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IV SELCIR – Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência

Dessilenciando os Golpes

01 à 05 de Dezembro Local: Universidade Federal do Pará Belém –Pará – Amazônia – Brasil

CADERNO DE RESUMOS

Augusto Sarmento-Pantoja Élcio Loureiro Cornelsen Gonzalo Leiva Quijada Rosani Úrsula Ketzer Umbach Tânia Sarmento-Pantoja (Orgs.)

www.selcir.worpress.com Belém – 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Reitor Prof. Dr. Carlos Edilson de Almeida Maneschy

Vice-reitor Prof. Dr. Horacio Schneider

Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Prof. Dr. Emmanuel Zagury Tourinho

INSTITUTO DE LETRAS E COMUNICAÇÃO

Diretor Prof. Dr. Otacílio Amaral Filho

Diretora Adjunta Profª. Drª. Fátima Cristina da Costa Pessoa

FACULDADE LETRAS

Diretora Prof. MSc. Elizabeth Ferreira Vasconcelos de Andrade

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS

Coordenadora Profª. Drª. Germana Maria Araújo Sales

Vice – Coordenadora Profª. Drª. Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira

COMISSÃO ORGANIZADORA - IV SELCIR Prof. Dr. Élcio Loureiro Cornelsen (UFMG) Profª. Drª. Rosani Úrsula Ketzer Umbach (UFSM) Profª. Drª. Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA) Prof. Dr. Gonzalo Leiva Quijada (PUC-Chile) Prof. MSc. Augusto Sarmento-Pantoja (UFPA)

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COMISSÃO EXECUTIVA Abílio Pacheco de Souza Ana Lilia Rocha Carlos Augusto Carneiro Costa Elielson Figueiredo Ladyana Nazaré Souza Ferreira Lourdes Nazaré Souza Ferreira Veridiana Valente Pinheiro Viviane Dantes Moraes

CONVIDADOS Eduardo Pellejero – UFRN Élcio Cornelsen – UFMG Godofredo de Oliveira Neto – UFRJ Gonzalo Leiva Quijada (PUC-Chile) Idelber Avelar – Tulane University (EUA) Jaime Ginzburg – USP Juliana Gomes Leal – UFVJM Karl Erik Schollhammer – PUC/RJ Lizel Torney – Universidade de Buenos Aires (Argentina) Márcio Seligmann-Silva – UNICAMP Markus Klaus Schäffaeur – Universität Hamburg (Alemanha) Rosani Ketzer Umbach – UFSM Susana Guerra – Universidade do Porto (Portugal) Vinícius Mariano de Carvalho – King’s College London (Inglaterra)

COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Dr. Carlos Henrique Lopes de Almeida (UFPA) Prof. Dr. Eduardo Pellejero (UFRN) Prof. Dr. Élcio Loureiro Cornelsen (UFMG) Prof. Dr. Gonzalo Leiva Quijada (PUC-Chile) Profª. Drª. Rosani Ktzer Umbach (UFSM) Profª. Drª. Tânia Sarmento-Pantoja (UFPA)

COMISSÃO DE APOIO

Antonio Leandro Quintino Sena Deurilene Sousa Caio Mendes Aparício Fernandes Francisco Araujo Ivania da Silva Pereira de Melo Jacqueline Augusta Leite de Lima Larissa Eleres de Souza Ronaldo Junior Pantoja Rodrigues

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Caderno de Resumos do IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência – SELCIR – Belém – 01 a 05 de dezembro 2014

Editoração: Augusto Sarmento-Pantoja Capa: Augusto Sarmento-Pantoja

Contato dos Organizadores: [email protected] [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência – Caderno de Resumos/Augusto Sarmento-Pantoja; Tânia Sarmento-Pantoja (organizadores). Belém: Programa de Pós-Graduação em Letras, 2014.

ISBN: 978-85-677470-01-10.

1. Literatura. 2. Educação. 3. História. 4. Arte. 5. Cinema

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APRESENTAÇÃO

O IV Seminário Nacional Literatura e Cinema de Resistência - SELCIR em 2014 encontra-se em sua quarta versão. Com uma periodicidade bienal, temos a preocupação de fortalecer a cada ano as relações entre os grupos de pesquisa Estudos de Narrativa de Resistência (NARRARES) e Estéticas, Performances e Hibridismos (ESPERHI) com grupos de pesquisa e pesquisadores preocupados em discutir as relações entre literatura, cinema, arte e resistência. Criado em 2008, hoje o SELCIR possui a colaboração de pesquisadores de vários lugares, fazendo com que a coordenação do evento que era formada exclusivamente por professores do Pará, passe a receber outros pesquisadores, como o Prof. Dr. Élcio Loureiro Cornelsen, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); a Profa. Dra. Rosani Úrsula Ketzer Umbach, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); e o Prof. Dr. Gonzalo Leiva Quijada, da Pontifícia Universidade Católica do Chile (PUC-Chile ). Sabemos do desafio que é reunir pesquisadores de ponta no extremo norte do Brasil para debater durante uma semana suas pesquisas e colaborar com o desenvolvimento da divulgação científica e intelectual das áreas de Arte, Estética, Humanidade e Literatura. Entre os principais temas que serão abordados no período de 01 a 05 de dezembro de 2014, estão o da “Resistência”, cunhado das pesquisas de Alfredo Bosi, referenda a necessidade de opor-se a uma força superior a sua, que tenta a todo custo subjugar, submeter, massacrar, destruir.

Os organizadores

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SUMÁRIO

Cena de narração e a cena em testemunho 13 Abílio Pacheco de Souza O fantástico e o duplo, tempo e transformações, presentes na obra O outro de 13 Admilton Alves da Rocha O documentário moçambicano como ferramenta de resistência (ao regime 13 colonial português) e de manutenção da memória Alex Santana França De máquinas e tortura: dor e medo na literatura. 14 Ana Lilia Carvalho Rocha Gabeira: memória dos anos de chumbo 14 Andresa Maria Bezerra da Silva A verdade ainda que tardia n’a casa de vidro 15 Anna Mônica da Silva Aleixo Testemunhar uma ausência: a primavera e a pátria roubada de Benedetti 15 Antonio Martínez Nodal : o canto e a fúria na abl 15 Arlan Ferreira Santos Sobre o documentário performático do pós-64 16 Augusto Sarmento-Pantoja Assentamento, de Rosana Paulino: uma iluminação do passado escravista 16 brasileiro Auliam da Silva “Amanhã há de ser outro dia”: opressão e resistência na canção Basta um dia, 17 de Francisco Buarque de Holanda Benedito de Jesus Serrão Rodrigues Futebol & Nazismo: reflexões sobre o conto "O massagista" 17 Breno Pauxis Muinhos Estado Islâmico usando a influência do cinema de Hollywood para a 17 promoção do terror Camila de Souza Nascimento La heroína de postguerra y la heroína moderna bajo la mirada crítica de 18 Benito Zambrano Cândida Assumpção Castro Humor e violência em Luís Fernando Veríssimo 19 Carlos Augusto Costa Literatura e historiografia na cronística oviedina 19 Carlos Henrique Lopes de Almeida Luiza Neto Jorge: a insurreição da palavra feminina como embate social 19 Carolina Alves Ferreira de Abreu

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Imbricamentos éticos e estéticos da representação da violência no romance 20 Cidade de Deus, de Paulo Lins Cecília Lara da Cruz Sergio Bianchi na contramão da resistência 21 César Takemoto Violência contra a mulher em conflitos e campos de refugiados: o caso sírio 21 em Zaatari – uma perspectiva pela ótica pós-moderna Christiane do Socorro Ramos dos Santos Gêneros textuais: um recurso estético para a resistência na literatura de 22 Benedicto Monteiro Cleide Lúcia Gaspar da Assunção Por uma face contra-hegemônica da construção de Brasília: narrativas de Um 22 vaqueiro voador Cristiane de Assis Portela Anna Lorena Morais Silva Retratos tão desiguais de Manaus na descrição de Cinzas do Norte de Milton 23 Hatoum Cristiane de Mesquita Alves Representações do feminino no poema de Mio Cid 23 Daniele Mendonça de Paula Chaves Memórias literárias sob a ótica dos conflitos políticos: marcas de um tempo 24 Dariane Roberta Pinheiro dos Santos Trauma e testemunho no filme documentário “A outra guerra” (2010) 24 Debora Suely do Espirito Santo Souza Justiça poética a literatura além do ponto final 25 Eduardo Pellejero Cinema, futebol e ditadura no Brasil 25 Élcio Loureiro Cornelsen O valor da tradução nos suplementos literários Arte-Literatura e Letras & 25 Artes Eldinar Nascimento Lopes Documentários brasileiros rompendo silêncios históricos e pessoais 26 Eliane Vasconcelos Diógenes Paulo Sérgio Souto Mota Corpos para não esquecer: o testemunho e a cena da tortura 27 Elielson Figueiredo El curupira: una propuesta para el desarrollo del lector literario 27 Erica Fernanda de Sousa Ribeiro HQ e trauma: o realismo traumático presente na obra “Na colônia penal” de 28 Franz Kafka Erlan de Oliveira Queiroz Rastros benjaminianos em Michel Foucault: a vida infame como história a 28 contrapelo. Ernani Chaves

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O tempo em "As margens da alegria" e "Os cimos" de Guimarães Rosa 29 Fabyolla Franco Medeiros Entre realidade e ficção: aspectos históricos-sociais em Machuca de Andrés 29 Wood Fernanda Costa da Silva Luciana: a voz da resistência no romance Os Habitantes 30 Flavia Roberta Menezes de Souza Resistência, esperança e sonho na literatura moçambicana, uma análise da 30 obra Terra Sonâmbula de Mia Couto Flávio Reginaldo Pimentel AIDS e literatura: narrativas (soropositivas) da persistência 31 Francisco Araújo O romance de extração histórica e o cinema 31 Godofredo de Oliveira Neto Cuerpo y dictadura: relaciones biopolíticas y aperturas artísticas 32 Gonzalo Leiva Quijada Shoah: tempo, arquivo, canção 32 Gustavo Silveira Ribeiro Gritos no silêncio da palavra, em Max Martins 32 Helenice Aparecida Carvalho Silva A Amazônia e a ditadura, ontem e hoje 33 Idelber Avelar Sala-palco ou sala de aula? 33 Igor Barbosa Marques Transgressão e resistência: o poliamor em O terceiro travesseiro, de Nelson 34 Luiz de Carvalho Ingrid Ferreira da Silva Os superstes imagéticos - cadáveres de militantes que são testemunhas. 34 Isabela Quaresma de Sousa Escrita e oralidade como resistência em Terra Sonâmbula 34 Ivânia da Silva Pereira de Melo O corpo na literatura e no cinema 35 Jaime Ginzburg A ideia de memória analizada na cronistica do novo mundo presente na obra 35 de Gonzalo Fernandez de Oviedo Jacqueline Augusta Leite de Lima Ser criança e agir como uma: reflexões sobre traumas e traços deixados pela 35 opressão. Jessica Marina Barbosa de Jesus Realidad y ficción en el descubrimiento del río de las amazonas, relación de 36 Gaspar de Carvajal Jocenilda Pires de Sousa

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Resistência e MPB: a perseverança nas músicas Cálice e Apesar de você 36 Jonilson Pinheiro Moraes Araguaia: campo sagrado (r)existência simbólica; poética alegórica 37 Josiclei de Souza Santos A questão dos desplazados colombianos na literatura e no cinema 37 Juliana Helena Gomes Leal Sobre corpos vitimizados em Larraín e Lemebel 38 Juliana Helena Gomes Leal Liberdade, poder e insubmissão em O processo de Franz Kafka 38 Julie Christie Damasceno Leal Mauro Lopes Leal O teor testemunhal no conto Helga de : um estudo de 39 memória e identidade Kamila Rodrigues Lima A história natural da ditadura 39 Karl Erik Schøllammer Minha guerra particular: uma saga norte-americana de uma afegã, a 39 naturalização do discurso da ONU Kellimeire Campos Pensar a resistência em processos em que Sapo vira rei vira sapo: análise do 40 discurso narrativo e da letra da canção A banda Ladyana dos Santos Lobato A relação entre testemunho, memória e trauma no conto O leite em pó da 41 bondade humana Larissa da Costa Arrais Os traços novo mundista de Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés 41 Larissa Elleres de Sousa Gabriela, Sodoma e Gomorra: a obra enquanto um releitura da narrativa 42 bíblica. Leno Serra Callins Dayane Miranda dos Santos A resistência como resultado da performance na obra “O prometeu 42 acorrentado”. Lígia da Costa Félix A reconstrução da história da Cabanagem em Lealdade de Márcio Souza e da 43 guerra civil em Moçambique em As duas sombras do rio de João Paulo Borges Coelho Liliane Batista Barros "Vidas singulares. estranhos poemas": um estudo sobre a infâmia em Eneida 43 Lilian Lobato do Carmo Memórias: cineclube e ditadura em Belém do Pará 44 Líria Natasha Sena do Vale Marcelo da Costa Tavares Sobre arquivos e fantasmas: memórias da repressão em Portugal 44 Lisa Vasconcellos

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Relatos que construyen sentidos. Las relaciones jerárquicas de género durante 45 el terrorismo de Estado (Argentina, 1975-83) Lizel Tornay Literatura e história: entrelaces da resistência nas obras “Órfãos do eldorado” 45 de Milton Hatoum e “Ilha da ira” de João de Jesus Paes Loureiro Lourdes Ferreira

A transgressão no arquétipo social feminino na personagem Conceição da 46 obra O Quinze. Lucilene Fernandes Miqueli O negro nos primórdios do cinema brasileiro: uma abordagem entre a 46 literatura e a imprensa Lucinéia Alves dos Santos As origens da guerra revolucionária e o uso da tortura pela ótica do 46 documentário Esquadrões da morte: a escola francesa – a história de um legado Luiz Guilherme dos Santos Júnior Ser ou não periférico? crítica e dependência cultural à luz do debate sobre 47 Machado de Assis Marcelo Brice Assis Noronha Das colagens à pintura: uma leitura do desamparo no “Corpo documental”. 47 Márcia de Souza Pinheiro A tradução de poemas de língua inglesa no suplemento literário do jornal 48 Folha do Norte Márcio Carvalho A performance testemunhal: ficções do real na arte contemporânea 48 Márcio Seligmann-Silva Literatura africana: a resistência de Mandela ao movimento étnico racial 49 Apartheid Marcus Vinicius Souza e Souza A resiliência das militantes torturadas durante a ditadura militar nas 49 representações artísticas Markus Klaus Schäffauer Repressão militar em cartas de personagens de O Minossauro de Benedicto 50 Monteiro Maria de Fátima do Nascimento Emancipação nos romances pós-ditatoriais: “Sinais de fogo” e “Pessach, a 50 travessia” Maria Tereza de Azevedo Memórias de resistentes políticos no poema campesino de España e no 51 concerto recuperando memoria concierto-homenaje a los republicanos. Marli Queirós Mourão O protesto dos mortos: um estudo sobre a crítica social presente na obra 51 Incidente em Antares. Neuton Vieira Martins Filho

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Uma análise da relação conflituosa entre os nacionais franceses e os 52 imigrantes africanos com base no filme Bem-vindo Paulo Victor Silva Rodrigues Autoritarismo na América Latina: uma análise do conto Un día de éstos, de 52 Gabriel García Márquez Raimundo Conceição de Araujo de Sousa Salvador: sucumbido por el vil garrote franquista 53 Rita de Cássia Paiva As atuais representações de realidade e ficção no novo romance histórico do 53 cenário pan-amazônico Ronaldo Júnior Pantoja Rodrigues Performance e resistência na tragédia Medeia de Eurípedes 54 Rosane Castro Pinto Narrativas autobiográficas como forma de resistência 54 Rosani Úrsula Ketzer Umbach A noção de ética e estética no testemunho de Derlei Cartarina de Luca: No 54 corpo e na alma Samantha Carolina Vieira de Oliveira A ousadia da narrativa machadiana no conto A cartomante 55 Shirley Kelly Mendonça Paula Imigração japonesa em Tomé-Açu- o campo como espaço de construção de 55 identidade cultural Subina dos Santos da Cruz Ramos Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima: epopéia em diálogo com as grandes 56 guerras Suene Honorato Torturador e torturado: notas sobre ficcionalização do trauma nos contos pós- 56 64 Suellen Monteiro Batista A batalha das imagens: apropriações da ditadura no cinema português 57 Susana Guerra Representação das vítimas do franquismo em Hernández e da ditadura militar 57 em Walsh Taislane Vieira Narrativas de resistência: relações de gênero e militância feminina em ¡Ay 58 carmela! e em Libertarias. Tamires Maiara Santos Araújo Sobre “um certo araguaia” 59 Tânia Sarmento-Pantoja A literatura de testemunho e a análise da experiência traumática na obra 59 Diário de Fernando Treicy pâmela castro pereira Representações da imigração japonesa em narrativas contemporâneas 60 Veridiana Valente Pinheiro

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O Brasil também tem literatura da segunda guerra mundial: a guerra em 60 Surdina de Boris Schnaiderma Vinícius Mariano de Carvalho A experiência do trauma ressignificada pela escrita da memória 60 Vitalina Rosa de Araújo O grotesco e o humor no cinema nazixploitation: a desconstrução do ideal 61 esteticonazista Viviane Dantas Moraes

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CENA DE NARRAÇÃO E A CENA EM TESTEMUNHO Abílio Pacheco1

Resumo: Em narrativas tradicionais em primeira pessoa, especialmente romances, é constituído um cenário para o desenvolvimento da narração, cenário em que muitas vezes há interação entre o narrador e o narratário (seja este leitor, ouvinte, destinatário de cartas...) mas cujos elementos do tempo presente anulam-se, apagam-se, dando lugar ao passado, ao tempo da narrativa. Nestas narrativas, assinaladas sob o mesmo nome próprio narrador e personagem apresentam-se distanciadas no tempo e na arquitetura do texto. O protagonista da/na narrativa é avaliado pelo narrador da/na narração conforme a experiência deste, seu amadurecimento, sua visão de mundo... Entretanto, em narrativas de testemunho, situadas na cisão entre ficção e realidade, e nas quais a fragmentação se dá – entre outras coisas – pela fusão dos tempos e desarticulação causal, justapondo e comprimindo-se narrativa e narração, em decorrência da experiência violenta e do trauma, a constituição desta cena de narração cerca-se de uma problemática decorrente da compressão cronológica e de certa anulação da distância entre narrador (-autor) e personagem. Em tais narrativas, à cena, diluída ou condensada numa autarquia semântica, ao mesmo tempo assumindo-se supra-cena no tribunal da História, atribui-se outra perspectiva na relação do narrador com a experiência e consigo mesmo personagem.

O FANTÁSTICO E O DUPLO, TEMPO E TRANSFORMAÇÕES, PRESENTES NA OBRA O OUTRO DE JORGE LUIS BORGES

Admilton Alves da Rocha2

Resumo: O trabalho a ser apresentado, tem por objetivo; difundir ao público que tenha interesse em conhecer por meio da obra " O outro" do escritor argentino Jorge Luis Borges algumas características existentes na Literatura Espano-americana. A análise feita nesta obra trará algumas particularidades que refletirão o Fantástico e o Duplo, a questão do Tempo e a vida do escritor na obra citada acima.

O DOCUMENTÁRIO MOÇAMBICANO COMO FERRAMENTA DE RESISTÊNCIA (AO REGIME COLONIAL PORTUGUÊS) E DE MANUTENÇÃO DA MEMÓRIA Alex Santana França3

Resumo: O cinema (desde as suas origens em 1895 e durante o período colonial) produzido em África ou sobre a África, estava, inicialmente, atrelado às políticas colonizadoras europeias para o continente africano e durou até o início das lutas anticolonialistas, que tiveram início nos anos 1950. Muitos filmes produzidos por cineastas europeus e americanos durante grande parte do século XX serviram como instrumento para subalternizar os povos africanos e justificar as políticas colonizadoras

1 Professor UFPA – Fale de Bragança – [email protected] 2 Estudante de graduação da Universidade Federal do Pará - [email protected] 3Doutorando em Literatura e Cultura - Universidade Federal da Bahia - [email protected]

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e imperialistas no continente. Ao contrário da visão ocidentalista da África que o cinema dominante difundiu, os cinemas africanos disseminam, em sua pluralidade, uma série de imagens e sentidos da África que, talvez, nenhum texto fosse capaz de resumir, passando a ser desenvolvidos como instrumentos de luta contra todas as formas de controle da liberdade, oriundas do processo de colonização europeia que afetou o continente como um todo e para a construção e afirmação da nacionalidade. Um exemplo disso é Moçambique que, dentre os países africanos de língua oficial portuguesa, possui a filmografia mais variada e um conjunto de realizadores com características diversas que continuam, até hoje, a produzir, apesar de não ter mais o apoio do Estado. Moçambique destaca-se na história dos cinemas africanos pós- coloniais por apresentar uma “infraestrutura de cinema nacional desvinculada do circuito cinematográfico comercial global e ao serviço da nação marxista que emergiu após o colonialismo português” (ARENAS, 2012, p. 75). Pretende-se, portanto, refletir sobre as produções cinematográficas realizadas nesse país, em especial o documentário, e suas contribuições para a construção e afirmação da nacionalidade, além da manutenção da memória.

DE MÁQUINAS E TORTURA: DOR E MEDO NA LITERATURA.

Ana Lilia Carvalho Rocha4

Resumo: O presente trabalho visa desenvolver trabalho investigativo acerca das configurações das categorias "corpo torturado" e "máquinas de tortura" a partir das representações destas em cenários de expressão da experiência envolvendo situações de dor e medo em narrativas da Literatura Universal. Pretende, sobretudo, verificar como as categorias referidas se apresentam na composição da cena da tortura e como estas influenciam nas representações de dor e medo dentro de narrativas literárias ligadas ou não a um estado de exceção.

GABEIRA: MEMÓRIA DOS ANOS DE CHUMBO

Andresa Maria Bezerra da Silva5

Resumo: A presente comunicação centra-se na análise do livro “O que é isso companheiro?” e do seu personagem inspirado no autor Fernando Gabeira. Escrito no período “Anos de chumbo” da história brasileira, na obra encontra-se a literatura de resistência ou testemunho, a qual de acordo com De Matos (2004), é uma intervenção de alguém de grande capacidade letrada em transformar o relato da testemunha em texto literário, e é nessa literatura de resistência que o autor quer mostrar os acontecimentos ocorridos naquela época de grande subversão, relatando também, a sua visão, papel e valor que ele e os integrantes da luta armada tiveram para resistir a esse período. Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo mostrar como a literatura de resistência ou

4 Doutoranda em Estudos Literários pelo programa de pós Graduação em letras da Universidade Federal do Pará - [email protected] 5 Estudante e graduação do Instituto Federal do Pará - IFPa. - [email protected]

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testemunho tem grande importância em mostrar os acontecimentos ocorridos nesse período e na preservação da memória deste país.

A VERDADE AINDA QUE TARDIA N’A CASA DE VIDRO

Anna Mônica da Silva Aleixo6

Resumo: Este trabalho tem por intuito, com base em paralelos, analisar as semelhanças entre as torturas empregadas no conto “A casa de vidro”, de Ivan Ângelo e a pintura “A verdade ainda que tardia”, de Elifas Andreato. Para tanto, usaremos Escritas da tortura (GINZBURG, 2001), Testemunha ocular: história e imagem (BURKE, 2004), e Brasil: Nunca mais (VÁRIOS, 2011), entre outros.

TESTEMUNHAR UMA AUSÊNCIA: A PRIMAVERA E A PÁTRIA ROUBADA DE BENEDETTI

Antonio Martínez Nodal7

Resumo: Em seu exílio espanhol, Mario Benedetti (1920) publica um romance de grande sucesso, Primavera com una esquina rota (1982) onde emerge o testemunho claro da ditadura no Uruguai entre 1973 e 1985, através do eco dolorido de personagens que têm perdido tanto o lugar geográfico, sua pátria, quanto seu lugar essencial, sua alma. Somente fica o vazio e o isolamento de pessoas com um futuro roubado pelo poder opressor. O efeito identificador com o autor, o depoimento extraordinário de um processo de isolamento de uma vida plena, o sofrimento do imigrante, a impossibilidade de enfrentar a ausência dos seres queridos, permite-nos refletir profundamente sobre uma época, um tempo de silêncios, de lutas, mediante o olhar de Santiago, o preso político; e a rendição e a memória histórica na pele do Senhor Rafael. Frente a uma nação e o domínio da obscuridade, cada um deles vai encontrar uma forma de sobreviver e compartilhar seu sentimento perante aquele acontecimento político, lembrar a importância de sua experiência.

FERREIRA GULLAR: O CANTO E A FÚRIA NA ABL

Arlan Ferreira Santos8

Resumo: Esse estudo se intenta a analisar como Ferreira Gullar, indicado ao Nobel de literatura em 2002 e eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2014, costurou o tema resistência em sua literatura a partir da década de 60, época em que fora perseguido pela ditadura militar; firmando-se quando de seu exílio, em 1968, e materializando-se em 1975, com a publicação do mundialmente conhecido Poema sujo, no qual o autor descreve a saudade da infância e o descontentamento com o presente vivido. Calcado em uma pesquisa analítico-comparativa, o escrito procurou, através de

6 Professora Especialista - [email protected] 7 Graduado em Letras pela Escola Superior Madre Celeste - [email protected] 8 Graduado pela Faculdade de Educação São Francisco - [email protected]

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um confrontamento entre as obras A luta corporal, de 1954, e João Boa-Morte, cabra marcado para morrer, lançada em 1962, características que comprovassem as declarações do escritor maranhense encontradas no documentário de Zelito Viana, O canto e a fúria, lançado em 1996, no qual Gullar explicita que somente a partir de 62 suas obras passaram a ter cunho político. Após as duas leituras, a diferença de escrita e objetividade do poeta maranhense saltam aos olhos do leitor, e um mergulho na história do escritor nem seriam precisos para determinar que o foco e a intenção mudam radicalmente de uma obra para a outra. A primeira dedica-se a apenas mostrar a arte de Ferreira, a arte concreta, e representa, de fato, uma briga entre o autor e a linguagem, a nova linguagem. Ele tenta romper com o discurso, com a sintaxe e o lirismo tradicional, chegando mesmo a fraturar a palavra e os fonemas e a incorporar sons abstratos, como aponta Domingues (2007). Para João Boa-Morte, a mudança beira a obscenidade de tão escancarada que se apresenta; o engajamento com as causas sociopolíticas é lançado claramente sobre quem se debruça em sua leitura.

SOBRE O DOCUMENTÁRIO PERFORMÁTICO DO PÓS-64

Augusto Sarmento Pantoja9

Resumo: Apresentamos algumas considerações sobre o documentário performático pós-64, pensado na chave de Bill Nichols ao considerar a existência de um documentário performático responsável por demonstrar "como o conhecimento material propicia o acesso a compreensão dos processos mais gerais em funcionamento na sociedade" (2005, p. 169). Desse modo, a leitura realizada pelo documentarista em sua obra será carregada de afetos, o que propiciará uma leitura, por parte do expectador, também mergulhada por afetos. Fazendo com que os leitores de um documentário performáticos estejam submersos às experiências e às memórias tanto individuais quanto coletivas que compõe o documentário, seja por conta das experiências salientadas pelo diretor/autor/narrador, seja pelas próprias experiências do leitor. Serão analisadas nesse estudo: "Que bom te ver viva", de Lúcia Murat; "No olho do furacão", de Renato Tapajós e Toni Venturi; e "Cidadão Boilesen", de Chaim Litewski. Tentaremos discutir de que maneira a categorização pensada por Nilchols pode ser amplificada nessas obras.

ASSENTAMENTO, DE ROSANA PAULINO: UMA ILUMINAÇÃO DO PASSADO ESCRAVISTA BRASILEIRO

Auliam da Silva10

Resumo: Nossa proposta de trabalho visa analisar a instalação artística Assentamento (2013), de Rosana Paulino. A artista, por meio de elementos visuais em sua instalação, realiza uma rememoração dos afrodescendentes escravizados no Brasil. Acreditamos que essa obra (além de apresentar uma das maiores barbaridades da história brasileira)

9 Universidade Federal do Pará-UFPA - [email protected] 10 Graduando pela Universidade da Amazônia – UNAMA - [email protected]

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atualiza a discussão sobre a falsa democracia racial no Brasil contemporâneo ao iluminar o passado dos negros escravizados que tiveram seus projetos de vida frustrados e violentados. Para o desenvolvimento de nossa análise partiremos das ideias de Walter Benjamin (1987), Michael Löwy (2005), Reyes Mate (2011) e Jeanne Gagnebin (2011).

“AMANHÃ HÁ DE SER OUTRO DIA”: OPRESSÃO E RESISTÊNCIA NA CANÇÃO BASTA UM DIA, DE FRANCISCO BUARQUE DE HOLANDA

Benedito de Jesus Serrão Rodrigues11

Resumo: Este trabalho focaliza o processo de resistência na ditadura militar no Brasil pelo viés discursivo com base na produção de sentido acerca da canção Basta um Dia, de Francisco Buarque de Holanda (Chico Buarque), ela desencadeia reminiscências da resistência no momento em que ela relampeja no presente. A associação foi feita com base no processo semântico-discursivo, que traz partes das experiências (opressor vs. oprimido) daquela “fase negra”.

FUTEBOL & NAZISMO: REFLEXÕES SOBRE O CONTO "O MASSAGISTA"

Breno Pauxis Muinhos12

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre a obra O Massagista de Duílio Gomes, publicada na coletânea Contos Brasileiros de Futebol, organizada por Cyro de Mattos. Como sugere o título, apontar-se-á principalmente para os elementos do nazismo e do futebol presentes no conto, todavia sem deixar de expor as características literárias gerais. Para tanto, realizar-se-á uma breve discussão sobre o nazismo no Brasil, alguns traços de sua origem na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial, bem como a relação entre História, futebol e Literatura. Além de uma exposição sobre estudos acerca de obras literárias que fazem uso do futebol, como elemento essencial de suas narrativas.

ESTADO ISLÂMICO USANDO A INFLUÊNCIA DO CINEMA DE HOLLYWOOD PARA A PROMOÇÃO DO TERROR

Camila de Souza Nascimento13

Resumo: Apresentação de algumas considerações sobre as ações promovidas pelo grupo extremista autointitulado Estado Islâmico na guerra do Iraque a partir da análise de alguns de seus vídeos e como eles utilizaram certos aspectos do cinema holiudiano para promover o terror contra o ocidente (Principalmente os Estados Unidos) a partir de vídeos de execuções de estrangeiros e vídeos caseiros que tem influência dos blockbusters estadunidenses para sustentar suas ações de terror no Iraque e mostrar

11Graduado pela Universidade Federal do Pará – UEPA - [email protected] 12Mestrando em Estudos Literários pela Universidade Federal do Pará - [email protected] [email protected]

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como os Estados Unidos os ensinaram e os transformaram nos “monstros” que são hoje. Querendo assim, promover uma verdadeira jihad contra a influência ocidental no Oriente Médio e a criação de um verdadeiro Estado Islâmico onde a Sharia seja seguida ao pé da letra, para que os infiéis sejam separados dos fieis e punidos conforme o Corão. A promoção da luta contra os infiéis para o EI usando de características culturais propagadas pelos Estados Unidos acaba por afeta não só a região, que é instável por natureza, como o próprio sistema internacional acabando com a teoria de os estadunidenses serem os protetores da paz já que foram eles mesmos que criaram de certa forma estes assim chamados terroristas tão temidos e combatidos por eles após os ataques de 11 de setembro de 2001, aliás, a autointitulação de “protetores da paz e da democracia” que os estadunidenses têm nunca foi tão contestada como hoje está sendo, principalmente quando se trata de combate ao terrorismo, por conta do surgimento de atores externos insurgentes que conseguem mostrar que podem ter tanta força quanto os EUA. Sendo assim, demonstrarei pequenas características desses fatores que contribuem para a atual situação de instabilidade que o Iraque está passando.

LA HEROÍNA DE POSTGUERRA Y LA HEROÍNA MODERNA BAJO LA MIRADA CRÍTICA DE BENITO ZAMBRANO

Cândida Assumpção Castro14

Resumo: Existen multitud de héroes significativos, detalladamente explorados tanto en la literatura como en el ámbito cinematográfico universal. En particular, analizaremos y descubriremos el papel fundamental de algunas mujeres relegadas históricamente, aunque, no por este motivo, su labor fuera menos importante. Nos referimos a las heroínas nacionales (KOTHE, 1985) españolas, desde una perspectiva política, tras la guerra civil española (1936 – 1939), mediante el estudio de la película La voz dormida (2011), de Benito Zambrano (1965), basada en la novela de Dulce Chacón (2002), con especial enfoque en sus dos personajes femeninos principales, Hortensia y Pepita, emparentadas y enfrentadas en luchas dispares. Y, de la misma forma, desde una perspectiva eminentemente social, a través de una feroz crítica a la actual realidad contemporánea con trazos de marginalidad en el Sur español, indagaremos sobre el filme Solas (1999), del mismo director. Revelaremos la tragedia de sus protagonistas, María y Rosa, su abnegada madre, representando de forma diafana temas de gran relevancia como: la soledad, el machismo, la violencia de género, el alcoholismo, el rol tradicional y único de la mujer en el pasado como madre o esposa y, como consecuencia, la falta de identidad e independencia social, la vejez, el abandono, etc. La contraposición y puntos comunes de este imaginario cinematográfico en base a sus poderosos personajes centrales nos ayudará a comprender y denunciar destinos silenciados, cuya resistencia merece ser declarada abiertamente.

14Professora Especialista da Escola Superior Madre Celeste – ESMAC - [email protected]

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HUMOR E VIOLÊNCIA EM LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Carlos Augusto Costa15

Resumo: Parcela significativa da produção literária de Luís Fernando Veríssimo elabora, através do humor, uma tentativa de compreensão e crítica da violência da Ditadura Militar de 1964, no Brasil. Em geral, são crônicas e contos que abordam temas como tortura, censura, desaparecimento de militantes de esquerda, práticas de apagamento de memória e a continuidade da violência, mesmo com o fim do regime. O presente trabalho se propõe analisar alguns textos do autor em articulação com a ditadura, dando destaque à questão da ética da representação literária. Objetivamente, a apresentação problematiza, em perspectiva histórica, a relação antagônica entre humor e violência em literatura, propondo algumas possibilidades de interpretação.

LITERATURA E HISTORIOGRAFIA NA CRONÍSTICA OVIEDINA

Carlos Henrique Lopes de Almeida16

Resumo: O presente trabalho tem como propósito o estudo da cronística do autor Gonzalo Fernández de Oviedo, no qual traçar-se-á uma análise que rastreia as influências da vertente literária no pensamento historiográfico presente em algumas das uas obras, considerando a presença de alguns reflexos imagísticos da herança e dos traços da tradição da Idade Média que se anunciam na construção da cronística de Oviedo. Ainda dentro dessa proposta, analisar os recursos presentes na escrita em que Oviedo utiliza dentro dos relatos descritivistas, ora caracterizando realisticamente o encontro com a natureza e os nativos, ora exercitando um toque requintado de reflexos literários, influenciado pelas autoridades e esquemas tão caros à tradição medieval e responsáveis por zonas de confluência que reforçam a porosidade do discurso presente nas cronísticas. Nessa oportunidade, apresentar alguns dos resultados alcançados pelas pesquisas.

LUIZA NETO JORGE: A INSURREIÇÃO DA PALAVRA FEMININA COMO EMBATE SOCIAL

Carolina Alves Ferreira de Abreu17

Resumo: Neste projeto de iniciação científica propôs-se fazer um estudo direcionado à abordagem do corpo erótico na obra poética da portuguesa Luiza Neto Jorge, no livro Corpo Insurrecto e Outros Poemas organizado por Floriano Martins. Essa proposta tem como objetivo considerar, por meio de uma linguagem poética e particular, a corporeidade do poema como um sujeito feminino em relação a sua identidade, seus limites e sua relação com os outros; o poema como ato sexual, relacionando-se com outro corpo, e seus limites no tempo e no espaço. Para isso, utilizamos como

15 Instituto de Estudos do Xingu/UNIFESSPA - [email protected] 16 Universidade Federal do Pará- UFPA - [email protected] 17Graduanda pela Universidade Federal do Amazonas - [email protected]

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fundamentação teórica sobre o erotismo as ideias de Georges Bataille, no livro O Erotismo, de Octavio Paz, no livro A Dupla Chama e as de Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo, acerca da libertação feminina das convenções e moldes patriarcais. Complementamos a base teórica com as ideias de Roland Barthes, no livro Aula, que discorre sobre as relações da linguagem como um ato de despoder. O sujeito do poema, com sua linguagem, necessita quebrar os preceitos que aprisionam a mulher ou o ato criativo da escrita, relacionando a ruptura de algumas normas da linguagem com a ruptura dos dogmas sociais, levando à reflexão sobre a realidade hostil e estereotipada imposta à mulher ocidental e sobre a possibilidade de reconstrução não apenas da linguagem como também da identidade nos tempos de opressão, entre 1930 a 1970, inclusive das ditaduras na Europa.

IMBRICAMENTOS ÉTICOS E ESTÉTICOS DA REPRESENTAÇÃO DA VIOLÊNCIA NO ROMANCE CIDADE DE DEUS, DE PAULO LINS

Cecília Lara da Cruz18

Resumo: O Verbo baleado: imbricamentos éticos e estéticos na representação da violência em Cidade de Deus, de Paulo Lins. Esta pesquisa consiste em investigar os imbricamentos éticos e estéticos da representação da violência no romance Cidade de Deus, de Paulo Lins. Consideramos como premissas para nossa investigação: (1) que a História da literatura brasileira é uma parte fundamental da memória coletiva de nossa sociedade, e (2) que a violência tem caráter constitutivo na formação da sociedade brasileira, uma vez que é marcada por traços do colonialismo, da escravidão e dos Estados ditatoriais do século XX. Essa presença de violência na História do Brasil está articulada tanto com as formas e os temas das manifestações artísticas brasileiras contemporâneas, inclusive as literárias, como com seus modos de produção e recepção. A chamada “literatura marginal”, da qual Cidade de Deus é um dos principais representantes, traz a violência, via contexto urbano, como protagonista. Procuramos apreender a inscrição da violência na obra, especialmente no que se refere aos limites e possibilidades de representação dentro da esfera da ética, considerando a própria impossibilidade da representação da catástrofe. As questões-problemas que abordamos dizem respeito à contaminação do ponto de vista e às questões de representatividade do autor; aos contornos dados para situações-limite, que não admitem termos de comparação; às implicações que a representação da violência traz ao realismo e à “visão interna” construídos por Paulo Lins e às possibilidades de relação da representação da violência no romance com os conceitos de trauma, testemunho e melancolia, da forma como eles têm sido trabalhados na crítica literária atualmente.

18Mestranda pela Pontifica Universidade Católica de São Paulo - PUC SP - [email protected]

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SERGIO BIANCHI NA CONTRAMÃO DA RESISTÊNCIA

César Takemoto19

Resumo: A comunicação visa mostrar como certa ideia de resistência estética é posta em cheque e problematizada pela montagem de situações da maquinaria cênico- cinematográfica dos filmes de Sergio Bianchi. Trata-se de ver, a partir de análises de cenas específicas de seus filmes, a forma como eles operam e fazem funcionar, de diversas maneiras e ao longo de sua obra, uma estética tão combativa e quiçá mais subversiva do que a assim chamada arte de resistência. A ideia básica dessa demonstração está na intuição de que é o próprio olhar desse sujeito da resistência - a maneira como a arte dita de resistência captura certa fantasia do espectador - que é posto em cheque e desnudado pelos procedimentos artísticos do diretor paranaense.

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER EM CONFLITOS E CAMPOS DE REFUGIADOS: O CASO SÍRIO EM ZAATARI – UMA PERSPECTIVA PELA ÓTICA PÓS-MODERNA

Christiane do Socorro Ramos dos Santos20

Resumo: Desde que teve início em 2011, o conflito sírio proporciona à comunidade internacional uma amostra de até onde os jogos de forças podem chegar em busca pelo controle do poder. Neste contexto, os refugiados são um grupo fortemente atingido por essas disputas. No campo de refugiados de Zaatari – campo de refugiados sírios na Jordânia – a onda de violência é severa. Acomete de forma desumana as mulheres, que além de sofrerem com os horrores dos conflitos, ainda têm que testemunhar sua dignidade, seus diretos e seus corpos violados. Este trabalho possui como objetivo produzir uma análise sobre a temática “violação da Mulher nos campos de refugiados sírios”. Para isso, houve a necessidade de se delimitar o espaço da pesquisa. Portanto, optou-se por abordar o maior campo de refugiados da Síria no Estado da Jordânia, país vizinho da nação em conflito. Zaatari abriga mais de 120 mil refugiados. Com lotação completa, é tido como uma “cidade informal”. Trata-se de um estudo de caso, pois o tema possui uma abrangência ampla e complexa. Por conta da contemporaneidade dos eventos, a pesquisa foi impulsionada por artigos jornalísticos, e amplamente influenciada pelo relatório da Human Rights Watch, intitulado “We are still here: Women on the front lines of Syria’s conflict (2014). Como referencial teórico, faz-se notável os teóricos pós-modernos Michel Foucault, por meio da teoria da Biopolítica e Giorgio Agamben, sobre o Estado de Exceção. A população feminina síria vive em um contexto de privações e não respeito aos direitos de comando da própria vida e das próprias ações.

19 [email protected] 20 Graduanda pela Universidade da Amazônia – UNAMA. [email protected]

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GÊNEROS TEXTUAIS: UM RECURSO ESTÉTICO PARA A RESISTÊNCIA NA LITERATURA DE BENEDICTO MONTEIRO

Cleide Lúcia Gaspar da Assunção21

Resumo: Benedicto Monteiro foi um paraense de Alenquer. Como político e jurista, atuou com eficiência na defesa do povo no que se refere à questão agrária do país. Foi, ainda, poeta, contista e romancista, denunciando os abusos da ditadura militar que o prendeu e torturou. Em sua Tetralogia Amazônica - composta pelos romances Verde vagomundo, O minossauro, A terceira margem e Aquele um - apresenta as dificuldades e injustiças por que passa o homem ribeirinho da Amazônia sem deixar de anunciar as problemáticas político-sociais do Brasil e do mundo. Para isso, o autor utilizou diversos gêneros textuais a fim de possibilitar múltiplos pontos de vista sobre questões debatidas em suas obras, como exploração da Amazônia, exílio, resistência, influência norte- americana sobre o governo brasileiro, entre outros. Cartas, contos, letras de música e relatório policial são alguns tipos de textos encontrados na literatura de Benedicto. Para as pesquisas deste trabalho, teóricos como Massaud Moisés e Ivete Walty serão utilizados como orientação para o estudo.

POR UMA FACE CONTRA-HEGEMÔNICA DA CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA: NARRATIVAS DE UM VAQUEIRO VOADOR

Cristiane de Assis Portela22 Anna Lorena Morais Silva23

Resumo: Partindo da conjunção de vieses da pesquisa histórica e da análise cinematográfica, propomos analisar a narrativa construída no filme Romance do Vaqueiro Voador (2007, Dir. Manfredo Caldas) - que rememora a construção da nova capital sob a perspectiva dos trabalhadores que a edificaram, confrontando-a com a narrativa produzida por Juscelino Kubitschek em seus discursos dirigidos aos operários da construção de Brasília, entre os anos de 1956 e 1960. Os discursos de JK são amplamente conhecidos e estão disponibilizados em publicações impressas e virtuais, além de disponibilizadas em acervos de arquivos públicos e privados, enquanto os relatos dos operários são ainda pouco conhecidos, o que demonstra que estas vozes foram silenciadas em meio a um processo circular de estigmatização social e invisibilidade histórica. Pelo país e pelo mundo, naquele período, circulavam matérias em jornais, revistas e rádio sobre a construção de Brasília. O próprio governo, já em 1957, criou a Revista Brasília, com o intuito de registrar e propagandear o andamento das obras. Além disso foram encomendados diversos filmes jornalísticos oficiais - os cinejornais - sendo grande o aparato midiático da época para se difundir os ideais positivos sobre a nova capital. Temos em Romance do Vaqueiro Voador um contraponto aos discursos tornados hegemônicos nas narrativas sobre a capital moderna. Consiste em um documentário poético baseado no poema homônimo de João Bosco

21 [email protected] 22 Doutora em História- Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) - [email protected] 23 Graduada em História- Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) - [email protected]

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Bezerra Bonfim. O filme se propõe a uma recriação do universo mítico do nordestino que, ao vivenciar a nova diáspora, agora no papel de candango, protagoniza o lado trágico da epopeia da construção da nova capital do Brasil. Assim, identificamos na obra elementos de resistência que possibilitam a construção de narrativas contra- hegemônicas e sinalizam novos horizontes de expectativa.

RETRATOS TÃO DESIGUAIS DE MANAUS NA DESCRIÇÃO DE CINZAS DO NORTE DE MILTON HATOUM

Cristiane de Mesquita Alves24

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar os espaços descritos da cidade de Manaus no livro Cinzas do Norte do escritor amazonense Milton Hatoum, apresentando os aspectos sociais e suas disparidades, as insatisfações quanto à política vigente no romance e as formas de resistências contra a força do Estado, as desigualdades sociais promovidas por um governo afeiçoado ao capitalismo e não ao povo e a cultura. Isso será feito por meio das análises literárias dos diálogos das personagens no decorrer dos parágrafos que compõem o romance. E para embasamento teórico, utilizar-se-á leituras de autores como Birman, Candido, Castello, Eco, Marcondes dentre outros para justificar as afirmações sobre os aspectos literários presentes na obra.

REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NO POEMA DE MIO CID

Daniele Mendonça de Paula Chaves25

Resumo: Em uma Espanha medieval altamente patriarcal e presa a fortes concepções de senhor e vassalo, Lacarra (1995) nos expõe três discursos que orientavam o papel social da mulher e sustentavam a visão de submissão desta em relação ao homem, a saber, o discurso eclesiástico, o jurídico e o cientifico. Com base nessas concepções nos propomos neste trabalho, estudar as representações do feminino presente na obra “O Poema de Mio Cid”, máximo representante da literatura épica espanhola. Buscamos aqui identificar como era concebida a figura do feminino na sociedade medieval e em que aspectos as três principais mulheres da obra nos refletiam tais concepções. Para compreender este pensamento que guiou a vida da mulher ocidental por muitos séculos, fizemos um breve percurso pelos dois principais discursos que nortearam a vida e normas de conduta da mulher medieval, a saber, o eclesiástico e o jurídico. Em seguida buscamos analisar essas representações nas três personagens femininas presentes no Poema de Mio Cid, como forma de obter um reflexo do feminino no medievo espanhol. Para o desenvolvimento deste trabalho nosso embasamento teórico esteve centrado em estudos de medievalistas que dedicaram suas vidas a compreensão do ideal de mulher na Idade Média ocidental como Dalarun (2000); Ocaña (1998); Lacarra (1995); entre outros, além de dos estudos de Le Goff (2007) no que tange a compreensão das normas sociais da Europa medieval.

24Pós-Graduação em Análise Literária pela Universidade do Estado do Pará - [email protected] 25 [email protected]

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MEMÓRIAS LITERÁRIAS SOB A ÓTICA DOS CONFLITOS POLÍTICOS: MARCAS DE UM TEMPO

Dariane Roberta Pinheiro dos Santos26

Resumo: Este estudo visa propor um estudo comparado nas narrativas, Filhos da pátria de Milton Hatoum e Um voluntário da pátria de Zuenir Ventura, que apesar de partirem de períodos diferentes têm em comum a essência do universo de repressão mediante a expressão da dor, do medo, da angústia, frutos de conflitos políticos que assinalam um período ditatorial de guerra, que tem como palco a Capital Federal, Brasília e a Palestina. Os elementos discursivos de opressão e de resistência servem de instrumento reflexivo para o campo literário e também para o histórico e sociológico, uma vez que suscitam profundas reflexões devido às marcas deixadas pelo mesmo. Nossa intenção primária é fazer recortes desses discursos dialogando com as categorias de memória e resistência partindo do princípio de que estas servem de base para se lançar um olhar crítico sobre tal período, pois as vozes se postergaram no tempo se mantendo vivas, embora tenham-se avançado décadas. No tocante a literatura, esta atua como fomentadora de um processo crítico, quando assume o papel de mediadora entre o espaço dos discursos e o leitor, possibilitando o reconhecimento de uma identidade coletiva no plano cultural e político de dois países.

TRAUMA E TESTEMUNHO NO FILME DOCUMENTÁRIO “A OUTRA GUERRA” (2010)

Debora Suely do Espirito Santo Souza27

Resumo: Durante a Guerra Colonial Portuguesa, sob os ditames da ditadura de Salazar os jovens portugueses que ou passavam quatro meses na guerra ou sete meses na pesca do bacalhau. Segundo depoimento, a pesca do bacalhau só existiu por causa da guerra. Este é o contexto do filme “A Outra Guerra” (2010), dirigido por Elsa Sertório e Ansgar Schafer, um documentário em que três amigos, Jaime Petinga, Joaquim Piló e José Figueiredo, relatam a bordo do navio “Creoula”, os acontecimentos ocorridos nas décadas de 60/70, quando ainda eram jovens pescadores. Em uma análise preliminar desse documentário verificamos alguns aspectos preponderantes, dentre os quais o trauma, pois os personagens revivem a dor da lembrança no momento presente, percebidos através do olhar e do silêncio; a tortura, cujos enfoques são os maus tratos sofridos pelos três amigos por parte do capitão e do contra mestre, que lhe impunham castigos severos dentro do navio; e o por fim a presença de posições antagônicas relativamente à ditadura e à guerra, pois o capitão dos navios pesqueiros exaltava a atitude de Salazar e confirmava as boas condições de trabalho dos pescadores, enquanto estes contradizem tais relatos. Com base nesses dados, será feita uma análise do filme, enquanto objeto de cultura relacionada à guerra. Para tanto, serão utilizados estudos de Walter Benjamim, Michel Foucault, Márcio Seligman-Silva, dentre outros.

26Graduada em Letras pela Escola Superior Madre Celeste – ESMAC - [email protected] 27 Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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JUSTIÇA POÉTICA A LITERATURA ALÉM DO PONTO FINAL

Eduardo Pellejero28

Resumo: John Berger dizia que, mesmo sem saber dizer o que faz a literatura nem como o faz, não ignorava que a literatura algumas vezes julgou os juízes, exortou os inocentes à vingança e mostrou ao futuro o sofrimento do passado para que não fosse esquecido. Berger queria lembrar-nos assim que, na sua singular posição de enunciação, subvertendo os códigos linguísticos, transgredindo a ordem do discurso e colocando o tempo fora dos seus gonzos, a literatura é capaz de problematizar a justiça nas suas formas históricas e redefinir os limites do direito num momento dado numa sociedade dada. O presente trabalho pretende explorar algumas formas singulares desses agenciamentos expressivos através dos quais a literatura faz da justiça poética algo mais que um tópico literário.

CINEMA, FUTEBOL E DITADURA NO BRASIL

Élcio Loureiro Cornelsen29

Resumo: Nossa contribuição visa a refletir sobre a relação entre Cinema, Futebol e Ditadura no Brasil, a partir da análise dos filmes de ficção Pra frente, Brasil! (1981), de Roberto Farias e, respectivamente, O ano em que meus pais saíram de férias (2006), de Cao Hamburger. Enquanto o filme de Roberto Farias constrói uma imagem do recrudescimento da repressão e da luta armada, em que o futebol parece apenas emoldurá-la como uma espécie de “ópio do povo”, o filme de Cao Hamburger, rodado já no período pós-ditatorial, centra seu foco na construção do olhar infantil diante da Ditadura e da Copa do Mundo de 1970, de modo a oferecer uma perspectiva sui generis para o embate ideológico, num dos momentos mais críticos da história recente do país.

O VALOR DA TRADUÇÃO NOS SUPLEMENTOS LITERÁRIOS ARTE- LITERATURA E LETRAS & ARTES

Eldinar Nascimento Lopes30

Resumo: Nos anos 1940 as traduções literárias ganharam visibilidade e destaque em dois dos maiores suplementos literários do Brasil: o Arte-Literatura, do jornal paraense Folha do Norte, e o Letras & Artes, do jornal carioca A Manhã, onde foram publicadas tanto textos literários quando textos ensaísticos sobre o ofício de tradutor. A partir do material catalogado, buscamos refletir sobre o papel que a tradução exerceu em não apenas instaurar um importante lugar a favor do diálogo literário e intelectual e de intermediação entre obra e público, mas, sobretudo, do intercâmbio cultural e social entre diferentes línguas a partir de um contexto político espinhoso e traumático: o pós- guerra e a pós-política repressiva varguista. Voltar à tradução, tendo em mente a sua

28 Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN – [email protected] 29 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) - [email protected] 30 Aluna da Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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importância em questionar ideias impassíveis e ações autoritárias, é elevar não somente a reputação do escritor, mas garantir a integralidade do pensamento, o direito à arte e o direito à voz. E isso de fato abriu caminhos para repensarmos a dialética passado e presente e o quanto nossa literatura precisava desse contato com o outro. O intercâmbio literário promove o enriquecimento da escrita e fomenta a cultura para que ela sempre esteja em construção, estimula a produção literária brasileira para novas expressões, fomenta o crescimento de cada indivíduo no aporte da experiência poética e acende às mundividências proporcionadas pela troca cultural.

DOCUMENTÁRIOS BRASILEIROS ROMPENDO SILÊNCIOS HISTÓRICOS E PESSOAIS

Eliane Vasconcelos Diógenes31 Paulo Sérgio Souto Mota32

Resumo: Este trabalho debate o fenômeno comunicacional contemporâneo no qual o sujeito, sob efeito do sofrimento gerado pelo assassinato de um familiar militante contra a ditadura militar, busca recuperar memórias e questionar a versão oficial das suas mortes, através da realização de um documentário. Constatamos nos últimos anos uma crescente produção e aumento de prestígio deste tipo de documentário e escolhemos duas obras para analisar: Diário de uma busca, 2010, dirigido por Flávia Castro que focaliza a história do pai Celso Castro, e Em busca de Iara, 2013, onde Mariana Pamplona enfoca o percurso da tia Iara Iavelberg. A discussão se fundamenta na interface entre as pesquisas provenientes da área da comunicação sobre as tensões entre o público e o privado no cinema documentário subjetivo e a teoria psicanalítica, através do paradigma de Sigmund Freud e Jacques Lacan, sobre o mal estar do sujeito na cultura e a perspectiva da sublimação. Em ambos os documentários, a primeira parte evoca a militância corajosa e destemida dos familiares, no caso o pai e a tia; e a segunda parte investiga e confronta entrevistas com familiares, amigos, militantes, policiais e médicos legistas, refutando a versão oficial sobre as condições de suas mortes; denunciando as lacunas. Diante do trauma da morte em condições suspeitas, as documentaristas realizam os filmes, inscrevendo a concepção de assassinato na história, como forma de romper silêncios de foro íntimo e coletivo. A marca destes documentários em primeira pessoa consiste em articular experiências particulares com histórias e memórias coletivas, o que configura uma modificação importante do documentário “clássico” político. A potência dos mesmos emerge da possibilidade de se resgatar determinados aspectos de uma situação pública pelo viés da subjetividade, com seu discurso sem pudores e emocionado sobre a história brutal.

31 Mestre pela Pontifica Universidade de São Paulo - PUC-SP - [email protected] 32 Mestre pela Pontifica Universidade de São Paulo - PUC-SP - [email protected]

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CORPOS PARA NÃO ESQUECER: O TESTEMUNHO E A CENA DA TORTURA Elielson Figueiredo33

Resumo: Este trabalho reflete acerca da cena da tortura e, particularmente, sobre o lugar descritivo que ela ocupa no testemunho de autores que sobreviveram a regimes autoritários. Considero que a prática da tortura teve como um de seus maiores objetivos provocar nas vítimas a perda das coordenadas cronológicas da vida, ou a supressão do registro do tempo, donde se esperava incutir no corpo torturado a vivência de um horror eterno. Através de uma visada panorâmica sobre textos de Jorge Semprun, Jean Amery, Frei Fernando, Catarina Meloni e Derlei Catarina de Luca, procuro discutir como a perda da temporalidade administrada conduziu as vítimas ao registro da topografia do cárcere. Objetos, uniformes, fossos, celas e demais espacialidades assumem forma verbal no testemunho sendo descritos de maneira imprecisa, mas indissociável da vivência do mal. Analiso trechos escritos pelos autores citados procurando revelar o trabalho dissociativo da memória e sua manifestação na escrita do testemunho. Em meio ao esforço para ordenar acontecimentos, figuram imagens de escatologia impregnadas de sensorialidade, entre as mais frequentes o odor, os gritos e o frio, descritos para recompor quadros dinâmicos emoldurados na subjetividade do sobrevivente.

EL CURUPIRA : UNA PROPUESTA PARA EL DESARROLLO DEL LECTOR LITERARIO

Erica Fernanda de Sousa Ribeiro34

Resumo: Ao estudar literatura percebe-se que alguns aspectos são memoráveis e inesquecíveis, principalmente quando o professor fornece uma mescla de imaginação, lúdicidade e impulsão a curiosidade dos alunos incentivando os mesmos de formas impensáveis. Assim, objetivo principal deste trabalho é mostrar que, quando a literatura é inserida na educação básica e apoiada no meio educacional de uma forma agradável (seja através de vídeos, fotos, histórias adaptadas, etc.). Os alunos estarão mais propensos a desenvolver suas habilidades de leitura e melhorar as outras três no caso de uma segunda lingua (oral, auditiva e escrita) tendo como base a abordagem da competencia comunicativa e leitora. A proposta metodologica apresentada aqui terá o objetivo de desenvolver o aluno para ser um futuro leitor literário através da lenda do curupira utilizando os recursos básicos, como vídeo, imagens, texto escrito, comparação entre o texto em uma lingua extrangeira e um na língua materna e assim por diante. Uma proposta desafiadora para ser utilizada em uma turma de 9º ano, através da qual será observada a condição autonoma do estudante e seu desenvolvimento frente uma história, texto, lenda, entre outros alem de expressar o minimo de vocabulário em espanhol. Com tudo, direcionamos o aluno ao debate e respectivamente ao raciocínio da realidade, sentimentos, cultura e principalmente leitura.

33 Universidade do Estado do Pará - elielson 34 [email protected]

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HQ E TRAUMA: O REALISMO TRAUMÁTICO PRESENTE NA OBRA “NA COLÔNIA PENAL” DE FRANZ KAFKA

Erlan de Oliveira Queiroz35

Resumo: O presente trabalho abordará o realismo traumático focalizando como objeto de estudo a novela ficcional em prosa intitulada “Na Colônia Penal” de Franz Kafka e em HQ (Sylvain Ricard e Maël), promovendo a análise e comparação entre as duas vertentes (obra original e HQ), enfatizando o realismo traumático presente nas reações dos personagens principais (condenado e oficial) em relação ao trauma, à opressão e a tortura. Além de se compreender o processo de transcriação realizado entre a obra original de Kafka e a HQ a partir de conceito do realismo traumático, possibilitando dessa forma vislumbrar por meio de elementos verbo-visuais pertencentes às histórias em quadrinhos, o trauma e o choque que os personagens destaques da narrativa enfrentam, além de fazer com que o leitor se depare ao observar na narrativa a conduta complexa daqueles que chamamos de “seres humanos”. Contudo, para adentrar-se nessa temática essencial desse trabalho, deve-se pensar a literatura como fundamento que expõe e facilitar a análise crítica do trauma inserido no homem contemporâneo causados pelos atos de tiranias e injustiças, que o sujeito enfrenta ao se depara com qualquer tipo de barbárie.

RASTROS BENJAMINIANOS EM MICHEL FOUCAULT: a vida infame como história a contrapelo. Ernani Chaves36

Resumo: Partindo de uma rápida consideração acerca das “afinidades eletivas” entre Michel Foucault e Walter Benjamin, em especial a propósito das suas respectivas concepções de história e historiografia, procurarei mostrar, nas suas linhas mais gerais, de que modo as considerações de Foucault acerca do filme de Renée Allio, de 1976, realizado a partir do dossiê “Eu, Pièrre Rivière, que degolei minha mãe, meu irmão e minha irmã”, nos permitem compreender a gênese das relações de poder-saber que se estabelecem, a partir do começo do século XIX, entre justiça penal e saber psiquiátrico. Esta compreensão nos permitirá mostrar: 1) em que medida, desde então, somos marcados por uma produção de subjetividade, na qual a distinção entre o normal e o patológico, se torna o fundamento de nosso ser e de nossa ação e 2) de que modo essa operação disjuntiva também marca, a ferro e fogo, o modus operandi dos regimes totalitários, de tal maneira que a resistência a esses regimes também precisa ser desqualificada como patologia, ao mesmo tempo em que a memória do resistente precisa ser apagada.

35 [email protected] 36 Universidade Federal do Pará- UFPA – [email protected]

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O TEMPO EM "AS MARGENS DA ALEGRIA" E "OS CIMOS" DE GUIMARÃES ROSA

Fabyolla Franco Medeiros37

Resumo: Este trabalho tem por objetivo analisar o tempo e as afinidades existentes entre as narrativas “As margens da alegria” e “Os cimos” do livro Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, principalmente no que diz respeito ao personagem Menino, protagonista dos dois contos. Primeiras estórias é um livro que reúne vinte e um contos cujos personagens principais geralmente são loucos e crianças. Mas, apesar de parecerem heterogêneos, os contos se tornam homogêneos à medida que se analisa um ponto específico em algumas estórias, como a relação que existe entre o conto inicial e final e o tempo que está presente em todas elas. Através da figura do Menino, personagem protagonista do primeiro e do último conto do livro, observamos uma criança que possui uma grande sensibilidade para questionar problemas que rodeiam a condição humana na terra, como a vida e a morte, desde suas primeiras descobertas. Sua evolução, com o passar do tempo, segue em dois caminhos opostos, mas com certa linearidade. Observamos esse progresso no primeiro conto, em que há a perda do peru e, depois, a esperança do encontro com o vagalume, no segundo conto, há a tristeza com o afastamento pela doença da Mãe, depois a alegria pela cura. Primeiro será abordada a vida e as obras do escritor brasileiro Guimarães Rosa. Depois serão feitas breves considerações sobre as vinte e uma narrativas baseadas nos estudos de Rónai (1972) e de Pacheco (2006). Em seguida, serão analisados os dois contos aqui expostos, no que se refere à semelhança entre eles, fundamentada nos estudos de Pacheco (2006), e o tempo em suas narrativas, baseada nos escritos de Nunes (1988). Por fim, será explicado o sentido das margens no primeiro conto e a travessia real ou imaginária no tempo e no espaço feito pelo Menino dos dois contos. Estudar a semelhança e o tempo que existe nas duas narrativas de Primeiras estórias torna-se interessante para um estudo mais aprofundado da obra, pois traz em seu interior uma ponte que liga o começo e o fim do livro, que representa uma travessia por onde passam as outras estórias, que se complementam entre si, à medida que o leitor estipula um ponto a ser analisado entre duas ou mais narrações.

ENTRE REALIDADE E FICÇÃO: ASPECTOS HISTÓRICOS-SOCIAIS EM MACHUCA DE ANDRÉS WOOD

Fernanda Costa da Silva38

Resumo: Adentrando a década de 70, um dos fatos históricos marcantes da América Latina, foram os chamados “Golpes Militares”, eles se proliferaram por várias nações, desencadeando uma chuva de horror, opressão e falta de liberdade por todos os países. Neste trabalho, buscamos apresentar os aspectos histórico-sociais que envolveram o Chile durante o seu regime totalitário. E para explanar esse acontecimento, utilizamos o cinema, que é o objeto de estudo do Projeto de Extensão: Luz, Cámara y Conversasión

37 Graduanda pela Universidade Federal do Pará –UFPA - [email protected] 38 Graduanda pela Universidade Federal do Pará –UFPA - [email protected]

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do campus de Castanhal. Através da exposição audiovisual, escolhemos o filme “Machuca”, 2004, dirigido por¬ Andrés Wood para a análise desse fato histórico-social, pois este revela, por intermédio de duas crianças, a realidade de um país oprimido por um regime militar. Dois mundos totalmente diferentes, onde uma se encontra a mercê da pobreza e a outra, desfruta do melhor do que se chamaria “a classe burguesa”, porém as duas crianças compartilham a mesma escolha, a companhia um do outro. Uma vez que vivem em um lugar onde a desigualdade social é a voz da sociedade e o poder do Estado. Logo, utilizamos alguns estudiosos para o embasamento teórico deste trabalho, como: NÓVOA (2008), LIMA (2012) e PINTO (2004). O traço empolgante e perfeitamente regido por Wood é o olhar dessas duas crianças, suas visões sobre o regime ditatorial, suas observações e reflexões sobre como o golpe que atingiu não só suas famílias, mas também todo ambiente sócio-econômico em sua volta, em especial, a escola. Uma amizade que ultrapassará preconceitos sociais e provocará, de certa forma, o governo repressor.

LUCIANA: A VOZ DA RESISTÊNCIA NO ROMANCE OS HABITANTES.

Flávia Roberta Menezes de Souza39

Resumo: Luciana é uma personagem singular na obra de Dalcídio Jurandir (1909- 1979). Um dos traços que a singulariza é a sua própria constituição enquanto personagem, uma vez que ela inexiste na diegese do romance por se encontrar morta. Entendendo a narrativa como um complexo conjunto de níveis narrativos (GENETTE, 1995, p.227), a presença de Luciana está sempre associada a um nível secundário da narrativa, que abriga uma memória, uma espécie de lugar (VILELA, 2000) de onde surge a voz da personagem, silenciada em vida. A memória dos familiares de Luciana revela na narrativa o silenciamento da voz dela e ao mesmo tempo a resistência dessa voz, uma vez que essa se apresenta como opositora à repressão vivida pela personagem em vida.

RESISTÊNCIA, ESPERANÇA E SONHO NA LITERATURA MOÇAMBICANA, UMA ANÁLISE DA OBRA TERRA SONÂMBULA DE MIA COUTO

Flávio Reginaldo Pimentel40

Resumo: O presente trabalho pretende fazer uma análise da obra do escritor moçambicano Mia Couto, Terra Sonâmbula (1992) fazendo um paralelo com a produção cinematográfica homônima dirigida por Teresa Prata (2007). A partir de questões como resistência, esperança e sonho, elementos presentes na obra de Mia Couto e que também se encontram presente na produção fílmica, podemos perceber que ambas as obras estão relacionadas e como esses elementos ajudam a entender a realidade de um país que vive uma guerra civil que dizimou a população pobre e miserável de Moçambique (1977-1992). A obra narra a história de um menino chamado Muidinga e seu “tio” Tuahir, que andam por uma longa e deserta estrada fugindo da

39 Mestranda pela Universidade Federal do Pará –UFPA - [email protected] 40 Mestre pelo Instituto Federal do Pará - [email protected]

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guerra. Em dado momento eles encontram uma série de escritos que quando lidos pelo menino eles conhecem a história de Kindzu. Através da leitura desse diário, entram num mundo de sonhos e esperanças, beirando o fantástico, pois Muidinga tem como objetivo principal reencontrar a sua mãe que foi perdida em dado momento da guerra cruel e sangrenta. Há uma tentativa de identificação por parte do menino, pois para ele a história lida é a sua própria história e junto com Tuahir põem-se a caminhar numa estrada fantasmagórica. A resistência encontrada em ambas as obras é a persistência dos personagens, pela insistência em alcançar o mar e consequente Farida, suposta mãe de Muidinga, conhecida por ele nas narrativas encontradas. Impossível de não perceber tais elementos em obras tão singulares e com uma beleza indescritível de narrativa, paisagem e atuação dos personagens.

AIDS E LITERATURA: NARRATIVAS (SOROPOSITIVAS) DA PERSISTÊNCIA

Francisco Araújo41

Resumo: A expressão por meio da linguagem literária é um dos poucos recursos linguísticos que o soropositivo utiliza para se proteger ou enfrentar o preconceito ainda implicados no adoecimento por Aids. Nesse processo, relatos são construídos, que oscilam entre o depoimento e o testemunho. Compreende-se nesta produção marginal a presença de um autor/narrador que necessita recorrer a pseudônimos, figuras de linguagem e signos-multívocos, ligados ao luto, ao desamparo, ao perecimento, para assegurar seu direto a expressão sem ameaçar ainda mais a chamada “sobrevida” fazendo da resistência um exercício de persistência. O estudo pretende, dessa forma, proceder à análise desse material com vistas a compreender esses aspectos.

O ROMANCE DE EXTRAÇÃO HISTÓRICA E O CINEMA

Godofredo de Oliveira Neto42

Resumo: Cinema e Literatura dispõem de possibilidades sintáticas e semânticas análogas, como o sistema referencial e o trabalho com o tempo, incluindo a interioridade psicológica. Como Arte, o Cinema e a Literatura não podem se propor a susbtituir o real - a grande ameaça, já que são composições amplas e flexíveis -, daí a inerência de processos estéticos próprios. Analisaremos o deslocamento do " real histórico" para o texto literário. Leitura de trechos do romance " Amores exilados".

41Graduando em Letras pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected] 42 Universidade Federal do - [email protected]

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CUERPO Y DICTADURA: RELACIONES BIOPOLÍTICAS Y APERTURAS ARTÍSTICAS

Gonzalo Leiva Quijada43

Resumo: La antropología de la corporalidad se ve asediada por las coyunturas de los Golpes de Estado en el Cono Sur. Se impuso un disciplinamiento del cuerpo social y del cuerpo individual, las resistencias son apagadas con la tortura y la muerte. Dichas prácticas establecieron represiones corporales que evidenciaron un cambio de paradigmas, la visualidad y las expresiones artísticas dejan en evidencia el cuerpo crispado, censurado marchito.

SHOAH: TEMPO, ARQUIVO, CANÇÃO

Gustavo Silveira Ribeiro44

Resumo: Shoah (1985), de Claude Lanzmann, é tradicionalmente lido como um baú de memórias, um manancial de testemunhos no qual muitos dos que estiveram diretamente envolvidos no genocídio dos judeus da Europa (sobreviventes, carrascos, observadores) escavam o passado em diferentes direções, buscando recuperar fatos e circunstâncias esquecidos. Propomos, em sentido diverso, ler o filme como uma história do presente, isto é, uma narrativa coral que se coloca, preferencialmente, em relação direta com o seu próprio tempo, registrando e refletindo a respeito do legado da shoah, mais do que apenas recuperando a memória dos mortos e descrevendo maquinaria do horror nazista. Para isso, duas questões serão importantes: a) a presença da música no filme – que constitui imagem privilegiada do problema em tela e b) modelo teórico para a relação passado-presente delineada pela narrativa de Lanzmann.

GRITOS NO SILÊNCIO DA PALAVRA, EM MAX MARTINS

Helenice Aparecida Carvalho Silva45

Resumo: Este artigo “Gritos no Silêncio da Palavra, em Max Martins” apresenta uma visão social de sua produção literária e consiste em uma análise temática acerca da condição humana marcada no interior de uma feira. São os Gritos Silenciados no poema “Ver-O-Peso”, pertencente à obra “H’Era” (1971). Entendemos que esse momento pontua um recorte na obra maxiana em toda sua produção artística (1952 – 2001), e que evidencia uma postura social diante de um fato que representa a imagem da sociedade local, com perspectiva ao universal: a exploração do homem pelo homem. Constitui assim, um desvio de toda sua produção artístico-poética, percebido sob dois aspectos como: o distanciamento de temas ou ideias do poeta sobre questões políticas, assim como trata das relações do homem e sua força de trabalho. O texto literário dá ênfase a um processo exploratório da condição humana, em que o eu lírico é percebido por um

43 Pontifícia Universidade Católica- Santiago do Chile – [email protected] 44 Professor Doutor da Universidade Federal da Bahia – UFBA – [email protected] 45 Mestre pelo programa de pós-graduação em Letras do Campus de Bragança – UFPA - [email protected]

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olhar contemplativo do poeta. O poema supra citado traz à tona um diálogo perverso entre homem e sociedade, manifesto desviante da condição humana e seus gritos silenciados, a partir da expressão poética. A abordagem desenvolvida está sustentada sob à luz de Bronislaw Geremak e Marie-Odile Goulet e R. Brach Branhan, pelo cuidado que tratam a temática em questão, a sobrevivência humana.

A AMAZÔNIA E A DITADURA, ONTEM E HOJE

Idelber Avelar46

Resumo: Este trabalho analisa tanto o discurso com que a ditadura militar formulou a integração da Amazônia ao capitalismo brasileiro como uma série de críticas a esse discurso. Da geopolítica de Golbery do Couto e Silva à retórica oficial acerca da Transamazônica e da hidrelétrica de Tucuruí, o regime militar concebeu a Amazônia como reserva energética, objeto de uma operação modernizadora e espaço vazio a ser colonizado. Vários indícios apontam para o ressurgimento dessa retórica nos últimos anos, na política energética e agrícola do governo federal, no tratamento das populações ameríndias e na insistência de que a Amazônia deve ser integrada a um projeto geopolítico estabelecido alhures. Com foco em obras literárias de João Gilberto Noll, Márcio Souza e Milton Hatoum, no relato autoetnográfico de Davi Kopenawa e em obras cinematográficas realizadas no marco do projeto Vídeo nas Aldeias, este ensaio analisa críticas e respostas a essa retórica oficial na literatura, na antropologia e no cinema.

SALA-PALCO OU SALA DE AULA?

Igor Barbosa Marques47

Resumo: Este trabalho tem como objetivo abordar a relevância folclórica-cultural amazônica presente nas compilações de Câmara Cascudo encontradas no suplemento literário Arte Literatura do jornal A Folha do Norte no período de 1946 - 1951 e em outras obras, que fomentam conceitos de mito, lendas, folclore e cultura popular. Considera-se que a arte e cultura contemplam as diversidades raciais, étnicas, religiosas, sociais e de gêneros, além de traçar um olhar mais abrangente sobre outras formas de organização cultural, harmoniza-se e organizam-se pensamentos atravessados pela interdisciplinaridade, na concepção de arte “enquanto elemento da Cultura” (CAUQUELIN,2005). Voltados para este eixo temático, tomamos como referência a Lei 5.692/71 que aborda o ensino da arte e cultura como parte da área de linguagens, denominada de Comunicação e Expressão - eixo das Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Leva-se também em consideração a fruição-percepção-interpretação no processo de codificação-decodificação desses textos literários encontrados no suplemento dominical Arte Literatura do jornal A Folha do Norte - instrumento de grande importância para a formação crítica e sensível do cidadão-aluno-criador amazônico na época, despertando um senso reflexivo, que consequentemente, desperta

46 Tulane University – [email protected] 47 Graduando pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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uma percepção artística, assim a arte, cultura e literatura amazônica poderiam ser consideradas como fomento primordial, eficiente e didático para o ensino-aprendizagem de conteúdos transdisciplinares dentro e fora de sala de aula.

TRANSGRESSÃO E RESISTÊNCIA: O POLIAMOR EM O TERCEIRO TRAVESSEIRO, DE NELSON LUIZ DE CARVALHO

Ingrid Ferreira da Silva48

Resumo: O poliamor é a tradução livre da língua inglesa para a língua portuguesa da palavra polyamory (palavra híbrida: poly é do grego e significa muitos, e amor, que vem do latim). Descreve relações interpessoais amorosas que recusam a monogamia como princípio de necessidade porém, esse tipo evolutivo de relacionamento afetivo-sexual, apesar de ser um movimento que já se popularizou no decorrer dos últimos 20 anos, ainda é considerado algo que foge dos padrões do amor burguês (monogâmico, um amor que exige exclusividade). Trata-se, em nossa avaliação de um relacionamento subversor em relação ao amor à dois, convencional e aceito como norma pela sociedade. Para dar conta desta hipótese faremos a análise do romance O terceiro travesseiro, do brasileiro Nelson Luiz de Carvalho, em que três personagens (Renato, Marcus e Beatriz) assumem um ménage a trois (amor à três), que suporta o preconceito da família e da sociedade para continuar seu romance.

OS SUPERSTES IMAGÉTICOS - CADÁVERES DE MILITANTES QUE SÃO TESTEMUNHAS.

Isabela Quaresma de Sousa49

Resumo: Esta pesquisa visa verificar as semelhanças encontradas em imagens fotográficas, coletadas em bases físicas e virtuais, de cadáveres de militantes assassinados na ditadura civil-militar de 1964. Com o auxílio das pesquisas sobre testemunho de karl Erik Scholhammer, Valéria de Marco, Márcio Seligmann-Silva, Eugênia Vilela e Giorgio Agamben, pode-se dizer que essas imagens podem ser compreendidas também como uma forma de Superste (o relato daqueles que viveram algum evento traumático e podem dar testemunho de tal).

ESCRITA E ORALIDADE COMO RESISTÊNCIA EM TERRA SONÂMBULA

Ivânia da Silva Pereira de Melo50

Resumo: Este trabalho aborda a escrita e a oralidade como forma de resistência tanto no romance Terra sonâmbula, de Mia Couto, como no filme homônimo de Teresa Prata. Trata-se do deslocamento de Tuahir, Muidinga e Kindzu, fugitivos da guerra civil em

[email protected] 49 Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected] 50 Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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Moçambique, que encontram na arte de contar estórias o apoio para resistir a tal cenário de destruição. Escrita e oralidade se complementam quando Muidinga empresta sua voz às estórias escritas por Kindzu, revelando enredos que misturam verdades e sonhos de outras personagens. Seja nas verdades sonhadas do romance ou nos reflexos da guerra mostrados no filme, a narrativa de Terra sonâmbula acontece em movimento circular, provocando assim, uma ideia de associação de espelhos quando as imagens do objeto, refletidas em circunferência, confundem o real e o virtual. Nesse espelhamento Muidinga e Kindzu também se confundem como autor e personagem, revelando apenas a necessidade de sobrevivência pela escrita e pela oralidade.

O CORPO NA LITERATURA E NO CINEMA

Jaime Ginzburg51

Resumo: Este trabalho examina as relações entre imagens de corpos e configurações artísticas de resistência à repressão. A hipótese consiste em que corpos submetidos a situações extremas estão associados a recursos referentes ao choque e ao estranhamento, em contraponto com modos habituais de percepção. Serão examinados, entre outros, Caio Fernando Abreu, João Gilberto Noll e Tata Amaral.

A IDEIA DE MEMORIA ANALIZADA NA CRONISTICA DO NOVO MUNDO PRESENTE NA OBRA DE GONZALO FERNANDEZ DE OVIEDO

Jacqueline Augusta Leite de Lima52

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar a cronística do novo mundo, que foi responsável pela formação de visões sobre a América a partir de reflexos literários, traços da tradição medieval, percepções realísticas, imagens do cotidiano nativo, buscando definir a ideia e o lugar da memória presente na obra de Gonzalo Fernandez de Oviedo. Para estes fins, faremos recortes da obra cronista, en os quais encontraremos marcas ou reflexos do uso da memória como estratégia narrativa, alem de analisarmos descrições presentes nos relatos documentados partindo das teorias de Taylor (1987), Le goff (1924), Carruthers (2011) entre outros.

SER CRIANÇA E AGIR COMO UMA: REFLEXÕES SOBRE TRAUMAS E TRAÇOS DEIXADOS PELA OPRESSÃO.

Jessica Marina Barbosa de Jesus53

Resumo: O presente trabalho visa fazer uma reflexão sobre as marcas deixadas em crianças e adultos pelas experiências em regimes ditatoriais opressores. Essas experiências transformam profundamente a vida dessas pessoas e, em razão de tanta repressão, repreensão, perseguição e tratamentos opressores, acabam assumindo

51 Universidade do Estado de São Paulo – USP – [email protected] 52 Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected] 53 Estudante de graduação pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - [email protected]

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características que fogem aos padrões comportamentais esperados para sua idade cronológica. Assim, por exemplo, crianças passam a ter atitudes, características e postura de adultos. Pretendo assinalar esses traços na trajetória da personagem Ofélia - do filme “O Labirinto do Fauno” do cineasta mexicano Guillermo del Toro - uma criança que cresce em meio ao regime franquista, enfrentando pesada hostilização por parte de seu padrasto que era um general do regime de Franco. Na tentativa de escapar das frustações e repressões trazidas a sua vida, Ofélia tenta encontrar a fuga para um outro mundo com a ajuda de seres fantasiosos. Dando sequência a esse pensamento, farei uma pequena reflexão acerca do poema “Nanas de la Cebolla” do poeta espanhol Miguel Hernandez, que traz como ponto crucial as futuras lutas que uma criança que ainda não nasceu terá que enfrentar, deixando claro, assim, a maturação precoce de uma criança como consequência da opressão. Como fundamentação teórica, farei uso do texto “Escritores Criativos e Devaneios” de Sigmund Freud, que discorre sobre uma relação entre o brincar de uma criança que faz uso do imaginário e a realidade do adulto que se espelha no que passou ou viveu.

REALIDAD Y FICCIÓN EN EL DESCUBRIMIENTO DEL RÍO DE LAS AMAZONAS, RELACIÓN DE GASPAR DE CARVAJAL

Jocenilda Pires de Sousa54

Resumen: El presente trabajo se ocupa de la expedición conquistadora de Francisco de Orellana y Gonzalo Pizarro que cruzaron el Río Amazonas en 1541, en busca del mítico reino de El Dorado como del País de La Canela. El artículo objetiva identificar la realidad y la ficción presentes en la relación escrita por Gaspar de Carvajal, fray de la orden de Santo Domingo de Guzmán, que fue designado a acompañar los expedicionarios y registrar todos los acontecimientos y hechos importantes, como la presencia del mito de las mujeres guerreras, las amazonas, que acompañaban a los conquistadores desde los primeros viajes en busca de nuevos mundos.

RESISTÊNCIA E MPB: A PERSEVERANÇA NAS MÚSICAS CÁLICE E APESAR DE VOCÊ Jonilson Pinheiro Moraes55

Resumo: O presente trabalho pretende analisar as formas de resistência que se apresentam nas músicas Cálice de Chico Buarque e , composta em 1973 e lançada em 1978, e Apesar de você, de composição de Chico Buarque, lançada em 1970. Para isso, nossa fundamentação teórica estará firmada principalmente no conceito de resistência elaborado por Alfredo Bosi em seu livro Literatura e Resistência (2002), que apontado que o conceito refere-se à oposição da própria força a força alheia. A partir da revisão bibliográfica faremos uma análise, levando em conta as características sócio-histórico-culturais encontradas neles e nas quais estão inseridos. Além disso, no campo da resistência observaremos como essas músicas estão tematicamente relacionadas à Ditadura Militar de 1964, ocorrida no Brasil.

54Possui Pós-Graduação em Língua Portuguesa e Literaturas – FIBRA - [email protected] 55Graduando pela Universidade do Estado do Pará – UEPA - [email protected]

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ARAGUAIA: CAMPO SAGRADO (R)EXISTÊNCIA SIMBÓLICA; POÉTICA ALEGÓRICA

Josiclei de Souza Santos56

Resumo: A presente proposta de comunicação analisa como o documentário Araguaia: campo sagrado, de Evandro Medeiros, estuda o evento da Guerrilha do Araguaia pela focalização dos camponeses que foram torturados e expropriados pelo exército a serviço da ditadura civil militar que sufocou a resistência dos guerrilheiros do partido comunista. Nosso objetivo é observar como o cinema, cuja dinâmica se inscreve em uma modernidade em que os objetos culturais se transformam em mercadoria para o consumo em massa, pode com uma preocupação alegórica de registro e memória, se aproximar esteticamente da dimensão simbólica de comunidades que tem sua realidade baseada na perspectiva ritual, convertendo um conflito próprio da modernidade, os projetos de sociedade, com suas racionalizações próprias alicerçadas no presente e no futuro, em narrativas atravessadas pelo sagrado, em que o existir se liga à tradição e ao passado. Nesse sentido a memória que se perde com a modernidade é recuperada e alimentada por recursos técnicos-estéticos da linguagem cinematográfica, fazendo vir à tonas as vozes silenciadas daqueles Benjamin chamou de os vencidos história.

A QUESTÃO DOS DESPLAZADOS COLOMBIANOS NA LITERATURA E NO CINEMA

Juliana Helena Gomes Leal57

Resumo: Pretendo com essa apresentação discorrer, tomando como referências artísticas a literatura e o cinema colombianos, a saber: os livros “Tierra quemada” (2013), de Óscar Collazos e “Desterrados: crónicas del desarraigo” (2005), de Alfredo Molano e os filmes “Pequeñas voces” (2011), de Óscar Carrillo e “Los colores de la montaña” (2011), de Carlos Arbelaez, sobre a questão dos desplazados internos colombianos, consequência nefasta do conflito armado, cuja violência, travestida de distintos uniformes: os das guerrilhas, das FARC, do paramilitarismo e até das forças armadas se confunde e confunde ao semear o terror no país. Estupros, sequestros, falsos-positivos, aliciamento de crianças, apropriação de terras de camponeses, etc., vão multiplicando miséria e dor e engordando cada dia mais a multidão de exilados internos na Colômbia, país andino que, vergonhosamente, lidera o maior número de desterritorializados ou desplazados em todo o mundo. Problemática político-social que já assolou mais de cinco milhões de pessoas, durante mais de cinco décadas, e que poderia ser definida pelo sociólogo colombiano Alfredo Molano por essa frase: “Siempre las guerras se han pagado en Colombia con tierras. Nuestra historia es la historia de un desplazamiento incesante, sólo a ratos interrumpido”. Ao falar dos desplazados colombianos, será inevitável não discorrer sobre o exílio interno vivenciado por algumas dessas vítimas, especialmente crianças e mulheres e sobre a potência do exercício da memória do drama presentificado desses grupos

56 Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA - [email protected] 57 Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM – [email protected]

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marginalizados enquanto arma de resistência e de denúncia da violação de direitos humanos.

SOBRE CORPOS VITIMIZADOS EM LARRAÍN E LEMEBEL

Juliana Helena Gomes Leal58

Resumo: Partindo de três metáforas: 1. a que tomei emprestada da letra da canção do canário Pedro Guerra, quando diz que “en el calcio del hueso hay una historia”; 2. o empenho da personagem Antígona, da tragédia de Sófocles, de exercer o direito divino de enterrar o irmão; 3. a situação enclausurante e sem saída a qual submetem K., protagonista do romance “O processo” de Franz Kafka, discorrerei acerca da denúncia a um processo de aniquilação, anonimatização ou invisibilização imposto às vítimas fatais decorrentes dos estados de exceção instaurados por golpes militares presente no filme Post mortem (2010), do diretor chileno Pablo Larraín e nas crônicas “El informe Retting”, publicada na obra De perlas y cicatrices (1998) e “De nuevo la búsqueda, otra vez la decepción”, divulgada no jornal La Nación, em 2006, do escritor chileno Pedro Lemebel. Produções artísticas estas entendidas como poderosos instrumentos de resistência à vergonhosa prática, ainda vigente, de silenciamento e desrresponsabilização que regem os discursos contrários ao necessário exercício da memória histórico-política dos países vítimas de regimes totalitários, especialmente os latino-americanos porque, segundo Josefina Ludmer, “na América Latina a memória é sempre política, um grito de justiça” (2013, p. 51).

LIBERDADE, PODER E INSUBMISSÃO EM O PROCESSO DE FRANZ KAFKA

Julie Christie Damasceno Leal59 Mauro Lopes Leal60

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo empreender uma análise da obra O processo, de Franz Kafka, pela perspectiva de Michel Foucault e Michael Löwy, levando-se em consideração a questão da liberdade, poder e insubmissão presentes na referida obra. Com base nesses pressupostos, nos propomos investigar, primeiramente, pelo viés do olhar foucaultiano, a postura do Estado no que se refere à detenção de Joseph K., personagem central da obra, uma vez que o mesmo é detido sem ao menos tomar conhecimento da acusação que paira sobre si, posto que, como acusado, parece ter os seus direitos violados e em certo sentido suprimidos. Nesse contexto, tem-se uma justiça que persegue o corpo, seja através do interrogatório, prática regulamentada por instrumentos e dispositivos de poder meticulosamente calculados; seja pela tortura engendrada pelo Estado, haja visto que K., encontra-se detido não no sentido físico (a acusação não lhe impede de continuar cumprindo com suas obrigações habituais), e sim no sentido de um jogo judiciário estrito que envolve sofrimento, confronto e verdade,

58 Doutorado. UFVJM - [email protected] 59 Mestranda pela Universidade Federal do Pará - UFPA - [email protected] 60 Mestranda pela Universidade Federal do Pará - UFPA – [email protected] 38

especificamente pelo fato de que, através dos mecanismos que vão da tortura à execução impetradas contra K., intenta-se chegar à verdade do crime, como se tais dispositivos pudessem demonstrar que o crime praticado por K. realmente ocorreu. Em um segundo momento, analisar-se-á a leitura que Löwy efetua da dimensão anti-burocrática da obra de Franz Kafka, levando-se em consideração a atitude libertária evidenciada pelo autor tcheco, enquanto crítica da autoridade impessoal do aparelho do Estado.

O TEOR TESTEMUNHAL NO CONTO HELGA DE LYGIA FAGUNDES TELLES: UM ESTUDO DE MEMÓRIA E IDENTIDADE

Kamila Rodrigues Lima61

Resumo: Este trabalho busca trazer à luz o teor testemunhal presente no conto Helga de Lygia Fagundes Teles, elaborando, para tanto, as devidas articulações entre memória, esquecimento e silenciamento. Por último, busca-se analisar a questão de identidade que assola o narrador do referido conto, devido sua dupla origem e seu recorrente deslocamento à Alemanha.

A HISTÓRIA NATURAL DA DITADURA

Karl Erik Schøllammer62

Resumo: O momento atual convida para uma reflexão sobre o papel das artes e da literatura diante da memória autoritária, da violência política e das continuas infrações dos direitos humanos que numa escala mundial só parecem aumentar e piorar. A literatura sempre assumiu a vocação de testemunhar essas atrocidades que numa narrativa fria da história frequentemente são reduzidas à escala pasteurizada dos eventos políticos ou explorados comercialmente na extrapolação midiática de seus efeitos mais espetaculares. A partir de exemplos recentes da literatura brasileira sobre a ditadura militar os desafios e limites desse compromisso será discutido.

MINHA GUERRA PARTICULAR: UMA SAGA NORTE-AMERICANA DE UMA AFEGÃ, A NATURALIZAÇÃO DO DISCURSO DA ONU

Kellimeire Campos63

Resumo: As questões culturais islâmicas presentes na vida de meninas e mulheres afegãs são relatadas na narrativa da obra Minha Guerra Particular (2006) de Masuda Sultan. A diferença cultural entre a vida norte americana e a afegã é evidenciada na trajetória de Sultan, uma afegã que viveu nos Estados Unidos (EUA) desde a infância, mas que vivenciou todos os preceitos islâmicos , da etnia pashtun, direcionados a vida das mulheres. Na história contada em seu livro, Sultan evidencia questões culturais que

61 Mestranda pelo programa de Pós-graduada em Letras da Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected] 62 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RJ - [email protected] 63 Graduanda do curso de Relações Internacionais pela Universidade da Amazônia – UNAMA - [email protected]

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aos olhares ocidentais caracterizam a opressão feminina no mundo do oriente médio. Como por exemplo, só falar com homens quando eles lhe dirigirem a palavra, não olhar nos olhos deles, aceitar o casamento arranjado pela sua família. Todos estes elementos estão presentes na narrativa da autora. Apesar de aceitar seu casamento arranjado, Sultan foi a primeira mulher da sua família que se divorciou e abandonou suas tradições familiares para seguir sua carreira acadêmica, se formando em uma universidade nos EUA. Sultan abandona os preceitos islâmicos e com isso se afasta de sua família. E ao contar sua história com detalhes assume os riscos em relação sua própria vida, já que é algo inaceitável para sua cultura. Em sua história ela também denuncia a força excessiva dos Estados Unidos contra seu povo. Apesar de todas as adversidades retratadas ao longo da história, durante a narrativa a autora demonstra seu respeito e apreciação pela sua cultura de origem. E ao chegar ao início de sua luta pelos direitos das mulheres. No mundo globalizado essas interações entre culturas diferentes ocorrem frequentemente, sejam pelas relações de poder entre os indivíduos ou das instituições com eles. Os Estados subjetivam sua população e dessa dominação discursiva é gerado o sentimento de identidade, baseado nele temos vários princípios norteadores da normatização do Sistema Internacional. Os Estados se fazem presente em todos os âmbitos da vida da sociedade, baseada nestas ideias, juntamente com a microfísica do poder, Michel Foucault formulou seu conceito de governamentalidade, no qual o Estado passa a assumir e governar a vida íntima das pessoas. Neste sentido, nas Relações Internacionais os Estados criaram as Organizações Internacionais na busca de fomentar uma governança sobre assuntos específicos, é o caso da ONU Mulheres, que em seu discurso tem como objetivo principal o empoderamento feminino. Examinando a história de Masuda Sultan, utilizando a analítica de poder de Michel Foucault busca-se analisar como o discurso da ONU Mulheres, através de seus documentos referenciais, é naturalizado no Afeganistão e quais seus reflexos na liberdade de meninas e mulheres.

PENSAR A RESISTÊNCIA EM PROCESSOS EM QUE SAPO VIRA REI VIRA SAPO: ANÁLISE DO DISCURSO NARRATIVO E DA LETRA DA CANÇÃO A BANDA.

Ladyana dos Santos Lobato64

Resumo: Abordamos, neste trabalho, o discurso de resistência presente no conto para crianças Sapo vira rei vira sapo, de Ruth Rocha, publicado em 1982, em uma coleção chamada “Taba Cultural”, da Editora Abril Cultural; e na letra da canção “A Banda”, de Chico Buarque, agregada à narrativa. Para isso, utilizamos os apontamentos teóricos que dizem respeito à narrativa de resistência, de acordo com Bosi (2002). Com base no referencial teórico, discorremos sobre uma análise do conto, em seguida, sobre uma análise da letra da canção e finalizamos apontando os diálogos possíveis entre os dois objetos. Desta análise compreendemos que o discurso de resistência dialoga com processos políticos autoritários, a exemplo da Ditadura Militar de 64, no Brasil.

64 Mestranda pelo programa de Pós-graduada em Letras da Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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A RELAÇÃO ENTRE TESTEMUNHO, MEMÓRIA E TRAUMA NO CONTO O LEITE EM PÓ DA BONDADE HUMANA

Larissa da Costa Arrais65

Resumo: A presente comunicação busca analisar a relação entre testemunho, memória e trauma no conto O leite em pó da bondade humana do escritor paraense Haroldo Maranhão. Através disso, discutir-se-á como essa narrativa se enquadra dentro de uma literatura de testemunho, que só começou a ser mais debatida a partir do século XX na década de 90 na Europa, e quais aspectos são observados para que ela seja considerada uma narrativa de resistência. Dentro disso, refletir-se-á a respeito de algumas questões dentro da literatura sobre o seu conceito estético, visto que o testemunho abrange indagações que estão entre o literário, o fictício e o factual. Além disso, será observada a importância, ou não, do testemunho estar relacionado a um sujeito real e o entendimento da memória tal como recriadora do passado, a partir dos traumas vividos durante a era das catástrofes. As ideias abordadas serão embasadas nas concepções de autores como Agamben, Seligmann-Silva, Huyssen, entre outros.

OS TRAÇOS NOVO MUNDISTA DE GONZALO FERNÁNDEZ DE OVIEDO Y VALDÉS

Larissa Elleres de Sousa66

Resumo: O escopo deste trabalho é analisar a presença do imaginário medieval na obra de Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés, buscando aspectos e recursos estilísticos que possam confirmar esta proposta. O período da cronística do Novo Mundo ocorre precisamente na fronteira entre dos feitos históricos, a Idade Média e a Idade Moderna, por isso encontramos a presença de características do momento anterior, assim como os anúncios de novas percepções. Para cumprir o proposto, pesquisaremos a vida de Oviedo, desde o nascimento até o momento do descobrimento do novo mundo, para que desta maneira se possa identificar as características que se encontram presentes em suas obras, considerando sua formação, vida política e sua participação na empresa colonizadora. Para o desenvolvimento de nosso estudo nos apoiaremos em Irving (1996); Le Goff (1994); Mignolo (1982); O ‘Gorman (2006) entre outros.

65 Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected] 66 Graduanda pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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GABRIELA SODOMA E GOMORRA: A OBRA ENQUANTO UM RELEITURA DA NARRATIVA BÍBLICA

Leno Serra Callins67 Dayane Miranda dos Santos68

Resumo: O presente artigo científico discorre acerca de outra maneira de se ler o romance intitulado “Gabriela, Cravo e Canela”, de autoria do escritor baiano Jorge Amado e que foi originalmente publicado em 1958. Essa outra leitura aqui proposta consiste no entendimento da estória principal como uma releitura do relato bíblico protagonizado pelo sobrinho do patriarca Abraão, Ló, no qual é feita a descrição da chegada de dois anjos enviados por Deus à cidadela de Sodoma, da recepção feita pelos citadinos aos estrangeiros e da subsequente destruição do povoado e de outras três das cinco cidadezinhas que constituíam uma aliança militar. Para tanto, a discussão considera a Bíblia como uma obra literária e é construída sem deixar de lado a ideologia política e o contexto histórico que inevitavelmente moldaram o autor e apresentam-se em suas obras, partindo principalmente de uma análise das personagens e elementos que constituem o elo entre ambas as obras literárias, sobretudo as personagens estrangeiras à Ilhéus (mais especificamente os retirantes Gabriela, Fagundes e Clemente, assim como o carioca Mundinho Falcão e o sírio muçulmano Nacib), as quais ou cumprem papéis correspondentes aos personagens do texto bíblico (mais especificamente correspondente aos anjos destruidores ou ao sobrinho de Abraão) ou fornecem informações que permitem o reforçar do elo entre o romance e o relato bíblico. Por fim, são discutidas as semelhanças e diferenças entre ambas as estórias, mediante elementos que estão presentes nas duas obras, embora um tanto quanto às avessas uma da outra, como a chuva de fogo que destrói Sodoma em paralelo com a seca que vinha arruinando a economia agrícola de Ilhéus, ou, ainda, a destruição real das cidadelas pecaminosas com obras supostamente erguidas em nome de Deus em correspondência à destruição simbólica da Ilhéus de moradores pecaminosos e dotados de falso fervor religioso.

A RESISTÊNCIA COMO RESULTADO DA PERFORMANCE NA OBRA “O PROMETEU ACORRENTADO”.

Lígia da Costa Félix69

Resumo: O artigo objetiva analisar como a performance e resistência se constroem dentro da obra trágica de Ésquilo “O prometeu acorrentado”, afim de observar como esses conceitos se inter-relacionam na construção da narrativa. Para podermos ter um suporte teórico para a análise da narrativa selecionamos Jorge Glusberg (1980) “A arte da performance” e Marvin Carlson “performance uma introdução a crítica” para entendermos de que forma a ação performática dos personagens constroem a resistência praticada por eles, desta forma trazemos também Alfredo Bosi (2002) “narrativa e

67 Graduado em Letras Licenciatura Português e Inglês/IESAP - [email protected] 68 Graduado em Letras Licenciatura Português e Inglês/IESAP – [email protected] 69 Graduanda pela Universidade Federal do Pará - UFPA. Bolsista PIBIC CNPQ/UFPA - [email protected]

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resistência” para estudarmos a resistência. E como a mesma está profundamente atrelada a memória, violência e o trauma, acreditamos que Márcio Selimann-Silva (2003 e 2008), “História, memória, literatura”, “Narrar o trauma – a questão dos testemunhos de catástrofes históricas” e Sigmun Freud (1993) em “Além do princípio do Prazer” sejam referências indispensáveis para analisarmos de forma o ser humano consegue lidar com suas memórias traumáticas ou até mesmo seus esquecimentos.

A RECONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA DA CABANAGEM EM LEALDADE DE MÁRCIO SOUZA E DA GUERRA CIVIL EM MOÇAMBIQUE EM AS DUAS SOMBRAS DO RIO DE JOÃO PAULO BORGES COELHO.

Liliane Batista Barros70

Resumo: Pretendemos analisar a revisitação histórica da guerra civil em Moçambique e da Cabanagem no Brasil nos romances As duas sombras do rio de João Paulo Borges Coelho e Lealdade de Márcio Souza. Essa escolha se deu pelo fato de as obras terem como tema principal o conflito bélico ocorrido no período posterior a Independência no século XIX brasileiro e do século XX moçambicano. A partir da leitura das obras desses dois autores, decidimos por estabelecer verificar os processos de reescrita da história dos conflitos armados narrados nas duas obras. Em nossas leituras, verificamos que o eixo comum entre os autores é a releitura e o questionamento de episódios das histórias de Moçambique e do Brasil que se pauta, entre outros aspectos, na revisão crítica da herança colonial. Tal herança, cada qual com sua particularidade, deixaram fissuras profundas na configuração das identidades dos dois países resultando na oposição entre o Norte e o Sul que geraram os dois conflitos bélicos temas das duas narrativas.

"VIDAS SINGULARES. ESTRANHOS POEMAS": UM ESTUDO SOBRE A INFÂMIA EM ENEIDA

Lilian Lobato do Carmo71

Resumo: Em sentido literal, o infame é definido como: “adj. 1. Que tem má fama. 2. Desprezível, abjeto (o indivíduo)” (HOUAISS, 1990). Desse modo, ao pensar inicialmente no indivíduo infame, vê-se a marca do estigma de um sujeito alhures, uma figura repelida e excluída do convívio social por fugir ao controle das convenções e até mesmo das leis institucionalizadas pelo Estado. Perde, por isso, tanto o direito à liberdade física quanto o de narrar sua própria vida – esta passou a ser contada por registros clínicos, boletins policiais, ou mesmo sentenças jurídicas. Este trabalho, portanto, propõe-se a discutir sobre o registro feito pelas artes, especificamente da literatura, do “discurso da infâmia” (FOUCAULT; 2000). Para isso será exposto o confronto entre o pensamento do indivíduo e o Estado vigente, presente em crônicas da escritora paraense Eneida de Moraes. Em algumas, publicadas no livro Aruanda, vê-se a própria autora como indivíduo infame ao relatar a forma em que sua postura política foi a causa de seu cárcere durante a ditadura dos anos de 1930. Seu relato registra os

70 Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA - [email protected] 71 Mestre pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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abusos, físicos e psicológicos, sofridos tanto individual quanto coletivamente com seus companheiros, tidos igualmente como traidores da nação brasileira, infames. Logo, este trabalho também vislumbra a infâmia como forma de resistência social a questionar a moral e a conduta imposta por dispositivos de poder e discursos autoritários.

MEMÓRIAS: CINECLUBE E DITADURA EM BELÉM DO PARÁ

Líria Natasha Sena do Vale72 Marcelo da Costa Tavares73

Resumo: Este trabalho apresenta a trajetória da atividade cineclubista em Belém do Pará durante o período da ditadura militar no Brasil (1964 – 85). Dentro desse período a Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC) criou o seu próprio cineclube (1967) que foi por muito tempo e durante toda a ditadura o mais longevo espaço de exibição e debate de filmes da capital do estado. Através do levantamento da memória dos seus sócios e frequentadores, o estudo demonstra o caráter de resistência intelectual e cultural desse cineclube, que configurava um espaço de formação da visão crítica dos envolvidos para além da realidade de opressão do regime.

SOBRE ARQUIVOS E FANTASMAS: MEMÓRIAS DA REPRESSÃO EM PORTUGAL

Lisa Vasconcellos74

Resumo: No início dos anos noventa, os antigos arquivos da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE), polícia política do regime salazarista, foram, depois de longo tempo, abertos para consulta pública. Natureza Morta (2005) e 48 (2009), da produtora e diretora portuguesa Susana de Sousa Dias, são dois filmes que surgiram como consequência direta do contato com esse material até então interdito. Ambos se propuseram à delicada tarefa de narrar (e elaborar) de maneira complexa e enviesada a memória da repressão que vigorou no país durante o regime de exceção. A base dos dois trabalhos são os mug shots, retratos de registro de frente e lado, feitos para cada um dos indivíduos que foi apreendido e fichado pela PIDE. No primeiro filme, essas pequenas fotos são contrapostas a outras imagens de arquivo, a saber, aquelas que serviam de propaganda institucional ao próprio governo português. Ao som de antigos discursos de Salazar, o filme põe em sequência imagens de eventos militares oficiais, festas religiosas, desfiles estudantis – intercaladas sempre por pequenas mug shots, nas quais o espectador surpreende, em rostos incrivelmente comuns, toda a repressão e violência dos anos de chumbo portugueses. No segundo, a câmera vai se fixar exclusivamente sobre as imagens de registro, que se sucedem muito lentamente umas as outras. Ao fundo soam depoimentos dos próprios fotografados sobre as circunstancias do seu encarceramento. As entradas e saídas da prisão de diferentes homens e mulheres, jovens e velhos, portugueses e africanos é o registro que fica dos 48 – daí o nome do filme –

72 Universidade Federal do Pará - [email protected] 73 Universidade Federal do Pará – Marcelo [email protected] 74 [email protected]

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anos de ditadura. Para a leitura proposta, conceitos como os de arquivo, fantasmagoria e sobrevivência das imagens – desenvolvidos, principalmente, por Jacques Derrida e Georges Didi-Huberman – serão as referências fundamentais deste trabalho.

RELATOS QUE CONSTRUYEN SENTIDOS. LAS RELACIONES JERÁRQUICAS DE GÉNERO DURANTE EL TERRORISMO DE ESTADO (ARGENTINA, 1975-83)

Lizel Tornay75

Este trabajo se propone analizar el lugar de los testimonios incluidos en los films documentales en función de la construcción de la memoria/ historia reciente focalizando particularmente las condiciones de audibilidad y decibilidad de los diferentes momentos de esa construcción. Para indagar en torno a estas temáticas consideraremos algunos de los testimonios incluidos en el film documental “Campo de Batalla. Cuerpo de Mujer”(Fernando Álvarez, 2012), realizado en Argentina en torno a las situaciones que padecieron las mujeres, en tanto tales, en los centros clandestinos de detención y en las cárceles diseminados en todo el territorio argentino durante el terrorismo de Estado vigente en ese país entre 1975 y 1983. Este film está estructurado en base a las voces de diecisiete mujeres y un varón. Todos ellos estuvieron detenidos desaparecidos en ese período.

LITERATURA E HISTÓRIA: ENTRELACES DA RESISTÊNCIA NAS OBRAS “ÓRFÃOS DO ELDORADO” DE MILTON HATOUM E “ILHA DA IRA” DE JOÃO DE JESUS PAES LOUREIRO

Lourdes Ferreira76

Resumo: O estudo busca tecer algumas reflexões, a respeito dos entrelaces percebidos entre literatura e história observados nas obras Órfãos do Eldorado de Milton Hatoum e Ilha da Ira de João de Jesus Paes Loureiro, determinantes para o trabalho da memória, em apontar a historicidade de uma sociedade e a sua maneira em lidar com situações limites da experiência humana. Para tanto, serão examinados os textos de Chartier (2001), bem como, da percepção de resistência vista por Adorno (1970) e Seligmann- Silva (2008), história e memória em Le Goff (1990), a emersão do imaginário, entendido por Gilbert Durand (1997) e Paes Loureiro (2001), para o desenvolvimento a respeito da cultura amazônica.

75 Universidade de Buenos Aires – UBA – [email protected] 76 Doutoranda pelo programa de Pós-Graduação em letras da Universidade Federal do Pará - [email protected]

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A TRANSGRESSÃO NO ARQUÉTIPO SOCIAL FEMININO NA PERSONAGEM CONCEIÇÃO DA OBRA O QUINZE

Lucilene Fernandes Miqueli77

Resumo: A condição da mulher dentro do universo romanesco brasileiro nas primeiras décadas do século XX ainda era essencialmente marginal, na década de 1930 as letras nacionais passavam por um período de transição entre as primeiras gerações modernistas, neste cenário despontou uma heroína anticonvencional para os padrões da época Conceição, oriunda do romance de estréia da escritora cearense Rachel de Queiroz, intitulado O Quinze. Objetivamos neste estudo analisar a trajetória de Conceição dentro da narrativa, pois esta descortina um processo de amadurecimento e auto-afirmação feminina que possui reflexo na luta das ativistas feministas pela conquista de espaço e reconhecimento em uma sociedade historicamente patriarcal como a brasileira. A primeira protagonista de Rachel de Queiroz quebrou estereótipos ao rejeitar o matrimonio, e assumir um papel atuante e politizado frente às adversidades provenientes da seca, apresentando ao final do romance uma nova perspectiva de felicidade para a mulher, não necessariamente atrelada ao universo puramente domestico. Esta pesquisa será norteada por pesquisa bibliográfica, com ênfase nas contribuições de Luís Bueno, Socorro Acioli, Norma Telles, entre outros pesquisadores da área.

O NEGRO NOS PRIMÓRDIOS DO CINEMA BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM ENTRE A LITERATURA E A IMPRENSA

Lucinéia Alves dos Santos78

Resumo: Abordaremos neste trabalho três linguagens diversas: literatura, imprensa e cinema. Embora essas linguagens sejam diferentes, sofrem influências entre si no final do século XIX e início do século XX, momento em que surge o cinematógrafo. Para demonstrar tais influências neste período, abordaremos duas personalidades negras que tiveram papel importante para a consolidação do cinematógrafo brasileiro e ao mesmo tempo se destacaram na literatura ou na imprensa nacional: João do Rio e Benjamim de Oliveira.

AS ORIGENS DA GUERRA REVOLUCIONÁRIA E O USO DA TORTURA PELA ÓTICA DO DOCUMENTÁRIO ESQUADRÕES DA MORTE: A ESCOLA FRANCESA – A HISTÓRIA DE UM LEGADO

Luiz Guilherme dos Santos Júnior79

Resumo: O ensaio analisa o documentário Esquadrões da Morte: a Escola francesa (2003), da cineasta francesa Marie-Monique Robin. A proposta analítica volta-se para

77 Graduada pelo IFPA - [email protected] 78 Mestre em Teoria e História Literária (Unicamp) - Professora do ensino superior- UNIFAP - [email protected] 79 Doutorando em Comunicação Social PUCRS - [email protected]

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três questões fundamentais que serão desenvolvidas a partir da fundamentação teórica, metodologia e técnica de análise: as origens da guerra revolucionária, a tortura e o legado transmitido pela Escola militar francesa aos regimes totalitários constituídos na América Latina e interesses de guerra dos Estados Unidos. Teoricamente o ensaio ancora-se nos estudos sobre cinema e história; quanto à metodologia, seguem-se apontamentos fundamentados pela Escola dos Annales quanto à representação da imagem como fonte histórica; a técnica analítica está pautada na decupagem em diálogo com os agenciamentos produzidos pelas escolhas que constituem a montagem cinematográfica.

SER OU NÃO PERIFÉRICO? CRÍTICA E DEPENDÊNCIA CULTURAL À LUZ DO DEBATE SOBRE MACHADO DE ASSIS

Marcelo Brice Assis Noronha80

Resumo: Ser ou não periférico? As afirmações de identidade nacional podem requerer um estatuto de oposição à civilização ocidental que exacerba os valores autóctones sem que eles possam ser exacerbados. Como alternativa à perspectiva da “formação” cultural, na medida em que envolve uma radicalização (não como ruptura, mas como deglutição antropofágica), foi consolidada uma forma de ligação entre esses polos que tentava se afastar da prontidão com que estamos colados às cores locais, nos colocando em contato com a relação de dependência, por via da integração, mesmo que periférica. A respeito desse tema, a obra de Machado de Assis é assunto constante na crítica, por estar frequentemente ligada aos motivos profundos da produção de uma expressão e de um formato de sensibilidade cultural que reformule e dê novo sentido aos padrões de criação a que a literatura tende a se esforçar como marca de um tempo. Nesse sentido, nossa intenção é percorrer leituras sobre o que se quer de Machado de Assis, como um marco da literatura brasileira, e o que o próprio Machado parece conduzir no quadro de sua produção em relação à autonomia (relativa) da sua arte, quando confrontada aos critérios do nacional e do universal. Suas contendas no âmbito da crítica demonstram posições claras sobre o tema, e seu fazer literário está em constante diálogo com a questão. Prova disso estará nas páginas de “Quincas Borba” e em “O Alienista”, obras nas quais sua organização literária e o confronto com a política local fazem emergir uma fonte inequívoca e inesgotável de referências às sentinelas de cada posição. Intentamos, com isso, destacar a força de uma literatura reconhecidamente singular, diferente.

DAS COLAGENS À PINTURA: UMA LEITURA DO DESAMPARO NO “CORPO DOCUMENTAL”.

Márcia de Souza Pinheiro81

Resumo: O presente trabalho procura refletir a relação comparativa entre as colagens de Max Martins e as pinturas de Giorgio De Chirico de modo a analisar as articulações que

80 Mestre - UFT (professor) e UFG (doutorando) - [email protected] 81 Mestranda pelo programa de pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Pará - [email protected]

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se estabelecem entre ambas, constituindo-as como um “corpo documental” de grande valor histórico; verdadeiros registros do cotidiano que se focalizam em significar o passado tornando-o presente, para assim destacar a experiência histórica refletida nesses corpos fragmentados. As colagens em consonância com as pinturas refletem bem a idéia de testemunho que “narra” o passado na tentativa de reconstruí-lo em tempo presente sempre fragmentado: os traços, as lacunas, as fraturas, o contexto, são indícios verbicovisuais que as direcionam a condição humana de desamparo. A partir dessa condição destaca-se a deformação da figura humana configurada em resíduos de uma experiência traumática registrada no “corpo documental”.

A TRADUÇÃO DE POEMAS DE LÍNGUA INGLESA NO SUPLEMENTO LITERÁRIO DO JORNAL FOLHA DO NORTE

Márcio Carvalho82

Resumo: Esta pesquisa trata da tradução de poemas em língua inglesa feita por poetas brasileiros para o suplemento literário do jornal Folha do Norte, que contribuiu para a divulgação dos textos de intelectuais paraenses e circulação de poemas, contos e críticas literárias de autores com os quais nutriam afinidades, fossem elas estilísticas ou temáticas. O Suplemento Literário circulou na cidade de Belém do Pará entre os anos de 1945 e 1951. Dentre seus tradutores brasileiros, destacam-se: Manuel Bandeira, Mário Faustino, Cecília Meireles, Paulo Plínio Abreu e Ruy Barata. Os americanos Walt Whitman, T. S. Elliot e Langston Hughes contabilizam o maior número de traduções, publicados em três edições. O diálogo com a literatura estrangeira foi a forma que esses escritores encontraram de se pronunciar sobre a literatura existente, consequentemente renovando e valorizando a cena poética local. Observamos que o tradutor impõe seus interesses e circunstâncias ao texto, pelo que o processo de tradução não se dá com a simples substituição e transferência pura de significados de uma língua para outra,. Duas traduções, realizadas por Ruy Barata e Raymundo Moura, foram detalhadamente analisadas a fim de discutir como a tradução pode ampliar as ideias do texto-fonte. A presente pesquisa de iniciação científica apresenta o corpus das traduções publicadas na Folha do Norte, devidamente transcritas.

A PERFORMANCE TESTEMUNHAL: FICÇÕES DO REAL NA ARTE CONTEMPORÂNEA:

Márcio Seligmann-Silva83

A apresentação focará nas obras de artistas brasileiros que têm se dedicado a performatizar testemunhos junto com personagens tradicionalmente à margem do veio principal da cultura brasileira, reconhecidamente falocêntrica e "branca". Artistas como Cildo Meireles, José Rufino, Berna Reale, Virgínia de Medeiros, Paulo Nazareth, Rosângela Rennó, Armando Queiroz e Claudia Andujar e, no cinema, e Paulo Sacramento, têm conseguido fazer um tipo de arte que, longe de

82 Graduando pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected] 83 Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – [email protected]

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procurar tutelar e "representar", ou seja, de certa forma "enquadrar", reduzir o outro ao "si mesmo", tentam desenvolver dispositivos que permitem uma performance da outridade que mantém a diferença, sem submete-la a códigos já consagrados de tipificação. Ao invés de se falar em nome do outro, embaralha-se as cartas do próprio e desse outro, do sujeito e do objeto, do factográfico e da ficção, no mesmo gesto que se apresenta de modo vívido e aberto a violência a que certas e importantes camadas da população estão submetidas. Desde o início do século XXI esse tipo de arte (e de retórica) se tornou cada vez mais frequente (mesmo que ainda seja minoritário e permaneça exceção) e indica uma necessidade de se redesenhar os gêneros artístico- literários tradicionais e suas respectivas capacidades de inscrição do real. A demanda de justiça gera novos jogos de verosimilhança nos quais o "teor testemunhal" tem um papel decisivo.

LITERATURA AFRICANA: A RESISTÊNCIA DE MANDELA AO MOVIMENTO ÉTNICO RACIAL APARTHEID

Marcus Vinicius Souza e Souza84

Resumo: O presente estudo tem como enfoque de abordagem a biografia de Nelson Mandela sob a vertente do combate racial e os direitos do negro, em sua peculiaridade á áfrica do sul, país de origem de Mandela, que durante parte do século XX, período em que se formavam duas fortes elites da áfrica, sendo elas: O partido nacional e a igreja Reformista. Este trabalho tem por objetivo mostrar a importância de Mandela ao movimento negro que impulsionou a garantia dos direitos raciais que até então eram revestidos de formas opressivas, que somente favoreciam aos brancos, fomentando assim as leis do apartheid que baseavam-se em termos legais em três pilares centrais, desde a classificação de raça, proibição do casamento misto á demarcação de áreas pré estabelecidas para pessoas de outras raças que não fossem branca. A relevância deste estudo é de ressaltar a importância Mandela teve para a libertação da áfrica do sul diante das tendências européias, fator que o levou a ser preso por 27 anos, e ao ser liberto tornou-se presidente, a partir daí os sul-africanos tornaram-se iguais perante a lei.

A RESILIÊNCIA DAS MILITANTES TORTURADAS DURANTE A DITADURA MILITAR NAS REPRESENTAÇÕES ARTÍSTICAS

Markus Klaus Schäffauer85

Frente às múltiplas formas de traumatização que mulheres militantes sofreram por causa da tortura durante a ditadura militar no Brasil, surpreendem diferentes tipos de representação artística onde as mulheres parecem ter superado até mesmo as suas feridas invisíveis ou mentais. Em diferentes áreas discute-se atualmente esse fenômeno como resiliência, ou seja, partindo de um conceito derivado da ciência dos materiais que implica a capacidade de certos materiais de se deformar e voltar depois ao seu estado original como se nada tivesse ocorrido. Na minha contribuição analisarei diferentes

84 Graduado – UVA - [email protected] 85 Universitat Hamburgo - [email protected]

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representações artísticas do fenômeno segundo aparece em docu-ficções e histórias em quadrinhos.

REPRESSÃO MILITAR EM CARTAS DE PERSONAGENS DE O MINOSSAURO DE BENEDICTO MONTEIRO

Maria de Fatima do Nascimento86

Resumo: Benedito Monteiro (1924-2008), a partir de 1972, após sua prisão e cassação política, começa a escrever romances. Tendo Monteiro deixado um conjunto de obras que ficou conhecida como Tetralogia amazônica, constituída dos romances Verde vagomundo (1972), O minossauro (1975), A terceira margem (1983) e Aquele um (1985), a Tetralogia está imbricada com o contexto histórico da ditadura militar pós- 1964 no Brasil. A denúncia da repressão naquele período pode ser considerada uma das linhas condutoras da Tetralogia. O fato de Monteiro ter sido preso e perseguido político refletiu-se muito na matéria narrativa destas obras, como ocorre com o romance O minossauro, que apresenta uma estrutura romanesca com múltiplos pontos de vista e personagens articuladas como que em blocos de fala. A cada bloco de cinco falas, Miguel dos Santos Prazeres, Paulo, Zuleika, Simone e um Locutor de Rádio, retomam seus discursos de forma cíclica. A sequência dos blocos caracteriza-se pela técnica da montagem, pois, em cada bloco, as personagens rompem com seus discursos, dando lugar ao de outra personagem, numa sequência de fragmentos: textos oralizantes, depoimentos, citações de diferentes autores e do próprio Monteiro, textos jornalísticos, poemas, relatórios, composições musicais e cartas. Nesta composição heteróclita, O minossauro traz vinte cartas, sendo dez de Zuleika e dez de Simone, respectivamente namoradas de Roberto e Paulo. Sendo assim, este trabalho analisa parte das cartas de Zuleika, cujo namorado é um militante político integrante de um projeto desenvolvimentista no Baixo-Amazonas, Pará, tentando se esconder da repressão da ditadura militar no Rio de Janeiro, num momento em que recebe cartas de Zuleika com informações da repressão ocorrida no Rio.

EMANCIPAÇÃO NOS ROMANCES PÓS-DITATORIAIS: “SINAIS DE FOGO” E “PESSACH, A TRAVESSIA”

Maria Tereza de Azevedo87

Resumo: Com base no conceito de emancipação, a pesquisa objetiva analisar os romances: “Sinais de fogo” de Jorge de Sena e “Pessach, a travessia” de Carlos Heitor Cony. A emancipação implica tanto o gesto de luta – e por conseguinte de resistência – quanto a defesa de direitos fundamentais. Também implica a dimensão ativa e/ou passiva de um espectador, conforme, por exemplo, Jacques Rancière. Durante o período pós-ditatorial, os direitos humanos são negados e as personagens destes romances relatam suas experiências de envolvimento com a pós-ditadura sediadas no Brasil e em Portugal. Ao realizar a análise observamos uma existência vazia nos protagonistas dos

86 Doutora, professora da Universidade Federal do Pará. E-mail: [email protected] 87 Graduanda Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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romances que ao entrarem em contato com indivíduos que militam diretamente contra a ditadura vivem o processo de formação que é o próprio gesto emancipatório.

MEMÓRIAS DE RESISTENTES POLÍTICOS NO POEMA CAMPESINO DE ESPAÑA E NO CONCERTO RECUPERANDO MEMORIA CONCIERTO- HOMENAJE A LOS REPUBLICANOS.

Marli Queirós Mourão88

Resumo: Por meio do exercício da memória é possível conhecer o passado das pessoas que lutaram na guerra civil espanhola, compreender seu presente político, e, com isso, vislumbrar novas expectativas para o futuro delas no campo da política. Elizabeth Jelin aborda essa ideia quando diz que “el pasado ya pasó, es algo de-terminado , no puede ser cambiado. El futuro, por el contrario, es abierto, incierto, indeterminado” (1998, p. 39). Neste sentido, o presente trabalho visa discutir a importância do (re)conhecimento das memórias dos resistentes políticos da sociedade espanhola, pois, exercitar a memória do passado pode influenciar nas perspectivas de futuro dos espanhóis. Sendo assim, pretende-se dar a conhecer essas memórias e resistências políticas por intermédio do poema Campesino de España, de Miguel Hernández, do livro (Perito en Lunas, 1933), que, a meu ver, foi uma forma de convocar as pessoas na busca por justiça. O Concerto Recuperando Memoria Concierto-Homenaje a los Republicanos, foi um evento ocorrido em 2004, em Rivas Vaciamadrid, Espanha, organizado pela Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica para homenagear e reconhecer homens e mulheres que lutaram pelo reestabelecimento da democracia na Espanha. É importante ressaltar que a escolha desses dois objetos para análise se deve ao fato de que tanto no poema, quanto no concerto existem personagens que foram resistentes porque suportaram às mais diversas atrocidades da guerra civil, como expõe Lorenz quando diz que: La épica de la resistencia se construye, también, en la noción de un enfrentamiento del fuerte contra el débil, y de la justicia contra la injusticia ” (2012, p. 15 ).

O PROTESTO DOS MORTOS: UM ESTUDO SOBRE A CRÍTICA SOCIAL PRESENTE NA OBRA INCIDENTE EM ANTARES.

Neuton Vieira Martins Filho 89

Temos como principal objetivo neste artigo analisar o romance Incidente em Antares, do escritor Érico Verríssimo, tento como foco a construção das personagens mais importantes no desenrolar da trama. Partimos da hipótese que o texto constitui uma crítica social feita à realidade política e moral de sua sociedade contemporânea. Consideramos que esta crítica tem seu foco no regime político de ditadura militar vigente no Brasil entre 1964 e 1985. Pretendeu- se verificar, por meio de um estudo de caso, como a narrativa denuncia os males sociais ocorrentes no país nos anos de 1960 e 1970 e os responsáveis por estes males. Para tanto, consideramos relatos não literários sobre a ditadura militar, assim como teóricos da literatura de resistência e teóricos que tratam dos elementos estéticos mais marcantes da obra, a saber, o “real” e o “humor”. Em nosso estudo constatamos que a narrativa apresenta uma crítica que

88 [email protected] 89 Universidade Federal do Pará- UFPA – [email protected]

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acusa não apenas um grupo, mas sim diferentes grupos responsáveis pela realidade social instalada no país, ao passo que busca apresentar uma lado mais humano dos componentes destes grupos, ao mesmo tempo que contesta conceitos comuns de realização pessoal e felicidade.

UMA ANALISE DA RELAÇÃO CONFLITUOSA ENTRE OS NACIONAIS FRANCESES E OS IMIGRANTES AFRICANOS COM BASE NO FILME “BEM-VINDO”.

Paulo Victor Silva Rodrigues90

Resumo: A migração populacional faz parte da história da humanidade. Ao longo de centenas de anos registra-se um intenso fluxo de pessoas deixando seus lugares de origem. Porém, ao migrar o indivíduo leva consigo fatores que compõem sua própria identidade, adquirida a partir do convívio com indivíduos de sua comunidade, como por exemplo: a Língua, hábitos culturais, religião. Mais recentemente, o continente africano sofreu com problemas causados por guerras civis (no processo de independência – descolonização) que têm provocado um êxodo de seus cidadãos para outros países, grande parte deles dirigem-se para a Europa, em especial para o território francês, havendo um conflito entre a identidade nacional francesa com as identidades dos imigrantes africanos. A entrada de estrangeiros pode gerar fobias entre os nacionais, isto é, receios de que estes que não falam seu idioma, que possuem outra religião e tem uma cultura distinta, prejudiquem seu país. No choque cultural entre aqueles que pertencem ao país e os imigrantes, discutisse a definição de “bárbaro”, empregado de maneira pejorativa para definir o imigrante. Coloca-se em pauta, portanto, as medidas adotadas pelo Estado nação nessa relação conflituosa, enquanto “guardião” da identidade nacional. O filme “Bem-Vindo” mostra a polêmica de um professor de natação que abriga e ajuda o imigrante ilegal, Bilau, o qual vai parar em um campo de refugiados e não tem permissão de seguir viagem rumo à Inglaterra. Na França abrigar e/ou ajudar um imigrante ilegal gera multa e mais cinco anos de prisão. Evidencia-se a questão de intolerância presente no continente europeu (com destaque para a França), sendo que este é considerado o “berço da civilização”. Desconstruindo-se, assim, a imagem de “modelo de civilização” tão preconizado pela Europa.

AUTORITARISMO NA AMERICA LATINA: UMA ANÁLISE DO CONTO UN DÍA DE ÉSTOS, DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ.

Raimundo Conceição de Araújo de Sousa91

RESUMO: O conjunto de obras do escritor colombiano Gabriel García Márquez tem sido reconhecido como representação do contexto histórico da América Latina; no entanto, destaca também elementos universais. No que se refere a questões de resistência aos governos autoritários que ao longo dos tempos tem se alternado nos países latino americanos, apresentaremos uma análise sobre o conto Un dia de éstos, do referido escritor. Neste conto encontramos metáforas à atuação despótica por parte do

90 Graduando pela Graduando/Universidade da Amazônia - [email protected] 91 Graduando em Letras – Espnhol - UFPA – Campus Castanhal - [email protected]

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poder governamental, bem como a maneira com que oprimidos tem se posicionado diante dessas situações; ao longo deste trabalho apresentaremos alguns recortes da referida obra, os quais destacam a atuação conflituosa entre o Alcaide numa representação de opressor, e por outro lado, o dentista Don Aurélio Escovar que, assim como a população, sofre com opressões do governo. Para fundamentação deste trabalho usamos as obras: Literatura e Resistência, de Alfredo Bosi; Literatura e Sociedade, de Antonio Candido, Antología crítica de La Literatura Hispanoamericana, de John O’Kuinghttons Rodríguez; El Boom en perspectiva, de Ángel Rama.

SALVADOR: SUCUMBIDO POR EL VIL GARROTE FRANQUISTA

Rita de Cássia Paiva92

Resumo: Salvador Puig Antich tinha 24 anos quando teve sua pena de morte decretada e acabou morto pelo governo franquista, acusado de ser anarquista e ladrão de bancos. Seria algo normal naqueles tempos se não fosse pelo tipo de morte escolhida para cumprir sua condenação: o garrote vil. Este trabalho buscará traçar um perfil de seu julgamento e morte através da análise do filme Salvador, de Manuel Huerga, seleção oficial do Festival de Cannes de 2006, que utiliza o cinema de ficção para compor um filme quase documentário sobre aquele personagem. Cabe dizer que o supracitado equipamento de execução foi considerado medieval para seu propósito.

AS ATUAIS REPRESENTAÇÕES DE REALIDADE E FICÇÃO NO NOVO ROMANCE HISTÓRICO DO CENÁRIO PAN AMAZÔNICO

Ronaldo Júnior Pantoja Rodrigues93

Resumo: Ainda hoje não há explicações suficientemente satisfatórias referentes a certos relatos documentados pelos cronistas espanhóis em terras americanas. Em documentos, onde somente os colonizadores expunham sua visão do Novo Mundo, desde a existência de ursos em território amazônico, até a presença de uma tribo dominadora, comandada por mulheres altas e valentes, as Amazonas, algo que não obteve comprovação científica até os dias atuais. Verdadeiros ou não, esses relatos nos fazem refletir de forma mais crítica a respeito da nossa colonização. A este propósito, William Ospina, autor das principais obras analisadas neste trabalho, vai mais além: resgata as crônicas das Índias, ou seja, as crônicas da colonização na América, mas com vários artifícios que nos levam a uma releitura do passado, seja através da intertextualidade, seja através da variedade de pontos de vistas presentes em suas obras. O autor estabelece diálogos entre passado e presente, e de uma perspectiva diferente, que não privilegia somente os conquistadores, mas também, os colonizados, os tidos como coadjuvantes na história. Em suma, pretendemos analisar e discutir conceitos da crítica e da teoria literária, investigado questões que dizem respeito ao discurso ficcional-histórico e os seus limites a partir da perspectiva de White (1994; 1992), Hutcheon (1991), Aguiar (1997) entre

92 Universidade Federal do Pará - [email protected] 93 Graduando pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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outros. Nesse sentido, buscamos refletir sobre a representação literária dos acontecimentos históricos, bem com, o modo como essa matéria histórica é reinventada na obra de William Ospina.

PERFORMANCE E RESISTÊNCIA NA TRAGÉDIA MEDEIA DE EURÍPEDES

Rosane Castro Pinto94

Resumo: Este artigo propõe um estudo da tragédia grega Medéia, de Eurípides, na qual discutiremos a caracterização da performance e da resistência, quando investigaremos as atuações da protagonista diante das barreiras ocasionadas pela sociedade grega. Observando de que maneira a narrativa é importante para a compreensão das categorias violência, memória e esquecimento. Para compreendermos as teorias relacionadas à performance, resistência e trauma utilizaremos os textos de autores como Jorge Glusberg (1980) a arte da performance, quando assegura que a performance está estreitamente relacionado com o delírio, manifestado através do desejo inconsciente do performer, como anuncia GLUSBERG, (1980, p.124) “ o discurso resultante é próximo do delírio e, também, da verdade que é sempre delirante”. Alfredo Bosi (2002) observa como podermos classificar tais textos no âmbito do conceito de resistência, “opor a força própria à força alheia” (BOSI, 2002, p. 118) no qual compreendemos como oposição de forças que conflitam entre si; e Sigmund Freud (1993) em Além do Princípio do Prazer, o qual define que o conceito de trauma implica necessariamente uma conexão desse tipo com uma ruptura numa barreira sob outros aspectos eficazes contra os estímulos.

NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS COMO FORMA DE RESISTÊNCIA

Rosani Úrsula Ketzer Umbach95

Resumo: Este trabalho tem como objetivo investigar narrativas de si como forma de expressar resistência. Para tanto, baseia-se em teorias de Ottmar Ette, Georges Didi- Huberman e Michael Pollack, buscando averiguar como se configuram as relações entre escrita, subjetividade e construção de identidades.

A NOÇÃO DE ÉTICA E ESTÉTICA NO TESTEMUNHO DE DERLEI CARTARINA DE LUCA: NO CORPO E NA ALMA

Samantha Carolina Vieira de Oliveira96

Resumo: Este trabalho tem como objetivo discutir a literatura de resistência a partir da obra “No corpo e na alma”, da autora Derlei Catarina De Luca, uma militante do período ditatorial brasileiro, relatando em seu livro as torturas que sofreu na época. O foco do trabalho é de debater as noções de ética e estética dentro da obra citada, tendo

94 Graduando pela Universidade Federal do Pará - UFPA. Bolsista - PIBIC/CNPQ/UFPA - [email protected] 95 Universidade Federal de Santa Maria – UFSM - [email protected] 96 Graduando pela Universidade Federal do Pará – UFPA - [email protected]

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como apoio teórico, para a perspectiva estética, as ideias do foco narrativo que estão atreladas a teoria da literatura, e é defendida pela autora Ligia Leite, no seu livro “O foco narrativo”. Para o viés ético, busco o embasamento a partir da ideia de alteridade, defendida pelo filósofo Emmanuel Levinas.

A OUSADIA DA NARRATIVA MACHADIANA NO CONTO A CARTOMANTE

Shirley Kelly Mendonça Paula97

Resumo: Neste trabalho sugere-se o conto “A Cartomante” como exemplo esclarecedor do processo de criação machadiano no que tange ao gênero conto. Para isso são trazidas à luz das inferências, aqui apresentadas, considerações acerca da teoria do conto na visão de Nádia Gotlib e de Alfredo Bosi, além das principais características da produção de Machado, de acordo com Afrânio Coutinho e Massaud Moisés, com o objetivo de apontar elementos para a posterior análise do conto. O artigo procurará assinalar os aspectos constitutivos caracterizadores do processo de produção do respectivo gênero na ficção machadiana por meio da obra “A Cartomante”, dando-se ensejo às personagens, usadas como material de uma estética literária na qual o trágico figura coisas cômicas, e o cômico torna-se sério. Machado dá novas e inesperadas significações aos elementos do melodrama burguês – como casamento, amantes, adultério e morte –, criticando a normalidade dos padrões sociais de representação da sociedade burguesa.

IMIGRAÇÃO JAPONESA EM TOMÉ-AÇU- O CAMPO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE CULTURAL

Subina dos Santos da Cruz Ramos98

Resumo: No decorrer da segunda Guerra Mundial, deu-se o rompimento das relações políticas e diplomáticas do Brasil com o Japão devido as “contra-posições” na guerra. Os Japoneses eram assim perseguidos e forçados a abandonarem o seu cotidiano, e mandado para certos campos de concentração para trabalharem na terra, fazendo do seu uso de conhecimento na plantação uma organização produtiva. E por assim, os japoneses foram expedidos para Tomé-Açu-região do interior do Pará- e lhes foram estabelecidos uma condição de refugiados num campo de concentração. Relata-se de que jamais teriam sofrido naquela época quaisquer tipo de maus-tratos e violações aos seus direitos inalienáveis, porém é importante entendermos o processo da vinda deste grupo social, o estatuto de refúgio que lhes foram atribuídos ao entrarem no solo brasileiro, e avaliar de que forma no decorrer do tempo essa situação de “não pertencimento” à cultura onde foram inseridos, se prevaleceu mediante essas transformações, que viria a culminar na integração do povo japonês com o povo brasileiro. Este trabalho irá abordar, os aspectos que estão por detrás da vinda deste japoneses para Tomé-Açu, onde a pesquisa estará centralizada nas ideias sobre de que forma as nacionalidades estranhas, tendo como referencial os japoneses do Tomé-Açu, tendem a segregar-se em áreas residenciais comuns para preservar, com maior

97 Graduada em Língua Portuguesa/ UVA - [email protected] 98 [email protected]

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facilidade, sua forma de vida, defender melhor das intrusões externas, saindo desta condição de refugiados, para se tornarem um grupo social com influência sobre os aspectos políticos e econômicos do Brasil. Como referencial teórico será utilizado o sociólogo Anthony Giddens acerca da fundamentação do conceito da identidade organizada com incidência na fonte de significado e experiência de um povo e o Nestor Garcia Canclini sobre a questão das culturas híbridas.

INVENÇÃO DE ORFEU, DE JORGE DE LIMA: EPOPEIA EM DIÁLOGO COM AS GRANDES GUERRAS

Suene Honorato99

Resumo: Com Invenção de Orfeu, obra escrita em 1952, Jorge de Lima diz ter pretendido a “modernização da epopeia”. Trata-se de um poema divido em dez cantos, em que o personagem principal é o poeta em busca da “ilha”, o que pode ser lido como metáfora da própria feitura do poema. Boa parte da crítica literária a qualifica de poema autorreferente, dobrado sobre si mesmo, recusando o diálogo com seu tempo histórico. Porém, uma das formas de visualizar tal diálogo é a referência às duas Grandes Guerras do século XX cotejada com o modelo épico tradicional. A epopeia – gênero literário tido como pouco produtivo para dizer sobre os problemas do homem na modernidade – se caracteriza, a partir do exemplo de Homero, por ser uma narrativa de feitos heroicos. Na Ilíada, mais do que na Odisseia, as batalhas sangrentas dão o tom do relato e permitem dizer que as epopeias são poemas de guerra. Seguindo a tradição homérica, Virgílio escreve no século I a.C. a Eneida, poema encomendado pelo imperador romano Augusto para enaltecer seu governo. No século XVI, Camões cantará, em Os lusíadas, o empreendimento marítimo do povo português, justificado pela eleição divina para evangelizar povos não cristãos. Dialogando com tais modelos épicos, Invenção de Orfeu se propõe como “anti-epopeia” ao lidar com a memória dos massacres empreendidos nos episódios de guerra e a interdição do dizer dela consequente. Ao invés de cantar feitos heroicos de personagens históricos, essa epopeia moderna elege os anônimos como seus personagens buscando a reescrita constante da versão oficial dos fatos históricos. Encena, assim, um discurso de resistência quanto a formas de dizer concretizadas por dada tradição histórica e literária.

TORTURADOR E TORTURADO: NOTAS SOBRE FICCIONALIZAÇÃO DO TRAUMA NOS CONTOS PÓS-64

Suellen Monteiro Batista100

Resumo: O presente trabalho busca refletir sobre a escritura do trauma, partindo da análise da construção de personagens caracterizados como torturador e torturado em contos, que possuem como núcleo narrativo cenas de tortura relacionadas ao Regime Militar instalado no Brasil no ano de 1964 (contos pós-64). Nossa hipótese é de que estas narrativas, ao construírem tais cenas, realizam um processo de apropriação do

99 Professora da UFT. Doutora em Teoria e História Literária - [email protected] 100 Universidade Federal do Pará (UAB/CAPES). E-mail: [email protected]

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gesto testemunhal que resulta em construções peculiares, dentre as quais a caracterização dos personagens, e ao atentarmos para tais elaborações é possível perceber que as narrativas lidam com um aspecto muito caro aos estudos do trauma: as possibilidades de representação da ferida traumática. Para dar conta de tal hipótese tomaremos como base teórica as proposições sobre o conceito de testemunho de Márcio Seligmann-Silva (2003), as considerações de Jaime Ginzburg (2001) sobre o conceito de trauma e as formulações de Anatol Rosenfeld (1998) acerca da construção do personagem.

A BATALHA DAS IMAGENS: APROPRIAÇÕES DA DITADURA NO CINEMA PORTUGUÊS

Susana Guerra101

Resumo: Imediatamente a seguir a revolução dos cravos (ou ao mesmo tempo que a revolução tinha lugar, em alguns casos), o cinema português releu, criticou e desconstruiu as imagens existentes do Estado Novo. Essa ressignificação das imagens da ditadura mais longa da Europa contemplava entre outras coisas: 1) a crítica do estado corporativista e das intervenções militares em ultramar pelo cinema militante, que a seguir à revolução procurou fazer do cinema uma arma de combate (Cenas da luta de classes (1976), O bom povo português (1981), etc.); 2) as tentativas de dar um sentido às memórias traumáticas da ditadura e da guerra colonial que, a partir da década de 90, dão o tom à ficção cinematográfica mainstream (A Costa dos Murmúrios (2004), Capitães de Abril (2000), etc.); e 3) a suspensão das narrativas fechadas e das imagens consensuais pelos documentários que, nos últimos anos, trabalharam os arquivos visuais da ditadura e os testemunhos da resistência, tornando impossível qualquer relato justificador ou apaziguador (Fantasia lusitana (2010), Natureza Morta (2005), 48 (2009), etc.). Noutras palavras, a intensidade e complexidade da batalha, ao mesmo tempo política e imagética, que no cinema português teve lugar nas últimas décadas, em ordem a apropriar-se do passado para atuar sobre o presente, não deixa de afirmar o caráter aberto e inconcluso da nossa história. O presente trabalho pretende simplesmente colocar essa batalha em perspectiva, dando conta do alcance e dos limites da imagem cinematográfica para tomar partido, fazer sentido ou exercer a reserva crítica.

REPRESENTAÇÃO DAS VÍTIMAS DO FRANQUISMO EM HERNÁNDEZ E DA DITADURA MILITAR EM WALSH

Taislane Vieira102

Resumo: Essa comunicação oral objetiva realizar uma releitura do poema Elegía primera, de Miguel Hernández e da Carta abierta de un escritor a la junta militar, de Rodolfo Walsh, visando elucidar a representação das vítimas do franquismo e da ditadura militar argentina de 1976-1983, respectivamente. O primeiro é uma homenagem de Hernández a Frederico García Lorca, poeta espanhol que se posicionou

101 Universidade do Porto –[email protected] 102 Graduanda pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - [email protected]

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a favor da liberdade daqueles que se encontravam à margem da sociedade e foi assassinado no primeiro mês da Guerra Civil Espanhola. A escolha de usar um poema em sua homenagem se deu pelo fato de o assassinato de Lorca não ter como alvo a morte de um homem, mas sim silenciar um sujeito que, em seus textos, dava voz a grupos marginalizados pela sociedade espanhola da época. Na carta a la junta militar, Walsh expõe seu sofrimento pela morte da filha e de amigos que morreram lutando contra os militares e faz uma análise da destruição que esses causaram em seu país. Nesse sentido, intenciono com esse trabalho fazer um diálogo entre o poema e a carta mostrando a representação que esses textos fazem das vítimas desses regimes repressivos e silenciantes e o poder que eles têm como forma de resistência e recuperação das memórias individuais e coletivas. Essas obras mais que uma denúncia a esses períodos regidos por regimes totalitários é uma forma de não nos deixar esquecer o passado já que, segundo Seixas (2007, apud SANTOS, 2002 p. 62-62): “a permanente expressividade da memória nos meios sociais tem uma feição política que mostra as formas com que os sujeitos se posicionam em relação à realidade, interpretando-a e agindo sobre a mesma. É nesse ponto que a memória assume uma função política de ser entendida como defesa de si e dos outros nos quais o sujeito se reconhece”.

NARRATIVAS DE RESISTÊNCIA: RELAÇÕES DE GÊNERO E MILITÂNCIA FEMININA EM ¡AY CARMELA! E EM LIBERTARIAS.

Tamires Maiara Santos Araújo103

Resumo: A proposta dessa comunicação oral é analisar como a militância feminina presente no texto dramatúrgico ¡Ay Carmela! (1991), do escritor espanhol José Sanchis Sinisterra e no filme Libertarias (1996), do cineasta espanhol Vicente Aranda se constituem como narrativas de resistência feminina e como essas são atravessadas pelas relações de gênero no que diz respeito aos papéis sociais que exercem homens e mulheres no contexto da Guerra Civil Espanhola (1936-1939). No interior dessas narrativas, na literária e na cinematográfica, podemos reconhecer que a memória tem um “papel altamente significativo como mecanismo cultural que fortalece o sentido de pertencimento a grupos ou comunidades” (JELÍN, 2010, p.9-10), enquanto que os estudos sobre gênero nos revelam que “a identidade de gênero é negociada por meio da participação dos indivíduos em comunidade” (OSTEMANN, FONTANA, 2010, p.11). Nesse sentido, a necessidade de algumas personagens femininas de se vincularem a um grupo para resistir ao contexto opressor imposto pela realidade da guerra é uma forma de partilhar esse sentido de pertencimento. Daí reconhecermos na trajetória existencial da personagem Carmela, de Sinisterra e na das personagens Pilar, Maria e Concha, de Vicente Aranda essa necessidade de fazer parte da luta contra o fascismo nas frentes de batalha da Guerra Civil Espanhola, mas que é, ao mesmo tempo, luta por igualdade de direitos entre homens e mulheres. Esse esforço ou desejo, no entanto, se encontra atravessado pelo discurso do outro sobre o papel que essas mulheres deveriam exercer, já que “‘homens’ e ‘mulheres’ são construções discursivas que a linguagem da cultura projeta e inscreve na superfície anatômica dos corpos” (RICHARD, 2002, p.143).

103 Graduanda pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - [email protected]

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SOBRE “UM CERTO ARAGUAIA”

Tânia Sarmento-Pantoja104

Resumo: O estudo apresenta como provocação inicial as diversas visões constituídas acerca da Guerrilha do Araguaia, presentes em três livros de reportagem e um conto. Os livros de reportagem são, respectivamente: Operação Araguaia: os arquivos secretos da guerrilha (MORAIS & SILVA, 2012), Mata! O major Curió e as guerrilhas no Araguaia (NOSSA, 2012) e Araguaianas, as histórias que não podem ser esquecidas (FONTELES FILHO, 2013). Os dois primeiros assumidamente reportagens investigativas – e, portanto, de formato jornalístico. O terceiro acusa fronteiras formais híbridas e se revela fortemente comprometido com a recolha e reelaboração de relatos sobre a guerrilha. Constituição que me leva provisoriamente a chamá-lo de reportagem etnográfica. A ideia é traçar um diálogo entre esses livros de reportagem e o conto “Quixote”, do escritor Alfredo Garcia, com o objetivo de observar a partilha de informações e as diferentes prioridades na política da memória desse episódio da ditadura civil-militar de 1964, bem como os modos como essas prioridades incidem esteticamente sobre o formato das produções.

A LITERATURA DE TESTEMUNHO E A ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA TRAUMÁTICA NA OBRA DIÁRIO DE FERNANDO

Treicy Pâmela Castro Pereira105

Resumo: A presente comunicação tem como objetivo analisar e discutir a literatura de testemunho a partir da obra “Diário de Fernando”, que tem como autor Frei Betto, narrativa a qual descreve as atrocidades cometidas nos cárceres da ditadura militar brasileira. O foco do trabalho é aprofundar debates nos estudos éticos do testemunho de resistência, colocando em questão a alteridade, como forma de reflexão aos reais valores humanos, pois se observa nas narrativas torturas que ultrapassam os limites do homem como ser racional. Discute-se a dualidade entre as concepções do ético e do estético, tendo como base na perspectiva estética os conceitos de ficção e foco narrativo. Refletiremos sobre a tensão entre catástrofe e representação, visto que estas são essenciais para esboçar os estudos da literatura de testemunho. Visando compreender o caráter literário da narrativa de resistência definir-se-á o que é literatura tendo como base princípios da teoria literária de René Wellek e Austin Warren. Almeja-se com este trabalho entender e como se dá o trauma e qual o papel da memória nesse contexto, para isso, voltaremos a nossa atenção para a literalidade dessa experiência traumática, tendo como base ideias de Freud. Utilizar-se-á como embasamento concepções de autores como Theodor Adorno, Zygmunt Bauman, Arthur Nestrovski e Márcio Selimann-Silva. Percebemos que a literatura de resistência resgata a história contemporânea, sendo assim, é um estudo de extrema importância para a sociedade, portanto, faz-se necessário um aprofundamento das pesquisas nesse campo para que momentos traumáticos como os presentes na obra não sejam esquecidos.

104 Universidade Federal do Pará – [email protected] 105 Graduanda pela Universidade Estadual do Pará – UEPA - [email protected]

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REPRESENTAÇÕES DA IMIGRAÇÃO JAPONESA EM NARRATIVAS CONTEMPORÂNEAS

Veridiana Valente Pinheiro106

Resumo: O objetivo deste trabalho é averiguar alguns limites entre História e Literatura, observados a partir da constituição do romance histórico e também de suas relações com algumas narrativas contemporâneas, que tematizam a Segunda Guerra Mundial enquanto matéria histórica, promovendo reflexões acerca da “imigração forçada” dos japoneses para a Amazônia e para São Paulo. Mediante tal averiguação elegemos as narrativas Cinzas do Norte (2005), de Milton Hatoum, O sol se põe em São Paulo (2007), de Bernardo Carvalho e Saga (2006), de Ryoki Inoue para servirem de base para está análise. Essas narrativas foram selecionadas por conterem aspectos relacionados à matéria historiográfica que é a imigração japonesa ocorrida na primeira metade do século XX, para a Amazônia, em particular a fixação dos japoneses imigrados para a Vila Amazônia, em Parintins, no caso de Cinzas do Norte e a imigração japonesa, em São Paulo, no caso das narrativas O sol se põe em São Paulo e Saga.

O BRASIL TAMBÉM TEM LITERATURA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL: A GUERRA EM SURDINA DE BORIS SCHNAIDERMAN

Vinicius Mariano de Carvalho107

Resumo: Boris Schnaiderman foi um dos 25000 soldados que fez parte da Força Expedicionária Brasileira – FEB durante a segunda guerra mundial e também autor de uma das únicas narrativas ficcionais sobre a participação brasileira neste conflito. Diferentemente de outros países que também contribuiram com tropas, a produção literária brasileira pouco refletiu a experiência dos soldados brasileiros na guerra. Neste sentido, esta obra de Schnaiderman, Guerra em Surdina, tem uma significação especial no que diz respeito à memória histórica do envolvimento brasileiro no conflito. O estudo aqui proposto é uma leitura desta obra como um dispositvo de reflexão ética sobre a memória de conflitos armados.

A EXPERIÊNCIA DO TRAUMA RESSIGNIFICADA PELA ESCRITA DA MEMÓRIA

Vitalina Rosa de Araujo108

Resumo: A proposta deste artigo consiste em investigar as diferentes perspectivas de ressignificação da escrita nos textos literários contemporâneos, assim como buscar compreender a relação entre memória e narração na tessitura do relato em primeira

106 Doutoranda pelo programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará - [email protected] 107 King's College London - [email protected] 108 [email protected]

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pessoa no texto Em estado de memória de Tununa Mercado, que se encaixa nos estudos da memória. Nas últimas décadas contemporâneas, à necessidade por uma literatura emergente no período de transição da ditadura à democracia, veio contribuir, autorizar discussões relevantes acerca da representatividade da experiência por intermédio da escrita para o meio acadêmico e teve como expressão um movimento de considerável repercussão na Europa e, daí, espalhando no mundo inteiro, o "boom". Movimento que refletiu em parte no trabalho de luto da ditadura na América Latina, um movimento que privilegiava escritores latino-americanos. A literatura do presente quer refazer experiência do choque por via da escrita. E nesse caso, a reprodução mimética estaria no campo da encenação e presencia-se essa representatividade tanto nos setores públicos quanto privados. Fato este incontestável e que pode ser averiguado com o crescimento de romances autobiográficos e de tom memorialístico, e nas artes. Para a realização desse trabalho teremos significativos estudos sobre experiência/memória, destacando-se as contribuições de Nora (2009), Gagnebin (2011), Pollack (1989) e Avelar (2003), que acreditam que esse estilo possa trazer para o centro memórias antes excluídas do meio histórico e literário.

O GROTESCO E O HUMOR NO CINEMA NAZIXPLOITATION: A DESCONSTRUÇÃO DO IDEAL ESTETICONAZISTA

Viviane Dantas Moraes109

Resumo: Em sua sétima tese “Sobre o conceito de História (1939)”, Walter Benjamin afirma que ‘nunca houve um monumento de cultura que não fosse também um monumento de barbárie’. Ou seja, no contexto de guerra o qual o filósofo viveu, previra, de certa forma, que o século XX seria profícuo em relação à produção artística. A propósito, em nome da própria cultura, nunca houve tanto genocídio. Nesse sentido, o nazismo enquanto representante de uma das maiores catástrofes do referido século, a shoah, se revela como potência destruidora impulsionada pelo antagonismo que se sustentou num ideal de superioridade da raça ariana. O documentário “Arquitetura da destruição (1989)” nos elucida a relação entre um ideal estético de beleza e pureza que reinava na arte clássica como um dos pilares da ideologia nazista. A raça tinha que ser pura e ter a simetria das formas. No entanto, a produção cultural pós- segunda guerra, inspirada nas consequências do nazismo, desconstruiu esse ideal em várias manifestações artísticas, dentre elas, no cinema. Por volta da década de 1970, vários países, sobretudo aqueles que foram ocupados pelos alemães durante a segunda guerra, como Itália e França, passaram a produzir uma leva de filmes com a temática nazista, mas traçando uma linha subversiva ao que se considera a sétima arte. Esse conjunto foi denominado Nazixploitation e é considerado um subgênero cinematográfico. Deste modo, a estética do Nazixploitation se configura na estética do grotesco que tem como essência a deformidade. Assim sendo, esse trabalho busca traçar uma relação entre os

109 Universidade da Amazônia (UNAMA). Doutoranda de Estudos Literários, Programa de Pós- Graduação em Letras – UFPA - [email protected]

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efeitos de grotesco aliados ao cômico e ao ridículo em contraponto ao ideal esteticonazista, ou seja, a busca pelo sublime inspirada na arte clássica provocou o surgimento de uma ideologia da barbárie.

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