RIVALIDADE E INTEGRAÇÃO NAS RELAÇÕES CHILENO-PERUANAS: IMPLICAÇÕES PARA a POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA AMÉRICA DO SUL Ministério Das Relações Exteriores

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RIVALIDADE E INTEGRAÇÃO NAS RELAÇÕES CHILENO-PERUANAS: IMPLICAÇÕES PARA a POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA AMÉRICA DO SUL Ministério Das Relações Exteriores RIVALIDADE E INTEGRAÇÃO NAS RELAÇÕES CHILENO-PERUANAS: IMPLICAÇÕES PARA A POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NA AMÉRICA DO SUL MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES Ministro de Estado Embaixador Antonio de Aguiar Patriota Secretário-Geral Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSmÃO Presidente Embaixador José Vicente de Sá Pimentel Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais Centro de História e Documentação Diplomática Diretor Embaixador Maurício E. Cortes Costa A Fundação Alexandre de Gusmão, instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada ao Ministério das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade civil informações sobre a realidade internacional e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. Sua missão é promover a sensibilização da opinião pública nacional para os temas de relações internacionais e para a política externa brasileira. Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios, Bloco H Anexo II, Térreo, Sala 1 70170-900 Brasília, DF Telefones: (61) 2030-6033/6034 Fax: (61) 2030-9125 Site: www.funag.gov.br FELIPE COSTI SANTAROSA Rivalidade e Integração nas Relações Chileno-Peruanas: implicações para a política externa brasileira na América do Sul Brasília, 2012 Direitos de publicação reservados à Fundação Alexandre de Gusmão Ministério das Relações Exteriores Esplanada dos Ministérios, Bloco H Anexo II, Térreo 70170-900 Brasília – DF Telefones: (61) 2030-6033/6034 Fax: (61) 2030-9125 Site: www.funag.gov.br E-mail: [email protected] Equipe Técnica: Fernanda Antunes Siqueira Gabriela Del Rio de Rezende Jessé Nóbrega Cardoso Rafael Ramos da Luz Wellington Solon de Souza Lima de Araújo Programação Visual e Diagramação: Gráfica e Editora Ideal Impresso no Brasil 2012 S233 SANTAROSA, Felipe Costi. Rivalidade e integração nas relações chileno-peruanas: implicações para a política externa / Felipe Costi Santarosa. ─ Brasília: FUNAG, 2012. 303 p.; 15,5x22,5 cm. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-7631-392-2 1. Política Externa. Chile. Peru. 2. Integração econômica. I. Fundação Alexandre de Gusmão. CDU: 27(83:85) Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Talita Daemon James – CRB-7/6078 Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional conforme Lei n° 10.994, de 14/12/2004. À minha esposa, Fernanda, e aos meus filhos, Lorenzo e Ruggiero, incentivo constante e paciência infinita nas longas horas de pesquisa. Apresentação Este livro não existiria sem o singular privilégio que me brindou o Itamaraty de servir como diplomata, por quase cinco anos, de forma sucessiva, nesses dois países fascinantes que são Chile e Peru, cuja riquíssima história – ainda pouco familiar à maioria dos brasileiros – é o pano de fundo do presente livro. Uma história que a um só tempo liga e aparta a chilenos e peruanos. Vivi em Santiago entre 2003 e 2006, no que foi uma época de auge das desavenças do Chile com seus vizinhos. Havia crise no abastecimento de gás pela Argentina. Gestava-se o contencioso de delimitação lateral marítima com o Peru. O relacionamento com a Bolívia volvia-se álgido após a contenda pública verbal entre os Presidentes Carlos Mesa e Ricardo Lagos pelo tema da mediterraneidade, passando La Paz a adotar uma política de “gás por mar”. Para um observador brasileiro, era surpreendente constatar que, em pleno século XXI e na pacífica América do Sul, pudesse o Chile enfrentar tal quadro de isolamento e crispações vicinais. Interessei-me então pelas causas históricas dessa situação e comecei, ainda que de maneira diletante, a ler e coligir material sobre a Guerra do Pacífico, conflito pouquíssimo estudado no Brasil, muito embora de proporções e efeitos sistêmicos semelhantes, senão maiores, do que a Guerra do Paraguai. Em Lima, entre 2006 e 2008, chamou minha atenção a preocupação contra o que era visto como uma “invasão” de capitais chilenos na economia peruana, ao mesmo tempo em que avultava o contencioso lateral marítimo e crescia o apoio pela propositura de ação na Corte da FELIPE COSTI SANTAROSA Haia, o que acabaria de fato se materializando nos últimos meses de minha permanência no Peru. Causava-me espécie as frequentes alusões à Guerra do Pacífico e sobretudo as vivas memórias familiares de muitos peruanos sobre episódios decorrentes da invasão de Lima, que marcou a fase final daquele conflito. Era incrível observar como exações de um passado mais que centenário haviam sido repetidas de geração em geração e ainda calavam fundo nas percepções do presente, contribuindo para insuflar o discurso antichileno de certos segmentos da sociedade peruana ou, quando menos, prevenções contra a presença chilena. Cresceu assim meu interesse pela história dos dois países, e continuei a explorá-la como forma de melhor compreender o dia a dia de meu trabalho diplomático. Chegado o momento de escolher um tema para minha dissertação de Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, não hesitei longamente antes de propor um estudo das relações entre o Chile e o Peru. Um estudo histórico, sim, mas que se projeta claramente sobre a realidade atual do relacionamento entre esses dois países. Era preciso, porém, trazer o tema para a órbita das relações com o Brasil, e aqui houve um importante esforço de pesquisa, haja vista a escassa bibliografia existente no Brasil sobre nossas relações com esses dois países. Existem poucos estudos em geral sobre o tema, mas particularmente há um grande vácuo no Brasil para o período que vai do final da gestão do Barão de Rio Branco como Chanceler, em 1912, até a época dos regimes militares ao final dos anos 1960 e na década de 1970. No Chile e no Peru, contudo, é possível encontrar alguma bibliografia sobre esse período, e também, em maior número que no Brasil, sobre as demais fases do relacionamento. E aqui talvez resida a maior originalidade do trabalho, a de reconstruir para o público brasileiro, a partir de fontes chilenas e peruanas, mas não só delas, a história das nossas relações com esses dois países. Como notará o leitor, o tratamento histórico em certos trechos parecerá por vezes depender excessivamente de alguns poucos autores (Bákula, Calderón, Elizondo, Fermandois, Klarén, Villalobos, a maioria deles, senão todos, inéditos no Brasil), mas isso é justamente reflexo da mencionada dificuldade de encontrar maior base de apoio bibliográfico. Teria sido preciso recorrer mais a fontes primárias. Em certa medida isso foi feito para o período mais recente, com entrevistas e consultas aos expedientes digitalizados do Ministério das Relações Exteriores, que englobam o período de 1995 até a atualidade. Para fases mais remotas, porém, teria sido preciso examinar manualmente as séries telegráficas, os ofícios e despachos de e para as Embaixadas em Lima e Santiago, explorando a vasta documentação em papel existente nos arquivos do APRESENTAÇÃO Itamaraty em Brasília e no acervo histórico, no Rio de Janeiro, tarefa que estava muito além das possibilidades do autor e do escopo de uma dissertação de Curso de Altos Estudos, desenvolvida em grande parte em meio às atividades laborais do diplomata. Espero no entanto que o livro sirva de incentivo para que outros, com maior tempo e habilidade, aventurem-se mais a fundo na exploração desses antecedentes. Fica ademais o apelo para que se pense num projeto de digitalização do acervo da Mapoteca e do Arquivo Histórico do Ministério das Relações Exteriores, o que facilitaria em muito o trabalho de pesquisas no futuro. O leitor perceberá igualmente que o conteúdo do presente livro está ajustado ao seu formato original de tese e pensado para a época em que efetivamente foi entregue à Banca do LIV Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco, ao final de 2010, início de 2011. Daí o enfoque escolhido de efetuar uma narrativa histórica baseada em “décadas”, concentrando a análise da fase contemporânea das relações entre o Chile e o Peru, e do Brasil com os dois países, nas décadas de 1990 e 2000. As entrevistas citadas na obra e também os artigos de imprensa arrolados nas fontes bibliográficas datam do final da década de 2000, mais especificamente dos anos de 2007 a 2010, período principal de coleta de dados. Para a publicação do livro, como não poderia deixar de ser, o texto teve de ser atualizado a fim de brindar o leitor com os desenvolvimentos relevantes que tiveram lugar durante o ano de 2011 e a primeira metade de 2012. Mas evidentemente não havia como reescrever a obra, e por isso preservei, com ajustes mínimos, a abordagem e divisão originais dos capítulos e subcapítulos. Se, do ponto de vista da política externa brasileira, o trabalho de atualização foi facilitado pela relativa continuidade de posturas nos temas sul-americanos entre os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, alhures o aggiornamento requereu maiores esforços. A eleição de Ollanta Humala para a presidência do Peru, ao trazer uma inflexão, posto que sutil, da postura peruana, foi sem dúvida o principal tema novo incorporado ao desenho original da tese, exigindo acréscimo específico no Capítulo III. Outros aspectos que mereceram atualização – apenas no texto, sem adição de itens ao índice – foram a evolução do contencioso sobre a fronteira lateral marítima entre o Chile e o Peru, os desenvolvimentos recentes no pleito boliviano de acesso soberano ao mar, a entrada em vigor do tratado constitutivo da Unasul, ou ainda a assinatura do acordo que criou a Aliança do Pacífico. Os temas de evolução recente atestam a relevância de várias das questões tratadas para a atualidade sul- -americana. Para além das repercussões presentes de conflitos de fundo FELIPE COSTI SANTAROSA histórico na América do Sul, abordam-se novas realidades regionais, como são a projeção brasileira para os países do Pacífico ou o debate acerca da contraposição – que parece acentuar-se com a criação do bloco da Aliança do Pacífico – entre as vertentes atlântica e pacífica do continente. É certo, porém, como já referido, que o aporte principal da obra é o histórico.
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