2016 Junho 165.Pdf

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2016 Junho 165.Pdf EXPRESSÕES E EXPERIÊNCIAS VOZES DO BRASIL Rádio indígena online, a Yandê compartilha saberes e desconstrói estereótipos Ana Cláudia Peres loco e enviado das aldeias diretamente para nossa plataforma”, comemora. líder indígena Ailton Krenak conversa com o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro. A compositora Marlui Miranda manda um reca- “DE TODOS NÓS” do aos ouvintes. O correspondente em Mato OGrosso do Sul entrevista o líder Adhiel Terena sobre Yandê significa “nós”, em tupi. O nome foi esco- a 7ª Assembleia do Povo Terena, que aconteceu em lhido para batizar a rádio porque, segundo Anápuáka, o maio, em Campo Grande. O som melódico do Projeto objetivo é conversar tanto com indígenas quanto com os Kanorô — com Shaeneihu Yawanawa fazendo uma ode não-índios. Virou “Yandê – a rádio de todos nós”. Ele diz à chuva — invade a tarde. Mas em língua nativa também que, ao praticar uma linguagem midiática diferenciada, tem forró, pagode, reggae, heavy metal, black music respeitando a diversidade étnica dos povos indígenas, a e “música de sofrência”, como faz questão de avisar rádio cumpre o papel de compartilhar saberes e conhe- Anápuáka Tupinambá, um dos idealizadores da Yandê, cimentos desconstruindo certos estereótipos e imagens a primeira rádio indígena online do Brasil. distorcidas. “Tanto pra nós, realizadores e criadores, Com mais de meio milhão de ouvintes e audiência quanto para os ouvintes, a Yandê tem dado a oportu- em 40 países, a Yandê aposta em programação diversi- nidade de refletir sobre uma mudança de paradigmas”, ficada para divulgar a cultura dos povos indígenas em complementa. “A cultura indígena está em constante versão contemporânea, muito além do que contam os mutação, reinventando-se o tempo inteiro. O indígena livros de história. “Tudo o que a gente conhece sobre os não é mais apenas aquele ser do passado que caçava povos originários está batido. A mídia tradicional insiste e pescava na floresta. Ele pode estar ao seu lado no em apresentar os indígenas como se eles ainda vives- ônibus, dividindo uma sala de aula ou dando aulas”. sem em 1500”, diz Anápuáka. “O que nossa rádio faz A ideia da rádio como um instrumento de co- é mostrar como vivemos no presente, fora da imagem municação valioso para os povos indígenas vem ama- mítica e romântica, com toda a pluralidade da nossa durecendo há muito tempo. Teve como precursora a cultura e de nossas etnias”. Na grade de programação Webrádio Indígena, também sob a coordenação de da rádio, cabe tanto o cotidiano das aldeias quanto a Anápuáka, que foi ao ar em 2008, mas não conseguiu luta por direitos nos contextos urbanos, um debate se manter por muito tempo. “Tivemos problemas com sobre o Projeto de Emenda à Constituição (PEC) 215 a tecnologia, só conseguimos transmitir via streaming — que ameaça a demarcação de terras indígenas — [transmissão instantânea de aúdio e vídeo] por poucos quanto áudios enviados para a redação com denúncias, meses, cometemos erros. Mas tudo isso foi impor- músicas, entrevistas, cobertura de eventos. tante para o surgimento da Yandê”, diz. Idealizada e Para se manter online 24 horas, a Yandê conta levada adiante por Anápuáka juntamente com Renata com um grupo de 70 colaboradores conectados via Tupinambá e Denilson Baniwa, todos com experiências WhatsApp, espalhados pelas comunidades indígenas em comunicação e etnomídia, só em 2013 a rádio do território nacional, e dois correspondentes — Daiara ganhou o formato que tem hoje, tornando-se oficial- Tukano, de Brasília, e Vavá Terena, de Mato Grosso do mente a primeira rádio indígena online do país. Com Sul — que sugerem pautas e produzem conteúdo para sede em Niterói, Rio de Janeiro, venceu no ano passa- alimentar a rádio. “O jornalismo segue um formato mais do o Prêmio de Comunicação Jovem oferecido pelo livre. Não há um noticiário fixo e as notícias, em vez Ministério da Cultura (MinC). Pode ser acessada pelo de virem blocadas, vão entrando no ar à medida que site http://radioyande.com/ mas também por outras chegam na redação”, explica Anápuáka, acrescentan- plataformas a partir de aplicativos móveis. Na página da do que alguns conteúdos são reexibidos em horários Yandê, você pode cadastrar o seu email, enviar pautas alternativos. “A gente consegue ter acesso ao melhor e receber outras informações por meio do endereço: do conteúdo da cultura indígena, que é produzido in [email protected]. [2] RADIS 165 • JUN/2016 Nº 165 EDITORIAL JUN | 2016 Expressões e Experiências O trem da história • Vozes do Brasil 2 as últimas edições, Radis tem aprofun- querem reparação socioambiental pelo cri- Editorial Ndado a reflexão sobre como diferentes me da mineradora Samarco em Mariana, de • O trem da história 3 grupos sociais podem e devem ser acolhi- pessoas com deficiência, idosos, mulheres, dos e cuidados pelo SUS e pelas demais negros e jovens na Conferência de Direitos Cartum 3 políticas públicas. Desta vez, Adriano De Humanos. Ecoa a obra pioneira de Nise da Lavor mergulhou no universo de 50 mil Silveira, que resgatou com arte a humanida- Voz do leitor 4 brasileiros que vivem em situação de rua. de de seus “clientes” no manicômio carioca São mulheres, homens e crianças vagando do Engenho de Dentro. Súmula 5 “sem a proteção física e simbólica de uma Registramos as reações de pesquisado- casa”, analisa o editor, invisíveis para as res, organizações acadêmicas e movimentos Radis Adverte 8 políticas de Estado, sem saúde e direitos, sociais e culturais contra o retrocesso repre- frequentemente vítimas de violência por sentado pelas políticas e medidas anunciadas Toques da Redação 9 parte da sociedade e de agentes públicos. pelo governo interino de Michel Temer para Políticas sociais Surpreende a sabedoria e o grau de orga- as áreas de saúde, ciência e tecnologia, nização que muitos deles demonstram na comunicação, cultura, direitos sociais e tra- • "Na contramão" 10 luta por cidadania e respeito. balhistas, combate à fome, desenvolvimento Democracia O repórter fotográfico Eduardo de agrário, gênero, igualdade racial e direitos Oliveira também foi a campo registrar humanos. Uma composição que se move • Autocrítica e resistência 13 imagens, trabalhadas com arte pelo de- rapidamente na contramão do interesse signer Felipe Plauska, que captassem a popular e da Constituição de 1988. Combate à fome áspera existência dessas pessoas, sob a Fechada esta edição, a divulgação de • Agenda ameaçada 15 tênue proteção de cobertor e papelão, conversa indecorosa com o ex-diretor da entocadas em frágeis ninhos ou expostas Transpetro, Sérgio Machado, provocou a Capa / População em situação de rua e vulneráveis nos centros urbanos. Uma queda do ministro do Planejamento, sena- • À margem de direitos efetivos 18 realidade que lembra a advertência do dor Romero Jucá (PMDB-RR), e explicitou • Entrevista - Maria Lucia Santos Pereira: procurador público Humberto Jaques, em um pacto para barrar a operação Lava Jato Por um olhar mais humano 24 entrevista à Radis (no 26) sobre o direito começando pelo afastamento da presidenta • Vulnerabilidade para além da caridade 25 à saúde. “O trem da sociedade progride Dilma Rousseff, vista como um obstáculo quando a gente empurra o último vagão para o objetivo deles de reduzir a atuação Direito à comunicação [...] Você mede o progresso da sociedade de procuradores, delegados e juízes contra • Urgência democrática 28 pelo grupo vulnerável, pelo mais fraco.” a corrupção. Talvez só o distanciamento do • FNDC: 25 anos 29 Nesta edição, estão presentes as tempo permita uma análise completa dos vozes de leitores críticos que nos escrevem, acontecimentos em curso e saber se este Comunicação popular de coletivos de comunicação popular, das impeachment será ou não lembrado como • Rede de narrativas 30 múltiplas fontes do Canal Saúde na TV um golpe pelos livros escolares. Mas parece aberta, das populações indígenas na rádio que a fila dos que embarcam em direção ao Jornalismo e saúde Yandê na internet. Reverberam as vozes dos lixo da história só faz aumentar. • Uma TV para o SUS 32 estudantes que ocupam escolas na luta por mais qualidade na educação pública, dos Rogério Lannes Rocha Serviço 34 que lutam contra a homofobia, dos que Editor-chefe e coordenador do programa Radis Pós-Tudo • Nise: uma pioneira brasileira para CARTUM iluminar tempos obscuros 35 Capa Arte de Felipe Plauska sobre foto de Eduardo de Oliveira RADIS . Jornalismo premiado pela Opas e pela Asfoc-SN ROGÉRIO E CAROL N. ROGÉRIO E CAROL RADIS 165 • JUN/2016 [3] VOZ DO LEITOR Fila Aborto, não! sobre o tema não há como evitar que uero parabenizar ou estudante de medicina e uma venha a conviver com esta impor- Qa equipe pelas ex- Sprofessora sugeriu que eu assinasse a tantíssima questão de saúde pública celentes reportagens revista Radis para ter mais conhecimento para o resto de sua vida profissional, sobre a medida da sobre os assuntos de saúde pública no visto que trata-se de uma realidade fila (Radis 159). A Brasil. Percebi uma certa parcialidade da e a prática médica se faz no mundo matéria estava óti- revista em relação ao governo atual do real, com pessoas reais. ma, esclarecedora e nosso país, mas como algumas informa- objetiva. Concordo ções da revista me são úteis eu faço uma Infecção hospitalar com pesquisadores leitura crítica de revista e aproveito algu- migos da Radis gostaria de sugerir quando expõem suas mas reportagens no meu dia-a-dia. Porém, Auma pauta para próximas edições: opiniões de que a longa espera pode hoje senti uma indignação total. Como infecção hospitalar. Aproveito a opor- prejudicar a saúde e acarretar o aban- uma revista que trata sobre saúde pública tunidade para agradecer por meu nome dono do tratamento; e que a atenção pode postar uma matéria a favor do abor- ter sido mencionado na coluna a voz do básica deveria ser resolutiva, capaz de to? Com exceção de casos de anencefalia, leitor, obrigado mais uma vez! atender em “duas portas”.
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