TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

CONTRADIÇÕES NA CENA INDIE DA

GUSTAVO FAREZIN

Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo como requisito para aprovação na Disciplina de TCC I, sob orientação do Prof. Carlos André Echenique Dominguez e avaliação dos seguintes docentes:

Prof. Carlos André Echenique Dominguez Universidade Federal de Santa Maria Orientador

Prof. Caroline Casali Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Luis Fernando Rabello Borges Universidade Federal de Santa Maria

Prof. José Antônio Meira da Rocha Universidade Federal de Santa Maria (Suplente)

Frederico Westphalen, 6 de Janeiro de 2010

1

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

Contradições na Cena Indie da Rolling Stone

RESUMO

Este trabalho de pesquisa tem o objetivo de analisar os discursos jornalísticos das notícias da revista Rolling Stone para com a cena musical Indie . Esta cena é, originalmente, um contexto cultural urbano de rock alternativo . Com seu aparecimento no mainstream , ela ganha visibilidade nas páginas das revistas especilizadas e assim começam a aparecer outras características (independente) e bandas de diferentes gêneros musicais. Na Rolling Stone, notamos em nossa análise uma grande variedade de bandas encaixadas nesta cena dentro dos discursos culturais presentes na publicação. Tendo em vista que a definição da cena Indie está em voga, notamos a necessidade da análise do discurso dos textos presentes nesta revista que é a principal formadora de opinião do meio musical pop/rock .

PALAVRAS-CHAVE: Estereótipos; Rock ; Rolling Stone ; Indie ; Análise de Discurso.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem o objetivo de demonstrar a existência de contradições discursivas adotadas pela revista Rolling Stone (RS) no tratamento de conteúdos sobre música na revista, colocando em debate a definição o que é a cena Indie nas doze primeiras edições da revista no Brasil, desde outubro de 2006 até setembro de 2007. Este trabalho nasceu com o propósito de analisar a rotulagem de bandas na RS. Notamos, porém, que existe uma confusão com as denominações indie, ao analisarmos fielmente origem desta cena. A importância social, econômica, política e cultural do fenômeno que estamos investigando é tanto para as bandas que fazem parte desta cena quanto para o público específico que consome este produto cultural. “'Você pode teorizar o quanto quiser sobre o rock and roll , mas ele é essencialmente uma coisa não intelectual. É música e só!’ Jann Wenner, editor-fundador da revista Rolling Stone ” (FRIEDLANDER, 2002, contracapa). Contrariando a sentença de Wenner, tentaremos tornar o

2

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010 rock and roll um objeto teórico dentro do universo da comunicação e do jornalismo em revista . Este estilo irreverente de música é o mais popular deste século. Começou nos anos 50 como uma cultura alternativa, invadiu as casas das famílias e mudou o jeito de se ouvir a música, tornando- se assim uma dualidade chamada pop/rock . Pop, por que é visto como uma mercadoria produzida sob pressão para se ajustar à indústria do disco e rock por que possui raízes musicais e líricas derivadas de sua era clássica. (FRIEDLANDER 2002, p. 12). Em sua gênese tudo parecia mais simples, pois “a canção significava o que o artista dizia” (FRIEDLANDER 2002, p. 18). Posteriormente, os estudiosos decidiram que analisar a música é um trabalho que deveria ser visto no contexto da história pessoal do artista e da relação da música com a sociedade que o cercava (ou o contexto social). O significado da canção, deste modo, seria diferente dependendo de quem a estivesse escutando, além disso, a imagem e atuação no palco poderiam ser mais significativas que as letras. Para alguns ouvintes, a música servia apenas de fundo, mas para outros, como os grupos subculturais da contracultura dos anos 60, os punks dos anos 70 ou os metaleiros dos anos 80, “os quais estão inseridos em um gênero musical particular e para quem a música oferece um conhecimento significativo e identidade” (FRIEDLANDER 2002, p. 17), a música tornou-se uma espécie de ideologia. Originalmente pertencente a um contexto cultural urbano de rock , a cena indie surgiu sob influências variadas. A característica mais notável é a atitude “faça você mesmo” , herdada dos punks. Os principais marcos identificáveis e divisórios da história do rock são: primeiro 1954-1955 – a explosão rock’n’roll clássico; segundo 1963-1964 – a invasão inglesa; terceiro 1967 – 1972 – a era de ouro (o amadurecimento sincrônico de artistas de vários gêneros, incluindo a primeira invasão inglesa, o soul, o som de San Francisco e a ascensão dos reis da guitarra); quatro, 1968-1969 – a explosão do hard rock; e quinto, 1975 – 1977 – a explosão do punk. (FRIEDLANDER: 2002 p. 18).

A palavra indie é uma gíria criada pelos britânicos nos anos 80 para batizar os artistas que se comportavam e faziam músicas alternativas. A atitude de gravar independentemente de grandes gravadoras, surgida recentemente, automaticamente tornou as bandas desse nicho

3

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010 undergrounds 1 e alternativos, pois quem gravava individualmente possuia estas características. Então, ao julgar de indie, um artista, significa dizer que ele é ou underground ou alternativo ou independente. Para se ter uma ideia, a música alternativa é mais velha e mais próxima de nós do que parece: Ao mesmo tempo em que a música pop das paradas de sucesso dominava o mainstream musical americano em meados dos anos 50, os jovens tinham a oportunidade de escutar uma nova e vibrante música underground chamada Rock and Roll . Esta música se desdobrou em duas gerações. (FRIEDLANDER 2002, p. 23).

O rock and roll , portanto, nasceu Indie , mas ao desenvolver-se e ficar conhecido no mainstream 2, perdeu o rótulo. Quanto ao que significa ser alternativo para a época em que a música é concebida, Friedlander aponta para a questão “enxergar o que é não ser alternativo”. Para avaliarmos se o comportamento, músicas, letras e vestimentas, contêm elementos alternativos é importante percebermos se isto é normal para o período - o contexto social. “O clássico dos Rolling Stones, Let’s Spend the Night Togheter , por exemplo, foi polêmico em 1967, mas teria sido uma blasfêmia em 1957, e ainda, passaria despercebido em 1977”. (FRIEDLANDER 2002, p. 20). O marco do nascimento 3 da cena indie no mainstream foi o álbum Is This It , de 2001, da banda norte americana The Strokes. Os Strokes alcançaram grande sucesso comercial lançando-se diretamente para gravadoras de grande porte, embora a identidade alternativa deles não se

1 Underground ("subterrâneo", em inglês) é uma expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia. Muito conhecido como Movimento Underground ou Cena Underground . (http://pt.wikipedia.org/wiki/Underground, acesso em 11/12/09).

2 Mainstream (em português corrente principal ) é o pensamento corrente da maioria da população. Este termo é muito utilizado relacionado às artes em geral (música, literatura, etc). Algo que é comum ou usual; algo que é familiar às massas; algo que está disponível ao público geral; algo a que tem laços comerciais; (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mainstream, acesso em 11/12/09).

3 Aqui nasce o grande paradoxo Indie/Pop . Como pode ser alternativo, aquilo que está numa revista Pop?

4

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010 perdesse. O comportamento, vestimenta e letras continuaram alternativos, isto fez com que a banda, mesmo com o sucesso de público e grande repercussão na mídia, fosse considerada indie . Há uma grande diferença, segundo Friedlander (2002, p.. 21) entre sucesso artístico e sucesso comercial, que ele chama de Status Roseburg 4. Além disso, para descobrir o efeito que a música causa na pessoa Friedlander (2002, p.. 18) criou um “modelo anatomicamente perfeito”, em uma estrutura de boneco dividida em: “Cérebro (intelectual), Coração (emocional), Genitália (sexual), Pés (dança/movimento)”, para saber o efeito da música rock nas pessoas. 5

REFERENCIAL TEÓRICO

Para falarmos da revista Rolling Stone é necessário que mergulhemos no seu contexto discursivo e jornalístico. A Rolling Stone é a revista de crítica musical mais popular do planeta. Jann Wenner, fundou-a em 1967 para ser uma revista dedicada à contracultura hippie da década, com o tempo e a evolução das comunicações e logísticas, Jann fez dela uma revista pop . A Rolling Stone traz em seu conteúdo o jornalismo cultural, nome que recebe a especialização da

4 “Roseburg , uma cidade no oeste de Oregon , tinha aproximadamente 20mil habitantes e uma estação de rádio que tocava as músicas de maior sucesso nas paradas durante os anos 60. Nós elaboramos uma hipótese que, se uma canção fosse tocada na rádio Roseburg , ela teria penetrado suficientemente no mercado comercial para estar disponível para os ouvintes e compradores do resto dos Estados dos Unidos. Artistas de rock clássico, como Elvis, alcançaram o status Roseburg ; grandes do rhythm and blues (R&B), como Big Joe Turner, não. A cantora soul Aretha Franklin conseguiu entrar nas paradas de música popular (branca); seu colega intérprete de soul Solomon Burke nem chegou perto.”(FRIEDLANDER 2002, p. 21)

5 “Considerando os três maiores grupos da invasão inglesa: Beatles , Rolling Stone e Who . Meus alunos diriam que os Beatles e o Who apelam à cabeça e ao coração – mesmo que eles não soem muito parecidos. Os Stones apelam à genitália e aos pés. O que você acha? Tente isto com outros artistas”(FRIEDLANDER 2002, p. 18).

5

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010 profissão jornalística nos fatos relacionados à cultura, como por exemplo, a música. Cultura, segundo DeFleur e Ball-Rockeach (1993, p. 20), significa um conceito desenvolvido de acordo com a necessidade do homem: “ A confecção de ferramentas e uso do fogo por nossos primitivos ancestrais definitivamente separam-nos de outros animais da época. Um dia, a civilização humana como a conhecemos brotaria dessa base elementar”. A música, talvez não tenha sido uma ferramenta de sobrevivência para algum povo, mas ela nasceu de uma necessidade de expressão do homem ao longo do tempo. Na contemporaneidade, a comunicação evoluiu a ponto de alcançar indivíduos de todo o planeta. Mas antes disto, surgiu a chamada cultura de massa que é uma manifestação cultural produzida para o conjunto das camadas mais numerosas da população e veiculada através dos meios de comunicação de massa ou mídia: Internet, tv, rádio, jornal impresso, revista. Foi no tempo da Segunda Guerra Mundial, que os alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, em seu livro A Dialética do Esclarecimento escreveram que a mídia americana não se voltava apenas para suprir as horas de lazer ou dar informações aos seus ouvintes ou espectadores, mas fazia parte do que chamaram de Indústria Cultural: a cultura de massa pensada e vendida segundo o sistema capitalista. Portanto, no nível de Indústria Cultural, como diz Sodré (1996, p. 22), “a cultura passa a servir cada vez mais à reprodução ampliada das relações capitalistas”. A Rolling Stone é um meio de comunicação de massa que produz produtos culturais. Por isso possui características discursivas adequadas a este meio. As primeiras ideias sobre discurso segundo Sodré (1996) são da época de Platão. Para Sodré (1993, p. 13) a retórica significa a habilidade de “argumentar com eloqüência no espaço público, de bem dizer, com o objetivo de persuadir os cidadãos”. Os filósofos e sofistas discutiam os problemas que a boa e a má retórica desencadeavam na sociedade. Essa discussão não era apenas um mero jogo acadêmico, “mas um embate em torno de posições sociais diferentes quanto a problemas centrais na vida grega”. Platão, então definiu as astúcias e dissimulações como “má retórica” e a técnica de pensar o comum de “boa retórica” . Mas Sócrates mostrou-se preocupado com uso indevido delas:

6

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

O que preocupa Platão é o perigo da falsidade inerente ao ilusionismo do discurso (apate), ensejado pela retórica. Por isso, no Górgias, onde Sócrates discute e ironiza os pontos de vista dos interlocutores, aparece uma condenação radical da arte retórica, apresentada como um conhecimento adulatório, vazio e eticamente inútil: ‘A retórica está para a justiça como a culinária está para a medicina. (SODRÉ 1996, p. 14.).

Todo o discurso, como por exemplo o texto jornalístico da Rolling Stone, tem a sua dualidade. Pode ter uma boa ou uma má retórica. O texto da Rolling Stone é muito parecido com os cadernos de cultura dos jornais, a não ser por resgatar um tipo de jornalismo aprofundado, em uma espécie de jornalismo e literatura, que os jornais não conseguem acompanhar devido à pressão do tempo de fechamento das edições diárias. Segundo Vilas Boas (1996, p. 71) os leitores procuram nas revistas por “textos elegantes e sedutores, pela fotografia e o design moderno”. Numa revista, a frase criativa de abertura do texto substitui o lead dos jornais, pois existe uma preocupação em prender o leitor ao texto. Então surge o empenho em produzir uma capa com os atrativos de uma embalagem e não apenas um julgamento de importância jornalística. (VILAS BOAS, 1996, p. 72). A interpretação é outra das características do jornalismo de revista, onde se dá profundidade a determinado ponto de um fato: “Em jornalismo, submeter os dados recolhidos a uma seleção crítica e depois transformá-los em matéria significa interpretar” (VILAS BOAS, 1996, p. 77). Mas o leitor de revista possui papel de interpretador também, a leitura do texto da revista pelo leitor e a sua reação, ou seja, o produto final possui uma especificidade nas revistas. “O texto interpretativo não pode ser obtido pela digestão de seu conteúdo. É preciso permitir que o leitor o interprete”. (VILAS BOAS 1996, p. 78 apud BELTRÃO 1976, p. 54). Como a Rolling Stone trata enfaticamente de música, ela faz parte do grupo de revistas especializadas e temáticas. Portanto, possui um posicionamento editorial pensado segundo seu publico alvo, os fãs de música. Por exemplo, as expressões populares (jargões, neologismos, coloquialismos etc.) e vocabulários de grupos, como o exemplo “cinéfilos” que Vilas Boas encontrou, empregado na Revista Veja ou Folha, para os fãs de cinema:

7

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

Os ‘cinéfilos’, leitores de Veja ou Folha, abocanham neologismos e, às vezes, até se arriscam a propagar por aí certos ‘pedantismos estilísticos’ que, mesmo não dizendo muito, se encaixam perfeitamente no gosto do leitor fiel.[...] Cativo, o leitor de um caderno cultural é uma espécie de discípulo da linguagem utilizada pelo jornal para determinado assunto que envolva arte, lazer e comportamento. (VILAS BOAS, 1996, p. 97).

Maingueneau (1997) aborda um conceito que revela características semelhantes e com efeitos maiores. Esse efeito chama-se, segundo ele, Script :

Tomar um avião’, do ponto de vista do passageiro, supõe a compra de um bilhete, a deslocação do ao aeroporto, o despachar da bagagem, etc. Para compreender um enunciado tão banal como ‘Fiquei no aeroporto. O meu visto estava caducado’, é preciso saber que antes de embarcar num avião, se passa pela alfândega, onde se mostra um passaporte sobre o qual deve ser registado um visto cuja validade é limitada no tempo, etc. (MAINGUENEAU 1997, p. 89-90)

Para analisar a revista, optamos pela Análise de Discurso como ferramenta para melhor compreender os enunciados e como o conteúdo da Rolling Stone se posiciona. Existem variadas definições para Análise de Discurso, mas Maingueneau (1997, p. 13) aponta para uma linha de pensamento importante para nosso trabalho, em que o principal é o “lugar social”, ou seja, o contexto. Com efeito, a revista Rolling Stone é o “lugar social” e os campos onde serão abordados os determinados assuntos são definidos pelo contexto das matérias e, principalmente, pelo local onde estão inseridas estas matérias na revista. Temos que ter em mente que a tessitura de sentido tem relação com o local onde a matéria se encontra na revista. Quanto aos efeitos de sentidos que o emissor da Rolling Stone emprega no seu discurso, Maingueneau (1997:12) ressalta que tudo começa, no Ato de Linguagem, “que é a menor unidade que, pela linguagem, representa uma ação”, mas para que o texto tome sentido existem regras de colaboração dos interlocutores. Existem, porém, atos de linguagem indiretos que formarão a maior parte deste estudo. É o caso dos atos que deixam implícitos. Quando enunciamos, por exemplo, sentados à mesa de jantar tomando café, a fala “ tem açúcar?”, literalmente nossa enunciação é uma pergunta, mas indica também um pedido (quero açúcar), o contexto faz toda a diferença.

8

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

Quanto à formação discursiva é necessário considerarmos que o texto da RS é heterogêneo. Segundo Pinto (1999, p. 27), “todo o texto deve ser visto como híbrido quanto à sua enunciação, no sentido de que ele é sempre um tecido de vozes”. Deste modo o emissor de um enunciado põe em cena mais de um enunciado. Por exemplo: quando a Rolling Stone enunciou “O fim da independência” (Rolling Stone, edição primeira, p. 19) ao fazer este enunciado, ela põe em cena dois enunciadores. O E1 que acredita que a indie acabou e o E2 que defende a posição a favor do fim da independência. Para a análise, servirão de ferramentas os conectores, pressupostos e subentendidos de um texto, pois eles têm o efeito de sentido que buscamos elucidar. Os conectores podem ser: elementos adverbiais (entretanto, enfim...), conjunções coordenadas (e, pois...) ou subordinadas (embora, porque...), essenciais para estabelecer a coesão em um texto. Os pressupostos são uma das grandes formas de implícito também, segundo Maingueneau (1997: 83) “eles são definidos com a ajuda de negação”. Assim, quando a Rolling Stone, enuncia “O fim da independência” diz se que a proposição “A independência existia antes” está pressuposta, já que se pode inferir a partir da proposição de que “A independência não teve seu fim”. Os marcadores de pressuposição, segundo Maingueneau (1997, p. 83) são: 1. Marcadores que indicam mudança ou permanência de estado, como ficar, começar a, passar a, deixar de, continuar, etc. 2. Verbos denominados factivos: complementados pela enunciação de um fato (verbos de estados psicológicos, lamentar, lastimar, sentir, saber, etc.) 3. Certos conectores circunstanciais, especialmente quando a oração por eles introduzida vem anteposta: desde que, antes que, depois que, etc. O procedimento de ancoragem esboçado por Maingueneau possui o efeito de referencialidade ou realidade e afastamento ou proximidade muito usado nas revistas para que o discurso jornalístico revista torne-se imparcial. O efeito de referencialidade se trata de ancorar o dito em: pessoas (testemunhos), espaços geográficos conhecidos, datas, fatos históricos, fotografias, gráficos; e também o efeito de afastamento, em que o sujeito escolhe fazer sua narrativa em terceira pessoa, construindo um

9

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010 narrador para que conte a história (dando a ilusão de estar longe). Citar fontes é colocar distanciamento entre o dito e instância de enunciação e também através da forma impessoal do verbo. Os subentendidos serão a terceira e última ferramenta de efeito de sentido. Por exemplo, quando o coenunciador (destinatário) lê na Rolling Stone : (A) “Programa de Indie ” como título de um texto sobre o show da banda de rock e na segunda edição como capa (B) “O futuro da música está nas mãos do Radiohead ”, primeiramente o coenunciador constata que a Radiohead é considerada uma banda indie pela RS (A) e posteriormente, (B) vai presumir que o futuro da música está na cena indie , assim podemos definir os subentendidos.

ANÁLISES

Nas doze primeiras edições da RS do Brasil, encontramos dezenove referências à cena Indie . Nove das referências estão na seção “ Rock'n'Roll ” (páginas iniciais da revista), quatro em reportagens especiais (páginas nobres), três na seção “Acontece” (páginas finais), uma referência em “Guia/Shows” (páginas finais), uma referência em “Indústria” (página inicial) e a última em “MixmídiaINTERNET” (páginas intermediária). Faremos o uso de uma Tabela de Referências Indie , onde serão armazenadas as referências que poderão responder ao nosso problema de pesquisa. Logo na sua primeira edição, há uma pequena seção chamada Cena Independente (p 127). Esta matéria está dividida em duas partes, a primeira é sobre a banda Pelvs, onde encontramos o seguinte fragmento de texto: “depois, houve um tempo em que essa mesma atitude [cantar em inglês] passou a ser execrada e as bandas alternativas (tá bom, indie s) descobriram a língua pátria”. “ Tá bom, indie s” é um indicativo de fuga do rótulo, como se o autor estivesse se segurando para não usar a palavra indie , mostrando assim um certo preconceito ou despreparo. Ainda na primeira edição existe uma nota com o título “O Fim da Independência” (p. 19), que fala da compra da independente Arsenal, pelo Grupo Universal, e com isto as bandas ( CPM22,

10

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

Ira!, NXZero, Hateen, Planta e Raiz, Tihuana, Leela e Supla ) que gravavam com esta gravadora indie passaram para a major . Na mesma edição, encontramos uma matéria sobre dados do mercado alternativo segundo Gilberto Gil, com o título “Independência ou Morte” (p. 23). As outras matérias veiculadas falam de bandas que estão deixando a cena indie , como a 808Sex e as bandas da recém vendida Arsenal (p. 31). O que concluímos nesta edição é a existência contraditória dos títulos “ Independência ou morte” e “O fim da Independência” que demonstram um discurso a favor da cena. Aquele exprime a ideia de condição de vida ou morte e este uma sentença. Naquele a vida é a independência (ser indie ) e a morte é trabalhar com grandes gravadoras, logo as bandas que deixaram a gravadora independente estão sentenciadas. Na segunda edição, depois de considerar a cena indie “riquíssima e fragmentada”, a RS exibe o grupo de rap chamado Função RHK (p. 29) como indie e que pode “mudar o rap nacional”, mas isso vai acontecer por que eles não estão sozinhos, mas fazem parte de uma família de rap indie chamada RZO. O diferencial deles está apenas nos “sons de pista, mas com a ideia certa”. A RS usa a terceira pessoa ao opinar, utilizando o efeito de distanciamento. Na página 115, o título “Depois daquele tango”, na seção Hermanos , indica que a cena indie está invadindo a , advérbio “Depois” dá a ideia de “o que está por vir” em substituição da cultura do tango. Novamente, um discurso a favor da cena indie . Nas duas primeiras edições, a RS tem um discurso a favor da cena, mas com matérias isoladas. Na edição três da revista não encontramos referência à cena i ndie . Já na quatro, apenas uma e fraca referência No entanto, a partir da edição de número 5, a cena ganha bastante visibilidade. Principalmente com a chamada na capa “A música que exportamos, mas não ouvimos”. Esta reportagem de oito páginas (58/65) fala da turnê intercontinental das bandas Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê. A reportagem destaca o diferencial da cena indie brasileira: “é a primeira vez que os balangandãs musicais para exportação não se chamam samba, bossa- nova, tropicália e vem da classe-média”. Subtítulo da matéria aprova a cena indie :

11

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

Cultuados no exterior e não tão bem vistos assim por aqui, novos artistas independentes mostram um Brasil universal que vai muito além da excentricidade verde-amarela. O samba, nossa legítima matéria-prima, agora divide espaço com o rock, o funk e o eletrônico para gringo ver – e isso é muito bom.

A turnê destas bandas é tratada com sensacionalismo:

Você acreditaria se há uns dois anos eu lhe dissesse que em pouquíssimo tempo bandas ‘ indie ’ brasileiras, daquelas com trejeitos e manhas tipicamente paulistanos, seriam mundialmente conhecidas e viveriam intermináveis turnês planeta afora? Aposto que não, eu também não acreditaria.

Ponto marcante é a exposição da atitude punk “faça você mesmo” encontrada duas vezes em formato de Box, ou seja, com maior visibilidade: “ ’Tem banda que só reclama que a gente dá certo e ela não dá. Vai lá e trabalha, faz alguma coisa. Foi o que a gente fez’ provoca Ana do

CSS ” e “’Liguei para o diretor, falei que não queria saber o que eu ia fazer, nem se iam pagar, mas que queria ajudar, por que se é pra fazer, pelo amor de Deus, faça direito’, narra Eduardo, dando de bandeja mais um exemplo do ‘faça você mesmo’ à moda pós-punk verde-amarela”. Apesar das bandas terem contrato de gravação com a gravadora independente Subpop , em nenhuma ocasião os artistas revelam que são indie s. Na foto principal da matéria, porém, a banda posa totalmente alternativa, com dedo no nariz, gestos estranhos com as mãos, passando uma imagem de pessoas estranhas. Na edição de número 6, a RS demonstra a cena indie numa reportagem especial novamente. Escrita por jornalistas da RS dos EUA, a matéria tem sete páginas (76/81) com sete bandas de estilos diferentes que eles consideram indie s. Compilei os principais trechos que indicam o comportamento e sonoridade das bandas segundo a RS: The Shins: “Com disco no topo da paradas, os reis da cena independente norte-americana colocam um pé inteiro no mainstream ”; ‘As bandas indie estão cada vez mais populares porque as pessoas estão cansadas de falsidade.’ Diz James Mercer, líder da banda.”;

12

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

The Klaxons: “A sensação do rock inglês quer fazer você dançar”; “Rótulo de rave por causa do suposto uso de drogas e shows que incluem luzes estroboscópicas”. Cold War Kids: “Canções cabeça e shows como você nunca viu igual”; “Mistura de blues, e new wave”. The Decemberists: “’Não escrevo estas canções só para divertir pessoas... Preciso ter uma relação com os personagens’ diz Colin Meloy, líder da banda”; “Surrealismo de contos de fadas para conquistar as massas independentes”. The Long Blondes: “Quatro bibliotecários e uma vendedora resgatam o glamour no rock”; “Kate Jackson é a líder de rock mais desejada da Inglaterra”. Grizzly Bear: “Os novos queridinhos da cena gay ”; “Atrai gays e também heterossexuais devido ao som chapante”. The Hold Steady: “A melhor banda de bar do rock norte-americano”; “Nada de novo, mas bem feito. Oscilam entre o indie e o mainstream ”. Nossa conclusão sobre esta reportagem é que a cena indie contempla várias cenas. Na banda The Shins encontramos um grupo de rock que preza por autenticidade (cena Rock); The Klaxons , uma mistura de rock e rave, uma cena dançante (cena Rock/Rave ); Na Cold War Kids , boa música e letras cabeças ( Blues , Piano e New Wave ); The Decemberists uma cena mais introspectiva, o que denota um público que gosta de literatura (cena surrealista/teatro); The Long Blondes , pessoas com empregos bem normais (bibliotecários) resgatando o glamour do rock (Glam Rock ); Grizzly Bear , indie gay e som para quem curte drogas alucinógenas (cena Gay e Hippies ) e The Hold Steady , pra quem curte bares e rock despretensioso (cena Rock ). O sensacionalismo entra em vigor novamente nesta edição, quando eles abordam que bibliotecários, ou seja, trabalhadores comuns estão resgatando o glamour no rock, indicando que um leitor qualquer pode ser realmente pop, assim como o título da matéria é uma ascensão ‘Quero ser grande’. Na edição de número 7, temos a inclusão de outro gênero musical na página 16, seção R&R, com o título “Na Vanguarda” (que significa “na frente”) e subtítulo ”Trilíngue, melódico e

13

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010 favorito da cena indie , o Vanguart planeja os próximos passos”, a banda cuiabense Vanguart , ganha visibilidade como “banda da cena indie brasileira mais famosa” incorporando o gênero folk norte-americano. A edição de número 8 demonstra duas matérias isoladas novamente. Na seção R&R, p.ina 28, com título ”Fora de Cena ” e subtítulo “ Sueco e indie , José González assume gosto pela MPB”, mostra um homem filho de argentinos que cresceu escutando música latina e brasileira, mas vive na Suécia. “‘Comecei a tocar violão influenciado por Silvio Rodriguez, Caetano Veloso, Chico Buarque e João Gilberto’ diz González”. “Aprendeu os primeiros acordes tirando canções dos Beatles e clássicos da bossa nova e depois se dedicou ao violão clássico e teve bandas de rock. ‘Acho que a mistura do aprendizado do violão com o indie norte-americano me trouxe para onde estou hoje’”. Na p.ina 29, da mesma edição, está a banda Pato Fu sob o título “Controle Total” e subtítulo “Pato Fu mantém a independência em álbum delicado e feito em casa”. Segundo a Rolling Stone, o Pato Fu está “abrindo mão da estrutura logística de uma gravadora em troca de liberdade artística”. “Sai tudo do nosso bolso”, diz a vocalista Fernanda Takai, “Faça você mesmo” mais uma vez. Temos, portanto, na RS oito, duas bandas que estão entrando na cena indie : o Pato Fu saindo pop/rock, e o José Gonzalez, que estava “fora de cena”. Na edição de número 9, sob o pretensioso título “Os novos escolhidos” e subtítulo “Nomes de peso da cena independente, eles sempre passaram longe do mainstream . Hoje, ganham reconhecimento por seus discos, atitudes e performances em festivais pelo mundo. Conheça as apostas internacionais da Rolling Stone”. As bandas e os principais trechos de cada matéria são os seguintes: Feist: “Celebrada por famosos, cantora canadense troca gritos da adolescência pela sutileza”; ‘Parei de tocar e disse: vocês podem têm que me dizer como é que conhecem essa música. Alguns gritaram LimeWire (software para download de músicas). Percebi que não estava começando do zero’. (cena pop/rock)

14

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

Peter, Bjorn and John : “Trio sueco ganha fama no tapa”; “Para negar a reputação pacata e sociável da Escandinávia”; “Mas, quando sobe ao palco, a banda se despe de toda a produção e se revela um trio pop afinado”. (cena pop/rock) Andrew Bird: “Cantor, multiinstrumentista e fazendeiro, ele assobia e compõe enquanto trabalho no campo”; “Bird consquistou fãs fiéis, ajudado em parte por esses shows solo, durante os quais se alternava no violão, violino e microfone” (folk/country) Regina Spektor: “Nascida na Rússia e queridinha dos Strokes , ela brilha com doces melodias”; “Vive feliz em um mundo surreal”; “Piano e voz.” (pop/surrealista) Deerhof: “Trio relembra Torre de babel com música minimalista”; “Intensidade e pop de vanguarda”; “Turnê pelos EUA e Europa com o Radiohead ”. (rock) Elvis Perkins: “Filho do astro de psicose usa passado trágico como inspiração para estreia como cantor”.(pop/rock) Explosions in the Sky : “Quarteto da terra de Bush cria rock instrumental imponente”; “Apesar de serem fruto do Texas, os caras do Explosions têm pouco interesse pelos principais produtos de exportação do estado: futebol e George W. Bush.”; ‘Não misturamos política e música’. Diz Munaf Rayani, guitarrista da banda.”(rock instrumental) Rodrigo y Gabriela: “Heróis da guitarra saem das ruas direto parar o sucesso indie .”; “As músicas cruzam as fronteiras do rock , do clássico e do folk , mas nunca diga que o som deles parece flamenco ‘Eu adoro flamenco, mas não queremos ser rotulados assim’ diz Rodrigo Sanchez”. (folk/metal instrumental) Of Montreal: “O vocalista exorciza a Britney Spears que carrega no coração”; “Mistura teatralidade espacial de David Bowie com o hedonismo sexual de Prince ”; (cena pop)

No palco, Barnes (líder) consegue exercitar seus músculos criativos ainda mais: os shows da Of Montreal apresentam esquetes cômicos, confete, vídeos e mais trocas de roupa do que uma apresentação de Madonna. O público, fiel, absorve tudo com prazer. Um show recente em Lãs Vegas, com censura de 21 anos, deu a Barnes a oportunidade de ir um mais longe: apresentar-se sem roupa.

15

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

The Fratellis: “Carreiro do trio escocês começou em um comercial de iPod .”; “ The Fratellis pode ser novidade nos EUA, mas a banda já foi classificada na Inglaterra como a mais nova da lista de candidatos a próximo Oásis.”; “O álbum é uma carnificina de 13 faixas de letras espertas, refrões que não fazem o menor sentido, e uma mistura alegre de metais com jeitão ska , piano pop e acordes de guitarra punk que lembram vagamente o som dos Libertines ”. (pop/rock) Temos aqui a exploração do rótulo indie em uma matéria produzida na matriz norte- americana da RS. Demonstra indie s que ganharam reconhecimento no mainstream , segundo a própria revista. Nesta matéria encontramos temos uma mulher explosiva na adolescência que começa compor em silêncio agrada ao público e ganha popularidade devido ao Limewire . Utilizando o gancho de pessoas públicas, as bandas Explosions in the Sky e Elvis Perkins ganham notabilidade pela RS dos EUA. Of Montreal não parece nada Indie , na matéria nada com independente está relacionado, está mais para pop, como Madonna ou Britney Spears. Peter, Bjorn and John, ganhou notabilidade pelo fator geográfico-cultural da Escandinávia, que parecia pacata. Rodrigo y Gabriela, dupla de bons músicos com influências que vão do trash metal até música mexicana que resolvem convergir o que sabem para as ruas, desenvolvendo uma espécie de “ trash metal folk ”. The Fratellis é uma banda de rock que, com ajuda do iPod , ficou conhecido na Europa. Regina Spektor , apadrinhada pelos Strokes , faz um som pop de piano com letras surrealistas. Assim como Deerhof , apadrinhado pelo Radiohead , que faz um som pop rock. E Andrew Bird , aproxima-se do fazendeiro músico e do leitor comum. Na edição de número 10, na página 24, com o título “ Indie s para sempre”, a RS julga como indie os integrantes da banda Jesus and Mary Chain simplesmente pela postura blasé. “Quando uma fã se aproxima, radiante, em seu vestido branco, os Reids dão um breve aceno sem sorrir ou cumprimentar a moça. Nada estranho se a mulher em questão não fosse a própria Scarlett Johansson ”. As matérias mais contraditórias das 12 edições estão localizadas nas RS dez e onze. A primeira, na página 10, com o título “ Mainstream Independente”, em que própria RS admite a contradição com o subtítulo “Contrariando rótulos, a 10ª edição do Porão do Rock leva a Brasília

16

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010 uma estrutura de festival de grande porte”. Na RS onze, na página 118, com um grande título “Festival Indie Rock ” e subtítulo “São Paulo e recebem festival indie só no nome”. Estas matérias falam de um festival de bandas indie , mas com as estruturas e organização de um grande show pop .

CONCLUSÃO

Constatamos, à luz de nossa análise e através da Tabela de Referências Indie que a contraditória cena Indie da Rolling Stone é semelhante aos processos que sofreram, em outros tempos, o rock’n’roll (na sua origem), o punk (anos 70) e o grunge (anos 90). Podemos explicar este processo, em síntese, desta maneira: contextos culturais urbanos que eram alternativos e fechados em si ao começarem a aparecer na mídia são explorados e rotulados a fim de vender as bandas como um produto cultural de maior aceitação. Desta maneira a RS inclui bandas não identificadas com públicos nesta cena mais visível. Podemos notar certa imparcialidade por parte da RS nos discursos jornalísticos através do procedimento de ancoragem e afastamento: os textos das matérias são terminados, frequentemente, com a opinião dos artistas, não expondo assim, a opinião da revista. Algumas vezes, escapam elogios como na matéria Made In . Porém, não podemos esquecer que o local onde estão expostas as matérias na revista serve para contribuir com o significado final do texto. Como Indie e Pop são opções mercadológicas das bandas, ao incorporar estas bandas no seu conteúdo, a RS está expondo-as como Pop, ou seja, comercial. O discurso jornalístico da RS até poderia denotar um certo despreparo e falta de conhecimento especializado por parte dos redatores da publicação, mas os fragmentos de texto extraídos da revista e, principalmente, o local onde eles são encontrados indicam mais uma intenção de vender o produto cultural do que de contribuir para o meio musical. A maior parte das referências estão localizadas na parte inicial

17

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010 da revista e nas reportagens especiais e não na parte alternativa da revista, como as seções finais e a coluna “Cena Independente”. Finalmente chegamos conclusão que o discurso jornalístico da RS é apenas um produto cultural comercial e que este processo de exploração comercial pode ser definido como a “má retórica” de Platão, pois ele acontece em detrimento das origens dos termos indie e pop, da identidade das bandas e do papel informativo e cultural que esta revista deveria ter.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VILAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine : o texto em revista. São Paulo: Summus, 1996. – (Coleção novas buscas em comunicação; v. 52)

SODRÉ, Muniz. Reinventando Cultura : a comunicação e seus produtos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

PINTO, Milton José. Comunicação e discurso : introdução à análise de discursos. São Paulo: Hacker Editores, 1999.

MAINGUENEAU, Dominique. Os termos-chave da análise do discurso . Lisboa: Gradiva, 1997.

FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll : uma história social. Tradução de A. Costa. Rio de Janeiro: Record, 2002.

DeFLEUR, Melvin; BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da Comunicação de Massa . Rio, Zahar, 1993.

WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Underground >. Acesso em: 11/12/09

WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Mainstream >. Acesso em: 11/12/09

18

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

ANEXO

Tabela de Referências Indie

Títulos Subtítulos Referências Seção Bandas Gênero musical Independên Para Gilberto Indie, Rock RS CPM22, Ira!, Pop cia ou Gil, as Independência &roll 1, 23 NXZero, rock morte gravadoras (R&R) Hateen, indie estão em Planta e Raiz, alta. Ou não Tihuana, Leela e Supla O fim da Independência Indústria RS independên 1, cia 19. 808SEX Sexo, wasabi Artistas Acontece RS 808SEX EletroRock e electro dos independentes 1, pampas. 31. Céu de O fim de 2006 Música R&R RS Céu Pop Estrelas acrescenta a independente 2, (FRAGME paulistana 13. NTO DE Céu ao time TEXTO) das cantoras brasileiras que são, para nossa sorte, a cara deste século.

Função Independente Independente Acontece RS Função RHK Rap RHK grupo quer 2, mudar rap 29. nacional Além do Essencial para Independente Mixmídia RS Los Pirata MySpace divulgação de Vem aí no Internet 2, novas bandas, futuro 41. maior comunidade musical da Internet dita

19

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

as regras, gera clones e dá pistas do que vem aí no futuro.

Depois Revelações Indies HERMAN RS Los Alamos Rock daquele indies Independente OS 2, Bicicletas tango 115. entregam o jogo com Eps de covers Lulina Amor e Independente Acontece RS Lulina Folk humor com 4, Regionalist sotaque 39. a recifense Made in Cultuados no Independentes Especial RS Bonde do Funk, New Brazil exterior e não Indie 5, Role Wave, tão bem vistos “Você 58/6 Cansei de ser Rave, assim por acreditaria se 5. Sexy EletroRock aqui, novos há uns dois Capa artistas anos eu lhe independentes dissesse que mostram um em Brasil pouquíssimo universal que tempo bandas vai muito “indie” além da brasileiras, excentricidade daquelas com verde- trejeitos e amarela. O manhas samba, nossa tipicamente legítima paulistanos, matéria- seriam prima, agora mundialmente divide espaço conhecidas e com o rock, o viveriam funk e o intermináveis eletrônico turnês planeta para gringo afora? Aposto

20

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

ver – e isso é que não, eu muito bom. também não acreditaria.” BOX: “Em alguns países saímos do nicho do exótico e já despertamos outros interesses” Lenine. “A música que exportamos, mas não ouvimos”. Quero ser A era digital Indie Especial RS The Shins Rock grande rompeu frágil Cena 6, The Klaxons Rave linha que independente 76/8 Cold War Surrealista separava o “Sensação do 1. Kids Glam Rock alternativo do rock inglês” The Gay mainstream Massas Decemberists Hippie na música. “independente The Long Seja s”. Blondes revolucionand Resgatam o Grizzly Bear o gêneros, glamour no The Hold seja rock. Steady superando os “Os novos obstáculos da queridinhos cena, sete da cena gay”. bandas independentes se tornam protagonistas de fábulas de rock’n’roll – e narram os primeiros capítulos de suas histórias

21

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

de sucesso.

Na Trilíngue, Cena Indie R&R RS Vanguart Folk Vanguarda melódico e 7, favorito da 36. cena indie, o Vanguart planeja os próximos passos.

Fora de Sueco e indie, Sueco e indie R&R RS José González MPB cena José González 8, assume gosto 28. pela MPB.

Controle Pato Fu Mantém a R&R RS Pato Fu Rock Total mantém a independência 8, independência 29. em álbum delicado e feito em casa “Os novos “Nomes de Cena Especial RS Feist Pop escolhidos” peso da cena independente 9, Peter, Bjorn Rock independente, Candidatos a 60/6 and John Folk eles sempre próximo 5. Andrew Bird Country passaram “Oásis”. Regina Rock longe do Comercial de Spektor Instrumenta mainstream . iPod .”“. Deerhof l Hoje, ganham “Heróis da Elvis Perkins Folk Metal reconhecimen guitarra saem Explosions in Instrumenta to por seus das ruas direto the Sky l discos, parar o Rodrigo y atitudes e sucesso Gabriela performances indie.” Of Montreal em festivais Quarteto da The Fratellis pelo mundo. terra de Bush Conheça as Nascida na apostas Rússia internacionais

22

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

da Rolling Stone”.

Indies para Os bastidores “Mas a atitude R&R RS Jesus and Rock sempre da volta do pós-punk eles 10, Mary Chain Jesus and não 24. Mary Chain abandonaram” Indies Mainstream Contrariando Mainstream R&R RS Mudhoney Metal Independen rótulos, as 10ª independente 10, Sepultura Grunge te edição do Mark Ann, do 25. Angra Nação Mangue Porão do Mudhoney, o Zumbi Born a Beach Rock leva a menos indie Lion Brasília uma entre os BellRays estrutura de Indies. Satan Dealers festival de grande porte. A banda Assumindo a Independência Especial RS Autoramas Rock que nunca independência 10, existiu e criando seu 82/8 próprio 6. padrão, o Autoramas alcança o topo do seu mundo – e não quer parar de crescer Festival São Paulo e Indie Guia RS Lucas Pop indie Rock Rio de Janeiro /Shows 11, Santtana, Rock recebem 118. Hurtmold Instrumenta festival indie Seleção l só no nome Natural Magic Numbers Mombojó

23

TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação CESNORS Curso de Comunicação Social – Jornalismo Centro de Educação Superior Norte- RS 04 a 08 de Janeiro de 2010

24