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Lira do vinte anos Editora: Ática Autor: Álvares de Azevedo

BIOGRAFIA situar esse “eu” conflitante, cheio de ideias, exagerado, com um mundo incompreensível? Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo, em 12 de setembro de 1831, e morreu muito jovem, em 25 de abril CONTEXTO HISTÓRICO de 1852, com apenas 21 anos de idade. O Romantismo surge na Europa como uma superação dos pa- Nenhum de seus escritos foi a público em vida e sua obra foi drões neoclássicos. A revolução (do ponto de vista literário) composta quando o poeta tinha entre 17 e 21 anos. O repertó- trazida pelo Romantismo foi o modo libertário com o que se rio de poesias não é vasto, porém, devido à profundidade dos passou a “enxergar” a poesia. Quanto aos temas não houve temas e pela qualidade de sua obra, Álvares de Azevedo figura muita inovação, pode-se dizer que a mudança está no modus entre os grandes nomes do Romantismo brasileiro, junto a no- operandis. O amor, a saudade, a natureza, enfim, os temas já mes como , Laurindo Rabelo, , abordados no Barroco, no Classicismo e em outras escolas lite- , Bernardo Guimarães, entre outros. rárias eram tratados sob uma ótica diferente: a presença mar- As características da geração anterior (1a fase do Romantismo), cante do “eu”, do subjetivismo, de espontaneidade ao escrever, em geral, permanecem quase inalteradas. Porém, os poetas da fluência maior dos sentimentos em detrimento da forma, o desta 2a geração romântica adotam uma postura mais subjeti- conteúdo, o lirismo, não estavam totalmente atrelados a pa- va em relação ao amor, à morte, além de imitarem, evocarem drões formais rígidos, com nas escolas precedentes. poetas europeus. Lorde Byron e Alfred Musset, dentre outros, Soma-se a isso a realidade europeia de então. Temas como o foram importantes influências a essa geração. O amor, a mor- nacionalismo, por exemplo, ganham bastante força entre os po- te, a ironia, o desconcerto, a falta de entusiasmo, ou a etas da época, uma vez que as grandes nações do continente autoexaltação, além do tédio, foram temas frequentes deste estão se consolidando como tal. período literário, que se traduziam na poesia pelo egocentrismo, pela centralização da figura do ‘eu’, da subjetividade, por meio O fim do sistema feudal, a política colonial (de países como de devaneios, pela melancolia, pelo erotismo confuso, indeter- França, Inglaterra e Portugal), a Revolução Industrial e o capi- minado, às vezes doentio, pelo fascínio pela figura da morte e talismo emergente mudam radicalmente o cenário do velho pelo sentimento depressivo. continente. Começam a se formar classes sociais, a diferença social entre as pessoas passa a determinar as relações, surge O byronismo fica explícito por conta da melancolia que não tem também, de modo impactante, a classe operária, o proletariado cura, do desespero e da revolta. O poeta, neste período, é ge- (assim chamado, pois os trabalhadores eram classificados de nial, mas perseguido pela sociedade, a solidão parece ser seu acordo com a sua prole, ou seja, os filhos). destino inevitável, suas angústias não são compreendidas. O mal do século faz desejar a morte como a única solução plau- No Brasil, a realidade ainda é colonial. No início do século XIX, sível. A principal contradição desta geração é: de que maneira a família real portuguesa “muda-se” para o Brasil (sabe-se que

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as investidas do imperador francês Napoleão foram decisivas publicação em alguns cadernos, organizou o primeiro volume para a mudança da Família Real para o Brasil). Até os anos 20 das obras de Álvares de Azevedo. O livro traz a primeira versão do mesmo século, surgem escolas de nível superior, escolas de de Lira dos vinte anos, dividido em duas partes, mas sem os arte, além de se iniciar a atividade editorial por aqui. Periódi- seus respectivos prefácios, e incluindo apenas os poemas até cos diários e semanais passam a circular em cidades como São “É Ela! É Ela! É Ela! É Ela!”. A partir da edição organizada por Paulo, (capital), Salvador etc., e o sentimento Joaquim Norberto de Sousa e Silva, em 1873, foi acrescida uma de brasilidade, que há muito já aflorara nos brasileiros, tem o ápice na proclamação da Independência do Brasil em relação a terceira parte ao livro. E assim, a cada edição a obra se modifi- Portugal, em 1822. Com isso, teoricamente, não devíamos mais cava. Esse é um fato a se lamentar, uma vez que não permitiu esclarecimentos à Coroa portuguesa. Na prática, ainda houve a ao próprio autor acrescentar, organizar e editar os seus poemas. abdicação de D. Pedro I do cargo de regente, o golpe da maiori- dade que conduzira D. Pedro II ao poder e a Guerra do Paraguai A versão da Lira que hoje temos como definitiva foi organizada em meados dos anos 30. por Homero Pires para a edição das Obras Completas, publica- das pela Companhia Editora Nacional, em 1942. Ela é composta Neste período conturbado, aparece, no Brasil, o Romantismo por um “Prefácio” geral à obra e uma “Dedicatória” à mãe do que teve, num primeiro momento, como nome mais impor- poeta; a primeira parte, composta por 33 poemas, que vão de tante Gonçalves Dias e seu ufanismo, ou seja, o nacionalismo “No mar” até “Lembrança de morrer”; a segunda parte, com exacerbado, com a emblemática “Canção do exílio” e os versos o seu “Prefácio”, se compõe de 19 poemas que vão de “Um imortais “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá / as cadáver de poeta” a “Minha desgraça”; e de uma terceira parte, aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá” compostos em que vai de “Meu desejo” a “Página rota” e que, nas palavras do Portugal – cabe ressalvar, na Europa – os versos exaltavam as próprio Homero Pires, “não é senão uma continuação da inaca- qualidades naturais do território tupiniquim e, mais tarde, esta- bada primeira parte”. riam na letra do hino nacional brasileiro. O Romantismo no Brasil se divide em três gerações: Para melhor compreender a obra temos que nos atentar às in- 1ª geração: Valorização de temas nacionais, nos quais se fluências que o jovem Álvares de Azevedo teve ao escrever insere o índio (que era tratado de modo idealizado de acor- seus primeiros versos. do com os ideais de nobreza, honra, honestidade, franqueza Sua obra fora influenciada por Lord George Gordon Byron, cuja e lealdade. Gonçalves Dias foi o poeta mais importante desta obra é uma máxima caracterização do herói romântico, com geração. aspectos sombrios e misteriosos. O cinismo e o pessimismo de 2ª geração: a tuberculose matava muitas pessoas e chegou a sua obra fez nascer uma legião de jovens poetas “byronianos” ser chamada de mal do século. Alguns poetas desta geração por todo o mundo. Impregnado pelo “mal do século”, ou seja, foram vitimados por essa doença. Temas como a morte e o pes- o tédio, a melancolia, além do sofrimento pela tuberculose, Ál- simismo, além do desencanto, do desconcerto em relação ao vares de Azevedo aos poucos foi incorporando a sua poesia a mundo são frequentes nesta geração. A esse período pertence ironia de Lord Byron. Álvares de Azevedo, autor de Lira dos vinte anos. Lira dos vinte anos corresponde ao romantismo sonhador e sen- timental que irá alcançar o seu ápice no romantismo irônico e 3ª geração: também chamada de condoreira, tinha cunho crítico. mais social e libertário no que concernia às condições de mi- norias como escravos e indígenas. e Sousândrade Primeira parte foram os principais nomes do período e o poema (épico, por No texto de apresentação da primeira parte, o poeta introduz que não?) Navio Negreiro ilustra o espírito da época. uma perspectiva daquilo que o leitor encontrará nos poemas. • Para sala: 1 e 16 São lamentos de um eu lírico tímido e inexperiente, que se • Tarefa mínima: 2 e 17 apresenta ao público: “São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai- • Tarefa opcional: 3 -os. As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor”. ANÁLISE DA OBRA A obra de Manuel Antônio Álvares de Azevedo é toda de divul- Nessa primeira parte de Lira dos vinte anos predomina uma gação póstuma. Em 1853, o seu amigo Domingos Jacy Monteiro, poesia mais sentimental. Trata-se de uma poesia de seres ima- seguindo as instruções do autor, que deixara anotações para a ginários e de ideias abstratas. O livro se abre com as seguintes

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epígrafes: Uma das indagações a respeito da obra de Álvares de Azevedo é a de que até que ponto vida e obra se confundem? Seus poe- “Cantando a vida, como o cisne a morte.” mas teriam relação com a vida pessoal do poeta? (BOCAGE) Algumas lendas surgidas após a sua morte dizem respeito, so- bretudo, à produção artística conturbada do poeta. No poema “Dieu, amour et poésie sont les trois mots que je vou- acima, com a epígrafe “Dreams! dreams! dreams!”, por exem- drais seuls graver sur ma pierre, si je mérite une pierre.” plo, o poeta é acusado de necrofilia (atração sexual por cadáve- (LAMARTINE) res), pois descreve a virgem e seus atos diante dela, como se ela estivesse morta As palavras do Bocage pré-romântico e do romântico Lamartine anunciam, de modo quase direto, qual será o conteúdo do livro. volver de teus olhos transparentes, No prefácio, Álvares de Azevedo explica melhor como irá desen- Virgem do meu amor, o beijo a furto / volver essa temática na Primeira Parte da sua obra: Que pouso em tua face adormecida.

“Dreams! dreams! dreams!” O “beijo a furto”, “a face adormecida” seriam indícios de que a (W. Cowper) virgem em questão estaria morte e teria sido acariciada por ele, embora a epígrafe, em inglês, diga: Sonhos!, sonhos!, sonhos! Quando à noite no leito perfumado Lânguida fronte no sonhar reclinas, “No túmulo do meu amigo” No vapor da ilusão por que te orvalha (João Baptista da Silva Pereira Júnior) Pranto de amor as pálpebras divinas?

E, quando eu te contemplo adormecida Epitáfio Solto o cabelo no suave leito, Por que um suspiro tépido ressona Perdão, meu Deus, se a túnica da vida E desmaia suavíssimo em teu peito? Insano profanei-a nos amores! Se à coroa dos sonhos perfumados Virgem do meu amor, o beijo a furto Eu próprio desfolhei as róseas flores! Que pouso em tua face adormecida Não te lembra no peito os meus amores No vaso impuro corrompeu-se o néctar, E a febre de sonhar da minha vida? A argila da existência desbotou-me! O sol de tua glória abriu-me as pálpebras, Dorme, ó anjo de amor! no teu silêncio Da nódoa das paixões purificou-me! O meu peito se afoga de ternura E sinto que o porvir não vale um beijo E quantos sonhos na ilusão da vida! E o céu um teu suspiro de ventura! Quanta esperança no futuro ainda! Tudo calou-se pela noite eterna... Um beijo divinal que acende as veias, E eu vago errante e só na treva infinda. Que de encantos os olhos ilumina, Colhido a medo como flor da noite Alma em fogo, sedenta de infinito, Do teu lábio na rosa purpurina, Num mundo de visões o vôo abrindo, Como o vento do mar no céu noturno E um volver de teus olhos transparentes, Entre as nuvens de Deus passei dormindo! Um olhar dessa pálpebra sombria, A vida é noite: o céu tem véu de sangue: Talvez pudessem reviver-me n’alma Tateia a sombra a geração descrida... As santas ilusões de que eu vivia! Acorda-te, mortal! é no sepulcro Que a larva humana se desperta à vida! • Para sala: 6 • Tarefa mínima: 4 e 5 Quando as harpas do peito a morte estala, • Tarefa opcional: 7 e 8 Um treno de pavor soluça e voa: ______E a nota divinal que rompe as fibras

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Nas dulias angélicas ecoa. Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Em Lembrança de morrer, as sombras, a escuridão, o desconhe- cimento da morte são escancarados pelo poeta. Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, Lembrança de Morrer À sombra de uma cruz, e escrevam nela: – Foi poeta – sonhou – e amou na vida. No more! or never more! Shelley Sombras do vale, noites da montanha, Que minh’alma cantou e amava tanto, Quando em meu peito rebentar-se a fibra, Protegei o meu corpo abandonado, Que o espírito enlaça à dor vivente, E no silêncio derramai-lhe canto! Não derramem por mim nenhuma lágrima Em pálpebra demente Mas quando preludia ave d’aurora E quando à meia-noite o céu repousa, E nem desfolhem na matéria impura Arvoredos do bosque, abri os ramos... A flor do vale que adormece ao vento: Deixai a lua pratear-me a lousa! Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento A incapacidade de atingir a plenitude da beleza poética se traduz em uma repressão de sentimentos. Essa primeira par- Eu deixo a vida como deixa o tédio te é ilustrada pela dramaticidade. É bom lembrar que Álvares Do deserto, o poento caminheiro de Azevedo era um adolescente bem-nascido e sofria da típi- – Como as horas de um longo pesadelo ca dificuldade em conciliar o desejo carnal com o sentimento Que se desfez ao dobre do sineiro; amoroso, situação bem comum à segunda geração romântica Como o desterro de minh’alma errante, brasileira (e aos jovens de modo geral). Onde fogo insensato a consumia: A beleza inalcançável pode se referir tanto à poesia quanto ao Só levo uma saudade - é desses tempos próprio artista. Álvares de Azevedo era um jovem franzino, de- Que amorosa ilusão embelecia. bilitado, que apesar doe extremo vigor poético, era desprovido Só levo uma saudade – é dessas sombras de aptidões físicas que pudessem fazê-lo sobressair ante aos Que eu sentia velar nas noites minhas... amigos de noitadas. Porém, estas condições biográficas con- De ti, ó minha mãe! Pobre coitada tribuíram enormemente à sua produção artística. Suas aflições Que por minha tristeza te definhas! podem ser consideradas normais, corriqueiras a um adolescente burguês de então. De meu pai... de meus únicos amigos, Poucos – bem poucos – e que não zombavam • Para sala:10 Quando, em noites de febre endoidecido, • Tarefa mínima: 9 Minhas pálidas crenças duvidavam. • Tarefa opcional: 11 ______Se uma lágrima em pálpebras me inunda, Se um suspiro nos seios treme ainda, É pela virgem que sonhei... que nunca Segunda parte Aos lábios me encostou a face linda! Na segunda parte de Lira dos vinte anos, Álvares de Azevedo Só tu à mocidade sonhadora usa um romantismo irônico e sarcástico, mas sem abandonar Do pálido poeta deste flores... os temas do amor e da morte. O poeta, sucintamente, aponta Se viveu, foi por ti! e de esperança ao leitor as mudanças e apresenta até o panorama literário da De na vida gozar de teus amores. época, citando importantes autores e obras que se colocam no interior da mesma. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho amigo... Apesar da mudança no tom, os temas continuam os mesmos: a

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irrealização do desejo amoroso, o conflito entre o eu e o mun- Mes gros souliers ferrés, mon baton, mon chapeau, do e a fuga para a morte. O poeta foge para o estereótipo de Mes livres pêle-mêle entassés sur leur planche, um mundo real, ou seja, um mundo que existe, mas que de fato não é o seu. Sabe-se que Álvares de Azevedo era um filho De cet espace étroit sont tout l’ameublement. de família rica que nunca passou por privações materiais. Por Lamartine isso, ao tentar figurar a realidade das classes menos favorecidas (como nos poemas em que fala do amor a uma lavadeira ou do II poeta sem dinheiro), opera, em outros moldes, uma idealização semelhante à da primeira parte. Em outras palavras, quando Enchi o meu salão de mil figuras o poeta tenta romper com o misticismo da primeira parte, cai Aqui voa um cavalo no galope, numa idealização às avessas, pois ainda se encontra preso às Um roxo dominó as costas volta formas impostas pela estética romântica. A um cavaleiro de alemães bigodes, Um preto beberrão sobre uma pipa, A ideia do carpe diem de que o dia deveria ser aproveitado, Aos grossos beiços a garrafa aperta... sem que o “amanhã”, o futuro, importasse. A inconsequência Ao longo das paredes se derramam deveria ser a regra. Extintas inscrições de versos mortos, E mortos ao nascer... Ali a alcova Embora haja certa inconsequência nas atitudes do poeta, do eu Em águas negras se levanta a ilha lírico, o lirismo é bastante acentuado, até como autoafirmação Romântica, sombria à flor das ondas poética, como em É Ela! É Ela! É Ela! É Ela! De um rio que se perde na floresta... Um sonho de mancebo e de poeta, É Ela! É Ela! É Ela! É Ela! El-Dorado de amor que a mente cria É ela! é ela! murmurei tremendo, Como um Éden de noites deleitosas... E o eco ao longe murmurou – é ela! Era ali que eu podia no silêncio Eu a vi... minha fada aérea e pura Junto de um anjo... Além o romantismo! A minha lavadeira na janela! Borra adiante folgaz caricatura Com tinta de escrever e pó vermelho Dessas águas-furtadas onde eu moro A gorda face, o volumoso abdômen, Eu a vejo estendendo no telhado E a grossa penca do nariz purpúreo Os vestidos de chita, as saias brancas; Do alegre vendilhão entre botelhas Eu a vejo e suspiro enamorado! Metido num tonel... Na minha cômoda Meio encetado o copo ainda verbera Esta noite eu ousei mais atrevido As águas d’oiro do cognac fogoso. Nas telhas que estalavam nos meus passos Negreja ao pé narcótica botelha Ir espiar seu venturoso sono, Que da essência de flores de laranja Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! Guarda o licor que nectariza os nervos. Ali mistura-se o charuto havano Como dormia! que profundo sono!... Ao mesquinho cigarro e ao meu cachimbo. Tinha na mão o ferro do engomado... A mesa escura cambaleia ao peso Como roncava maviosa e pura!... Do titâneo Digesto , e ao lado dele Quase caí na rua desmaiado! Childe-Harold entreaberto ou Lamartine

Citações em outras línguas, em especial o francês e o alemão, Mostra que o romanismo se descuida conferiam ao poema certo glamour, certo tom de intelectuali- E que a poesia sobrenada sempre dade, afinal, estavam em consonância com os ideais literários Ao pesadelo clássico do estudo europeus vigentes como o mal do século, por exemplo. XI Ideias íntimas (fragmentos)

La chaise oú je m’assieds, la natte oú je me couche, Junto do meu leito meus poetas dormem La table oú je t’ecris, – O Dante, a Bíblia, Shakespeare e Byron –

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Na mesa confundidos. Junto deles Antes mil vezes que dormir com ela, Meu velho candeeiro se espreguiça Que dessa fúria o gozo, amor eterno... E parece pedir a formatura. Se ali não há também amor de velha, Ó meu amigo, ó velador noturno, Deem-me as caldeiras do terceiro inferno! Tu não me abandonaste nas vigílias, Quer eu perdesse a noite sobre os livros, No inferno estão suavíssimas belezas, Quer, sentado no leito, pensativo Cleópatras, Helenas, Eleonoras; Relesse as minhas cartas de namoro! Lá se namora em boa companhia, Quero-te muito bem, ó meu comparsa Não pode haver inferno com Senhoras! Nas doidas cenas do meu drama obscuro! E num dia de spleen, vindo a pachorra, Se é verdade que os homens gozadores, Hei de evocar-te num poema heróico Amigos de no vinho ter consolos, Na rima de Camões e de Ariosto Foram com Satanás fazer colônia, Como padrão às lâmpadas futuras! Antes lá que do Céu sofrer os tolos!

VI Ora! e forcem um’alma qual a minha, Que no altar sacrifica ao Deus-preguiça, O poeta moribundo A cantar ladainha eternamente E por mil anos ajudar a missa! Poetas! amanhã ao meu cadáver Minha tripa cortai mais sonorosa!... Minha desgraça Façam dela uma corda e cantem nela Minha desgraça não é ser poeta, Os amores da vida esperançosa! Nem na terra de amor não ter um eco, E meu anjo de Deus, o meu planeta Cantem esse verão que me alentava... Tratar-me como trata-se um boneco... O aroma dos currais, o bezerrinho, As aves que na sombra suspiravam, Não é andar de cotovelos rotos, E os sapos que cantavam no caminho! Ter duro como pedra o travesseiro... Eu sei... O mundo é um lodaçal perdido Coração, por que tremes? Se esta lira Cujo sol (quem mo dera!) é o dinheiro... Nas minhas mãos sem força desafina, Minha desgraça, ó cândida donzela, Enquanto ao cemitério não te levam, O que faz que meu peito assim blasfema, Casa no marimbau a alma divina! É ter para escrever todo um poema E não ter um vintém para uma vela. Eu morro qual nas mãos da cozinheira O marreco piando na agonia... Terceira parte Como o cisne de outrora... que gemendo Entre os hinos de amor se enternecia. A terceira parte do livro é uma continuidade da poesia sonhado- ra e sentimental da primeira, marcada por idealizações e nela Coração, por que tremes? Vejo a morte, encontramos um poema que foi considerado por Antonio Can- Ali vem lazarenta e desdentada... dido “um dos mais fascinantes e bem compostos de Álvares de Que noiva!... E devo então dormir com ela? Azevedo”. Se ela ao menos dormisse mascarada! Meu sonho Que ruínas! que amor petrificado! Tão antediluviano e gigantesco! EU Ora, façam ideia que ternuras Cavaleiro das armas escuras, Terá essa lagarta posta ao fresco! Onde vais pelas trevas impuras Com a espada sanguenta na mão?

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Por que brilham teus olhos ardentes trarromântica. E gemidos nos lábios frementes b) Há uma dispersão do eu lírico, que pode ser constatada pela Vertem fogo do teu coração? métrica irregular de alguns versos. c) A segunda geração romântica brasileira tinha aversão aos Cavaleiro, quem és? o remorso? poetas estrangeiros. Do corcel te debruças no dorso... d) Lamartine é criticado por conta de sua postura desrespeitosa E galopas do vale através... com a religião e com o próprio Deus. Essa atitude vai contra os Oh! da estrada acordando as poeiras ideais românticos. Não escutas gritar as caveiras e) Há um esquema de rimas pré-determinado. E morder-te o fantasma nos pés? 2. Onde vais pelas trevas impuras, Oh! ter vinte anos sem gozar de leve Cavaleiro das armas escuras, A ventura de uma alma de donzela! Macilento qual morto na tumba?... E sem na vida ter sentido nunca Tu escutas... Na longa montanha Na suave atração de um róseo corpo Um tropel teu galope acompanha? Meus olhos turvos se fechar de gozo! E um clamor de vingança retumba? Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas Passam tantas visões sobre meu peito! Cavaleiro, quem és? – que mistério, Palor de febre meu semblante cobre, Quem te força da morte no império Bate meu coração com tanto fogo! Pela noite assombrada a vagar? Um doce nome os lábios meus suspiram, Um nome de mulher... e vejo lânguida • Para sala: 15 No véu suave de amorosas sombras • Tarefa mínima: 12 Seminua, abatida, a mão no seio, • Tarefa opcional: 13 e 14 Perfumada visão romper a nuvem, Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras ATIVIDADES O alento fresco e leve como a vida Passar delicioso... Que delírios! 1. Acordo palpitante... inda a procuro; Ossian o bardo é triste como a sombra Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas Que seus cantos povoa. O Lamartine Banham meus olhos, e suspiro e gemo... É monótono e belo como a noite, Imploro uma ilusão... tudo é silêncio! Como a lua no mar e o som das ondas... Só o leito deserto, a sala muda! Mas pranteia uma eterna monodia, Amorosa visão, mulher dos sonhos, Tem na lira do gênio uma só corda; Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto! Fibra de amor e Deus que um sopro agita: Nunca virás iluminar meu peito Se desmaia de amor a Deus se volta, Com um raio de luz desses teus olhos? Se pranteia por Deus de amor suspira. Basta de Shakespeare. Vem tu agora, Qual a principal contradição expressa nesse excerto do poema Fantástico alemão, poeta ardente de Álvares de Azevedo, em Lira os vinte anos? Que ilumina o clarão das gotas pálidas Do nobre Johannisberg! Nos teus romances 3. Leia o trecho do poema pertencente à segunda geração ro- Meu coração deleita-se... Contudo, mântica (ou à segunda parte de Lira dos vinte anos), e marque Parece-me que vou perdendo o gosto. a alternativa CORRETA.

Sobre este trecho retirado de Ideias íntimas é CORRETO afirmar É ela! É ela! É ela! É ela! que: É ela! É ela! – murmurei tremendo, E o eco ao longe murmurou – é ela! a) O eu lírico confirma seu apreço por alguns escritores ao mes- Eu a vi – minha fada aérea e pura – mo tempo em critica-os, mostra, desse modo, a dualidade ul- A minha lavadeira na janela!

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[...] Correndo atrás dos carros Esta noite eu ousei mais atrevido Como um cachorro otário Nas telhas que estalavam nos meus passos Ir espiar seu venturoso sono, (...) Quebrando objetos inúteis Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! Como quem leva uma topada [...] Afastei a janela, entrei medroso: Me deixem amolar e esmurrar Palpitava-lhe o seio adormecido... A faca cega, cega da paixão Fui beijá-la... roubei do seio dela E dar tiros a esmo e ferir Um bilhete que estava ali metido... O mesmo cego coração Oh! Decerto... (pensei) é doce página (...) Não me chamem a polícia Onde a alma derramou gentis amores; Nem me chamem o hospício, São versos dela... que amanhã decerto Ela me enviará cheios de flores... Eu não posso causar mal nenhum [...] A não ser a mim mesmo É ela! é ela! – repeti tremendo; (Cazuza e Lobão) Mas cantou nesse instante uma coruja... Abri cioso a página secreta... Vivi na solidão, odeio o mundo... Oh! Meu Deus! era um rol de roupa suja! E no orgulho embucei meu rosto pálido Como um astro nublado... a) Com a imagem da virgem sonhadora e, ao mesmo tempo, Ri-me da vida — lupanar imundo, lavadeira, denuncia as mazelas sociais da sociedade paulistana. b) No poema “É ela! É ela! É ela! É ela!”, a musa eleita é uma Onde se volve o libertino esquálido lavadeira. Dizendo-se apaixonado, o eu lírico ilustra, de uma Na treva... profanado forma melancólica, a grandeza das relações humanas e a con- Quantos hei visto desbotarem frios, cretização do amor, independentemente das condições sociais. Manchados de embriaguez da orgia em meio c) O poeta utiliza termos elevados para se referir à lavadeira,e Nas infâmias do vício! por isso forja o riso, por associar a lavadeira a uma musa inspi- E quantos morreram inda sombrios, radora e merecedora de toda essa paixão. Trata-se, pois, de um Sem remorso dos negros devaneios... poema irônico e prosaico. Sentindo o precipício! d) Ao comparar a lavadeira da janela (que devia estar em um (Álvares de Azevedo, in Lira dos vinte anos) local alto) com uma fada Eu a vi – minha fada aérea e pura – o poeta confirma o ideal romântico de idealização feminina.A Que características do texto de Cazuza e Lobão, escrito em 1980 minha lavadeira na janela! (quase 150 anos após o boom romântico) fazem parte do ro- e) A única intenção do poeta é a de satirizar o romantismo e mantismo “praticado” por Álvares de Azevedo? o lirismo que se utilizavam de musas que não eram deusas, ao contrário dos clássicos. O Romantismo era, portanto, gênero 5. menor. Teu romantismo bebo, ó minha lua, A teus raios divinos me abandono, 4. Compare as duas visões separadas por mais de um século: Torno-me vaporoso... e só de ver-te Eu sinto os lábios meus se abrir de sono. Mal nenhum (Álvares de Azevedo, “Luar de verão”, Lira dos vinte anos)

Nunca viram ninguém triste? Neste trecho, é manifestada: Por que não me deixam em paz? a) A nítida aversão dos românticos à natureza. As guerras são tão tristes b) Certa tendência ao ocultismo. E não tem nada demais c) A melancolia, característica barroca incorporada pelos român- ticos. Me deixem, bicho acuado d) A ironia tipicamente romântica. Por um inimigo imaginário e) A veia humorística do poeta, que satiriza a luz da Lua.

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6. O carinho, a mão amiga, Pálida à luz da lâmpada sombria, Para aliviar meus ais. Sobre o leito de flores reclinada, Depois que eu me chamar saudade Como a lua por noite embalsamada, Não preciso de vaidade Entre as nuvens do amor ela dormia! Quero preces e nada mais (Nelson Cavaquinho / Guilherme de Brito) Era a virgem do mar, na escuma fria Pela maré das águas embalada! Qual a tensão estabelecida nos dois textos que apresentam a Era um anjo entre nuvens d’alvorada mesma temática? Que em sonhos se banhava e se esquecia! 8. Assinale a alternativa CORRETA no que concerne ao Roman- Era mais bela! o seio palpitando tismo. Negros olhos as pálpebras abrindo a) Castro Alves foi o principal poeta da segunda geração român- Formas nuas no leito resvalando tica brasileira, apesar do tom pouco elevado presente em seus versos. Não te rias de mim, meu anjo lindo! b) Álvares de Azevedo, classificado na segunda geração do Ro- Por ti – as noites eu velei, chorando, mantismo brasileiro, deixou uma obra composta de poemas Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo! líricos, além de obras que exaltavam a morte. Foi bastante in- fluenciado pelobyronismo . Este soneto apresenta qual(is) c) No Romantismo, a forma importava mais do que o conteúdo. característica(s) romântica(s)? O soneto metricamente perfeito sobressaía-se às qualidades lí- ricas. 7. d) Gonçalves Dias compôs a Canção do Exílio, Os Timbiras, Se Eu O poeta moribundo Morresse Amanhã e Meus Oito Anos. e) O Romantismo retomou elementos clássicos, embora tenha Poetas! Amanhã ao meu cadáver ignorado o lirismo e a inspiração do poeta. Minha tripa cortai mais sonorosa!... Façam dela uma corda e cantem nela 9. São características do Romantismo: Os amores da vida esperançosa! a) Emoção e sentimentos exacerbados. (...) b) Preocupação formal e conteúdo menos lírico. Eu morro qual nas mãos da cozinheira c) Aversão aos modelos clássicos. O marreco piando na agonia... d) Idealização da mulher. Como o cisne de outrora... que gemendo e) Predominância de versos brancos. Entre os hinos de amor se enternecia. (...) 10. Na concepção de Lira dos vinte anos há certa inovação for- (Álvares de Azevedo) mal, embora o livro tenha sido organizado postumamente. Qual é essa característica formal? Quando eu me chamar saudade 11. Sobre Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo, podemos Sei que amanhã quando eu morrer fazer a seguinte afirmação: Os meus amigos vão dizer a) Recebe grande influência do neoclassicismo do século XVIII. Que eu tinha um bom coração b) O eu lírico revela profundo tédio existencial. Alguns até hão de chorar c) O sentimento nacionalista, tão presente no Romantismo, apa- E querer me homenagear rece na obra de Álvares de Azevedo. Fazendo de ouro um violão d) É uma obra caracterizada pelo apuro formal. Mas depois que o tempo passar e) Há unidade em toda a obra, muito lapidada pelo autor. Sei que ninguém vai se lembrar Que eu fui embora. Por isso é que eu penso assim 12. Leia o excerto abaixo e indique de que forma o pessimismo Se alguém quiser fazer por mim e o desconcerto do eu ante a vida é visto pelo autor de “Lem- Que faça agora. Me dê as flores em vida brança de morrer”.

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Quando em meu peito rebentar-se a fibra Ilumina um teatro sem cor Que o espírito enlaça à dor vivente, Onde estou desempenhando o papel Não derramem por mim nenhuma lágrima De palhaço do amor Em pálpebra demente. (Nelson Cavaquinho)

13. Invejo as flores que murchando morrem, Ossian o bardo é triste como a sombra E as aves que desmaiam-se cantando Que seus cantos povoa. O Lamartine E expiram sem sofrer... É monótono e belo como a noite, As minhas veias inda ardentes correm... Como a lua no mar e o som das ondas... E na febre da vida agonizando Mas pranteia uma eterna monodia, Eu me sinto morrer! Tem na lira do gênio uma só corda; Pálida sombra dos amores santos! Fibra de amor e Deus que um sopro agita: Passa quando eu morrer no meu jazigo, Se desmaia de amor a Deus se volta, Ajoelha ao luar e entoa um canto... Se pranteia por Deus de amor suspira. Que lá na morte eu sonharei contigo. Basta de Shakespeare. Vem tu agora, Fantástico alemão, poeta ardente Quanto ao conteúdo, de que maneira os trechos de poemas de Que ilumina o clarão das gotas pálidas Álvares de Azevedo “conversam” com Nelson Cavaquinho? Do nobre Johannisberg! Nos teus romances Meu coração deleita-se... Contudo, 15. A partir do conteúdo dos versos de Cazuza, faça uma relação Parece-me que vou perdendo o gosto. da obra e da biografia de Álvares de Azevedo. Vou ficando blasé: passeio os dias Pelo meu corredor, sem companheiro, Vida louca vida Sem ler, nem poetar... Vivo fumando, Vida breve Minha casa não tem menores névoas Já que eu não posso te levar Que as deste céu d’inverno... Solitário Quero que você me leve Vida louca vida Indique a alternativa que contenha a classificação do poema e Vida imensa um exemplo que a comprove. Ninguém vai nos perdoar Nosso crime não compensa a) Épico, em terceira pessoa do singular, Do nobre Johannisberg! (Cazuza) b) Satírico, em primeira pessoa do singular, Vivo fumando, Mi- nha casa não tem menores névoas. 16. Os versos tão famosos da literatura brasileira “Minha terra c) Dramático, em terceira pessoa do singular, Basta de Shakes- tem palmeiras onde canta o sabiá / as aves que aqui gorjeiam peare. Vem tu agora, Fantástico alemão, poeta ardente. não gorjeiam como lá” pertencem à: d) Descritivo, em primeira pessoa do singular, Vou ficando blasé. a) 3ª geração romântica. e) Enigmático, pois não revela alguns nomes, Fantástico ale- b) Escola realista. mão, poeta ardente. c) 2ª geração romântica. d) Geração modernista. 14. e) 1ª geração romântica. Sempre só Eu vivo procurando alguém 17. Qual desses eventos históricos NÃO pertence ao período Que sofra como eu também literário do Romantismo no Brasil? E não consigo achar ninguém a) Surgimento de escolas de nível superior Sempre só b) Início da atividade editorial e da imprensa E a vida vai seguindo assim c) Golpe da maioridade Não tenho quem tem dó de mim d) Coluna Prestes Estou chegando ao fim e) Guerra do Paraguai A luz negra de um destino cruel

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GABARITO 11. b O tédio, o desconcerto do eu com o mundo, e a própria exis- 1. a tência são temas caros ao romantismo de Álvares de Azevedo. Essa dualidade, binômia, é uma das características românticas, principalmente de Álvares de Azevedo, que, individualmente, 12. “Que o espírito enlaça à dor vivente” faz alusão à vida, e apresenta fases diferentes, assim como o Romantismo que de- caracteriza-a como sofrimento. Tal caracterização não é exclusi- sembarcara no Brasil. va do Romantismo, mas foi bastante desenvolvida pelos autores dessa escola, especialmente os da segunda geração, ajudando a 2. A principal contradição expressa neste trecho é a dificulda- configurar seu pessimismo. de em conciliar a ideia de amor, platônica, com a posse física, carnal. 13. a É um poema descritivo, no qual ele narra, de modo poético, suas 3. c influências literárias no momento da concepção artística. A ironia e o ritmo de prosa conferidos ao poema inserem-no como um poema irônico do romantismo. 14. Nelson Cavaquinho nomeia a morte de Luz Negra, destino cruel. A imagem de sombra Pálida sombra dos amores santos! 4. O desconcerto com o mundo, a subjetividade, individuali- vida agonizando, enfim, são conteúdos soturnos que vislum- dade (Por que não me deixam em paz?) A desilusão amorosa bram a morte de modo misterioso e ao mesmo tempo atraente (Me deixem amolar e esmurrar a faca cega da paixão) o mal E expiram sem sofrer... A luz negra Ilumina um teatro sem cor. do século, doença imaginária, ligada ao tédio (Por um inimigo 15. Resposta pessoal. Deve-se considerar a efemeridade da imaginário), enfim, quanto ao tema, pode dizer que há certo vida e aforma como era encarada por Álvares de Azevedo. A diálogo entre os textos. comparaçao das biografias pode contribuir, já que ambos fale- ceram novos, viveram debilitados por muito tempo. 5. d A ironia reside no trecho 16. e Torno-me vaporoso... e só de ver-te / Os famosos versos são do maranhense Gonçalves Dias, poeta Eu sinto os lábios meus se abrir de sono. da primeira geração romântica. Há uma quebra de expectativa já que a lua deveria inspirar o poeta e não causar-lhe sono. 17. d A Coluna Prestes acontece já no regime presidencialista, entre 6. É poema pertencente ao Romantismo, construído de modo os anos de 1925 e 1927, no século XX, portanto no período saudosista, voltada para o passado, com lembranças que não marcado pelo início do Modernismo, com a Semana de Arte voltarão. Moderna, em 1922.

7. A morte sem remédio, iminente, é tratada nos dois textos, GUIA DO PROFESSOR com certo desdém. As conseqüências da morte não fazem mui- to sentido. O fazer artístico deve prevalecer ante o sentimento Sugestão de procedimento de ensino saudosista, embora a saudade seja um tema romântico. Sabemos que existem diversos métodos de ensino-aprendiza- gem disponíveis em literatura especializada e que esses mé- 8. b todos só trazem resultado positivo quando combinam com o O byronismo influenciou não só Álvares de Azevedo como tan- estilo, com o contexto e com as necessidades do professor em tos outros poetas românticos. sala de aula. Ao observar a prática do professor em sala de aula, é fácil perceber que um método bem antigo e tradicional que 9. a resistiu ao tempo e ainda hoje se mostra bastante eficiente é o O exagero ao externar os sentimentos é uma característica ro- da aula expositiva. mântica bastante marcante. Segundo Regina Célia Haydt, em seu livro Curso de Didática 10. Lira dos vinte anos, de Álvares de Azevedo, utiliza-se de Geral (Ática, 2010.), a aula expositiva pode ser usada nas se- uma linguagem em que a dualidade fica marcada, em que se guintes situações: aparecem duas formas distintas de ver e pensar a realidade. • Quando há necessidade de transmitir informações e conhe-

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cimentos seguindo uma estrutura lógica e com economia de tempo; e) Destaque e fixe as ideias mais importantes, registrando-as • Para introduzir um novo conteúdo, apresentando e escla- no quadro de giz. recendo os conceitos básicos da unidade e dando uma visão global do assunto; f) Dê exemplos esclarecedores relacionados à vivência dos alu- nos. • Para fazer uma síntese do conteúdo abordado numa unida- de, dando uma visão globalizada e sintética do assunto. g) Estimule a participação dos alunos e mantenha-os em atitu- de reflexiva: A aula expositiva é um procedimento de ensino-aprendizagem g1. fazendo perguntas para que eles respondam; que está presente indistintamente em todos os níveis de ensino g2. dialogando com eles; e é um dos mais empregados pelo professor em seu dia a dia g3. propondo questões para debate; nas salas de aula. g4. deixando que eles exponham suas dúvidas; g5. esclarecendo as dúvidas; Pela sua manifesta presença no ambiente escolar, decidimos g6. solicitando exemplos; por apresentar a você, professor, uma pequena lista de suges- g7. pedindo para que os alunos apresentem conjecturas sobre a tões que pode ser útil em sua prática docente. Toda a lista foi continuação da explicação; retirada do livro citado acima, de Regina Haydt. g8. ou pedindo para que façam oralmente uma breve síntese do que foi até então exposto. Para que a aula expositiva atinja os objetivos para os quais foi planejada e se desenrole de forma eficiente, sugere-se que o h)Use uma linguagem simples e coloquial e vá direto ao assun- professor: to, de forma clara e objetiva, sem rodeios e floreios. Quando empregar uma palavra que você presuma que seja desconheci- a) Apresente inicialmente, aos alunos, o assunto que vai ser da dos alunos, ou um termo científico, explique o seu significa- abordado no decorrer da exposição e mostre suas ligações com do, para facilitar a compreensão do assunto exposto. os temas já estudados e conhecidos. i) Fale com desembaraço e entusiasmo, pronunciando as pa- b) Introduza o novo conteúdo partindo dos conhecimentos e lavras com clareza e variando o tom de voz, os gestos e os experiências anteriores, isto é, do que o aluno já conhece e movimentos. O professor Nérici, em seu livro Didática geral di- experienciou. nâmica, sugere, inclusive, que o expositor dê “um certo colorido emocional à exposição, mas sem exagero”. c) Estabeleça um clima adequado entre os participantes e man- tenha a atenção dos alunos, relacionando o conteúdo apresen- j) Use humor quando achar oportuno, pois ajuda a relaxar, pren- tado aos objetivos, interesses e motivos dos estudantes. de a atenção e cria um clima descontraído. d) Seja objetivo e preciso na exposição e dê ao tema um tra- k) Use, sempre que possível, para ilustrar a explanação, recursos tamento ordenado e lógico. Há várias formas de se organizar o audiovisuais auxiliares, como o quadro de giz, cartazes, gravu- conteúdo de uma exposição: ras, álbum seriado, quadros murais, gráficos, mapas, retropro- jetor etc. d1. apresentar primeiramente as ideias amplas e abrangentes que servem de ponto de apoio ou de ponto de ancoragem para l) “Sinta” a classe, percebendo o grau de atenção dos alunos as ideias mais específicas; em seguida, expor as informações através de suas reações, e verificando o seu nível de compreen- particulares, mostrando sua relação com as ideias mais ge- são por meio de perguntas sobre o assunto exposto. néricas e com os princípios gerais; d2. usar uma abordagem indutiva, expondo primeiramente os m) Intercale a exposição com exercícios de aplicação do conte- fatos particulares e as situações concretas, para depois apresen- údo apresentado, quando achar oportuno. tar os conceitos e princípios mais gerais e abrangentes a eles relacionados; n) Ao concluir a explicação, enfatize as ideias básicas e essen- d3. propor questões ou problemas, para depois apresentar fa- ciais, sintetizando-as e sistematizando-as num quadro sinótico, tos, informações e argumentos para as possíveis soluções. ou pedindo aos alunos para resumirem o conteúdo transmitido.

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Estas normas práticas poderão ajudar o professor a tornar sua popularesco, com o artifício poético da ambiguidade. aula expositiva mais compreensível e interessante para os alu- - O tédio e o pessimismo que marcam essa fase da poesia de nos. Álvares de Azevedo. Dentre essas normas, duas em especial devem ser destacadas: - A 2ª geração romântica.

1. uma é a necessidade de se relacionar as ideias mais gerais • Para sala: 10 e abrangentes do conteúdo, com as informações particulares; • Tarefa mínima: 9 2. a outra é a necessidade de se estabelecer uma ponte entre o • Tarefa opcional: 11 que o estudante já sabe e aquilo que ele precisa conhecer. Por isso, é importante mostrar as semelhanças e diferenças entre Aula 4: Terceira parte (ou Terceira fase) as novas ideias contidas no conteúdo introduzido e os conceitos e princípios previamente aprendidos e disponíveis na estrutura Estratégia cognitiva do aluno. Nesta aula de fechamento, o docente pode relacionar a poesia de Álvares de Azevedo com outros poetas, contemporâneos a Aula 1: Biografia; Contexto histórico ele ou posteriores, como Cazuza e Nelson Cavaquinho (sambista que tinha a morte como tema principal). Estratégia O professor deve conceituar Romantismo, fazer as devidas con- • Para sala: 15 textualizações. Deve ressaltar também a divisão do Romant- • Tarefa mínima: 12 ismo, além de falar do ultrarromantismo no qual Álvares de • Tarefa opcional: 13 e 14 Azevedo esta inserido. Pode falar da biografia conturbada do poeta paulista e da divisão tripartite de sua obra, feita após a sua morte.

• Para sala: 1 e 16 • Tarefa mínima: 2 e 17 • Tarefa opcional: 3 Aula 2: Primeira parte (ou Primeira fase)

Estratégia O professor pode falar: - Das características românticas marcantes em Álvares de Aze- vedo. - De temas como o saudosismo, morte, doenças. - Do individualismo, da presença forte do “eu”, do subjetivismo, do lirismo, do exagero romântico.

• Para sala: 6. • Tarefa mínima: 4 e 5. • Tarefa opcional: 7 e 8. Aula 3: Segunda parte (ou Segunda fase)

Estratégia O professor pode falar sobre: - As influências europeias de Álvares de Azevedo: Lord Byron (byronismo) - A linguagem rebuscada, porém que tentava se aproximar do

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