Abre-Alas Segunda
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ÍNDICE Agremiação Página G.R.E.S. SÃO CLEMENTE 03 G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL 43 G.R.E.S. PORTELA 109 G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 167 G.R.E.S. PARAÍSO DO TUIUTI 243 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA 307 G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL 391 1 G.R.E.S. SÃO CLEMENTE PRESIDENTE RENATO ALMEIDA GOMES 3 “E o samba sambou” Carnavalesco JORGE LUIZ SILVEIRA 5 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2019 FICHA TÉCNICA Enredo Enredo “E o samba sambou” Carnavalesco Jorge Luiz Silveira Autor(es) do Enredo Jorge Luiz Silveira (Versão original de 1990: Carlinhos D’Andrade, Roberto Costa e César D’Azevedo) Autor(es) da Sinopse do Enredo Jorge Luiz Silveira Elaborador(es) do Roteiro do Desfile Jorge Luiz Silveira Ano da Páginas Livro Autor Editora Edição Consultadas 01 A batalha das GUIMARÃES, H. Rio de Janeiro: 2015 Todas ornamentações: A Rio Book´s escola de Belas Artes e o Carnaval Carioca 02 As Primas Sapecas BALTAR, A.; Rio de Janeiro: 2015 Todas do Samba: alegria, LEAL, E.; Novaterra e crítica e DATOLLI, V. Editora e irreverência na Distribuidora avenida. Ltda 03 Abre-alas: Enredos LIESA Rio de Janeiro: 1990 Todas do Carnaval 1990 Brasgraf Organização Gráfica Ltda Outras informações julgadas necessárias A pesquisa contou também com o depoimento de diversos baluartes da agremiação (Compositores, baianas, diretoria e etc...) sobre suas memórias do desfile de 1990. O objetivo deste contato era captar a essência e a memória viva do desfile original do G.R.E.S. São Clemente daquela ocasião. 7 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2019 HISTÓRICO DO ENREDO “E o Samba Sambou” No jogo do amor e do samba não tem regras: ou se tem, depende. Cartas na mesa, mesa virada. E o amor ao samba? Ah, camarada... Tudo tem seu preço e seu apreço. Quem tem padrinho não morre pagão! O brado retumbante de 90 ecoou com tanta força que se fez profecia: E o Samba Sambou... Da mesma forma que disse em 90, não sou dono da verdade. Também cometi meus pecados. A mesa virada tem lá minha digital. Assumida. Mas peixe pequeno frita mais rápido que peixe graúdo. Tá dado meu recado. Porém, jocoso que sou, faço piada de mim mesmo. Aliás, tenho isso correndo nas veias: meu DNA foi construído apontando o dedo em riste e sambando na cara da sociedade. Meu histórico me credencia. Basta olhar meu manancial. Esse de 90 tem um molho especial. Nunca antes na história dessa república se fez tão necessário reviver esse discurso. O planeta samba virou de ponta cabeça, inverteu a ordem, subverteu a lógica. Infelizmente, tudo que foi dito, de fato aconteceu (quiçá piorou!). E não tem jeito, tá na minha raiz primeira. No meio desse turbilhão, eu não podia faltar ao enfrentamento. Já que o recado não foi ouvido da outra vez, vamos novamente ser “fiéis” à nossa conduta e largar o chumbo grosso! Luz, câmera, negociação: tá no ar mais um espetáculo na tela. É fantástico! O sambista dá lugar a vedete da internet, que usa o GRES para ser manchete. Uma aparelhagem tecnológica digna de cinema ganha mais importância que o gingado generoso da mulata. Não tem jeito: virou Hollywood isso aqui. Mil artistas de verdade, que riscam o chão com sua herança, tem menos espaço na lente da câmera que atriz/apresentadora/promoter. Que sacanagem... Já começa errado quando a autoridade não reconhece que no carnaval quem manda é Momo! Não entregar a chave a Sua Majestade é um pecado mortal pros súditos da folia. Na pista, ganha o interesse: nossos símbolos culturais são substituídos pelo estrangeirismo barato. E como tem gringo no samba! Camarada, você não imagina o poder de uma credencial: é tanto aspone na avenida que parece que tem duas escolas desfilando ao mesmo tempo. No ritmo do samba moderno, uma correria contra o relógio; um verdadeiro “coopersamba”! E o povão...? É, esse ficou de fora da jogada. Nem lugar na arquibancada ele tem mais pra ficar. A grana entope os camarotes de sertanejo, música eletrônica e de todo tipo de som, menos o próprio dono da festa: o samba. Que mico minha gente... Olha o que o dinheiro faz! E por falar na grana, hoje a rainha paga pra sambar. Um verdadeiro dote de privilégios. Cadê as meninas da comunidade riscando o asfalto? Tudo tem seu preço e seu apreço camarada... Elas fazem tudo para aparecer na tela da TV, no meio desse povo! E a mídia “toda 8 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2019 poderosa” controla tudo a seu bel-prazer. Até mesmo a opinião pode ser comprada! Como não? Até o samba é dirigido com sabor comercial. Tem que ser registrado, carimbado, protocolado no escritório: uma verdadeira exportadora de “bois-com-abóbora”. E o samba vai se vendendo às vaidades, sendo usado como plataforma pra fulano, beltrano e quem mais quiser seus 15 minutos de fama. Que covardia... Carnavalescos e destaques vaidosos transformam a Sapucaí num verdadeiro ringue aos seus insaciáveis egos. E o samba vai perdendo a tradição... Mas eu sempre avisei. Eu sempre falei. E você sabe disso: o boi voou e denunciou a roubalheira, a galhofa, a bandalheira. Era profecia de uma chacota nacional. Eu, pequenino, quase rodei esse ano, triste feito um cão sem dono. Mas como “quem casa quer casa”, tô apaixonado pelo lugar que conquistei. “Não adianta jogar água malandragem”, “eu mato a saúva antes dela me matar”. Temos que cuidar do samba. Segurar essa mesa no lugar. Caso contrário, nem povão na arquibancada vamos ter mais pra nos aguardar, afinal “Quem avisa amigo é”. Temos que segurar firme essa onda. Pelo amor que temos ao samba, vamos preservar esse “antigo reduto de bambas”, para que as gerações futuras possam ainda curtir o verdadeiro samba. Jorge Luiz Silveira Carnavalesco 9 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2019 JUSTIFICATIVA DO ENREDO Cada escola de samba no Rio de Janeiro tem uma alma, uma identidade. Cada uma delas tem uma marca pessoal, desenvolvida ao longo de sua trajetória através dos enredos que leva pra avenida, da energia de cada comunidade representada. Essa incrível diversidade é um dos elementos mais ricos do carnaval carioca. Uma marca que o classifica como a maior manifestação da cultura popular do nosso país. A São Clemente trás consigo a marca histórica da irreverência. Nos anos 80, a escola da Zona Sul se consolidou através de uma sequência incrível de enredos críticos e divertidos. Oriunda de Botafogo, do carnaval de rua, do futebol, a preta e amarela absorveu no seu espírito a face mais gaiata do carioca. Seus desfiles se firmaram através de uma linguagem que sempre falou direto ao povo. Defender as causas da massa passou a ser a bandeira da São Clemente. Assim foi quando falou sobre o problema social dos menores abandonados nas ruas; sobre os problemas do trânsito; das maldades que assolavam a população; se rebelando contra o estrangeirismo cultural. Sua opção natural passou a ser o porta-voz de causas relevantes que incomodavam a população. Dentre esses históricos enredos, um se destaca de maneira emblemática: “E o Samba Sambou” – carnaval defendido pelos carnavalescos Roberto Costa, Cézar de Azevedo e Carlinhos de Andrade no ano de 1990. Pela primeira vez, uma escola de samba fazia uma sátira aos problemas do próprio carnaval. Um “meta-carnaval”, que em tom profético, chamava a atenção dos dirigentes sobre a forma como o samba estava sofrendo com as distorções na época. De maneira surpreendente, até mesmo para escola, aquele desfile renderia a melhor colocação da São Clemente na disputa em sua história: sexto lugar, tendo permanecido até os últimos quesitos em primeiro lugar. Esse momento se cristalizou no coração dos Clementianos e na história do carnaval carioca. Com o passar dos anos, as distorções cantadas em verso e prosa pelo desfile de 1990 se confirmaram. O poder econômico ganhou ainda mais força no carnaval, se tornando o fiel da balança da folia. Sambistas trocam de agremiação como jogadores trocam de time: o passe é negociado em cifras astronômicas. A festa popular ganha contornos de mega espetáculo, cercado pela mídia e pelos efeitos especiais. As tradições do samba vão sendo substituídas por parafernálias tecnológicas e subvertem a lógica. E o principal artista da festa, o sambista, vai tendo cada vez menos espaço diante da feroz competição. São tantos descaminhos na Passarela que chegamos a uma gigantesca crise de representatividade junto à população: dois anos seguidos sem rebaixamento por força de decisão dos dirigentes, contrariando a opinião pública. Pela primeira vez na história, até mesmo a prefeitura da cidade realiza severos cortes no orçamento das agremiações. De fato, “o samba sambou”. Diante desse cenário crítico que se desenhou ao longo dos anos, a São Clemente se sentiu chamada à sua responsabilidade. Os fatos que se avolumaram, mexeram profundamente com os pilares mais profundos do amor que temos pelo samba. O discurso de 1990 se tornou 10 Abre-Alas – G.R.E.S. São Clemente – Carnaval/2019 extremamente atual e necessário. Dessa forma, se tornou imperativo reviver esse momento e dizer novamente, em alto e bom som, que precisamos refletir sobre o futuro das escolas de samba. É necessário repensar a maneira como o dinheiro toma as decisões do carnaval. Mas, é preciso que se faça isso sem esquecer que é carnaval! É preciso fazer isso da melhor maneira possível: com alegria e irreverência, no melhor estilo São Clemente. Trazer esse tema novamente à Sapucaí se transformou numa grande celebração à alma Clementiana.