Situações Indígenas
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Cristina Martins Fargetti (Org.) Léxico em pesquisa no Brasil Araraquara Letraria 2018 LÉXICO EM PESQUISA NO BRASIL PROJETO EDITORIAL Letraria PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Letraria CAPA Letraria REVISÃO Cristina Martins Fargetti FARGETTI, Cristina Martins. Léxico em pesquisa no Brasil. Araraquara: Letraria, 2018. ISBN: 978-85-69395-24-9 1. Léxico; 2. Língua portuguesa; 3. Línguas indígenas; 4. Musicologia; 5. Ensino. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 6 Cristina Martins FARGETTI EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: A REVITALIZAÇÃO DAS LÍNGUAS 9 INDÍGENAS NO MUNICÍPIO DE MANAUS Ademar dos Santos LIMA A CULTURA MOÇAMBICANA CAMUFLADA EM 20 “O FIO DAS MISSANGAS” DE MIA COUTO Alexandre António TIMBANE PRESERVAÇÃO DO LÉXICO DO “HISTORIA NATUARALIS BRASILIAE” 39 ENTRE OS BARÉ E OS APYÃWA Aline DA CRUZ e Walkiria Neiva PRAÇA PROPOSTAS DE DICIONÁRIO E DE OUTROS MATERIAIS DIDÁTICOS NA 55 LÍNGUA WAPICHANA Ananda MACHADO O LÉXICO DESCRITIVO COMO FONTE DE ETNOCENTRISMO: A CARTA DE 65 PERO VAZ DE CAMINHA Caio Santilli ORANGES CULTURA, MEMÓRIA E IDENTIDADE: REFLEXÕES PARA UMA METODOLOGIA 72 DE PESQUISA DIALÉTICO-DIALÓGICA Carlos Eduardo da Silva FERREIRA PESQUISAS LEXICAIS DE LÍNGUAS INDÍGENAS: PROPOSTAS METODOLÓGICAS 85 Dacyo Cavalcante FERNANDES, Iago David MATEUS, Lincon Luiz VANETI e Cristina Martins FARGETTI LEXICOGRAFIA DE LÍNGUAS INDÍGENAS: ANÁLISE DO TRABALHO “O LÉXICO DA LÍNGUA TERENA: PROPOSTA DO DICIONÁRIO INFANTIL- 101 BILÍNGUE TERENA-PORTUGUÊS” Denise SILVA e Cristina Martins FARGETTI O ENSINO DE LÍNGUAS EM COMUNIDADES INDÍGENAS DE RORAIMA 116 Jairzinho RABELO “QUE CORTE COBRERO BRABO”: FORÇA PRAGMÁTICA DO VERBO EM 127 RITUAIS DE BENZEÇÃO NA COMUNIDADE SÃO DOMINGOS, CATALÃO-GO Jozimar Luciovanio BERNARDO O USO DO DICIONÁRIO NAS ABORDAGENS DE LEITURA E ESCRITA EM 143 PORTUGUÊS NA ESCOLA JURUNA Lígia Egídia MOSCARDINI e Cristina Martins FARGETTI METÁFORA EM NARRATIVA ORAL NO CONTEXTO INDÍGENA 152 Maria do Socorro Melo ARAÚJO MITO INDÍGENA SOB O OLHAR DA SEMIÓTICA FRANCESA 163 Maria Georgina dos Santos Pinho e SILVA BICHO FALANDO ERRADO: TRADIÇÃO E MUDANÇA NO CANCIONEIRO 174 ABÏ ALI MA’IYAHA - CANTIGAS DE NINAR JURUNA Marlui Nóbrega MIRANDA LEXICOLOGIA E DISCURSO: INTER-RELAÇÕES EM CONTEXTO 186 Parmênio Camurça CITÓ A ORIGEM DO NOME GOIÁS: O ONOMA COMO TERMO E REGISTRO 207 HISTÓRICO-SOCIAL Rayne Mesquita de REZENDE NOMINALIZADOR E RELATIVIZADOR EM ORO WARAM 220 (WARI’, PAKAA NOVA, TXAPAKURA): SIMILARIDADES E DIFERENÇAS Selmo Azevedo APONTES e Seung Hwa LEE AUTORIA E ORGANIZAÇÃO 234 APRESENTAÇÃO Este livro traz textos que resultaram de apresentações durante dois eventos por mim organizados, o “Encontro Nacional sobre Terminologia e Cultura”, em fevereiro de 2016, na UNESP, FCL-Ar, e o GT “As ciências do léxico e as línguas indígenas brasileiras”, durante o X Congresso Internacional da ABRALIN, em fevereiro de 2017. Todos pudemos contar com debate e troca de experiências entre autores, que possuem percursos acadêmicos diversos, atuando em áreas distintas, e origens também as mais diversas (de norte a sul do país e também do exterior) o que contribuiu para um produtivo diálogo. A relação entre a Terminologia e a Cultura permeou diversas discussões, e, embora essa seja uma abordagem que sigo1, os participantes tiveram a possibilidade de apresentar trabalhos mais voltados a suas pesquisas atuais, que, por vezes, não se aprofundam nessa referida relação, embora abordem assuntos referentes a ela, à área dos Estudos do Léxico (Lexicologia, Lexicografia, Terminologia, Terminografia), e à área de línguas e culturas indígenas ou locais. Nesse sentido, os capítulos que compõem este livro, embora tenham um diálogo de base entre eles, constituem-se textos autônomos, respeitando-se as opiniões e vertentes teórico-metodológicas de cada um. Por esse motivo, optei pelo título Léxico em pesquisa no Brasil, que não fixa a temática do livro em um tópico único, mas pressupõe novos olhares para assuntos referentes a uma área da Linguística, erroneamente considerada como apenas dedicada à confecção de dicionários (embora a isso também se dedique, obviamente). Iniciando o livro, Ademar dos Santos Lima nos apresenta resultados de pesquisa sobre a diversidade linguística nas escolas e espaços culturais indígenas do município de Manaus, Amazonas. Ele nos mostra que em torno de 90% das línguas indígenas são usadas pelos alunos apenas em contextos específicos de formalidade, como o ambiente escolar e os rituais. Isso o leva a apontar a necessidade de mais estudos sociolinguísticos, para o melhor conhecimento da situação linguística da região e melhor direcionamento de políticas que recuperem e valorizem o multilinguismo. Alexandre Timbane analisa o léxico da obra “O fio das missangas”, do autor moçambicano Mia Couto. Como Timbane também é moçambicano, temos uma análise detalhada de palavras que ora correspondem a neologismos, ora a moçambicanismos (influência de línguas bantu no português, como o xichangana), e apresentam traços da cultura moçambicana que fogem a um leitor estrangeiro. Mia Couto, embora famoso internacionalmente, é desconhecido em seu país, em que a aquisição de um livro é impossível para muitos, e em que a oralidade é forte, como nos aponta Timbane. Aline da Cruz e Walkiria Neiva Praça apresentam os resultados de pesquisa do léxico de Historia Naturalis Brasilae, publicada em 1648 por Willem Piso e George Marcgraf. As autoras levaram a comunidades Baré e Apyãwa a obra, com suas imagens de fauna e flora, e observaram o que esses povos ainda conservam de tais registros, sendo o primeiro falante de Nheengatú e o segundo falante de Apyãwa, ambas línguas da família tupi-guarani. Cruz e Praça trazem a reflexão sobre o diálogo entre os registros dos não-índios e as comunidades retratadas por eles. Ananda Machado reflete sobre estudos do léxico da língua Wapichana, falada em Roraima, comparando antigos registros da língua e de línguas próximas. Faz um questionamento sobre ortografia e sobre o ensino de línguas indígenas na escola, onde dicionários bem constituídos são sempre uma necessidade que move educadores, em diálogo com pesquisadores e falantes da língua. Com certeza a 1 FARGETTI, Cristina Martins. Estúdios del léxico de lenguas indígenas: ¿terminología?. In: Manuel GONZÁLEZ GONZÁLEZ; María-Dolores SÁNCHEZ-PALOMINO; Inés VEIGA MATEOS. (Org.). Terminoloxía: a necesidade da colaboración. 1. ed. Madrid: Vervuert, 2018, v. 1, p. 343-368. 6 variação de escrita pode levar a pensar na existência ou não de variação na fala, e isso pode apontar para direcionamentos distintos em obras lexicográficas. Em estudo lexicológico, Caio Santilli Oranges analisa os vocábulos que denotam etnocentrismo, ligado à compreensão da nudez, na Carta de Pero Vaz de Caminha. Ele define o que vem a ser este tipo de relação com o outro, com aquele que de nós se diferencia por pertencer a outra cultura, assumindo que, mesmo nós, na academia, também podemos ter um olhar etnocêntrico. Carlos Eduardo da Silva Ferreira, no capítulo seguinte, se questiona sobre a relação entre cultura e identidade. O ponto de vista da Análise do Discurso é trazido em uma reflexão sobre o linguístico e o imagético, apontando que o processo dialógico é constitutivo da identidade, o que põe em xeque o que vem a ser cultura em nossa sociedade e inclusive como nossa sociedade entende outras sociedades dela distintas. Com discussões sobre uma nova forma de compreender os estudos do léxico para línguas com pequena documentação, Dacyo Cavalcante Fernandes, Iago David Mateus e Lincon Luiz Vaneti apresentam comigo um relato de suas pesquisas, dentro de projeto maior vinculado ao Grupo LINBRA. Vaneti descreve o banco de dados por ele montado sobre termos de parentesco encontrados em dicionários de línguas indígenas. Mateus descreve o banco de dados sobre elementos musicais em tais obras e Fernandes sobre a cosmologia. Procuram esmiuçar os procedimentos metodológicos desenvolvidos por eles, em conjunto com outros membros do LINBRA. Tais procedimentos mostraram-se válidos e podem orientar outras pesquisas com bancos de dados, linguística de corpus. Denise Silva faz comigo uma análise de uma proposta de dicionário da língua terena, construída como uma dissertação de mestrado e voltada para o público infantil. Através de uma discussão de sua estrutura e das informações sobre a cultura do povo indígena, presentes nos verbetes, é feita uma crítica apontando as inconsistências e mesmo incoerências notadas. Tais aspectos justificaram a obra posterior de Silva, que buscou uma relação entre língua e cultura mais de acordo com uma etnografia adequada e uma melhor descrição da língua terena. No capítulo seguinte, Jairzinho Rabêlo discute a realidade da educação bilíngue intercultural no estado de Roraima, onde mais de 50 mil pessoas têm identidade indígena e fazem jus ao direito, garantido na Constituição, de uma escola diferenciada, que garanta as especificidades de suas línguas e culturas. Como sabemos, os direitos linguísticos, promulgados em Barcelona já há 20 anos, não saem muitas vezes do papel, estando as línguas faladas pela maior parte da população em melhores condições de conhecimento e registro. Aos índios, estes direitos pouco têm sido aplicados, mas vemos com esperança o que se desenvolve em Roraima, com apoio institucional para projetos de formação de professores, por exemplo. Jozimar Luciovanio Bernardo em seu capítulo condensa resultados da pesquisa desenvolvida no Mestrado em Estudos da Linguagem da Universidade Federal de Goiás, Regional Catalão (UFG/RC), “Dimensão mágico-religiosa da palavra em textos orais sobre a