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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019

JUNTAS E MISTURADAS NO GNT? Performance televisiva, feminilidades e identidade de marca sob tensão1

ARE WE TOGETHER AND MIXED IN GNT? Television performance, femininities and brand identity under tension Juliana Freire Gutmann2 Tess Chamusca3

Resumo: Este artigo objetiva refletir sobre construções de feminilidades que atravessam o canal a cabo brasileiro GNT e respondem pelo que comumente chamamos de identidade de marca. A noção de performance é tomada como possibilidade teórica para acessar essa identidade pela análise de como e com quais corpos o GNT constitui figurações de si, na grade de programação e nas ambiências digitais (site institucional, Facebook e YouTube). A análise apresentada tem como marco ações do canal realizadas na Semana de Comemoração ao Dia Internacional da Mulher em 2017, quando se evidenciam articulações mais enfáticas com outras perspectivas do corpo feminino que apontam para ambiguidades nos modos como o GNT se faz ver na TV e na Internet.

Palavras-Chave: Performance televisiva. Feminilidades. GNT.

Abstract: This article aims to reflect on constructions of femininities that cross the Brazilian GNT cable channel and respond to what we commonly call brand identity. The notion of performance is taken as a theoretical possibility to access this identity by analyzing how and with what bodies the GNT constitutes figurations of itself, in the TV schedule and in the digital environments (institutional site, Facebook and YouTube). The analysis presented is based on the television channel actions during the Week of Commemoration of International Women's Day in 2017, when more emphatic articulations are evidenced with other perspectives of the female body. The analysis points to ambiguities in the ways GNT is seen on TV and on the Internet.

Keywords: Television performance. Femininities. GNT.

1. Introdução

O canal segmentado brasileiro GNT, sigla originalmente criada para Globosat News Television, surge em 1991 com programação centrada em notícias e documentários estrangeiros. Quando a Globosat lança a Globo News, em 1996, o GNT passa a

1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos de Televisão do XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019. 2 Professora do PósCom/UFBA, Doutora, [email protected]. 3 Doutoranda do PósCom/UFBA, [email protected].

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 constituir prestígio pela associação da sua marca a produções documentais independentes nacionais. O desejo de ampliar a relação com o público feminino se explicita no início dos anos 2000, uma tentativa de viabilizar a sobrevivência do canal diante da desvalorização do real e altos custos das produções independentes e internacionais. O sentido de “segmentação” explorado pelo canal vai sendo construído por uma programação dedicada a um específico universo feminino, relacionado a moda, beleza, culinária e comportamento. A persona convocada por programas televisivos como GNT Fashion, exibido desde 1995, Superbonita, desde 2000, e Saia Justa, que estreou em 2002, e mesmo produções mais recentes como Santa Ajuda (2011), Cozinha Prática (2012) e Fazendo a Festa (2015), todos ainda em exibição, foi historicamente figurada no corpo da mulher cis, ocidental, branca, magra, jovem, que se interessa por moda, culinária e qualidade de vida, que é mãe e profissional bem sucedida. Mesmo quando corpos de mulheres negras começam a habitar espaços de destaque na programação4, é pelo enquadramento deste corpo midiático: a mulher que corresponde aos padrões de beleza e tendências da moda contemporânea ocidental, que tem sua independência financeira e preza pela decoração da casa, educação dos filhos e alimentação saudável. Mais recentemente, antenado com a agenda feminista midiática, o canal tem apostado em pautas sobre o combate à desigualdade de gênero, mas ainda com poucas rupturas com seu corpo midiático hegemônico5. Chamou-nos atenção a campanha da emissora para o Dia Internacional da Mulher de 2017 divulgada no Facebook e no YouTube, que coincide com o período de lançamento da programação daquele ano. Em 2017, localizamos uma intenção mais enfática de articulação com outras perspectivas do corpo feminino que, parece-nos, apresenta outras possibilidades de construção da persona televisiva do canal. Em 2017, no Dia Internacional das Mulheres, o canal realiza a ação #PoderdasMinas, em plena Av. Paulista, uma batalha de rap com as cantoras Drik Barbosa, Mariana Mello, Nikki e

4 Em 2002, a jornalista Luciana Barreto foi repórter do programa Movimento Urbano, e a jornalista Rita Batista ocupou a mesma função no Saia Justa em 2016. Assumindo o posto de apresentadora de um programa, temos Taís Araújo no Superbonita (2006 a 2009), Karol Conka no mesmo programa de 2017 até a atualidade e Taís Araújo no Saia Justa em 2017. Entre 2005 e 2011, o GNT exibiu o talk show . 5 Com isso, não queremos afirmar que outros corpos não estão presentes na grade, e sim que eles não ocupam um lugar hegemônico na constituição da identidade do canal. Podemos citar mulheres gordas no elenco do GNT: Barbara Gancia, que já foi apresentadora do Saia Justa e na atualidade é repórter, a doceira Raiza Costa, que tem programa no canal desde novembro de 2015, a chef Carmem Virginia, que estreou como jurada do Cozinheiros em Ação em agosto de 2017. A série documental Liberdade de Gênero (2016-2017) apresenta as histórias de vida de pessoas trans. O canal exibiu The Ellen DeGeneres Show, apresentado pela atriz e comediante cuja expressão de gênero é masculinizada, de 2011 a 2015.

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Slick e que teve como juíza MC Carol, rapper carioca, moradora de Niterói. Seu corpo tensiona o estereótipo da cantora diva pop. É negra, gorda, favelada e não tem papas na língua. A condução do evento ficou a cargo de uma das fundadoras da Batalha Dominação, protagonizada por rappers mulheres na cidade de São Paulo. Também se posicionando como mulher da periferia, por meio da forma de se vestir e seu gestual, Gabi Nyarai refuta os códigos de feminilidade performados cotidianamente no GNT. A ação teve transmissão ao vivo pela página do GNT no Facebook e foi publicizada com um vídeo exibido no canal do GNT no YouTube. Partimos desta ação do GNT para formular as perguntas que movem a reflexão aqui proposta. Qual persona feminina é esta que o GNT convoca enquanto marca identitária na contemporaneidade? Quais disputas sobre construções de feminilidades atravessam o GNT no seu processo de formação enquanto canal televisivo e atuante no Facebook e YouTube? Como, nessa campanha para o Dia Internacional da Mulher, o canal se articula a uma determinada construção midiática de feminilidade agora tensionada por outros corpos nas redes sociais? Do ponto de vista teórico-metodológico, a contribuição proposta para o campo dos estudos televisivos opera num duplo movimento. Por um lado, buscamos explorar a noção de performance televisiva como potência teórica para compreender a ideia de identidade de um canal, o que comumente se chama de “marca”; por outro, pretendemos operar esta mesma dimensão teórica para a análise de como e com quais corpos (num sentido também performático) o GNT se relaciona para a constituição de sua persona na TV e nas ambiências digitais. Num sentido mais amplo, o artigo objetiva também contribuir para a discussão sobre os lugares midiáticos construídos para a mulher na atualidade e como essas posições aparecem e são tensionadas na TV e nas redes sociais digitais. Para desenvolver uma análise pertinente ao espaço de um artigo e ao mesmo tempo ter material suficiente para responder à pergunta proposta, utilizamos certos critérios de seleção do corpus. No que diz respeito à atuação da emissora na internet, foi realizada uma busca por conteúdos relacionados à semana comemorativa do dia internacional da mulher, publicados entre 1º e 11 de março de 2017. A partir daí foram selecionados uma publicação no site institucional do GNT, um vídeo promocional da ação #PoderdasMinas veiculado no YouTube e dois posts publicados na página da emissora no Facebook: a transmissão ao vivo da ação #PoderdasMinas e um vídeo institucional do canal sobre o dia internacional da

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 mulher. Do que foi exibido na grade do canal GNT, selecionamos o Saia Justa do Dia Internacional da Mulher e a vinheta sobre a programação do GNT.Doc para o Mês da Mulher. Ainda que não definidos enquanto objeto empírico de análise, matérias jornalísticas, depoimentos de produtores, vídeos institucionais, campanhas e vinhetas do canal compõem o corpus deste trabalho e foram acessados para rastrear parte do processo de formação do GNT6. Esse investimento, certamente, não pretende dar conta da história do canal, mas se mostra valioso para a compreensão dos movimentos de continuidade, ruptura e disputa que nos fazem compreender, no presente, a identidade do canal e suas relações com feminilidades. Tendo as produções descritas anteriormente como objeto de análise, buscamos indicar pistas de como o GNT agencia transformações contextuais de feminilidades no Brasil como estratégia de constituição de sua identidade. Nossa hipótese é de que esta se encontra sob tensão, ou seja, a constituição de sua identidade na relação com o feminino e atualizada com o feminismo constitui sentidos dúbios na TV e na internet.

2. Performance televisiva e corpos midiáticos

Neste artigo, arriscaremos uma dupla apropriação do conceito de performance para a análise de como o GNT constitui relações com o corpo feminino na TV e nos espaços digitais. Recorremos a trabalhos anteriores de Gutmann (2015a, 2015b) que se apropria da noção de performance para a compreensão da identidade televisiva, dos modos como um canal constitui corpos e ambiências de interação com seus espectadores. Acessar qual persona o GNT forja enquanto “eu” significa levar em conta os corpos ali postos em atuação. Assim, a performance é acionada, também, como dimensão de análise do corpo construído para “a mulher” do e no GNT. A proposta de Gutmann (2015a; 2015b) para a abordagem da identidade de um canal pelo sentido de performance televisiva é pautada numa articulação teórica entre os estudos culturais, quando compreende a TV enquanto forma cultural (WILLIAMS, 2016), e o campo da estética. Ao dar relevo à experiência televisiva, a autora busca no sentido de performance um caminho para apreender estratégias de interação que nos fazem reconhecer as formas

6 Todo o material acessado é detalhado nas referências.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 específicas de uma emissora. Assim, pelo viés culturalista, compreende que a “marca” não é simplesmente uma estratégia do campo da produção, mas resultado de um jogo de interações entre lógicas produtivas, modos de recepção e contextos específicos de consumo, que podem ser vistas e analisadas a partir das formas expressivas de um canal (seus programas, vinhetas, apresentadores etc.). Também em diálogo com os estudos culturais, Catherine Johnson (2012) analisa o processo de constituição da identidade de marca de organizações televisivas estadunidenses e britânicas, compreendendo a marca como uma forma cultural intangível que conecta produção e consumo. Para a autora, “a análise da operação cultural de uma marca convida ao exame de sua produção industrial, forma textual e contexto sociocultural de recepção” (JOHNSON, 2012, p. 179). No que diz respeito à forma textual, a partir da premissa de que é o ato de assistir programas que conduz a relação que um canal constrói com sua audiência, a autora conclui que eles têm um papel central na identidade de uma emissora. Portanto, não são simplesmente textos, mas formas culturais cujos sentidos para a construção da marca devem ser postos em contexto. Johnson (2012) chama atenção para o fato de que diferentes plataformas de mídia na internet se tornaram centrais para a indústria televisiva como ambiente onde o engajamento dos espectadores é convocado. Então, precisamos ampliar a nossa concepção de textos televisivos para perceber como as identidades das redes estão sendo construídas a partir de diferentes meios e avaliar se elas conseguem manter coerência. Rota analítica que exercitamos nesse artigo, a partir da noção de performance. Pela articulação proposta entre estudos culturais e estética, Gutmann (2015a, 2015b) entende, também, uma organização como espaço de experiência que evoca e institui expectativas em relação ao consumo midiático. Nesses termos, o GNT seria aqui tomado não como simples “veículo” de um determinado conteúdo, mas como ambiência que articula formas materiais, lógicas mercadológicas, expectativas recepcionais, ambiências televisivas e digitais. É nessa direção que a noção de performance tem se mostrado produtiva para a compreensão desse caráter performativo de um canal televisivo. Com a discussão sobre performance feita por Paul Zumthor (2010; 2007), procuramos avançar nas primeiras indicações de Eco (1991) de que todo texto pressupõe um leitor implícito, investindo nas possibilidades de um corpo performático atuante na experiência de consumo. Com Richard Schechner (2006), amplificamos essa abordagem. Ao conceber

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 performance como um "mostrar fazer", o autor sustenta que esta pode ser pensada para toda atividade humana (na vida cotidiana, nas artes, nos negócios, nas tecnologias etc.) e elabora a noção de “comportamentos restaurados” (restored behaviors) como chave metodológica de análise. Performances são, assim, práticas que constituem identidades, narrativas, rituais e convenções. São comportamentos duplamente experienciados, ações realizadas e para as quais as pessoas treinam e ensaiam (SCHECHNER, 2006, p. 28). O sentido de cotidianidade marca o entendimento do autor sobre performance e nos habilita a convocar relações com o caráter cultural da experiência estética (GUTMANN, 2015a; 2015b). “Se performance constitui sentidos através de práticas repetidas e culturalmente reconhecidas, Schechner reconhece que eventos, ações ou comportamentos podem ser examinados ´como´ performance justamente porque estão, sempre, em processo” (GUTMANN, 2015b, p. 5). A noção de processo e a ênfase às noções de convenção são centrais no trabalho de Raymond Williams (1979), para quem a análise cultural deve considerar transformações permanentes das formas materiais e simbólicas e dos modos de pensar. Por essa acepção, afirmamos que o GNT constitui performances pelas quais operam formas hegemônicas de feminilidades, e também de masculinidades e seus trânsitos, a partir de certos padrões que reiteram e valorizam formas e silenciam outras num determinando tempo-espaço, nos fazendo ver transformações e tendências. Para Williams (1979), estas seriam “formações”; para Schechner (2006) seriam como disrupções constituidoras, pela performance, de mudanças. Pautada nesse entendimento, Gutmann (2015a; 2015b) aposta na noção de performance enquanto um “mostrar fazer” (SCHECHNER, 2006) ou “indícios da experiência” (ZUMTHOR, 2007) como possibilidade de compreensão da identidade de um canal, cujo reconhecimento advém do processo “repetido, dinâmico e também simultâneo de naturalizações e desnaturalizações, dominâncias e rupturas, de convenções e disputas por novas convenções” (GUTMANN, 2015b, p. 7). Pressupõe reconhecimento de formas e processos históricos atualizados no presente da ação. Assim, o “mostrar fazer” que nos faz reconhecer uma dada identidade para um canal é uma ação potencialmente historicizada e permanentemente restaurada. Acolhe, num só tempo, convenções e desestabilizações (GUTMANN, 2015b; CARDOSO FILHO, GUTMANN, [2019]). Entendemos que a possibilidade de reconhecimento da identidade de um canal não está simplesmente no planejamento estratégico, nos valores e missão ali descritos, mas,

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 efetivamente, onde a experiência de consumo é dada: nos programas, nos corpos midiáticos dos mediadores, nas vinhetas, ou seja, em suas materialidades. Também não está localizada “no presente”, mas demanda, a quem analisa, um esforço de historização, uma vez que se coloca como forma estética e cultural. Como afirmam Cardoso Filho e Gutmann ([2019]), o movimento articulado entre restauração/reconhecimento e ruptura/estranhamento só é possível porque a performance não pode ser vista em um objeto específico, ela se dá no nível da relação, nos espaços de interações, nos processos. As performances se revelam como forma-força (e não meramente a representação de uma ação). Nessa perspectiva, a performance parece-nos central enquanto dimensão teórica para analisar os lugares de feminilidades construídos pelo GNT pela observação dos corpos que ali transitam e que constituem lugares de interação. Temos, assim, a abordagem da performance direcionada à observação de sujeitos falantes encarnados em diferentes corpos, que atuam como indicadores expressivos de determinadas performances (CARDOSO FILHO; GUTMANN; AZEVEDO, 2017). O corpo midiático aqui se configura como dispositivo central de reflexão sobre o modo como o GNT constitui seus sentidos de feminilidade que irá responder por sua identidade de marca. Essas performances se revelam por formas expressivas (gestual, vestimentas, tom e ritmos de fala, texto verbal, movimentos corporais, cenários, enquadramentos etc). O elenco de mediadores de uma organização televisiva é fundamental para a constituição de sua identidade. Particularmente no caso do GNT, desde 2015, o canal tem buscado fortalecer esse vínculo tornando seus apresentadores protagonistas das vinhetas institucionais que são veiculadas no canal. Nesse sentido, ao analisarmos a campanha da emissora para o Dia Internacional da Mulher, que coincide com o período de lançamento da programação para 2017, observamos como o GNT busca atualizar a sua persona associando- se à performance de personalidades que, naquele momento, ganhavam visibilidade na imprensa e nas redes sociais por, cada uma a sua maneira, problematizarem o lugar da mulher na sociedade. É o que discutiremos a seguir.

3. Identidade GNT em transição: construções do feminino na TV e na Internet

“Mulher bonita é mulher que luta” nos diz a vinheta de divulgação da programação do GNT.Doc para o mês da mulher em 2017 (GNT DOC, 2017), enquanto exibe imagens de

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 mulheres de diferentes idades e etnias ao redor do mundo, em manifestações de rua, com cartazes e faixas em língua inglesa que fazem menção ao aborto e a liberdade feminina. Na peça veiculada ao longo do mês de março de 2017 na grade do GNT, coexistem um movimento recente na construção da sua identidade (a associação com a imagem de uma mulher engajada na causa feminista) e um traço bem antigo da emissora, que a definia em seu momento de estreia, conforme vinheta de 1991, como “um canal só de informação” (VINHETA..., 2016): a conexão com um mundo globalizado por meio da veiculação de documentários. Em seu processo de atuação no Brasil, o vínculo com o documentário a princípio se manteve, ainda que transformado. A partir de 1996, ano em que surge o canal de notícias Globo News, o GNT começa a produzir deslocamentos para ser reconhecido como casa da produção independente nacional de documentários, com forte ênfase em temas e problemas do mundo urbano. A atualidade é, então, apropriada como dimensão de debate. Um dos slogans mais conhecidos do GNT, veiculado entre 1996 e 2003, ratifica este lugar para a marca: “informação que forma opinião”. Essa posição gerou prestígio, mas também era muito custosa por conta das coproduções de documentários. O processo de desvalorização do real, no final da década de 1990, quando a moeda deixa de ser equiparada ao dólar, atinge o mercado de TV por assinatura, pois as operadoras recebiam em reais, mas realizavam negociações, como o pagamento de canais estrangeiros e de equipamentos usados na transmissão, com moeda americana (ARAÚJO, 2014). É justamente nesse período de crise que o GNT anuncia o interesse em se aproximar mais das mulheres, pondo este público em relação com valores já estabelecidos: informação, atualidade, comportamento e urbanidade. A prestação de serviço, que marca a programação entre 1999 e 2002, remete e reconfigura a vocação jornalística original da emissora, agora associada ao debate da vida cotidiana em grandes centros urbanos e ao interesse pelo lugar da mulher nesse processo. Num movimento de continuidade, o canal mantém a relação com o jornalismo, com o documentário, com o sentido de urbanidade, reforçando agora enquadramento dos temas atuais pela ideia de “serviço”, com crescente interesse na interlocução com uma determinada

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 construção de mulher brasileira. Mas é somente quando a crise se agrava7, em 2002, que o GNT concretiza o plano de dar destaque às mulheres, ao lançar com ampla divulgação um programa de debates feminino que ocuparia o horário nobre de sua grade, o Saia Justa. O sucesso8 do programa junto ao público e aos anunciantes incentivou a gestão do GNT a propor uma nova “cara” para o canal. Construir uma identidade vinculada ao dito universo feminino, que tem como núcleo atrações como Superbonita, Saia Justa e GNT Fashion, mostrou-se um bom negócio porque na mesma ocasião em que os canais pagos passaram a dar mais espaço a informes publicitários (ARAÚJO, 2014), o país vivia um momento em que o mercado voltava os olhos para o poder de compra da mulher. Uma matéria publicada pela Isto é em 26 de junho de 2002 dá a dimensão desse contexto ao afirmar que “anúncios para produtos femininos começam a mudar seu enfoque para conquistar a mulher moderna e independente”, ao passo em que também informa que o censo do IBGE de 2000 notificou “aumento de 37,6% no número de mulheres responsáveis pelos lares em relação à última medição, em 1991” e que a proporção de mulheres alfabetizadas tinha alcançado o patamar masculino (A PROPAGANDA..., 2002). Em setembro de 2003, quando efetivamente a proposta de identidade do canal é renovada, a então diretora do GNT, Letícia Muhana afirma: “Nós trabalhamos para esse público, da mulher que trabalha, cuida dos filhos e se cuida” (PESSINI, 2003). Em alguma medida, essa audiência imaginada mantém traços das identidades anteriores do canal. É com uma mulher cosmopolita, urbana e atenta ao noticiário que o GNT quer se relacionar. Ao mesmo tempo, ainda que tenha refutado a figura da dona de casa como público alvo, ao lançar “uma programação com alma feminina”, o GNT reitera associações entre feminilidade e domesticidade, uma vez que sua grade passou a ser ocupada por programas de decoração e culinária, além das atrações que já existiam sobre moda, beleza, saúde e comportamento. Havia uma recusa do feminismo, entendido, naquele momento, como contrário ao exercício da feminilidade. Ao relatar quem deseja alcançar com o Saia Justa, Muhana diz: “a idéia é ter um reflexo da mulher contemporânea, sem ser feminista. Vamos falar de política,

7 Em 2002, com o dólar chegando a valer R$4, as dívidas das operadoras se tornaram insustentáveis, a base de assinantes diminuiu, e as programadoras tiveram que renegociar seus preços. Aliado a isso, o enfrentava uma de suas maiores crises, sendo obrigado a anunciar a reestruturação de sua dívida. 8 Em matéria sobre o aniversário do programa, Padiglione (2003, p. T3) informa que o programa tem “fôlego garantido por cinco patrocinadores” e que “completa um ano como um dos programas mais assistidos do canal, alcançando médias mensais de 68,5 mil assinantes no horário nobre”.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 de cultura, mas também de batons” (JIMENEZ, 2002, p. T3). Para Angela McRobbie (2004), no contexto do que chama de cultura popular pós-feminista, o feminismo é sutilmente apagado como ultrapassado na mídia por meio de uma noção de sucesso que convida as jovens “a se sentirem livres para competir na educação e no mercado de trabalho como sujeitos privilegiados de uma nova meritocracia” (MCROBBIE, 2004, p. 258). O modo como a então gerente de marketing do canal, Carla Esteves, ressignifica a identidade visual lançada em 2008, no dia internacional da mulher, reforça um traço de continuidade com a dinâmica de uma mídia pós-feminista.

A grande inspiração para este on air foi justamente a mulher contemporânea. Ela faz mil coisas ao mesmo tempo e tem habilidade para ser, de forma plena, mãe, namorada, profissional, filha... Os papéis são vários e desempenhá-los com desenvoltura já faz parte da natureza desta mulher (GNT..., 2008).

Assim, o GNT investe na constituição de uma experiência televisiva do contemporâneo urbano forjada na figura de uma mulher cosmopolita e multitarefas. As interações convocadas com o feminino se revelam, enquanto performance (forma em ação), a partir de um corpo midiático hegemônico, o corpo da mulher branca, ocidental, urbana, que se interessa por moda, maquiagem e qualidade de vida. A ênfase dada ao doméstico e à maternidade é associada ao êxito profissional, a exemplo da primeira série ficcional produzida pelo GNT em 2006, Mothern, que convoca a figura da mulher cuja experiência de ser mãe está inserida na dita modernidade. Assim, o GNT vai buscando um traço de distinção por meio do discurso de que representa a “mulher real”, o que se explicita em 2011. Em entrevista ao portal R7, Muhana explica: “descobrimos que nosso público não se via naquele tipo de mulheres que mostrávamos. Elas querem ver algo mais corriqueiro. Mulheres comuns mesmo, como eu, você (SULINA, 2011). Na ocasião, o GNT renova seu conjunto de vinhetas, que passa a remeter a situações cotidianas, lança programas novos e promove mudanças em atrações consagradas como GNT Fashion e Superbonita. Mas as transformações não foram tão significativas assim. A pesquisa realizada por Fabíola Machado (2013, p. 199), que teve como recorte temporal o período de março de 2011 a agosto de 20129, corrobora esta percepção, uma vez que a autora conclui que, por meio da

9 A autora analisou textos do site do GNT, da Globosat e de demais veículos, entrevistas com profissionais da equipe diretiva e gerencial, textos sobre o posicionamento mercadológico, bem como logomarcas, assinaturas do canal e vinhetas. A análise da grade de programação foi feita entre 12 e 18 de agosto de 2012 e abrangeu programas nacionais exibidos no horário nobre.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 produção de sentido do GNT, estabelecem-se como metas a magreza, a beleza, a juventude, a saúde, a harmonia doméstica, o equilíbrio nos relacionamentos, a boa imagem pessoal que, no limite, resume-se na aparência de ser ótima e feliz. Identificamos como um marco importante de deslocamento dessa construção de feminilidade a parceria firmada com a ONU Mulheres em 2015, quando o GNT lança a campanha #ElesporElas e assume o compromisso de conscientizar seu público sobre a importância da igualdade de direitos entre homens e mulheres. A chamada institucional da emissora reforça posições hegemonicamente tidas como do “sexo oposto”. Um corpo de menino aparece brincando com bonecas, uma menina representa uma skatista, uma mulher atua como lutadora de boxe, um homem traja uma saia típica escocesa. Em off, os apresentadores do canal, Marcelo Tas e Bela Gil, corporificam a persona GNT numa construção narrativa que começa a se posicionar pela igualdade de gêneros, ainda que muito pautada na binariedade e no corpo cis heterossexual: “quem disse que isso não é para ele?”; “que esse não é o lugar dela?” (ELESPORELAS..., 2015). No ano seguinte, com a campanha Rasgue o Verbo, definida no site da organização como uma “ferramenta do GNT que abre espaço para você ajudar a desconstruir frases do cotidiano que são repletas de preconceitos e nem percebemos” (GNT, [2016]), evidencia-se de modo mais explícito uma posição de combate ao machismo. Em chamadas veiculadas nos intervalos da programação, pessoas são convidadas a desconstruírem frases machistas do dia a dia, a exemplo de “depois é estuprada e não sabe o motivo” e “a vocação da mulher é a família”. Nessa direção, o lugar do feminino no GNT parece se deslocar para um corpo que se constitui mulher, também, pelas disputas em torno da igualdade de gêneros. Isso é reforçado pelos discursos que permeiam as construções das suas mediadoras e pelos corpos masculinos que evocam reconhecimento por discursos de paridade. Rodrigo Hilbert, que desde 2012 apresenta o programa de culinária Tempero de Família, é um exemplo. O apresentador ex- modelo e ator de corpo jovem, musculoso, viril se constitui enquanto homem, esposo (da célebre Fernanda Lima) e “pai de família” pela ênfase às habilidades de carpinteiro associada ao gosto pela culinária, pelas funções domésticas e pelo crochê. Um lugar importante para a observação desses movimentos do canal é o Saia Justa, programa consolidado na grade como espaço de debate sobre comportamento. Ao longo da trajetória do programa, “o feminismo”, que no momento de sua estreia era refutado pela gestora do canal, foi pauta recorrente, porém, a princípio, enquanto “objeto” de debate. A

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 reconfiguração do programa operada em 2017 diz respeito ao modo como o GNT abraça abertamente o movimento, declara-se feminista e busca se mostrar antenado às demandas do feminismo negro. O que se inicia com o elenco. À Astrid e Mônica Martelli se juntam a cantora e compositora Pitty, que tinha alcançado visibilidade naquele momento pelo engajamento nas questões de gênero e pela revisão que propunha nas formas de vivenciar a maternidade, e a atriz Taís Araújo, engajada na luta feminista e antirracista. Na edição de estreia da temporada de 2017, veiculada no dia internacional da mulher, o gesto que sempre acompanhava o “salve” dito por Astrid para cumprimentar a audiência se encerra com o punho cerrado e envolto em um laço roxo, evocando um símbolo de luta e a cor do movimento feminista. Além de usar um batom com o mesmo tom, Pitty veste uma camisa preta com o símbolo do gênero feminino, sobreposto pelo desenho de uma mulher negra com os braços levantados e as palavras More Power. A presença de um corpo negro no sofá é trazida à tona ao longo da edição do programa, seja pela fala da própria Taís Araújo, seja pelas perguntas feitas pelas colegas, ou através de um tweet da espectadora @EveRosaa, lido por Astrid, que diz: “Ótimo ver 3 brancas esperando 1 negra parar de falar, sem interrupção, só deixando ela falar, só ouvindo #saiajustaaovivo” (INAUGURANDO..., 2017). Não só por meio do Saia Justa, mas também através de todas as peças analisadas aqui, em 2017, o GNT busca se associar à mulher que luta e é empoderada10. A vocação do canal para abordar os temas em uma perspectiva mundial permanece como traço de continuidade. Isso é evidente na vinheta do GNT.Doc 2017, detalhada na abertura desta análise, e no editorial do Saia Justa sobre o dia internacional da mulher, exibido na abertura do programa em 2017. No programa, imagens de Leila Diniz, Maria da Penha, Simone de Beauvoir e Angela Davis aparecem articuladas a imagens das marchas de mulheres que ocorriam naquela data em São Paulo, Nova York, Paris, Varsóvia e Washington. O site do GNT dá destaque à programação televisiva para o Dia Internacional da Mulher: “Na segunda (06), estreia a nova temporada do 'Superbonita', que tem o empoderamento como palavra-chave e a apresentação poderosa da cantora e rapper, Karol

10 O conceito de empoderamento se refere a um “processo por meio do qual indivíduos e grupos sociais ampliam a capacidade de configurar suas próprias vidas, a partir de uma evolução na compreensão sobre suas potencialidades e sua inserção na sociedade” (FREIRE FILHO, 2006, p. 4). Isso implica, necessariamente, uma consciência coletiva. Porém, destaca o autor, ao ser utilizado na cultura comercial mainstream, não só desloca- se a ênfase para a autonomia individual, como é promovida articulação do “incremento do poder de compra de certos nichos de mercado com o poder político-social representado pela constituição de novas formas de subjetividade” (FREIRE FILHO, 2006, p. 4).

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Conka. Na quarta (08), começa também o novo 'Saia Justa', com um elenco 100% feminino e muito a dizer” (GNT..., 2017). No site, o GNT também noticia sua participação no evento realizado pela organização parceira ONU Mulheres, a Semana de Arte Eles por Elas, por meio da exibição e debate de um episódio da série Liberdade de Gênero, coprodução do GNT com a Copacabana Filmes, dirigida pelo cineasta João Jardim e produzida pela atriz e diretora Carla Camurati. A série aposta em “tornar familiar o que, em princípio, é estranho” por meio de “histórias de vida de pessoas que não se identificam com o gênero designado para elas ao nascerem”. (SOBRE..., [2016]). É interessante perceber que o especial do GNT.Doc, com documentários exibidos nos domingos de março de 2017 (A sexualidade feminina, SOS Aborto, Angela Merkel e Mulheres fazendo história), não é citado na publicação de anúncio da nova programação. Também não foi mencionada no site a ação #PoderdasMinas, ocorrida na av. Paulista, com cobertura ao vivo pelo Facebook, no dia de estreia do Saia Justa. Além disso, o programa Saia Justa, transmitido ao vivo, apesar de exibir trechos da marcha realizada em São Paulo na Av. Paulista, não faz qualquer menção sobre o #PoderdasMinas, promovido pelo canal no mesmo lugar e data. Já a página no Facebook, utilizada cotidianamente pelo GNT para anunciar a programação do canal, no período acompanhado por nós, informou sobre as atrações da grade que iriam tematizar o Dia Internacional da Mulher, divulgou com três posts e transmitiu ao vivo a batalha de rimas #PoderdasMinas e veiculou posts institucionais sobre a data. Neste artigo, além da live da ação Poder das Minas, com duração de 45 minutos, é analisado um vídeo institucional, publicado no dia 8 de março de 2017. No post do Facebook intitulado “Dia da Mulher” (2017), o texto “Respeito às conquistas e à história de cada mulher <3 É o que desejamos hoje e todos os dias ✨ #DiaInternacionalDaMulher” acompanha um vídeo protagonizado pela cantora Karol Conka, a atriz Mariana Xavier e a cartunista Laerte. Com cabelos cor de rosa e camisa da banda de glam rock Twisted Sister com mangas cobertas por lantejoulas douradas, a primeira aparece em movimento e em um cenário urbano no vídeo, dentro de um carro e em seguida dançando na rua. Sua fala gira em torno da mulher negra reconhecer que tem poder e é linda. A atriz Mariana Xavier surge na peça no mesmo contexto a partir do qual vem ganhando visibilidade na internet, a defesa de mulheres gordas serem livres para explorarem seus corpos na praia. Ela afirma que não precisa achar ela bonita e pede respeito pela sua

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 história. Mas, diferentemente das fotos que a artista publica em seus perfis, nas quais aparece de corpo inteiro com lingerie ou de biquíni, a produção do GNT investe em planos próximos, que pouco mostram seu corpo, vestido com um maiô. Já Laerte, cartunista sessentona e ativista trans, é filmada em um ambiente fechado, um escritório, com uma estante de livros ao fundo, falando de como a luta das mulheres possibilitou aos homens encararem uma transformação na sua condição humana. Laerte é posicionada de modo distinto em relação aos outros corpos, em posição que reforça seu papel enquanto fonte especializada cuja fala autorizada está em consonância com o discurso do GNT de que os homens devem ser implicados na busca pela igualdade de gênero. Como analisa Raquel Ponte (2009), ao atualizar as suas vinhetas em 2008, o GNT já tinha tentado se colocar como lugar da diversidade, ainda que sem recorrer a esse termo. A autora argumenta que o slogan “Você vê a diferença” remetia não só à distinção do canal perante a concorrência, mas também à pluralidade feminina. Porém, de acordo com ela, se houve “a intenção em apresentar mulheres que representassem os diferentes tipos étnicos que compõem o povo brasileiro: loira, mulata, morena” (PONTE, 2009, p. 210), houve também uma contradição por conta da escolha somente de mulheres magras com cerca de 20 anos, o que não contemplaria toda a faixa etária que o canal desejava alcançar. Acrescentamos ainda que a diversidade étnica que se buscou imprimir à identidade visual não correspondia à realidade da programação, que naquele momento contava apenas com Taís Araújo no elenco, apresentando o Superbonita. Esse quadro não se mostra muito distinto em 2017 quando voltamos o olhar para a grade do GNT. Como destaque, o canal mantém Taís Araújo, agora como debatedora do Saia Justa, constituindo de modo enfático seu lugar político de mulher negra; e a rapper negra Karol Conka, que passa a comandar o programa Superbonita. Esses corpos são revestidos dos mesmos sentidos associados à imagem do feminino já consagrado como marca identitária do GNT. São corpos midiáticos da mulher celebridade, jovem, magra, que aparece sempre maquiada e vestida segundo as tendências da moda. No entanto, quando direcionamos nosso olhar para as performatizações do feminino do GNT nas ambiências digitais, observamos que feminilidades outras despontam, como é o caso da ação #PoderdasMinas transmitida ao vivo no Facebook do canal. O texto publicado junto com a live, feita às 18 horas do dia 8 de março de 2017, explica qual era a proposta do evento: “Acompanhe a partir das 18h a união de mulheres de universos musicais diferentes

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 para viver uma experiência inusitada. As convidadas vão do rap ao pop, mas hoje irão vivenciar o universo freestyle com o direcionamento de Gabi Nyarai, uma das organizadoras da Dominação - A Batalha” (PODER..., 2017). De modo que o GNT, ao promover a ação, associa sua persona à figura de Gabi Nyarai, como uma forma de legitimar a apropriação que o canal faz da batalha de rap, um gênero musical cujas origens estão fortemente vinculadas à periferia e à negritude. Ao mesmo tempo, busca corporificar um de seus valores – a diversidade – reunindo mulheres com performances e trajetórias musicais distintas, reforçando também o valor de cosmopolitismo e urbanidade quando evidencia o espaço simbólico geográfico (o evento acontece em plena Av. Paulista). Participam da batalha, que teve como juíza MC Carol, a cantora de pop e finalista do The Voice de 2015, Nikki, e três cantoras de rap: a paulistana que tem uma carreira mais longa, Drik Barbosa, a carioca do Vidigal, que integra o grupo ABRONCA, Slick, e a santista Mariana Mello, em início de carreira. Desde 2003, o GNT vem ampliando os vínculos com o público jovem feminino, especialmente pela sua atuação na internet. Nesse sentido, além de todas as artistas convidadas terem cerca de 20 anos, a apresentação da batalha fica a cargo da jornalista Foquinha, que já atuou na revista Capricho e desde 2014 tem um canal no YouTube de cultura pop e celebridades. Na batalha, a afirmação do GNT como espaço de exercício do feminismo se dá por meio da associação com a performance de MC Carol, que inicia e encerra a atividade, cantando a música “100% feminista”, lançada em outubro de 2016 e gravada em parceria com Karol Conka. MC Carol aparece vestida com uma t-shirt com estampas de cédulas de dólares, shortinho verde musgo, tênis amarelo neon e um imponente relógio dourado. O corpo de formas volumosas, ressaltado pela camisa apertada, voz firme e estridente e gestos combativos, presentifica a realidade que ela traz à tona por meio de versos diretos e próximos da mulher que vive nas periferias do país. Assim, se no Saia Justa a violência é pautada através de estatísticas – o editorial informa que, no Brasil, a cada 7 minutos é feita uma denúncia de violência contra a mulher – e no estúdio Taís Araújo e Mônica Martelli explicam que “a cada 23 minutos morre um jovem negro e ninguém faz nada” e que “a cada duas horas morre uma mulher violentada”, na ação da Avenida Paulista, MC Carol canta: “Presenciei tudo isso dentro da minha família. Mulher com olho roxo, espancada todo dia. [...] Sou mulher independente não aceito opressão. Abaixa sua voz, abaixa sua mão”. Temos aqui, portanto, no que diz respeito à

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 violência de gênero, um discurso que, na TV, ainda se faz enquanto “fato reportado” e na internet ensaia aproximações em direção ao “vivido”. A construção da mulher violentada é preocupação da mulher politizada representada pelos corpos de Araújo e Martelli. Na internet, é personificada pelo corpo de MC Carol. E se MC Carol se desvia do padrão de magreza imposto aos corpos femininos, ela também exibe elementos associados à feminilidade do GNT – como produção de cabelo e maquiagem, unhas cumpridas e pintadas, argolas grandes. A treinadora da batalha Gabi Nyarai também se coloca como mulher periférica (“procurem saber, quebrada não é só violência, quebrada tem cultura, certo? Respeito à atividade periférica”). Sua atuação corporal, diferentemente de MC Carol, recusa os códigos hegemônicos de feminilidade. Com uma camisa folgada e calça, nenhum acessório ou maquiagem e cabelo bem curto, ela canta suas rimas e organiza a batalha com o corpo ligeiramente curvado e gestual comum aos cantores de rap. Além da diversidade, outros valores caros ao GNT surgem como tema dos quatro rounds das batalhas11: independência, beleza, poder e união. O último é materializado no vídeo em muitos abraços entre as cantoras, em olhares cúmplices, na exaltação da colega com quem disputa. Aliado a isso, divulgar a ação como uma experiência inusitada na vida das artistas, algo que fica visível na transmissão, pois percebemos o embaraço da maioria delas para rimar de improviso, parece ser a forma encontrada pelo canal para demonstrar que toda mulher tem poder para fazer tudo que ela desejar. Essa escolha, porém, gera descontentamento em parte das internautas que, nos comentários, não só questionam a qualidade da batalha, como cobram a presença de mulheres que já fazem freestyle (“ué, só não tô vendo as MCs de batalha...”, “A maior batalha fake q cs respeita! Errou feio, errou bruto, errou rude GNT” (DIA..., 2017). No Youtube, espaço em que o GNT vem consolidando uma volumosa produção própria junto à publicização de parte dos conteúdos da grade adaptada para a linguagem da internet, o canal publica um único vídeo da ação #PoderdasMinas no dia 11 de março de 2017. O vídeo recorre à forma videoclipe, com o rap de MC Carol conduzindo a abertura da montagem. O primeiro trecho acentua imagens aceleradas de carros no trânsito e pessoas atravessando uma

11 As quatro participantes foram divididas em duplas. A cada round de 30 segundos, as cantoras tinham um tema para as rimas improvisadas. Ao final, MC Carol decidia quem era a vencedora do round a partir da reação do público.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 faixa. Caracteres no centro da tela identificam o tempo-espaço da ação: “São Paulo. Avenida Paulista. 8 de março”. Ao som de 100% feminista, cantada em alto volume por MC Carol, são apresentadas as mulheres envolvidas e trechos da batalha de rimas das quatro participantes. O texto verbal inicial grafado na tela indexa sentido à cena: “Um encontro de mulheres. Feito por mulheres. Para Todas as Mulheres”. Em seguida, a apresentadora Foquinha aparece falando “somos negras, somos brancas, loiras, altas, baixas, magras, gordas, cacheadas, afros, todas nós somos maravilhosas na nossa diversidade” (ENCONTRO..., 2017). Uma convocação de união, feita pela vencedora da disputa, encerra a peça. O vídeo evoca engajamento afetivo pela ênfase nos diferentes corpos que ali se assumem enquanto mulheres diversas em torno do sentido de união, empatia, aliança. Para usar um termo popular para parte dos discursos feministas, aqueles corpos parecem ali performar a ideia de sororidade12. O tom das falas, a batida forte do rap, os discursos de empoderamento, os corpos e gestos que se impõem, os sorrisos e olhares de cumplicidade enfatizam uma posição para a mulher que se identifica com a diversidade, liberdade, independência e beleza.

4. Considerações finais

No que diz respeito aos valores que o GNT busca associar a sua marca em 2017, entendemos que eles perpassam todos os ambientes que analisamos: a grade, o site, o perfil no Facebook e o canal no Youtube. Em todos esses lugares, há recorrência da convocação do poder, do empoderamento, da beleza, da diversidade e da união, além da reafirmação do vínculo com a mulher urbana. Porém, há uma forte distinção em relação ao que ganha visibilidade, na semana comemorativa do Dia Internacional da Mulher, na televisão, no site e nas redes sociais digitais. Na grade e no site, a passagem da data está associada à programação de linha (Saia Justa e Superbonita) e a produção e exibição de documentários (GNT.Doc e Liberdade de gênero). O gênero documental é chamado em causa como lugar de prestígio para o GNT, tanto do ponto de vista da linguagem audiovisual como da forma como

12 As ações do GNT para o Dia Internacional da Mulher em 2018 reforçam essa intepretação. Nesse ano, o canal lança a campanha #JuntasSomosMais, com um vídeo em que mulheres brancas, negras, magras, jovens, idosas respondem à pergunta “o que você já deixou de fazer por ser mulher?”. É destaque no YouTube o episódio do programa Minha vida é Kiu, em que a youtuber Thayanara sai às ruas para ajudar mulheres em diversas situações e praticar a “sororidade”, conforme informa o canal. No Facebook, o GNT posta um vídeo manifesto sobre feminismo de Emma Watson, embaixadora da ONU Mulheres.

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 aborda a temática feminina. Já no Facebook e no YouTube, o que ganha visibilidade como forma do canal celebrar “a mulher” é o #PoderdasMinas, a batalha de rimas improvisadas realizada na Avenida Paulista. Com base no material analisado, é possível afirmar que, num movimento mais recente de aproximação com a ideia de diversidade, o GNT coloca mulheres negras em posição de destaque, mas não exatamente enquanto elemento de ruptura da figura consagrada como identidade do canal. Na grade, o foco é na performance de mulheres negras mas cujo corpo se enquadra nos padrões contemporâneos de beleza, que abarcam tanto a atitude atribuída ao visual descolado de Karol Conka no programa de beleza Superbonita, quanto o look mais clássico e sofisticado de Taís Araújo no programa de debate Saia Justa em 2017. No site e nas redes sociais digitais, o GNT convoca outros corpos para celebrar a data, corpos gordos, negros, trans. Mariana Xavier, no entanto, é percebida de modo limitado, com enquadramento em primeiro plano. Laerte assume posição de fonte especializada, está ali como mulher trans mas num enquadramento que privilegia sua autoridade para falar sobre igualdade de gêneros. Na batalha, transmitida ao vivo no Facebook, percebemos maiores possibilidades de escapes para mulheres cujos corpos se expressam de outras maneiras, inclusive se apropriando de códigos das masculinidades, mas, é bom lembrar, a narrativa da diversidade é ancorada por um corpo jovem, branco, magro, de cabelos lisos representado pela youtuber Foquinha. Do ponto de vista teórico metodológico, a abordagem aqui proposta da performance televisiva (GUTMANN, 2015a; 2015b) nos parece uma efetiva possibilidade de acessar a identidade de um canal, suas formas e modos específicos de atuação – o “mostrar fazer”, nos termos de Schechner (2016) – pela análise dos corpos que ali constituem interações com outros corpos e dizem sobre nossa experiência televisiva. Os resultados analíticos dessa abordagem da performance sustentam nosso argumento de que a marca de um canal não está simplesmente na sua vinheta, na logomarca, nos seus slogans, nos planos de comunicação, mas se coloca como forma em ação. Ou seja, nas expressões materiais que adquirem sentidos quando em interação com possibilidades de leitura, repertórios e expectativas da audiência. São formas históricas e culturais que constituem continuidades e projetam transformações. Isso explica a importância de compreender historicamente os modos como o GNT constitui identidades de marca por associação com feminilidades. Não nos referimos aqui à história do

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019 canal em sua relação com o feminino, mas aos movimentos históricos (às historicidades) que explicam o fenômeno presente aqui estudado, como buscamos operar nesta análise. Pelo estudo dos objetos selecionados e suas associações com historicidades do canal, pela ênfase no corpo como forma expressiva para interpretação da performance do GNT, percebemos que esse é um movimento perpassado por ambiguidades. Ao mesmo tempo que possibilita a abertura de brechas, também é conveniente para o GNT se relacionar com corpos não hegemônicos para evocar reconhecimento como um canal da diversidade. Na grade de programação, no entanto, o elenco de mulheres negras e gordas ainda é minoria e não há apresentadoras trans. Esses deslocamentos colocam-se, portanto, mais como estratégia de aproximação com o contemporâneo, via convocação de perspectivas feministas, de discursos de diversidade, igualdade de gênero e do sentido de sororidade, porém ainda pelo corpo hegemônico da mulher cis, heterossexual, jovem, urbana, magra, mãe, profissional, que se interessa por decoração, culinária, festas, moda e qualidade de vida. As mulheres lésbicas, as mulheres trans, as mulheres da periferia, as mulheres vítimas de violência, as mulheres gordas e tantas outras orbitam a esfera discursiva do canal, mas não constituem traços de sua identidade televisiva. Essas outras posições não se sustentam enquanto “eu” e nem enquanto “tu” no GNT. Lá, elas ainda são “elas”.

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