28 - - 3 + + + + + 8 +

JORNAL SEMANAL DA 28ª BIENAL DE SÃO PAULO sexta-feira 7.11.2008

Livros, diários, jornais e documentos. Usando realidade, memória e ficção, artistas promovem com o papel e a linguagem um reencontro com o mundo FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO PARCEIROS DA 28ª BIENAL DE SÃO PAULO Francisco Matarazzo Sobrinho (1898–1977) Presidente perpétuo [Partners Of The 28th Bienal De São Paulo] CONSELHO HONORÁRIO Oscar P. Landmann † Presidente Membros do Conselho Honorário Alex Periscinoto, Carlos Bratke, Celso Neves †, , Jorge Eduardo Stockler, Jorge Wilheim, Julio Landmann, Luiz Diederichsen Villares, Luiz Fernando Rodrigues Alves †, Maria Rodrigues Alves †, Oscar P. Landmann †, Roberto Muylaert CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Miguel Alves Pereira Presidente Elizabeth Machado Vice-presidente Membros Vitalícios Benedito José Soares de Mello Pati, Ernst Guenther Lipkau, Giannandrea Matarazzo, Gilberto Chateaubriand, Hélène Matarazzo, João de Scantimburgo, Jorge Wilheim, Manoel Ferraz Whitaker Salles, Pedro Franco Piva, Roberto Duailibi, Roberto Pinto de Souza, Rubens J. Mattos Cunha Lima, Sábato Antonio Magaldi, Sebastião de Almeida Prado Sampaio, Thomaz Farkas Membros Adolpho Leirner, Alberto Emmanuel Whitaker, Alex Periscinoto, Aluizio Rebello de Araújo, Álvaro Augusto Vidigal, Angelo Andrea Matarazzo, Antonio Bias Bueno Guillon, Antonio Henrique Cunha Bueno, Arnoldo Wald Filho, Áureo Bonilha, Beatriz Pimenta Camargo, Beno Suchodolski, Carlos Alberto Frederico, Carlos Bratke, Carlos Francisco Bandeira Lins, Cesar Giobbi, David Feffer, Decio Tozzi, Eleonora Rosset, Elizabeth Machado, Emanoel Alves de Araújo, Evelyn Ioschpe, Fábio Magalhães, Fernando Greiber, Gian Carlo Gasperini, Gustavo Halbreich, Jens Olesen, Julio Landmann, Manoel Francisco Pires da Costa, Marcos Arbaitman, Maria Ignez Corrêa da Costa Barbosa, Miguel Alves Pereira, Pedro Aranha Corrêa do Lago, Pedro Cury, Pedro Paulo de Sena Madureira, René Parrini, Roberto Muylaert, Rubens Murillo Marques, Rubens Ricupero, Wolfgang Sauer DIRETORIA EXECUTIVA Manoel Francisco Pires da Costa Presidente Eleonora Rosset Vice-presidente Álvaro Luis Afonso Simões Diretor Dráusio Barreto Diretor Diretores Representantes Embaixador Celso Amorim Ministro das Relações Exteriores João Luiz Silva Ferreira (Juca Ferreira) Ministro da Cultura João Sayad Secretário de Estado da Cultura Carlos Augusto Calil Secretário Municipal de Cultura ADMINISTRAÇÃO Flávio Camargo Bartalotti Diretor administrativo financeiro Maria Rita Marinho Gerência geral Maurício Marques Netto Gerência de Controle e Contabilidade Kátia Marli Silveira Marante Gerência financeira Mário Rodrigues Gerência de Recursos Humanos e Manutenção COORDENAÇÃO DE PROJETOS ESPECIAIS Alessandra Effori ARQUIVO HISTÓRICO WANDA SVEVO Adriana Villela CURADORIA E PRODUÇÃO APOIO INTERNACIONAL [International Support] Jacopo Crivelli Visconti Curador Vânia Mamede C. de Shiroma Coordenadora de produção Angélica Lima, Érika Fromm, Liliane Fratto, Mônica Shiroma de Carvalho, Rinaldo Quinaglia, Waléria Dias Equipe de produção Ana Elisa de Carvalho Silva, Diana Dobranszky Coordenação editorial

28ª BIENAL DE SÃO PAULO CURADORIA Ivo Mesquita Curador-chefe Ana Paula Cohen Curadora-adjunta Bartolomeo Gelpi, Fernanda D’Agostino Dias, Giancarlo Hannud Assistentes curatoriais Carolina Coelho Soares, Laura de Souza Cury, Thiago Gil de Oliveira Virava Pesquisadores A realização do jornal 28b foi possível graças ao apoio da American Center Foundation ARQUITETURA The newspaper 28b is made possible with the generous Felippe Crescenti, Pedro Mendes da Rocha Projeto expográfico support of the American Center Foundation DESENVOLVIMENTO DE ESTRUTURAS EXPOSITIVAS DO 3º ANDAR Gabriel Sierra IDENTIDADE VISUAL Daniel Trench, Elaine Ramos, Flávia Castanheira apoio institucional [Institutional Support] VIDEO LOUNGE Wagner Morales Curador Isabel García, Maarten Bertheux Curadores convidados Carlos Farinha, Clarice Reichstul Curadores colaboradores Clara Ramos Produção Conferências Luisa Duarte Coordenadora-geral Dulce Maltez Coordenadora de produção WEBSITE Tecnopop

JORNAL 28b Marcelo Rezende Editor-chefe Ana Manfrinatto Editora-assistente Eduarda Porto de Souza, Isabela Andersen Barta Repórteres Projeto Gráfico Esse projeto foi realizado com o apoio da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo - Programa de Ação Cultural - 2008 Angela Detanico Rafael Lain Diagramação e Direção de Arte Carla Castilho Lia Assumpção Iná Petersen Assistente de arte Claudia Fidelis Tratamento de imagem André Mariano, Marília Ferrari Estagiários Documentação Fotográfica Amilcar Packer Editor e fotógrafo Rogério Canella Editor-assistente Alexandre Schneider, Autumn Sonichsen, Esther Varella, Maurício Reugenberg, Patrícia Stavis, Tuca Vieira Fotógrafos Este impresso possui PARCEIRO Tradução a certificação FSC Henrik Carbonnier Revisão Todotipo Editorial (português) e Anthony Doyle (inglês) Redação Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera, Portão 3, CEP 04094-000, São Paulo, SP Brasil (55 11) 5576-7600 Publicação METRO capa: mural do projeto do artista Erick Beltrán_foto Autumn Sonnichsen editorial: foto Rogério Canella EDITO a cada um RI seu papel Sentadas no piso da Planta Livre (o 2º andar do Pavilhão da Bienal), são mulheres, AL formam um grupo e lentamente desmancham a segunda edição do jornal 28b. Dobram as páginas com precisão e vão construindo — concentração monástica e procedimento industrial — barquinhos de papel. Cada página fornece aos objetos uma cor, uma imagem; são dezenas, formam uma frota sob a total ausência do mar e vão ocupando silenciosamente o espaço. Um segurança se aproxima, recolhe todo o material em um grande saco de lixo e o tira dali, alegando que “não, não pode”. Há uma imensa frustração. Elas reagem com uma frase: “Nós voltaremos”.

No primeiro andar, um casal sorri — jovens, sentados lado a lado, uma notável tensão erótica —, os dois olham um para o outro e sorriem mais uma vez, com a caneta diante de uma folha de papel procurando as melhores respostas para o questionário em torno da explicação do mundo, preparado pelo artista mexicano Erick Beltrán. No lugar, a impressora movimenta as chapas contra o papel, há um ruído intermitente. Ele se volta e pergunta a ela: “Você viu o que eu respondi?”.

“O uso da vida cotidiana, no sentido de um consumo do tempo vivido, é ordenado pelo reino da raridade: raridade do tempo livre; e a raridade do uso possível desses tempos livres.” (“Perspectivas de modificações conscientes na vida cotidiana”, Revista da Internacional Situacionista, nº 6, 1961)

No Plano de Leituras, terceiro andar, quatro crianças — com os pés descalços e o rosto sujo de um dia passado no parque — tentam descer pelo “Valerio Sisters”, projeto de Carsten Höller. Estão sozinhas. Têm entre 10 e 11 anos. Na fila para o escorregador, contam que vieram do Capão Redondo, bairro periférico da Zona Sul de São Paulo. Uma das monitoras avisa que não poderão descer. Alguém aponta as regras coladas na parede, que indica que elas têm idade para escorregar sem acompanhantes. A monitora parece indecisa, preocupada, murmura algo sobre ser punida por alguém se as crianças forem notadas. O bombeiro que ajuda as pessoas a se instalarem na obra diz: “Acho que se é livre, então é livre para todos”. As crianças descem.

“Essa ciência infantil joga ou manipula alguma coisa muito particular: a criança constrói seu tesouro com tal confusão de detalhes roubada do mundo; isto é, a ordem pensada e construída pelos outros.” Jean-Louis Schefer no ensaio “Figures peintes”.

Há uma movimentação atípica no Pavilhão da Bienal. Uma equipe (fotógrafo, maquiador, produtores, assistentes) procura encontrar o melhor ângulo, fundo e forma para a atriz Susana Vieira. Trata-se de uma sessão de fotos para uma revista de celebridades. O artista brasileiro Alexander Pilis — que vive em Barcelona e apresenta na 28ª Bienal o projeto “Arquitetura paralaxe: (Desaparecer-aparecer)” — aproxima-se, motivado pela curiosidade. Ele se dirige a Susana: “O que é isso?”, Pilis pergunta. Ela fala das fotos, das celebridades, de si mesma. “Mas quem é você?”, ele diz. “Sou uma atriz. E você, quem é?” Os dois parecem se entender. “Eu sou um artista.”

A cada um seu papel.

Marcelo Rezende editor-chefe Espécies Tomando o curador como um mediador – aquele que está entre a produção artística e as diferentes formas em que essa produção pode chegar a público –, gostaria de analisar dois caminhos opostos, de ou complementares, observados em algumas práticas artísticas contemporâneas. Por um lado, algumas práticas expandem de diferentes A flexibilidade formas os limites físicos e/ou teóricos da arte, estabelecendo, muitas vezes, relações com outras esferas da sociedade, sejam elas políticas, espaço sociais, institucionais. Por outro, me interessa pensar em como essas dos espaços propostas podem voltar ao espaço de exposição – não exatamente um espaço de arte dentro dos padrões desenvolvidos pelos museus de arte moderna no início do século 20 (salas com paredes brancas, luz e/ou como artificial, criando um ambiente controlado para uma experiência habitá-los direta do espectador com a obra, pensado para a produção de arte daquela época) –, cujo objetivo principal era apresentar trabalhos de arte que poderiam ser apreendidos de uma só vez, em um mesmo tempo e espaço. Em outras palavras, como mediar uma produção contemporânea que não se manifesta em apenas um objeto, mas que inclui outras formas de ação, discurso, tempo, deslocamento?

Ligada à proposta de expansão dos limites da arte, tomemos , a idéia de circuitos existentes “Inserções em circuitos na sociedade para pensar numa ideológicos”, 1970 possível mobilidade da produção foto Cortesia Galeria artística em diferentes espaços Luisa Strina e tempos. A obra “Inserções em circuitos ideológicos”, de 1970, do artista brasileiro Cildo Meireles, trata a questão sociedade, ao estender a possibilidade de realização do trabalho a qualquer pessoa – com contundência. “Inserções em circuitos ideológicos” por lidar com elementos que fazem parte do cotidiano, e que estão ao alcance de todos consiste basicamente em instruções para inserir (no caso, garrafas de Coca-Cola, cédulas de dinheiro e o próprio circuito em que tais informação subversiva ou crítica em garrafas de Coca-Cola objetos estavam inseridos). e em cédulas de dinheiro, e retorná-las à circulação. Interessa aqui abordar a forma como o próprio artista Como contraponto ou complemento a essa expansão, acredito que voltar ao espaço de definiu a importância dessa obra, em texto escrito pouco exposição é uma forma de concentrar elementos de um discurso para que ele possa tempo depois de concebê-la: ser efetivo no campo da reflexão, para não correr o risco de se diluir em meio aos circuitos da vida real. Nesse sentido me parece que artistas como Erick Beltrán, Mabe “A meu ver o importante nesse projeto foi a introdução Bethônico ou Goldin+Senneby, participantes da 28ª Bienal de São Paulo, constróem do conceito de ‘circuito’, isolando-o, fixando-o. Esse estruturas flexíveis e autônomas, propostas como projetos artísticos a médio ou longo conceito determina a carga dialética de trabalho, uma prazo, para, dentro delas, articular uma série de idéias, obras, coleções, ações, vez que parasitaria todo e qualquer esforço contido na criando sistemas específicos para os elementos que integram suas proposições. Atuando essência mesma do processo (o meio). (…) Então, a idéia como mediadores de sua própria obra – fato relevante para a reflexão sobre a extensão inicial era a constatação do ‘circuito’ (natural) que das fronteiras do espaço de arte, do objeto de arte e do papel do artista, aberta existe e sobre o qual é possível fazer um trabalho real.” na década de 60 –, tais artistas propõem projetos que se revelam para o público em caminhos alternativos e complexos de leitura, que muitas vezes se abrem para sua Para além da constatação da existência desses circuitos participação ou solicitam a colaboração de outros profissionais, artistas ou não. – imateriais e invisíveis, ainda que cada vez mais presentes na vida contemporânea –, “Inserções…” propõe Entender esses processos e estratégias, bem como abrigar a produção artística uma mudança significativa da posição do artista na decorrente, é um dos objetivos da 28ª Bienal de São Paulo. Na primeira edição deste jornal, foram apresentadas as diferentes plataformas do evento, que vão se constituindo no decorrer do ano de 2008 a partir das propostas dos artistas, dos conferencistas e do público participante. O Plano de Leituras (3º andar do Pavilhão da Bienal) propõe uma estrutura expositiva pensada e desenvolvida em colaboração com alguns dos artistas participantes, de forma que o sistema de mobiliário desenhado pelo artista colombiano Gabriel Sierra pudesse se adaptar ao trabalho de cada artista, acolhendo tanto as obras quanto o público em suas mesas, vitrines, painéis, bancos e cadeiras. Se parte das práticas contemporâneas propõem, ao voltar aos espaços da arte, um tempo de pesquisa, de leitura, de articulação de diferentes idéias e projetos, o dispositivo apresentado busca criar uma outra relação no contato do público com as obras, em um ambiente mais próximo ao tempo da biblioteca que ao das grandes exposições.

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 4 Erick Beltrán trabalha com edição e reutilização de informação; sua obra funciona como uma espécie de vírus, que entra em sistemas estabelecidos de comunicação – como os jornais, por exemplo –, utilizando-os como meio para o próprio trabalho. Seus projetos variam de uma intervenção pontual em um jornal de grande circulação, à produção de uma enciclopédia que busca explicar o funcionamento das coisas do mundo, desenvolvida ao longo de vários meses. Sua produção é um exemplo de trabalho que não cabe no formato padrão de exposição de arte – tanto no que diz respeito ao espaço físico quanto ao tempo instituído pelos museus ou galerias.

Em uma edição do jornal Het Parool (Holanda), por exemplo, Beltrán retirou todas as letras Iniciado por Mabe Bethônico no ano de 2000, o museumuseu caracteriza-se como uma estrutura que “u” do texto da capa, substituindo-as por articula coleções, atividades, textos, imagens etc. organizados em quatro núcleos principais: espaços em branco. Sem a letra “u” – que em A história no museu, Além do museu, Há tempo no museu e A palavra no museu. Projetado e ativado holandês significa “você” –, a informação sofreu para funcionar a longo prazo, o museumuseu constitui-se pela prática contínua de pesquisa, uma alteração mínima, mantendo seu conteúdo; acúmulo, coleção, classificação e criação de novos sistemas a partir de elementos/documentos no entanto, a falta daquela letra desperta em um retirados de seu contexto original. leitor atento a consciência da construção diária da informação, em que falhas e intervenções As coleções e atividades do museumuseu lidam com os limites entre ficção e realidade, ideológicas podem e estão sempre presentes. documentação e construção, evidenciando como a informação pode ser construída e retrabalhada continuamente, questionando assim uma verdade instituída, criada por instituições como o Jornal Em outros trabalhos, a coleção de informação ou o próprio Museu. Se, por um lado a artista faz uso de instrumentos museológicos, criando provém do público de onde o projeto se realiza. sistemas de classificação, conservação e coleção de determinados objetos, por outro abre A importância do processo de impressão, assim possibilidades de combiná-los e acessá-los de formas diversas, em diferentes tempos, propondo como a mudança da dinâmica do espaço de arte, novas leituras e formas de apreensão daqueles materiais. Ao desconstruir afirmações absolutas ficam, nestes casos, mais evidentes. Em “Nothing e valores predeterminados, e propor ao público que as reconstrua partindo de combinações but the Truth” [Nada além da verdade], 2001, variáveis, suas coleções subvertem e atualizam a própria noção de instituição. Betrán transformou uma sala de exposição em editora e gráfica, coletando, editando e O projeto realizado para a 28ª Bienal de São Paulo, “União Cultural Ibirapuera”, descrito em imprimindo as mentiras registradas pelo público em reportagem publicada na edição nº 2 deste jornal, cria suas próprias plataformas de atuação: um livro em branco. Enquanto as pessoas escreviam 1. A newsletter nº 3 do museumuseu, publicação que reúne apropriações de jornais de arquivo suas mentiras prediletas, Beltrán trabalhava e outros documentos encontrados por Mabe Bethônico durante suas pesquisas nos diferentes no computador, diagramando as mentiras em departamentos e instituições do Parque páginas que eram impressas e distribuídas Ibirapuera; 2. O programa de ações, que em uma hora. Ao realizar a compilação e acontece no próprio espaço expositivo publicação do material, o artista evidencia do 3º andar, todos os dias, às 16h, o processo de coleta, seleção e circulação com depoimentos de funcionários de das informações, propondo ao público uma diferentes instituições do Parque reflexão crítica sobre o processo editorial. do Ibirapuera; 3. Arquivo crescente de cadernos e diários produzidos O projeto desenvolvido para a 28ª Bienal depois de cada encontro e apresentados de São Paulo, “O mundo explicado”, tem ao público posteriormente no espaço um funcionamento semelhante. Trata-se de expositivo. Os cadernos misturam uma enciclopédia formada por conhecimento documentos encontrados, histórias não especializado. Partindo da idéia de contadas e registro dos depoimentos. micro-história, Beltrán põe em prática sua investigação, que tem como tese que qualquer Os projetos realizados por Mabe pessoa pode gerar teorias sobre como funciona Bethônico podem se estender por toda a o mundo; a relação cambiante entre todas vida, como é o caso do “Colecionador” essas teorias geram “O mundo explicado”. (1996-), ou surgir de uma pesquisa de meses (como “Caracteres geológicos peculiares”, desenvolvido na Colômbia durante o ano de 2007, ou “União Cultural Ibirapuera”, em São Paulo, 2008), e vão sendo incorporados nesse grande arquivo flexível, que começa na internet, se estende por diferentes espaços, ações, 28.10.2008 apresentações e instituições, até Acima, registro voltar ao mesmo site, modificando a de um dos encontros promovidos pela estrutura e as relações entre as partes artista Mabe Bethônico do museumuseu a cada novo elemento no Plano de Leituras acrescentado (www.museumuseu.art.br).

foto Amilcar Packer

À dir., reprodução Ana Paula Cohen da primeira página do jornal holandês curadora-adjunta Het Parool da 28ª Bienal

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 5 O CATÁLOGO Partindo da menor unidade da escrita, a letra, a mineira Valeska Soares desconstruiu o catálogo da 1ª edição da Bienal, de 1951, em letras de papel tridimensionais sobre um tapete de 5 metros x 7 metros. O tapete é a capa do catálogo, confeccionado em lã. A quantidade e a proporção de letras são exatamente as mesmas dos textos do catálogo, mas já sem o significado que palavras, frases e parágrafos inteiros lhes conferem. Os textos do catálogo contextualizam o nascimento da Bienal, seus objetivos, suas regras, sua relação com a Bienal de Veneza, seus participantes. Porém, nesse trabalho (que se encontra no 1º andar, junto à rampa), Valeska privilegia a importância histórica do livro acima de seu conteúdo, desconstruído nas formas básicas de A ficção letras, que podem ser utilizadas para escrever Partindo para o registro da literatura, a francesa Sophie Calle apresenta nesta 28ª qualquer outra coisa, transformando-o num texto Bienal “Auto-Portrait (la filature)” (Auto-retrato (A arte de fiar), no qual acontece livre. O visitante terá que cruzar esse trabalho uma dupla narrativa: a da artista e de um detetive contratado para segui-la. Outra peça cheio de referências, intitulado “Catálogo”, é o livro “Double Game/ Gotham Handbook”. “Double Game” (Jogo duplo) é uma resposta para chegar ao Plano de Leituras, no 3º andar. ao romance do norte-americano Paul Auster, Leviatã, de 1992, em que a artista serviu de modelo para a personagem Maria – uma fotógrafa com estranhas experiências. Em “Double Game”, Calle relata algumas performances suas que foram adaptadas a Maria, como uma coleção de presentes de aniversário que ela deixava à mostra ano após ano A máquina em uma estante com portas de vidro, e também os trabalhos de Maria que ela recriou Ainda privilegiando as pequenas unidades da em sua vida. A segunda linguagem verbal escrita, a também mineira parte, “Gotham Handbook” Rivane Neuenschwander apresenta uma instalação [Livro de bolso Gotham, o (originalmente executada em 2004) com máquinas de Do romance O estrangeiro, de apelido de Nova York], é escrever modificadas para só grafarem pontos. As Albert Camus, aos personagens a documentação que Calle teclas não mudam, de modo que se sabe o que está fez sobre o cumprimento sendo escrito. Mas o conteúdo não pode ser lido da cidade de um desafio de Paul normalmente, cria-se outra codificação. Máquinas Auster: que ela criasse e de escrever e folhas de papel são disponibilizados de São mantivesse uma amenidade para o público, que pode escrever uma mensagem O Paulo sob pública em Nova York. posteriormente indecifrável para qualquer outro, ou Calle equipou uma cabine criar imagens de palavras e figuras com os pontos, a forma de telefônica de Manhattan restituindo a linguagem conhecida por todos. Os quadrinhos, com um bloco de notas, uma resultados são pregados a um painel, permitindo a PRAZER garrafa d’água, um maço de leitura coletiva e a constituição de uma narrativa a escrita se cigarros, dinheiro, flores aleatória pela proximidade e continuidade das folhas. e outros itens. Todos os torna motor dias, ela limpava a cabine DO e repunha os itens, até A enciclopédia e plataforma que a companhia telefônica Não tomando os elementos da linguagem como ponto na 28ª os removeu. O livro foi de partida, mas como meio para a construção de TEXTO co-escrito por Paul raciocínios, o mexicano Erick Beltrán apresenta Bienal Auster, num jogo constante “O mundo explicado”, uma enciclopédia de entre arte e vida, ficção conhecimento não-especializado constituída a e verdade. partir de entrevistas com pessoas (escolhidas de forma aleatória) convidadas a explicar Por Isabela Andersen Barta temas propostos pelo artista. Por meio de O diário questionários, Beltrán foi reunindo teorias e Os suecos Simon Goldin e explicações sobre temas tão diversos quanto Jakob Senneby desenvolvem a guerra, a Bolsa de Valores, a composição da desde 2007 o projeto “Looking for Headless” (Procurando por Headless), em que cola, o cultivo do tomate, a intuição. “Como investigam as origens e estruturas de funcionamento de uma empresa offshore (em definir essa coisa estranha que é o mundo, que paraísos fiscais) chamada Headless Ltda., nas Bahamas. Ao mesmo tempo, um escritor pode ser tudo?”, pergunta ele. Animais, política, contratado por eles, John Barlow, escreve um romance sobre a dupla de artistas que sociologia, antropologia, leis físicas, plantas investiga a empresa ao lado de uma escritora, K.D., e se envolve numa rede de mistério e muitos outros assuntos estão presentes em seu e assassinato. O livro, Headless (Acéfalo), ainda está inacabado, e na Bienal os questionário de 800 perguntas. “Quero compreender artistas apresentam um desdobramento desse trabalho: “In Search of a Story” (Em busca as idéias que as pessoas têm do mundo. As de uma história), diário em oito partes da autora ficcional K.D., publicado a cada respostas que chegam até mim que são fruto de edição do jornal 28b na forma de uma reflexão sobre seu romance inacabado. Além disso, conhecimento especializado são automaticamente o prólogo e os primeiros quatro capítulos do romance estão à disposição do público, em descartadas.” Todo o material das entrevistas português e em inglês, no Plano de Leituras. gerou um conjunto de mapas, diagramas e descrições de como o mundo funciona do ponto de vista de não especialistas. No 1º andar do Pavilhão funciona O quadrinho uma pequena gráfica para a impressão O artista indiano Sarnath Banerjee também utiliza o jornal como suporte, mas para das páginas da enciclopédia, num processo publicar suas “reportagens gráficas”, entrevistas com pessoas reais em forma de aberto ao público. O visitante pode responder quadrinhos. Com formação de cineasta (documentários para o cinema), o artista publicou a um questionário e ter suas respostas dois livros em quadrinhos narrando questões históricas e sociais de seu país de origem, incluídas no trabalho. A cada hora, 500 páginas mas com personagens fictícios. Nas histórias que publica no 28b, Banerjee junta são impressas. No Plano de Leituras (3º andar), a linguagem dos quadrinhos com uma pitada de jornalismo. Para ele, os quadrinhos as páginas ficam expostas num painel, são a melhor forma de comunicar uma idéia, mas são comumente vistos como um gênero, e no fechamento da linha de produção, e não como suporte. Segundo o artista, o jornalismo é muito menos objetivo do que ainda durante o evento, a publicação será se acredita, porque traz escolhas subjetivas do repórter em todas as instâncias. disponibilizada em sua totalidade.

O escritor Na parede ao lado da entrada para a obra “Valerio Sisters” (o tobogã, no Plano de Leituras) – do belga Carsten Höller – está a obra da artista norueguesa Vibeke Tandberg. Ela organizou em ordem alfabética todas as palavras presentes na obra fundamental de Albert Camus, O estrangeiro, escrita em 1942, período áureo do existencialismo francês. O romance é a descrição de um homem que se recusa a interpretar a própria existência, o que o torna indiferente ao que lhe ocorre. A desconstrução física do livro em suas 32 mil palavras retira da obra o olhar sobre o desafio da vida e a reduz à sua base lingüística.

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 6 1_1.11.2008 O romance O estrangeiro desconstruído pela artista Vibeke Tandberg foto Rogério Canella

2_25.10.2008 A instalação “[…]”, com máquinas de escrever modificadas, de Rivane Neuenschwander 1 2 foto Rogério Canella

3_25.10.2008 “Auto-retrato (A arte de fiar)”, de Sophie Calle foto Amilcar Packer

4_2.11.2008 A escritora ficcional K.D. personificada na performance de Simon Goldin e Jakob Senneby foto Autumn Sonnichsen

3 4 O bibliófilo José Mindlin, 94 anos, possui em sua biblioteca entre 25 mil e 30 mil títulos, sendo que cada título pode ser um folheto 28b Qual é sua relação com o livro como objeto físico: a capa, o papel, ou uma coleção com 300 volumes. Mindlin foi as fontes tipográficas, o contato tátil? conselheiro da Fundação Bienal de São Paulo José Mindlin O livro tem basicamente a mesma forma desde que foi por muitos anos, mas desligou-se recentemente. inventado, em 1455, ou seja, há mais de cinco séculos. Folhas soltas Chegou a ser presidente da instituição, e durante ou dobradas, texto e ilustração, em brochura ou encadernação. A maneira seu mandato promoveu a exposição de apresentar “Tradição e ruptura”, em 1984. Ele o conteúdo varia, dentro de 28b Mas quando o senhor encontra edições esteticamente mais participa do ciclo de conferências certos limites bonitas de títulos que já possui, compra-os de novo, não? “Histórias como matéria flexível: de formato e Práticas artísticas e novos sistemas diagramação. Tenho mais de 120 Lusíadas, com variações de texto e J.M. de leitura”, organizado pela curadora apresentação. Algumas, adquiri pela raridade, como as primeiras edições, de 1572 e 1584. Eu comecei a colecionar por causa Ana Paula Cohen e que acontece entre da leitura, e depois, os dias 11 e 14, tendo lido e gostado do das 14h às 17h, texto, fui procurar as 28b Nesta Bienal, a artista norueguesa Vibeke Tandberg no auditório do diferentes apresentações. organizou em ordem alfabética todas as 32 mil palavras do O livro pode ser muito romance O estrangeiro, de Albert Camus. O que o senhor acha Plano de Leituras bonito em japonês, por desse tipo de trabalho de desconstrução física e qual a sua (3º andar) do exemplo, no qual a gente relação com essa obra? Pavilhão da não consegue chegar ao Bienal. Aqui, conteúdo mas aprecia J.M. Puxa, a pessoa não tem muito o que fazer, né? O livro o aspecto material do é um objeto de arte, para além do conteúdo de texto. Mindlin fala de livro. Tenho uma edição O livro não tem regra de uso, só regras de manuseio. Você sua relação com o dos Lusíadas em japonês. não pode dobrá-lo no meio para não estragar a costura ou a livro como objeto. Não tenho a menor idéia encadernação. Mas há pequenas variantes que dão o sabor. se o texto é exato ou Há um ditado que diz que a variedade não, como é a tradução, dá sabor à vida. Gosto muito do mas é uma curiosidade. Camus, eu o conheci pessoalmente 28b Quais são os livros mais bonitos e qual sua relação Não tenho idéia quando ele esteve no Brasil e afetiva com eles? de como o texto tenho livros com dedicatórias do Camões chegou dele. O autógrafo do autor é não só J.M. Tenho muito cuidado de falar do que eu mais gosto, ao Japão. admissível, mas aumenta o interesse porque os livros são muito ciumentos. Se declaro uma pelo livro. preferência, estou me arriscando a ter problemas com os que não foram incluídos. Gosto do livro em geral. É preciso conhecer minha biblioteca para entender o que eu chamo de “loucura mansa”, que é essa paixão. NA O livro tem um aspecto de ser vivo. Ele tem uma particularidade, que é ser muito tolerante e estar sempre à disposição. Você pode ter um livro na estante e depois de dez anos resolver mexer nele, que estará à BIBLIOTECA sua sem reclamar do esquecimento. Ele é um companheiro de vida impressionante. Gosto de livros desde criança. Uma vez eu estava numa biblioteca, peguei um livro e fingi que estava lendo em voz alta, assim murmurando, porque eu ainda não sabia ler. Aí meu pai perguntou o Por Isabela Andersen Barta que eu estava fazendo com o livro de cabeça pra baixo, e eu fiquei encabulado. Quando contei essa história pra uma neta minha, ela falou: “Mas como, se o livro “Eu diria ao senhor de início que não se trata simplesmente aqui dos interesses de uma não tem cabeça”?. Tenho uma sensação de que o livro é comunidade. Ah! Que me importa que haja uma comunidade de mais ou de menos, para mim que sou um intocável. O Mário de Andrade costumava ter duas cópias dos mais zelosos partidários da liberdade tomada em seu sentido irrestrito, que sofre com a dor da obra que iria ler. Uma, ele usava só para leitura, de ver o último dos talentos obstruído em seu exercício, os braços dados pela natureza e atados e na outra escrevia suas notas e comentários. Não dá pelas convenções, que foi sempre convicto de que as corporações eram injustas e funestas, vendo pra profaná-lo, o livro, com texto que não seja do sua abolição inteira e absoluta como um passo em direção a um governo mais sensato? autor. Eu tomo notas num caderno ou mesmo num papel avulso, que invariavelmente perco. É a mesma coisa É do que se trata, examinar, no estado onde estão as coisas e mesmo sob outra hipótese, quais no trato com as pessoas: algumas não gostam de ser deverão ser as conseqüências dos ataques recebidos (…) qual ligação existe entre o comércio e a literatura; se é possível piorar um sem prejudicar o outro, e empobrecer o editor sem arruinar tocadas, outras adoram um abraço. o autor; o que é o privilégio dos livros; se esses privilégios devem ser incluídos sob a denominação geral e odiosa de outras exclusividades; se há qualquer fundamento legítimo em limitar a duração e recusar a renovação; qual a natureza do acervo de uma editora; quais são os títulos de possessão de uma obra que o editor As adquire pela concessão de um escritor; se eles são transitórios ou se são eternos. revoluções O exame desses diferentes pontos me levará aos esclarecimentos que senhor me pede, entre outros. favoráveis

Mas, em primeiro lugar, considero, senhor, não mencionando o descaso indecente e contrárias em um homem público que diz, sob qualquer circunstância, que se chegarmos a reconhecer que teve uma má escolha terá apenas que voltar pelo caminho de seus passos e refazer o que fizemos, maneira indigna e estúpida de jogar com o estado e a fortuna do cidadãos, que considero mais insuportável cair na pobreza que ter nascido na miséria. Que a condição de um povo brutalizado é pior do que a de um povo bruto. Que um ramo desgovernado do comércio é um ramo perdido do comércio; e que fazemos em dez anos mais mal do que poderemos reparar em um século. Penso que mais os efeitos de uma má política são duráveis, mais é essencial ser cuidadoso (…) Eu lhe pergunto se não existe uma vaidade bem estranha, se não fazemos uma injúria àqueles que nos precederam em nossa função ao tratá-los apenas como imbecis, sem ter se dado a tarefa de retornar à origem das instituições, sem examinar as causas que os guiaram e sem ter seguido as revoluções favoráveis ou contrárias pelas quais passaram. Me parece que é na história das leis ou de toda outra regra que é preciso procurar os verdadeiros motivos para seguir ou abandonar a linha traçada; é também por aqui que eu começaria. Será preciso olhar as coisas com distância; mas, se eu não o ensino nada, o senhor reconhecerá ao menos que eu tinha as noções preliminares que supõe. Queira então ter a bondade de me acompanhar.”

Trecho de “Carta sobre o comércio de livros” (1763), de Denis Diderot. Nicolás Robbio 28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 Artista participante da 28ª Bienal de São Paulo 9 1.11.2008 A primeira visita guiada aconteceu no último sábado, às 17h, saindo da Praça do Pavilhão O artista Carlos Ciccillo Matarazzo. Subindo a rampa, do 2º andar para o 3º, o artista chileno Carlos Navarrete, durante sua visita guiada, aponta Navarrete aponta a obra do brasileiro Iran do Espírito Santo: “Este trabalho fala do vazio. para a obra de Iran do É uma fechadura cromada, pela qual você não pode ver dentro ou através e ela te fornece um Espírito Santo reflexo. O espelho e o reflexo são vazios. A peça é pequena, quase passa despercebida e de foto Rogério Canella repente se nota”. Navarrete nasceu em Santiago do Chile em 1968, e vem ao Brasil desde os 7 anos, quando o irmão de seu pai mudou-se com a esposa para São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. O casal veio para o país devido ao golpe militar que colocou o general Augusto Pinochet no poder, em 1973. Dez anos depois da mudança dos tios, que visitava sempre, o artista começou a juntar um arquivo pessoal de fotografias, cartas e histórias da cidade de São Paulo. Em 1991, já realizando pesquisas na arte, começou a levar os tios Carlos Alberto Navarrete e Florinda Alvarez (ele professor de espanhol, ela enfermeira obstetra) para visitar a Bienal – na 28ª, as visitas guiadas aconteceram nos dias 1º e 2, e prosseguem amanhã e domingo: “Eu mostrava o que gostava, e pulava o que não gostava. Nesta Bienal é diferente: como há menos O chileno Carlos obras tenho de mostrar tudo, então é a primeira Navarrete explica visita completa, por assim dizer”. aos visitantes as obras Para o artista, a visita guiada é uma oportunidade da 28ª Bienal; para de oferecer críticas e observações sob o olhar do artista e do público – a um só tempo. Além das visitas, ele, o projeto Navarrete expõe no 3º andar seu “Archivo personal”, é uma oportunidade uma coleção de lembranças da cidade de São Paulo com mapas recortados, jornais, moedas, fichas e souvenires. de oferecer críticas “Passei quatro meses trabalhando na apresentação do e observações sob o arquivo que junto há 23 anos, e fiz isso de Santiago do Chile, através da memória e da saudade, como uma olhar do artista e do homenagem a São Paulo. Ele conta a transformação da A público – a um só tempo cidade, da Bienal e da minha família”.

Retomada arte Antes de encontrar a obra de Iran do Espírito Santo, Navarrete guiava um grupo (composto de familiares e visitantes) pelo 1º andar, detendo-se no Video Lounge. Subindo ao 2º andar, a Planta Livre, o artista fez uma crítica ao uso do espaço: “Do ponto de vista da arte não há vazio, há arquitetura. Se queriam do jogo discutir o vazio, deveriam encher esses 12 mil metros quadrados com obras que tratem do tema”. No Plano de Leituras, o 3º andar, Navarrete ia com seu passo rápido e bom humor discutindo cada obra. Mais visitantes se juntaram ao grupo pelo caminho, e a visita guiada que começou com 7 pessoas terminou com mais de 30. O artista destacou a ligação entre o norte-americano Allan McCollum, Por Isabela Andersen Barta a brasileira Leya Mira Brander e o espanhol Javier Peñafiel. “O legal de uma exposição é conseguir fazer as obras conversarem. Allan executa todas as combinações matemáticas possíveis com essas fôrmas que tem aqui. É como se ele fosse um computador humano, é trabalho que parece automatizado, mas é feito pela mão do homem. Leya, ao contrário, utiliza uma técnica antiqüíssima de gravar em metal, e sua obra se arma a partir da combinatória diferente das mesmas imagens, como Allan. Com a mesma sutileza silenciosa dela para a narrativa, Javier fez um diário de sua estadia em São Paulo, com um vídeo e uma agenda que se completam. Ele oferece perguntas e deixa as respostas em branco. Você não precisa entender tudo em arte. Esses três artistas colocam a história como algo que se encaixa aos poucos, que tem buracos e não se entende completamente.”

O chileno se detém diante do projeto do mexicano Erick Beltrán. Para Navarrete, Beltrán mostra que o conhecimento é construído de forma errática e desordenada. “Como a dele, minha obra, ‘Archivo personal’, também não tem princípio nem fim, tem um tempo, um momento. Ao contrário de Erick, que procura construir raciocínios, eu recorto um mapa para que esse elemento de encontrar-se vire um elemento de perder-se, porque a experiência da cidade é caótica.”

Quando o grupo se dirige ao fundo do Pavilhão, encontra reproduções de pinturas de Van Gogh, Cézanne, Picasso, Matisse, Da Vinci, Monet, Velázquez, Rembrandt, Miró, Goya e outros ícones da história da arte. Surge um “ah, sim”, de compreensão generalizada. “Me deu uma sensação de sair da névoa e ver o sol. Depois de passar por tantas obras abstratas para mim, chego em 1.11.2008 algo que conheço, uma zona de conforto”, diz o Nesta página, em dois momentos, Carlos tio Carlos Alberto Navarrete. O sobrinho explica Navarrete explica aos As partes de um grande todo a obra do peruano Fernando Bryce: “São reproduções visitantes os projetos de obras de arte fundamentais adquiridas pela da 28ª Bienal

Universidade São Marcos, de Lima, para constituir fotos Rogério Canella um museu da reprodução, porque teoricamente não Navarrete promove uma visita guiada tinham dinheiro para comprar as originais. É um olhar incrivelmente subdesenvolvido da arte, não? por 15 anos de bienais Aqui ao lado estão as cartas que a universidade trocou durante o projeto para conseguir essas reproduções”. E o tio repete o que falava sempre 21ª Bienal (1991) “Foi a primeira vez que visitei a que se interessava por algo: “Ah, está vendo? exposição, e fiquei muito impressionado com o trabalho Se ele não tivesse me aberto essa porta eu teria da norte-americana Ann Hamilton.” passado reto sem perceber essas ligações e essas idéias. Teria achado que é qualquer coisa”. 22ª Bienal (1994) “Nesta tive a sorte de ver as salas de José Bedia, um artista cubano que mora em Miami, e ser também seu assistente. Também tive a maravilhosa oportunidade de falar com um senhor da ‘arte povera’, Giovanni Anselmo.”

23ª Bienal (1996) “Fiquei impressionado com as salas especiais e com o núcleo histórico desta edição. A obra do artista chileno Gonzalo Díaz ficou nas minhas lembranças até hoje.”

24ª Bienal (1998) “A melhor das melhores. Nesta Bienal da antropofagia achei tudo ótimo e muito bem explicado pelos curadores de cada área.”

25ª Bienal (2002) “Achei interessante a idéia de falar sobre a cidade. Mas, na verdade, só me marcou o trabalho do Jeff Koons.”

26ª Bienal (2004) “Uma edição interessante, mais marcada em minhas lembranças pelos trabalhos do chileno Eugenio Dittborn e do belga Luc Tuymans.”

27ª Bienal (2006) “O melhor desta mostra, para mim, foi o trabalho de Thomas Hirschhorn.”

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 11 Domingo à tarde. Os paulistanos estão comendo suas obrigatórias pizzas, rodando em suas obrigatórias bicicletas vestidos com suas roupas esportes, fones de ouvido brancos de seus obrigatórios iPods brilhando no intenso sol de inverno.

José Manuel surge da rua Augusta O inofensivo monstro tentando achar o “brunch” para o qual da av. Paulista está foi convidado faz três meses. conduzindo seu ritual diário de assustar as jovens.

Ele está ficando cada Enquanto as pessoas normais acordam Domingo à tarde nós encontramos Jonilson vez melhor nisso. em seus quartos, olhando para uma consertando uma prateleira quebrada Entender a complexa praça, uma avenida ou a cozinha em sua loja, que fica no cruzamento da rede de ruas de mão do vizinho, Jonilson acorda olhando Consolação com a Paulista. única e avenidas para livros. Ele vende livros usados, “SEM RETORNO”. vive e dorme entre eles.

Não é um pouco pesado dormir entre todos esses livros? Milhares de personagens mortos, alguns deles muito assustadores.

Esta Os melhores cidade só personagens não pode ter me incomodam, eles sido brigam entre si. desenhada Algumas vezes tenho pela KGB. que colocar uma ordem.

Eu não poupo nem Os livros são os bonzinhos. legais, as pessoas é que trazem problemas. Os clientes que aparecem na minha loja, alguns deles são o.k., mas as pessoas só trazem problemas.

As pessoas ficam rindo, parecem hienas. O que tem de engraçado? Poluição? Caos nos relacionamentos? Criminosos de colarinho-branco com roupas caras?

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 12 Trabalhei no departamento de arte da universidade, não gostei das pessoas lá. Mudei para o departamento de história e geografia. Livros Eu não tenho acesso de história são os a arte. Não tenho que gosto mais. tempo para isso. Gosto de arte de verdade, como escultura, pura e limpa. Arte moderna é só festas de aberturas de exposição. Acho que a Bienal deveria Meus vizinhos acontecer em provavelmente Eu tenho sete regiões pensam: quem é aquele meus livros, diferentes negro louco e fodido não preciso da cidade. que vive ao lado? de mais nada, Eu não me importo. pouco importa.

... mas pessoalmente não Por que “7”? É um me importo. Tenho meus número importante livros, não preciso de para os indianos. mais nada, pouco importa. Ele falou isso pra mim?

Eu gostaria de poder mostrar o quadro real para meu amigo. O país está se dividindo, o partido indiano de direita está na nossa porta, possivelmente vai ganhar as eleições, os Eu queria ter miseráveis e os ricos, fazendeiros nascido na Índia, se suicidando. E a matemática? matemáticos, médicos, famílias unidas, povo espiritual.

Não gosto da idéia Matemática? Não, mas de calcular números, Lá fora, a tarde está acabando. José Manuel gosto como filosofia, como mas sim de calcular está além de qualquer cálculo. Depois de imaginação do pensamento. intenções, movimento, atravessar metade da cidade, está de volta Só que não de cálculo. energia e emoção. ao mesmo lugar. No momento em que estava tão perto, um retorno errado...

Posso sentir, Jonilson está Mesmo assim, a cada dia que passa ele chega ficando cansado. Hora de mais perto de seu destino. terminar esta conversa.

Sarnath Banerjee 28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 Artista participante da 28ª Bienal de São Paulo 13 Na performance “Some Enchanted Evening”, o português Vasco Araújo sobe a rampa do Pavilhão da Bienal ao som de uma ópera, com uma saia de lantejoulas e Amanhã e domingo, às 18h15, os visitantes da 28ª Bienal de São Paulo encontrarão uma performance na rampa do Pavilhão: o artista português Vasco Araújo será carregado por a certeza de homens seminus, cantará a ária de uma ópera e, como em um sonho, desaparecerá em pouco mais ser o futuro de três minutos. Assim é “Some Enchanted Evening”. uma projeção, Segundo Vasco Araújo, a idéia de realizar essa performance – criada originalmente em 2001 para acontecer na abertura do novo espaço da Galeria Filomena Soares, em Lisboa – surgiu e o presente, da música de título homônimo, “Some Enchanted Evening”, do musical norte-americano “South Pacific” – de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein. “A música fala de alguém que quer uma encenação encontrar o amor num quarto cheio de pessoas”, explica o artista. “A música é como se fosse o último suspiro de alguém que está sendo carregado para a morte”, diz Vasco. “Os homens que me carregam usam sungas por causa da questão erótica, do desejo. Eu visto uma saia longa, glamourosa, de tule com lantejoulas, porque é como se eu fosse um ser híbrido, e a saia, um Quem viu, véu de noiva ou um véu fúnebre. Trata-se de um cortejo, a rampa é a subida para o Além.” Durante a abertura do novo espaço da Galeria Filomena Soares, quando Vasco apresentou “Some Enchanted Evening” pela primeira e única vez, os visitantes estavam conversando e, quando viu; quem o cortejo surgiu, todos olharam uns para os outros e fizeram um longo silêncio. Sobre a possível reação do público em São Paulo, o artista diz não se importar: “Se forem dez pessoas, ótimo! Porque significa que essas não dez pessoas estarão lá pela performance. Será muito importante para mim apresentar meu trabalho na Bienal de São Paulo, viu, porque esse edifício e essa Bienal são coisas míticas no cenário da arte contemporânea internacional”, diz Vasco. “Subir essa rampa de vai não ser muito importante, não tenho dúvida”, continua ele. “Aliás, prefiro fazê-lo assim, com uma performance. Quem viu, viu; quem não viu, não viu. Me parece essa a viu idéia desta Bienal que, pra mim, não é do vazio, mas sim o contrário.”

Vasco agora fala de encaixes: “Meu trabalho – que está entre a performance Por Ana e o happening – se encaixa perfeitamente Manfrinatto nesta Bienal, porque tem voz humana, seis corpos e um contato direto entre artista e público. As pessoas podem chorar ou não chorar, mas certamente não passarão ilesas a elementos tão vibrantes como a voz e o corpo”. Quando atendeu o telefone em sua casa, em Lisboa, Vasco Araújo não esperava a ligação feita pelo 28b. O “alô” do outro lado da linha demorou a ser dito. O artista escutava uma ária a todo volume. Antes de expor seus trabalhos, em 1999, ele se dedicou à ópera e ao estudo de fotografia e escultura. Vasco é fascinado pela cultura clássica, e pensa que é na análise do passado que nos revemos. “O futuro é uma projeção, e o presente uma encenação”.

Momento da performance “Some Enchanted Evening”, realizada em 2001 na cidade de Lisboa

foto Cortesia Galeria Filomena Soares

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 14 Dramatizar o humor

Por Eduarda Porto de Souza

O espanhol Javier Peñafiel cria uma nova relação com os dias e exibe por meio do projeto “Agenda do fim dos tempos drásticos” suas experiências em São Paulo

O artista espanhol Javier Peñafiel apresenta na 28ª Bienal de São Paulo sua “Agenda do fim dos tempos drásticos”. O projeto é realizado por meio de três plataformas: uma agenda em papel, na qual cria outra divisão para os dias; um vídeo, que integra essa mesma agenda, e uma performance – conferência dramatizada que acontece no dia 12, às 20h, com a participação da atriz Marisa Orth e do artista brasileiro Pazé. O projeto é resultado de suas experiências em São Paulo. Peñafiel exibe ainda em vídeo o registro da performance “Vivir entre líneas” (Las respuestas difíciles), também no Plano de Leituras.

Agenda “A agenda é composta de textos, fotos, desenhos e outros tipos de imagens. É um relato da minha experiência durante três meses que passei em São Paulo (julho, agosto, setembro deste ano) como artista convidado da Bienal. São interpretações do meu cotidiano. Eu a descrevo como uma reação contra a fatalidade. O termo ‘drástico’ é caracterizado pela antipolítica, pela sentimentalidade como abuso, a presença do consumidor, e não do cidadão. Os dias são classificados como próprios, impróprios, plurais, comuns e similares. Uma espécie de ficção-ilusão como combate a todas as aparições da fatalidade.”

Dias “Nos ‘dias similares’, a produtividade não impede a existência de espaços liberados de tempos drásticos, que convertem ócio, tédio e trabalho em um único produto. A aparição dos ‘dias similares’ torna possível a cidadania, trabalhando sem repetição. Os melhores prazeres se acumulam nos ‘dias similares’. São dias de luz artificial. Os tempos drásticos levaram a luz do dia, tal como a entendemos, à continuidade da noite. Os ‘dias impróprios’ são bem divertidos. As pessoas egoístas e autocentradas se tornam altruístas, os tímidos convertem sua passividade em eloqüência. Nos ‘dias próprios’, vivemos as preocupações que ficam conosco durante o percurso do dia. A sensação de ficar ensimesmado é muito forte. Mas o que é bom para a autobiografia é ruim para a leveza. Nos ‘dias próprios’ tudo pesa mais. São dias inúteis para desdramatizar, por nos tornarmos muito sérios, sempre vivendo o mundo em primeira pessoa. Os ‘dias plurais’ são a continuação de uma idéia drástica, da cidadania como porcentagem, mas nos ensinam menos. A hiperatividade está garantida, tudo se reproduz em formato de festival, o ócio adquire uma forma ditada pela maioria. É o lugar do número maior. Milhões de carros transitam ao mesmo tempo, uma pessoa pode conduzir dois ao mesmo tempo, em uma estranha formatação a quatro mãos e dois volantes. Nesses dias, as pessoas se desdobram para chegar a todos os lugares. Fala-se da terceira pessoa do plural, 26.10.2008 um novo organismo institucional que garantirá Acima, exemplares da um colapso brutal àqueles que elegeram em “Agenda do fim dos tempos drásticos”; seu dia a prática masoquista contínua. Os à dir., cena do ‘dias impróprios’ são dias científicos para vídeo que integra o todos, onde investigar é prioridade. Nos ‘dias projeto de Javier Peñafiel similares’, é fácil desdramatizar o amor e dramatizar o humor. Também se confundem o tédio foto Amilcar Packer e o ócio, trabalho e descanso, e uma bela sensação de despreocupação flui por esses dias. Nos ‘dias impróprios’ não há razão para dar as costas, porque se vive de traição, pensa-se sempre na melancolia do dia seguinte. As tipologias servem especialmente para os ‘dias comuns’. Não existe a palavra ‘público’. Com o passar desses dias, as pessoas adquirem uma certa imunidade ao consumo drástico.”

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 15 28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 16 Em busca de uma história Diário de K.D. em oito partes

3. Assassinato

Levei a sério demais a idéia de escrever um romance policial de crime e tro etc. A propósito, é comum que as empresas de offshore sejam mistério. Em busca de Headless tem um assassinato e um mistério. Em investigadas; às vezes, oficialmente pelos governos e, às vezes, por outras palavras, só solucionar o assassinato não basta: o assassinato, e particulares. Eu me lembro de que, quando estava começando, na possivelmente o assassino, estão ligados a um mistério mais profun­ Papua-Nova Guiné, havia uma referência constante àqueles clientes do, uma empresa misteriosa chamada Headless Ltda. De certo modo, que estavam sempre sob o escrutínio de alguma agência ou de um solucionar o assassinato só será satisfatório se o mistério da Headless investigador, e que precisávamos ter cuidado para não dizer nada também puder ser solucionado. Estamos, no final das contas, em bus- sobre eles a ninguém. Coisas de intriga e espionagem! Uma jovem ca de Headless. O assassinato é um tipo de acontecimento desenca­ solteira em Papua-Nova Guiné lidando com especuladores de repu­ deador que põe essa busca em andamento. tação duvidosa e detetives particulares. Quem disse que a minha Mas e a vítima? Seu nome é Robert. Robert Shipman, e ele trabalhava vida era sem graça?! para o Sovereign Trust, assim como eu. Ele trabalhava no escritório Seja lá como for, a Headless Ltda. foi incorporada nas Bahamas pelo So­ de Londres, no Departamento de Vendas. Na verdade, tínhamos uma vereign, e Shipman era um ex-funcionário do Sovereign, morto e sem pequena empresa de offshore juntos, a Utlandsjuristen; eu, no atendi­ cabeça. A conexão é bastante óbvia. Um corpo sem cabeça realmente mento aos clientes, e Rob, nas vendas. A Utlandsjuristen estava asso­ é a base para uma boa história. ciada ao Sovereign Trust e atendia principalmente clientes escandina­ Por uma coincidência enorme, Rob desapareceu de fato. Ele deixou vos. É quase certo que foi assim que esse artistas suecos chegaram até a empresa e desapareceu no início deste ano. Não é assim tão es­ nós, por meio da Utlandsjuristen. tranho quanto parece. Ele esteve conosco por poucos anos, e não é Seja como for, Rob viajava muito mais do que eu. Por exemplo: ele incomum que as pessoas saiam abruptamente. Trabalhar no ramo costumava ir freqüentemente às Bahamas. Nas horas vagas, ele das offshores faz ver novos horizontes, novas possibilidades, faz com mergulhava e nadava com os golfinhos. Esse tipo de coisa. Para ser que se enxergue um pouco além. Veja o meu caso! Também não é tão franca, não há muito o que fazer em Nassau em termos de trabalho. incomum sair sem deixar nenhum endereço. Aposto que Rob está E toda vez que ele ou qualquer outro era enviado para lá, do escri­ em algum paraíso fiscal neste exato momento, sem pagar imposto e tório de Londres, isso causava surpresa. E toda vez que ele chegava dando consultoria a seus clientes sobre como fazer o mesmo! em Gibraltar, ele nos causava inveja com suas histórias do Caribe e Voltando ao livro: eu queria que esse assassinato fosse ousado e tives­ de golfinhos. se um simbolismo. Você se lembra daquele sujeito que foi morto, en­ Ele trabalhava em offshore havia apenas alguns poucos anos, enquanto forcado, na ponte de Blackfriars em Londres há alguns anos? Ele era eu venho trabalhando nesse setor, de uma maneira ou de outra, desde um banqueiro do Vaticano, e foi assassinado em algum estranho ritual meados dos anos 80. No entanto, era sempre Rob que fazia as viagens associado aos maçons. Era justamente o que eu procurava, um assas­ de luxo. Quando comecei a pensar em uma vítima, fui tomada pela sinato chocante, carregado de simbologia. inveja que sentia de Rob! Acabei fazendo com que Rob Shipman apa­ A decapitação era uma forma-padrão de execução do passado, geral­ recesse morto num banheiro de hotel nas Bahamas. mente aberta ao público. De ladrões de galinha a monarcas, todos Sinto muito, Rob. Você era a escolha perfeita! Em primeiro lugar, eu perdiam a cabeça. E há também a máfia: aquela cabeça de cavalo na conheço muito bem o trabalho de Rob; “escreva sobre o que você co­ cama... Considerando tudo, a decapitação se encaixava perfeitamente nhece”, não é o que todos dizem? Em segundo lugar, havia essa cone­ nessa história. Porém, quando cheguei na descrição, quando se passa xão sueca de novo. Esses artistas marcaram uma reunião com Rob das leituras sobre assassinato para o efetivo planejamento, aí se rom­ em Estocolmo no ano passado para tratar da Headless Ltda. Rob era o peu um limite. Meu Deus, isso realmente me deixava de estômago vi­ contato deles com o Sovereign Trust e, por meio do Sovereign, com a rado. E triste. Só o fato de tomar contato ficcional com um assassinato própria Headless. Embora eu já tivesse ouvido falar sobre a Headless faz com que uma pessoa se dê conta de como matar outro ser humano antes disso, foi o interesse de Goldin e Senneby por essa empresa que é um ato horrendo, aterrador. me deu a verdadeira motivação para tomar a iniciativa de encarar E tem mais. Só estou mencionando isto en passant, porque tudo sur­ isso mais seriamente. giu como parte do processo de escrita. Meu livro é sobre a empresa Então eu tinha de assassinar Rob. Não sejamos muito exigentes aqui. Headless, e a idéia de decapitar alguém era uma conseqüência natu­ Quando se escreve um romance policial de crime e mistério, é preciso ral disso. Mas até que eu tivesse examinado as coisas de modo mais definir as coisas: como foi o assassinato, se é plausível nas circunstân­ detalhado, eu não havia me dado conta de que a antiga sociedade cias dadas, como se apresenta. De certo modo, é preciso se colocar no secreta Acéphale (também conhecida como Headless), que os artis­ lugar do assassino, para tornar a coisa toda verossímil. Sabe, o Rob é tas suecos Goldin e Senneby estão investigando, tem como símbolo um cara grandalhão, de porte atlético. E eu queria que ele fosse assas­ um homem sem cabeça. Os membros da sociedade iriam decapitar sinado por decapitação. Sei que isso é hediondo e de mau gosto, mas um deles em um ritual sagrado, embora, até onde se saiba, nunca o quando se mergulha de cabeça num romance policial, não dá para ig­ tenham feito. norar essas coisas. Pelo menos não até agora. Seria Rob Shipman um membro da Acépha­ Por que decapitação? Para começar, o assassinato nos leva a Head­ le? Seria seu assassinato um ritual, um aviso, ou estaria de alguma ou­ less, a empresa associada ao Sovereign Trust, que por sua vez nos tra forma ligado ao que sobrou da sociedade secreta Acéphale setenta leva às pessoas que estão em busca de Headless. Qualquer detetive anos após sua fundação e quase cinqüenta anos depois da morte de descobriria isso facilmente: datas e nomes em agendas, referên­ seu fundador? Na próxima semana encontraremos o sujeito que foi cias cruzadas com os detalhes da empresa, documentos de regis­ enviado para desvendar isso.

Goldin+Senneby 28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 Artistas participantes da 28ª Bienal de São Paulo. Ilustração: Johan Hjerpe 17 Horror vacui

A história de como o vazio é visto pela ciência é muito similar a outras questões científicas que precisaram se Por Fabio Tal desvencilhar de concepções filosóficas e religiosas que impediam a aceitação dos resultados práticos observados. Foi o que aconteceu com a astronomia, que por muitos anos possuía dados mostrando ser a Terra que girava em torno do Sol, mas que devido à impossibilidade de tal conceito ser aceito desenvolvia teorias complexas para que esses dados se adaptassem a essa impossibilidade, como o modelo ptolomaico de movimento do sol e dos outros planetas. Também a idéia de que pudesse existir uma região do espaço que não contivesse matéria, um vácuo, foi combatida a priori na física.

Desde filósofos e cientistas gregos como Platão e Aristóteles, que sustentavam ser impossível por questões filosóficas existir um vácuo, passando pela Igreja Católica no período da Idade Média, que por muito tempo considerou a idéia de vácuo herética e imoral, e até mesmo no século 17, quando o filósofo francês A data de 1654 Descartes sustentou que seria impossível, dada a continuidade fica marcada como do espaço, que houvesse uma região desprovida de matéria, a a transição dessas rejeição ao conceito do espaço vazio foi norma. Essa visão de concepções, por que a natureza abominava o vácuo foi chamada de horror vacui. meio da invenção da bomba de vácuo Porém as necessidades e invenções tecnológicas do século 17 pelo cientista Otto levaram esses pontos de vista a enfraquecer, e foi o desejo von Guericke, e a de criar bombas de água mais eficientes que promoveu esse sua demonstração do desenvolvimento, uma vez que elas usam o esvaziamento parcial de impacto que a mesma volumes do espaço. Nessa época, apareceu o primeiro barômetro poderia produzir de água, inventado por Gasparo Berti, que mostra os limites de no experimento utilização das bombas, e posteriormente o famoso barômetro de dos hemisférios de 19.10.2008 Detalhe da montagem mercúrio de Torricelli, o primeiro objeto a produzir vácuo em Magdeburgo. Nesse da sala da artista escala de laboratório, de maneira sustentável. teste, duas metades Eija-Liisa Ahtila de uma esfera de cobre foram unidas, e uma bomba a vácuo retirou o ar da esfera resultante. Depois, duas parelhas de cavalos tentaram separar, sem conseguir, cada

foto Amilcar Packer uma das metades.

Devemos notar que a bomba de vácuo daquela época, e mesmo os instrumentos atuais que buscam produzir vácuo em um recipiente, não chegam realmente a extrair todos os átomos desses volumes. O que esses objetos conseguem fazer é retirar grande parte dos átomos do gás que preenchia o volume, deixando-o rarefeito, o que leva a pressão interna a ser muito baixa. Num barômetro de mercúrio, a região acima da coluna do líquido não está verdadeiramente vazia, e sim preenchida por gás de mercúrio, mas com pressão muito baixa quando comparada à pressão atmosférica. Ainda hoje usamos unidades de pressão para indicar a qualidade do “vácuo” produzido.

Produzir “vácuos” de boa qualidade é uma tarefa de extrema dificuldade, e de grande importância para diversos experimentos. Em aceleradores de partículas, por exemplo, é essencial que a

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 18 região por onde a partícula será acelerada seja um vácuo de qualidade extremamente boa, pois ela 19.10.2008 não deve colidir com os átomos em seu interior. Por muito tempo se imaginou que seria possível “O momento da oração”, obter um vácuo perfeito ou ideal, e que o espaço cósmico seria uma realização desse ideal; videoinstalação de entretanto, hoje sabemos que mesmo o espaço interestelar é um plasma, um outro estado da matéria Eija-Liisa Ahtila diferente dos gases e que contém partículas carregadas e mesmo alguns átomos de hidrogênio por na 28ª Bienal centímetro cúbico. Ainda assim, a pressão do espaço cósmico é ínfima, cerca de um bilhão de vezes menor do que a pressão atmosférica. Atualmente é possível, em laboratório, obter vácuos parciais de extrema qualidade, com pressão cerca de um bilhão de vezes menor do que a menor pressão foto Maurício Reugenberg observada no espaço. Entre as dificuldades observadas na produção dessas pressões estão eventos com os quais não costumamos ter problemas, como a ebulição de óleos lubrificantes e a possível liberação de vapor de água devido às moléculas de água impregnadas nos metais de que são feitas as bombas e os recipientes.

O espaço intergaláctico (entre as galáxias) também está preenchido por algo chamado radiação cósmica de fundo. Essa radiação é formada por ondas eletromagnéticas na faixa das microondas, portanto invisíveis, mas que se comportam como os raios de luz. A existência dessa radiação foi prevista como conseqüência da teoria do Big Bang em 1948, e confirmada por experimentos em 1965, sendo até hoje considerada um dos maiores indícios de que a teoria é válida. A radiação pode ser entendida como uma luz residual desse evento, e faz com que a temperatura mínima do espaço não seja o zero absoluto, mas sim algo ínfimo da ordem de 3 graus Kelvin.

Ainda que tenha caído no século 17 a concepção de que não se poderia tentar éter. Porém, quando se tentou detectar qual seria a velocidade da Terra relativa esvaziar de matéria um recipiente, a esse meio, no famoso experimento de Michelson e Morley, um dos mais significativos até o final do 19 se insistia que na história da física, não se detectou velocidade nenhuma. O experimento, apesar o espaço era preenchido por uma de seu insucesso com respeito aos objetivos iniciais, foi crucial no desenvolvimento substância misteriosa e invisível, que da física moderna ao indicar que a velocidade da luz é a mesma em todas as direções, não causaria fricção perceptível com ponto de partida para a teoria da relatividade. os corpos, mas tão rígida a ponto de permitir a passagem das ondas luminosas Entretanto, a física moderna e a mecânica quântica vieram a rever a idéia de “vácuo com grande velocidade. Seria o chamado perfeito”. Como acontece com a teoria da relatividade, a mecânica quântica tem seus efeitos práticos geralmente em escalas muito distintas daquelas que vemos no nosso cotidiano, e as analogias para explicar esses efeitos geralmente são muito pouco intuitivas. Um dos pilares da mecânica quântica é o princípio da incerteza, Fabio Tal é graduado que fala que é impossível saber simultaneamente a velocidade e a posição de uma em Ciências Moleculares partícula. Uma conseqüência desse princípio é que partículas virtuais podem aparecer pela Universidade de espontaneamente num espaço vazio, impossibilitando a existência de vácuos ideais. São Paulo (USP), doutor Existe um conceito correspondente ao vácuo na mecânica quântica, mas ele não é em Matemática Aplicada igual a um simples espaço desprovido de matéria. Em particular, todo espaço contém pela mesma universidade energia, e isso é verificado por suas conseqüências físicas. e pós-doutor pela New York University Uma conseqüência bem conhecida é o Efeito Casimir, segundo o qual duas placas metálicas descarregadas que são postas paralelas a uma distância muito curta passam a se atrair. A presença das duas placas de certa forma diminui a quantidade de energia do espaço entre elas, levando a essa atração. Esse efeito só é perceptível quando a distância entre as placas é da ordem de centenas de vezes o diâmetro de um átomo. Nesse caso, um efeito análogo existe em escala macroscópica. Dois navios próximos numa maré forte se atraem de forma perceptível. Isso ocorre porque o mar entre os navios está mais parado, portanto tem menor energia do que o mar do lado externo das embarcações. Da mesma forma, a energia do espaço vazio entre as placas é menor do que a do espaço vazio livre.

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 19 Yolanda Penteado

Talvez a parte mais importante da vida de Yolanda Penteado (1903-1983) tenha sido aquela vivida depois do final mostrado em 2005 pela minissérie “Um só coração”, de e Alcides Nogueira. Na televisão, sua biografia termina com a separação de seu segundo marido, Ciccillo Matarazzo, o fundador do Museu de Arte Moderna (MAM) e da Bienal de São Paulo. O que o público pôde ver foi a história de uma menina bem-nascida e educada, acostumada a ambientes aristocráticos locais e no exterior, nos quais teve diversas oportunidades de conhecer pessoas importantes e interessantes; que se tornou uma mulher enérgica, elegante e única, uma mentalidade avançada para o seu tempo, um espírito moderno e empreendedor, sempre batalhando por uma sociedade mais aberta, civilizada, otimista e comprometida com o Brasil.

Desde o início dos trabalhos para a realização da 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, ela foi o braço direito de Ciccillo, ajudando-o a superar, graças ao seu esforço próprio e ao mundo de relações que soube pôr em movimento em toda parte, as dificuldades e os obstáculos para a realização das primeiras mostras. Sua valiosa colaboração é confirmada por “locomotivas” da vida social e cultural da cidade, documentos e registros guardados no Arquivo Histórico Wanda Svevo: sua amizade tendo sido transformados, pela imprensa da época, com André Malraux, que encampou o projeto de uma bienal brasileira, franqueou-lhe em símbolos da pujança paulista e do espírito a circulação entre os organismos de cultura na Europa; seus encontros com Picasso desenvolvimentista e civilizador daquele período. foram fundamentais para a realização da mostra do artista na 2ª Bienal (1953); seus relacionamentos com políticos e governantes facilitaram a liberação de recursos Com o fim do casamento, em 1961, Yolanda passa necessários aos projetos, assim como suas sucessivas viagens ao Rio de Janeiro a dedicar-se com determinação e objetividade a para explicar, a membros do Congresso Nacional, os objetivos e significados da três grandes projetos de filantropia: a Liga exposição paulistana; o apoio de artistas amigos como Maria Martins, Di Cavalcanti, das Senhoras Católicas, que tinha entre suas Léger, Brancusi e Henry Moore assegurou-lhe o trânsito entre os melhores círculos fundadoras Guiomar de Ataliba Penteado, sua mãe; intelectuais da época. Mas ela não se dedicava apenas aos contatos políticos e a consolidação do Museu de Arte de São Paulo, culturais, e também se envolvia diretamente na montagem das salas de exposição, o Masp, sonho e realização de seu grande amigo na recepção de convidados e delegações estrangeiras, na programação total do Assis Chateaubriand; e a implantação definitiva do evento. Ciccillo Matarazzo e Yolanda Penteado, ao longo dos anos 1950, foram as Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), para o qual doara quase toda sua coleção de arte composta de trabalhos de Matisse, Yolanda Penteado (de Picasso, Léger, Modigliani, Marini, Braque e Morandi, entre outros. Mais, para chapéu) em recepção essa instituição, ela doou uma grande soma em dinheiro, quando da venda da Fazenda no Jockey Club. Inauguração da Empyreo, seu lugar de origem e da história de sua família, para que Walter Zanini, 1ª Bienal de então diretor do museu, encomendasse ao arquiteto o projeto São Paulo, 1951. para sua sede definitiva na Cidade Universitária (1975-76). O projeto encomendado

foto Arquivo Histórico nunca foi executado. Wanda Svevo Esse último período, inspirada por um amor secreto nem sequer mencionado em suas memórias, Yolanda vive um processo de despojamento, de simplificação de sua vida pessoal, abandonando a mundanidade da grande dama de sociedade para tornar-se uma mulher profundamente empenhada com seu meio e seus contemporâneos. Seu compromisso com a arte, os artistas, os museus, acreditando na importância deles para a construção de um país melhor, fazem dela uma personalidade quase única no cenário de filantropos e patronos que povoam conselhos e diretorias das instituições culturais no Brasil. Muito além da elegância de sua aparência, da sua alegria pela vida e pelo trabalho, Yolanda é um exemplo de generosidade, civilização e engajamento, um modelo de cidadã em sintonia com as demandas de seu tempo, e consciente das obrigações e deveres de sua classe. Uma mulher extraordinária!

Ivo Mesquita curador da 28ª Bienal

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 O PERSONAGEM 20 O Ken

Ramílio João Pires Filho tem 38 anos e nasceu no bairro do Tucuruvi, na Zona Norte de São da Barbie Paulo. Hoje mora do outro lado da cidade, no Ipiranga, a cerca de 10 quilômetros do Parque do Ibirapuera, onde trabalha duas vezes por semana como personal trainer. Ramílio presta assessoria esportiva para cerca de 20 pessoas que, por inúmeras razões, decidiram correr. Correr, aliás, é o que Ramílio faz todos os dias, literalmente e não literalmente, a um só tempo. De segunda a sexta, acorda às 4h40, assim tão cedo porque gosta de tomar banho Por Ana Manfrinatto e café-da-manhã com calma, o que invariavelmente inclui um misto frio, leite achocolatado com farinha de linhaça e uma tigela de cereais. Ramílio João Pires Filho Às 5h40 ele sai de casa e percorre cerca de 15 quilômetros até seu trabalho, numa corre, treina, pula, indústria química, onde entra às 6h30 e fica até às 16h. Depois, vai para casa, troca o avental branco pelo conjunto esportivo (calça de tactel, camiseta regata e tênis) e corre teve uma mina de ouro para o Parque do Ibirapuera ou para o Parque do Trote (na Vila Maria), e já fez onde treina seus alunos. Sobre o pai, fala bastante. Foi ele quem o apresentou e o levava sempre ao parte de Parque do Ibirapuera, ainda criança, quando já gostava de correr – em seu Falar com Ramílio é uma façanha. velotrol. Desde então, não abandonou mais o parque, que hoje é um de seus uma obra Ainda que abunde disposição e bom lugares de trabalho e também de lazer. Quando quer correr, as grades são humor, leva um pouco de tempo para o limite. Quando quer refletir sobre a vida, gosta de ficar pelo Pavilhão de arte ele ordenar sua atenção entre os Japonês: “Aquilo ali é o paraíso, fico apreciando o jardim, tocando a água na Bienal alunos, os halteres que carrega de do lago e vendo os peixinhos. Relaxa que é uma beleza!”, fala. Maratonas, lá para cá, os colchonetes laranja então, ele corre as que pode. E pretende fazer aulas de sapateado e logo de para alongamento e os pilares da fotografia, um dos seus hobbies prediletos. “Adoro grafite, eu tinha uma marquise projetada por Oscar Niemeyer, coleção linda de fotos de grafites, mas um vírus levou do meu computador”. no Ibirapuera. Mas, uma vez que se consegue roubar um pouco de seu tempo Ramílio aprendeu a gostar de grafite quando um dia passava pelo viaduto e sentar com ele nesses colchonetes Santa Ifigênia, no Centro de São Paulo, e notou que alguns arcos haviam laranja, Ramílio é pura prosa. sofrido a intervenção de um artista, com cores que diferiam do amarelo predominante do viaduto. “Aquilo me chamou a atenção e eu achei bonito. Ele conta que tem três formações: Foi aí que eu aprendi a apreciar grafite, antes achava que era tudo um curso técnico de Química e as pichação”, explica. Intuitiva é sua relação com a arte, que costuma faculdades de Processamento de Dados prestigiar nos cinemas, teatros, casas de shows, na Pinacoteca, no Museu e Educação Física. Esta, decidiu de Arte de São Paulo (Masp), na feira de antigüidades da praça Benedito cursar incentivado por uma namorada e Calixto e pelo Parque do Ibirapuera, claro. Foram duas as bienais visitadas também pela perda do pai, uma passagem por ele: a 26ª e a 27ª. Delas, guarda boas recordações que dificilmente devastadora. Uma escolha acertada, consegue explicar com palavras: “É uma coisa muito subjetiva, não sei dizer já que sempre foi apaixonado por por que gosto de determinado trabalho, mas é uma loucura ver a forma como esportes e diz ter encontrado na os artistas representam seus pensamentos”. prática um apoio ao momento difícil. “Quando o pai faleceu, eu estava no Ramílio é capaz de emendar a frase “sou fundo do poço, tinha perdido os meus supercético” depois de dizer que, em busca negócios e cheguei a trabalhar como de superação, peregrinou os 809 quilômetros animador de festas infantis. Eu fui do Caminho de Santiago de Compostela o Ken da Barbie”!, diz. O negócio que em 26 dias, caminhando uma média de 35 perdeu foi uma mina de ouro na serra a 40 quilômetros por dia: “Ano passado da Jacobina, na Bahia, que tocava fui a Cape Town e comi várias vezes no junto com um sócio. McDonald’s”. Por que ele cruzou o Atlântico com destino à África? Quis pular do bungee jump mais alto do mundo, com queda livre de 216 metros. Correndo e participando, sempre. Ele foi uma das cerca de 1500 pessoas que no dia 27 de abril de 2002 (25ª Bienal) se despiram no Parque do Ibirapuera para serem fotografadas pelas lentes do artista nova-iorquino Spencer Tunick. “Você acha que eu ia perder uma oportunidade dessas?”

Ramílio em alturas e distâncias

10 km_Distância de sua casa até o Parque do Ibirapuera.

15 km_Percurso que faz todos os dias de sua casa até o trabalho.

809 km_Total percorrido por ele em

peregrinação no Caminho de Santiago 3.11.2008 de Compostela. Ramílio em sua rotina de trabalho no Ibirapuera 216 metros_Altura do bungee jump mais alto do mundo, de onde saltou. foto Rogério Canella

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 PERfil 21 caça- CLIMA palavras ASTROLÓGICO

Procure no quadro o nome de obras da literatura. semana de 8.11.2008 a 14.11.2008 Por Hélio Biesemeyer b c v j u y p é n a e s t r a d a o p q x d î p m Irresoluções, caminhos bifurcados, f b m z t w a q v y á q m l s d a q c r y u b x k confusão entre agilidade e afobação, entre propósito e pretexto. O certo e o o z g r a n d e s e r t ã o v e r e d a s v n b o necessário não coincidem. Abre-se espaço para o escapismo, doçuras, prazeres – a lira r x q g c p l d j q m s x e c b h j l r b z m n y e a cidade ardente. Com o ângulo aberto, já é possível vislumbrar o que pode e não m z c t g q x v b e a u q s f g t y a a x q j o w pode dar certo. No primado das palavras, a sabedoria está na contenção. Exceção para a x c v w k r p u p z d v t a c t w p m á g i c a quem sabe se corrigir e lamber as feridas. é z f o g o m o r t o p t r z o p x z o d z h n t Por algum tempo o ruído cede, há fé na perfectibilidade. Nostalgia de potenciais c b m z r t á u q f l o r a z v t g p n y x d r h não revelados, de valores não criados. O dinheiro, infiel por nascimento, segue o c p q d r u z p t u p w n x v b z m t q d c a c seu destino de fluxo e de incontinência. n q r u p x c p x z v r q g m x p a z a p c x z v t p c l t p m s r c g o p e q t p x q n l a o p s CONVOCATÓRIA e r u i p w r z v v r c z i x z q o v h k p r õ e u c z s r u p p a m f e k r z x c b c a s z f u õ “A arte do século 20, conhecida como a arte das vanguardas, d b o s o p s o r p e s q o q l o p b t w c g j ç terminou gloriosamente sua carreira” o q y e e t q q p i w s z v x q y r t r g t h t c O jornal 28b convoca os leitores a e w z s w q w e q t q o m k h r p q z s s y a u i debaterem de forma livre, em autogestão, esse tema no dia 9 de novembro, às 16h, v b l i o j y t d f m c a f j l p g n k w a t y f na Praça criada pela 28ª Bienal de São Paulo (Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera).

O processo, Grande sertão: veredas, Ficções, O estrangeiro, A montanha mágica, Fogo morto, Ulisses, Pé na estrada na Pé Ulisses, morto, Fogo mágica, montanha A estrangeiro, O Ficções, veredas, sertão: Grande processo, O A participação, dependendo do número de interessados, pode se dar da seguinte forma:

a) Uma manifestação de massa b) Uma passeata c) Um seminário “Origami” é uma palavra de origem japonesa e define d) Um teatro improvisado a arte de criar representações de objetos usando papel e) Um piquenique e nenhum corte, apenas dobras, que podem ser feitas das f) Um jantar a dois mais diferentes formas. Aqui, um origami em g) Uma caminhada silenciosa oito partes como um “faça você mesmo”. No h) Outras ORIGAMI final, o objeto aparecerá diante de seus olhos.

por Milena Galli fotos Garapa

Una o outro lado, formando um retângulo Entregue para a pessoa ao lado e peça-lhe que continue 5 com uma fenda no meio. 6 o origami na próxima edição do jornal 28b.

28b --3++++++ sexta-feira 7.11.2008 22

28ª Bienal de São Paulo: “em vivo contato”

[28th Bienal de São Paulo: “in living contact”] de 26.10 a 6.12 de 2008_de terça a domingo_das 10h às 22h [from 10.26 to 12.6.2008_from tuesday to sunday_from 10h to 22h] Programação terceira semana 8.11 a 16.11 [third Week Program 11.8 to 11.16]

11.11 TERÇA-FEIRA [TUESDAY] Programa de ações [Program of Actions]/ ARTISTAS/PROJETOS Depoimento de [Testimony of] Mário do cONFERÊNCIAS 10H ÀS 22H_DIFERENTES PARTES DO EDIFÍCIO Nascimento Júnior (Escola de Jardinagem [ CONFERENCES] ESPECIAIS [ ARTISTS/ [DIFFERENT PARTS OF THE BUILDING] [Gardening School]) Maurício Ianês (Santos, Brasil, 1973) 3º ANDAR_AUDITÓRIO [3rd FLOOR_AUDITORIUM] SPECIAL PROJECTS] Sem Título (A bondade de estranhos)_[Untitled (The Kindness of Strangers)]/ Performance 14.11 SEXTA-FEIRA [FRIDAY] Conferência: Bienais, bienais, bienais… [Conference: Biennials, Biennials, Biennials…] 8.11 SÁBADO [SATURDAY] 10H E 12H_TÉRREO_PRAÇA 10H ÀS 22H_DIFERENTES PARTES DO EDIFÍCIO [DIFFERENT PARTS OF THE BUILDING] 10H ÀS 22H_DIFERENTES PARTES DO EDIFÍCIO [GROUND FLOOR_SQUARE] 8.11 SÁBADO [SATURDAY]_11H às 17H (São Paulo, Brasil, 1949) Maurício Ianês (Santos, Brasil, 1973) Tema [Theme]: A Bienal vista de fora [The [DIFFERENT PARTS OF THE BUILDING] Sem Título (A bondade de estranhos) Bienal Seen from the Outside]_Participantes Maurício Ianês (Santos, Brasil, 1973) Escola do Movimento [Untitled (The Kindness of Strangers)] [Participants]: Anita Tapias Diretora Sem Título (A bondade de estranhos)_[Untitled Aula de dança [Dance Class] Performance [Director] Museus Bolívaros (Venezuela), (The Kindness of Strangers)]/ Performance rd 14H_3º ANDAR [3 FLOOR] Santiago Garcia Navarro Professor e crítico 14H_3º ANDAR [3rd FLOOR] Mabe Bethônico (Belo Horizonte, Brasil, 1966) de arte [Professor and art critic], 10H E 12H_TÉRREO_PRAÇA Mabe Bethônico (Belo Horizonte, Brasil, 1966) União Cultural Ibirapuera Jornalista e crítico de [GROUND FLOOR_SQUARE] União Cultural Ibirapuera Sebastian Preuss Programa de ações [Program of Actions]/ arte [Journalist and art critic] Ivaldo Bertazzo (São Paulo, Brasil, 1949) Programa de ações [Program of Actions]/ Escola do Movimento Depoimento de [Testimony of] Marco Antônio Braga (Escola de Jardinagem [Gardening School]) Depoimento de [Testimony of] Anelisa 15.11 SÁBADO [SATURDAY]_11H ÀS 17H Aula de dança [Dance Class] Ferreira Magalhães (Fauna) Tema [Theme]: Tipologias de bienais rd 16H_3º ANDAR [3rd FLOOR] 19H30_3º ANDAR_AUDITÓRIO [3 FLOOR_AUDITORIUM] [Typologies of Biennials] e bienais do mundo Palestra [Talk] 20H_TÉRREO_PRAÇA [GROUND FLOOR_SQUARE] [Biennials of the World]/ Participantes Mabe Bethônico (Belo Horizonte, Brasil, 1966) Joan Jonas (Nova York, EUA, 1936) Isabel García (Centro de Documentación de [Participants]: Cristina Ricupero (Biennial União Cultural Ibirapuera_Programa de The Shape, The Scent, The Feel of Things las Artes, Centro Cultural Palacio la Moneda) for Art Schools), Jack Persekian (Sharjah ações [Program of Actions]/ Depoimento de [A forma, o aroma, a sensação das coisas], Apresenta a obra de [Presents the work of] Biennial), Lynne Cooke (Biennale of Sydney), [Testimony of] Leia Cassoni (MAM-SP) 2004-2007/ Performance Juan Downey Paolo Colombo (Istanbul Biennale), Will 17H_TÉRREO_PRAÇA [GROUND FLOOR_SQUARE] Bradley (Biennial for Art Schools) Carlos Navarrete (Santiago, Chile, 1968) 12.11 QUARTA-FEIRA [WEDNESDAY] 15.11 SÁBADO [SATURDAY] Introdução e apresentação [Introduction and Conferência: História como matéria flexivel: 10H ÀS 22H_DIFERENTES PARTES DO EDIFÍCIO Presentation]/ Visita guiada [Guided Tour] 10H ÀS 22H_DIFERENTES PARTES DO EDIFÍCIO práticas artísticas e novos sistemas de [DIFFERENT PARTS OF THE BUILDING] [DIFFERENT PARTS OF THE BUILDING] 18H_RAMPA DO PAVILHÃO [PAVILION RAMP] leitura [Conference: History as a Flexible Maurício Ianês (Santos, Brasil, 1973) Maurício Ianês (Santos, Brasil, 1973) Vasco Araújo (Lisboa, Portugal, 1975) Matter: Artistic Practices and New Systems Sem Título (A bondade de estranhos)_[Untitled Sem Título (A bondade de estranhos) Some Enchanted Evening/ Performance of Reading] (The Kindness of Strangers)]/ Performance [Untitled (The Kindness of Strangers)] TERÇA-FEIRA [TUESDAY]_14H ÀS 17H 20H_TÉRREO_PRAÇA [GROUND FLOOR_SQUARE] Performance 11.11 14H_3º ANDAR [3rd FLOOR] Tema [Theme]: A biblioteca [The Library] Weightless Days (Criado em [Created in] Mabe Bethônico (Belo Horizonte, Brasil, 1966) 10H E 12H_TÉRREO_PRAÇA Participantes [Participants]: José Mindlin 2006 por [by] Angela Detanico (Caxias do União Cultural Ibirapuera [GROUND FLOOR_SQUARE] Bibliófilo [Bibliophile], Erick Beltrán Sul, Brasil, 1974) & Rafael Lain (Caxias Programa de ações [Program of Actions]/ Ivaldo Bertazzo (São Paulo, Brasil, 1949) Artista [Artist] do Sul, Brasil, 1973), Megumi Matsumoto Depoimento de [Testimony of] Hilda Cintra Escola do Movimento (Nishinomiya, Japão) & Takeshi Yazaki 12.11 QUARTA-FEIRA [WEDNESDAY]_14H ÀS 17H Franco (Veterinária [Veterinary]) Aula de dança [Dance Class] (Kochi, Japão, 1962) e [and] Dennis McNulty Tema [Theme]: Re-leituras de arquivos (Ballinasloe, Irlanda, 1970)/ Dança [Dance] 20H_3º ANDAR_AUDITÓRIO [3rd FLOOR_AUDITORIUM] 16H_3º ANDAR [3rd FLOOR] [Re-readings of Archives]_Participantes Javier Peñafiel (Zaragoza, Espanha, 1964) Mabe Bethônico (Belo Horizonte, Brasil, 1966) [Participants]: Estella de Diego Curadora Agenda do fim dos tempos drásticos [Journal União Cultural Ibirapuera e professora de História da Arte [Curator 9.11 DOMINGO [SUNDAY] of the End of the Drastic Times] Programa de ações [Program of Actions]/ and Art History professor], Complutense de 10H ÀS 22H_DIFERENTES PARTES DO EDIFÍCIO Conferência dramatizada [Dramatized Depoimento de [Testimony of] Marcio Melo Madri, Mabe Bethônico Artista [Artist], [DIFFERENT PARTS OF THE BUILDING] conference]_Marisa Orth como “atriz (Administração [Administration]) José Falconi Curador [Curator], Fellow – Maurício Ianês (Santos, Brasil, 1973) interlocutora” e Pazé como “locutor David Rockefeller Center for Latin American 20H_TÉRREO_PRAÇA [GROUND FLOOR_SQUARE] Studies, Harvard University Sem Título (A bondade de estranhos)_[Untitled sussurrado” [Marisa Orth as “speaker actress” Joan Jonas (Nova York, EUA, 1936) (The Kindness of Strangers)]/ Performance and Pazé as “whispering announcer”]. The Shape, The Scent, The Feel of Things 13.11 QUINTA-FEIRA [THURSDAY]_14H ÀS 17H 11H_TÉRREO_PRAÇA [GROUND FLOOR_SQUARE] [A forma, o aroma, a sensação das coisas], Tema [Theme]: Memória oral [Oral Memory] Carlos Navarrete (Santiago, Chile, 1968) 13.11 QUINTA-FEIRA [THURSDAY] 2004-2007/ Performance Participantes [Participants]: Isabel García Diretora [Director] Centro de Documentación Introdução e apresentação_[Introduction and 10H ÀS 22H_DIFERENTES PARTES DO EDIFÍCIO de las Artes, Palacio la Moneda, Suely Presentation]/ Visita guiada [Guided Tour] DOMINGO [SUNDAY] [DIFFERENT PARTS OF THE BUILDING] 16.11 Rolnik Pesquisadora e curadora independente 11H45_TÉRREO_PRAÇA [GROUND FLOOR_SQUARE] Maurício Ianês (Santos, Brasil, 1973) 10H ÀS 22H_DIFERENTES PARTES DO EDIFÍCIO [Researcher and independent curator] Ivaldo Bertazzo (São Paulo, Brasil, 1949) e Sem Título (A bondade de estranhos [Untitled [DIFFERENT PARTS OF THE BUILDING] SEXTA-FEIRA [FRIDAY]_14H ÀS 17H [and] Cidadãos Dançantes [Dancing Citizens] (The Kindness of Strangers)]/ Performance 14.11 Maurício Ianês (Santos, Brasil, 1973) Tema [Theme]: Re-leituras de arquivos Invasão da Praça [Invasion of the Square] 10H E 12H_TÉRREO_PRAÇA Sem Título (A bondade de estranhos) [Re-readings of Archives]_Participantes Dança [Dance] [GROUND FLOOR_SQUARE] [Untitled (The Kindness of Strangers)] [Participants]: Angela Detanico Artista 18H_RAMPA DO PAVILHÃO [PAVILION RAMP] Ivaldo Bertazzo (São Paulo, Brasil, 1949) Performance [Artist], François Piron Crítico de arte Vasco Araújo (Lisboa, Portugal, 1975) Escola do Movimento 10H E 12H_TÉRREO_PRAÇA e curador independente [Art Critic and Some Enchanted Evening/ Performance Aula de dança [Dance Class] Independent Curator], Rafael Lain Artista [GROUND FLOOR_SQUARE] [Artist], Ute Meta Bauer Diretora [Director] 14H_3º ANDAR [3rd FLOOR] Ivaldo Bertazzo (São Paulo, Brasil, 1949) Visual Arts Program, MIT 10.11 SEGUNDA-FEIRA [MONDAY] Mabe Bethônico (Belo Horizonte, Brasil, 1966) Escola do Movimento FECHADO [CLOSED] União Cultural Ibirapuera Aula de dança [Dance Class] Conferência: A Bienal de São Paulo e o meio artístico brasileiro: memória e projeção [Conference: The Bienal de São Paulo and the Brazilian Artistic Milieu: Memory and In the Beginning Georgia Thief Projection] Video Lounge Dir.: Juan Downey, Chile, 1976 (10’40”) Dir.: Jem Cohen, EUA, 2002 (5’15”) st 13.11 QUINTA-FEIRA [THURSDAY]_20H ÀS 22H 1º ANDAR [1 FLOOR] Acción de arte/ Estrella Half the Battle Em Foco [On Focus]: 9ª Bienal de São Paulo Carlos Leppe, Chile, 1979 (6’56”) Dir.: Jem Cohen, EUA, 2008 (11’30”) Participantes [Participants]: Luiz Paulo Os trabalhos do Video Lounge se inserem En torno al video/ editado (programa de TV Cat Power Live: From Fur City Baravelli Artista [Artist], Paulo Sérgio em quatro linhas temáticas: Telepresença, [TV program])_Chile, 1985 (12’44”) Dir.: Jem Cohen, EUA, 2002 (4’30”) Duarte Curador [Curator] Diariamente (Vida Real), Ação da Música e Performance. Os vídeos são exibidos em Festival 4 + 1, La conexión The Foox and the Little Vic monitores, em seqüência loop, todos os dias Chile, 1989 (7’42”) Dir.: Jem Cohen, EUA, 2002 (6’30”) das 10h às 22h. [The works featured in the Lucky Three_Dir.: Jem Cohen, EUA, 1997 (11’30”) Video Lounge pertain to four thematic lines: DIARIAMENTE (VIDA REAL) SESSÃO DE FILMES e MGMT – Time to Pretend Telepresence, Music in Action, Everyday [EVERYDAY (REAL LIFE)] (Real Life), and Performance. The videos are Dir.: Ray Tintory, EUA, 2008 (4’17”) VÍDEOS [FILM AND VIDEO exhibited in monitors, in loop sequence, 7 P., Cuis., S. De B., … À Saisir [7 peças, Natalie Portman’s Shaved Head: Sophisticated everyday from 10 A.M. to 10 P.M.] coz., banh… imperdível] Side Ponytail SESSION] Dir.: Agnès Varda, França, 1984 (27’) Dir.: That Go, EUA, 2008 (1’32”) 3º ANDAR_AUDITÓRIO [3rd FLOOR_AUDITORIUM] Mozart & Elvis_Dir.: Jonas Mekas, EUA, 1972 (3’) Super Rick_Dir.: Rick Castro e Rodrigo Garcia TELEPRESENÇA [TELEPRESENCE] 9.11 DOMINGO [SUNDAY] Allen Ginsberg Sings Blues Dutra, Brasil, 2008 (6’42”) Six fois deux: Sur et sous la communication, 14H,18H_Chain_Dir.: Jem Cohen, EUA, 2004 (99’) Dir.: Jonas Mekas, EUA, 1990 (2’53”) Afrodita: Tropikalisimo_Dir.: Sebastian Episódio [Episode] 3a: Photos et Cie 16H,20H_Benjamin Smoke_Dir.: Jem Cohen, EUA, Velvet Underground’s First Public Appearance Hofmann, México, 2008 (5’48”) Dir.: Jean-Luc Godard & Anne-Marie Miéville, (co-dir.: Pete Sillen) , 2000 (73’) Dir.: Jonas Mekas, EUA, 1966 (3‘05”) França, 1976 (45’) Noah and The Whale – Shape of My Heart Nam June Paik’s Piano Piece Dir.: James Copeman, EUA, 2008 (3’08”) TERÇA-FEIRA [TUESDAY] Six fois deux: Sur et sous la communication, 11.11 Dir.: Jonas Mekas, EUA, 1997 (6’13”) 19H_Moving_Dir.: Juan Downey, 1974 (27’) Episódio [Episode] 3b: Marcel Dir.: Jean-Luc Godard & Anne-Marie Miéville, Bananaman_Dir.: Alli Savolainen, Finlândia, performance 20H30_Guahibos_Dir.: Juan Downey, 1976 (25’) França, 1976 (55’) 2004 (55”) 21H_The Laughing Alligator_Dir.: Juan Process of Making Works France/ tour/ detour/ deux/ enfants, Tabu_Aurora Reinhard, Finlândia, 2007 (3’54”) Downey, 1976-77 (28’) Gutai Group, Japão, 1960 (10’18”) Episódio [Episode] 5: Impression/ Dictée Drummer_Raakel Kuukka, Finlândia, 2003 (3’30”) Dir.: Jean-Luc Godard & Anne-Marie Miéville, Mama und Papa (materialaktion Otto Mühl) 16.11 DOMINGO [SUNDAY] França, 1977 (25’) Du côté de la côté [Do lado da Riviera] Kurt Kern, Áustria, 1964 (3’) 15H,17H,19H_Instrument, Dir.: Jem Cohen, Dir.: Agnès Varda, França, 1958 (24’) EUA, 1999 (115’) France/ tour/ detour/ deux/ enfants, Art must be Beautiful, Artist Must be Episódio [Episode] 6: Expression/ Français Little flags_Dir.: Jem Cohen, EUA, 2000 (6’) Beautiful (versão compilada Dir.: Jean-Luc Godard & Anne-Marie Miéville, Graffiti Museum Bronx [compilated version]) França, 1977 (25’) Dir.: Jonas Mekas, EUA, 1993 (6’14”) Marina Abramović, Dinamarca, 1975-76 (14’32”) Pavilhão da Bienal [Pavilion of Bienal] Quadrat I + II Tarbotstraat Pacing Upside Down Parque do Ibirapuera, s/nº Dir.: Samuel Beckett, Alemanha, 1981 (15’) Sami Sänpäkkilä, Finlândia, 2003 (51”) Bruce Nauman, EUA, 1969 (55’) portão [gate] 3, São Paulo (Shigeko Kubota, …nur noch Gewölk… […but the clouds…] The Kitchen Promo Tape Fone [Phone] 5576-7600 Dir.: Samuel Beckett, Alemanha, 1976 (17’) Ação da música [music in action] Trisha Brown, entre outros [among others]) The Kitchen, EUA, 1974-75 (19’) entrada gratuita [free entrance] Noticiero Teleanálisis (3ª parte [3rd part]) What Does Away Mean?_Dir.: Jem Cohen, EUA, Chile, 1984/1989 (5’) 1989 (Public Service Announcement) (30”) Exchange_Robert Morris, EUA, 1973 (36’02”) www.28bienalsaopaulo.org.br COVER production that does not just manifest itself in an Books, journals, newspapers and documents. Using real- object, but which includes other forms of action, ity, memory and fiction, artists promote a reencounter discourse, time and displacement? with the world through paper and language. Linked to the proposal for expanding the limits of art, we have taken the idea of society’s existing circuits to think about a possible mobility of artistic PAGE 3_EDITORIAL production in different spaces and times. The work “Inserções em circuitos ideológicos” [“Insertions in Ideological Circuits”], from 1970, by Brazilian artist To each their own Cildo Meireles, deals critically with the issue. “Inserções em circuitos ideológicos” [“Insertions Seated on the floor of the Open Plan (the second in Ideological Circuits”] basically consists of floor of the Bienal Pavilion), are women; they instructions to insert subversive or critical have formed a group and are slowly taking apart the information in Coca-Cola bottles and bank notes, before second edition of the 28b newspaper. They fold the returning them into circulation. It is interesting to pages precisely and are building – with monastic see how the artist defined the work’s importance, in a concentration and factory-like procedure – paper boats. text written shortly after he conceived it: Each page gives the objects a color, an image; there “In my opinion, what is important about this are tens of them, forming a fleet under the complete project was the introduction of the “circuit” concept, absence of sea and silently occupying the space. A isolating and fixing it. This concept determines the 28 security guard approaches, gathers up all the material dialectic work load seeing as it parasitizes all and in a garbage bag and takes it away, claiming that “no, any efforts contained in the real essence of the - - 3 you can’t do that”. There is intense frustration. They process (the medium). (…) So, the original idea was the react with the phrase: “We’ll be back”. verification of the (natural) “circuit” that exists and On the first floor, a couple smile – they are young, over which it is possible to undertake a real work.” seated beside each other and there is a palpable erotic Beyond the verification of the existence of these tension –, they look at each other and smile again, a circuits – immaterial and invisible ones, yet ever + + + pen poised over a sheet of paper seeking out the best more present in contemporary life –, “Inserções...” answers to the questionnaire regarding the explanation [“Insertions…”] proposes a significant change in of the world, prepared by Mexican artist Erick Beltrán. the artist’s position in society. He is no longer In the place, the printer moves its parts against the that character recognized for his talent in uniquely paper, making an intermittent sound. He turns and asks transforming substance into artistic objects, in a + + + her: “Did you see my answer?” way that no one will ever be able to do again. The “The use of everyday life, in the sense of a con- artist is also the one who proposes a concept mediated sumption of time lived, is ordered by the kingdom of by his own work and creating, in the symbolic field, scarcity: scarcity of free time; and the scarcity of the conscience of an abstract idea to be gradually the possible use of this free time”. Perspectivas de understood and incorporated by society. Furthermore, 28th SÃO PAULO’S BIENNIAL WEEKLY NEWSPAPER Modificações Conscientes na Vida Cotidiana [Perspec- the work demonstrates how the subversive act proposed – english28 version Friday, 11.7.2008 tives of Conscious Changes to Everyday Life]. Revista in a context of ’s extreme military dictatorship da Internacional Situacionista [International Situ- – could be realized by anyone, by dealing with elements ationist Magazine] no. 6, 1961. from everyday life that are in the reach of all (in In the Plan of Readings, on the third floor, four this case, Coca-Cola bottles, bank notes and the actual change of the dynamic of the art space, become clearer children – their feet bare and faces dirty from a day circuit in which these objects were inserted). in these cases. In Nothing but the truth, 2001, Beltrán spent at the park – try to descend along the “Valerio As a counterpoint or complement to this expansion, I transformed an exhibition room into a publisher and Sisters” project, by Carsten Höller. They are alone. believe that returning to the exhibition space is a way printer, collecting, editing and printing the lies They are aged between 10 and 11. In the queue for of concentrating the elements of a discourse such that registered by the public into a blank book. Whilst the slide, they tell how they saw the Capão Redondo it can be effective in the field of thought, so as not people wrote their favorite lies, Beltrán worked at neighborhood in the outskirts of São Paulo’s southern to run the risk of being diluted among the real-life the computer, laying out the lies in pages that were region. One of the monitors tells them they cannot use circuits. In this sense, it seems to me that artists printed and distributed within an hour. On realizing the the slide. Someone points to the rules on the wall, like Erick Beltrán, Mabe Bethônico or Goldin+Senneby, compilation and publication of the material, the artist which states that they are old enough to use the slide participants in the 28th Bienal de São Paulo, construct demonstrated a process of collection, selection and without being accompanied. The monitor seems uncertain; flexible and autonomous structures, proposed as medium circulation of information – proposing to the public a worried, she mutters something about being punished if or long term artistic projects to articulate a series critical way of thinking about the editorial process. the children are seen. The fireman, who assists people of ideas, works, collections and actions within them, The project developed for the 28th Bienal de São to install themselves in the work, says: “I think creating specific systems for the elements that comprise Paulo, “O Mundo explicado” [“The World Explained”], that if it’s open, it should be open to everyone”. The their propositions. Acting as mediators of their own work has a similar way of functioning. It is an encyclopedia children slide down. – a relevant fact for thinking about the expansion of art consisting of non-specialized knowledge. Based on the “This childish science plays or manipulates something space borders, of the object of art and the role of the idea of micro-history, Beltrán puts into practice his very particular: the child constructs its treasure with artist, which was opened in the 1960s –, these artists investigation whose theme is that anyone can generate the confusion of details stolen from the world; that propose projects that reveal themselves to the public in theories about how the world works; the exchange is, the order that is thought and built by others”. alternative and complex ways of reading, that often open relationship between all these theories generate the “O Jean Louis Schefer in his essay, “Figures Peintes” [“On up to their participation or solicit the collaboration of Mundo explicado” [“The World Explained”]. the Object of Figuration”]. other professionals, be they artists or not. Initiated by Mabe Bethônico in 2000, the museumuseu There is an unusual movement in the Bienal Pavilion. Understanding these processes and strategies, as [museummuseum] is characterized as a structure that A team (photographer, make-up artist, producers, well as sheltering the resulting artistic production, articulates collections, activities, texts, images, assistants) looks for the best angle, background and are some of the objectives of the 28th Bienal de São etc. organized in four main themes: History in Museums, form for actress Susana Vieira. It is a photo shoot Paulo. The first edition of this newspaper presented Beyond Museums, Time in Museums and The Word in Museums. for a celebrity magazine. Brazilian artist Alexander the event’s different platforms, which were built Designed and activated to function over the long term, Pilis – who lives in Barcelona and is presenting the throughout 2008 based on proposals from the artists, the museumuseu [museummuseum] comprises the continued “Arquitetura Paralaxe: (Desaparecer-Aparecer)” [“Parallax conference members and the participating public. The practice of research, accumulation, collection, Architecture: (Disappear-Appear)”] project at the 28th Plan of Readings (3rd floor of the Bienal Pavilion) classification and creation of new systems based on Bienal – approaches, drawn by curiousity. He asks proposes an exhibitive structure imagined and developed elements/documents taken from their original context. Susana: “What is all this?” She speaks about photographs, in collaboration with some of the participating artists The museumuseu’s [museummuseum’s] collections and about celebrities, about herself. “But who are you?” he in such a way that the furniture system designed by activities deal with the limits between fiction and says. “I am an actress. Who are you?” she replies – they Colombian artist Gabriel Sierra could be adapted to the reality, documentation and construction, demonstrating seem to understand each other. “I am an artist”. work of each artist, harboring both the works as well how information can be continuously constructed To each their own. as the public in its tables, displays, panels, benches and re-worked, so questioning an instituted truth, and chairs. If some contemporary practices propose, created by institutions such as the Newspaper or the Marcelo Rezende, Editor in chief by returning to art spaces, a kind of research, of Museum itself. If, on the one hand, an artist makes reading, of articulation with different ideas and use of museological tools, creating classification, projects, then the presented apparatus seeks to create conservation and collecting systems for determined PAGE 4 + 5 a different relationship in the public’s contact with objects, on the other, it opens possibilities of the works, in an environment that is closer to library combining and accessing them in different ways, at time than the time of the great exhibitions. different times, proposing new readings and ways of Kinds of spaces Erick Beltrán works with the editing and reuse of understanding that material. Be deconstructing absolute information; his work functions as a kind of virus statements and predetermined values, and proposing About the flexibility of art spaces and/or that enters established communication systems – like to the public their reconstruction based on variable how to populate them newspapers, for example – using them as a medium combinations, their collections subvert and update the for the actual work. His projects vary from precise actual notion of the institution. Taking the curator as a mediator – the person interventions in one of the main newspapers, to the The project realized for the 28th Bienal de São Paulo, who stands between the artistic production and the production of an encyclopedia that seeks to explain the União Cultural Ibirapuera [Ibirapuera Cultural Union], different ways that this production can appear before functioning of the things in the world, developed over described in a report published in the 2nd edition of this the public –, I would like to analyze the two opposite, several months. His production is an example of work newspaper, creates its own platforms of operation: 1. The or complementary, ways observed in some contemporary that doesn’t fit the art exhibition standard format – 3rd museumuseu [museummuseum] Newsletter, a periodical artistic practices. On the one hand, some practices both as regards physical space as the time instituted that collects appropriations of archive journals and expand in different ways the physical and/or theoretical by museums or galleries. other documents found by Mabe Bethônico during her limits of art, often establishing relationships with For example, in an edition of the Het Parool studies in the different departments and institutions of other spheres of society, whether they are political, newspaper (the ), Beltrán removed all Ibirapuera Park; 2. The schedule of actions, that take social or institutional. On the other, I find it instances of the letter “u” from the front page, place in the third floor exhibition space, every day at interesting to think about how these proposals can substituting them for blanks. Without the letter “u” – 4 pm, with statements given by employees from different return to the exhibition space – not exactly a space which in Dutch means “you” –, the information suffered institutions at Ibirapuera Park; 3. A growing archive within the standards developed by the modern art museums a minimal change, maintaining its content; however, of daily diaries, produced after each encounter and in the beginning of the 20th Century (rooms with white the lack of that letter awakens in the alert reader the subsequently presented to the public in the exhibition walls and artificial lighting creating a controlled conscience of the daily construction of information, in space. The diaries contain a mix of documents found, environment for a direct experience between the viewer which ideological faults and interventions always might stories told and registries of the statements. and the work, developed for the art production of the be, and are, present. The projects realized by Mabe Bethônico can be time) – whose main objective was to present works of In other works, the collecting of information comes extended throughout a lifetime, as ist the case with art that could be understood in one go, in one time and from the public in which the project is realized. The Colecionador [Collector] (1996 -), or suggest a study space. In other words, how to mediate a contemporary importance of the printing process, as well as the lasting a few months (as with Caracteres Geológicos Peculiares [Peculiar Geological Characters], developed The Fiction Sistemas de Leitura” [“Stories as Flexible Matter: in Colombia during 2007, or União Cultural Ibirapuera Starting with the registry of literature, French artist Artistic Practices and New Reading Systems”], organized [Ibirapuera Cultural Union], in São Paulo, 2008), and Sophie Calle presents “Auto-Portrait (la filature)” by curator Ana Paula Cohen – taking place between are incorporated into this large flexible archive that [Auto-Portrait (The Art of Spinning)] at the 28th November 11th and 14th, at 5 pm and in the auditorium starts on the internet and extends through different Bienal, in which a double narrative takes place: that at the Plan of Readings. Here, Mindlin speaks of his spaces, actions, presentations and institutions, before of the artist and that of the detective hired to follow relationship with books as an object. returning to the same website, modifying the structure her. Another work is the book “Double Game/ Gotham and relationships between the parts of the museumuseu Handbook”. “Double Game” is a response to the novel by 28b What is your relationship with books as physical [museummuseum] as each new element is added. (www. North American Paul Auster, Leviathan, from 1992, in objects: the cover, the paper, the typographic fonts, museumuseu.art.br) which the artist served as a model for the character the sense of touch? Maria – a photographer with strange experiences. In José Mindlin Books have basically remained the same Ana Paula Cohen, Adjunct Curator of the 28th Bienal de “Double Game”, Calle recounts some of her performances since they were invented in 1455, that is, more than São Paulo that were adapted to Maria, such as a collection of five centuries ago. Whether they are folded or unfold- birthday presents that she left on show, year after ed, text or illustration, pamphlet or bound, the way in IMAGE PAGE 4 year, in a glass display cabinet, as well as works by which the content is presented varies, within certain Cildo Meireles, “Inserções em circuitos ideológicos” [“Insertions Maria that she recreated in her own life. The second limits of format and design. in Ideological Circuits”], 1970. part, “Gotham Handbook”, is Calle’s documentation of the fulfillment of one of Paul Auster’s challenges: 28b But when you find editions that are aesthetically photo Cortesia Galeria Luisa Strina that she create and maintain a public amenity in New more pleasing than titles you may already own, you buy York. Calle equipped a telephone booth in Manhattan them again, right? IMAGE PAGE 5 with a notepad, a bottle of water, a pack of J.M. I have more than 120 Lusíadas [Lusiads], with Above: visitors in front of the project by artist Mabe cigarettes, money, flowers and other items. Everyday, variations of text and presentation. Some of them, I Bethônico, at the Plan of Readings; she would clean the booth and restock the items, until acquired due to their rarity value, like the first edi- To the right: reproduction of the first page of Dutch the telephone company removed them. The book was co- tions, from 1572 to 1584. I started collecting them for newspaper Het Parool. written by Paul Auster, in a constant game between art reading purposes, and later, having read and enjoyed and life, fiction and reality. the text, I set out in search of different presenta- Photo Amilcar Packer The Diary tions. For example, the book can be very beautiful in Swedes Simon Goldin and Jakob Senneby developed the Japanese, where I am unable to access the content, but project “Looking for Headless” since 2007, in which can appreciate the book’s material aspect. I have an PAGE 6 + 7 they investigate the origins and structures of the edition of the Lusíadas [Lusiads] in Japanese. I have workings of an offshore company called Headless Ltd., no idea if the text is precise or not, as a transla- The pleasure of the text in the Bahamas. At the same time, a writer they hired, tion, but it is a curiosity. I cannot imagine how John Barlow, writes a novel about a couple of artists Camões’ text reached Japan. From the novel, The Stranger by Albert Camus, that are investigating the company along with a writer, K. D., and involves himself in a web of mystery and 28b In this Bienal, the Norwegian artist Vibeke Tand- to the characters of the city of São Paulo in a murder. The book, Headless, is still unfinished and the berg organized the 32 thousand words contained in the graphic novel format, the written word becomes artists present an unfolding of this work: “In Search novel “L’Étranger”, by Albert Camus, into alphabetical th the engine and platform at the 28 Bienal of a Story”, at the Bienal. It is an eight-part diary order. What do you think of this kind of physical de- by the fictional author K. D., published in each edition construction and what is your reaction to this work? By Isabela Andersen Barta of the 28b newspaper in the form of thoughts about her J.M Well, this person seems to have a lot of spare time. unfinished novel. Furthermore, the prologue and first Books are works of art, beyond the content of their The Catalogue four chapters of the novel are available to the public, texts. Books have no rules of use, only handling guide- Starting with the lowest written unit, artist Valeska in Portuguese and English, at the Plan of Readings. lines. You should refrain from bending them in half, to Soares, from the Brazilian state of Minas Gerais, The Comic avoid ruining the stitching or binding. But there are deconstructed the catalogue of the 1st Bienal de São Indian artist Sarnath Banerjee also uses the newspaper slight varieties that provide flavor, much like the say- Paulo, from 1951, into three-dimensional paper letters as a support, but to publish his “graphic reports”, ing that “variety is the spice of life”. I enjoy Camus on a 5 x 7 m rug. The rug is the catalogue’s cover, interviews with real people in the form of a comic greatly. I got to know him personally when he was in woven in wool. The quantity and proportion of the strip. Graduated as a filmmaker (cinema documentaries), Brazil, and I have a few of his books bearing his dedi- letters are exactly the same as from the catalogue’s the artist has published two graphic novels narrating cations. Actually, that is something which is not just texts, but without the meaning that whole words, historical and social issues from his country of origin, allowed, but increases interest, the authors signature. sentences and paragraphs confer. The catalogue’s texts but using fictional characters. In the stories published contextualize the birth of the Bienal, its objectives, in the 28b newspaper, Banerjee combines the language 28b What are your most beautiful books and your emo- rules and relationship with the Venice Biennial, with of comic strips with a kernel of journalism. For him, tional relationship with them? its participants. However, in this work (which can comics are the best way of communicating an idea, but J.M I have to be very careful when naming favorites, be found on the 1st floor, next to the ramp), Valeska they are commonly seen as a genre, not as a support. as books tend to be very jealous types. If I declare highlights the historical importance of the book over According to the artist, journalism is much less any preferences, I run the risk of facing problems with its content, deconstructing it into its basic forms objective than commonly believed, because it includes the ones that weren’t chosen. I like books in gen- of letters, which can be used to write anything else, the reporter’s subjective choices at every step. eral. You need to get to know my library to understand transforming it into a free text. Visitors pass by The Writer what I call the “tame madness” that is this passion. this work, full of references and titled “Catálogo” On the wall by the entrance of the work “Valerio Books have an aspect of living beings. They have a [“Catalogue”], in reaching the Plan of Readings, Sisters” (the slide from the Plan of Readings) – by particularity, which is that they are very tolerant on the 3rd floor. Belgian artist Carsten Höller – is the work by Norwegian and always available. You can keep a book on the shelf The Machine artist Vibeke Tandberg. She organized all the words for ten years without touching it, but when you then Still highlighting the small units of written verbal present in the fundamental work by Albert Camus, The want it, it’s yours and doesn’t complain about having language, Rivane Neuenschwander, another artist Stranger, written in 1942, French existentialism’s been forgotten. Books are impressive life companions. from the Brazilian state of Minas Gerais, presents golden age, into alphabetical order. The novel is the I have liked them since I was a child. Once, I was in an installation (originally executed in 2004) with description of a man that refuses to interpret his own a library when I took a book and pretended to read it modified typewriters that only type full stops. The existence, making him indifferent to what takes place. out loud, although in a murmur, as I hadn’t learned how keys are unchanged, so that the person typing knows The physical deconstruction of the book in its 32 to read, yet. My father then asked me what I was doing what is being typed, but the content cannot be read thousand words removes the view of the challenge of life with the book “de cabeça pra baixo” [upside down in in the normal manner – another kind of codification from the work and reduces it to its linguistic base. Portuguese, literally – “head down”] and I was embar- takes place. These typewriters and sheets of paper rassed. When I told this story to one of my grandchil- will be made available to the public, who will be IMAGES PAGE 7 dren, she asked me “but how can that be, if books have able to write a subsequently undecipherable message 1_1.11.2008 no heads?” Personally, I find books are to be respect- to anyone they please, or create images of words and The novel, The Stranger, deconstructed by artist Vibeke Tandberg ed. Mário de Andrade used to have two copies of works figures with the full stops. The results are affixed 2_25.10.2008 he would read – one he would use just for reading, to a panel, allowing for a collective reading and the The installation, “[…]”, made with modified typewriters, by whilst in the other, he would jot down his notes and constitution of a random narrative by the proximity Rivane Neuenschwander comments. I take notes in a notebook, or sometimes a and continuity of the sheets. loose sheet of paper, which I invariably end up losing. The Encyclopedia photos Rogério Canella Books are like people: some don’t like to be touched, Not taking the elements of language as a starting whilst others love a good hug. point, but as a means for the construction of rational 3_25.10.2008 thinking, Mexican artist Erick Beltrán presents “Auto-retrato (A arte de fiar)” [“Auto-Portrait (The Art of “O mundo explicado” [“The World Explained”], an Spinning)”], by Sophie Calle Page 9 encyclopedia of non-specialized knowledge built from interviews with people (chosen at random) photo Amilcar Packer connect the marks above invited to explain themes proposed by the artist. Through questionnaires, Beltrán united theories and 4_2.11.2008 NICOLÁS ROBBIO explanations about topics as diverse as war, the Stock The fictional author K. D., personified in the performance by Artist participating in the 28th São Paulo Biennial. Exchange, the composition of glue, growing tomatoes Simon Goldin and Jakob Senneby and intuition. “How to define this strange thing that is the world, which can be everything?” he asks. photo Autumn Sonnichsen PAGE 10 + 11 Animals, politics, sociology, anthropology, physical laws, plants and many other subjects are present in his questionnaire, which numbers 800 questions. “I want to PAGE 8 The art of the game understand the ideas that people have of the world. The answers I receive that are the fruit of specialized Chilean Carlos Navarrete explains the works knowledge are automatically discarded.” All the In the Library of the 28th Bienal to visitors; for him, the material from the interviews generated a combination of Bibliophile José Mindlin, 94 years old, has between project is an opportunity to offer reviews maps, diagrams and descriptions of how the world works 25 and 30 thousand titles in his library, bearing in and observations from the point of view of from the non-specialized point of view. The 1st floor of mind that a title can be nothing more than a pamphlet, the artist and the public – at the same time the Pavilion there is a small press for the printing of or a work with 300 volumes. Mindlin was a board member the encyclopedia’s pages, in a process that is open to of the Fundação Bienal de São Paulo for many years, By Isabela Andersen Barta the public. Visitors can answer the questionnaire and but has recently retired. He was even the President have their responses included in the work. Every hour, of the institution at one stage and, during his The first guided tour took place last Saturday, at 500 pages are printed. On the Plan of Readings (3rd mandate, promoted the exhibition “Tradição e Ruptura” 5 pm, leaving from the Ciccillo Matarazzo Pavilion floor), the pages are exhibited on a panel and, at the [“Tradition and Rupture”], in 1984. He will take Square. Walking up the ramp, from the second to the closing of the production line, during the event, the part in the cycle of conferences titled: “Histórias third floor, Chilean artist Carlos Navarrete points out publication will be made available in its entirety. como Matéria Flexível: Práticas Artísticas e Novos a work by Iran, a Brazilian from the state of Espírito Santo: “This work speaks of the void. It is a chrome IMAGE PAGE_11 is like the last whisper of someone being carried off enclosure which prevents you from seeing inside or 1.11.2008 On this page, two instances of Carlos Navarrete to their death. The men that carry me are clad only in through it, instead offering a reflection. The mirror explaining the projects of the 28th Bienal to visitors briefs because of the erotic component, desire. I wear and reflection are the voids. The work is small, one a long, glamorous tulle skirt with sequins, because almost passes by it and then, suddenly, it is noticed. photos Rogério Canella it is as if I am a hybrid – and the skirt, a wedding It’s good art.” Navarrete was born in Santiago, in or funeral veil. It is a procession, the ramp is the Chile, in 1968, and has been coming to Brazil since he ascent to the beyond”. During the opening of the was seven years old, when his father’s brother moved PAGE 12 + 13 new space at the Galeria Filomena Soares, when Vasco with his wife to São Bernardo do Campo, in greater São presented Some Enchanted Evening for the first and only Paulo. The couple came to the country because of the 1 Sunday afternoon. The paulistanos are having their time, visitors were chatting and, when the procession military coup that placed General Augusto Pinochet in obligatory pizzas, ridding their obligatory bikes dressed appeared, everyone looked at one another and silence power, in 1973. Ten years after his uncle’s move, whom in their sporty clothes, white earphones of their fell. The artist claims not to care about the possible he would frequently visit, the artist began to collect obligatory I-pods gleaming in the bright winter sun. reaction of the public in São Paulo: “If it’s only a personal archive of photographs, letters and stories The harmless monster of Paulista Avenue is conducting ten people, then that’s great! Because it means that of the city of São Paulo. In 1991, already active in his daily ritual of scaring the pants off young girls. these ten people will be there for the performance. art research, he began to take his aunt and uncle, José Manuel emerges from Augusta Street, trying to find It is very important for me to present my work at the Florinda Alvarez and Carlos Alberto Navarrete (she an the brunch party he’d been invited to six months earlier. Bienal de São Paulo, because this building and this obstetric nurse, he a Spanish teacher) to visit the 2 He is getting better and better at it. Understanding the biennial are mythical things in the international Bienal – at the 28th the guided tours took place on the complex maze of one-way streets and ‘NO-U-TURN’ avenues. contemporary art scene”, says Vasco, before adding, November 1st and 2nd, continuing tomorrow and Sunday: “I “This city must be designed by the KGB”. “I have no doubt that ascending the Oscar Niemeyer would show them what I liked and skip what I didn’t. 3 While normal people wake up in their bedrooms looking ramp will be very important”. In fact, I prefer it This Bienal it will be different: as there are fewer over a square, an avenue or the neighbour’s kitchen, like this, as a performance. Those who saw it, saw it; works, I have to show everything, so it will be the Jonilson wakes up looking at books. He sells used those who didn’t, didn’t. That seems to me to be the first complete tour, as it were”. books, and lives and sleeps among them. idea of this Bienal, which, personally, is not about For the artist, the guided tour is an opportunity to 4 Sunday afternoon we find him fixing a broken shelf in the emptiness, but the opposite”. Vasco then speaks offer reviews and observations from the point of view of his bookshop situated at the crossing of Consolação about fits: “My work – which is between the performance the artist and the public – at the same time. In addition and Paulista. and the happening – fits perfectly in this Bienal, to the tours, Navarrete is exhibiting his “Personal “Isn’t it heavy, sleeping among all these books? because it has a human voice, six bodies and a direct Archive”, a collection of mementoes of the city of São Thousands of dead characters, some of them quite creepy”. contact between the artist and the public. People may Paulo, with cut-outs of maps and newspapers, coins, “Best of them don’t trouble me, they fight it among cry or not, but what they won’t do is escape unscathed tokens and souvenirs. “I spent four months working on the themselves. Occasionally, I have to kick the demons out…” by such vibrant elements as the voice and the body”. presentation of the archive that I have been adding to 5 “I don’t spare the gods either”. When he answered the telephone at his home, in Lisbon, for 23 years, and I did it in Santiago, using my memory 6 “Books are fine, people are trouble. Clients who come Vasco Araújo was not expecting a call from the 28b and longings, as an homage to São Paulo. It recounts the to my shop, some of them smell nice. But people still newspaper. The “Hello”, from the other end of the line transformation of the city, the Bienal and my family”. are trouble”. took a while in being enunciated. The artist had been Recapture 7 “People laugh a lot, like hyenas, what’s there to listening to an aria at full blast. Before exhibiting Before seeing the work by Iran, Navarrete guided a group laugh about? Pollution, relationship chaos, beautiful his works, in 1999, he dedicated himself to opera (comprising relatives and visitors) through the first criminals dressed in expensive clothes?” and the study of photography and sculpture. Vasco is floor, lingering in the Video Lounge. “Every room here 8 “My neighbours probably think who is the black, crazy fascinated by classical sculpture and thinks that it is a world of its own. It is incredibly organized, unlike fuck that lives next door to us. I don’t care”. is in the study of the past that we see ourselves. “The the third floor, where anonymity reigns”. Going up to “I have my books I don’t need that, whatever that is”. future is a projection, and the present an enactment”. the second floor, the Open Plan, the artist criticizes 9 “I worked at the art department of the São Paulo the use of the space: “From the point of view of art, University, didn’t much like the people there, shifted IMAGE there is no such thing as emptiness, there is only to the department of history and geography. Books on Moment of the “Some Enchanted Evening” performance realized in architecture. If they wanted to discuss the void, they history are my favourite”. 2001, in Lisbon should have filled these 12 thousand square meters 10 “I don’t have access to art. Also I don’t have time with works that deal with the subject”. In the Plan of for it. I like real art, like sculpture, pure and photo Cortesia Galeria Filomena Soares Readings, the third floor, Navarrete goes from work to clean. Modern art is all about opening parties. I think work, discussing each with his fast pace and good humor. the Bienal should happen at seven different places in More visitors join the group along the way and the guided four regions of the city”. PAGE 15 tour, which began with seven people, ends with more than 11 “… But personally I don’t care; I have my books I thirty. The artist pointed out the link between North don’t need that, whatever that is”. American artist Allan McCollum, the Brazilian one Leya 12 Why ‘7’? It is an important Hindu number, is that Dramatizing humor Mira Brander and Spaniard Javier Peñafiel. “The nice for my benefit? thing about an exhibition is being able to make the 13 “I wish I was born in India, mathematics, physics, The Spaniard Javier Peñafiel creates a new works dialogue among themselves. Allan executes all the united families, and spiritual people”. relationship with the days and exhibits his mathematically possible combinations with these forms, Wish I could show you the actual picture, my friend. The experiences in São Paulo through the medium here. It is as if he were a human computer, it is work country is splitting up in two, the Hindu right wing of the “Agenda do Fim dos Tempos Drásticos” that seems automated, but is done by the hand of man. party is standing at our doorstep, possibly will come to [“Diary of the End of Drastic Times”] project Leya, on the other hand, uses a very old technique of power in the next election, the very poor and the very engraving metal, and her work is loaded based on the rich, farmers committing suicide, do you By Eduarda Porto de Souza different combinatorics of the same images, like Allan. like Mathematics? With the same silent subtlety she has for narrative, 14 “Maths? No. But I like maths as a philosophical quest, Spanish artist Javier Peñafiel presents his “Agenda Javier created a diary of his stay in São Paulo, with as imagination of thought, but not calculational”. do Fim dos Tempos Drásticos” [“Diary of the End of a video and a diary that complete each other. He offers 15 “I don’t like the idea of calculating numbers, but Drastic Times”] project at the 28th Bienal de São Paulo. questions and leaves the answers blank. You don’t need calculating intentions, movements, energy and emotion”. The project is realized through three platforms: a to understand everything in art. These three artists I can feel it, Jonilson is getting bored, time to wrap paper diary, in which he creates another division for place history as something that fits in a bit at a time, up the interview. the days; a video, which includes this same diary; and something that has gaps and is not fully understood”. 16 Outside, the afternoon is drawing to a close. Jose a performance – a dramatized conference, taking place Navarrete pauses in front of the project by Mexican Manuel is beyond calculation. After traversing through on November 12th, at 8 pm, with the participation of Erick Beltrán. For Navarrete, Beltrán shows that half the city he is back in the same spot. At one point actress Marisa Orth and Brazilian artist Pazé. The knowledge is built in an erratic and disorderly manner. he was real close, then one wrong turn … project is the result of Peñafiel’s experiences in São “Like his work, my ‘Personal Archive’ also lacks a However, with every passing day he is getting closer to Paulo. The artist will also be exhibiting a video of beginning and an end, it has a time, a moment. As his destination. the performance “Vivir Entre Líneas (Las respuestas opposed to Erick, who looks to build rational thoughts, Difíciles)” [“Live Between the Lines (The Difficult I cut out a map so that this element for finding SARNATH BANERJEE Answers)”], at the Plan of Readings. oneself becomes an element of losing oneself, because Artist participating in the 28th São Paulo Biennial. Diary the city’s experience is chaotic”. Alongside these two “The diary is composed of texts, photos, drawings and works, on the ceiling, is the carpet by Romanian Mircea other kinds of images. They are a report of my experiences Cantor, which Navarrete defines as an “easy and foolish PAGE 14 from the three months I spent in São Paulo (July, August way to combine the local and the global. Art is a game, and September of this year) as a Bienal invited artist. but an intelligent one”. They are Interpretations of my everyday life. I describe When the group moves towards the back of the Those who saw, saw; them as a reaction against fatality. The term ‘drastic’ pavilion, it finds reproductions of paintings by Van those who didn’t, didn’t is characterized by anti-politics, by sentimentality as Gogh, Cézanne, Picasso, Matisse, Da Vinci, Monet, abuse, the presence of the consumer, not of the citizen. Velásquez, Rembrandt, Miró, Goya and other icons from At the Some Enchanted Evening performance, The days are classified as proper, improper, plural, art history. There is a murmur of “Ah, yes”, of general Vasco Araújo, from Portugal, walked up the common and similar. A kind of fiction-illusion as a understanding. “I felt like the fog lifted and the sun ramp of the Bienal Pavilion to the sound struggle against all the apparitions of fatality.” came out. After seeing so many works that were abstract of an opera, in a glittery skirt and the Days for me, we arrived at something I knew, a comfort certainty that the future is a projection and “In the ‘similar days’, productivity does not impede zone”, says Carlos Alberto Navarrete, the artist’s the existence of spaces freed from drastic times that uncle. The nephew explains the work of Peruvian the present, an enactment convert idleness, tedium and work into a single product. Fernando Bryce: “They are reproductions of fundamental The apparition of ‘similar days’ makes citizenship works of art acquired by the Universidade São Marcos By Ana Manfrinatto working without repetition possible. The best pleasures de Lima to constitute a reproduction museum, because accumulate in ‘similar days’. They are days of artificial theoretically they did not have the resources to buy Tomorrow and Sunday, at 6:15 pm, visitors to the light. Drastic times lead daylight, as we understand the originals. It is an incredibly underdeveloped view 28th Bienal de São Paulo will find a performance on the it, to the continuity of night. ‘Improper days’ are of art, don’t you think? Over here are the letters that pavilion’s ramp: Portuguese artist Vasco Araújo will very entertaining. Selfish and self-centered people the university exchanged during the project to get be carried by semi-naked men and will, like a dream, become altruistic, the shy convert their passivity into these reproductions”. And the unclue repeats what he disappear shortly after three minutes have passed. This eloquence. The feeling of being turned inside out is always says when he finds something interesting: “Ah, is the performance Some Enchanted Evening. According very strong. But what is good for the autobiography is you see? If he hadn’t opened this door for me, I would to Vasco Araújo, the idea behind this performance bad for lightness. In ‘improper days’, everything weighs have passed straight by without realizing these links – originally created in 2001 for the opening of the more. They are useless days for disarming, as they we and ideas. I would have thought it was any old thing”. new space at the Galeria Filomena Soares, in Lisbon – become very serious, always living the world in the ion, for me, was the work by Thomas Hirschhorn.” came from the music of the same title, Some Enchanted first person. ‘Plural days’ are the continuation of a Evening, from the North American musical South Pacific drastic idea, of citizenship as a percentage, but they IMAGE PAGE_10 – by Richard Rodgers and Oscar Hammerstein. The artist teach us less. Hyperactivity is guaranteed, everything Artist Carlos Navarrete, during his guided tour, points to the explains, “The song speaks of someone who is looking is reproduced in the format of the festival, idleness work by Iran, from the state of Espírito Santo for love in a room full of people”, adding: “The song acquires a form dictated by the majority. It is the space of the largest number. Millions of cars in transit at PAGE 20 THE CHARACTER Ramílio João Pires Filho is 38 years old and was the same time, one person can drive two at a time, in a born in the Tucuruvi neighborhood, in the São Paulo’s strange formation of four hands and two steering wheels. Northern district. Today, he lives on the other side of On these days, people go all out to reach everywhere. Yolanda Penteado the city, in the Ipiranga neighborhood, approximately The third person plural is spoken of, a new institutional 10 km away from Ibirapuera Park, where he works twice a organism that guarantees a brutal collapse of these that By Ivo Mesquita week as a personal trainer. Ramílio trains approximately elect the continuous masochistic practice in their day. 20 people who, for a number of reasons, decided to take ‘Improper days’ are scientific days for everyone, where Perhaps the most important part of Yolanda Penteado’s up running. Running, in fact, is something Ramílio does investigating is the priority. On ‘similar days’, it (1903-1983) life was lived after the end shown in the every day, literally and figuratively, at the same time. is easy to disarm love and dramatize humor. Tedium and mini-series Um só coração [Just One Heart], by Maria During the week he wakes at 4:40 am, claiming he likes idleness are also confused, as are work and rest, and Adelaide Amaral and Alcides Nogueira, in 2005. On to get an early start to be able to shower and breakfast a sweet sensation of abandon flows through these days. television, her biography ends with her separation from in peace, a breakfast which invariably includes a ham On ‘improper days’, there is no reason to turn one’s her second husband, Ciccillo Matarazzo, the founder of and cheese sandwich, chocolate milk with linseed flour back, because one lives off treachery, melancholy is the MASP [São Paulo Museum of Art] and the Bienal de and a bowl of cereal. always thought of the following day. The typologies serve São Paulo. What the public was shown was the story of He leaves the house at 5:40 am and runs the especially for ‘common days’. The word ‘public’ does not a well brought up girl from a good family, one used to approximately 15 km to his place of work, a chemical exist. With the passing of these days, the people acquire aristocratic environments, at home and abroad, where factory that he enters at 6:30 am and leaves at 4 pm. a certain immunity to drastic consumerism.” she had various opportunities to get to know important Afterwards, he goes home, swaps his white lab coat for and interesting people; who grew up into an energetic, his sporting outfit (sweatpants, sleeveless t-shirt and IMAGE elegant and unique young woman, with an attitude before sneakers) and runs to Ibirapuera Park or Trote Park 26.10.2008 its time, with a modern and entrepreneurial spirit, a (in the Vila Maria neighborhood), where he trains Above: examples of the “Agenda do fim dos tempos drásticos” person who always fought for a more open, civilized and his clients. [“Diary of the End of Drastic Times”]; optimistic society committed to Brazil. Speaking with him is an adventure. Even though he is below: scene from the video included in Javier Peñafiel’s project Since the beginning of the works for the realization very approachable and full of good humor, it takes some of the 1st Bienal de São Paulo, in 1951, she was time to order his attention among his clients, taking photo Amilcar Packer Ciccillo’s right hand, helping him overcome, thanks to dumbbells and orange stretching mats back and forth her own efforts and those of the network of relationships among the pillars of the marquis designed by Oscar that she knew how to motivate all over, the difficulties Niemeyer, in Ibirapuera Park. But, once you manage to PAGE 16 + 17 and obstacles in the way of realizing the first steal a bit of his time and sit down with him on those exhibitions. Her valuable collaboration is confirmed same orange mats, Ramílio is pure prose. In search of a story - A Novel, by K.D. by documents and registries kept in the Wanda Svevo He recounts that he has had three educations: a Historical Archives; her friendship with André Malraux, technical Chemistry course and the schools of Data 3. Murder who took over the project of a Brazilian biennial, paved Processing and Physical Education. His decision to I have taken the idea of writing a murder-mystery very literally. In Looking the way for her circulation among cultural bodies in study the latter was based on a girlfriend’s incentive for Headless there is a murder and a mystery. In other words, solving the mur- ; her encounters with Picasso were fundamental in and also due to the loss of his father, which had a der itself is not enough: the murder (and possibly the murderer) are connected the realization of the artist’s exhibition at the 2nd devastating impact. It was a right choice, as he has to a deeper mystery, a mysterious company called Headless Ltd. In a sense, solving the murder will only be satisfying if the mystery of Headless can also Bienal (1953); her relationships with politicians and always been in love with sports and says he found be solved. We are, after all, looking for Headless. The murder is a kind of trigger governors facilitated the freeing of resources needed a practical support at a difficult moment. He says, event that sets that search in motion. for the projects, as well as her successive trips to Rio “When my father passed away, I was at the bottom of a So what of the victim? His name is Robert. Robert Shipman, and he worked de Janeiro to explain the objectives and significance well, I had lost my businesses and even worked as an for Sovereign Trust, just like me. He worked out of the London office, in the of the São Paulo exhibition to members of the National entertainer at children’s parties. I was Barbie’s Ken!” sales section. In fact, we ran a small off-shore company together, Utlandsjuris- Congress; the support of her artist friends, such as The business he had lost was a gold mine, literally, in ten, me on client service and Rob on the sales. Utlandsjuristen was associated Maria Martins, Di Cavalcanti, Léger, Brancusi and Henry the Jacobina mountains, in the state of Bahia, which he to Sovereign Trust and serviced mainly Scandinavian clients. That’s almost certainly how those Swedish artists got onto us, through Utlandsjuristen. Moore ensured she moved among the intellectual elite at ran with a partner. Anyway, Rob traveled a lot more than I did. For one thing, he used to go to the time. But, she did not simply dedicate herself to He speaks freely of his father. It was he who the Bahamas quite a bit. In his free time he’d go scuba-diving, and swimming making cultural and political contacts; she also involved introduced him, and would always take him to, with the dolphins. That kind of stuff. To be honest, there’s not much to do over herself directly in the assemblage of the exhibition Ibirapuera Park, when he was a child – who already in Nassau in terms of work, and there’d be raised eyebrows every time he or rooms, in the reception of foreign guests and delegates liked to speed – on his tricycle. Since then, he has someone else from the London office jetted out. And every time he came to Gi- and in the overall scheduling of the event. Ciccillo never abandoned the park, which is now not just a braltar, he’d make us all jealous with stories of the Caribbean and the dolphins. Matarazzo and Yolanda Penteado were, over the 1950s, place of work, but where he comes for leisure, too. He’d only been working in off-shore for a handful of years, whereas I’ve been working in the sector, one way and another, since the mid-eighties. Yet it was the driving force behind the city’s social and cultural When he wants to run, the railings are the limit. When Rob who got all the luxury travel. When I started thinking about a victim, my life, being transformed by the press into symbols of São he wants to think about life, he likes to stay around natural jealousy probably got the better of me! I ended up with Rob Shipman Paulo’s vigor and developmental and civilizing spirit of the Japanese Pavilion: “That’s a slice of paradise; I dead on the floor of a hotel bathroom in the Bahamas. the period. stay there enjoying the garden, touching the water of Sorry Rob. You were the perfect choice! For one thing I know Rob’s work With the end of her marriage, in 1961, Yolanda came the lake and watching the little fishies. It leaves pretty well; ‘write what you know’, don’t they say? Second, there was this to dedicate herself determinedly and objectively to me feeling beautifully relaxed!” As for marathons, he Swedish connection again. Those artists set up a meeting with Rob in Stock- three grand philanthropically oriented projects: the runs in those he can. And he intends to take up classes holm last year to talk about Headless Ltd. He was their contact with Sovereign, and through Sovereign with Headless itself. Although I knew about Headless Liga das Senhoras Católicas [League of Catholic Ladies], in tap-dancing and photography, one of his favorite before this, it was Goldin and Senneby’s interest in the company that really of which her mother Guiomar de Ataliba Penteado was a pastimes, soon, adding “I Love graffiti, I used to have gave me the motivation to take the leap and start looking into it seriously. founder; the consolidation of the MASP [São Paulo Museum a beautiful collection of photos of graffiti, but a So I had to murder Rob. Let’s not be squeamish here. When you write a of Art], the dream and realization of her close friend virus erased them from my computer”. murder mystery, you have to get all this sorted out: how they died, whether Assis Chateaubriand; and the definitive implantation of Ramílio learned to appreciate graffiti when he was it’s feasible in the circumstances, what it looks like. In a sense you have to put the Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São passing by the Santa Ifigênia overpass in the center yourself in the position of the murderer, just to make it believable. You see, Rob is a big guy, quite athletic. And I wanted him to be killed by having his head Paulo, to which she would donate almost her entire art of São Paulo and noticed that some of its arches chopped off. I know this is grisly and distasteful, but when you throw yourself collection, including works by Matisse, Picasso, Léger, had undergone an intervention by an artist, with into a murder mystery, you can’t ignore these things. Modigliani, Marini, Braque and Morandi, among others. colors that stood out from the overpass’ predominant Why decapitation? To begin with, the murder leads to Headless, the company Furthermore, she donated a large sum of money to this yellow. He explains: “That caught my attention and I associated with Sovereign Trust, and that in turn leads to the people looking same institution on the sale of the Empyreo Farm, the thought it looked nice. I went there and learned to into Headless. Any detective would discover this easily: dates and names in place she and her family originated from, in order to appreciate graffiti; before that, I thought it was an appointments book, cross-referenced with company details, registration allow Walter Zanini, then the director of the museum, all about tagging.” His relationship with the art documents etc... By the way, it’s not unusual for off-shore companies to be investigated, sometimes officially by governments, and sometimes privately. I re- to commission an architectural design from Paulo Mendes is intuitive, examples of which appear in cinemas, member back in Papua New Guinea, when I was starting out, there was constant da Rocha for the definitive headquarters in the Cidade theaters, music venues, the Pinacoteca, the MASP reference to ‘those’ clients who were always under scrutiny by some agency or Universitária region (1975-76). The commissioned design [São Paulo Museum of Art], antiques fairs at Praça other ‘investigator’, and that we had to be careful not to say anything about them was never built. Benedito Calixto and in Ibirapuera Park, of course. to anybody. Cloak and dagger stuff! A young single woman in Papua New Guinea In this last period, inspired by a secret love not He has visited two Bienais so far, the 26th and 27th dealing with shady operators and private eyes. I never said my life has been dull! mentioned in her memoirs, Yolanda undergoes a process editions. Of those, he has good memories that he Anyway, Headless Ltd was incorporated on the Bahamas by Sovereign, and of divestiture, of simplifying her personal life, finds difficult to express in words: “It’s a very Shipman was a dead, headless Sovereign ex-employee. The connection is pretty clear. A headless body really sets up the story well. abandoning the trappings of the grand dame of society to subjective thing, I can’t say why I like a particular As a complete coincidence, Rob actually did disappear. He left the firm and become a woman deeply involved in her medium and with work, but it’s crazy seeing the way in which artists disappeared earlier this year. Not as strange as it sounds. He’d only been with her contemporaries. Her commitment to art, artists and represent their thoughts.” us a few years, and it’s not uncommon for people to leave abruptly. Working in museums, her belief in their importance in building a Ramílio is able to add the phrase, “I’m completely the off-shore sector lets you see new horizons, new possibilities; it makes you better country, make her an almost unique personality skeptical” after saying that, in search of something reach that bit further. Just look at me! It is also not uncommon to leave without in the landscape of philanthropists and sponsors that to overcome, he made the 809 km long pilgrimage of the a forwarding address. I bet Rob’s cuddled up in some fiscal paradise now, paying make up the cultural boards and institutions in Brazil. Caminho de Santiago de Compostela in 26 days, walking zero taxes and advising clients on how to do the same! Back to the book: I wanted this murder to be bold and symbolic. Do you Much more than her elegance, joie de vivre and enjoyment an average of 35 to 40 kilometers a day. “Last year, remember the guy found murdered and hanging from Blackfriar’s Bridge in of her work, Yolanda is an example of generosity, I went to Cape Town and ate at Mc Donald’s several London years ago? He was a Vatican banker, and he was killed according to civilization and commitment, a model citizen in tune with times.” Why did he cross the Atlantic towards ? some weird rite associated with the freemasons. That’s what I was after, a the demands of her time and conscious of the obligations Because he wanted to jump the highest bungee jump in shockingly symbolic murder. and duties of her class. An extraordinary woman! the world, freefalling 216 meters. Always running and Decapitation was a standard form of execution in the past, with beheadings always participating, he was one of the approximately often made public events. From petty thieves to monarchs, they’ve all got the th th th chop. Then there’s the mafia: that horse’s head in the bed... All in all, decapitation Ivo Mesquita, Curator of the 28 Bienal de São Paulo 1,500 people who, on April 27 , 2002 (during the 24 was the perfect fit. Although when I came to describe it, when you go from read- Bienal), took off their clothes in Ibirapuera Park ing about a murder to actually planning one, then you’ve crossed a line. God, I was IMAGE to be photographed by the lens of New York artist seriously sick. And sad. Just coming into fictional contact with murder makes you Yolanda Penteado (wearing a hat) at a reception at the Jockey Spencer Tunick. “Did you think I would have missed an realize what a horrendous, appalling act it is to kill another human being. Club. Inauguration of the 1st Bienal de São Paulo, 1951. opportunity like that?” There’s something else. I’m just throwing this in, because it sort of emerged as part of the writing process. My book is about the company Headless, and photo Wanda Svevo Historical Archive Ramílio in heights and distances the idea of be-heading someone was a natural consequence of that. But until I started looking into things in more detail, I didn’t realize that the old secret so- 10 km The distance from his house to Ibirapuera Park. ciety Acéphale (aka Headless), the one that the Swedish artists Goldin and Sen- 15 km The route he runs every day from his house to work. neby are looking into, has a headless man as a symbol. The society’s members PAGE 21_PROFILE 809 km Total walked during his pilgrimage of the were actually going to behead one of themselves as a sacred ritual, although so Caminho de Santiago de Compostela. far as we know they never did it. Barbie’s Ken 216 m The height of the highest bungee jump in the At least not until now. Was Rob Shipman a member of Acéphale? Was his world, where he... jumped. murder a ritual, a warning, or in some other way connected to whatever is left of the secret society Acéphale seventy years after its inauguration, and nearly Ramílio João Pires Filho runs, exercises, IMAGE fifty after the death of its founder? Next week we’ll meet the guy who’s been jumps, had a gold mine and already took part sent to find out. 3.11.2008 in a work of art at the Bienal Ramílio in his work routine at Ibirapuera Park Goldin+Senneby Artists participating in the 28th São Paulo Biennial. By Ana Manfrinatto photo Rogério Canella