a gente tenta trabalhar pra cada um ter pelo menos uma ocu- pação na música, nem que seja só cantar. Mas a gente já se pegou tentando encaixar uma guitarra a mais numa música só porque tinha. Às vezes o melhor caminho é cortar fora. Na mixagem a gente cortou várias guitarras. O Clayton também ajudou nesse processo.

Dyna: Ele produziu? Gustavo: Mais ou menos. Ele produziu junto com a gente. A gente pedia umas opiniões pra ele. Ele é um cara que a gente confia bastante e que conhece o som da banda. Ele é mais pé no chão. O Davi e o Vini inventam umas coisas, tipo gravar com o microfone no banheiro. O Clayton também dá ideias, mas é um cara mais prático.

Dyna: Vocês sentiram que muita gente estranhou esse novo trabalho. Em compara- ção com “Descartável Longa Vida”, ele é mais psicodélico, tem mais teclados, me- nos peso... Essa mudança foi um processo que simplesmente aconteceu ou vocês tomaram uns chás esquisitos? Gustavo: No primeiro disco, todo mundo opinou nos arranjos. Mas eu tinha feito a maioria das músicas. E essas músicas também eram de uma fase específica. Mas eu componho “Nesse segundo disco rolou uma vontade mais daquele jeito mesmo. Mas nesse segundo disco rolou uma vontade maior de experi- maior de experimentar, e um pouco menos mentar, e um pouco menos de medo também. A gente também conseguiu comprar equipa- mentos novos nessa época. de medo também” Daniel: Eu encaro isso como um processo de crescimento mesmo. Muitas músicas do primeiro disco eram do Gustavo, que ele fez quando ainda era moleque. Eu sempre fui um pouco relutante com relação a mudanças. Não sei se é porque eu sou um cara mais velho. O Felipe que começou com essa história, falando pra gente tocar com um pouco menos de distorção. Ele começou a trazer uns sons diferentes pra gente. Depois que ele saiu a gente comprou uns brinquedinhos eletrônicos e começamos a experimentar. Aí eu comecei a gostar.

Dyna: Vocês estão lançando “Quase” num formato bem diferente. Expliquem esse projeto. Gustavo: Enquanto a gente estava compondo a gente chegou à conclusão de que lançar o CD num formato tradicional não valia a pena, e que a gente podia investir um pouco da nossa imaginação. Era o momento de experimentar. Tivemos a ideia de fazer um misto de disco físico com disco virtual, lançando em partes pela internet os singles “Q”, “U”, “A”, “S” e “E”.

Dyna: O nome veio antes? Gustavo: Veio. Ele veio da música “Quase”, que foi uma das primeiras novas que a gente fez. Todo mundo concordou que tinha a ver com o que a gente estava passando na época. Você pode encarar isso de forma otimista ou pessimista, como aquela coisa do copo meio cheio ou meio vazio. A primei- ra ideia que tivemos, e que ainda vamos fazer no fim do projeto, foi o livro. A ideia era lançar um livro com um CD encartado. Seria um CD de 15 músicas e um livros de histórias curtas que a gente ia escrever. Eu já tenho um passado como escritor infantil. O Davi também escreve umas coisas. Só que a gente ficou na correria para produzir o disco e sacou que não ia dar tempo.

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Dyna: E as camisetas? Gustavo: Pra reforçar os singles, a gente teve a ideia de fazer uma camiseta pra cada um. O Daniel cuidou disso. Ele chamou uns designers que ele conhecia. A primeira é do Gil Tokio, a segunda vai ser do próprio Daniel, e as outras a gente ainda está fechando. O que a gente quis fazer foi expandir o disco. Não são as músicas apenas. O disco também é as camisetas e o livro, que a gente ainda vai fazer. É mais que a música. Davi Rodriguez: A banda é assim. Gustavo: O que a gente quer fazer é atender a todo tipo de demanda, desde o cara que quer tudo até o cara que só vai ouvir no MySpace em streaming. Davi: O mercado está apontando para uma fragmentação bem grande. Tem um público que às vezes quer mais do que o disco e um público que quer menos, que quer uma música só, e não o disco inteiro.

Dyna: Essas ideias todas tem certa inspiração no que o Radiohead fez quando lançou o “In Rainbows”? Gustavo: Tem um pouco. É legal quando essas inovações partem das bandas. Quan- do as gravadoras lançam coisas novas eu sempre fico com o pé atrás. Geralmente é pra lucrar. Davi: A gente é meio nerd de internet. Estamos sempre fuçando e vendo o que anda rolando. Teve um cara que lançou um CD que vinha numa caixinha com um sintetiza- dorzinho. Ele montou uma plaquinha com uns circuitos e se você quiser você pode tocar o negócio. Gustavo: Você pode participar do disco. Vini F: Você pode mandar pra ele também. E ele fez várias opções. Tem uma versão com o CD e o sintetizador, uma mais barata com o CD e um sintetizador menor ou só o CD. E ele também disponibilizou as músicas de graça na internet. É uma coisa bem parecida com o que a gente está fazendo.

Dyna: Algumas letras desse disco novo, como “Spam do Amor” e “O Segredo do Sucesso para a Felicidade sem Esforço”, trazem uma dose de bom humor. É difícil fazer isso sem soar meio Mamonas Assassinas? Gustavo: A gente já teve essa discussão. Quando eu falei que a gente discute as coisas exaustivamente não era mentira. No primeiro disco, tivemos uma discussão de horas para decidir se ele ia se chamar “Descartável Longa Vida” ou “Longa Vida Des- cartável”. A gente achou que “Longa Vida Descartável” era uma piada muito óbvia. A gente até se poda um pouco. Mas eu acho que esse rock independente também se leva muito a sério e às vezes não vê a graça nas coisas, não vê a graça na desgraça. Daniel: A gente vê a graça na gente mesmo. Rola muita autopiada. Gustavo: A gente também corta quando rola um exagero de seriedade. Mas enfim, a gente toma certo cuidado com o humor e com a seriedade para não posar de algo que não somos. Essa coisa do emo, por exemplo, sempre me incomodou, não pelo estilo nem nada, mas por causa desse lance desses caras escreverem sempre sobre sofri- mento. E eu tenho certeza que esses caras não sofrem tanto assim. Isso é meio que subestimar a inteligência do público.

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Davi: Por outro lado, às vezes a gente também faz umas coisas tão ácidas e cínicas que ficamos com medo de soar arrogantes. Às vezes as piadas são pesa- das demais (risos). Gustavo: Pra mim essa coisa de humor é um pouco de timidez. Tem um pouco de se esconder atrás da piada aí. Davi: Que nem o Homem Aranha (risos). Vini: Ele falou que era nerd! Gustavo: “Spam do Amor” tem essa brincadeira com essa coisa mais cotidiana, de receber lixo eletrônico. Mas também dá até pra você ler essa música mais seriamente. A gente estava pensando em fazer uma coisa ainda mais piadista, com barulho de e-mail chegando e tal. Mas o Clayton achou melhor não exagerar por aí. Ela tem essa coisa engraçadinha, mas também é um pouco triste; o cara é que é o spam, o indesejado. Eu fico mais satisfeito com o tipo de humor que tem nesse disco do que no outro.

Dyna: Vocês gravaram músicas com participações da Érika Martins (ex- Penélope), Julia Jups (Condessa Safira), Martin Mendonça (Pitty),Alejandro Marjanov (Detetives), Martim (Zefirina Bomba) e Felipe Daros e Rafael La- guna (Capim Maluco), mas essas só saíram nos singles. Davi: Todas as músicas fazem parte do disco. Essa coisa dos singles com essas participações é só xaveco. “As participações acrescentam Gustavo: Isso serviu mais pra chamar a atenção para os singles também. muito nas músicas” Dyna: No outro disco vocês gravaram com a Fernanda Takai (Pato Fu), o Tom Zé e o Sérgio Serra (ex-Ultraje a Rigor). Por que gostam tanto de par- ticipações? Gustavo: Eu gosto de discos com participações. Acho interessante. Eu acho legal criar esses vínculos com gente da nossa geração e que não são da nossa geração também. Vini: Eu gosto dessa relação. Quem gosta da Érika Martins e não conhece Ecos Falsos, por exemplo, tem uma chance de conhecer a banda. Quem gosta da Pitty, pode vir a ouvir a banda por causa do Martin. Daniel: É claro que a gente quer atrair as atenções de alguma forma. Não é só porque a gente acha interessante. Rodrigo BB: Mas as participações acrescentam muito nas músicas.

Dyna: Vocês já pensaram nas participações quando compuseram essas músicas? Vini: Existiam algumas ideias. Quando a gente fez “Deadline”, por exemplo, a gente pensou em chamar uma menina pra cantar. Gustavo: “Litania dos Pobres” a gente também já tinha pensado em colocar um solo de guitarra no final. Mas elas já estavam compostas. Daniel: “Pensando no Meu Bem” a gente já fez com a ideia de ter um diálogo entre um homem e uma mulher.

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Gustavo: “Dois a Zero”, do outro disco, a gente também já fez pensando que seria legal ter uma voz feminina. Gosto quando tem uma voz feminina no meio do disco. Acho que ajuda a dar uma arejada. Davi: Também tem uma coisa de querer ser afirmado pelos amigos. Às vezes não é tanto pelo resultado, mas por essa coisa de conseguir juntar a nossa galera. Vini: Isso mostra também que a gente não é autossuficiente. Não fazemos as coisas sozinhos; temos nossos amigos, e eles agregam mais no nosso trabalho. Gustavo: No primeiro disco foram medalhões. Davi: O fato de essas pessoas terem topado participar foi foda pra gente, tam- bém. São autoridades. Gustavo: Nesse disco agora são amigos mais próximos mesmo. Eu gosto dessa coisa das bandas se relacionarem. É legal mostrar que é uma geração que está se ajudando, que as bandas não estão sozinhas. Vini: Mostra também que a gente não está competindo com ninguém.

Dyna: Agora o Ecos Falsos tem mais gente compondo e mais gente can- tando. Rola briga? Vini: Opa! Gustavo: Rola, cara. Música é difícil. Seu ego está ali. Vini: Pra mim foi uma escola. Eu vim de outras bandas nas quais eu era o principal compositor. No Ecos Falsos, pela primeira vez, eu tive que sentar e dividir as minhas ideias com outras pessoas. Tive que aprender a lidar com reprovações e críticas. Gustavo: O Vini é abusado! Eu, o Davi e o Daniel já tínhamos uma história com a banda, e o BB também já era amigo de muito tempo. O Vini, que era um cara totalmente avulso, foi bem abusado; bateu o pé, dizia que não queria fazer desse ou daquele jeito. Fiquei nervoso em alguns momentos, vou admitir. Mas foi ótimo. Davi: O Vini é outra máquina de compor. Gustavo: É difícil, mas foi uma escola pra mim também.

Dyna: Eu não sabia quem era o escritor infantil da banda e não sei quem com- pôs cada música do disco novo, mas senti que os versos de “Nós” tem uma simplicidade que remete a cantigas infantis e que “Se Você Quer” tem alguma coisa de música de ninar. Essa relação existe ou é coisa da minha cabeça? Gustavo: “Nós” fui eu que compus. Acho que é por aí, sim. Eu estava buscando um pouco de simplicidade, procurando a frase mais simples e direta possível. Isso tem um pouco a ver com o jeito que eu escrevo mesmo. “Se Você Quer” é uma composição do Vini e do Davi. Davi: Ela já não é tão direta. Gustavo: A gente discutiu muito e todo mundo tinha que estar satisfeito para uma música valer para o disco. Isso acabou dando uma unidade a ele. Davi: Essa coisa que você relacionou com música de ninar eu acho que não tem tanto a ver com o universo infantil, mas com a ideia que a gente tinha de fazer música com mais melodia. No primeiro disco tinha muita coisa falada, muita coisa recitada. Nesse a gente quis fazer mais melodia de voz, músicas mais assoviáveis.

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Dyna: Uma curiosidade agora: a música “O Segredo do Sucesso para a Felicidade sem Esforço” tem um backing vocal que me lembrou bastante Secos e Molhados. Isso foi de propósito? Davi: É um backing vocal da Camila, minha namorada. Daniel: Você que falou pra ela fazer assim, não foi? Davi: Foi. Acho que foi meu lado Ney Matogrosso. Eu não tinha reparado nisso, mas foi uma boa sacada. Acho que é porque a Camila faz canto lírico. Nessa música a gente pensou em fazer um salto de oitava. A gente fez, mas ficou meio normal demais. Aí a gente fez desse jeito, e a gente curtiu. Gustavo: Nessa música o cara fala que ele é o máximo e a gente queria que tivesse umas mulheres repetindo, meio Blitz.

Dyna: Dá pra notar uma porção de referências bem diferentes na sonori- dade do Ecos Falsos. Em “Quase” vocês acham que consolidam uma so- noridade ou podemos esperar mais surpresas? Vini: Eu acho que quando chegar no terceiro, quarto, já vai ter mais uma cara. Davi: Acho que no primeiro já existe uma essência, que também está no se- gundo. Eu li um livro do André Midani e ele fala que no primeiro e segundo disco a banda ainda está aprendendo a lidar consigo mesma, e que normalmente é no terceiro ou quarto que rola um amadurecimento. Gustavo: Eu acho que pode mudar. Do primeiro pro segundo já mudaram vários integrantes. O que me deixa confortável no Ecos Falsos é que a banda represen- ta o que nós somos. Isso mais ainda agora, nesse disco. Pode ser que o som do “O que me deixa confortável no Ecos Falsos é próximo disco seja completamente diferente, mas o conceito continua o mesmo. que a banda representa o que nós somos” Mesmo que os integrantes mudem, acho que o conceito vai continuar. Dyna: Bom, vocês já estão sabendo que essa matéria é um especial de Natal. Então, vamos ter que encerrar com um desejo de Natal de cada um de vocês; um para si próprio e um para o mundo. Já aviso que não vale paz mundial. Davi: Eu desejo para 2010 conseguir viver só de música. E eu desejo que o mundo veja o Corinthians sendo campeão da Libertadores. Gustavo: Desejo impossível vale? (risos). Eu desejo que os planos ousados que o Ecos Falsos tem para 2010 funcionem. E eu espero que as pessoas tenham mais iniciativa, que vão atrás de coisas diferentes e invistam naquilo que elas gostam. E eu espero que o Serra não seja eleito presidente. Rodrigo: Pra mim, espero o mesmo que o Davi. Espero que a gente possa viver de música porque eu já vi que é a única coisa que eu gosto realmente de fazer. Para o mundo, espero que as pessoas parem de culpar os outros e os governant- es e comecem a fazer elas mesmas. Daniel: Para o mundo, eu ia falar mais ou menos o mesmo que o BB. Eu acho que não jogar papel na rua, devolver o troco certo... Fazer essas coisas já seria um bom começo. Para mim, eu gostaria de viajar mais. Vini: Eu também desejo viver de música. Eu só sei fazer isso. E eu gostaria que as pes- soas se divertissem mais e parassem de se preocupar com coisas menos importantes. M

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Edição 108 - dezembro/2009 44 EARS UP Co t a ç ã o : MMMMM (Excelente); MMMM (Ótimo); MMM (Bom); MM (Regular); M (Fraco) UNANIMATED – In The Light Of Darkness deiros fiascos na carreira dos músicos. Só por aí, já dá anunciando o final dos tempos. “Into Utter Madness” (Paranoiod) MMMM para entender a importância de “Raditude” para o Wee- volta a destruir tudo ao bom e velho estilo Marduk de O Unanimated foi criado zer. Esse novo disco é o trabalho mais pop da banda, ser, enquanto “Phosphorous Redeemer” tem uma in- em 1989 na Suécia e embora busque repetir bastante as receitas de trabalhos trodução arrastada, nos moldes funeral doom, mas ficou na ativa até 1994, antigos do grupo. A banda de Rivers Cuomo acertou a conhecendo os quatro cavaleiros nórdicos já sabe- quando seus membros mão ao se apropriar da fórmula weezeriana, que vem mos a destruição que se segue, assim como em “To dissolveram a banda para com aqueles refrões melodiosos e riffs de guitarras ex- Redirect Perdition”, que vem mais arrastada ainda, seguirem em frente com citantes. E mesmo com a ousadia de misturar um pouco desacostumando os ouvidos para que “Whorecrown” outros projetos, como de tudo, este disco denota que os californianos não se castigue com seu bate-estaca britadeira envolto de Dismember, Entombed, perderam. A canção mais bacana é a divertida “I’m Your riffs hipnotizantes, assim como em “Chorus Of Crack- Therion e assim por di- Daddy”, que reflete a verdadeira essência do Weezer e ing Necks”, que mostra muito bem que os pescoços ante. Após um hiato de pode tocar incansavelmente no seu player sem que você quebrados são nada mais nada menos que os nossos 15 anos estão de volta à perceba que está ouvindo a mesma música há mais de próprios. Fechando o álbum, “As A Garment” é outra cena com esse novo álbum de estúdio, onde é notória três horas. No entanto, se você é um fã antigo dos cali- marcha funeral doom, bastante épica. Simplesmente a similaridade de bandas como Dissection e Dawn, ou fornianos, talvez até chegue a gostar de “Tripping Down fudido! (RKR) seja, um death/black metal com melodias gritantes, On A Freeway” e “Put Me Back Together”. Já para os como as que caracterizam o heavy metal tradicional, e novos fãs, bem provável que curtam e cantem “The Girl Juliana Kehl – Juliana Kehl (Independente) uma atmosfera única dentro do segmento, dando as- Got Hot”. O mesmo não pode ser dito sobre “Can’t Stop MMMM sim uma cara bastante vintage. Destacam-se faixas Partying”, em parceria com o rapper Lil Wayne, soando A cantora e compositora como “Ascend With The Strench Of Death” e “Retribu- algo nada a ver com o trabalho do Weezer e destoando paulistana Juliana Kehl tion In Blood”, que abrem o disco, passando por “The completamente do restante das músicas de “Raditude”. lança seu CD de estreia Endless Beyond”, que puxa mais para o death metal, e Outro lapso é “Love Is The Answer”, que começa com demonstrando um talen- a acústica “Strategia Luciferi”, que fecha o petardo. O uma cítara hipnótica e descamba para algo digno de uma to doce e buscando em disco é um convite a uma jornada rumo à escuridão do trilha sonora água com açúcar de um clássico seriado sua música produzir uma desconhecido que envolve o anticristianismo, diferen- norte-americano. (MH) sonoridade diferente em ciando assim do habitual death metal made in Gothem- uma época na qual tudo burg. Em suma, um álbum bastante surpreendente em MARDUK – Wormwood (Paranoid) MMMMM parece se confundir em relação aos anteriores. (RKR) Ícones em seu país na- mesmice. A artista, dona tal, a Suécia, o Marduk de uma voz gostosa e Weezer – Raditude (Universal) MMM tem o hábito de conseguir afinada, mostra nas 12 faixas a capacidade – muito Após alguns lançamen- gravar um disco melhor bem explorada pelos produtores Gustavo Ruiz e Dipa tos desastrosos, os veter- que o outro desde sua – de unir ritmos brasileiros com uma pegada jazzy. anos do Weezer retornam formação no início dos Um dos méritos de Juliana foi não ter medo de viajar dando a volta por cima anos 90. Em seu décimo e por para fora várias capacidades. Desde teclados, com esse novo trabalho. segundo registro, temos que me lembraram Return To Forever, acoplados a um “Raditude” mostra o es- como abertura a apoc- berimbau, como em “Rede de Varanda”, o que fluiu em pírito inventivo do quar- alíptica “Nowhere – No experimento e até canções mais bem comportadas, do teto, calando a boca de One – Nothing”, quebra- tipo de “Ele Não Sabe Sambar” e “Oiê”. Em “Viação muitos que torciam para pescoço de primeira. Em Cometa”, que conta com a participação do grandioso que desistissem de tudo. contraste, é seguida por “Funeral Dawn”, mais caden- trombonista Bocato, ela passeia quase por uma des- Não, os californianos não ciada, quase uma marcha fúnebre. Ao findar desta construção sutil. “A Música Mais Bonita”, que para mim superaram o feito de seus segunda faixa, o mundo torna a vir abaixo com “This é a melhor do disco, tem a guitarra do ótimo Luiz Cha- primeiros trabalhos, o debut homônimo, de 1994, e seu Fleshly Void”, que não deixa pedra sobre pedra, uma gas, da Banda Isca, que dá um toque especial a essa sucessor, “Pinkerton”, de 1996, ambos classificados verdadeira bateria de guerra, que dá espaço para canção muito boa, uma levada trip hop intensa e hip- como obras-primas do rock, e que serviram de inspira- que “Unclosing The Curso” consuma o que restou de nótica. Juliana Kehl acertou em cheio em um mercado ção para muitos artistas. Por outro lado, o álbum conseg- sua antecessora, com um clima atmosférico bastante difícil e repleto de artistas sem rumo, com um trabalho ue ser superior aos dois anteriores, considerados verda- desesperador, remetendo ao pós-guerra, com sinos consistente e bonito. (DL) Edição 108 - dezembro/2009 45 EARS UP – Diabolical Figures “Música de Amor” (da qual é co-autora) e de Frejat Está em Mim” e na pri- (Paranoid) MMM em “Sonhador” (uma das mais inspiradas da carreira morosa “Um Meio de Ar- O Graveworm vem do Autoramas) são alguns dos melhores momentos ranjar um Troco”) e so- representando o death/ da gravação. Mas as participações não vocais foram los bem trabalhados (em black metal italiano, a cereja do bolo. O acordeão de Humberto Barros e “Pressa”). Uma das car- sendo uma das mais as castanholas de Jane DeLuc transformaram “Ho- acterísticas mais mar- conhecidas mundial- tel Cervantes” em um tango surf genial, enquanto a cantes do quarteto é o mente, ao lado de slide guitar de Big Gilson deram a “A 300km/h” uma vocal rouco de Luiz Silva, nomes como Opera IX sonoridade mais blues, que ficou sensacional. Esse que em alguns momen- e Cadaveria. Com seu desplugado ainda traz composições do líder Gabriel tos é bastante agres- som similar ao Cradle Thomaz em outras fases, como “Galera do Fundão”, sivo, como nos versos Of Filth, pendendo mais do Little Quail, e “I Saw You Saying”, que fez um tre- de “O Ritual”, e em out- para o gutural, vem se mendo sucesso na gravação do Raimundos. Esse ros parece meio desleixado, como se o cara tivesse destacando a cada lançamento. “Diabolical Fig- especial foi feito de forma simples e saiu bem ba- acabado de mandar um litro de whisky goela abaixo, ures” já é o oitavo da carreira, e a banda ainda sabe cana. O Autoramas, como sempre, prova aqui que como em “Chá Amarelo”. Um dos grandes destaques mesclar riffs melódicos a harmonias dark junto à com pouco se pode fazer muito. (BPF) do disco é “Amém”, que conta com a participação es- agressividade do death metal. Outro fato que tor- pecial do guitarrista Lanny Gordin, o mestre. (BPF) nou a banda bastante conhecida foram as regrava- EX DEO – Romulus (Paranoid) MMMMM ções de clássicos – do metal ou não –, como “How Os canadenses do SLAYER – Many Tears” (Helloween), “Fear Of The Dark” (Iron Ex Deo vem inovando (Sony) MMMM Maiden), “It’s A Sin” (Pet Shop Boys) e “Losing My o death metal. Com Três anos após o ótimo Religion” (R.E.M.), que o Graveworm apresentou sua temática calcada “”, este a cada dois álbuns, mais ou menos. Dessa vez a na história e mitologia é o décimo álbum na versão é de “Message In A Bottle”, do Police. Vale romana, reflete clara- discografia dessa en- a pena conferir. (RKR) mente em suas com- tidade do death/thrash posições épicas a antiga metal mundial. Mes- Autoramas – MTV Apresenta: Autoramas Roma e suas legiões de clando tudo o que já Desplugado (Álbum Virtual Trama) MMMMM soldados que ergueram fizeram de bom, “World Sem muitas firulas, o o império. A cada faixa Painted Blood” capta a Autoramas utilizou in- uma guerra é represen- poderosa voz de Tom strumentos acústicos tada em forma de música, com bases distorcidas Araya (o que não vem para gravar esse espe- e cozinha cadenciada, somadas ao clima épico acontecendo bem em alguns dos últimos shows da cial para a MTV. O trio de fundo, que nos remetem às frentes de batalha, banda), somada aos riffs poderosos de carioca deu nova so- como mostram em faixas como “Storm The Gates e , acompanhados pela bateria de noridade a algumas de Of Alesia”, “In Her Dark Embrace”, “The Final War , que nos remete ora aos idos de suas músicas, mas não (Battle Of Actrim)” ou mesmo “Blood, Courage And 80 ora de 90, caso de “Unit 731”. Os solos de briga perdeu a pegada e man- The Gods That Walk The Earth”, por exemplo. E de rato correm soltos no início de “Snuff”, enquanto teve o clima dançante ainda há quem diga que o metal já deu o que tinha “Beauty Through Order” bem que poderia ter feito de sempre. Grandes que dar! (RKR) parte de álbuns como “”, “Seasons provas disso são as no- In The Abyss” ou mesmo do já citado “Christ Illu- vas roupagens para “Rei da Implicância” e da instru- Alarde – Oitoitenta (Independente) MMM sion”. Já “Public Display Of Dismemberment” tem mental “Jogos Olímpicos”. Os efeitos no violão e nas Primeiro disco dessa banda, que deu seus primeiros uma cara mais velha guarda. O quarteto califor- vozes ajudaram nisso. Nas excelentes “Copersucar” passos no interior de São Paulo, mas se firmou na niano mostra que ainda tem chão pela frente com e “A História da Vida de Cada Um”, quem se destaca capital. O disco tem uma pegada meio rock setentista faixas como “Hate Worldwide”, “Psychopathy Red”, é a nova baixista Flávia Couri, que acrescenta muito meio rock alternativo dos anos 90, com alguns riffs “Playing With Dolls” e “Not Of This God”, além, é à banda com seus belos e afinados backing vocais. pesados (em “Oitoitenta” e “Ritalina”, cujo nome faz claro, da música que dá nome ao disco. Isso é sim- As participações especiais de Érika Martins em justiça ao som) e outros mais dedilhados (em “Não plesmente Slayer. (RKR) Edição 108 - dezembro/2009 46 EARS UP Ecos Falsos – Quase (Independente) MMMMM metade do último disco de estúdio, que no momento BULLDOZER – Unexpected Fate (Paranoid) MMM Logo de cara, uma in- era “The Apotasy”, de 2007, além de seus já habitu- O Bulldozer é uma banda trodução meio eletrônica ais hinos “Chant Of The Eastern Lands”, “From The pioneira na mesclagem já entrega que o Ecos Pagan Vastlands”, “Decade Of Therion” e “Sculpting de com black Falsos está numa nova The Throne Ov Seth”, abrangendo assim boa parte metal na Itália dos anos 80. fase. Esse é o com- de sua discografia de forma poderosa, além de um Desde sua criação, no iní- ecinho de “O Boi”, faixa cover para “I Got Erection”, do grupo norueguês de cio daquela década, a ban- de abertura do segundo deathpunk Turbonegro. Sinta-se como em um show da teve um bom período disco dos paulistanos. A desses caras! (RKR) de atividades, com quatro introdução dá uma as- álbuns bem respeitados e sustada, mas a música Versus A.D. – Primitivo Silêncio (Alvo Discos) fazendo apresentações começa pra valer com um MMMMM até o ano de 1990, quando dropkick na testa, com Quando se acredita que marcaram o fim da banda uma bateria no arregaço e uma avalanche de guitar- tudo já foi criado e ouvi- com um lançamento ao vivo que foi gravado na Polônia. ras. Na sequência vem as ótimas “Quase” e “Verão de do, chega aos nossos ou- 21 anos depois, o trio volta à ativa com “Unexpected Fate”, 69”, ambas bem cadenciadas, sendo a segunda uma vidos incautos uma bela que traz um Bulldozer mais agressivo e contando com par- das canções mais pop do álbum. O que chama muito obra de arte, um libelo à ticipações de Kiko Loureiro (Angra) em “Use Your Brain”, a atenção nesse disco são as letras, todas muito bem boa música e um ataque “Buried Alive By Trash” e “The Counter – Crusade”, An- feitas, ora indo para uma direção bem humorada, de aos achismos dos críti- drea Cantarelli (Labirinth) e Olaf Thorsen (Labirinth, Vision trabalho notavelmente mais racional, como em “Spam cos e ignóbeis que acr- Divine) em “Buried Alive By Trash”, e Billy Sheehan (Mr. do Amor” e “O Segredo do Sucesso para a Felicidade editam que música in- Big) em “The Counter – Crusade”, dando assim uma cara sem Esforço”, ora para um lado mais sentimental, strumental é tudo igual. mais power metal em determinadas faixas. (RKR) como na simples “Nós” e na delicada “Guaraná”. Fe- Não, não é. Versus AD é lizmente, essas ótimas letras não são desperdiçadas a prova cabal que a nossa vã filosofia pode nos enga- Aphonia – Tidals (Independente) MMMM com qualquer melodia. A construção musical do disco nar e nos causar uma surpresa daquelas. “Primitivo Em seu segundo EP, é também bastante cuidadosa. Melodias de músicas Silêncio” é uma obra atemporal. Os acordes incisivos os norte-americanos do como “Se Você Quer” e “Café La Petite Mort”, carr- de “Black Book Of Conflicts” trazem o brilhantismo da Aphonia apresentam uma egada de teclados, são verdadeiros achados. “Última banda logo na primeira faixa. Uma mistura de terror, rica mistura de elemen- Volta”, com uma paradinha bem pensada, e as pas- delírio e caos tomam conta da música, um chute na tos melódicos e rítmicos, sagens quebradas e instigantes no meio da já citada porta, uma destruição sonora... E esse é apenas o que dá à luz um corpo “Guaraná” são provas de que o quinteto investiu tem- começo! “Casillero Del Diablo” não poderia deixar de musical denso. Existe ao po e esforço na hora de compor. Valeu a pena, pois o remeter ao sotaque espanhol. É um flamenco com fundo uma cozinha bem resultado é impecável. (BPF) riffs poderosos. Dois a zero, com pouco mais de 15 quebrada, sustentando minutos de CD. Genial. “Vesperax” é jazz fundido aos um teclado que cria uma BEHEMOTH – At The Arena Ov Aion – Live Aposta- grandes mestres, somado a Paulo Martins, Luis Mal- atmosfera soturna e guitar- sy (Paranoid) MMMM donalle e Julian Stella; esses são os sábios, os pro- ras que contribuem ainda Neste show de 2008, os fetas da nova ordem musical chamada Versus A.D. mais com esse clima. Em cima disso tudo vem a potente poloneses do Behemoth Esse petardo sonoro é apenas o início de uma trilo- voz de Zeena Koda, que chega a fazer arrepiar, principal- mostram que não são só gia que aqui nasceu e se perpetuará em “Plastic Age” mente na faixa de abertura, a empolgante “Vida Por Vida”, uma banda de estúdio, e “Paradiso”. Ou seja, quando o desavisado ouvinte a minha preferida de “Tidals”. Na faixa-título, bem arrasta- mas também uma das chegar aos 13m17s da faixa “Beginning Of The End”, da, todos os elementos são meticulosamente trabalhados, melhores ao vivo quan- um épico que amalgama diversos estilos dentre de si, resultando numa música grandiosa, mas na medida, sem do o assunto é death não deve se preocupar: é realmente o começo do fim. nenhum exagero. É um pouco difícil classificar a sonori- metal. Rápido, sem firu- Nesse caldeirão insano o que mais importa é o bom dade do Aphonia. A banda traz uma dose generosa de di- las, Nergal e companhia gosto, as dificuldades da vida de cada um e a certeza versidade e intensidade a algo que pode ser descrito como presenteiam os fãs com de que esse é um dos mais importantes álbuns lança- metal, talvez. Esse trabalho é, acima de tudo, interessante 17 músicas, entre elas dos esse ano. (LCV) e original. Ponto para a banda. (BPF) Edição 108 - dezembro/2009 47 Fi q u e p o r d e n t r o d o s ú l t i m o s lançamentos d e CDs. EARS UP O s i t e d a r e v i s t a (w w w .d y n a m i t e .c o m .b r ) t r a z m a i s lançamentos . NILE – Those Whom The Gods Detest (Paranoid) a liga. Isso porque, apesar de usar várias influências e gia quase automaticamente e as linhas de sax e flauta MMMMM colaboradores, seu som é meio inconsistente, perdido. são do tipo que você acaba se flagra assoviando junto. Os norte-americanos do Talvez essa busca e o mergulho em muitos estilos, O baixo faz um contraponto excelente com a bateria, Nile sempre investiram como o reggae de “Skavadeira”, essa sim com uma e a cozinha é ainda adornada por uma percussão es- num brutal death metal letra melhor, seja o maior pecado do artista. Porém, há perta. Para completar, piano, teclado e sintetizadores old school, com temáti- de se louvar a coragem dele ao mergulhar de cabeça, vão conduzindo as músicas com acordes dissonantes cas inspiradas na mitolo- sem medo, na tentativa de se achar em uma estética e barulhinhos diversos. Embora as músicas não ten- gia, o que é refletido na musical que parece gasta, o que, obviamente, não sig- ham letra, os curiosos títulos já valem. “A Dança da atmosfera de suas com- nifica que o CD é ruim e que, em outro trabalho, ele Mulher Girino” e “Zé do Caixão e Carmem Miranda em posições. Este “Those não possa encontrar uma solução melhor. (DL) Cuba com os Elefantes” são os melhores. (BPF) Whom The Gods Detest” não foge à regra, e tem (Paranoid) MMMM Bebel Gilberto – All In One (Universal) MMM em sua produção a ajuda Aclamados como a “New “All In One” é o quarto de Erik Rutan, (Hate Eternal, ex-Morbid Angel). Suas Wave Of American Heavy disco da carreira da filha dez músicas consistem em excelentes arranjos, ver- Metal”, o Chimaira é uma de João Gilberto. O disco dadeiros rituais que variam entre três e oito minutos de de minhas favoritas da é uma bela tentativa da ar- duração, como a faixa-título, que muito bem poderia nova safra de bandas tista de se livrar da pecha ser trilha de filmes como “Indiana Jones” ou “A Múmia”, norte-americanas apre- que lhe rendeu projeção assim como “4th Arra Of Dragon” ou mesmo “Yezd Des- sentadas ao mundo com no mercado fonográfico, ert Ghul Ritual In The Abandoned Towers Of Silence” e a explosão do nu metal. como cantora de bossa “Iskander d’Hul Karnon”, que fecha o álbum num clima Com tendências que vari- nova eletrônica. Não que desesperador. E a porradaria rola solta em músicas am do death metal, este ela tenha abdicado de tal como “Permitting The Noble Dead To Descend To The “The Infection” consiste influência e que não seja Underworld” e “The Eye Of Ra”, só para citar. (RKR) em bases com hamonias bem sucedida na tarefa, que variam do heavy tradicional ao black metal, pas- mas agora prova que pode fazer mais, ao agregar novos Kabelo – Kabelo (Independente) MM sando curiosamente pelo hardcore, cortesia dos gui- e mais elementos musicais. O trabalho é ousado, em to- Ao ouvir esse segundo tarristas Matt DeVries e . Os vocais de Mark dos os sentidos. Bebel conquistou maturidade musical CD do Kabelo não sabia Hunter são um episódio à parte, variando entre o estri- com muito esforço e talento e “All In One” prova a flexibili- ao certo como entender dente gritado ao gutural cavernoso, que se encaixam dade criativa das composições e da voz da artista. Com o objetivo do músico. As perfeitamente na atmosfera criada pelos teclados de 12 faixas cantadas em português, o álbum traz à tona as participações de Badi Chris Spicuzza, somados à bateria poderosa de An- raízes brasileiras misturadas às aspirações internacionais Assad e Toquinho com dols Herrick. Destaque para a faixa de abertura, “The de Bebel, além de temas universais, como natureza, amor, certeza avalizam o ar- Venom Inside”. (RKR) momentos da vida, entre tantos outros. É mais orgânico e tista, mas não garantem. roots do que os trabalhos anteriores, embora ainda traga São 18 faixas que lem- Mama Gumbo – Eletroroots (Menino Muquito Re- referências (mesmo que de modo mais sutil) de música bram o lendário Língua cords) MMMM eletrônica. Seis das 12 faixas do disco foram compostas de Trapo, em uma via- Um pouco de samba, um pela própria Bebel, que não faz feio. As restantes foram gem imaginária por uma pouco de jazz, um pou- criadas em parcerias, que vão de Carlinhos Brown a Didi loja de departamentos. Sinceramente, as músicas com co de soul. Essa banda Gutman (tecladista da banda Brazilian Girls, que, apesar letras que tentam ser engraçadas não percorrem nen- paulistana mistura tudo do nome, é oriunda de Nova York). Em “Bim Bom”, com- hum caminho diferente e que busque alguma pesquisa, isso em seu som instru- posição de João Gilberto, Bebel presta uma bela homena- reflexão ou humor. Rimas existem aos montes, o que mental, que soa mesmo gem ao seu pai. Um dos pontos fortes deste novo trabalho não significa criatividade. Musicalmente, o artista usa como uma trilha sonora da cantora é o repertório que guarda curiosidades muito uma gama muito grande de ritmos nacionais, desde para o caos da cidade especiais, como a bossa nova “Nossa Senhora”, compos- refinados até escrachados, e até ruins, como um flerte grande, alternando ruído ta por Carlinhos Brown e Paulo Levita, onde ela solta toda com pagode e um pouco de hip hop. No fim das contas e silêncio, melodia e bar- a sua doçura vocal em gravação apenas com voz e violão, a impressão que ficou é que Kabelo ainda não achou ulheira. O balanço conta- ilustrada por ruidinhos eletrônicos. (MH) Edição 108 - dezembro/2009 48 By Dum de Lucca Neto Imagens: divulgação JUKEBOX Uma reflexão sobre o Indie, deturpado no Brasil, mas comunitário lá fora

pesar das vertentes do rock entre os anos 60 e 80 serem claras - metal, punk, hard rock, gótico, new wave e progressivo, entre outras -, todas, de Aum jeito ou de outro, se moldavam no mesmo conceito de buscar uma sonoridade diferente, de pesquisa, da vontade de se diferenciar em um mercado emergente e com uma grande demanda. Ninguém tinha inventado essa parada de indie rock, e que no fundo é uma tamanha bobagem, especialmente no Brasil. Quase todo mundo está se tocando que a ideia primal do indie acabou se per- dendo em um amontoado de grupos e artistas com pouca ou nenhuma qualidade musical. E, pior do que isso, sem mostrar nenhuma novidade criativa há anos, salvo raríssimas exceções. O que era o termo indie rock, que determinava uma banda ou artista independente que não eram lançado por grandes gravadoras, acabou virando um estilo musical e uma moda.

Mas, afinal, o que é o indie? No Brasil, a cultura indie é deturpada e é um grande mal entendido evidenciado pela falta de conhecimento e informação. Aqui só existem cena e modismo chulos, o que é uma coisa completamente diferente, bem diferente, do que rola nos Estados Unidos, Canadá e Europa, onde indie é uma forma de se envolver com música, ou arte independente em geral, fora do mainstream. Indie não é frequentar a Outs, o Inferno ou se emocionar ao som da última salvação do rock, indie, claro. Isso é o estereotipo de indie que se criou no Brasil. Não existe morte ou renascimento do indie no Brasil porque simplesmente ele nunca esteve aqui. Indie brasileiro é tão burlesco quanto skinhead brasileiro. No Brasil, o indie é quase tão mal informado e limitado como quem gosta de axé ou de sertanejo. Mas é pior: é afetado e metido. Eu recebo muitos CD’s de grupos indies nacionais, e, por mais que tenha boa vontade para ouvir, não acho nada realmente bom, diferente, inovador. E, para não dizer que nada presta em termos nacionais, acho que Vanguart, Macaco Bong, Cidadão Instigado, Holger, Pata de Elefante, Wado e Stella Campos são legais, se diferenciam da massa inodora e incolor que povoa a cena. Sinto muito, pois, com tanta facilidade para se fazer música hoje, era de se esperar mais quali- dade, mais originalidade, mesmo pelo grande número de festivais (cerca de 60 por ano) e bandas existentes no País. Os undergrounds, independentes, alternati- vos e indies existem desde os anos 60.

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A diferença fundamental é que, naquela época, tudo o que não seguia um padrão de sucesso comercial, maisntream, era realmente independente. Rolou dessa forma com o lisérgico Velvet Underground nos anos 60, com o simbiótico Talking Heads no final dos 70, com o REM nos 80, com o seminal Nirvana nos 90, e também com ícones do chamado britpop, como Stone Roses, Charlatans, Happy Mondays, e com a safra de novas bandas do começo do milênio, como Arctic Monkeys e The Strokes. Mas hoje, tudo é indie, menos o metal, que apesar de eu não ser muito chegado, é onde estão os melhores músicos. Todas as probabilidades para as pessoas se organizarem ao redor de uma ideia e criarem coisas boas estão aí, num simples clique de um mouse ou num soft- ware livre. Coletivos, mídia tática, tecnologia, espaço e democracia. Será que essas facilidades criaram uma falsa ilusão em “ser músico” nas gerações atuais, e isso gerou uma leva, ou mais de uma, de bandas ruins e sem personalidade? Não dá para deixar passar batido o fato de que hoje o mercado absorve e engole tudo. Então, o que antigamente era underground, com uma ideologia diferente, acaba virando produto. Pata de Elefante

Se um músico toca bem uma guitarra, ele vai ou não querer mostrar isso no pal- co? Ouvir Russell Lissack, do Bloc Party, tocando guitarra, foi uma das experiên- cias mais deprimentes que já tive em meus 29 anos de jornalismo. Será que esse é o estilo dele? Ou o cara não toca nada mesmo? Sou pela segunda opção. Existe hoje em dia uma grande facilidade de gravação e divulgação, através de ferramentas como MySpace, mp3 e softwares que permitem gravar um CD em um lap top e tocar a noite em uma casa noturna. Isso é ótimo e muito democráti- co, afinal todo mundo tem o direito e deve seguir seus sonhos se seu o lance é tocar rock ou qualquer outro gênero musical. Com essa produção/divulgação eletrônica facilitada, existe outro ponto positivo, que é a necessidade de existir música ao vivo, e aí é preciso ser músico para tocar um instrumento, que seja o Guitar Hero. Vanguart

Atualmente, as grandes gravadoras estão à míngua. Porém, grupos de rock que foram parar, ou são lançados por gravadoras de grande porte, mesmo com o sucesso de público e grande repercussão na mídia, são consideradas bandas alternativas, ou indies. Quer dizer, Franz Ferdinand foi indie, agora não é mais; Bloc Party também. Uma é de qualidade ruim e não passou de um disco médio e dois trêmulos, e a outra de um disco médio e outros dois péssimos, tanto é que fechou as portas. Enfim, os novos e inusitados são todos indies até virarem febres no MySpace e fazerem sucesso no universo indie, de mentes e referências reduzidas. Claro que Arctic Monkeys, The Racounters, The White Stripes, The Kooks e Gossip são exceções entre os horríveis Muse, The Killers e curiosidades parecidas. Grupos sentimentalóides, sonolentos e metidos a blasés são os da pior espécie, com seus terninhos, cabelos bem arrumados e cheirando a talquinho. The Killers e Editors são exemplos típicos dessa leva tenebrosa. M Ting Tings

Edição 108 - dezembro/2009 50 m 2009, a revista Dynamite atingiu um marco: 19 anos de vida! Mais do que sobreviver às inconstâncias do mercado editorial e pacotes econômicos, ela provou que credibilidade e independência têm sua recompensa para com o público. A grande novidade é que agora a Erevista é gratuita e de conteúdo aberto! Isso mesmo, a revista deixou de ser impressa para se voltar inteiramente a web e todo o conteúdo da revista pode ser acessado on-line. O portal Dynamite Online (http://www.dynamite.com.br) foi lançado em 2002, em mais uma revolução no nosso país, pois foi o primeiro portal de notícias musicais com atualização em tempo real. No portal, o internauta tem acesso a uma vasta gama de opções, como news, acontece, shows, podcast, blogs, rádio, lançamentos, MP3s, classificados, além de poder acessar o conteúdo online da revista. Mas a Dynamite continua mantendo o espírito de sempre: de quem no início da década de 90, antecipou a onda alternativa que varreria o mundo, ao propor uma revista de rock mais eclética, tantos nos estilos cobertos, quanto ao agregar outros assuntos como política, esportes radicais, comportamento, quadrinhos, moda, atingindo um público jovem antenado e participativo.

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