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50 Anos TV Cultura / [Organização Jorge Da Cunha Lima]

50 Anos TV Cultura / [Organização Jorge Da Cunha Lima]

Edição comemorativa 50 Anos da TV Cultura

Fundação Padre Anchieta Todos os direitos reservados

2019 Vista aérea da fachada da Fundação Padre Anchieta – TV Cultura, , SP, 2019. A TV Cultura de São Paulo atravessa as décadas como parte da vida paulista e brasileira. Além do compromisso perma- nente com a qualidade, duas outras tradições da casa fazem dela a mais bem-sucedida televisão pública no país: o apre- ço pela experimentação de linguagens, presente desde os primórdios, e o tratamento destacado que dá à educação, tema estratégico para o Brasil.

Com respeito à inteligência dos seus telespectadores, incluin- do milhões de crianças e jovens, a Cultura caminha sempre em sintonia com os grandes avanços da produção televisiva mundial. Assim, proporciona gratuitamente a seu público o contato com o que há de melhor em programação infantil, música popular e erudita, literatura, cinema, artes plásticas e informação ambiental. Seu jornalismo plural, a par dos mais urgentes problemas brasileiros, aprofunda as notícias, dá voz a posições divergentes e se fez referência nacional em debates com o programa Roda Viva.

Os mais de 400 prêmios nacionais e internacionais conquis- tados, o reconhecimento da crítica e o carinho do público dão testemunho da importância da autonomia intelectual, política e administrativa da emissora. Ao completar 50 anos de serviços prestados a São Paulo e ao Brasil, a TV Cultura encara o desafio de se modernizar na era da revolução digital com a paixão de sempre: a paixão pela inovação.

João Doria Governador do Estado de São Paulo Ao ler este livro, o público viajará pelos 50 anos da TV Cul- tura e pelos principais fatos que se entrelaçam à história da principal emissora do país. Adianto que possivelmente, em alguns momentos, o pensamento do leitor poderá ser tomado por uma nostalgia, quando relembrará épocas de sua vida, desde a infância, das quais fizeram parte os programas do canal nas últimas cinco décadas.

Em 2004, quando assumi como diretor-presidente da Funda- ção Padre Anchieta, adotamos uma política de gestão voltada à sua recuperação financeira que incluía a mudança dos estatutos da fundação. Com a alteração do formato administrativo, em poucos meses nos recuperamos e passamos a operar no azul. Criamos, produzimos e exibimos diversos novos programas, tanto para o público adulto, quanto para o infantil. Demos iní- cio à digitalização do acervo da televisão e adquirimos novos equipamentos de última geração, aumentando o nosso parque tecnológico. Iniciamos as transmissões da Univesp TV, a par- ticipação nos estudos e implantação da TV digital no país e a obtenção da outorga da TV Cultura em Brasília.

Um dos fatos que mais me chamaram a atenção nos três mandatos como presidente da Fundação Padre Anchieta foi o carinho com que as pessoas tratam a emissora. A TV Cultura não é assistida por meros telespectadores, mas sim por fãs, que admiram sua programação, cresceram com ela, forma- ram os filhos e talvez até os netos e, muitas vezes, opinam e a defendem como se fosse parte integrante de sua vida.

Desejo que o encanto tome conta desta leitura, que começa com o surgimento da televisão, as primeiras emissoras no Brasil e a criação da TV Cultura como televisão pública edu- continuará firme em sua missão de levar ao ar programas de cativa, em 1969. segue percorrendo as cinco déca- qualidade e inovadores, e, sobretudo, de transformar cidadãos das, revivendo marcos das sucessivas gestões, os principais e contribuir para a formação crítica de seu público. fatos, personalidades e programas que marcaram a história do canal, como os inesquecíveis, Castelo Rá-Tim-Bum, Coco- Como será o amanhã? Os próximos 50 anos serão desafiado- ricó, Mundo da Lua, Viola Minha Viola, Ensaio e Provocações, res, como foram nossas primeiras cinco décadas de existência, além das produções que atravessam décadas, como Roda mas não menos ricos e promissores. Viva, Metrópolis, Jornal da Cultura e Sr. Brasil. O livro segue até chegar aos programas atuais, à evolução tecnológica, aos Com certeza os caminhos serão trilhados com a mesma de- canais de multiprogramação e às inovações da TV Cultura terminação, coragem, confiança, união e competência com nos meios digitais. que construímos nossa história escrita por milhares de funcio- nários e conselheiros, além dos milhões de telespectadores e Nesses seis últimos anos, tive um enriquecedor período de fãs. Colaboradores que transformaram a TV Cultura na mais aprendizado, trilhado no caminho nem sempre florido da pre- importante televisão pública do Brasil, e a quarta de maior sidência da fundação. Foi um trabalho árduo e com desafios relevância em território mundial. constantes, que exigiu muita energia, mas que valeu cada passo dado e avançado na vivência e convivência com todos Bem-vindos aos novos tempos! Nós fazemos a TV Cultura os meus companheiros de trabalho, entre os quais incluo in- pensando em você! cluo os telespectadores, pessoas de todas as classes sociais que sempre me param em eventos com os olhos cheios de respeito e amor pela TV Cultura. Descobri nas minhas ges- tões que o principal tempero para o enorme sucesso desse quinquênio da TV Cultura é a criatividade, a participação, o comprometimento, a inovação, o respeito e, principalmente, o amor à arte de bem servir.

Sinto-me orgulhoso pelos resultados que obtivemos até aqui. Junto com uma equipe dedicada, trabalhamos arduamente, fechamos parcerias vitoriosas e investimentos em programa- ção e tecnologia. Como consequências, além da programação consagrada, também pudemos comemorar o superávit da TV Cultura – R$ 17,5 milhões de reais em dezembro de 2018. Tenho certeza de que a TV Cultura está pronta para ampliar o seu alcance, preservando as qualidades que fazem dela fonte confiável de conhecimento, cultura e educação.

Agradeço a todos os ex-presidentes, diretores, conselheiros, funcionários e colaboradores que dedicaram parte de sua vida à TV Cultura. Sem eles, a história não teria sido tão vitoriosa. Ao público, também minha homenagem. Que cada Marcos Mendonça telespectador se sinta inserido na história que aqui é contada. Diretor-Presidente da E que venham muitas outras décadas, pois assim a emissora Fundação Padre Anchieta – Rádio e TV Cultura O que somos e o que vamos ser

O cinquentenário da TV Cultura é motivo de orgulho e ce- Este texto poderia avançar na descrição dos inúmeros e lebração para a cidadania paulista e brasileira. Ao longo de preciosos feitos e conquistas da principal televisão pública meio século, passando por várias crises e mudanças polí- brasileira, que é também uma das melhores do mundo. A ticas, econômicas e socioculturais, fomos capazes de criar, grande obra realizada pela TV Cultura em seus 50 anos de manter e desenvolver uma televisão pública exemplar. Tudo atividade é o tema e a razão de ser desta publicação, e, como o que de mais valioso se espera de uma entidade dessa na- é justo e natural, corresponde a quase todo o seu conteúdo. tureza – fidelidade a uma missão civilizatória, espírito demo- Assim sendo, neste espaço reservado àquele que representa crático, independência editorial, inovação, qualidade, sensi- o conselho curador da Fundação Padre Anchieta, órgão de bilidade, inteligência, capacidade de atrair e ajudar a formar governança responsável por apontar os grandes rumos da públicos de gerações sucessivas – foi entregue pela TV Cul- TV Cultura, cabe, sobretudo, prestar contas desse trabalho tura à sociedade. de reflexão e condução estratégica.

Essa missão tem sido frequentemente cumprida com tal brilhantismo que, superando barreiras linguísticas e cul- Um cenário mutante turais, a TV Cultura capturou a atenção internacional. E, assim, especialistas, críticos e lideranças de outros países Nos últimos anos, com a rápida popularização da internet e descobriram o que milhões de crianças, adolescentes e fa- das várias formas de comunicação e de consumo de produtos mílias brasileiras já sabiam: além de vocacionada para sua audiovisuais online, todos os alicerces do modelo televisivo tra- missão pública – informativa, cultural e educacional –, a dicional têm sido abalados. As lógicas de produção, a lingua- TV Cultura sabe combinar talento, criatividade e inovação gem e os formatos dos produtos, os modos de organização, em shows televisivos de fazer inveja aos países mais ri- oferta, disseminação e comercialização de conteúdos, os ins- cos e avançados. Prova disso são os muitos prêmios rece- trumentos e suportes tecnológicos, os modelos de negócios, bidos pela TV Cultura, também em âmbito internacional, as expectativas e os hábitos do público... Todas as dimensões enquanto sucessivas gerações de brasileiros demonstram que compõem e sustentam uma televisão encontram-se diante intensa e duradoura conexão afetiva com seus programas da esfinge da comunicação contemporânea, que diz: “trans- e personagens, inclusive superando, em larga medida, ex- forma-te ou te farei rapidamente obsoleta e irrelevante”. Não pectativas de público de grandes exposições recentemen- é preciso ser um especialista para saber disso. Basta observar te realizadas. o comportamento dos públicos mais jovens que têm acesso a dispositivos online – parcela já majoritária e crescente da popu- foi canalizado para a produção de um novo Plano Estraté- lação. Para eles, a televisão tradicional, com suas grades horá- gico, que permitisse, a partir de um diagnóstico realista e rias fixas, seus formatos e suas linguagens, praticamente já não suficientemente completo, abrir caminhos ao mesmo tem- existe, pois não faz parte do seu cotidiano e das suas opções po viáveis e inovadores, consistentes e inventivos, rumo ao de busca de informação, diversão e conexão. objetivo de transformar a Fundação Padre Anchieta e suas emissoras em agentes culturais vocacionados para realizar O crescente público online demanda liberdade individual sua missão pública, civilizacional e democrática com cres- para acessar, escolher e assistir conteúdos audiovisuais sem cente protagonismo, eficiência, eficácia e relevância nos no- as amarras espaço-temporais da televisão tradicional. Ao vos ambientes comunicacionais. mesmo tempo, esse espectador individualizado e cada vez mais autônomo também deseja estar permanentemente co- Convencido de que não há fórmula pronta a ser aplicada à nectado a redes compostas por milhares ou milhões de ou- TV Cultura para produzir essa necessária transformação – in- tros espectadores. Ele quer poder interagir nessa dimensão clusive em razão de a natureza institucional e a história da interativa, dialógica e polifônica a qualquer momento, inclu- fundação e de suas emissoras diferenciarem-nas de todas as sive para compartilhar sua experiência imediata em relação demais empresas do setor –, o conselho ampliou as reflexões ao conteúdo audiovisual assistido. Trata-se de todo um novo e os debates, envolvendo e engajando um número inédito de arranjo entre agentes comunicacionais, que transforma as funcionários, colaboradores e parceiros. Foi promovido um experiências individuais, coletivas e compartilhadas, criando ciclo de palestras e debates com especialistas externos que novas relações e campos de possibilidade entre essas ins- atuam na vanguarda das pesquisas, análises e iniciativas no tâncias. Nesse novo universo tecnocultural, não apenas os setor de comunicação e das corporações criativas. Diversos formatos e as linguagens mudam: as próprias pessoas se grupos de trabalho ampliaram e detalharam as discussões. transformam e passam a ter relações fundamentalmente di- Outras equipes foram incumbidas de sistematizar, organizar, ferentes com os meios de comunicação. harmonizar e consolidar as propostas que iam sendo geradas.

Nesse contexto – que atualmente se impõe a todas as em- A atuação do conselho nos últimos anos não se restringiu presas do setor, privadas e públicas, mundo afora –, o que ao Planejamento Estratégico. Ao mesmo tempo que a com- fazer? Ou, refazendo a pergunta de um modo mais especí- preensão dos maiores desafios estratégicos aumentava e fico, como o órgão incumbido de traçar os grandes rumos que as propostas para superá-los amadureciam e se apri- estratégicos de uma televisão pública deve atuar diante de moravam, outras tarefas vitais foram tocadas por iniciativa e um cenário tão desafiador e incerto? (Pois, se é certo que sob a coordenação ou supervisão do conselho e de seus co- a televisão tradicional está perdendo terreno rapidamente, mitês. Fizemos uma análise completa do estatuto da funda- desde o início do processo de popularização da internet, su- ção e, em seguida, atualizamos muitas das suas normas, ali- cessivas ondas de inovação tecnológica associadas a mu- nhando-o às melhores práticas corporativas e institucionais danças comportamentais fazem das previsões de futuro um contemporâneas. No mesmo sentido, a atuação do conselho exercício a cada dia mais impreciso e arriscado.) foi decisiva para a implantação de um moderno programa de conformidade, a elaboração e adoção de um Código de Ética – implementado por treinamentos, um canal seguro de O trabalho do conselho curador comunicação e uma comissão de ética – e a constituição de um sistema mais consistente de auditoria. Um conjunto de Para enfrentar os desafios presentes e crescentes, o conse- ações e programas de compliance, transparência e presta- lho curador da Fundação Padre Anchieta promoveu um in- ção de contas que abrange a TV Cultura e as outras emisso- tenso trabalho de pesquisa, reflexão e debate. Esse esforço ras e demais canais e departamentos da fundação. Também nos últimos anos, e em momentos de especial tur- nova irmã experimental poderão atuar e se desenvolver pa- bulência e radicalização política, o conselho curador mos- ralelamente, sem que uma impeça ou dificulte a vida da ou- trou-se fiel às suas responsabilidades estatutárias e aos tra. À medida que os experimentos do laboratório forem se valores da Fundação Padre Anchieta, dando atenção con- mostrando promissores, irão sendo introduzidos nos diver- centrada e contínua ao jornalismo. Trabalhou para garantir sos canais da fundação: no ambiente online, nos da multi- que o jornalismo da TV Cultura mantivesse seus compromis- programação e na própria TV Cultura. sos com a democracia, a pluralidade, o debate representa- tivo das diversas perspectivas existentes na sociedade e a Desse modo, a transição poderá ser feita com segurança e, busca do efetivo esclarecimento das questões de interesse ao mesmo tempo, com abertura efetiva para a ousadia, a público. E foi vigilante em relação à contenção dos discursos liberdade de invenção e a disposição para o risco que os de ódio que se alastravam pela sociedade e parte dos meios processos mais bem-sucedidos de inovação requerem. de comunicação. Outro benefício desse projeto é que ele permite a continui- Além disso, por meio de seus comitês, o conselho desenvolveu dade do atendimento a segmentos sociais para os quais a propostas de modernização do modelo de gestão, de atuali- televisão tradicional ainda é uma fonte importante de infor- zação e diversificação de estratégias, programas e ações que mação, apoio educacional, alargamento de perspectivas cul- garantam a sustentabilidade financeira da fundação nestes turais e entretenimento – um compromisso especialmente tempos marcados por crescentes restrições orçamentárias. relevante no caso de uma televisão pública de âmbito nacio- nal como a TV Cultura.

O roteiro da reinvenção Com a proa apontada para o novo, abrigando novas gera- ções de pessoas criativas, desenvolvendo, testando e apri- Retomemos a questão do desafio central que hoje nos con- morando ideias e propostas inovadoras, e, ao mesmo tempo, voca ao trabalho: recriar a TV Cultura de modo a torná-la fiel à missão e aos valores que lhe dão lastro, identidade e protagonista da vanguarda da comunicação. Uma protago- sentido: é assim que a TV Cultura deverá começar sua traje- nista muito especial, fiel à sua natureza pública não estatal tória para os próximos 50 anos. e à sua missão de, com base nos valores da democracia, da valorização da educação, da cultura, do conhecimento e da diversidade, fortalecer e qualificar a cidadania brasileira.

Sob supervisão do conselho curador, o já mencionado pro- cesso participativo de planejamento definiu essa transfor- mação essencial da fundação e de suas emissoras como um objetivo estratégico. Em seguida, dois dos comitês do con- selho, o estratégico e o de curadoria, dedicaram-se a desen- volver um Plano de Ação para a realização desse objetivo.

O Plano, que deverá começar a ser posto em prática em bre- ve, prevê o que podemos chamar de “renovação por con- tágio”. A ideia é criar um novo núcleo de vanguarda, um la- Augusto Rodrigues boratório de inovações, independente da televisão hoje em Presidente do Conselho Curador funcionamento. Assim, tanto a atual TV Cultura quanto sua da Fundação Padre Anchieta Operador de câmera, TV Cultura, 2006. Sob o olhar do organizador

A televisão broadcast aberta, até muito pouco tempo atrás, era considerada o maior meio de comunicação de massa existente, influenciando a formação e o gosto de grandes massas da população e da sociedade e, além de constituir um modelo de negócio baseado na venda de publicidade comercial, o que possibilitou a formação de instituições privadas poderosas, controladas por pessoas físicas, ge- ralmente pertencentes a uma mesma família. Esse modelo privado comercial, com finalidades de lucro, instalou-se ini- cialmente nos Estados Unidos e depois no Brasil.

A televisão pública ou estatal desenvolveu-se primeiramen- te na Europa, no Japão e na Inglaterra, como a BBC – uma televisão controlada pelo Parlamento, sustentada por taxas de uso, que se tornou paradigma de transmissão de con- teúdos relevantes.

Esses conteúdos aceitaram as exigências do mercado e, progressivamente, foram expressão da vontade da audiên- cia. O entretenimento, sobretudo pela aceitação da drama- turgia das novelas, transformou-se no produto mais popular e de maior audiência no Brasil. Nos Estados Unidos, afir- mou-se pelo prestígio de entrevistadores, pela realização de seriados e pelo jornalismo, que ofereceu ao espectador um exemplo de cobertura jornalística local, nacional e mun- dial. A TV norte-americana foi também um grande veículo de divulgação do cinema.

A informação, transmitida a partir da produção jornalísti- ca, transformou-se na grande formadora de opinião pública sobre questões políticas, ideológicas e comportamentais. Mas as exigências da audiência obrigaram o jornalismo das é produzir observações que permitam a percepção de um televisões comerciais a privilegiar o espetáculo da notícia. fenômeno tão fascinante, que um de seus melhores intér- Nas televisões públicas o jornalismo tendeu mais a uma in- pretes, McLuhan, afirmou sem a menor cerimônia que “mi- formação que possibilitasse a compreensão dos aconteci- dia é mensagem”, o que significa que os veículos são tão mentos, favorecendo a formação crítica do telespectador. importantes que incorporaram em sua essência filosófica o conteúdo que transportam. O esporte foi e é uma presença dominante em mais de ses- senta anos de televisão, inclusive com emissoras exclusiva- Numa analogia primitiva a essa afirmação, não poderíamos mente transmissoras de eventos esportivos. afirmar quem venceu a corrida, o piloto ou a máquina. Senna ou a McLaren? Mas todos sabemos que o verdadeiro As televisões comerciais, embora não tratassem educação herói morreu antes da máquina, e que o meio, sem ele, não e cultura como seus conteúdos principais, tiveram grande é meio, é metade. influência sobre essas áreas, dando grande cobertura aos produtos artísticos consagrados no mercado comercial da Contudo, em termos apenas racionais, o paradigma tec- arte, influenciando fortemente os hábitos e sedimentando nológico digital permitiu essa afirmação na qual soft e a uniformização das línguas e dos costumes em países con- hard se confundem como uma única concepção, sendo o tinentais como o Brasil. Foram as emissoras públicas que meio quem dá as cartas. se dedicaram especialmente à educação, pois considera- vam a TV um veículo definitivo para a difusão cultural e a Acredito que sempre foi assim, mas de uma forma menos educação a distância, o que só produziu efeitos positivos radical. McLuhan, por exemplo, firmou e buscou confirmar mais tarde, quando se tornaram possíveis os recursos de que mídia é mensagem. interatividade. O que se pode afirmar hoje é que mídia é o caminho para se É evidente que todas as outras manifestações da transmitir uma mensagem única, produzida pelo poder. Os criatividade humana, no campo da religião, da filosofia, formatos escondem o pluralismo cultural. Quanto mais ca- da história, das ciências humanas e exatas, tiveram nais menos pluralismo. seus nichos nas grades de programação das televisões, sobretudo das televisões a cabo, dirigidas inicialmente às Creio mesmo que quase sempre tem sido assim, mas de camadas mais ricas da sociedade. forma menos radical. Felizmente, a hegemonia carrega em si a contradição e abre as frestas para que se afirme Impossível tentar compreender com segurança a decadên- o contrário. cia de um instrumento tão poderoso, assim como de seu modelo de negócio, sem constatar que na história da co- Por milênios a comunicação se manifestou sob o predo- municação todos os momentos culminantes de sua evolu- mínio do poder, principalmente o patriarcal, do homem, ção tecnológica produziram consequências arrasadoras em que foi quase sempre o centro do poder e da luta pela sua implantação, uma evolução duradoura em todas elas, e sobrevivência da espécie. Em cada etapa da evolução uma relativa decadência até o surgimento de novos amores humana e da sociedade houve um tipo de comunicação, de perfil tecnológico, com todo o seu poder de atração e transmissão de informações e conhecimentos necessá- sua eficácia operacional. rios a essa evolução.

A história cronológica e fatual dessa evolução é relativa- Se a estrutura cultural do poder, desde o neolítico, se con- mente bem conhecida. O que me parece mais importante servou a mesma até hoje, as conjunturas foram diversas, sem mudar o fato de que o poder dominante se confundiu que na linguagem das plataformas toda escrita, toda fala, com e determinou a comunicação. toda mímica, toda expressão dos sentidos, é teatro.

Enfim, o meio não é mensagem nem uma bobagem. Sei que A televisão não faz um comunicador, o comunicador se faz não produz conhecimento, mas instaura uma ditadura de há- na televisão ou no YouTube. , utilizando-se do mes- bitos. O conhecimento, contudo, provém do conteúdo, que é mo meio, fala com as massas; o Bonner fala com o espelho. sempre produzido pelo homem. Quem produz audiência não é o público, mas o ator, o espe- O homem, em qualquer estágio de sua vida, situação social, táculo. A mídia é um recurso estratégico da tecnologia para gênero, idade, altura, raça, beleza ou feiura, produz conteú- transportar pensamento, fatos e mentiras. Mas os fatos são dos de informação, que resultam em adesão, repulsa, emo- fatos produzidos pela sociedade ou pela natureza; o pensa- ção, simpatia, retenção ou indiferença, pois constituem ao mento só é produzido pela inteligência humana. mesmo tempo impulsos racionais e sensoriais.

A mídia não cria conteúdos, mas, utilizando recursos deri- vados de sua natureza tecnológica, consegue fixá-los no re- ceptor, com maior ou menor intensidade.

Assim, o que se denomina tecnologia são dispositivos capa- zes de armazenar, organizar e disponibilizar os produtos da criatividade produzida pelos homens. Veicula fakes e verda- des com a mesma indiferença ideológica.

Para simplificar, a mídia é um meio de transporte da criação humana. Mesmo quando transporta o latido de um cachorro, quem tomou a decisão de se utilizar desse “Uber” eletrônico foi o homem, não o cachorro.

Essas considerações são importantes para desmistificar a ideia de que os meios são responsáveis pela produção de conhecimento.

Um computador pode acumular e processar todo o conhe- cimento produzido pela humanidade e veiculá-lo numa ve- locidade jamais conhecida pela Fórmula 1, mas é incapaz de produzir um poema.

Contudo, o homem, produtor de conteúdos, deve estar muito atento à disruptura produzida por esses meios na linguagem e no formato utilizado pelo criador. Nesse sen- Jorge da Cunha Lima tido, concordo que a mídia tem suas exigências. Impôs ao Vice-presidente do Conselho Curador criador maior dramaticidade na oferta de conteúdos, por- da Fundação Padre Anchieta Pátio interno da Fundação Padre Anchieta – TV Cultura, São Paulo, SP, déc. 2000. Sumário

A HISTÓRIA DA TV CULTURA Aparelho VT Quadruplex RCA - TR-70C, 1975.

Gravação nos primeiros tempos da TV Tupi, São Paulo, 1950. Antecedentes e origem

A televisão no período pós-guerra

A televisão brasileira surgiu no início dos anos enquanto o Japão fazia testes consistentes. 1950. Diferentemente do rádio, que rapida- A eclosão da Segunda Guerra Mundial, contu- mente chegou ao Brasil e se tornou um meio do, interrompeu a ascensão da televisão, que de comunicação popular. Inventada em 1926, só foi retomada ao final do conflito. Alemanha, na Inglaterra, a TV não se tornou logo um fe- França e Inglaterra conseguiram reativar suas nômeno de massas. Na primeira metade do emissoras. A British Broadcasting Corporation século 20, com uma exibição de imagens de – BBC reinicia suas transmissões em 1946. qualidade muito inferior à cinematográfica e um alto custo de equipamentos, a televisão No contexto de reconstrução e investimentos, internacionalmente era pouco mais que um a TV aparecia como um dos símbolos de uma passatempo curioso para cientistas e ricos. nova era de modernidade. Mas, embora tenha sido uma invenção europeia, foi sendo cada Entretanto, as perspectivas promissoras da vez mais identificada com o american way of nova mídia fizeram com que países industriali- life vitorioso que se difundia por toda parte. zados investissem no desenvolvimento da tec- nologia e na montagem de sistemas de trans- No final dos anos 1940, com suas cidades missão televisiva. Estados Unidos, Reino Unido, industriais intactas, os Estados Unidos eram Alemanha, França e Itália possuíam emisso- sem dúvida a maior potência televisiva do pla- ras de televisão operando na década de 1930, neta. Possuíam a maior empresa produtora

30 31 TV Cultura 50 Anos Campanha de Assis Chateaubriand para o Senado no canal 2, São Paulo, 1958. de aparelhos de emissão de sinais televisi- mente de imigrantes bem-sucedidos. Foi vos: a Radio Corporation of America – RCA. assim com o MASP de Assis Chateaubriand, o MAM e a Bienal de Arte de Francisco “Cic- Já o Brasil, no fim dos anos 1940, aparecia cillo” Matarazzo Sobrinho, a Escola de Arte como país emergente, possuidor de um bom Dramática de Alfredo Mesquita e a Vera saldo comercial proporcionado pelas exporta- Cruz de Franco Zampari. ções de matérias-primas estratégicas durante o período da guerra. Suas duas principais me- O Brasil atravessou um período político con- trópoles, e São Paulo, demons- turbado no início dos anos 1950, com o suicí- travam vitalidade econômica e cultural. O dio de Getúlio Vargas, seguido pela posse de anseio pela modernidade, que fazia com que Café Filho, que foi deposto pelo general Lott. palacetes da belle époque dessem lugar a arra- Rumores golpistas punham em risco a posse nha-céus, fomentou o interesse pela televisão. de Juscelino Kubitschek, eleito em outubro de 1955. Juscelino enfrentou duas revoltas mili- Ao mesmo tempo em que se tornava a mais tares, de Jacareacanga e Aragarças, e lançou rica e populosa cidade do país, São Pau- seu Plano de Metas: cinquenta anos em cinco, lo consolidou-se como capital cultural com além da construção de Brasília e a transferên- o surgimento de instituições como o Museu cia da capital federal para o Planalto Central, de Arte de São Paulo – MASP (de 1947), o inaugurada no dia 21 de abril de 1960. Museu de Arte Moderna – MAM, a Escola de Arte Dramática – EAD e o Teatro Brasileiro As metas audaciosas alcançaram resultados de Comédia – TBC (todos de 1948), a Cia. considerados positivos. O crescimento das in­ Cinematográfica Vera Cruz (de 1949), a Bie- dústrias de base, fundamentais ao processo nal de Arte (de 1951), o Teatro de Arena (de de industrialização, foi de praticamente 100% 1954), o (de 1958) e a TV Tupi no quinquênio 1956-1961. Porém, o aumento (de 1950), a pioneira na América Latina. Essa dos gastos públicos, associado a uma for- efervescência institucional foi acompanhada te depressão no mercado internacional dos por uma crescente melhoria na infraestrutura produtos de exportação, resultaria em um cultural da cidade, materializada na constru- quadro de forte pressão inflacionária e de ex- ção de novos edifícios projetados por alguns pansão do endividamento do setor público. dos principais nomes da arquitetura moderna paulista e brasileira, como o Teatro Cultura No final dos anos JK, o Brasil havia mudado. Artística, de Rino Levi (inaugurado em 1950), Muitos foram os avanços, e muitas foram as o Pavilhão das Nações no Parque do Ibira- críticas à opção de Kubitschek pelo cresci- puera, de (inaugurado em mento econômico com recurso ao capital es- 1953), que viria a ser a sede da Bienal de Arte. trangeiro, em detrimento de uma política de estabilidade monetária. O crescimento econô- No pós-guerra, criara-se igualmente em mico e a manutenção da estabilidade política, São Paulo uma tradição de mecenato: por apesar do aumento da inflação e das conse- trás de quase todas as iniciativas culturais quências daí advindas, deram à população o do período encontramos grandes empresá- sentimento de que o subdesenvolvimento não rios, ou famílias de empresários, principal- deveria ser uma condição imutável.

TV Cultura 50 Anos 32 33 Antecedentes e origem As primeiras emissoras de televisão no Brasil

A primeira televisão da América Latina, a TV Tancredo Neves e seu gabinete renunciaram. Tupi, canal 3, inaugurada em 18 de setembro Em 1963, um plebiscito antecipado rejeita o de 1950 em São Paulo, pertencia aos Diários parlamentarismo como regime e reinstala o Associados, rede de rádios e jornais de Assis sistema presidencialista. Chateaubriand. Nos anos que se sucederam foram inauguradas a TV Paulista, canal 5 de Em março de 1964, na Central do Brasil, Jango São Paulo, pertencente a um grupo de em- faz um comício e discursa para 200 mil pessoas presários paulistas (em 1952), a TV Record, defendendo as reformas de base, entre elas a canal 7 de São Paulo, pertencente a Paulo reforma agrária. Como reação conservadora, é Machado de Carvalho (em 1953). Um decreto organizada a Marcha da Família com Deus pela do presidente Juscelino Kubitscheck conce- Liberdade, que reúne 500 mil pessoas em São de um canal de televisão ao jornalista Rober- Paulo. No dia 31, os militares depõem o presi- to Marinho (em 1957). dente João Goulart e a presidência é ocupada pelo marechal Humberto Castello Branco. Em 1958, os Diários Associados obtêm a con- cessão de um segundo canal em São Paulo, o Canal 2 e, em 1960, adquirem a Rádio Cultura, O início dos programas que havia sido fundada em 1936 pela família públicos educativos Fontoura. A TV Cultura, como emissora priva- da, é inaugurada em 20 de setembro de 1960. No início dos anos 1960 fervilhava no Brasil Apesar do nome, sua programação é eminen- e no mundo a ideia de que a televisão seria Lançamento do Canal 2, São Paulo, 20 de setembro de 1960. temente comercial, afinada com as demais a tábua de salvação da educação, levando emissoras da rede de Chateaubriand. Em fun- conteúdo de qualidade mais rápido e mais ção da proximidade da banda de frequência, a longe do que os métodos tradicionais. São TV Tupi então passa a ser emitida pelo canal 4. Logotipo do canal 2 TV Cultura, Paulo procurou ficar à frente desse processo emissora dos Diários Associados, déc. 1960. e em 1961, por um ato da Secretaria do Esta- do da Educação, criou o Curso de Admissão O contexto político pela TV, produzido pelo Estado e transmiti- no início dos anos 1960 do pela TV Cultura – ainda comercial, per- tencente a Assis Chateaubriand –, que cedeu Jânio Quadros tomou posse em janeiro e re- gratuitamente o horário para veiculá-lo, fa- nunciou em agosto de 1961. A solução encon- zendo valer o nome de batismo da emissora. trada para que o vice João Goulart assumisse a presidência foi a instituição do parlamenta- O curso, primeiro programa educativo da te- rismo. Jango tomou posse em 7 de setembro e levisão brasileira, foi ao ar em março de 1961. Tancredo Neves tonou-se o primeiro ministro. No ano seguinte começou a ser transmitido o Curso de Madureza, numa iniciativa con- Em 1º de maio de 1962, o presidente lançou junta da TV Continental, do Rio de Janeiro, e seu Plano de Reformas de Base, e em junho da TV Tupi, de São Paulo.

TV Cultura 50 Anos 34 35 Antecedentes e origem Gravação do Curso de Madureza Ginasial, TV Cultura, 1969. Ao longo dos anos 1960 foram se constituin- O jornalista Mário Fanucchi, que atuou como do uma base legal regulatória e normas de diretor artístico na primeira etapa da TV Cul- conduta e ética para o setor. O governo fe- tura (em 1962), e depois como coordenador deral cria o Conselho Nacional de Telecomu- de programação da emissora pública, até nicações – Contel (em 1961). É promulgada 1972, conta essa experiência: “Nós conse- a lei federal que estabelece o Código Brasi- guimos o patrocínio do Mappin, que pagava leiro de Telecomunicações; nesse contexto é o tempo da emissora e, portanto, dava sus- fundada a Associação Brasileira de Emisso- tentação ao uso dos estúdios, enquanto a ras de Rádio e Televisão – Abert, que repre- Secretaria de Estado mantinha os professo- senta os interesses da televisão comercial no res, que faziam concurso para apresentar as Brasil (ambos em 1962). Uma das iniciativas aulas na televisão. Os alunos se inscreviam que a associação implementa é a elaboração pelo correio e recebiam as apostilas a fim de do primeiro Código de Ética da Radiodifu- complementar as aulas da televisão. O nú- são (em 1964). cleo de professores que atuou no Sefort viria a constituir a base da equipe de professores A iniciativa paulista de montar uma estru- da Fundação Padre Anchieta”. tura de educação a distância segue em frente, e durante o governado de Adhemar de Barros é instituído o Serviço de Educa- Regulamentação das ção e Formação de Base pelo Rádio e TV telecomunicações no contexto – Sefort, ligado à Secretaria de Educação de um governo autoritário (em 1963). O governo militar não descuidava das tele- O governador firma um acordo com os Diá- comunicações, consideradas assunto estra- rios Associados para ampliar a programa- tégico. Assim, criou a Embratel – Empresa ção educativa, a ser produzida pelo Sefort Brasileira de Telecomunicações. O Ministé- e transmitida pela TV Cultura. A emissora rio da Educação e Cultura obtém reserva de passa então a transmitir o Curso de Comple- cem canais de TV para emissoras educativas mentação ao Ensino Primário, com aulas de (em 1965). literatura infantil, artes e música, e o Curso de Madureza aos sábados, transmitido pela O Ato Institucional nº 2 (1965) extinguiu os TV Cultura o Curso de Férias de Extensão partidos políticos, os militares ganharam po- Cultural para Professores (em 1964). deres de cassar os direitos políticos e a eleição para presidente passou a ser indireta. O Ato A maioria da população, contudo, não pos- Institucional nº 3 (1966) estabeleceu eleições suía aparelhos de televisão. Com o intuito de indiretas também para os governos estaduais. disseminar a programação educativa, o Se- fort cria o primeiro teleposto, uma sala de Um decreto criou o Fundo de Financiamento aula dotada com um televisor e um monitor de Televisão Educativa e modificou-se o Códi- que orientava os alunos. No ano seguinte, a go Brasileiro das Telecomunicações de 1962, estrutura passa a contar com cinco postos limitando o tamanho das redes nacionais ao em funcionamento na capital. máximo de dez emissoras por grupo (1966).

TV Cultura 50 Anos 36 37 Antecedentes e origem Em 1966, Adhemar de Barros teve seus di- colocaram acima dos poderes Legislativo e reitos políticos cassados e foi deposto do Judiciário, podendo tomar decisões à revelia governo do estado de São Paulo. Em junho dessas duas instâncias. A censura irrestrita do mesmo ano, Laudo Natel, o vice, foi em- aos meios de comunicação foi um dos efei- possado e ficou pouco tempo no cargo. Em tos desses novos poderes. Foi nesse contex- março de 1967, Roberto Costa de Abreu So- to de recrudescimento que transcorreram os dré foi escolhido pela Assembleia Legislativa primeiros anos da Fundação Padre Anchieta como novo governador. Como presidente da e da TV Cultura. República, tomou posse em março o general Artur da Costa e Silva. De televisão escolar Neste contexto político, 1967 marcou o ano a TV educativa e cultural de criação do Ministério das Comunicações e de leis que legitimaram a restrição a di- A imprensa paulistana passou a se referir ao reitos e liberdades, como a Lei de Seguran- Sefort pelo nome genérico de Televisão Es- ça Nacional e a Lei de Imprensa, que visava colar. Após o golpe, o serviço continuou pro- conter a divulgação de ideias ou informa- duzindo programas culturais, debates sobre ções contrárias ao regime militar. Em 1968, cinema ou apresentações teatrais. 68 municípios deixaram de realizar eleições locais, sob a alegação de serem considera- Em 1965, foi iniciada uma parceria entre o Mi- dos áreas de segurança nacional pelos mili- nistério da Educação e Cultura e a Secretaria tares no poder. São Paulo foi um deles. do Estado da Educação, voltada para a tele- visão. Um convênio foi firmado para realizar Manifestações estudantis irromperam no Rio cursos de aperfeiçoamento para professo- de Janeiro e em outras cidades. Em 26 de res, ampliando a produção de quatro novos junho, ocorreu no Rio a passeata dos 100 mil, Governador Roberto Costa de Abreu Sodré, 1967. cursos: , contra a repressão e a ditadura. Em outubro, Extensão Cultural 5º Ano Primário a polícia invadiu o sítio onde se realizava Moderno, Educação Popular e Madureza Gi- clandestinamente o 30º congresso da União nasial (em 1966). Nacional dos Estudantes – UNE, em Ibiúna, Abreu Sodré e a criação no interior de São Paulo, e prendeu quase Contudo, o projeto pioneiro da TV Escolar, da Fundação Padre Anchieta setecentos estudantes. iniciado por Carvalho Pinto e continuado por Adhemar de Barros, pareceu entrar em crise. Quando Roberto de Abreu Sodré foi escolhi- Em meio a essa ascensão das forças autori- Os meios de comunicação foram diretamente Em 1967, uma matéria publicada na revista do governador de São Paulo, o país se encon- tárias surgiu uma novidade no meio televi- afetados por esse processo de auto- Realidade critica o descaso do governo pau- trava sob a hegemonia do comando militar. sivo brasileiro, que fez do ano de 1967 um ritária; porém, continuaram existindo focos de lista com o projeto da TV Escolar e defende As ideias de redemocratização e combate marco na implantação da televisão pública defesa de uma imprensa livre e crítica. Entre uma televisão que, além de escolar, seja tam- à corrupção que faziam parte do ideário do no Brasil. O autor do projeto ambicioso era o 1966 a 1968: uma bomba explodiu no jornal O bém educativa e cultural. general Castelo Branco foram substituídas governador Abreu Sodré, que traçou os pla- Estado de S. Paulo e começaram a circular o pelo autoritarismo militar antes mesmo que nos para criação de um canal estatal. Jornal da Tarde (do Grupo Estado), a revista Assim foi se moldando o projeto do que viria este se definisse, no posterior período do Realidade e a revista Veja (pela ). a ser a TV Cultura como emissora pública. “milagre econômico”, por um nacionalismo Em agosto de 1967, Abreu Sodré enviou à Com o Ato Institucional no 5, os militares se autoritário e estatizante. Assembleia Legislativa um projeto de lei que

TV Cultura 50 Anos 38 39 Antecedentes e origem Primeiro estatuto da Fundação Padre Anchieta, 1967. propunha a criação de uma fundação desti- Foi uma iniciativa inédita, levada a cabo nada à promoção da educação e da cultura, em plena ditadura, e que demandou an- pelo rádio e televisão. tes de tudo uma delicada engenharia jurí- dico-institucional capaz de assegurar uma No dia 26 de setembro, foi aprovada a Lei independência política, intelectual e admi- Estadual no 9.849 que criou a Fundação Pa- nistrativa. dre Anchieta, entidade destinada a gerir as futuras emissoras de rádio e TV. A evolução estatutária da A aquisição da TV Cultura, canal 2, pelo Fundação Padre Anchieta governo do estado se deu com relativa fa- no período da instalação cilidade, mas não sem polêmica. Por de- terminação do novo Código Brasileiro de A consolidação daquela nova estrutura ju- Telecomunicações, limitava-se o tamanho rídica para a TV Cultura foi indispensável das redes nacionais a um máximo de dez para definir o destino da nova emissora. A emissoras. Como os Diários Associados fundação nasceu como pessoa jurídica de possuíam mais do que o número permitido direito privado, fato fundamental para a li- e enfrentavam uma crise financeira, ven- berdade da instituição, porém seu estatu- der sua segunda emissora paulistana pare- to ainda mantinha um vínculo político com cia ao grupo uma boa saída na tentativa o governo estadual, pois determinava que de fortalecer a matriz de toda a rede, a TV o presidente e seu vice fossem escolhidos Tupi. Assim, o estado de São Paulo conse- pelo governador a partir de uma lista trípli- guiu sua emissora. Como emissora secun- ce indicada pelo conselho curador (outubro dária do grupo de Chateaubriand, ela fun- de 1967). O conselho, por sua vez, tinha 25 cionava herdando os equipamentos que a membros, sendo oito indicados pelo poder TV Tupi aposentava, incluindo a pioneira público estadual e dezessete por entidades torre de transmissão, instalada no alto do da sociedade civil, como a Academia Pau- edifício do Banco do Estado de São Paulo, lista de Letras, o Senai, o Senac, a Bienal de no Largo Antônio Prado, que tinha quase São Paulo e o MASP e, como presidente, um vinte anos. representante do governo estadual. Trata- va-se de um pacto expressivo com as elites Preocupado em implantar uma TV de alto não governamentais. nível, o governo paulista dedicou-se ao pla- nejamento e atualização técnica, para só de- A composição do conselho foi alterada sig- pois iniciar as atividades de tele transmissão. nificativamente, passando a ter 35 mem- bros, o que, mais do que uma mudança O nome de José Bonifácio Coutinho No- quantitativa, tem um cunho institucional gueira, misto de empresário e político, ex- (agosto de 1968). Onze desses membros -presidente da UNE, advogado, banqueiro, passaram a ser natos, e 24 deles eleitos pecuarista e ex-secretário da Agricultura, foi pelo próprio conselho. Os membros natos anunciado como primeiro presidente e apro- eram representantes do governo estadual, vado o primeiro estatuto da fundação. de entidades culturais e educacionais pú-

TV Cultura 50 Anos 40 41 Antecedentes e origem Bonifácio Coutinho Nogueira, Fundação Padre Anchieta, 1967. Curso de Madureza Ginasial, TV Cultura, 16 de junho de 1969.

Um projeto de televisão pública educativa blicas e de universidades paulistanas. Tal Anchieta e foi modelo para as demais te- Diferentemente do Japão e do continente um fundo nacional e por doações de pes- mudança possibilitou o ingresso de per- levisões educativas do Brasil. Entretanto, europeu, onde as televisões nasceram públi- soas físicas. sonalidades escolhidas em função de sua diferentemente da maioria delas que ainda cas, para com o passar do tempo tornarem-se relevância na área da cultura. De um con- eram vinculadas a seus mantenedores, fos- concessões privadas comerciais, tanto no Já no Brasil, o impedimento de receber pa- selho corporativo passou-se a um conselho sem governos ou instituições universitárias, Brasil, quanto nos Estados Unidos, a televi- trocínios e doações fez com que ficassem de notáveis. a Fundação Padre Anchieta tinha sua auto- são nasceu comercial, um fator de peso para dependentes das dotações públicas orça- nomia garantida ao ser dirigida por um con- a ausência das emissoras públicas, perante o mentárias. Assim, proibida de receber dona- Também foi alterado o processo de esco- selho independente e representativo da so- número expressivo das comerciais. tivos e sem uma legislação que destinasse lha da diretoria executiva, que passou a ser ciedade civil e por uma diretoria nomeada taxas para a televisão pública, a TV Cultura votada diretamente pelo conselho curador. por esse conselho. Nos Estados Unidos, por exemplo, as tele- contou com o fundamental compromisso do A alteração estatutária teve a força de man- visões públicas (PBS – governo do estado para financiar o custeio ter intacta por dez anos a Fundação Padre Service), eram mantidas financeiramente por da instituição.

TV Cultura 50 Anos 42 43 Antecedentes e origem Ciências Humanas, Família Bollet, 1969. Madureza Ginasial, TV Cultura, 1969. A TV Cultura, canal 2, assim como as de- mais televisões educativas do país, viveu seus primeiros tempos sob o engessamen- to imposto pela legislação vigente à épo- ca, que limitava consideravelmente o que era exibido nas grades. As consequências negativas foram sentidas por um longo pe- ríodo, seja do ponto de vista tecnológico, seja pelo conteúdo permitido das progra- mações, aumentando ainda mais a concor- rência com as televisões comerciais.

Em viagens a Portugal e ao Canadá, Sodré havia ficado encantado com a possibilidade da aplicação de um modelo de educação a distância, prática emergente na televisão daqueles dois países. Acreditou, portanto, que uma televisão educativa poderia resol- ver o problema do analfabetismo, e com esse pensamento discutiu com sua equi- pe próxima a ideia. O advogado Arrobas Martins, o jurista Elly Lopes Meirelles, Hélio Motta, José Bonifácio Coutinho Nogueira e Carlos Eduardo Camargo foram os primei- ros a participar.

Ao criar a Fundação Padre Anchieta, o gru- po liderado pelo governador Abreu Sodré tinha em mente oferecer à sociedade pau- lista uma televisão educativa de alto nível, produzida localmente. Contudo, dois anos se passaram até que a emissora estivesse em condições de funcionamento. Assim, a TV Cultura, canal 2, iniciou suas trans- missões como emissora pública em 15 de junho de 1969. Num período marcado em todo o mundo pelo experimentalismo e pela contracultura, a programação da TV Cultura escolheu a linguagem vanguardista para alcançar seus objetivos educacionais.

TV Cultura 50 Anos 44 45 Antecedentes e origem Governador assina a escritura pública de compra da Rádio e Televisão Cultura S/A, 1967. 1969

TV CULTURA 15 jun | A TV Cultura, como emissora pública, vai ao ar pela primeira vez às 19h30, transmitindo a solenidade Imagem BX aguardando de inauguração, com o discurso do governador Abreu Sodré e do primeiro presidente da Fundação Padre Anchieta, José Bonifácio Coutinho Nogueira. A fun- ção de presidente do conselho curador da fundação é exercida por Antonio Barros Ulhôa Cintra. 16 jun | A emissora começa a transmitir sua progra- mação das 19h30 às 23h30. Planeta Terra é o primei- ro programa veiculado. Moça do Tempo, Curso de Madureza Ginasial, Quem Faz o Quê, As Sonatas de Beethoven, O Ator na Are- na fazem parte da primeira grade de programação. Início dos programas Fim de Semana, com suges- tões de cultura e lazer, e Jovem, Urgente. Uma programação voltada aos vários campos artís- ticos inclui Artes no Brasil, Especiais (de documen- tários), Quem é Quem (de entrevistas), Clube de Ci- , e . nema Música Brasileira Música de Nossa Terra TVS BRASILEIRAS Incêndio destrói instalações da TV Globo de São Paulo. A programação da emissora passa a ser gera- da no Rio, prenunciando a rede. Incêndios também atingem o Teatro Record, o Teatro Paramount e as instalações da TV Bandeirantes. Inauguração do Centro de Televisão de Tanguá (RJ), . interligando as televisões do país com o mundo Governador Abreu Sodré, inauguração da TV2 Cultura. BRASIL O marechal Artur da Costa e Silva deixa a presidência em decorrência de um AVC. Após 60 dias de coman- do de uma Junta Provisória, o general Emílio Médici assume a presidência (out 1969 – mar 1974). O governador de São Paulo é Roberto Abreu Sodré, eleito indiretamente pela Assembleia Legislativa (set 1966 – mar 1971).

Governador Abreu Sodré, transmissão de inauguração da TV Cultura, 15 de junho de 1969.

1969 46 47 1969 Vista áerea do bairro da Água Branca nos anos 1970, Vista aérea das instalações da Fundação Padre Anchieta local da construção da Fundação Padre Anchieta. no bairro da Água Branca nos anos 1970.

48 1969 48 49 1969 1969: A Cultura, como TV pública, inicia suas transmissões

No dia 15 de junho de 1969, a TV Cultura, Era um momento de recursos abundantes e já como emissora pública, inicia suas trans- repressão pesada. O país alcançou taxas mé- missões. As celebrações para divulgar am- dias de crescimento muito elevadas de 1967 plamente o acontecimento incluíram uma a 1973, período que ficou conhecido como grande festa no Ginásio do Ibirapuera – com o do “milagre econômico brasileiro”. Ape- direito a solenidade, discursos das autorida- sar desse salto quantitativo e qualitativo da des, mas também fanfarras, desfile de es- economia, estudos que reviram o período tudantes e até uma apresentação do Circo indicam que esse crescimento também teria Estatal da Hungria – e um baile de gala no sido possível com maior liberdade individual Theatro Municipal. e maior participação da população nas deci- sões e nos frutos do crescimento. Foi o ponto conclusivo de um processo de implantação que remonta à criação da Fun- dação Padre Anchieta, em setembro de 1967. Início das atividades: Contudo, a intenção de implantar um canal de a aposta na tecnologia televisão de alto nível fez com que dois anos Com o intuito de criar um forte núcleo de se passassem até que a emissora paulista es- produção local de programas educativos, o tivesse em condições de funcionamento. A governador Abreu Sodré e José Bonifácio identidade visual, que se tornaria célebre ao Coutinho Nogueira, primeiro presidente da longo dos anos, fora criada em 1968 pelos de- Fundação Padre Anchieta, buscaram uma signers João Carlos Cauduro e Ludovico Mar- diversidade de profissionais qualificados e tino. Em 1969 a TV Cultura, Canal 2, iniciou atuantes na cena cultural da cidade. sua programação como um marco na história da TV brasileira nessa década. Foi assim que vieram para a Fundação Pa- dre Anchieta nomes como Cláudio Petraglia (novelista, diretor e maestro, com passagens Os anos de chumbo pelas tevês Paulista, Excelsior e Tupi), Car- los Vergueiro (um dos fundadores do TBC e O país vivia um dos períodos mais repressivos diretor artístico da Rádio Eldorado), Walter do governo militar instaurado pelo golpe de George Durst (novelista, diretor e produ- 1964. Em 30 de outubro de 1969, tomou pos- tor, desde os anos 1950 na TV Tupi), Heloí- se o general Emílio Garrastazu Médici, prome- sa Castellar (produtora da TV Paulista), Jú- tendo restabelecer a democracia até o final lio Lerner (jornalista e radialista com ampla de seu governo, o que não ocorreu. A linha penetração no meio cultural) e Fernando dura dos militares que controlava o governo Pacheco Jordão (jornalista da TV Excelsior federal exercia um poder quase absoluto, pro- com formação na Inglaterra, onde estagiara porcionado pelo AI-5, enquanto parte das es- na BBC), que por sua vez atraíram perso- querdas adotava o caminho da luta armada. nalidades de renome, como o ator e diretor

50 51 Anos 1970

Central técnica da TV Cultura. teatral Ziembinsky e o jovem maestro Júlio Decidido a implantar uma emissora-modelo, Medaglia (que revolucionara a apresentação o governo não poupou recursos. Além das já televisiva da música de concerto na TV Re- citadas câmeras Marconi Mark-V, havia uma cord com seu programa Opus7). série de equipamentos da RCA, como mo- dernas mesas seletoras de imagens (swit- Importante polo tecnológico, já nessa época chers), com equipamentos para efeitos es- São Paulo tinha disponíveis mão de obra e peciais e aparelhos de videoteipe, quatro pesquisas não só da Escola Politécnica, como projetores de filmes de 16 mm e dois pro- também do Instituto de Pesquisas Tecnológi- jetores de diapositivos (slides), agrupados cas (IPT), do Instituto Tecnológico da Aero- em duas ilhas de telecine, três aparelhos de náutica (ITA) e do Instituto Nacional de Pes- videoteipe RCA TR-70, banda alta e banda quisas Espaciais (INPE). O planejamento e a baixa, com dispositivos de edição eletrôni- montagem dos equipamentos ficaram sob a ca programada, corretores automáticos de responsabilidade de Miguel Cipolla Jr., enge- quadratura etc. nheiro formado pelo ITA que havia trabalha- do na TV Excelsior. Cipolla escolheu para a Outro aspecto a ser destacado era a preocu- sua equipe profissionais vindos das grandes pação com a captação do sinal da nova - sora. Não havendo recursos para a instalação universidades paulistas e aqueles treinados de uma rede extensa de retransmissão, pro- nos dezessete anos de existência da televi- curou-se atingir a maior área possível com são na cidade. os novos transmissores, mudando-se sua lo- calização da torre do antigo Banco do Esta- Apesar dos limites tecnológicos que a TV do de São Paulo, no centro da cidade, para o brasileira apresentava na época, a fundação pico do Jaraguá, ponto mais alto da região, optou por adquirir o que de mais moderno de onde o sinal televisivo podia chegar com era oferecido no mercado. Assim, embora alguma qualidade não apenas à região me- tivessem sido compradas câmeras Marconi tropolitana, mas também a Santos, Campi- Mark-V de última geração, dotadas de lente nas, Sorocaba e São José dos Campos. única com zoom (ao contrário das tradicio- nais torres de lentes, menos ágeis e de vida útil menor), todos os equipamentos destina- Quatro horas diárias vam-se à gravação e transmissão em preto e de programação educativa branco, pois ainda não estava quando as emissoras nacionais passariam a transmi- Nessa primeira etapa, era clara a opção por tir em cores – tecnologia que seria efetiva- uma produção diversificada, que tivesse mente adotada no Brasil a partir de 1972. como fio condutor a função educativa, pen- sada em duas vertentes básicas: a escolar, Esse início contou com o imenso entusiasmo que visava complementar a educação for- dos funcionários. Para quem estava acostu- mal, e a cultural, que abrangia não apenas as mado a trabalhar com “carroções de 60 qui- manifestações eruditas da arte e do conhe- los”, a chegada das câmeras de lente única cimento, mas também elementos da cultura constituiu uma verdadeira revolução. popular e do dia a dia dos telespectadores.

Anos 1970 52 53 Anos 1970 fazer história, um dos maiores desafios era Whitaker. Tinha uma estrutura de dinâmica provar que uma aula transmitida por televi- de grupo, na qual Gaudêncio discutia com são poderia ser, ao mesmo tempo, eficien- e para os jovens os problemas da geração. te e agradável. Para isso, a TV Cultura havia “Nessa época começou a problemática gap reunido grandes profissionais de televisão e generation e o Gaudêncio era um psicanalista contratado professores universitários de alto muito antenado e pra frente”, contou Cláudio nível: “Era um pessoal de primeiríssimo time. Petraglia, que, com Walter George Durst, era Porque, por sorte, eles fizeram uma parte de responsável pelo programa. “Então a gente ciências humanas, que não existia em Madu- conversava sobre certos assuntos complica- reza, e englobou geografia, história, psicolo- dos naquele tempo: revolução sexual, sobre gia, antropologia, filosofia, linguística numa a pílula, sobre o homossexualismo. E aí que- disciplina só, que se chamava ciência huma- riam proibir o programa”. Apesar da censura nas”, contou Fernando Pacheco Jordão, que fortíssima que havia nesse tempo, o progra- em 1969 era responsável por essas aulas. ma manteve-se na programação.

A maior parte dos professores não ia para Essa fase inicial da Fundação Padre Anchieta a frente das câmeras. Eles preparavam o encerrou-se simbolicamente em 1972, com a conteúdo das aulas, que, em seguida, eram mudança promovida pelo novo governador, transformadas em verdadeiros programas Laudo Natel, que sucedera a Abreu Sodré de televisão, apresentados por uma equipe em março de 1971. de dezoito atores. A equipe de professores contava com Gabriel Cohn, Ruth Cardoso, Paul Singer, Rodolfo Azen, Jobson Arruda e O desafio da transmissão em cores José Sebastião Witter. e a ampliação da área de cobertura

O governador Laudo Natel circulava bem Câmeras Marconi Mark-V, TV Cultura, 1969. A criação do jornalismo naquele quadro de repressão e radicaliza- em tempos de pressão política ção imposto pelo governo militar e possuía menos ligação com a elite cultural paulis- O jornalismo demorou um pouco mais para ta, ligada aos antecedentes de criação da Considerando urgente atender às necessi- 19h55, A Moça do Tempo, pequeno boletim entrar na programação. Segundo Pacheco emissora. Ao tomar posse, pressionou para dades da população pouco ou não escolari- meteorológico apresentado por Albina Mos- Jordão, a direção da Fundação Padre An- que o grupo de Abreu Sodré saísse da TV zada, a assessoria de ensino, sob a direção queiro e, 5 minutos depois, as aulas do Curso chieta temia que o jornalismo viesse a criar Cultura, criando incidentes que culminaram do professor Antônio Soares Amora, deu de Madureza Ginasial. O programa Quem Faz problemas com a censura do regime militar. com a renúncia de José Bonifácio Coutinho prioridade aos cursos destinados a essa fai- o Quê, dedicado a tratar do universo de di- Por essa razão, foi introduzido com um pro- Nogueira, em abril de 1972. Para o seu lugar, xa da população. versas profissões, começava às 21h, seguido, grama semanal, o Foco na Notícia, apresen- o governador indicou um industrial do setor 30 minutos depois, pela série As Sonatas de tado por Nemércio Nogueira. metalúrgico, ex-presidente da FIESP, Ra- A grade inicial da TV Cultura preenchia 4 Beethoven, com a apresentação do pianista phael de Souza Noschese. Para a assessoria horas diárias de programação, das 19h30 Fritz Jank. Às 22h15 entrava no ar o último Na área cultural, um programa que foi um de educação foi escolhido o psicólogo e pe- às 23h30. No dia 16 de junho, o primeiro programa: O Ator na Arena, conduzido pelo sucesso e gerou muitas reações foi Jovem dagogo Samuel Pfromm Netto e, para a Cul- programa exibido foi Planeta Terra, docu- ator e diretor teatral Ziembinski. No Curso Urgente, apresentado pelo psicanalista Pau- tura, Nydia Licia P. Cardoso, atriz renomada mentário sobre fenômenos da natureza. Às de Madureza Ginasial, programa que viria a lo Gaudêncio e produzido por Maria Lúcia que atuara no TBC.

Anos 1970 54 55 Anos 1970 Ziembinski, programa Ator na Arena, TV Cultura, 1969. Paulo Gaudêncio, programa Jovem Urgente, TV Cultura, 1969. Em 1973, a TV Cultura foi alvo de protes- muita adaptação. Junto com o pessoal da tos sob a acusação de ser porta-voz oficial pintura, fizemos uma escala cromática de de políticos. Em meio à crise, o presidente cinzas, outra com as cores corresponden- Raphael Noschese demitiu-se com todos tes, e montamos uma tabela. Hoje, quem os seus auxiliares. Antes de sair, ele havia faz essa dosagem é o computador. Nós fa- se recusado a criar um cargo de assessor zíamos a mão, com corante. Outro proble- de programação para Benedito Ruy Bar- ma eram os cenários. Quando expostos no bosa, recomendado pelo governador. No estúdio por um determinado tempo, a cor dia 14 de junho, é nomeado Antônio Gui- começava a sofrer alteração. Some-se a marães Ferri, médico veterinário que fora isso a textura do tecido, ou ainda o proble- diretor da Escola de Comunicação e Artes ma da maquiagem, porque a forma de ilu- e vice-reitor da USP. No dia seguinte, Paulo minar era totalmente outra... Então, houve Duarte, membro do Conselho Curador, pe- uma série de ajustes para a gente chegar a diu demissão de seu cargo vitalício, denun- uma qualidade”. ciando pressões e interferências. Por outro lado, a necessidade de aumen- O primeiro desafio da nova gestão foi a tar a área de cobertura da TV Cultura iria transmissão em cores. Após a definição, pelo mobilizar a direção da Fundação Padre An- governo federal, do sistema a ser adotado, o chieta e o governo estadual por toda a dé- PAL-M, em 1972 iniciaram-se no país trans- cada de 1970. missões regulares em cores, geradas por vá- rias emissoras, ainda que poucas horas por A transmissão de sinal a partir do pico do dia. Em negociações com a RCA, a funda- Jaraguá mostrava-se limitada, e em 1973 foi ção adquiriu os equipamentos necessários idealizada uma Rede do Interior, que, combi- em que foi instalada a “ilha de telecine”, que nando repetidoras de VHF, UHF e micro-on- permitia a transmissão de filmes coloridos das, ligaria São Paulo a Piquete, Franca, Assis, (em 1973). A incorporação de equipamentos Presidente Prudente, Andradina, Fernandó- adaptados à gravação e à transmissão de polis e Ubatuba. Foram estabelecidos dez programas coloridos, em estúdio e externas, eixos que atenderiam as cidades de Ribeirão continuou até 1975, quando foram produzi- Preto, Sorocaba, Taubaté, Botucatu e Bauru. das em cores 80 horas, de um total de 339 Esses planos, porém, eram de implantação horas de gravação externa. demorada. As regiões atendidas inicialmen- te localizavam-se no eixo da Via Anhanguera, A passagem da produção em branco e pre- que ligava a capital a Ribeirão Preto, e, no eixo to para cores ocasionou muitas dificulda- da Via Dutra, que ligava a capital a Taubaté e des técnicas e adaptações, como lembrou além. Em 1975, o sinal chegou a Piracicaba, José Armando Ferrara, chefe do Departa- Franca, Bauru e Amparo, mas ainda com qua- mento de Cenografia e Arte da TV Cultura lidade insatisfatória. de 1969 a 1988: “Como a câmera em bran- co e preto não tinha a mesma sensibilida- Nesse período, iniciou-se também um in- de que a em cores, houve necessidade de tercâmbio, com o envio de pessoal técnico

Anos 1970 56 57 Anos 1970 Torre de transmissão, Pico do Jaraguá, São Paulo, 1969. para o exterior, tanto para visitar fábricas de e de produção. O edifício destinado à admi- equipamentos quanto para conhecer outras nistração foi construído em dois pavimen- emissoras de televisão, como a inglesa BBC tos, com área total de 4.000 m2, incluindo e a alemã WDR. a recepção. Na área técnica, foram ergui- dos os edifícios que continham os estúdios Além do início das transmissões em cores, de jornalismo, produção de TV, produção o grande esforço do período deu-se na de rádio, central técnica de televisão, cen- área patrimonial, com o projeto de amplia- tral técnica de energia e caixa d’água, com ção e consolidação da sede da TV Cultura área total de 6.400 m2. E, na área de pro- na Rua Cenno Sbrighi, na Água Branca. A dução, surgiram os edifícios corresponden- Fundação Padre Anchieta consolidou sua tes às centrais técnicas de criação e pro- organização física, que resultou no campus dução (Tecas), assim como à fabricação e que passou a abrigar todo o complexo de pintura de cenários (marcenaria), com área produção e geração de programas de rádio total de 9.100 m2. e televisão.

Foram erguidos novos edifícios destinados a suas atividades administrativas, técnicas

Gráfico de expansão de transmissão da TV Cultura, déc. 1970.

Anos 1970 58 59 Anos 1970 Manoel Inocêncio, Flávio Galvão, Armando Bogus, Sonia Braga e crianças, elenco do programa Vila Sésamo no estúdio, 1972.

Logotipo do programa Vila Sésamo, TV Cultura/Rede Globo, 1972.

Anos 1970 60 61 Anos 1970 Uma vila transposta de Nova York para o Bixiga

Tudo começou em 1971, quando Cláudio Pe- clava educação e diversão, além de uma boa traglia procurou José Bonifácio Coutinho dose de humor. O cenário era uma vila onde Nogueira e disse achar fundamental trazer pessoas e bonecos conviviam com crianças, para o Brasil um programa produzido para que aprendiam letras, números, cores, a hi- crianças carentes, sobre o qual havia lido giene, o respeito no trânsito. Essa primeira uma matéria na revista americana Time, o fase do programa foi até 1974, quando a TV Sesame Street. Globo assumiu a produção.

O presidente o autorizou a ir aos Estados Unidos negociar os direitos de produção O delicado ofício e transmissão com o Children Television do jornalismo Workshop. De lá, foi ao México, onde a série estava sendo apresentada e, na volta, com Em 1972, o telejornal Foco na Notícia, até en- um enorme material didático na mala, Petra- tão semanal, tornou-se um programa diário, glia se preparou para produzir o programa. passando a chamar-se Hora da Notícia. Para ele foi criado o cargo de chefe da redação, A partir de fotos tiradas no bairro do Bexiga, ocupado por Fernando Pacheco Jordão, ten- José Armando Ferrara criou o cenário e Ade- do Vladimir Herzog como editor e João Ba- mar Guerra foi chamado para dirigir. Mas ha- tista de Andrade como repórter especial. Se- via o problema do custo da produção: “Fui na gundo o cineasta, a equipe de jornalistas tinha Globo falar com o Boni”, contou Petraglia. “Eu uma consciência clara das dificuldades de se disse: nós fazemos o seguinte; eu produzo lá fazer jornalismo naquele momento político, em São Paulo, a gente passa e vocês tam- durante o governo do general Médici. Existia bém... ’, porque era a única chance, era uma também uma vontade de mudar os conteú- Telejornal Foco na Notícia, com Nemércio Nogueira, 1971. grana brutal”. dos da informação, fazer o telejornalismo de investigação, de questionamento, como um O piloto já fora gravado no ano anterior, com serviço de informação prestado à sociedade, Uma novela que os atores Armando Bogus, , uma proposta de consciência sobre os fatos. causou polêmica Sonia Braga e Morrone, fazendo o bo- neco Garibaldo, um sucesso enorme junto No dia a dia da emissora a censura se fazia dagem que eles davam às matérias. Eles ex- A novela Meu Pedacinho de Chão foi produzi- às crianças. “O Garibaldo, do Laerte, era um presente. Se o autoritarismo não chegou a plicavam por que havia uma greve, davam da e exibida simultaneamente pela TV Cultu- pássaro meio pato louco, diferente do boneco penetrar no corpo técnico responsável pela uma aulinha ali, dizendo o porquê. E isso num ra e pela Rede Globo entre 1971 e 1972. Escrita norte-americano, que era mais contido”, con- programação, seus efeitos causaram gran- momento em que havia uma censura muito por Benedito Ruy Barbosa, com colaboração tou Silvia Cavalli, pesquisadora da fundação de dor de cabeça aos que tinham que criar grande pelas emissoras comerciais, que nun- de Teixeira Filho, contou com direção geral e que se juntou à produção da série infantil. artifícios para escapar das teias do censor. ca contextualizavam a notícia... No começo de núcleo de Dionísio de Azevedo. o jornal dava traço, mas, quando começou a Vila Sésamo estreou em 12 de outubro de Segundo Laurindo Leal Filho: “E por que fui dar audiência, já incomodava e a pressão che- O roteiro mostrava os problemas do homem 1972. Era exibido às 10h45 e 16h e durava de pedir emprego lá? Porque assisti Hora da gava. Então, o jornalismo viveu uma situação do campo, falava sobre as doenças a que meia a uma hora. Era um programa que mes- Notícia e fiquei surpreso com o tipo de abor- de tensão muito grande nesse período”. eram expostos, estimulava seus filhos a fre-

Anos 1970 62 63 Anos 1970 Novela Meu Pedacinho de Chão, 1971. Antunes Filho, gravação da peça Chapetuba Futebol Clube, no Teatro 2, 1974.

O teatro na TV quentarem a escola, além de falar sobre me- primeiro Curso de Madureza Ginasial, asseme- Em junho de 1974 a TV Cultura lançou um dos O programa ficou no ar quase cinco anos lhores condições de higiene, ao mesmo tem- lhando-se, portanto, a uma aula teatralizada. A programas mais bem-sucedidos da emisso- (1974 a 1979) e teve várias reprises nas dé- po em que mostrava o interesse das classes novela ter sido escrita por Benedito Ruy Bar- ra na década de 70: o Teatro 2, uma série cadas seguintes. patronais pelo camponês analfabeto, sem bosa também se ligou à tradição da Fundação de teleteatros com adaptações de grandes questionar sua miséria e seus problemas. Padre Anchieta de absorver os melhores ta- textos literários nacionais e internacionais. Entre os atores, participaram nomes con- lentos do mercado da dramaturgia brasileira. O objetivo era despertar no telespectador o sagrados como: , Raul A novela sofreu críticas de que a emissora es- Contudo, questões políticas gravitavam em gosto pela leitura e pelo teatro. A estreia foi Cortez, Lilian Lemmertz, Cláudio Correa e taria adotando uma estratégia populista para seu entorno, notadamente o choque da antiga uma adaptação do conto O Enfermeiro, de Castro, , Antonio Fagundes, ao transmitir um conteúdo cultural. Em sua defe- equipe com figuras ligadas aos novos gover- Machado de Assis. Diretores teatrais impor- lado de jovens atores como Rodrigo Santia- sa, convém dizer que a teatralização de con- nantes, o que acabou culminando na renúncia tantes foram convidados, como Antunes go, , Edwin Luisi, Nuno Leal teúdos pedagógicos já era uma estratégia do de José Bonifácio Coutinho Nogueira. Filho, Ademar Guerra e . Maia, Zanone Ferrite e Beth Goulart.

Anos 1970 64 65 Anos 1970 Uma promessa que levou mais de dez anos para se cumprir

Dos 122 teleteatros exibidos pelo Teatro 2, Penúltimo presidente do regime militar, apenas 34 foram de autoria de escritores Ernesto Geisel tomou posse em março de estrangeiros. Destes, a grande maioria era 1974, prometendo uma abertura política composta por contemporâneos, como Te- “lenta, gradual e segura”. Já em seu pri- nessee Willians, Eugene O´Neill, Pirandello, meiro ano no cargo, permitiu a propagan- Ionesco e Brecht, atestando o quanto o gru- da política da oposição e aboliu a censura po de diretores e atores estava aberto para prévia à imprensa. Mas em seu governo foi o excelente padrão de qualidade, o grau de promulgada a Lei Falcão, que proibia os questionamento e o envolvimento que se candidatos de fazer qualquer tipo de pro- encontrava no panorama do teatro mundial. nunciamento no horário eleitoral do rádio e da TV. No programa, os clássicos não foram es- quecidos e foram produzidas peças como A partir das eleições municipais daquele Electra, de Eurípedes (direção de Ademar ano, os partidos só poderiam divulgar na Guerra) e Yerma, de García Lorca (direção TV a foto, o nome, o número e um breve de Antônio Abujamra). Nos 88 teleteatros currículo de cada candidato. A lei do silên- baseados em textos de autores nacionais, cio nas campanhas eleitorais ficou conhe- como Vestido de Noiva, de Nelson Rodri- cida pelo sobrenome do seu idealizador, o gues (direção de Antunes Filho) houve uma ministro da Justiça, Armando Falcão. Esse tendência ao contemporâneo e a abertura mesmo decreto ampliou a duração do man- para diferentes segmentos culturais e de dato presidencial de cinco para seis anos e propostas estéticas. determinou que um terço do Senado seria

escolhido indiretamente pelas assembleias Vladimir Herzog, TV Cultura, 9 de outubro de 1975. Ainda nesse período estreou o MPB Espe- estaduais. Estavam criados os chamados cial, produzido por Fernando Faro, docu- “senadores biônicos”. mentarista da música popular brasileira e “Mataram o Vlado!” responsável pelo registro audiovisual de di- No ano seguinte, desarticulando ainda mais versas gerações de artistas. a oposição, o Pacote de Abril fechou o Con- Um novo cenário político atingiu a TV Cultu- Tal grupo recomendou que era necessário gresso e o presidente passou a governar por ra em março de 1975, com a posse de Paulo reformular a emissora para corrigir um re- Até a década de 1960, os programas mu- meio de decretos. Era uma represália à vi- Egydio Martins, governador eleito indireta- lativo elitismo e amadorismo na programa- sicais da TV eram gravados em estúdios tória avassaladora da oposição nas eleições mente para o cargo. Paulo Egydio mostra- ção. Para dirigir o jornalismo foi chamado de ou em teatro, com a presença de plateia, de 1974. E o presidente, sempre que julgou va-se ligado a grupos mais liberais que seu volta Vladimir Herzog, que havia ingressado criando uma atmosfera de apresentação necessário, não hesitou em usar o AI-5, que antecessor. Em julho, Rui Nogueira Martins na fundação em 1972, mas sido demitido em ao vivo. Em seu programa, Faro inicia um só foi revogado em janeiro de 1979. foi empossado como o quarto presidente da 1974 juntamente com outros integrantes da documentário musical sobre o artista esco- Fundação Padre Anchieta. equipe de jornalismo. lhido, sem plateia e com o entrevistador na A administração Geisel foi marcada pelo fim invisibilidade. Não se ouvem as perguntas, do chamado “milagre econômico brasileiro”, Por recomendação do governador, um gru- Outubro daquele ano foi um mês terrível porque o som capta apenas as respostas uma forte crise do petróleo e o aumento tan- po de trabalho foi formado para analisar a para a Fundação Padre Anchieta. Vladimir do artista. to da inflação quanto da dívida externa. situação da TV Cultura e sua programação. Herzog, que dirigia o departamento de jor-

Anos 1970 66 67 Anos 1970 , programa Vox Populi, 1978. , programa Vox Populi, 1978. nalismo, foi preso, torturado e morto nas de- pados por Walter George Durst (cultura) e pendências do DOI-CODI, órgão do 2º Exér- Osvaldo Sangiorgi (educação). Rui Noguei- cito de São Paulo. ra Martins não chegou a completar um ano na presidência e foi substituído pelo profes- “Na semana de 20 a 25 de outubro a coisa sor Soares Amora. O secretário estadual de começou a ficar mais pesada”, contou De- Cultura, José Mindlin, afastou-se do governo métrio Costa. “Então, o Vlado começou a pouco tempo depois. ficar muito aflito. Sabia que eventualmente seria um dos alvos.” No dia 25, um sábado, Herzog se apresentou ao DOI-CODI. “À tar- Soares Amora, um conciliador de, fiquei sabendo que o Vlado tinha presta- do depoimento, mas que não seria liberado Em março de 1976, o professor Antônio Au- antes de segunda-feira. Meia-noite, por aí, gusto Soares Amora foi empossado como toca o telefone: ‘Mataram o Vlado! Mataram quinto presidente da Fundação Padre An- o Vlado!’. Foi um período de muita tensão, chieta, cargo que ocupou até 1979. Sua pre- de inconformismo, de dor.” sença conciliadora, tranquila, mas de profun- da densidade cultural, daria o tom dos novos Detido sem ordem judicial, Herzog foi tortu- tempos. Foi educador, professor, poeta, es- rado e morto, mas a versão oficial do exérci- critor e ex-presidente da Academia Paulista to dizia que a causa da morte fora suicídio. de Letras. Foi o fundador e primeiro diretor da Faculdade de Letras da Unesp, em Assis, Fernando Pacheco Jordão lembrou as con- além de professor titular de literatura portu- versas que teve com Vlado nessa época: guesa na USP. “Ele contava das dificuldades de trabalho, dificuldades políticas, principalmente. E eu Ainda em 1976, tentou-se implantar uma recomendava muito a ele ter paciência: ‘Vla- reforma organizacional, submetendo as an- do, vai com calma, eu fiquei aí anos, espe- tigas assessorias de cultura e educação – rando para poder fazer um jornal, e depois transformadas agora em departamentos – mais alguns anos tentando fazer uma coisa em uma Coordenadoria de Programação de decente. Vai com calma...’. E o Vlado era um TV, que pensaria o conteúdo dos programas sujeito muito sensato. Hoje está plenamen- veiculados de maneira única. Contudo, ao te provado, comprovado, que havia toda tomar a forma de colegiado, não havendo uma movimentação militar para derrubar o um coordenador que comandasse todos os Mindlin, o Paulo Egydio, para chegar até ao departamentos, a coordenadoria implantada próprio Geisel. Era um movimento de golpe em 1977 aparentemente não permitiu mu- pesado, abrangente. O Vlado foi esmagado danças profundas nos procedimentos. nisso. Foram esses os fatores externos. Ele foi vítima disso”. Em 1978 ocorreu uma reforma dos estatutos da fundação, a primeira desde sua criação. Em novembro, logo após a trágica morte de A alteração buscou fundamentalmente rede- Herzog, a dupla Nydia Licia e Pfromm Netto finir a função do presidente e consolidar a deixou seus cargos, que passaram a ser ocu- reengenharia administrativa implantada dois

Anos 1970 68 69 Anos 1970 , programa Telecurso 2º Grau, 1978. anos antes com a criação da Coordenadoria Educação a distância de Programação de TV. Pouco depois da criação da Fundação Pa- Do ponto de vista tecnológico, a gestão des- dre Anchieta, em 1969, quando assumira o se período limitou-se a expandir a infraes- departamento de ensino da TV Cultura, o trutura existente, reformando e construindo professor Soares Amora foi responsável pela mais edifícios no bairro da Água Branca e estreia do Curso de Madureza Ginasial, um montando um novo estúdio de gravação, o programa que fez história. Em 1978, durante Estúdio C, com equipamentos de última ge- sua gestão, a TV Cultura lançou o Telecurso ração. O eixo da Rede do Interior, que ligava 2º Grau, programa educativo em coprodução a capital a Ribeirão Preto, foi consolidado, com a Fundação . Idealiza- possibilitando a expansão de um segundo do e criado pelo jornalista Francisco Calazans eixo, em direção a Bauru. Fernandes, consistia em vídeoaulas que po- diam ser assistidas em casa. O Telecurso foi ao ar pela primeira vez em janeiro de 1978. A voz do povo na TV Na época, era um conteúdo revolucionário, já que utilizava a televisão aberta para fornecer Em 1977, o então secretário estadual da Cul- um material didático de educação a distân- tura, Max Feffer, convidou o jornalista Roberto cia gratuitamente. O conteúdo educativo era Muylaert para fazer um estudo detalhado da apresentado através de encenações, capazes programação, com propostas de alterações de inserir conceitos em situações do dia a dia. num momento em que a emissora produzia e gastava muito pouco. A feliz associação de Feffer e Muylaert gerou um fato que teve pro- O encontro de dois mundos fundas repercussões na história da TV Cultura: através do jazz a entrada de Carlos Queiroz Telles na fundação. Outro marco da programação do período foi o Uma ideia de Queiroz: Vox Populi, um progra- Festival Internacional de Jazz de São Paulo, rea- ma de entrevistas que teve um papel relevante lizado no Palácio de Convenções do Anhembi na volta da democracia no Brasil. Era um pro- de 11 a 18 de setembro de 1978. O festival co- grama inovador, no qual a equipe de produção locou o país no mapa das grandes apresenta- saía à rua gravando perguntas de populares ções de música do mundo, levando também ao para o entrevistado. O primeiro entrevistado conhecimento do público internacional nomes do programa foi o polêmico secretário da Se- como e , gurança Pública, coronel Erasmo Dias, célebre além de astros internacionais como Dizzie Gil- por sua truculência, uma escolha que, de certo lespie, Betty Carter, Herbie Hancock, Egberto modo, sacramentava o programa aos olhos do Gismonti, Chick Corea, Etta James e B. B. King. regime, garantindo sua exibição. Iniciativa do secretário estadual da Cultu- Apesar do aval do governo estadual, o pro- ra, Max Feffer, foi um sucesso inédito para grama não escapou da repressão que ainda a época, a ponto de marcar a memória de se fazia sentir na época. todos os que dele participaram. “A gente

Anos 1970 70 71 Anos 1970 Hermeto Paschoal no primeiro Festival Internacional de Jazz, Palácio de Convenções do Anhembi, 1978. montou uma estrutura e fez 6, 7, 8 horas de transmissão a vivo do Anhembi. Foi um su- cesso extraordinário”, contou Antonio Carlos Rebesco, o Pipoca, diretor de eventos es- peciais, que participou da criação de vários programas na emissora, com destaque para espetáculos de dança e eventos musicais, dentre eles o Festival Internacional de Jazz.

Início da abertura

A década chegava ao fim. Em 15 de março de 1979, o general João Batista Figueiredo assu- miu a presidência da República. Ex-chefe do SNI, Figueiredo tinha a tarefa de consolidar a abertura política e assegurar a transição para a democracia. No mesmo dia, Paulo Salim Maluf venceu a eleição no colégio eleitoral e foi empossado governador de São Paulo.

Em 28 de agosto, foi aprovada Lei de Anis- tia, que outorgou anistia aos crimes políticos e aos crimes a eles conexos, praticados entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979. A interpretação que se consolidou nacional- mente foi de que os crimes praticados por agentes do regime seriam conexos aos cri- mes políticos e, portanto, amparados pela lei.

Nos dias seguintes, presos políticos foram libertados e os exilados pelo regime militar começaram a voltar ao Brasil: Miguel Ar- raes, , Francisco Julião, Luís Carlos Prestes e, como não poderia faltar, o “irmão do Henfil”, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.

Para fechar a década, em dezembro, diante do agravamento do déficit da balança co- mercial, o governo brasileiro adotou a pri- meira maxidesvalorização do cruzeiro.

Anos 1970 72 73 Anos 1970 1970 1971 1972 1973

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA Exibição do especial Capoeira, à Procura de um Es- abr | Início do mandato de Esther de Figueiredo Ferraz abr | Rafael Noschese toma posse como presidente jun | Antônio Guimarães Ferri toma posse como pre- porte Nacional e cobertura de jogos esportivos. como presidente do conselho curador da fundação. executivo da Fundação Padre Anchieta. sidente executivo da Fundação Padre Anchieta. O programa Entrevistas com Personalidades enfoca Estreia o primeiro programa jornalístico da TV Cul- É criado o Hora da Notícia, telejornal diário exibido set | Início do mandato de Pedro de Magalhães Pa- figuras de várias áreas da sociedade. tura, o Foco na Notícia, em formato semanal até até 1980, e, com ele, o cargo de chefe da redação, dilha como presidente do conselho curador da fun- 1973. É Hora do Esporte é o primeiro telejornal es- ocupado por Fernando Pacheco Jordão. dação. TVS BRASILEIRAS portivo diário, exibido até 1989. Estreia de Vila Sésamo, programa infantil baseado São adquiridos equipamentos importados e é insta-

25 jan | Inauguração da TV Gazeta, Canal 11 de São A novela Meu Pedacinho de Chão começa a ser exi- no norte-americano Sesame Street, produzido em lada a “ilha de telecine” para transmissão de filmes Paulo, de propriedade da Fundação Cásper Líbero. bida simultaneamente pela TV Cultura e pela Rede parceria com a Rede Globo. coloridos.

17 jul | Incêndio destrói as novas instalações da TV Globo, indo até 1972. A série Ballet exibe apresentações dos principais Idealização da rede de transmissão para o interior Excelsior, Canal 9, na Vila Guilherme. Série de documentários Brasil, esse Desconhecido, grupos de dança atuantes em São Paulo, e o espe- de São Paulo, que seria paulatinamente implantada Governo cassa concessão e encerra as transmissões sobre várias regiões do país, dá destaque para a cial Orquestra, realizado em parceria com a prefei- nos anos seguintes. da TV Excelsior, Canal 9. Transamazônica. tura, registra os consertos da Filarmônica de São Início da cobertura jornalística e da exibição das De acordo com o censo demográfico nacional, 27% Em Cartaz é um informativo semanal de arte e cul- Paulo no Teatro Municipal e no MASP. principais atrações do Festival de Inverno de Cam- das residências brasileiras estão equipadas com te- tura paulistana. Estreiam Homens de Imprensa, programa de en- pos do Jordão. levisores. Presença, num ambiente íntimo e desprendido de trevistas com jornalistas, MPB Especial e Tempo de Estreia de As Muitas Histórias da MPB, programa de A Copa do Mundo de 1970 é transmitida ao vivo para formalidades, traz entrevistas com personalidades Brasil, programa de reportagens sobre cidades ou reportagem, com participação especial de José Ra- todo o país. do mundo artístico, muitas vezes desconhecidas do regiões brasileiras. mos Tinhorão. Ciclorama cria uma nova linguagem grande público. Música, Divina Música traz intérpre- Na área de educação, estreiam a série Posições, de apresentação de espetáculos de dança na televi- tes e instrumentistas convidados. voltada a pré-universitários, o curso Precisa-se, que são. O programa Jardim Zoológico, filmado in loco, é oferece informações sobre profissões de nível técni- Estreia da série de turismo Caminhos da Aventura e precursor ao abordar ecologia. co para adolescentes na fase de escolha de carreira, do programa Gente Jovem, feito com artistas ama- e o Supletivo de 1º Grau. dores. TVS BRASILEIRAS José Bonifácio Coutinho Nogueira pede demissão da Dedicados ao cinema, entram na programação Ca- TV Globo inaugura emissoras no e em Brasília. presidência da Fundação Padre Anchieta e, em soli- minhos do Curta Metragem, Terra e Gente do Cur- dariedade, todos os diretores também se demitem. Criação da Associação Brasileira de Teleducação tametragem Brasileiro, Personagens do Cinema (ABT). e o especial , que TVS BRASILEIRAS Brasileiro Raízes de Luz e Sombra O Ministério das Comunicações publica decreto que apresenta a obra de Humberto Mauro. 31 mar | Transmissão da Festa da Uva de Caxias do define que as emissoras comerciais podem ter 3 mi- Sul inaugura a transmissão oficial em cores no Brasil. TVS BRASILEIRAS nutos de intervalo de propaganda para cada 15 mi- nutos de programação. O MEC cria o Programa Nacional de Teleducação – O Bem Amado, da TV Globo, é a primeira Prontel, com o objetivo de coordenar as atividades de em cores da televisão brasileira. A TV Excelsior encerra suas atividades. teleducação no país. TV Globo estreia os programas Fantástico, Esporte BRASIL O televisor a cores começa a ser comercializado, Espetacular e Globo Repórter. Laudo Natel, eleito pela Assembleia Legislativa, é em- custando cerca de vinte salários mínimos. possado governador do Estado de São Paulo (mar 1971 – mar 1975).

Paulo Planet Buarque e alunos, Curso de Madureza Ginasial, 1969. Telejornal Foco na Notícia, com Nemércio Nogueira, 1971. Elenco do Vila Sésamo, 1972. Gravação do programa As Muitas Histórias da MPB, 1973.

Anos 1970 74 75 Anos 1970 1974 1975 1976 1977

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA A Fundação Padre Anchieta é declarada de utilida- jun | Rui Nogueira Martins toma posse como presi- fev | Geraldo Salles Colonnese toma posse como Entra no ar a Rádio Cultura FM. de pública pelo Decreto Estadual nº 10.843. dente executivo da Fundação Padre Anchieta. presidente executivo da fundação. Estreia do programa semanal de entrevistas e deba- Estreia do Telescola, curso básico de ciências e mate- set | Início do mandato de José E. Mindlin como pre- mar | Antônio Soares Amora toma posse como pre- tes Vox Populi, em que uma personalidade pública é mática para o 1º grau, que no ano seguinte recebe o sidente do conselho curador da fundação. sidente executivo da Fundação Padre Anchieta e colocada no estúdio diante de perguntas de popu- prêmio Japão NK Corporation. out | Vladimir Herzog, que dirigia o departamento cumprirá três mandatos consecutivos (até 1983). lares gravadas e mostradas ao vivo. Começa a ser transmitido o Teatro 2, projeto de te- de jornalismo, foi preso, torturado e morto nas de- Geraldo Salles Colonnese exerce o cargo de presi- Estreia o programa infantil Bambalalão, em formato ledramaturgia da emissora. pendências do DOI-CODI. dente do conselho da fundação por um curto perío- de revista, composto por diversos módulos inter- Estreia Aula Maior, com professores da USP, pre- Projeto de ampliação e consolidação da sede da do (mar – mai 1976), sucedido por Max Feffer (jun cambiáveis a cada dia. A partir de 1982 passa a ser cursor de futuros projetos de ensino universitário TV Cultura na Rua Cenno Sbrighi, na Água Branca. 1976 – abr 1979). transmitido ao vivo. através da televisão. Começam a ser transmitidos Construção do edifício destinado à administração. Início da cobertura esportiva do Campeonato Brasi- É transmitida a telenovela didática João da Silva, História em Debate, O Naturalista e O Professor. Estreiam os programa esportivos Esportevisão, leiro de Futebol e do Campeonato Paulista de Fute- produzida entre 1972 e 1973, voltada para as séries O Curso de Auxiliar de Administração é o primeiro uma resenha dos principais acontecimentos espor- bol. Torneios de futebol e de outros esportes, como iniciais do 1º grau, que em seu enredo aborda temas curso de habilitação profissional pela TV e pelo rádio. tivos, e o telejornal Em Dia com o Esporte. basquete, vôlei, tênis, atletismo e natação também como migração, analfabetismo e escolarização. passam a ser transmitidos neste ano e nos que se se- A série tematiza vários aspectos do relacio- Encontros Sinfônicos exibe apresentações da Or- Família Estreia de Panorama, revista de arte e cultura. Luzes guem. A TV realiza a cobertura dos Jogos Olímpicos namento familiar, e procura ajudar as questra Sinfônica Estadual. Revisão de Música Eru- Mães e Filhos e Câmeras leva ao ar filmes e depoimentos de gran- de Montreal, no Canadá. mães a criar seus filhos. des nomes do cinema brasileiro. dita traz uma série encontros com especialistas em A série educativa Ciências Humanas: Veja as Coisas música erudita. O programa de reportagens especiais O Futuro Co- Estreiam Hora Agrícola e o Jornal Agrícola. com Outros Olhos trata de aspectos sociais e da his- Os Grandes Sucessos propicia encontros com no- meça Hoje apresenta realizações científicas brasi- Entre os cursos, passam a ser exibidos Colégio 2, tória brasileira para nível de 1º grau. mes da música nacional e internacional, e O Teatro leiras de vanguarda, buscando interessar os jovens com foco nas distintas disciplinas de 2º grau, e Ensi- e o Ocidente, apresentado pela crítica Bárbara He- brasileiros por novas áreas profissionais. O Perfil do , para treinamento de professores TVS BRASILEIRAS nando Matemática liodora, oferece uma síntese do caminho percorrido Educador explora a vida e a obra de personalidades e candidatos a exames vestibulares. O Grupo ganha uma concessão de te- pelo teatro desde suas origens. que contribuíram para a educação no Brasil. levisão no Rio de Janeiro e cria a TV Studio – TVS. TVS BRASILEIRAS Os espetáculos da Orquestra Sinfônica Estadual e A Rede Globo inicia a exportação de seus progra- TVS BRASILEIRAS TV Globo adota o conceito de “programas nacionais”. Municipal são gravados no Theatro Municipal de mas, dublados em espanhol, para a América Latina. TV Bandeirantes inaugura a TV Guanabara no Rio de São Paulo. Consolida-se o modelo de rede nacional de televisão. Um incêndio destrói instalações da TV Globo do Rio Janeiro, segunda emissora da empresa. A censura federal proíbe a exibição da telenovela Estreia de Tema Livre, programa de entrevistas com de Janeiro. O faz acordo com Paulo Macha- , de Dias Gomes, que só seria veicu- artistas de diferentes áreas, apresentado por Sérgio do de Carvalho e a Rede Record passa a transmitir lada dez anos depois. O Brasil é o quarto maior usuário do satélite Intelsat. Viotti, e Última Sessão de Cinema, de exibições se- em conjunto com a TV Studio. guidas de debate. A TVE, televisão educativa federal, realiza sua pri- Entra no ar a versão do Sítio do Picapau Amarelo meira transmissão em novembro, após quase uma TVS BRASILEIRAS produzida pela Globo. década de planejamento e produção de programas Começam a operar as estações rastreadoras de sa- educativos transmitidos por emissoras privadas. É criada a Fundação Roberto Marinho, responsável télite de Tanguá, Manaus e Cuiabá. pelos programas de educação a distância transmiti- A TV Tupi inicia a exibição de “programas nacionais”, BRASIL dos pela Rede Globo. centralizando e padronizando a produção de seus Paulo Egydio Martins, eleito indiretamente pela As- programas. sembleia Legislativa, assume o governo do estado de São Paulo (mar 1975 – mar 1979). BRASIL O general Ernesto Geisel assume a presidência da Re- pública (mar 1974 – mar 1979).

Abertura do programa Teatro 2. Aizita Nascimento e Júlio Lerner, Panorama, déc. 1970. no programa Luzes e Câmeras, 1976. Adoniran Barbosa, no programa Vox Populi, 1977.

Anos 1970 76 77 Anos 1970 Soares Amora e autoridades em solenidade 1978 1979 no pátio interno da TV Cultura, 1980.

TV CULTURA TV CULTURA dez | Início do segundo mandato de Antônio Soares mai | Início do mandato de Antônio Henrique Amora como presidente da fundação. Cunha Bueno como presidente do conselho cura- O Decreto Estadual nº 11.184 aprova mudança no es- dor da fundação. tatuto da Fundação Padre Anchieta. Vai ao ar o programa Alfabetização Mobral, com re- Construção de mais edifícios no bairro da Água portagens sobre as atividades do Movimento Brasi- Branca e montagem do novo estúdio de gravação, o leiro de Alfabetização (Mobral), criado pelo governo Estúdio C. brasileiro em 1967, e seus resultados. O eixo da rede do interior, que liga a capital a Ribei- Estreia o programa jornalístico de prestação de ser- rão Preto, é consolidado, possibilitando a expansão viços Boca do Povo, com entrevistas com a popula- de um segundo eixo, em direção a Bauru. ção e autoridades ligadas às áreas de abastecimen- to ou serviços públicos. Estreia do Telecurso 2º Grau, programa educativo coproduzido com a Fundação Roberto Marinho. São exibidos História da Arte no Brasil, série especial de reportagens sobre questões históricas, políticas O Festival Internacional de Jazz de São Paulo é e filosóficas do contexto brasileiro em que as artes transmitido ao vivo de 11 a 18 de setembro. plásticas se desenvolveram, e História da Telenovela. Estreia do programa de música Ponto de Encontro e de Teatro Aberto, que exibe cenas de espetáculos TVS BRASILEIRAS em cartaz nos teatros paulistas, debatidas por críti- O Prontel é extinto em novembro e substituído pela cos, atores e diretores. Secretaria de Aplicações Tecnológicas – Seat. Estreia do programa infantil A Turma do Lambe-Lambe. Em dezembro, a Seat convoca emissoras educati- Vai ao ar o Curso de Leitura e Interpretação de De- vas para um encontro, que resulta na proposta de senho Técnico-Mecânico, em parceria com o Senac. criação do Sistema Nacional de Televisão Educati- A série Prevenção de Acidentes é realizada em coo- va – Sinted. peração com o Ministério do Trabalho e coproduzi- A TVE do Rio de Janeiro passa a integrar o Sistema da pela Fundacentro. Nacional de Televisão Educativa, formado por nove emissoras. São produzidos os cursos Por um Ensino Melhor, de aperfeiçoamento de professores, realizado com a Secretaria do Estado de Educação e o Programa BRASIL Nacional de Teleducação, e Projeto Escola, de edu- O general João Batista Figueiredo assume a presi- cação de trânsito, em parceria com a Companhia de dência da República (mar 1979 – mar 1985). Engenharia e Tráfego. Paulo Maluf, eleito pelo colégio eleitoral, assume o go- verno do estado de São Paulo (mar 1979 – mai 1982). TVS BRASILEIRAS Por iniciativa da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa – FCBTVE (TVE do Rio de Janeiro) e do Prontel, é realizado, em março, em Nova Friburgo (RJ), o I Encontro Nacional de Dirigentes e Assesso- res de TV Educativa.

Daniel Azulay no programa A Turma do Lambe-Lambe, 1978. Piloto do programa Boca do Povo, 1979.

Anos 1970 78 79 Anos 1970 OK

Milton Gonçalves, Armando Bogus, Sonia Braga, Aracy Balabanian, Manoel Inocêncio, bonecosElenco do e criançasVila Sésamo, no programa TV Cultura, Vila 1970. Sésamo, 1972.

80 81 OK

Elza Soares, programa MPB Especial, 1973. Nara Leão, programa MPB Especial, 1973.

Clementina de Jesus, programa MPB Especial, 1973. , programa MPB Especial, 1974.

82 83 Bastidores do programa História em Debate, déc. 1970.

84 85 O país caminha para a abertura política

Em novembro de 1979, uma reforma promo- credo Neves e 180 a Paulo Maluf, sendo vida pelo governo Figueiredo determinou o registradas dezessete abstenções e nove fim dos dois partidos em atividade, a Aliança ausências. Renovadora Nacional (Arena) e o Movimen- to Democrático Brasileiro (MDB), reintrodu- Tancredo Neves foi o primeiro presidente ci- zindo o pluripartidarismo na vida política vil a ser eleito desde 1960. Apesar das espe- brasileira. Novas forças políticas começaram ranças dos brasileiros, Tancredo não tomou a constituir-se. posse. Internado às vésperas da solenidade com uma séria infecção, faleceu em 21 de Em 1979 e 1980, o governo obteve altas taxas abril. E em 15 de março de 1985, tomou pos- de crescimento do PIB, mas perdeu o con- se o vice-presidente eleito, José Sarney, a trole sobre a inflação, que saltou de 77% para quem coube encaminhar a redemocratiza- o elevado índice de 110% naquele período. ção do país.

Em fevereiro de 1986, para reduzir e con- Diretas Já trolar a inflação muito elevada, o governo Sarney lançou o Plano Cruzado. Os preços Em abril de 1983, o deputado Dante de Oli- dos produtos e os salários foram congela- veira apresenta na Câmara uma proposta dos por um ano. Entretanto, após um curto de emenda constitucional que visava resta- período de euforia de consumo e de aqueci- belecer as eleições diretas para a presidên- mento econômico, muitos produtos come- cia da República que seriam realizadas em çaram a sumir das prateleiras. No final de novembro de 1984. A mobilização popular 1986, o Plano Cruzado fracassou e a inflação em torno da ideia foi crescente. De janei- voltou a crescer. ro a abril de 1984, a campanha “Diretas Já” tomou as ruas das principais cidades do país, reunindo multidões surpreendentes. A Constituição Cidadã A emenda Dante de Oliveira foi votada na Câmara dos Deputados em 25 de abril de Em 5 de outubro de 1988 foi promulgada 1984, onde 298 votos foram favoráveis à a nova Constituição da República Fede- sua aprovação, 65 contrários e 3 deputados rativa do Brasil, também conhecida como se abstiveram de votar. Com a falta de 22 “Constituição Cidadã”, elaborada pela As- votos favoráveis para que fosse atingido o sembleia Nacional Constituinte eleita de- quórum mínimo dos 320 necessários, não mocraticamente em 15 de novembro de houve o envio da emenda ao Senado. 1986 e presidida por Ulysses Guimarães. Os trabalhos da Constituinte se desenvol- Em 15 de janeiro de 1985 – a última eleição veram de fevereiro de 1987 a setembro de indireta para presidente –, os membros do 1988 e marcaram o processo de redemo- colégio eleitoral deram 480 votos a Tan- cratização do país.

86 87 Anos 1980 A TV Cultura Marin desempenhou indiretamente um pa- Ao fim desse tenso período, manteve-se as- e o governo Paulo Maluf pel crucial na afirmação de independência segurada a independência financeira e a au- da Fundação Padre Anchieta. Ao decretar a tonomia política institucional da Fundação Em 1979, com a eleição de Paulo Maluf para o Com a intenção de criar uma imagem moder- subordinação do comando da instituição ao Padre Anchieta. governo estadual, inicia-se um novo período na e com apelo de marketing, as emissoras seu gabinete, forçou o conselho curador e o da Fundação Padre Anchieta. da fundação passaram a ser denominadas Judiciário a se posicionarem com relação aos pela marca RTC (Rádio e Televisão Cultura), limites da autonomia da fundação. Não era o Uma programação Apesar de pertencer a uma família de imigran- inspirado nos nomes de importantes redes autor intelectual das medidas contra a inde- para o cotidiano tes industriais, Maluf não fazia parte da elite internacionais. pendência da TV Cultura, tomadas menos de cultural paulista. Engenheiro, identificava-se dois meses depois de sua posse, apenas deu A fundação comprou o Teatro Franco Zam- mais com o perfil dos tecnocratas que a dita- Era estratégia que o sinal da emissora fosse continuidade ao que seu antecessor deseja- pari (1980) e no ano seguinte estrearam os dura produziu nas décadas anteriores. O go- teletransmitido ao maior número de pessoas va: fazer da TV Cultura um veículo para a di- primeiros programas de auditório. vernador eleito apresentava-se como lideran- possível. Assim, por meio de acordos firma- vulgação das políticas do governo estadual. ça civil a levantar-se contra a obediência dos dos com o Ministério das Comunicações, a É Proibido Colar, apresentado por Antonio Fa- planos militares, porém sua trajetória era clara- Embratel e a Telesp, o governo estadual ob- Em julho, com a promulgação do decreto es- gundes e Clarisse Abujamra, ia ao ar nas tardes mente ligada às vontades do governo federal. teve permissão para utilizar a rede de micro- tadual no 19.129, o estatuto da fundação foi de sábado e era uma competição entre escolas -ondas de telefonia, levando o sinal da TV modificado. Nele ficou estipulado que, entre estaduais, com diversos quadros de conheci- Maluf tinha como meta divulgar amplamen- Cultura a 446 dos 571 municípios do estado outras medidas, a fundação ficaria vinculada mentos gerais, artes e mímica. A cada semana, te sua administração, já que almejava ocupar de São Paulo. à Secretaria de Estado da Cultura, além de as escolas competiam entre si, e a vencedora a presidência da República. Nesse contexto, é dar ao governador o poder de escolher livre- ganhava prêmios para a escola, como os de- natural que visse na TV Cultura um poderoso Dois novos estúdios, D e E, foram monta- mente seu presidente. sejados microcomputadores da época. Foi um instrumento de propaganda, desde que a afas- dos, além da adaptação do Teatro Franco grande sucesso, chegando a ter 4 horas de du- tasse das pretensões vanguardistas que marca- Zampari, adquirido para a produção de pro- Tratou-se de uma intervenção em que se ex- ração e a atingir os 16 pontos de Ibope, numa vam sua história, adotando uma programação gramas de auditório (em 1980). Foram com- tinguiu a autonomia da fundação. Num de- emissora que se propunha a não ser comercial. e linguagem mais popular. E foi o que ocorreu. prados novos equipamentos para a trans- creto subsequente o governador demitiu a missão dos telejornais, com a aquisição da diretoria da fundação, seu conselho curador, Outros programas da época foram Palavra de O novo governador não viu necessidade de inovação tecnológica, o ENG (Electronic ao mesmo tempo que nomeou o novo con- Mulher, uma revista feminina, e Festa Baile, remover Soares Amora, que continuou como News Gathering), sistema portátil de grava- selho, nova diretoria, a superintendência ge- que levava as reuniões dançantes gravadas presidente da fundação, porém, foram mu- ção que dispensava a revelação do filme e ral e os superintendentes adjuntos. no Clube Piratininga para a casa dos telespec- dados os chefes de departamentos. Assim, sua edição na moviola. tadores; o primeiro programa da TV brasileira do departamento cultural, saiu Walter Geor- O conselho curador destituído entrou com voltado para a terceira idade, era apresentado ge Durst e assumiu Carlos Queiroz Telles; no um mandado de segurança junto ao Tribunal nas noites de sábado por Francisco Petrônio de educação, Osvaldo Sangiorgi foi substi- A afirmação de independência de Justiça. Em algumas horas, o advogado e pela apresentadora Branca Ribeiro. tuído pela educadora Célia Marques e, no da Fundação Padre Anchieta Fernando Fortes obteve liminar de suspensão de jornalismo, Paulo Leandro por Tito Lima. dos efeitos dos dois decretos. O governador Na teledramaturgia, a TV Cultura enveredou Formou-se, então, a Coordenação de Pla- Em maio de 1982 Paulo Maluf renunciou ao tentou derrubar a liminar e meses depois, na pelos telerromances, exibindo Vento do Mar nejamento - Coplan, composta por Queiroz mandato de governador para disputar uma discussão de mérito, o tribunal foi unânime no Aberto, que inaugurou a série, e Floradas na Telles, Tito Lima e André Casquel Madrid, um cadeira de deputado federal, transmitindo o entendimento de que, constituindo-se a fun- Serra, um grande sucesso da emissora. Entre triunvirato que passou a comandar os rumos cargo a seu vice-governador, José Maria Ma- dação pessoa jurídica de direito privado por 1981 e 1982 foram apresentados dezessete da programação e foi extinto em 1983, quan- rin, titular de mandato tampão, já que pas- vontade expressa do governo que a criou, o programas, que duravam, em média, um mês. do Queiroz Telles assumiu a coordenadoria saria o governo a seu sucessor apenas dez estatuto não poderia ser modificado a não A programação mais alegre e despretensiosa de programação. meses após sua posse (março de 1983). ser pelo próprio conselho curador. marcou um ponto de inflexão com relação ao

Anos 1980 88 89 Anos 1980 Clarisse Abujamra e Antonio Fagundes, Moraes Sarmento com Tonico e Tinoco no programa programa É Proibido Colar, 1982. Viola, Minha Viola, déc. 1980.

Logotipo do programa É Proibido Colar, 1982. vanguardismo anterior, mas manteve uma boa perdeu nessa fase, se fazendo presente em Uma viola que seria qualidade geral e inventividade. À sua frente programas como Ligue para um Clássico, ouvida por décadas esteve o poeta e dramaturgo Queiroz Telles, um apresentado pelo maestro Diogo Pacheco, dos fundadores do Teatro Oficina, que condu- Cabaret Literário, que teatralizava a vida e a Em abril de 1980, o programa Viola, Minha Vio- zia a área cultural com considerável liberdade. obra de poetas brasileiros, ou a série da BBC la estreou apresentado pelo radialista Moraes A Era da Incerteza, de John Kenneth Galbraith. Sarmento e pelo compositor Nonô Basílio. Em Nos últimos meses da gestão do professor agosto do mesmo ano, foi con- Soares Amora foi ao ar o Fábrica do Som, A tônica da programação foi a proximidade vidada para dividir o palco com Sarmento, em dando espaço à nascente música “de gara- com o cotidiano do público. A nova progra- uma parceria que durou até a morte dele (1988). gem” que logo depois se tornaria o núcleo mação obteve o reconhecimento da crítica e O programa dava espaço à música caipira e fol- do rock brasileiro dos anos 1980. recebeu o prêmio APCA por dois anos con- clórica. Os convidados eram cuidadosamente secutivos (1981 e 1982). Bambalalão foi con- escolhidos, equilibrados entre novos talentos É importante lembrar que a ligação com a siderado o melhor programa infantil por cin- merecedores de destaque e cantores com car- cultura em suas formas mais eruditas não se co anos naquela década. reiras consolidadas e já queridos pelo público.

Anos 1980 90 91 Anos 1980 Gravação dos programas Bambalalão, 1984 e Curumim, déc. 1980. No palco do Viola, Minha Viola o respeito Dessa forma a plateia podia visualizar como pela essência da música caipira era um as- os bonecos eram controlados e, ao mesmo pecto importantíssimo para Inezita, que exi- tempo, captar a reação imediata da plateia e gia dos convidados a preferência pelos ins- responder à interferência das crianças. trumentos acústicos, distantes do recente cenário do sertanejo. O despertar da Inezita faleceu em 8 de março de 2015, três me- consciência ambiental ses depois de deixar de apresentar o programa. Depois de sua morte, a emissora exibiu os pro- Curumim estreou em 1981 e ficou no ar até gramas antigos e os especiais comemorativos. 1985. O infantil era voltado para crianças Em tantos anos de exibição, durante os quais a de 3 a 6 anos de idade, e oferecia ao públi- indústria cultural passou por tantos modismos, co infantil a oportunidade de participar de o programa foi um baluarte da cultura popular atividades educacionais. Teve o suporte de brasileira em nossos meios de comunicação. equipes técnicas da Secretaria de Educação e apoiava as aulas das pré-escolas mantidas pela rede municipal. Entrou por uma porta e saiu pela outra Atores conhecidos como Ney Santana, Sérgio Mamberti, Nilda Maria, Fernando de Souza e O programa Bambalalão permaneceu no ar os palhaços Torresmo e Tic-Tac conversavam entre os anos 1977 e 1990 e, a partir de 1982, com as crianças e participavam com elas de passou a ser transmitido ao vivo. Direcionado diversas atividades, como visitas ao horto flo- para crianças entre 5 e 10 anos, sua propos- restal, zoológico e brincadeiras. A primeira ta era enriquecer a educação informal para fase foi dirigida por Antônio Abujamra e ro- crianças pela televisão. Seus quadros estimu- teirizada por Antônio de Pádua (Padinha), o lavam os pequenos com atividades de lazer e autor de todas as letras das canções daque- arte inseridas em jogos, brincadeiras, músicas, le momento. Com a saída de Padinha, Chico mímica, teatro e contos infantis. A plateia era de Assis foi o roteirista e criou novos perso- composta por crianças e adolescentes que se nagens: Cachorro Chorro, Monstro Malandrau, dividiam em dois grupos: o amarelo e o verme- Margaridona Bomboca e Girassolzão Gira-Gi- lho; alunos de escolas convidadas ou inscritas. ra, interpretados por Fernando de Souza, Nilda Maria, Tanhia Riviltigestonoff e Carlos Arena. A apresentação era de GigiAnhelli e Silvana Teixeira. Além das apresentadoras, partici- pavam de diversos quadros o palhaço Tic- Montoro é eleito Tac (Marilan Sales), o professor Parapopó governador pelo voto (Chiquinho Brandão), os bonecos Maria Ba- linha, João Balão e o Bambaleão. Após dezesseis anos de governos estaduais escolhidos pelos grupos de apoio ao regime O programa instalou monitores de TV direcio- militar, em novembro de 1982 ocorreram elei- nados à plateia e aos bonecos manipulados. ções diretas para governador, com candida-

Anos 1980 92 93 Anos 1980 Bombeiros apagam focos do incêndio, TV Cultura, São Paulo, março de 1986. tos de cinco partidos. Em São Paulo venceu Brasil. Em 1960, um grande incêndio destrói um candidato de oposição ao regime militar, as instalações de TV Record. o peemedebista André Franco Montoro, que tomou posse em março de 1983. Em 1965 outro incêndio destrói as instala- ções de uma emissora, dessa vez a TV Cultu- Os governos identificados com a ditadura ra (dos Diários Associados), que depois disso haviam deixado um rastro de tecnocracia se transfere da Rua 7 de abril para novos es- fria, negociatas escusas e truculência policial túdios no bairro do Sumaré. Em 1967, o fogo e política. Montoro reuniu um secretariado destrói as instalações da Tv Record, canal 7. E combativo e lançou-se à reconstrução de- em fevereiro de 1986 foi a vez da TV Cultura. mocrática do estado de São Paulo. Deu prio- ridade a obras de menor porte e foi rigoroso “O incêndio foi de madrugada”, contou José na defesa dos direitos humanos. Munhoz. “A providência era, claro, chamar o corpo de bombeiros. Vim para cá muito rá- Considerando o episódio que havia ameaça- pido, e a gente cercou as áreas com cortinas do a independência da fundação, o governo de água, com o que acabamos preservando publicou o decreto estadual no. 20.930 (em parte das instalações. Onde a gente tinha 18 de maio de 1983), que desfez a mudança o acervo, conseguimos salvar todas as fitas nos estatutos e retornou o perfil da emissora com as cortinas d’água.” como instituição pública – nem estatal, nem comercial. Mas os circuitos de climatização dos ambien- tes fizeram com que a fumaça e os produtos No princípio, na Fundação Padre Anchieta, químicos usados pelos bombeiros se deposi- as coisas não correram tão bem para as for- tassem em todas as máquinas, o que exigiu ças democráticas. Um conselho ainda com- um longo período de limpeza desses circui- posto por grupos ligados ao regime militar tos. “Durante o incêndio houve momentos de e às elites conservadoras da USP elegeu consternação, de choro, uma coisa muito tris- para a presidência Renato Ferrari, advogado te”, acrescentou Munhoz. “Mas, ao meio-dia, e empresário (em junho de 1983). Com seu tocamos o barco pra frente. Tínhamos o Tea- espírito democrático, o governador Montoro tro Franco Zampari e procuramos fazer uma aceitou a escolha, considerando a histórica programação lá. E tivemos o apoio das outras autonomia da instituição. emissoras, da Bandeirantes, da TV Educativa do Rio de Janeiro. Enfim, a grade foi mais ou menos recuperada, passamos a produzir no Um incêndio nas teatro e dali a gente vinha e montava. E aí es- instalações da TV sas duas unidades eram nosso controle técni- co, nosso máster de programação.” Na década de 1960, talvez causados por uma combinação entre falta de planejamento de Na Fundação Padre Anchieta, o mandato de segurança e emergência e poucos recursos Renato Ferrari encerrou-se em 1986, logo de monitoramento, os incêndios infelizmen- depois do incêndio que destruiu parte das te foram frequentes no início da televisão no instalações da TV Cultura. Outras emisso-

Anos 1980 94 95 Anos 1980 ras deram seu apoio à TV Cultura, como a valeriam. Entre suas prioridades estavam os equivalente ao das melhores emissoras do Aprovado em reuniões do conselho curador TV Bandeirantes e a TV Educativa do Rio de programas infantis, um nicho de sucesso da país. A possibilidade de melhorar a qualida- em setembro e outubro de 1986, o novo es- Janeiro. Enfim, a grade de programação foi emissora; os programas jornalísticos e am- de da programação era garantida e viabiliza- tatuto entrou em vigor em 8 de fevereiro de parcialmente recuperada e a emissora pas- pliar o telejornalismo cultural, escolha que as da pela independência da fundação. 1987. Na organização funcional, aprofundou sou a produzir no Teatro Franco Zampari. outras emissoras pouco faziam, restringindo a profissionalização dos cargos diretivos, suas grades aos telejornais. Em março de 1987, Orestes Quércia foi em- com a criação de quatro diretorias, além possado governador de São Paulo e conviveu do já existente diretor-presidente: diretor- Muylaert: Para obter recursos o presidente introduziu sem maiores problemas com Muylaert. superintendente; diretor administrativo e uma gestão revolucionária na emissora instrumentos de captação por financeiro; diretor técnico; diretor de pro- meio de incentivos fiscais, valendo-se da Lei Porém, nem tudo foram flores. Em junho de gramação. A partir de então a diretoria exe- Terminado o mandato de Renato Ferrari, Ro- Sarney, aprovada naquele mesmo ano. 1989, o jornalismo da TV Cultura pediu demis- cutiva passou a ser remunerada. Na prática, berto Muylaert, profissional renomado da são coletiva por não haver aceitado uma ad- a presidência passou a ser compartilhada área de comunicação, foi eleito presidente O estatuto decretado por Montoro (maio de vertência do presidente Muylaert sobre maté- entre o diretor-presidente, que representa- da Fundação Padre Anchieta (em junho de 1983) e adotado pelo conselho constituía ria veiculada contra Quércia, na qual, durante va a fundação perante o conselho, a Justiça 1986). Para a diretoria de programação, as- uma grande evolução jurídica e institucional uma manifestação de professores, uma toma- e a sociedade, e o diretor-superintendente, sumiu o experiente diretor de televisão Ro- não só para a TV Cultura, mas para as demais da de câmara mostrou um cartaz com o rosto que administrava o dia a dia da fundação. berto de Oliveira, que montou uma equipe televisões públicas do país. do governador sendo pisoteado no meio da própria e iniciou um importante projeto de lama. A situação assumiu tais proporções que Desde o primeiro estatuto, de 1968, a dire- renovação da programação. Nesse contexto, Muylaert presidiu a TV Cul- Muylaert pediu demissão do conselho. toria executiva foi composta por um diretor- tura com amplo apoio do conselho e reco- presidente, um diretor-vice-presidente e um Em sua gestão, Muylaert acentuou a necessida- nhecimento da sociedade, atravessando Depois de reuniões e considerações de toda diretor econômico. O diretor-superinten- de de promover mudanças radicais na institui- algumas crises no setor de jornalismo e de ordem, o conselho formou uma comissão que dente ganhou amplas competências, entre ção e assumiu essa tarefa com grande energia. direção. Foi um período de profundas mu- convenceu Muylaert a reassumir seu cargo. No elas planejar, dirigir e controlar as ativida- danças, que tiveram como foco prioritário final do ano, em novembro, os funcionários da des da fundação; delegar poderes, consti- Numa entrevista concedida à Folha de S. obter eficiência operacional e melhoria na fundação entraram em greve por duas sema- tuir mandatários, em conjunto com o dire- Paulo, o novo presidente falou de alguns qualidade da programação. nas por melhores salários. No contexto da cri- tor-presidente. de seus problemas e de suas tarefas. Con- se, manifestou-se profunda divergência entre tou que após o incêndio a TV Cultura viu-se Com o intuito de marcar os novos tempos, logo o presidente e o diretor de programação, Ro- reduzida em 90% de sua capacidade, com de início a marca RTC foi eliminada, adotando- berto de Oliveira, que se retirou da fundação. Música de concerto e MPB um orçamento bem reduzido para seu pri- se a tradicional TV Cultura, embora a mudança meiro ano de trabalho, quando a maior parte não recebesse o apoio integral do conselho. Na área das rádios, o conselho curador rea- de recursos de reconstrução seria gasta em Base democrática no conselho e firmou a especialização da Rádio Cultura FM equipamentos. Para ele, os problemas da TV Um dos convidados para a equipe de refor- profissionalização na equipe na transmissão da música de concerto, fican- Cultura deveriam ser atacados em sua tota- mulação do logotipo foi o cenógrafo Marcos do a música popular a cargo da Rádio Cul- lidade, mas com mudanças calculadas, man- Weinstock, que fez um logo de madeira em Desde maio de 1983 o estatuto decretado por tura AM, que deixou de ser exclusivamente tendo-se o que funcionava bem e valorizan- 3D, iluminado por uma semana com várias Montoro e adotado pelo conselho curador educacional. Numa época em que as emis- do a qualidade do corpo técnico. camadas de vidro, onde cada vidro tinha um constituía uma enorme evolução jurídica e ins- soras de rádio praticamente não davam es- pedaço da figura do padre Anchieta. titucional não só para a TV Cultura, mas para paço para a música brasileira, a Cultura AM Muylaert acreditava que era preciso buscar o as demais televisões públicas do país. A refor- passou a dedicar sua programação ao me- crescimento de audiência dentro dos princí- Muylaert e sua equipe introduziram um com- mulação começou por mudanças que amplia- lhor da MPB. Prosseguiu, nessa década, com pios de uma emissora educativa. Do contrá- ponente novo a uma fórmula já vitoriosa: a ram a base democrática do conselho curador a produção de programas educativos, mas rio, os planos para a programação de nada adoção de um padrão de qualidade técnica e reforçaram o poder dos cargos técnicos. com formatos de entretenimento.

Anos 1980 96 97 Anos 1980 Nesse contexto, surgiu Matéria Prima, apre- O programa tinha três personagens fixas, sentado por Serginho Groisman, o primeiro que misturavam em suas figuras humor, programa de rádio voltado para o público alegria, curiosidade e fantasia. Verônica adolescente e jovem. Anos depois, o formato Julian era a moça, Roberto Domingues, o foi reestruturado e adaptado para a televi- rapaz, e Luis Mello, Gororoba. Catavento são, obtendo enorme sucesso na TV Cultura. também era apresentado por bonecos ma- nipulados pelo cartunista José Alberto Lo- A Rádio Cultura FM, nos anos 1980, trouxe vetro e Louis Chilson. para os estúdios personalidades influentes da música clássica da cidade de São Paulo, Este programa foi um dos trabalhos mais pri- como os maestros Walter Lourenção e Júlio morosos da TV Cultura, recebendo o Prêmio Medaglia, o pianista e professor Gilberto Ti- Japão, promovido pela NHK em 1985, e o Logotipo do programa Catavento, 1985. netti e o compositor e pianista Amaral Viei- Prêmio Coral como melhor programa infantil ra. Eles apresentavam os programas com o no 9º Festival Internacional de Cinema, Ví- cuidado e a precisão com que regiam seus deo e Televisão realizado em Cuba em 1987. Gravação do programa Catavento, 1985. concertos. O resultado foi uma programação dinâmica e de alta relevância. Foi criado o Guia do Ouvinte, folheto com a programação Roda Viva – mensal das rádios distribuído gratuitamente um acervo de ideias pelo correio aos ouvintes cadastrados. São sobre a vida brasileira criadas chefias próprias para as rádios e efe- tiva-se um aumento da potência dos trans- Transmitido ininterruptamente desde 1986, missores de 50 para 100 kW. o Roda Viva é o mais antigo programa de entrevistas e debates da televisão brasilei- ra. Feito em uma arena, uma roda de en- Prêmios para a trevistadores e um entrevistado no centro. programação infantil Um formato original, com uma hora e meia, o maior tempo dado pela televisão brasilei- O programa infantil Catavento, produzido ra a um entrevistado. para crianças em fase pré-escolar, estreou em outubro de 1985. Era realizado com o apoio de Marcos Weinstock foi o responsável pela ce- pedagogos e psicólogos, com o objetivo de nografia singular do programa. Seu primeiro desenvolver conceitos, habilidades e aptidões mediador foi o jornalista Rodolfo Gamberini. necessárias para que as crianças pudessem Desde então, exerceram a função importan- superar as dificuldades no desenvolvimento tes jornalistas brasileiros, entre eles Rodolfo intelectual e psicomotor, preparando-as para Konder, Heródoto Barbeiro, Lilian WitteFibe, iniciar o processo de alfabetização. As brin- Matinas Suzuki, Mário Sérgio Conti. Desde cadeiras, dramatizações, canções, bonecos e 2018 a âncora é o jornalista Ricardo Lessa. animações ajudavam na coordenação moto- ra, pronúncia correta das palavras, conheci- Políticos, acadêmicos, pensadores, artistas, mento do corpo, linguagem gestual, raciocí- representantes dos poderes públicos ou de nio lógico, percepção táctil, auditiva e visual. minorias em busca de espaço no debate

Anos 1980 98 99 Anos 1980 nacional, enfim, brasileiros que construíram Nossa linha editorial era comprometida com o pensamento crítico a respeito da vida e a defesa desses valores e princípios, mas do mundo, já expuseram suas ideias a mi- também com a aceitação das diferenças e lhares de brasileiros neste programa. a valorização da diversidade. O jornal tinha uma ética que o distinguia”, disse Rodolfo Roberto de Oliveira, um dos grandes nomes da Konder em depoimento à TV Cultura. TV Cultura e um colaborador comprometido com a missão social da instituição, então diretor Vários nomes importantes abrilhantaram as de programação, tinha a expectativa de ter um bancadas, como: Airton Soares, Alexandre grande programa de entrevistas num modelo Schwartsman, Arlene Clemesha, Eduardo que o diferenciasse da maioria produzida por Muylaert, Ethevaldo Siqueira, Flávio Galvão, outras emissoras. Roda Viva foi um verdadeiro Gaudêncio Torquato, João Marcello Bôsco- mapa da sociedade e do pensamento do país, li, José Álvaro Moisés, Leandro Karnal, Luiz não só na década de 1980 como nas seguintes. Felipe Pondé, Marcelo Tas, Mário Sérgio Cor- tella, Maristela Basso, Modesto Carvalhosa, Paulo Saldiva, entre outros. Um novo formato para o telejornal Novidades no ar O Jornal da Cultura foi o principal telejornal pro- duzido pela emissora e apresentado no período Da mesma fase é o Vitória, programa es- noturno, de segunda a sexta, partir das 21h15. portivo de formato inovador, voltado para os esportes radicais, skate, surf, mountain Estreou no dia 29 de dezembro de 1986 sob bike e outros. Além da temática inovadora, Gravação do programa Roda Viva, 1986. o comando de Hamilton Tramontá, e em 30 utilizava a estética e a musicalidade dos vi- de setembro de 2013 foi produzido o Jor- deoclipes na edição das matérias. Estreou nal da Cultura 1a Edição, o noticiário das 12h. em novembro de 1986 e era apresentado

Seus apresentadores também comentam aos domingos à noite com grande audiên- Logotipo do programa Roda Viva. as principais notícias esportivas. Até 2017, o cia. No ano seguinte, foi ao ar o programa programa era chamado de JC Debate. Olhar Feminino, que ocupou o lugar de Pa- lavra de Mulher. Suas pautas contavam com convidados para discutir assuntos como economia, política, saúde e educação, que debatiam os prós e A riqueza da produção os contras, contando com o ponto de vista cultural brasileira do cidadão. O programa Metrópolis foi ao ar num mo- “Na época era uma experiência diferente ter mento em que o telespectador quase não alguém que comentasse as notícias. Acho tinha opções para se informar sobre arte na que a essência da democracia é o respeito TV. Estreou em 4 de abril de 1988, já como às diferenças e à diversidade, mas também um programa diário e ao vivo, com atrações acho que há valores e princípios universais. musicais e performances teatrais no estúdio.

Anos 1980 100 101 Anos 1980 Ricardo Soares, piloto do programa Metrópolis, 1988. Os primeiros apresentadores foram Lúcia Soares, Ricardo Soares e Maria Amélia Ro- cha Lopes coordenando a equipe de criação, dirigido por Ninho Moraes e trazendo Delta de Negreiros como editora-chefe. Mostrava a riqueza da produção cultural brasileira, não apenas a da maior metrópole do país, mas também de outras cidades do mundo.

Ao revelar a diversidade dessa produção e reunir elementos da cultura erudita, popu- lar, urbana e todas as formas de manifesta- ção artística, o Metrópolis ajudou a iluminar a cena cultural e colaborou para a formação das novas gerações de artistas e consumido- res de cultura do país.

O cenário era uma verdadeira galeria de arte, reunindo a produção de artistas convidados que criaram obras de arte especiais para o pro- grama, tais como: , , Ivald Granato, Flávio Shiró, Arthur Luiz Piza.

Uma noite marcou especialmente o primeiro ano do programa. Depois de passar um pe- ríodo nos EUA, em tratamento contra a aids, voltou ao Brasil e gravou o disco Ideo- logia. A estreia da turnê nacional aconteceu no dia 17 de agosto de 1988 no Aeroanta, em São Paulo, com a direção de . O Metrópolis conversou com Cazuza e Ney Ma- togrosso, e ainda transmitiu o show ao vivo.

A rica e inovadora natureza diária da progra- mação da TV Cultura impediu que a televisão parasse em função de qualquer crise. Assim, a década chegou ao fim com a continuidade da gestão Muylaert, apesar da crise interna e da campanha para as primeiras eleições diretas para presidente da República desde 1960, que agitou o país e culminou na eleição de Fernando Collor de Mello.

Anos 1980 102 103 Anos 1980 1980 1981 1982 1983

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA A Fundação Padre Anchieta compra o Teatro Fran- dez | Início do terceiro mandato de Antônio Soares mar | Início do mandato de Roberto Costa de Abreu fev | O Tribunal de Justiça concede mandado de co Zampari, o que permitirá a produção de progra- Amora como presidente da fundação. Sodré como presidente do conselho curador da Fun- segurança para invalidar os decretos pelos quais mas de auditório. O alcance do sinal da TV Cultura amplia-se no in- dação Padre Anchieta (até 1987). o governador Marin havia alterado os estatutos Estreia de Viola, Minha Viola. terior do estado de São Paulo graças a um con- jul | O Decreto Estadual nº 19.129 aprova o novo da Fundação Padre Anchieta e dissolvido o con- selho curador. É transmitido o 2º Festival Internacional de Jazz. vênio firmado entre o governo e o Ministério das estatuto da fundação, marcando a tentativa do Comunicações. executivo estadual de exercer controle direto so- mai | O Decreto Estadual nº 20.930 revoga os decre- RTC Notícias é transmitido em dois horários, matuti- bre a entidade. tos que mudavam o estatuto, retornando a emissora no (12h40) e noturno (20h), com noticiário nacional Estreiam programas de auditório educativos de ao seu caráter de instituição pública, nem estatal e internacional sobre política, artes e esportes. formato inovador, que marcaram época: Qual é o Estreia Super Grilo, destinado ao público jovem e Grilo?, voltado para estudantes da segunda fase do adulto, realizado ao vivo, com a presença de espe- nem comercial. É veiculado o curso Alfabetização Funcional pela TV. ensino fundamental, Quem Sabe, Sabe, comandado cialistas de diferentes áreas do conhecimento. jun | Renato Ferrari é empossado como presidente Fique por Dentro oferece a alunos de 1º grau infor- por e dirigido a adolescentes e É Estreia , programa de jornalismo executivo da Fundação Padre Anchieta. mações e habilidades relacionadas ao currículo. Câmera Aberta Proibido Colar, apresentado por Antonio Fagundes investigativo. nov | A TV Cultura não participa de encontro do Sinted e Clarisse Abujamra, uma gincana de brincadeiras e TVS BRASILEIRAS É exibido o , programa em que em protesto à portaria nº 162, de 31/8/1982, que deter- desafios entre escolas da rede pública. Vestibular da Canção O governo federal cassa as concessões e fecha to- estudantes de ensino médio competem em conhe- minava que as TVs educativas fossem subordinadas à

das as emissoras de televisão dos Diários Associa- Estreia Curumim, programa infantil educativo, dedi- cimento, criatividade e desempenho musical e que TVE do Rio de Janeiro. dos, entre elas a TV Tupi de São Paulo, por conta das cado a crianças de 3 a 6 anos. teve convidados como , Ivan Estreia Fábrica do Som, programa de música apre- dívidas do grupo. Estreiam os programas musicais Som Pop e Festa Lins, Jor, , Caetano Veloso, Chico sentado por Tadeu Jungle e gravado no Sesc Pompeia A Associação Brasileira de Rádio e Televisão – Abert Baile, exibido aos sábados, que revivia os tempos Buarque e Tom Jobim, entre outros. que abriu espaço para a divulgação do rock paulista. dos salões de baile, com canções célebres e convi- Estreia de Ligue para um Clássico, revista sobre mú- Reestreia da revista de artes e espetáculos Panorama. elabora e adota o segundo Código de Ética da Ra- diodifusão. dados especiais. sica erudita ao vivo, com participação e prêmios TVS BRASILEIRAS Existem no país 106 emissoras comerciais e 12 estatais. Estreia o programa feminino Palavra de Mulher. para os telespectadores. É criado oficialmente o Sistema Nacional de Radio- Estreia na TV Globo o programa TV Mulher, coman- A teledramaturgia volta com as produções Tele Ro- Esporte Opinião, dirigido por Orlando Duarte, traz mance e Tele Conto, e é também produzida a série debates entre personalidades do mundo esportivo. difusão Educativa – Sinred, vinculado ao MEC e ao dado por Marília Gabriela, sobre assuntos como be- Ministério das Comunicações. leza, moda, direitos, sexualidade e família. especial histórica Aventuras do Teatro Paulista. Nova fase do Bambalalão, que passa a ser transmiti- É veiculado o Telecurso Rural. do ao vivo do auditório da TV Cultura. O Grupo Manchete, de Adolfo Bloch, que recebera Estreia o Programa do Bozo, na TVS, adaptação do parte das emissoras dos Diários Associados, inaugu- programa de auditório infantil norte-americano co- TVS BRASILEIRAS TVS BRASILEIRAS ra a . mandado pelo palhaço Bozo. O Grupo Silvio Santos ganha a concessão de parte A televisão realiza o primeiro debate político em Estreia na Globo o programa infantil Balão Mágico, das emissoras dos Diários Associados e inaugura o rede nacional, entre Franco Montoro e Reinaldo apresentado por crianças do grupo musical Turma Sistema Brasileiro de Televisão – SBT. de Barros. do Balão Mágico. Desde agosto é exibido nacionalmente o Programa A é a primeira emissora brasileira Na TV Manchete, o Clube da Criança inicia um novo Sílvio Santos (criado em 1963 pelo apresentador na a usar satélite em suas transmissões nacionais. modelo de programa infantil, apresentado pela es- TV Paulista), célebre programa de auditório domini- treante Xuxa. BRASIL cal composto por jogos, gincanas e disputas musi- O , da Rede Globo, é o programa de cais com atrações como Qual é a música?, Namoro Com a renúncia de Paulo Maluf para disputar uma maior audiência da televisão brasileira. na TV, Porta da Esperança e Tudo por Dinheiro. vaga de deputado federal, o vice-governador eleito pelo colégio eleitoral José Maria Marin assume o car- BRASIL go (mai 1982 - mar 1983). 15 mar | Na retomada das eleições diretas nos esta- dos, André Franco Montoro assume o cargo de go- vernador de São Paulo (mar 1983 - mar 1987).

Irmãs Galvão no programa Viola, Minha Viola, 1980. Gravação de Qual é o Grilo?, 1981. Cenário de Ligue para um Clássico, 1982. Fábrica do Som, 1983.

Anos 1980 104 105 Anos 1980 1984 1985 1986 1987

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA 25 jan | A TV Cultura faz a cobertura ao vivo do co- Estreia Catavento, programa infantil gravado por fev | Virgílio Lopes da Silva exerce o cargo de pre- abr | Início do mandato de Geraldo Salles Colonnese mício realizado na Praça da Sé a favor de eleições crianças, atores e músicos, que utiliza dramatiza- sidente executivo da Fundação Padre Anchieta por como presidente do conselho curador da Fundação diretas presidenciais, desencadeando o apoio da te- ções, canções, brincadeiras, bonecos e animação, um curto período. Padre Anchieta. levisão brasileira ao movimento Diretas Já. premiado internacionalmente. 28 fev | Um incêndio destrói 90% dos equipamentos Boca Livre, musical com apresentação ao vivo de Estreia dos programas infantis Almanaque Bambala- Estreia Vestibulando, com a participação de dez da TV Cultura, deixando-a fora do ar por três horas. Kid Vinil e Dada Cyrino, dá espaço a grupos amado- lão e Lanterna Mágica. professores especializados na preparação de estu- jun | Roberto Muylaert toma posse como presidente res e bandas de garagem. Grandes Momentos do Esporte, apresentado por Hé- dantes para o vestibular. executivo da Fundação Padre Anchieta, cargo que Estreia Enigma, programa com charadas e pistas, com lio Alcântara, é dedicado a explorar fatos e persona- O programa Café Concerto, liderado pelo Zimbo ocupa por três mandatos consecutivos (até 1995). a participação do público em auditório em um cenário gens da história do esporte internacional. Trio, recebe músicos e grupos instrumentais. São realizadas duas mudanças consecutivas no es- inspirado no Egito Antigo. Cine Brasil é um espaço da programação para a exi- Caleidoscópio convida o público adolescente, com tatuto da Fundação Padre Anchieta, que tem seu Allegro traz a música erudita para um programa de com- bição de curtas e médias-metragens nacionais, se- humor inteligente, a ativar sua imaginação para con- novo texto aprovado por decreto estadual em no- petição entre estudantes e conta com um quadro fixo guido por debates com convidados. A partir do ano seguir um número ilimitado de combinações na aná- vembro. sobre história da música com o maestro Almeida Prado. seguinte passa a exibir filmes da Vera Cruz. lise de determinado assunto. Implantação do Centro de Documentação – Cedoc, Estreia Eureka, um programa de invenções, ciências Como parte do Projeto Ipê são produzidos cursos Teatro 2, com supervisão de Nídia Lícia, dá se- visando organizar o acervo documental da emissora. e criatividade. de atualização para professores e especialistas em quência a adaptações de peças de teatro para Estreia do programa de entrevistas Roda Viva. Estreia Jogo de Cintura, programa ao vivo que ex- a televisão, realizadas a cada episódio por uma educação do 1º e 2º graus, incluindo distribuição de Estreia o , substituindo plora os diversos estilos de dança, com competi- equipe diferente. Jornal da Cultura o RTC fascículos e organização de exibições em telepostos. Notícias. ções e conteúdos sobre cada um. Estreia Leitura Livre, sobre os principais aconteci- TVS BRASILEIRAS Estreia Revistinha. Programa diário, ao vivo, com As conversas do MPB Especial, sob direção de Fer- mentos do campo literário. mar | O Brasil começa a operar o Brasilsat I, seu pri- uma linguagem dinâmica, traz informação, humor e nando Faro, passam pelas mais diferentes tendên- cias e gêneros da música brasileira. TVS BRASILEIRAS meiro satélite doméstico, com 24 canais. desafios em entrevistas e quadros sobre assuntos variados, como saúde, ecologia, poesia, relações so- Constituinte 87 traz três boletins diários com exibição A Rede Globo deixa de transmitir o Sítio do Picapau São instalados, no Rio de Janeiro, os primeiros ca- ciais e esporte. da cobertura dos debates no Parlamento nacional. bos de fibra ótica, o que facilita a introdução do Amarelo, levado ao ar desde 1977. Estreia , programa esportivo de formato ino- videotexto. A Rede Manchete inicia a transmissão do documen- Vitória TVS BRASILEIRAS vador, voltado para os esportes radicais. Vai ao ar Perdidos na Noite, primeiro pela TV Gazeta, tário em capítulos Xingu, a terra mágica dos índios, Existem 31 milhões de aparelhos de TV no país, sen- depois pela Record. O programa, marcado pelo impro- de Washington Novaes, que dá início a uma nova TVS BRASILEIRAS do 12,5 milhões em cores. fase na produção do gênero para a TV no Brasil. viso, revelou Fausto Silva na TV. jun | Estreia na TV Globo o Xou da Xuxa, consagrando A TV atinge uma audiência potencial de 90 milhões BRASIL a apresentadora Xuxa como “rainha dos baixinhos”. de telespectadores, o que equivale a 63% da popula- 15 jan | Tancredo Neves, do PMDB, é eleito pelo colé- É inaugurada a TV Educativa da Bahia, vinculada à ção brasileira. gio eleitoral o primeiro presidente da República civil Fundação de Radiodifusão Educativa da Bahia. 3 dez | Entra em operação o primeiro sistema de desde 1960. televisão a cabo por assinatura do país: a TV Cabo 15 mar | O vice José Sarney toma posse como pre- Presidente Prudente. sidente da República em lugar de Tancredo, que se Começa a ser exibido pela TV Gazeta o programa TV encontra internado com graves problemas de saúde. Mix, um misto de jornalismo, comportamento, varie- 21 abr | Morre Tancredo Neves. dades e humor num formato inovador e pioneiro em interatividade com o público. A apresentadora Angélica, com apenas 14 anos, assu- me o comando do Clube da Criança, na TV Manchete.

BRASIL 15 mar | Orestes Quércia é empossado governador do estado de São Paulo.

Jornal da Cultura, com o apresentador Marcelo Rubens Paiva em gravação do Leitura Livre, 1984. Abertura do Vestibulando, 1985. Carlos Nascimento, déc. 1980. Enigma, 1987.

Anos 1980 106 107 Anos 1980 1988 1989 Olodum, programa Metrópolis, 1990.

TV CULTURA TV CULTURA Estreia Metrópolis. O programa, que fechava a pro- jun | Início do segundo mandato de Roberto Muylaert gramação diária da TV Cultura, inovou ao criar o na presidência da fundação. conceito de agenda cultural. nov | Funcionários da Rádio Cultura encerram a gre- Estreia Repórter Especial, programa de jornalismo ve que já durava duas semanas e que reivindicava investigativo. reposição salarial de 55%. Os radialistas desistem da Estreia Primeiro Movimento, programa de entrevis- greve e vão recorrer à justiça. tas, reportagens e apresentações conduzido pelo dez | A Fundação Padre Anchieta demite mais de 50 regente e compositor Jamil Maluf, direcionado a di- funcionários, causando ameaça de nova greve. vulgar a música erudita através de uma linguagem Lançamento do livro Cultura 20 anos. informal e acessível. Com De Olho no Voto, a TV Cultura suspende sua TVS BRASILEIRAS programação rotineira por três dias para a apresen- Quase 3 milhões de aparelhos de videocassete são tação de uma nova cobertura jornalística das elei- utilizados no país. ções, com boletins, matérias e reportagens exclusi- vas sobre a movimentação da votação no país. É promulgada em fevereiro a primeira legislação es- pecífica sobre TV a cabo no Brasil, o decreto 95.744, O programa Jazz Brasil transmite uma série de shows que autoriza a recepção de sinais através de uma realizados no Auditório Cultura, com apresentação antena coletiva e sua redistribuição por cabo. do produtor e crítico musical Zuza Homem de Mello. Além dos shows, traz entrevistas com os músicos e A nova Constituição brasileira inclui modificações no intérpretes, informações sobre suas carreiras e de- sistema de concessões de canais de rádio e televisão. poimentos de amigos. O decreto nº 96.291, de 1988, e a portaria MEC nº 93, do ano seguinte, estabelecem os parâmetros TVS BRASILEIRAS para que as retransmissoras de televisões educati- nov | A Igreja Universal do Reino de Deus, liderada vas pudessem inserir, em nível local, programas de pelo bispo Edir Macedo, compra a Rede Record. interesse comunitário em até 15% do total da pro- Mais de 64% das residências do país estão equipa- gramação, abertura que provocou o crescimento de das com aparelhos de televisão. todo o sistema. O Ministério das Comunicações edita a portaria 250/89, que disciplina a distribuição de sinais de televisão aberta pelas antenas comunitárias, implan- tando o Serviço de Distribuição de Sinais de TV por Meios Físicos, o DISTV. Apesar de ainda não discipli- nar os serviços de TV por assinatura, desencadeou a regulamentação da TV a cabo. Estreia o Domingão do Faustão, na Globo, com brin- cadeiras e quadros com celebridades na disputa pela audiência das atrações televisivas aos domingos.

Maquete do Metrópolis, 1988. A cantora Rosa Maria no Jazz Brasil, 1990.

Anos 1980 108 109 Anos 1980 Regina Célia Anhelli (Gigi), Marilam Sales (Palhaço TicTac) e Chiquinho Brandão (Professor Parapopó), programa Bambalalão, 1982.

110 111 Programa piloto do Roda Viva, 12 de setembro de 1986.

112 113 Viola, Minha Viola, Teatro Franco Zampari, 1986.

114 115 Expectativa e desilusão

O ano de 1990 foi atribulado, com as pri- quanto de entidades sindicais patronais e meiras medidas tomadas pelo presidente de trabalhadores. Fernando Collor de Mello. Eleito presidente por um partido pequeno, o PRN (Partido Cresciam as denúncias de irregularidades da Reconstrução Nacional), que ele mesmo na área federal. A principal delas ficou co- criara para concorrer, Collor tomou posse nhecida como “Esquema PC Farias”. Desde em 15 de março de 1990, prometendo eli- a campanha eleitoral de 1989, quando foi minar a inflação, modernizar o país e mora- tesoureiro da chapa de Collor na disputa lizar a administração pública. da presidência, Paulo César Farias exercia um forte poder de influência no Palácio do No dia seguinte, o governo anunciou seu Planalto, em vários órgãos de governo e Plano de Estabilização Econômica, que fi- em muitos segmentos da iniciativa privada. caria conhecido como Plano Collor. Um pa- cote radical de medidas econômicas, entre Diante das denúncias de corrupção no nú- elas uma em especial que causou perplexi- cleo central do governo, uma CPI foi insta- dade na população e provocou filas dian- lada para apurá-las. te das agências bancárias: o bloqueio dos saldos em conta corrente, por dezoito me- Ciente da gravidade das acusações, no dia ses, incluindo as até então intocáveis ca- 13 de agosto Collor faz um discurso de im- dernetas de poupança que excedessem 50 proviso no qual pede que o povo saia às ruas mil cruzeiros. vestindo as cores da bandeira nacional como forma de manifestar seu apoio. Em vez do As primeiras consequências do novo go- verde e amarelo sugerido pelo presidente, verno não tardam a ser sentidas. Logo de alguns jornais circulam com uma tarja preta início ocorreu o desmanche dos órgãos fe- na primeira página, e, com essa cor, milhares derais de cultura, com a extinção do MinC de pessoas vão para as ruas demonstrar in- – substituído por uma Secretaria de Cultu- satisfação com o presidente. Entre os mani- ra, diretamente vinculada à presidência da festantes, um grande número de estudantes República –, da Funarte, da Embrafilme e que ficou conhecido como “caras-pintadas”, da Lei Sarney de incentivo às produções pelo fato de pintarem o rosto com as cores culturais. Não demorou muito, o governo da bandeira nacional em forma de protesto conseguiu do Congresso Nacional a apro- contra a falta de ética na política. vação da maioria de suas medidas. O processo de impeachment de Collor foi Com essas políticas públicas, começou um rápido: a denúncia foi apresentada no dia 1º processo de desilusão da população com de setembro de 1992 e no dia 29 a Câmara o novo governo. Em 31 de janeiro de 1991, Federal aprovou a admissibilidade do pro- a escalada inflacionária obrigou o gover- cesso. Quando ficou claro que seu impea- no a baixar o Plano Collor II, que provo- chment seria aprovado poucas horas mais cou forte resistência tanto de empresários tarde pelo Senado, Collor renunciou ao car-

116 117 Anos 1990 Torre de transmissão da TV Cultura no bairro do Sumaré, em São Paulo, déc. 2000. go em 29 de dezembro de 1992. No entanto, Uma antena para todos o Senado prosseguiu o julgamento, conde- nando-o à inelegibilidade e à inabilitação, A crise no governo federal e a mudança do por oito anos, para o exercício de qualquer governo estadual pouco interferiram no dia cargo público. Quatro horas depois, Itamar a dia da Fundação Padre Anchieta, e a TV Franco foi efetivado na presidência. Cultura atravessou um período razoavelmen- te tranquilo.

No governo paulista Em 1992 foi inaugurada a nova antena da emissora, fato decisivo em seu futuro. O en- Logo nos primeiros meses de seu mandato, tão presidente Muylaert fez uma pesquisa iniciado em 15 de março de 1991, Luiz Antônio para saber quais residências recebiam o si- Fleury Filho teve que lidar com denúncias de nal da TV Cultura. A conclusão foi que a corrupção e enriquecimento ilícito que atin- programação não chegava à periferia e era giam o ex-governador Orestes Quércia. Es- assistida somente pelas classes A e B. ses fatos e os próprios planos de Fleury em relação a seu futuro político o deixaram numa A antena que fora projetada para a ci- situação delicada, fazendo-o oscilar entre a fi- dade de Londres, cedida pela TV Tupi à delidade e o rompimento com Quércia duran- TV Cultura, mesmo instalada no Pico do te todo o seu governo. Da gestão de Quércia, Jaraguá, não conseguia ultrapassar os Fleury herdou também uma enorme dívida e obstáculos topográficos da cidade mon- uma série de obras paralisadas. Outra dificul- tanhosa de São Paulo. Naquela época, dade enfrentada pelo novo governador foi a só quem tinha antena externa conseguia recessão econômica causada pelas medidas captar o sinal. Como resultado a TV Cul- tomadas pelo governo do presidente Fernan- tura ganhou a alcunha de “TV mais elitis- do Collor de Melo (1990-1992). Essa recessão ta do Brasil”. atingia particularmente São Paulo, o maior centro industrial do país. Um terreno no Sumaré foi arrendado pela fundação, por quarenta anos, renováveis O ano de 1992 foi marcado por uma tragédia por outros quarenta. Em seguida, o pre- que abalou a imagem do governador paulis- sidente Muylaert foi aos Estados Unidos ta. No dia 2 de outubro houve uma revolta comprar os equipamentos necessários. na Casa de Detenção situada no bairro do Em Los Angeles, negociou o que havia de Carandiru, quando enfrentou, possivelmente, mais moderno à época e a TV Cultura tor- a mais grave crise de seu governo, o Massa- nou-se pioneira no país com a montagem cre do Carandiru, quando uma intervenção da nova antena. da Polícia Militar para conter uma rebelião na Casa de Detenção de São Paulo causou a Aquela obra foi imprescindível para que a morte de 111 detentos. emissora fosse captada também pelas clas- ses menos favorecidas e mudou o perfil dos Em sua gestão, o Estado contraiu muitas espectadores, que passou a ser predominan- dívidas. temente das classes C e D.

Anos 1990 118 119 Anos 1990 Há alguns anos a TV Cultura reivindicava o verdadeira surra nas concorrentes comerciais direito de transmissão via satélite. Depois de e em pleno horário nobre, chegando a ocupar muitas tentativas junto a Antônio Carlos Ma- o segundo lugar de audiência. galhães, ministro das Comunicações de 1985 a 1990, finalmente se conseguiu a transmis- são via Brasilsat. Desde então, a programa- Rá-Tim-Bum... ção da TV Cultura se difundiu às demais te- levisões estaduais que não tinham recursos O nome do programa foi escolhido por Edu técnicos ou financeiros para produzir suas Lobo, autor da trilha sonora, durante um al- programações completas. Ao adotarem a moço com , o diretor, e programação da TV Cultura as emissoras a equipe de produção. “A gente estava di- públicas constituíram, de fato, uma rede na- zendo para eles que a festa mais importan- cional de televisão educativa e cultural. te para uma criança é o dia do aniversário”, conta Célia Regina Ferreira Santos, na épo- Até aquele ano, as educativas do país faziam ca uma das responsáveis pela programa- parte de um sistema chamado Sinred – Sis- ção infantil da emissora. “Foi quando o Edu tema Nacional de Radiodifusão Educativa –, Lobo sugeriu: ‘Por que não Rá-Tim-Bum?’, coordenado pela TVE do Rio de Janeiro, a inspirado no bordão do ‘Parabéns a você’.” única emissora federal que possuía transmis- são nacional via satélite analógico. Quando a Quando o programa já estava sendo prepa- TV Cultura passou a transmitir sua programa- rado, Muylaert recebeu a visita da equipe do ção em outro sinal de satélite, também ana- Children’sTelevision Workshop, acompanha- lógico, e a oferecer gratuitamente sua pro- do de um representante do Banco Mundial. gramação, a migração começou a acontecer A proposta era a produção de um projeto natural e principalmente pela qualidade dos de 200 milhões de dólares que seriam desti- programas. Nesse período, entre 60 a 70% da nados para a Secretaria da Educação, sendo Os astronautas Zero e Zero Zero, Rá-Tim-Bum, 1989. programação nacional dos canais educativos que 18 milhões iriam para a TV Cultura pro- eram da TV Cultura, e entre 30 a 40% da TVE. duzir Vila Sésamo. Numa segunda reunião, Muylaert apresentou o projeto para o Rá- Durante a gestão de Muylaert a TV Cultura Tim-Bum, que foi elogiado, mas ficou aquém Dionísio Jacob, e direção-geral de Fernando personagens carismáticos e um roteiro inteli- não enfrentava problemas financeiros para dos parâmetros que o Banco Mundial apro- Meirelles. Foi produzido entre 1990 e 1994 e gente e divertido, criou uma nova linguagem pagar o então satélite analógico, que nacio- vava. Decidido a não gastar os 18 milhões reprisado durante anos pela própria emisso- na programação infantil da TV brasileira. nalizou a programação infantil da TV Cultu- de dólares no Vila Sésamo, pois já sabia que ra, pela TV Brasil e pela TV Rá Tim Bum!. ra, além de dar aos programas jornalísticos conseguiria produzir o Rá-Tim-Bum por 2,5 Foi sem dúvida um contraponto original na uma importância maior. milhões, Muylaert resolveu falar com Mário Seu sucesso estrondoso o transformou numa programação infantil televisiva, que desde Amato, então presidente da FIESP, institui- grife, dando sequência ao Castelo Rá-Tim- meados­ dos anos 1980 tinha consagrado o Com a criação e a produção de programas ção que patrocinou 70% do orçamento, ca- -Bum (1994), programa ainda mais bem-su- modelo­ de programa comandado por uma novos, em busca de alternativas de qualida- bendo a diferença à TV Cultura. cedido do que seu antecessor. Juntos, rece- apresentadora­ jovem, com brincadeiras, atra- de, a TV Cultura teve um grande aumento de beram uma coleção de prêmios nacionais e ções, coreografias e desenhos animados, de audiência: do traço para a quase totalidade Rá-Tim-Bum estreou em 5 de fevereiro de internacionais, entre eles a medalha de ouro que o Xou da Xuxa é o exemplo de maior su- dos programas, em 1986, a 11 pontos na faixa 1990, com roteiro de Flávio de Souza, Cláu- do Festival de Cinema e TV de Nova York de cesso. Os programas Rá-Tim-Bum ressaltaram das 19 horas a partir de 1992. Assim, deu uma dia Dalla Verde, Bosco Brasil, Mário Teixeira e 1990. Com um formato moderno e arrojado, o envelhecimento e as limitações da fórmula.

Anos 1990 120 121 Anos 1990 Serginho Groissman no programa Matéria Prima, 1991. A cultura em vitrine

Vitrine estreou em 1990. Em princípio tinha o dos anos 1990, foram entrevistados Tom Zé, objetivo de falar da própria TV Cultura, para Gonzaguinha, Caetano Veloso, Tim Maia, chamar a atenção do telespectador para ou- Arlindo Cruz, Ney Matogrosso. Foram cerca tros programas da emissora, mas em pouco de setecentas edições contando as três ver- tempo seu foco foi ampliado para falar de sões do programa, um acervo precioso que comunicação de uma forma mais abrangen- retrata toda uma época da produção musi- te. O programa abordava assuntos sobre ci- cal no Brasil. nema, teatro, internet, entre outras mídias, e foi apresentado pelos jornalistas Renata Ce- Com formato único, entrevistas intimistas, ribelli, Sabrina Parlatore e Marcelo Tas. close nos artistas e muitas pausas de silên- cio, Faro conseguiu produzir uma referência O programa, que já era um marco entre 1993 e à liberdade do artista, que se permitia até 1998, passou a mostrar experiências interna- errar ao longo das gravações. Nesse clima cionais, e Japão, Estados Unidos e Inglaterra informal e intimista, as entrevistas revelaram foram algumas de suas paragens. Mostrava ao público facetas desconhecidas dos músi- com ineditismo os códigos de comunicação cos e eternizaram momentos memoráveis da em outros cantos do mundo. Nessa época, música brasileira. num esforço conjunto, o Vitrine também se destacou por ser o primeiro programa de TV transmitido pela internet. Na TV Cultura o jovem sempre teve voz e vez Nos últimos anos, antes de sair da grade de programação (2012), seus apresentadores Um auditório adolescente era o protagonista foram Carla Fiorito e Rodrigo Rodrigues. do programa Matéria Prima, que entrou no ar em 1990, apresentado por Serginho Groisman. Nele a juventude intervinha diretamente na A sensibilidade condução da entrevista com personalidades de Fernando Faro dos mais diversos campos de atuação. O apre- sentador vinha de um sucesso experimental Ensaio, produzido desde 1969 na TV Tupi e na TV Gazeta, a TVMIX, ao ancorar de forma realizado com o nome de MPB Especial no inusitada três câmeras ao mesmo tempo. início da TV Cultura (entre 1972 e 1975), vol- tou areceber seu nome original após sua Matéria Prima fez história na televisão bra- reestreia, novamente dirigido por Faro e exi- sileira, mesmo no seu breve um ano de exis- bido na TV Cultura. tência. O sucesso chamou a atenção de Sil- vio Santos, que convidou Serginho para o Em sua primeira fase, exibiu entrevistas me- SBT, onde nos finais da tarde da emissora moráveis com Elis Regina, Adoniran Barbo- ele passou a apresentar um programa nos sa, , Vinicius de Moraes, Car- mesmos moldes, que foi batizado como tola e Novos Baianos, entre outros. A partir Programa Livre.

Anos 1990 122 123 Anos 1990 Marcelo Rubens Paiva, programa Fanzine, 1992. Zeca Camargo, programa Fanzine, 1994. A aproximação com o público jovem, nesse O governo Itamar Franco estilo descontraído de apresentação, se in- e o Plano Real tensificou na programação da TV Cultura. Em junho de 1992, Marcelo Rubens Paiva estreou Em 29 de dezembro de 1992, Collor renun- no comando do programa Fanzine. Uma pla- ciou e horas depois Itamar Franco assumiu a teia, alguns microfones e bastante conversa presidência. Não houve solenidade de posse. eram a matéria-prima do programa. Fanzine Itamar fez apenas um breve pronunciamen- era dirigido a um público universitário e abor- to, no qual declarou que a transição de po- dava temas mais genéricos e mais adultos. der era prova da normalidade democrática e Em 1994, Zeca Camargo assumiu a condução anunciou que seu governo seria transparente do programa até outubro desse ano. e não abrigaria corruptos.

A situação econômica e social do país era No mundo da lua grave. A inflação continuava alta. Após dois anos de recessão, a leve recuperação do Em 6 de outubro de 1991, às vésperas do Dia crescimento do PIB não fora capaz de der- da Criança, foi lançada a série infantojuve- rubar a taxa de desemprego. Itamar garan- nil Mundo da Lua, uma coprodução da TV tiu que não haveria confiscos, dolarização, Cultura com o Sesi. A ideia original da sé- congelamento ou prefixação unilateral de rie foi de Flávio de Souza, responsável pela preços. Mas anunciou a manutenção da po- maior parte dos roteiros dos 52 episódios, lítica de juros altos e a contenção de gastos que contaram também com a colaboração públicos, e informou que tentaria aprovar no de Cláudia Dalla Verde, , en- Congresso uma proposta de ajuste fiscal de tre outros. O piloto foi dirigido por Marcos emergência para vigorar já no ano seguinte. Weinstock, e o restante da temporada teve a direção de Roberto Vignati. Em maio de 1993, nomeado ministro da Fa- zenda, Fernando Henrique Cardoso acredi- A série era o retrato de uma típica família pau- tava ser possível combater a inflação com a listana, tendo como protagonista Lucas Silva e reforma do Estado, que incluiria a redução Silva (Luciano Amaral), um garoto de 10 anos dos gastos públicos e a intensificação do que vivia na casa do avô (Gianfrascesco Guar- processo de privatizações. No dia 7 de de- nieri), com o pai Rogério (Antonio Fagundes), zembro, Fernando Henrique anunciou o Pla- a mãe Carolina (Mira Haar), a irmã Juliana (Ma- no de Estabilização Econômica, que ficou yana Blum) e a empregada nordestina Rosa conhecido como Plano Real. Seus principais de Souza (Anna D’Lira). No dia do décimo ani- pontos eram o ajuste fiscal, perseguido por versário, Lucas ganhou do avô um gravador, meio de cortes radicais nos gastos públicos, que se revela um instrumento perfeito para o e a preparação de uma nova moeda. menino dar asas à imaginação e criar histórias de como o mundo seria se dependesse apenas No dia 30 de março, Fernando Henrique afas- da sua vontade e onde tudo podia acontecer. tou-se do ministério para disputar as eleições A série foi um grande sucesso e marcou a in- de outubro de 1994. Em seu lugar assumiu Ru- fância da geração que cresceu nos anos 1990. bens Ricúpero, embaixador em Washington.

Anos 1990 124 125 Anos 1990 Elenco do programa Mundo da Lua, 1991. O lançamento do real foi marcado para 1º de foi orientada para duas frentes de combate. A julho, mês em que a inflação acumulada nos primeira seria eliminar o descaso burocrático, últimos doze meses atingiu a casa de 5.153%. a ineficiência técnica, os inaceitáveis desperdí- Na equiparação das moedas, o último va- cios e a desordem nas finanças. A segunda, a lor da URV, 2.750 cruzeiros reais, tornou-se necessidade de dotar o estado de condições equivalente a 1 real. Imediatamente após a concretas de contribuir para a redistribuição de equiparação das moedas houve reduções de renda para milhões de cidadãos excluídos. preços da cesta básica, a inflação caiu a pa- tamares pouco maiores que 1%, o que contri- Para alcançar as metas prometidas aos pau- buiu para que Fernando Henrique obtivesse listas, Mário Covas precisou adotar medidas uma vitória expressiva no primeiro turno das amargas e urgentes, criando uma verdadeira eleições de 3 de outubro: 54,3% dos votos. economia de guerra: partiu da renegociação da dívida do estado, financiada por um pa- cote de privatizações que renderam bilhões Um homem e o seu tempo de reais integralmente destinados a pagar as dívidas públicas, além de sanear órgãos, em- Em São Paulo, a 15 de novembro de 1994 os presas e instituições públicas. paulistas elegeram Mário Covas governador. Cassado pelo AI-5, Covas teve seus direitos Apesar dos ajustes orçamentários necessá- políticos suspensos por dez anos. Ao lado de rios, a Fundação Padre Anchieta manteve Uysses Guimarães, foi o grande articulador seu padrão de qualidade técnica e artística. das comissões temáticas quando os setores Logo começaram a aparecer os reflexos conservadores da Constituinte realizavam positivos da austeridade dos primeiros mo- diversas manobras para reduzir a ala pro- mentos e Covas foi reconduzido ao governo gressista da Assembleia. do estado de São Paulo.

Quando assumiu o governo de São Paulo, o quadro das finanças públicas era terrível. Elei- Da ecologia ao futebol to, dedicou sua energia ao saneamento finan- ceiro do estado. O ajuste fiscal e o equilíbrio Em fevereiro de 1992, no contexto da ECO orçamentário praticado por Covas foram o 92, a TV Cultura lançou o Repórter Eco, pro- principal fator de êxito de seu governo, a con- grama sobre ecologia e meio ambiente. Em sequente estabilidade econômica conquista- abril, entrou no ar X-Tudo, que tinha uma da para São Paulo e um exemplo para o Brasil. linguagem clara e engraçada ao abordar as- suntos do cotidiano sobre ciências, meio am- Ao assumir sua primeira gestão, Mário Covas sa- biente, cidadania, história e literatura infantil. bia o que iria encontrar. “Um estado ausente, in- Cartão Verde, telejornal esportivo produ- capaz, por inoperância, incúria ou descontrole, zido e exibido pela TV Cultura, estreou em de cumprir suas funções”, afirmou em seu dis- 7 de março de 1993. Idealizado por Michel curso de posse. Numa conjuntura de extrema Laurence, tinha o formato de mesa-redonda, gravidade, o recém-eleito governador montou uma das poucas coisas que não mudaram o secretariado e sua equipe de governo, que no programa, que trocou de dia de exibição,

Anos 1990 126 127 Anos 1990 Programa Repórter Eco, 1992. Elenco do programa X-Tudo, 1997.

Um castelo que se desdobrou em muitos Logotipo do programa Repórter Eco. apresentador e comentaristas várias vezes No dia 9 de março de 1994 estreava na TV Contava a história de Nino (Cássio Scapin), ao longo dos anos em que foi transmitido. Cultura um dos maiores sucessos da emis- um garoto de 300 anos de idade, morador sora, o Castelo Rá-Tim-Bum, criado pelo dra- de um castelo com seu tio Victor (Sérgio O primeiro apresentador do Cartão Ver- maturgo Flávio de Souza, dirigido por Cao Mamberti), de 3.000 anos, e Morgana (Rosi de foi José Trajano, que comandou o progra- Hamburger, com roteiros de Dionísio Jacob Campos), sua tia-avó de 6.000 anos. Por ma entre 1993 e 2000 ao lado dos comen- (Tacus), Cláudia Dalla Verde, Bosco Brasil, um feitiço, Nino faz com que as crianças Pe- taristas e Luiz Alberto Anna Muylaert, bonecos de Jésus Sêda, en- dro (Luciano Amaral), Biba (Cíntia Raquel) Volpe. Em seguida, a atração passou a ser tre outros. Sua realização se deu por conta e Zequinha (Fredy Alan) entrem no caste- apresentada por Flávio Prado e ter comen- de uma parceria entre FIESP e TV Cultura. lo atrás de uma bola. Os quatro acabam tários de Juca Kfouri, Juarez Soares e Osmar Cada um dos episódios (noventa no total da se tornando amigos. O doutor Abobrinha de Oliveira. Em 2006 Vladir Lemos assumiu temporada) apresentava um fio condutor e (Pascoal da Conceição) é o principal vilão, como novo apresentador do programa, que vários quadros que ajudavam a transmitir porque quer construir no lugar do castelo continua na grade da emissora. conceitos pedagógicos. um prédio de cem andares.

Anos 1990 128 129 Anos 1990 O diretor Cao Hamburger no estúdio do Castelo Rá-Tim-Bum, 1993. Pasquale Cipro Neto e a banda Pato Fu no programa Nossa Língua Portuguesa, 1997.

Para resolver as dúvidas sobre a nossa língua O programa deu frutos. Em 11 de maio de 1997 estreou a peça Teatro do Castelo Rá-Tim-Bum Em agosto de 1994, quando a internet ainda faixa de horário e ao público jovem visado. – Onde Está o Nino?, de Flávio de Souza. Em era lenta para as pesquisas, estreava Nossa 2014, a TV Cultura fechou parceria com o Mu- Língua Portuguesa, um programa que trata- Em 2010 foi apresentada a última tempora- seu de Imagem e do Som de São Paulo - MIS va das dificuldades do nosso idioma. O pro- da, de 26 episódios. Com uma linguagem ágil para a realização de uma exposição em co- fessor Pasquale Cipro Neto examinava filmes e dinâmica, destinava-se a estudantes de di- memoração aos 20 anos de estreia do seria- publicitários, letras de músicas, poemas, de- ferentes níveis, professores, curiosos e todos do, que foi um grande sucesso de público. poimentos de personalidades e populares, aqueles que desejam refletir sobre as mais O programa ainda gerou o filme Castelo-Rá- artigos da imprensa e programas de TV para variadas questões linguísticas. Entre as novi- Tim-Bum, lançado em dezembro de 1999. sanar as dúvidas dos telespectadores. dades, a chegada da atriz Tininha Mello, que, ao lado de Felipe Reis, conduziria a atração. A A conquista de importantes prêmios interna- Em 2009 Felipe Reis passou a integrar o pro- dupla iria mostrar como é possível investigar, cionais para a emissora e, em particular, para grama como apresentador, e Pasquale Cipro conhecer e aprender a língua portuguesa de a sequência de programas infantis, como Rá- Neto continuou comentando os conteúdos. uma forma bem-humorada, sob a direção de Tim-Bum, Castelo Rá-Tim-Bum e Mundo da Boa parte do programa começou a ser gra- Solange Martins. A consultoria de conteúdos Lua levaram a TV Cultura a figurar no cenário vado na rua, em reportagens, dando a ele um era do professor Eduardo Calbucci, doutor em mundial das televisões públicas. tom mais leve, bem-humorado, adequado à linguística pela Universidade de São Paulo.

Anos 1990 130 131 Anos 1990 fechado e recebeu o apoio de patrocinado- Durante o governo de Fernando Henrique, res que prontamente aderiram à proposta. o país enfrentou um quadro internacional Bastante calcada na realidade juvenil, a série adverso, com sucessivas crises econômicas rapidamente conquistou a audiência. Com externas, mas demonstrou capacidade supe- um formato inovador, contava uma história rior à de outros países para absorver as cri- a cada episódio, sempre costurada por de- ses e se recuperar. poimentos dos personagens, que dividiam com o público suas dúvidas, angústias e sur- A partir de 1995 ocorreram mudanças na presas. O seriado recebeu o prestigiado Prix regulamentação do setor de comunicação, Jeunesse de 1996 como o melhor programa como a lei 8.977, conhecida como a Lei do de ficção para adolescentes. Cabo, primeiro instrumento normativo a abrir o setor a empresas internacionais (limitando em 49% a participação estrangeira), também Após a estabilidade econômica, considerada um passo essencial na constitui- o desafio do crescimento ção de emissoras de interesse público, pois foram instituídos os canais a cabo de acesso Em 1995, o Brasil vivia uma situação em público gratuito, como a TV Câmara e a TV tudo diferente daquela de 1985. A euforia Senado, e canais universitários e comunitá- gerada pela redemocratização havia pas- rios. Embora restritos a uma parcela minori- sado, assim como os temores de retroces- tária da população com acesso ao serviço a so institucional. Desde 1988, o país possuía cabo, isso significou um passo importante na Daniele Valente, Débora Secco, Luis Gustavo, Georgina Goes e Maria Mariana. Confissões de Adolescente, 1994. uma nova Constituição, as eleições ocor- ampliação das ofertas. riam sem incidentes e o impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992, provara Em 4 de junho de 1997 foi aprovada no Sena- Da telinha que as instituições estavam fortes. do a emenda que permitiu a reeleição para para a telona presidente da República, governadores e Nesse contexto, Fernando Henrique Cardoso prefeitos. O presidente e o vice candidata- Inspirado em canções de amor da música çar a série primeiro na TV, em quatro episó- foi empossado na presidência da República ram-se, e Fernando Henrique venceu o pri- popular brasileira, escritas por quatro de dios, e depois no circuito comercial. com apoio de 79% da população ao Plano meiro turno das eleições realizadas em 4 de seus maiores compositores contemporâ- Real. Finalmente, emplacava um plano eco- outubro de 1998. neos – , Chico Buarque, Caetano Em 1995 foi a vez de Sombras de Julho, de nômico e o país viveria dentro dos parâme- Veloso e Jorge Ben Jor –, o filme Veja esta Marcos Altberg, filme feito para a TV e exi- tros de uma nação com inflação controlada. canção, de Cacá Diegues, foi produzido pela bido como minissérie, que trouxe uma trama Sob o impacto do êxito do Plano Real, o A presidência de TV Cultura em 1994. As histórias de amor se baseada em disputas de terras entre duas maior desafio do governo de Fernando Hen- Jorge da Cunha Lima passavam em quatro regiões diferentes do famílias de latifundiários. rique Cardoso foi manter a estabilidade da e a redução de recursos Rio de Janeiro, mostrando de suas praias moeda e, ao mesmo tempo, promover o cres- famosas ao drama dos meninos de rua. Por Ainda em 1994, Daniel Filho tinha saído da cimento econômico. O governo submeteu à No final de 1994 Muylaert se afastou da não conseguir rodar o filme devido ao des- TV Globo para ser independente. Num al- aprovação do Congresso Nacional uma série fundação, que formalmente presidia, por manche dos órgãos federais de cultura du- moço com Muylaert na TV Cultura apresen- de medidas visando promover uma mudança ter sido convidado a participar do governo rante o governo Collor, Cacá Diegues decidiu tou seu projeto Confissões de Adolescente, estrutural do Estado brasileiro, na tentativa recém-eleito de Fernando Henrique Cardo- apresentar o projeto à TV Cultura. Foi uma baseado na peça da jovem Maria Mariana, de adaptá-lo às novas realidades da econo- so. Desde então, quem comandou de fato experiência inédita e bem-sucedida de lan- ocasião em que o projeto foi imediatamente mia mundial e com alinhamento neoliberal. a fundação foi seu superintendente, Rena-

Anos 1990 132 133 Anos 1990 to Bittencourt, que assumiu interinamente a de pessoas que consideravam inaceitável ra de produção televisiva do mundo. Com pública (...) Voltamos ao tema da autoria, que presidência até a nova eleição. a presença de anúncios nos intervalos da isso, a fundação abriu caminho a participa- não pode ser levada ao extremo de que a TV programação. ção nos grandes debates internacionais que põe no ar o que bem entende e se as pes- Quando assumiu o governo estadual (janeiro se travavam em torno da tese e da prática soas não assistem é problema das pessoas. de 1995), Mario Covas se deparou com um Contudo, o pior dos problemas encontra- de uma televisão pública dentro e fora do Isso não pode ser feito. Você tem que arranjar déficit de 30 bilhões de reais. Com respon- dos pelo novo presidente foi proveniente Brasil. Em outubro daquele ano, foi tomada um caminho em que você seja autor, mas não sabilidade, fez cortes drásticos de despesas do mercado: a crise das televisões comer- uma importante decisão: abrir espaços de autor individual, personalizado. Na TV Cultura nos órgãos, empresas e instituições públicos, ciais. As televisões por assinatura entraram 30 segundos na programação para patrocí- autor é a instituição. Então foi desenvolvida entre elas a Fundação Padre Anchieta. no mercado nesse período. Numa luta feroz nios publicitários institucionais. toda uma noção de autoria institucional”. pela publicidade, razão principal de sua so- Secretário de Cultura e secretário da Co- brevivência, as televisões comerciais baixa- Em 1997, o Superior Tribunal de Justiça con- municação do governo de Franco Monto- ram consideravelmente o nível de suas pro- cedeu liminar autorizando a comercializa- Com empenho coletivo, ro, e presidente da Fundação Cásper Líbe- gramações. Isso acarretou certa perversão ção dos intervalos das emissoras educativas surgem novos programas ro, que incluía a Rádio e Televisão Gazeta, do mercado. do Brasil além da Escola de Jornalismo Cásper Líbe- Diante de tantos problemas, o esforço da di- ro, Jorge da Cunha Lima assumiu a presi- O contexto de falta de qualidade dos ca- Após a decisão do tribunal, o governador reção e dos funcionários foi imenso e novos dência da fundação em junho de 1995. nais comerciais abertos acarretou um dile- e a Assembleia paulista aprovam e promul- programas surgiram. ma para a TV Cultura, pois o público que gam a lei que autorizava a criação de uma Apesar dos anos bem-sucedidos, a funda- assistia à emissora era o mesmo que con- taxa destinada à Fundação Padre Anchieta Ainda em junho de 1995, O Menino, a Favela ção herdara, além dos débitos trabalhistas, sumia os programas da TV paga. Algo que (janeiro de 1998), na forma de uma fração e as Tampas de Panela, episódio brasileiro um déficit financeiro significativo, que se contrariava, em princípio, o papel de uma acrescida à conta de energia. Porém, a me- da série inglesa Open a Door, dirigido por agravou com os cortes necessários feitos TV pública. As televisões a cabo, restritas a dida foi rejeitada pela opinião pública após Cao Hamburger, estreou com um sucesso pelo governo estadual. Tal quadro causou um público privilegiado, só divulgavam pro- campanha desencadeada pelos meios de extraordinário no Brasil e pelo mundo afo- a demissão de funcionários da emisso- gramações estrangeiras, como o Cartoon, o comunicação e pelo Ministério Público, que ra, amealhando prêmios por onde passou. ra e prejudicou a grade de programação. Disney Channel, o etc. Essa contestava sua legalidade. Apenas em 1996, obteve o Prix Jeunesse In- As medidas econômicas repercutiram nos enxurrada de conteúdo nos dois níveis de ternational, o Sol de Prata do 12º Rio Cine meios de comunicação, gerando um de- programação, a adulta e a infantil, prejudi- Na mesma época, para fazer frente aos Festival e o Silver World Metal do 39º The bate público em defesa da emissora. O caria em curto tempo a audiência conquis- desafios de receita, Jorge da Cunha Lima New York Festival. Em 1997 seriam mais governador aceitou a proposta de acordo tada pela TV Cultura, que de forma hori- iniciou seu segundo mandato (em 1998), quatro prêmios. feita pela Rede Cultura e suspendeu por zontal buscava um “universo de audiência”, dessa vez com nova diretoria. O presidente 120 dias os cortes no orçamento da emis- atendendo a públicos diversificados. estruturou uma nova área de captação co- A TV Cultura lançou ainda um programa sora, evitando novas demissões previstas. mercial, que englobaria o departamento de chamado Leituras do Brasil, uma série de do- Durante esse período, a TV Cultura teve receitas operacionais. cumentários sobre grandes livros-chave para que se reestruturar para manter a excelên- Abertura para a publicidade entender a formação cultural do Brasil. Cada cia da programação e da qualidade técni- institucional e início do Em 1998, com o propósito de compreender documentário foi conduzido por uma direto- ca, diminuir os custos e buscar outras fon- departamento de pesquisas melhor os perfis dos telespectadores, é cria- ra diferente, e todos tiveram apresentação tes de recursos. Assim, o novo presidente do o Departamento de Pesquisas da TV Cul- de Antônio Nóbrega. Para Os sertões, de foi buscar verbas na iniciativa privada e Em abril 1996, a TV Cultura realizou um tura, que seria dirigido até 2003 por Carlos Euclides da Cunha, foram feitas entrevistas em publicidade institucional de órgãos do importante encontro internacional com os Novaes, que comentou: “Nós desenvolvemos e tomadas em Canudos, para Casa grande & governo federal, estadual e municipal, o representantes do Grupo de Biarritz para toda uma abordagem sobre isso, estabele- senzala, de Gilberto Freyre, num engenho no que atenuou, mas não resolveu os proble- discutir a televisão pública. No mesmo mês, cendo uma diferença sobre o que era interes- Recife, e para O povo brasileiro, de Darcy Ri- mas financeiros, além de receber críticas a emissora participou do MIP TV, maior fei- se do público e interesse público para uma TV beiro, uma longa entrevista com o autor.

Anos 1990 134 135 Anos 1990 O Menino, a Favela e as Tampas de Panela, 1995. Personagens do programa Cocoricó, 1998.

Produções independentes O universo rural e cinema na TV em Cocoricó

No Brasil, as emissoras de televisão têm Além disso, em 1996 foi criado o PIC-TV Criado pelo departamento infantil da TV Cul- Lilica, Lola e Zazá, o cavalo Alípio e o menino a tradição de realizar diretamente boa – Programa de Integração Cinema e TV –, tura em 1996, o seriado foi dirigido por Arcân- Júlio logo ganharam espaço e a atenção do parte de sua programação, à exceção dos uma parceria da Secretaria de Estado da gelo Mello e Eliana Lobo, e reprisado até 2003, público infantil. “enlatados” importados dos Estados Uni- Cultura (gestão de Marcos Mendonça) quando passou por uma reformulação e novos dos, Europa e Japão. Já em países como com a TV Cultura, possível de ser produ- bonecos apareceram no elenco. A partir daí, Sob todos os pontos de vista, Cocoricó foi os Estados Unidos, mais da metade da zido com a utilização de recursos das leis foi dirigido por Fernando Gomes. um grande sucesso, encantando crianças e programação produzida pelas emissoras culturais de incentivo fiscal. O programa angariando prêmios por todo o mundo. Em é feita por produtores independentes. financiou e realizou a produção de mais Como o Castelo Rá-Tim-Bum estava no auge 1996 ganhou o Prêmio APCA de melhor pro- Durante os mandatos de Jorge da Cunha de 48 longas-metragens em que a TV da audiência, atingindo índices de 12 pontos, grama de televisão infantil; em 1997, o Prê- Lima, a TV Cultura realizou dezoito pro- Cultura foi coprodutora e exibidora. e era o único grande programa infantil no ar, mio Unesco do VI Festival Internacional de gramas experimentais. Foi a primeira esse fato configurou uma oportunidade para Cine para Niños y Jóvenes de Montevideo emissora brasileira a terceirizar os ser- Em 1998, a TV Cultura abriu sua home pensar na criação de um novo programa que (Uruguai); e, em 2003, o Prix Jeunesse Ibero viços e criações de produtores indepen- page, com foco em uma interface para os tivesse investimento exclusivamente em bo- Americano (Chile) e o prêmio de melhor sé- dentes, abrindo espaço para a pluralida- professores utilizarem a programação nas necos, muita música e cenários coloridos e rie televisiva do VII Festival de Cine Infantil de de ideias. salas de aula. alegres. Personagens rurais, como as galinhas de Ciudad Guayana (Venezuela).

Anos 1990 136 137 Anos 1990 Oh Terezinhas, no programa Turma da Cultura, 1997. Orquestra Sinfonia Cultura, 1998.

A turma se junta todos os dias Orquestra Sinfonia Cultura

Turma da Cultura, que ficou no ar entre 1997 Em 1997, a Fundação Padre Anchieta passou espaço análogo ao das orquestras da BBC, que não conseguiam se desenvolver, por- e 2000, era um programa diário, ao vivo, a administrar a nova orquestra da Rádio e Te- RAI, RTF, WDR, entre outras. Seu repertório que você não tinha uma estrutura adequada com plateia, banda, participação do público levisão Cultura. No mesmo ano, ocorreu uma contemplava principalmente compositores e para impulsioná-los a crescer. E como isso através de telefone, carta, fax e e-mail, sem- redução do corpo de instrumentistas que até intérpretes norte e sul-americanos, além de começou? Começou através de um acordo pre abordando os temas do momento com aquele momento integravam a Orquestra Sin- um projeto especial que destacava a música com a TV Cultura. A Secretaria repassava os a ajuda de um especialista. Além de receber fônica do Estado de São Paulo - OSESP, que de autores brasileiros. recursos, a TV Cultura contratava os músi- convidados famosos, lançou novos talentos, passaram a integrar a Sinfonia Cultura, uma cos e operava toda a OSESP, o que possi- principalmente bandas. Afinal, era um dos nova orquestra sob a coordenação musical Em entrevista concedida para esta publica- bilitou maior planejamento e elevou a qua- raríssimos programas na época em que exis- do maestro Lutero Rodrigues. Sua dissolução ção, Marcos Mendonça recorda que durante lidade. Foi assim até a criação da Fundação tia a possibilidade de se tocar ao vivo na TV. ocorreu em 2005. o período em que foi secretário da Cultura OSESP, em 2005. de São Paulo, a Fundação Padre Anchieta A programação infantojuvenil continuou a ocu- Os concertos eram gravados ou transmiti- fez parte do processo de qualificação da par o horário nobre, como vinha acontecendo dos pela Rádio Cultura FM e pela TV Cultu- OSESP: “Nós queríamos modificar o quadro desde 1992. Em abril de 1998, Cocoricó come- ra, com o intuito da formação de novas pla- da OSESP, pois naquela época os músicos çava às 17h30, seguido de X-Tudo às 18h30 e teias. Tinha o efetivo de 55 músicos e foi a recebiam pouco, e por isso tinham que se fechando a grade com Turma da Cultura, que única orquestra brasileira pertencente a uma dedicar a uma série de outras atividades. As era transmitido ao vivo e terminava às 20h. emissora de rádio e televisão, ocupando um orquestras tinham talentos muito bons, mas

Anos 1990 138 139 Anos 1990 Cenografia do programa Castelo Rá-Tim-Bum, 1996. Às vésperas dos anos 2000

Em São Paulo (em 1998), aconteceu a articula- ção entre as emissoras não comerciais que re- sultou no surgimento da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais – ABEPEC, com participação de vinte canais educativos e culturais do país. A iniciativa foi uma resposta à situação de crise orçamentá- ria e uma tentativa de fortalecimento do con- junto de televisões educativas e culturais que possuíam objetivos comuns, movimento que no ano seguinte se desdobrou na criação da Rede Pública de Televisão – RTP, com 26 es- tações geradoras e 938 retransmissoras que podem atingir um público de 98 milhões de pessoas em 1.300 municípios.

Os anos de 1998 e 1999 começaram com novidades na Fundação Padre Anchieta e nos governos federal e estadual. Em junho de 1998, Jorge da Cunha Lima iniciou seu segundo mandato à frente da Fundação Padre Anchieta.

Fernando Henrique foi reeleito presidente da República e em seu discurso de posse, em 1º de janeiro de 1999, tentando dissipar os temores de um vendaval econômico, disse: “Não obs- tante todas as transformações, muitos ainda resistem em enxergar o Brasil novo que está brotando sob nossos olhos. Relutam a reco- nhecer que estamos avançando, competindo e nos adaptando aos novos tempos, em vários planos: o da globalização, o da reestruturação do Estado, o da revitalização da cultura. Essas mudanças dão a confiança de que a geração do real será diferente. Nossos filhos terão mais e melhores oportunidades na vida.”

Dez dias depois, Mário Covas foi reconduzido ao governo de São Paulo.

Anos 1990 140 141 Anos 1990 1990 1991 1992 1993

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA Estreia de Rá-Tim-Bum, que inova no modelo de abr | Roberto Costa de Abreu Sodré inicia novo 15 mar | Inauguração da nova antena e novos trans- Forma-se a Rede Cultura de Televisão, transmitida programas infantis, com quadros curtos, coloridos e mandato como presidente do conselho curador missores, no Sumaré, substituindo os equipamen- para todo o Brasil por canal do satélite Brasilsat A2. dinâmicos. da fundação. tos de 1969. A nova antena, ampliou em 50% o al- Estreia do Cartão Verde, programa de debates e Estreia de Vitrine, programa de variedades culturais. Uma enchente alaga parte das dependências da cance de sua imagem na Grande São Paulo. notícias esportivas que se consolidou como um dos jun |Roberto Muylaert inicia seu terceiro mandado Estreia do programa musical Ensaio, apresentado Fundação Padre Anchieta. mais respeitados programas esportivos da televisão como presidente da Fundação Padre Anchieta. por Fernando Faro. Herdeiro do MPB Especial, traz a Estreia o Jornal da Cultura 60 minutos. brasileira, até hoje na grade de programação.

cada programa um artista para se apresentar e falar A Fundação Padre Anchieta recupera cerca de 10 mil Jazz Sinfônica Convida, programa promovido com a Estreia Mundo da Lua, teledramaturgia voltada para fitas do arquivo da extinta TV Tupi. O material res- sobre trabalho e vida pessoal. o público infantil, cujo enredo acompanha um ano Secretaria de Estado da Cultura, o Sesc, a Universi- gatado é arquivado pela Cinemateca Brasileira, que dade Livre de Música — ULM e o Memorial da Améri- Matéria Prima, programa de auditório voltado ao na vida da animada família Silva e Silva a partir da abre seu acervo ao público e às outras emissoras. ótica singela, fantasiosa e bem-humorada de um ga- ca Latina, transmite as apresentações da Orquestra público jovem que desde 1984 fazia sucesso no rá- dio, estreia na televisão com apresentação de Sergi- roto de 10 anos. A fundação participa do projeto Um Mundo para Jazz Sinfônica, um dos corpos estáveis da ULM que Todos, em que mais de setenta emissoras do mun- tem por objetivo dar um tratamento sinfônico à mú- nho Groisman. Estreia do programa infantil , em que Glub Glub do atuaram em colaboração, produzindo programas sica popular, especialmente a brasileira. Estreia do programa Papau Informal, em que dois peixinhos apresentavam desenhos animados, para chamar a atenção sobre as questões vitais liga- Estreia O Professor, aulas de princípios da física Paulo Sartori, o Papau, apresentador do Vesti- comentando e contando um pouco da vida no mar. das ao meio ambiente e ao desenvolvimento. bulando, em um cenário de lanchonete, recebia apresentadas pelo professor Sadao Mori, tendo Estreia Bem Brasil, programa musical de shows Estreia Repórter Eco, primeiro telejornal brasileiro convidados e discutia assuntos da atualidade de como assistente o ator mirim . abertos ao público gravados ao ar livre, na Cidade especializado em ecologia e meio ambiente. Até forma leve e coloquial. Universitária da USP. hoje na programação, recebeu ao longo dos anos 14 TVS BRASILEIRAS TVS BRASILEIRAS Estreia do especial Enredos, que traça um panora- prêmios nacionais e internacionais. O Brasil possui 1 milhão de antenas parabólicas, o que 19 out | O governo federal emite a portaria no 733, ma do samba de quadra, precursor do atual samba Estreia de X-Tudo, programa de variedades e curio- consolida a transmissão da TV direta por satélite. que estabelece a classificação indicativa de progra- de enredo, relembrando os principais compositores sidades científicas para o público infantil. Entra em vigor o novo Código de Ética da Abert mas de rádio, televisão e espetáculos. e sambas. Com participação de e O programa Fanzine abre espaço para o públi- (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Tele- grandes sambistas cariocas convidados. A Rede Manchete produz e exibe a novela Pantanal, co jovem debater temas atuais e polêmicos. É visão), substituindo o código de 1991. com grande sucesso, quebrando por certo período a TVS BRASILEIRAS apresentado por Marcelo Rubens Paiva, que conver- É inaugurada a Central Nacional de Televisão – CNT, sa com os convidados com a livre participação dos primazia quase absoluta da Globo no setor. canal cujo programa de maior destaque era apresen- Entra em vigor o Código de Ética da Associação Bra- estudantes da plateia. Surge a primeira TV por assinatura, nas cidades de sileira de Emissoras de Rádio e Televisão — Abert. tado por Carlos Massa, o Ratinho, numa linha que explora conteúdos apelativos e bizarros. São Paulo e do Rio de Janeiro, no sistema MMDS, Estreia o telejornal policial Aqui Agora, no SBT, con- TVS BRASILEIRAS no ano seguinte comprada pelo , que a sagrando o telejornal de apelo popular, de conota- Início das transmissões da Rede OM Brasil (Organi- Com a criação da NET Brasil, a Globosat passa a de- transformou em TVA. ções moralistas e sensacionalistas. zações Martinez), de , primeira rede nacional sempenhar a função de programadora. Inaugurada a MTV Brasil no Rio de Janeiro e em Estreia no SBT a novela infantil mexicana Carrossel. sediada fora do eixo Rio-São Paulo. São Paulo. Seu grande sucesso abre as portas para as produções A Globo estreia Você Decide, programa que introduz Introdução da telefonia móvel celular no Brasil. hispano-americanas no Brasil, vistas como opção viá- uma nova forma de participação dos telespectadores, que escolhem o desfecho da história apresentada. vel às custosas produções da Globo. BRASIL É criada a NET-Multicanal. BRASIL 15 mar | Fernando Collor de Mello toma posse como 29 dez | Fernando Collor de Mello renuncia à presi- presidente da República. BRASIL dência da República. O vice Itamar Franco assume a 15 mar | Luiz Antônio Fleury Filho é empossado go- presidência. vernador do estado de São Paulo.

Rá-Tim-Bum, 1990. Glub Glub, déc. 1990. Repórter Eco, 1992. Abertura do Cartão Verde, 1993.

Anos 1990 142 143 Anos 1990 1994 1995 1996 1997

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA A TV Cultura integra pool de mais de mil emissoras jun | Jorge da Cunha Lima é empossado como presi- O governo do estado de São Paulo assina acordo A TV Cultura passa a terceirizar parte de sua pro- do mundo todo, coordenado pelo UNICEF, na reali- dente executivo da Fundação Padre Anchieta, cargo com a Fundação Padre Anchieta para a criação do gramação e começa a exibir os primeiros dezoito zação do Dia Internacional da Criança na TV. que exercerá por três mandatos consecutivos (até 1º PICTV — Programa de Integração Cinema-TV. programas dessa parceria, com produções brasilei- Estreia do Castelo Rá-Tim-Bum. Com direção de Cao 2004). Início do mandato de Antônio Soares Amora A Fundação Padre Anchieta fecha acordo com a TVA ras e estrangeiras. Hamburger e roteiro de Flávio de Souza, produzido como presidente do conselho curador. para realizar coproduções e fazer permutas de pro- Estreia do programa Turma da Cultura, feito por com apoio do Sesi e da FIESP, o programa inova no É exibida a série infantil O Menino, a Favela e as Tampas gramação, dentro de uma estratégia para enfrentar jovens e para jovens, ao vivo e de segunda a sex- tratamento cênico e cria uma forma divertida para de Panela, dirigida por Cao Hamburguer. nova redução de repasses de verbas do governo. ta. Dúvidas sobre sexo, adolescência, mercado de abordar noções de ciências, história, matemática, Estreia de Zoom, programa voltado para a divulga- Início da veiculação de peças de 30 segundos de trabalho, política e temas relacionados ao cotidiano música, incentivo à leitura, ecologia e cidadania. ção de filmes de curta e média-metragem, docu- publicidade na programação, desde que de organi- são abordados, com a participação de especialistas. Estreia o programa juvenil Confissões de Adolescen- mentários e animações independentes realizados zações que tenham interesse público, caráter insti- Estreia Mostra de Cinema da Cultura, convênio com te, inspirado na peça de Maria Mariana, com roteiro por diretores brasileiros. tucional ou social. a Secretaria Estadual de Educação e a Mostra Inter- nacional de Cinema. de Euclides Marinho e direção geral de Daniel Filho, Estreia Lá Vem História, infantil de contação de his- É criada a home page da TV Cultura e das rádios coprodução da TV Cultura com a Produtora Dez. tórias com duração de cerca de 5 minutos. Cultura AM e FM. A iniciativa teve apoio da Fapesp Estreia a série de vinhetas Minuto Científico. Estreia Nossa Língua Portuguesa, trazendo para a Estreia Leituras do Brasil, uma série de documentários e do Ministério de Ciência e Tecnologia. Sinfonia da Cultura transmite os concertos da Or- TV o programa que desde 1992 era transmitido pela apresentados por Antonio Nóbrega sobre grandes li- A Assembleia Legislativa de São Paulo inicia enten- questra Sinfonia Cultura, a única orquestra brasilei- Rádio Cultura AM. Apresentado por Pasquale Cipro vros-chave para entender a formação cultural do Brasil. dimentos para a produção da TV Alesp. ra pertencente a uma emissora de rádio e TV, com Neto, aborda as características, curiosidades e o tra- um efetivo de 55 músicos sob coordenação do É veiculado o Telecurso 2000, que tem como objetivo A TV Cultura recebe como doação do governo japonês to do dia a dia da língua portuguesa falada no Brasil, maestro Lutero Rodrigues. A orquestra, que atuou atingir jovens e adultos excluídos do sistema escolar. equipamentos Betamax no valor de 600 mil dólares. recorrendo a entrevistas, placas, outdoors e letras em parceria com o Sesc Belenzinho, encerrou sua de músicas da MPB. TVS BRASILEIRAS A fundação é anfitriã da reunião do Grupo de Biar- atividade em 2005. ritz, composto por presidentes e diretores de de- Veja Esta Canção, série de quatro longas-metragens 6 jan | entra em vigor a Lei Federal nº 8.977, a Lei do zenove emissoras de TV educativas e culturais de TVS BRASILEIRAS inspirados em canções de Gilberto Gil, Caetano Ve- Cabo, que regula a atividade da televisão por assina- tura no Brasil. A lei admite a participação estrangei- todo o mundo. jun | É promulgada a Lei nº 821, Lei Geral das Comuni- loso, Jorge Ben Jor e Chico Buarque, exibidos numa cações, que cria a Agência Nacional de Telecomunica- parceria entre a TV e o cinema nacional. ra em até 49% e reserva canais de utilidade pública Estreia de Cocoricó, programa de bonecos que para o Senado, a Câmara, as Assembleias Legislati- apresenta o mundo rural às crianças. ções – Anatel, órgão regulador e fiscalizador do setor.

TVS BRASILEIRAS vas estaduais e as universidades. Comemoração dos dez anos do programa Roda Viva. Início das transmissões da TV Senac, iniciativa do A Rede Record passa a pertencer integralmente a É implantada a internet comercial no Brasil. Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. Edir Macedo e a sua esposa, que detêm respecti- A Embratel deixa de ter o monopólio de provedor de TVS BRASILEIRAS Início das transmissões do Canal Futura, iniciativa de vamente 90% e 10% do capital da emissora. A rede acesso à internet e surgem diversos provedores privados. Entra em operação a TV Senado, mantida pelo Sena- grupos empresariais e fundações privadas, produzi- do pela Fundação Roberto Marinho. investe em novos transmissores para ampliar sua co- O Congresso aprova emenda constitucional que ex- do Federal, a primeira emissora institucional do país. bertura geográfica. tingue o monopólio estatal das telecomunicações. Entra no ar o canal a cabo GloboNews, exclusivo Carlos Roberto Massa, o Ratinho, estreia na TV Re- É lançado o satélite Brasilsat B1, que integra o siste- de notícias. cord o programa Ratinho Livre, mais um programa A Fundação Roquete Pinto, em convênio com a Se- de forte apelo moralista e sensacionalista. ma nacional de telecomunicações. cretaria de Educação a Distância do Ministério da Entram em funcionamento os sistemas por assinatu- O Brasil é interligado à rede mundial de fibras óticas. Educação, inaugura o TV Escola, canal a cabo exclu- ra Direct TV, Multicanal e Sky, que levam o sinal de O Supremo Tribunal de Justiça concede liminar que sivo para a educação. televisão por satélite. autoriza a comercialização dos intervalos das emis- Um grupo, formado pela Sociedade Brasileira de soras educativas em todo o território nacional. Engenharia de Televisão – SET e a Abert, começa a Estreia na TV Record o telejornal Cidade Alerta, que de- O Brasil possui 3,5 milhões de antenas parabólicas e estudar a transição do sistema de difusão analógico senvolve a linha moralista-sensacionalista do Aqui Agora. mais de 2 milhões de assinantes de TV paga.

para o digital. BRASIL Início das transmissões da Rede Vida, ligada à Igreja Católica, com programação gerada pela TV Inde- 1o jan | Fernando Henrique Cardoso toma posse como pendente, Canal 11 de São José do Rio Preto. presidente da República. Mário Covas é empossado governador do Estado de São Paulo. Entra no ar a Rede Gospel.

Elenco do Castelo Rá-Tim-Bum, 1994. Antônio Nóbrega, programa Leituras do Brasil, 1995. Cocoricó, 1996. Programa Turma da Cultura, 1997.

Anos 1990 144 145 Anos 1990 1998 1999 Cunha Jr. entrevista para o Vitrine, 1992.

TV CULTURA TV CULTURA jun | Início do mandato de Antonio Carlos Caruso 19 jan| Morre o professor Antônio Soares Amora, um Ronca como presidente do conselho curador da dos fundadores da Fundação e seu quinto presidente. fundação. Início do segundo mandato de Jorge da 14 set | Morre Roberto Costa de Abreu Sodré, cria- Cunha Lima na presidência da fundação. dor da Fundação Padre Anchieta. A lei que prevê uma taxa, a ser cobrada na conta Início do processo de digitalização do acervo da de energia elétrica, para financiar a Fundação Padre Fundação Padre Anchieta Anchieta chega a ser assinada pelo governo do es- O sinal da TV Cultura é cortado pela Embratel, re- tado, mas o Tribunal de Justiça concede liminar que cém-privatizada, por falta de pagamento. suspende a eficácia e a vigência da lei. Estreia , programa jornalístico diá- Início da transmissão da Rádio Cultura FM via satélite. Conversa Afiada rio com Paulo Henrique Amorim, que tem como A fundação participa de doze festivais nacionais e proposta acompanhar assuntos da atualidade em internacionais e recebe seis prêmios no Brasil, Ja- economia e política, nacional e internacional. pão, EUA e Canadá. O último deles é o Emmy, no dia Estreia o programa de debates , que 23 de novembro, em Nova York. Opinião Brasil vai ao ar às noites de segunda a sexta. TV Cultura exibe 18 horas de programação no Dia , iniciado em 1998, ganha Internacional da Criança na TV, com o tema “O mun- Oficinas Culturais na TV nova fase, trazendo focados em capacita- do que queremos” workshops ção nas diferentes áreas ligadas às artes e à cultura. Estreia Observatório da Imprensa, programa vol- Iní­cio da série de reportagens Caminhos e Parcerias. tado para a mídia brasileira, trazendo para a TV as discussões do site do Laboratório de Estudos Avan- TVS BRASILEIRAS çados em Jornalismo da Unicamp — Labjor, 1996. É criada a Rede Pública de Televisão no Brasil – RPTV, TVS BRASILEIRAS formada por emissoras e retransmissoras públicas educativas e culturais. O decreto federal nº 2.593 institui o Regulamento dos Serviços de Retransmissão e de Repetição de Televisão. O Grupo Bloch vende a Rede Manchete, em dificul- dades desde 1993, ao Grupo TeleTV, do empresário É criada a Associação Brasileira de Emissoras Públicas Amilcare Dallevo Júnior. Passa a chamar-se Rede TV! Educativas e Culturais – ABEPEC. É fundada a Associação Brasileira de Produção Inde- É criada a Associação Brasileira de Radiodifusão e pendente de Televisão — ABPI-TV. Telecomunicações — ABRT, por um grupo dissidente da Abert, liderado pela Rede Record. A Rede TV! realiza parceria com a empresa de in- ternet UOL, que envolve a utilização de imagens É criada a TV Nacional Brasil — NBR, com o intuito da emissora pelo provedor, propiciando a interação de difundir programas de caráter educativo-cultural entre os dois meios. e utilidade pública e atos do Poder Executivo. É inaugurada a Rede Vida, em São Paulo. O setor de telecomunicações passa a ter doze em- presas do antigo sistema Telebras transferidas para BRASIL a iniciativa privada. 1o jan | Fernando Henrique Cardoso inicia seu segundo A Anatel abre o processo de escolha do padrão digital mandato como presidente da República. da TV brasileira através de uma consulta pública. 10 jan | Mário Covas é empossado em seu segundo É criada a Associação de Comunicação Educativa Roque- mandato como governador do estado de São Paulo. te Pinto — ACERP, sucessora da Fundação Roquete Pinto, sob a forma de organização social sem fins lucrativos.

Logotipo do Observatório da Imprensa, déc. 1990. Caminhos e Parcerias, com a jornalista Neide Duarte, 2000.

Anos 1990 146 147 Anos 1990 Bem Brasil, 1991.

148 149 Castelo Rá-Tim-Bum, 1994.

150 151 Cocoricó, 1997.

152 153 O Brasil na virada do século 21

Quando o ano 2000 foi saudado na noite o carnaval de 2001, Covas passou mal em de Ano-Novo, Fernando Henrique Cardoso Bertioga, no litoral de São Paulo, e foi leva- já estava em meio ao seu segundo mandato do de helicóptero ao Instituto do Coração, presidencial. Reeleito em 1998, Mário Covas onde faleceu em 6 de março. ainda era governador de São Paulo. Um depoimento de Jorge da Cunha Lima Fernando Henrique Cardoso assumiu a nova sobre o contato com o governador na fun- gestão diante de um cenário de crise. A mu- dação revela um pouco da personalidade de dança de rumos prometida na reeleição foi Mário Covas: “Apesar de afirmar inúmeras abalada pela crise econômica mundial e pela vezes que a TV Cultura era uma instituição crise interna cambial. O ritmo das desvalori- na qual ‘eu pago e não mando’, Covas nunca zações acima da inflação não foi suficiente interferiu na instituição. Nunca me pediu que para sinalizar aos agentes de mercado que colocasse qualquer notícia na programação. o real se aproximava de uma cotação ade- Mas tivemos boas discussões sobre dinheiro. quada em relação ao dólar. Um dia fui reclamar da falta absoluta de in- vestimento no seu mandato. Ele me afirmou, O primeiro ano do segundo mandato esta- irado, que não tinha esparadrapo para colo- va programado para ser o “ano da virada”. car na cabeça das crianças no Hospital das Entretanto, a alteração brusca dos rumos Clínicas e eu ainda ia pedir dinheiro para a traçados resultou num crescimento eco- televisão! Com a liberdade que ele concedia nômico muito pequeno, já que o índice de ao interlocutor, retruquei: ‘O governador co- desemprego havia subido, e a renda média loca esparadrapo na cabeça de milhares de do trabalhador diminuído, em comparação crianças e a TV Cultura coloca pensamento com o início de sua primeira gestão. Isso fez na cabeça de milhões de crianças. As coisas com que a imagem positiva do governo fos- se equivalem’. Ele me respondeu com a ob- se reduzida. jetividade de engenheiro: ‘O que você está querendo é dinheiro, não é?’ ‘Sim’, respondi, ‘dinheiro para investimento’. E ele me deu o A despedida de Covas primeiro e único investimento governamen- tal em minha gestão: 2 milhões de reais”. Em São Paulo, o segundo mandato do go- vernador Mário Covas teve uma curta dura- ção. Em 2000, mesmo doente e submetido Mudanças no estatuto da a vários tratamentos contra um câncer que Fundação Padre Anchieta se manifestara em 1998, ele continuou com suas atividades de governo, mas afastou-se Em 2000, sob a gestão de Jorge da Cunha no dia 22 de janeiro de 2001, dando lugar Lima, que não evocou para si o protagonis- a seu vice, Geraldo Alckmin, que assumiu o mo da figura de um diretor-presidente man- governo até 1º de janeiro de 2003. Durante datário, mas, sim, se colocou sob a égide da

154 155 Anos 2000 liderança pelo espírito público e participati- As modificações no jornalismo foram ini- Essa nova postura se refletiu também no es- um cenário devastador na TV Cultura, causan- vo, ocorreram mudanças importantíssimas. ciadas em 1999, com a estreia de Conversa paço físico. Quando da instalação da nova do uma repercussão extremamente negativa, Afiada, ancorado pelo jornalista Paulo Hen- redação, que recebeu o nome de Redação acarretando à instituição o rótulo de proble- Uma delas foi a mudança nos estatutos da rique Amorim, substituído em 2002 pelo Vladimir Herzog, criou-se uma relação es- mática, o que mudou o humor de investidores Fundação Padre Anchieta, a primeira desde Programa Econômico, apresentado por Luis pacial entre a mesa dos apresentadores e as e colaboradores. A matéria reduziu substan- 1987. Sem tocar nas estruturas essenciais da Nassif. Em 2000 seguiu-se a criação de dois mesas dos editores, possibilitando a inter- cialmente a inserção publicitária da TV Cultu- fundação, as novidades referiram-se aos ru- novos programas: Matéria Pública (uma re- venção deles diretamente na transmissão ra e reverteu a tendência de crescimento que mos que se dava à entidade. A ideia de for- vista vespertina) e Diário Paulista (jornal re- quando solicitados pelos âncoras ou pelo a emissora vinha apresentando. talecer o jornalismo resultou na criação de gional vespertino). “coringa”, uma espécie de elo entre os pro- uma diretoria própria, que se destacou da tagonistas do jornalismo público, a redação Apesar dos solavancos, em junho Jorge da diretoria de programação. Embora as produções do Metrópolis, Repór- e o telespectador. Cunha Lima iniciou seu terceiro mandato ter Eco, Roda Viva, Momentos do Esporte, como presidente da fundação buscando ca- Por outro lado, as dificuldades financeiras Cartão Verde e dos documentários já tives- O cenário da redação foi remodelado com a minhos de superação. Novas surpresas ainda por que passava a fundação fizeram surgir sem assimilado a linguagem do jornalismo contribuição do fotógrafo e cenógrafo Peter estavam por vir. Em 11 de setembro, os aten- uma nova diretoria, a diretoria de receitas público, com análise e interpretação dos fa- Gasper, que também se encarregou da ilumi- tados que derrubaram as torres gêmeas de operacionais, destinada exclusivamente à tos, o Jornal da Cultura, seu principal instru- nação da primeira redação-estúdio do país. Nova York provocaram um terremoto na eco- captação de recursos por meio da venda de mento jornalístico, ainda era feito nos moldes As análises e comentários foram totalmente nomia global. Em decorrência disso, a publi- programas, licenciamento de produtos, pres- da audiência, e não da relevância, com a com- incorporados ao noticiário, desconstruindo cidade caiu quase a zero, agravando a crise. tação de serviços etc., atividades empreen- preensão dos acontecimentos. Para isso foi os artifícios que faziam do jornalismo um es- didas desde os anos 1980, mas de maneira necessária a unificação de todos os setores petáculo, e não um relato objetivo dos fatos. Mas nem tudo foram problemas. Em Porto descoordenada. A antiga diretoria adminis- de produtores de jornalismo: oitenta radialis- Alegre (25 de janeiro), sob inspiração de trativa e financeira tornou-se um simples se- tas se juntaram aos 120 jornalistas e participa- Também do ponto de vista técnico essa Chico Whitaker e Oded Grajew, ocorreu o tor, perdendo o status de diretoria. ram de uma completa reciclagem, um treina- nova postura trouxe reflexos. Foram con- primeiro Fórum Social Mundial, que visava mento que envolveu toda a televisão e criou cluídas as instalações da nova Central de obter alternativas à globalização capitalista. um laboratório de experimentações. Jornalismo, com a inauguração do Sistema Em março, na TV Cultura, o professor José O jornalismo público de Editoração Eletrônica Basys (setenta Roberto Sadek coordenava o Núcleo de Pro- O resultado desse trabalho foi a publicação, computadores e três servidores), a aquisi- jetos e Teleducação, que estabeleceria rela- A marca registrada de Jorge da Cunha Lima em 2004, do Guia de Princípios do Jornalis- ção de câmeras e VTs Betacam digitais e a ções bastante criativas com a TV Escola do foi dar ênfase ao jornalismo, dentro de uma mo Público, elaborado com a colaboração implantação de estações digitais de edição Ministério da Educação. Uma dessas ações mentalidade que fortalecia a ideia de TV pú- dos profissionais do departamento de jor- não linear (Avid e Protools). foi a série educativa Arte e Matemática, que blica na fundação. A necessidade de sustentar nalismo da TV Cultura entre 1998 e 2003. estreou em novembro de 2001 e obteria vá- um jornalismo compatível com a finalidade da Durante o processo, não se perdeu de vis- rios prêmios. televisão pública tornou-se imperativa. A for- ta a questão fundamental da formação dos Dois anos difíceis mação crítica do telespectador, principal mis- profissionais. Tornavam-se necessários um Em 2002 a crise financeira se acentuou com são da TV pública, pedia um jornalismo mais treinamento permanente, seminários, dis- No fechamento do ano 2000 a TV Cultura os contingenciamentos decretados pelo go- analítico, que possibilitasse uma reflexão, ain- cussões e reuniões de pauta. apresentava problemas estruturais sérios. verno estadual. Além disso, foram retiradas da que instantânea, sobre o fato noticiado. Porém, depois de anos seguidos de endi- do orçamento as verbas para pagamentos Um fator importante para tanto foi a conti- vidamento, conseguiu encerrar o ano fiscal de ações trabalhistas, anteriormente sem- A grande base da TV pública era sem dúvida o nuidade. A substituição muito frequente de com superávit contábil. pre pagas pelo governo estadual. A crise da telejornalismo, o elo mais vulnerável e menos quadros de comando e de jornalistas não Fundação Padre Anchieta envolvia, sobre- integrado ao papel de servir ao interesse pú- favorecia a formação de uma equipe prepa- No início de 2001, uma reportagem da Folha tudo, o sucateamento de seu parque pro- blico na grade de programação da emissora. rada para o jornalismo público. de S. Paulo, escrita por Laura Mattos, relatava dutivo, devido aos sete anos sem qualquer

Anos 2000 156 157 Anos 2000 investimento público em infraestrutura, ma- em revista semanal. Entre 1998 e 2003 o nutenção e desenvolvimento tecnológico. programa se consolidou financeiramente e E isso em plena era de mudanças dos pa- na audiência. Sob a direção de jornalismo radigmas técnicos e científicos observados de Marco Antônio Coelho Filho, passou a em todo o mundo. ser exibido aos domingos, ajudando a me- lhorar a programação dominical. Naquele período, houve um substancial aumento Setor de serviços: de produção audiovisual e foram trazi- uma saída financeira dos para os quadros da TV Cultura impor- tantes jornalistas da área no Brasil, como A queda nas receitas comerciais e orça- Washington Novaes. mentárias fez crescer um setor até então pequeno e incipiente. A nova gestão de- senvolveu e articulou contratos com seto- Um núcleo de res públicos do governo estadual e federal, documentários colocando a infraestrutura ociosa numa rentável produção de serviços. Para a Se- O salto na integração da produção inde- cretaria do Estado da Educação foi reali- pendente na grade de programação da zada uma série de vídeos de capacitação TV Cultura e deu a partir da renovação do e treinamento, e a orquestra da TV Cultu- Núcleo de Documentários – NUDOC, que ra passou a gerar receita ao se apresentar passou a ser comandado pela diretoria de quinzenalmente em escolas públicas do jornalismo. Este núcleo, que até então pro- Caminhos e Parcerias, com Neide Duarte, 1998. ensino médio. Nesse momento a TV Cultu- duzia no máximo três documentários por ra criou e produziu a TV Justiça e uma série ano, passou a colocar na grade da emis- de programas para esse canal institucio- sora cerca de setenta documentários por nal, como o Via Legal e Brasil Eleitor. Além ano. Contratado por Marco Antônio Coe- O NUDOC chefiou a produção jornalística tos pilotos na área de assistência social no disso, produz até hoje a TV Assembleia de lho Filho, Mário Borgneth assumiu o NU- mais premiada da história da TV Cultura até âmbito federal desenvolvidos pelo programa São Paulo. Com essas atividades foi possí- DOC em 1998 e coordenou a estratégia de então: Caminhos e Parcerias, que recebeu Comunidade Solidária, do governo federal, vel obter recursos que se equipararam aos produção, que unia os patrocínios (recur- catorze prêmios nacionais e estrangeiros. De pensado e dirigido pela antropóloga e então oriundos do governo estadual. sos), a produção independente e a jane- 1999 a 2004, a série, criada por Marco An- primeira-dama, Ruth Cardoso. la de exibição (a televisão). Exercitando e tônio Coelho Filho e dirigida na maior par- experimentando o conceito de coprodu- te por Neide Duarte e Ricardo Soares, ia ao A estratégia de produção empreendida pelo O Repórter Eco ção, a TV Cultura obteve e levou para o ar semanalmente com documentários de 30 NUDOC teve seu ápice em 2003, quando mo- se consolida seu patrimônio e para a programação no minutos que revelavam a importância do ter- tivou a criação do DOCTV durante o primeiro início dos anos 2000 documentários como ceiro setor na solução de problemas sociais mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, um pro- Lançado em fevereiro de 1992, o Repórter Guerra dos paulistas, de Laís Bodanzky e dos brasileiros. Eram histórias que mostra- grama pioneiro de fomento à parceria entre a Eco se tornou um dos programas mais an- Luiz Bolognesi, O mundo cabe numa cadei- vam como a união entre associações sem TV pública e a produção independente desen- tigos e resistentes da TV aberta brasilei- ra de barbeiro, de José Roberto Torero, De- fins lucrativos e o poder público, a iniciativa volvido pela Secretaria do Audiovisual do Mi- ra. Pensado como um jornal diário de 10 safio do lixo, série dirigida por Washington privada ou simplesmente os cidadãos conse- nistério da Cultura, a TV Cultura e a ABEPEC. minutos para cobrir a conferência da ONU Novaes que rodou mais de 70 mil quilôme- guiam resolver diversos problemas crônicos A primeira edição do DOCTV – composta por sobre meio ambiente e desenvolvimento, tros pelo mundo cobrindo o problema, en- de determinadas comunidades. O programa 56 documentários produzidos em 26 estados a ECO 92, se transformou meses depois tre muitos outros. teve como inspiração significativa os proje- brasileiros – foi toda pensada dentro da TV

Anos 2000 158 159 Anos 2000 Gastão Moreira, programa Musikaos, 2001. Cartaz do programa Galera, 2003.

Cultura, utilizando a Rede Pública de Televisão. leiro e conduzido pelo carismático Gastão para todas as idades: ecologia com aventura e movendo debate com especialistas e convi- O programa DOCTV teve mais quatro edições Moreira, ex-VJ da MTV, e de contar com a turismo cultural; musicais, documentários, en- dados. Outra proposta do programa era dar nacionais, duas latino-americanas e uma ibero- presença de personalidades da vida cultural trevistas inteligentes, esportes. espaço para novos talentos musicais e ban- -americana e extrapolou os muros da Funda- dos velhos e novos tempos, o programa não das consagradas mostrarem o seu trabalho. ção Padre Anchieta. A TV Cultura, entretanto, se tornou uma referência importante. sempre se beneficiou dessas produções gra- A cara dos adolescentes Sãos e Salvos foi mais um programa voltado tuitamente em sua grade de programação. ao público adolescente, exibido de agosto Um domingo sem apelação Em agosto de 2000 o público jovem ganhou de 2000 a maio de 2001. Com uma temática A música nova estava o programa RG, misto de jornalismo e entre- que envolvia praias e surfe, o seriado tinha um em outras garagens Contra a incrível popularização da programa- tenimento, apresentado por Soninha Franci- visual inspirado na estética das histórias em ção dos domingos das TVs comerciais, a Cultu- ne, jornalista lançada pela MTV, com grande quadrinhos e das animações. O cartunista An- Lançado em fevereiro de 2000, Musikaos ra lançou o Domingo Melhor (agosto de 2000), empatia com aquele público. Primeiro em- geli foi responsável pelos cenários e a criação pretendia exibir o novo, dando espaço para que reunia atrações especiais e oferecia diver- prego, música, sexualidade, dicas de cursos, visual do programa, enquanto Adão Iturrus- as nascentes bandas amadoras. Tentava tri- são e arte para toda a família. Participaram di- qualidade de vida, ecologia e problemas so- garai assinava as animações e as caricaturas. lhar o caminho aberto pelo mais antigo, mas versos apresentadores da Cultura, levando o ciais, ou seja, tudo o que poderia interessar Marcelo Sommer produziu o figurino. A trilha não menos célebre, Fábrica do Som, de 1983. melhor do que se produzia para o público dos aos jovens entre 15 e 18 anos. O programa sonora contou com nomes como Paralamas Apesar de bem dirigido por Davilson Brasi- domingos. Eram programas de vários gêneros abordava um tema diferente a cada dia, pro- do Sucesso, O Rappa e Jorge Ben Jor.

Anos 2000 160 161 Anos 2000 Em dezembro de 2003 a TV Cultura lançou Rossi e Caco Barcellos; escritores como a série Galera, dedicada a jovens de 14 a 19 e Luis Fernando Verissi- anos. O programa tinha como cenário prin- mo; psiquiatras como José Ângelo Gaiarsa cipal uma escola, em que um elenco de ca- e Paulo Gaudêncio; atores como Paulo Au- torze atores comandava o enredo, recheado tran e Tônia Carrero; cineastas como Jorge de dúvidas existenciais e amorosas comuns Bodanzky e Ugo Giorgetti; jogadores de fu- a qualquer jovem. Recebeu de especialistas, tebol como Raí e Sócrates; religiosos como críticas positivas, mas também negativas. dom Paulo Evaristo Arns e Monja Coen; juris- Em suas análises o consideravam um modelo tas como Dalmo de Abreu Dallari; cientistas desgastado, com abordagem de temas co- como Miguel Nicolelis; médicos como Adib nhecidos e que não ampliavam os repertó- Jatene; políticos como Luiz Carlos Bresser rios dos jovens. Pereira, Luiza Erundina e Jean Wyllys; músi- cos como Tom Zé, e Emici- da, além anônimos, como moradores de rua Um espaço para e prostitutas. Logotipodo programa , déc. 2000. Provocações a inquietação e a dúvida

Fernando Faro e Antônio Abujamra Foram 705 programas e mais de mil entrevis- no estúdio do programa Provocações, déc. 2000. tados em quase quinze anos. Provocações, As fronteiras entre um programa concebido e apresentado por arte, matemática e ciência Antônio Abujamra, estreou no dia 6 de agos- to de 2000 e ficou no ar até 28 de abril de Arte e Matemática foi uma série de treze 2015, quando da morte do apresentador. Em programas apresentada pela TV Cultura em 23 de junho, André Abujamra abriu o primei- 2001. Uma coprodução com a TV Escola do ro de três programas “Pós-Provocações Es- Ministério da Educação, destinava-se ao pú- peciais” com as seguintes palavras: “Este foi blico jovem e adulto interessado em desco- o cenário de Provocações. Está sendo des- brir as conexões entre as diversas formas montado. Foi aqui que meu pai passou ca- de conhecimento humano, especialmente a torze anos e dez meses da vida, caminhando arte, a matemática e a ciência. no incerto e idolatrando a dúvida”. “A série derruba ideias equivocadas, como , cara a cara, Abujamra teve compartimentações estanques, e, através de completa liberdade para impactar o entre- programas agradáveis, restitui a equiparida- vistado com perguntas provocadoras e inu- de que sempre existiu entre a arte e a mate- sitadas, ler textos, recitar poemas e dar voz a mática. Por mais estranhos que os conceitos pessoas anônimas nas ruas. Levava seus en- pareçam num primeiro momento, ao assistir trevistados a revelar seus pensamentos, ex- os programas e acessar o site com as dicas pectativas ou frustrações de forma às vezes de como podem ser aplicados em sala de provocativa, às vezes doce. aula, sem dúvida estamos dando um salto qualitativo na formação dos parâmetros crí- Entre os convidados, jornalistas como Mino ticos criativos”, disse Walter Silveira, um dos Carta, Luis Nassif, Rodolfo Konder, Clóvis responsáveis pela série.

Anos 2000 162 163 Anos 2000 Wesley Duke Lee em gravação do programa Ilha Rá-Tim-Bum, 2002. Arte e Matemática, 2001.

Uma universidade na madrugada

Universidade da Madrugada estreou em no- Para que a experiência não perturbasse a lógica de Mário Manga. O elenco contava com doze vembro de 2002. O programa baseava-se da grade de programação preexistente na TV atores principais, encabeçados por Ernani Mo- em aulas ou conferências realizadas com au- Cultura, a emissora colocou a programação na raes e Graziella Moretto, e a história era narrada tores de grande reputação nos diversos te- madrugada, o que lhe valeu o nome de batismo. por três fantoches, com as vozes dos cantores mas escolhidos. Isso possibilitou a produção Pedro Mariano, Fernanda Takai e Bukassa. de um “estoque do pensamento” dos mais importantes intelectuais brasileiros, além de Perdidos numa A trama gira em torno de três adolescentes revelar temas e conteúdos não habituais aos ilha de aventuras e duas crianças que vão parar numa ilha de- currículos altamente especializados de nos- serta, que, além de não existir no mapa, é ha- sos cursos superiores. Depois de gravada por Também em 2002, a TV Cultura lançou o seria- bitada por seres estranhos e fantásticos. Ali três câmeras, a aula realizada em auditórios do Ilha Rá-Tim-Bum, primeira produção infantil eles vivem grandes aventuras. O programa abertos era editada com ilustrações, comen- inteiramente digital feita no Brasil. Os textos foi reprisado entre 2003 e 2005 na TV Cul- tários e demais recursos. Assim, transforma- eram de Flávio de Souza, a direção de Maísa tura e, a partir de 2007, passou a ser exibido va-se em programa de televisão. Zakzuk e Fernando Gomes, e a direção musical pelo canal por assinatura TV Rá Tim Bum!

Anos 2000 164 165 Anos 2000 O primeiro governo Lula e o foco em programas sociais

Em 2003 Luiz Inácio Lula da Silva chega à No primeiro mandato, Lula sustentou sua presidência da República. Era o primeiro política econômica com base no tripé flutua- operário eleito presidente e em seu discurso ção cambial, metas de inflação e austerida- de posse no Congresso, resgatou os temas de fiscal, inspirado no modelo econômico do de esperança e mudança: “Mudança, esta é governo de Fernando Henrique Cardoso. Te- a palavra-chave, esta foi a grande mensa- mia-se a falta de responsabilidade em rela- gem da sociedade brasileira nas eleições de ção aos gastos durante os primeiros anos de outubro”. Seu candidato a vice-presidente, mandato petista. A despeito dessas expec- José Alencar, um importante empresário do tativas, o governo Lula empreendeu uma po- setor industrial de tecidos, garantiu à chapa lítica econômica que consolidou a luta pela uma imagem de conciliação entre trabalha- estabilidade e pelo controle da inflação. dores e empresários.

No novo governo, as promessas de mudan- O escândalo do mensalão ça se concentraram em programas sociais, alguns herdados do governo de seu ante- No Congresso Nacional, o Executivo fez di- cessor, unificados em novos programas di- versas concessões a partidos e parlamen- vulgados com roupagem nova e nomes de tares, de forma a constituir uma base aliada apelo popular pensados por marqueteiros, majoritária na Câmara dos Deputados e a Paulo Gaudêncio, Café Filosófico, 2003. como o Programa Luz para Todos, Univer- negociar maiorias ocasionais no Senado. Foi sidade para Todos (Prouni), Fome Zero (em nesse contexto que surgiram denúncias de 2003) que pretendia combater a fome e as que o PT estava comprando apoio político suas causas estruturais, e o Bolsa Família, com recursos de caixa dois ou sobras de ar- Boa expectativa para programa de transferência de renda, que recadação de campanha. o novo governo estadual oferecia ajuda financeira às famílias sob al- gumas condições, como a de que elas man- O presidente negou conhecer os fatos revela- Em 1º de janeiro de 2003, Geraldo Alckmin gelou R$ 1,5 milhão em verbas da Secreta- tivessem as crianças e os adolescentes en- dos pelas denúncias, por ele definidos como tomou posse como governador de São Pau- ria da Cultura para entidades que prestavam tre 6 e 17 anos na escola. “práticas inaceitáveis”, fez um pronunciamen- lo. Nascido em Pindamonhangaba em 1952, serviços na área social e disse que a polícia to à nação no qual afirmou não ter nenhuma formou-se na Faculdade de Medicina de seria duríssima. Em relação à política econômica, a estabi- vergonha de dizer ao povo brasileiro que o Taubaté. Ainda na faculdade, filiou-se ao lidade foi priorizada, cumprindo-se o com- PT tinha que pedir desculpas (em agosto de MDB. Foi vereador (1973- 1977) e prefeito Apesar das dificuldades encontradas na área promisso de campanha. Estavam fora de 2005). Apesar de toda a repercussão do es- (1977-1982) de Pindamonhangaba, deputa- da segurança pública, Alckmin foi bem ava- cogitação as moratórias das dívidas interna cândalo do mensalão, a popularidade do pre- do estadual (1983-1987) e duas vezes depu- liado na área da infraestrutura. e externa. No poder, o novo governo adotou sidente não foi substancialmente abalada. Em tado federal (1987-1995) por São Paulo. Em os regimes de câmbio flutuante e de metas julho de 2005, no auge das denúncias, as pes- 1988, ingressou no recém-fundado PSDB. Em março de 2006, quando anunciou que inflacionárias e fiscais instituídos pela ges- quisas indicavam que a avaliação do desem- seria o candidato do PSDB à presidência, tão anterior e, dada a crescente escassez do penho pessoal do presidente Lula melhorara, Logo no início do governo, lançou a pedra Alckmin atingiu aprovação recorde da popu- fluxo de capitais externos, viu-se obrigado a o que o levou ao segundo mandato nas elei- fundamental para a construção de um novo lação paulista. elevar juros e superávits primários. ções presidenciais de 2006. campus da USP na zona leste da capital, con-

Anos 2000 166 167 Anos 2000 Marília Pêra, programa Contos da Meia-Noite, 2003. Gravação do programa Guerrilha, 2003.

Filosofia, literatura e terceiro setor Logotipo do programa Contos da Meia-Noite, déc. 2000. No ano de 2003 estreou o Café Filosófico, uma Freud, Jung, Descartes, Nietzsche e Espinoza, como , Antônio Abu- iniciativa da CPFL Energia. Tratava-se de um até chegar a Deleuze, Lacan e Bauman. jamra, Maria Luísa Mendonça, Beth Goulart e espaço de encontro, estudo, reflexão e debate, . que lançava olhares para temas relacionados “Um apólogo”, de Machado de Assis, foi à realidade, a partir da filosofia. A educação, apresentado por Marília Pêra na estreia da Em setembro do mesmo ano de 2003 es- a fluidez do tempo, as relações sociais, psico- série Contos da Meia-Noite, programas de treou Guerrilha, programa de debates com o logia, literatura, cinema, teatro, artes, direito, até dez minutos inspirados em textos de au- terceiro setor, voltado ao público adolescen- ética, filosofia e outros temas pertinentes aos tores consagrados da literatura nacional, que te, fruto de coprodução com o Itaú Cultural. mais diversos aspectos da vida e do mundo estreou em dezembro. Entre os escritores se- Abordava temas de cultura, comportamento contemporâneos foram abordados no progra- lecionados estavam Dalton Trevisan, Rubem e cidadania com uma linguagem dinâmica e ma, que também discutiu o pensamento de Fonseca, Mário de Andrade, Lygia Fagundes atual. Era apresentado por Anelis Assump- filósofos, psicólogos e de outras figuras clás- Telles e . Oitenta e nove pro- ção, e as reportagens ficavam a cargo de sicas, desde Sócrates e Platão, passando por gramas foram gravados com atores e atrizes quatro videomakers.

Anos 2000 168 169 Anos 2000 Frente à Foram também formados comitês compos- dam a modernizar a televisão e equipá-la.” falta recursos tos por integrantes do conselho curador com Sem comprometer ou transgredir a missão, a capacidade de sugerir e acompanhar mais a qualidade e o conteúdo da emissora, es- A crise financeira se refletiu na programa- Diante da enorme dívida e da projeção de de perto a gestão. tabelecidos em regras estatutárias, a área ção. Em 2003 a estrutura de gestão da um déficit de R$ 11 milhões para o final de comercial adotou uma agressiva política de fundação incluía uma superintendência 2004, a diretoria adotou medidas de im- Do ponto de vista administrativo, foram ex- marketing. que tinha atribuições muito próximas às da pacto. Lançou-se à recuperação da funda- tintas três das cinco diretorias, entre elas a presidência executiva. Para esse cargo, in- ção com um planejamento que contemplava de programação. Contudo, isso não signifi- Além dos recursos obtidos com a publi- dicada pela Secretaria da Cultura, Julieda principalmente a racionalização da adminis- cou diminuição da estrutura da fundação cidade, Mendonça procurou aumentar Puig Pereira Paes foi eleita pelo conselho. tração, com foco em duas vertentes: a busca e seus custos. Flexibilizou-se o número de a receita própria da emissora por meio Entretanto, a gestão que deveria ser con- de aumento da receita e a contenção rigoro- diretores, ao deixar a criação das diretorias da criação da Cultura Marcas (julho de duzida em sintonia entre presidência e su- sa das despesas. No final de 2004, o déficit “operacionais” – antes fixadas pelo estatuto 2004), agência que tinha a missão dar perintendência se revelou o oposto disso. previsto para aquele ano tinha sido zerado. – a cargo do diretor-presidente. forma e suporte ao licenciamento de pro- Foram realizadas auditorias e consultorias Estavam assegurados o equilíbrio e a estabi- dutos criados a partir das marcas e dos que apontaram contra a administração, lidade financeira. Meses depois, Mendonça criou sete novas personagens célebres do canal, além de sem considerar devidamente o quadro fi- diretorias: expansão, jornalismo, marketing e responder pela venda e pela formatação nanceiro maior ao qual a fundação vinha Sua gestão começa com a modificação dos vendas, rádio, pesquisas, comunicação insti- de conteúdo para o mercado internacio- resistindo. A ingerência da superintendên- estatutos da Fundação Padre Anchieta, que tucional e novos projetos, assim como a re- nal. Até abril de 2007, a Cultura Marcas, cia para atuar na administração da emis- ocorre em duas etapas. A primeira se dá em cém-extinta diretoria de programação, para em parceria com mais de vinte empresas, sora fez também com que as atenções de 2004 e realiza basicamente duas modifica- a qual foi escolhido o jornalista Mauro Garcia. lançou mais de 1.200 produtos, tais como deputados de oposição ao governo na As- ções. De um lado, fortalece-se o papel do DVDs, brinquedos, jogos, CDs, artigos de sembleia Legislativa se voltassem para o presidente do conselho curador, que desde higiene pessoal, sucos, artigos para festas, tema, que foi utilizado como pressão polí- então passa a gozar de remuneração. Por ou- Publicidade livros, álbuns de figurinhas etc. tica, que tomou a forma de um pedido de tro lado, elimina-se a justaposição de poderes versus autonomia CPI para apurar as razões do sucateamento que desde 1987 havia entre o diretor-presi- Em sintonia com a filosofia da Cultura Mar- da TV. A comissão não chegou a ser ins- dente e o diretor-superintendente. O novo presidente resumiu os princípios de cas, passou-se a valorizar o acervo da emis- talada por falta de elementos consistentes, uma gestão eficiente: cortar despesas e au- sora, que contém registros valiosos da cultu- requeridos pelo regimento. A segunda etapa, bem mais abrangente, mentar receitas. Diante da necessidade de ra brasileira, de alto valor comercial, e corria ocorre em dezembro de 2005, quando a buscar recursos da iniciativa privada, modi- o risco de perder-se. Foi então iniciada a di- estrutura de poder da fundação é alterada, ficou as práticas em vigor até então, permi- gitalização. Essa valorização do acervo teve Marcos Mendonça: tanto em relação à composição do conselho tindo a veiculação de anúncios comerciais como paralelo a valorização da memória da avanços e reformulações curador quanto às normas que regem suas convencionais nos intervalos dos progra- fundação, que ganhou um importante ins- na estrutura de gestão deliberações. Os conselheiros eletivos, que mas, o que causou polêmica, especialmente trumento de preservação com a criação, em desde 1986 eram 21, passaram a 23 mem- em relação à perda de autonomia. O presi- março de 2005, do Centro de Memória Au- Em junho de 2004 Marcos Mendonça iniciou bros. Maiores mudanças ocorreram nas nor- dente sustentou a medida defendendo uma diovisual. seu mandato como presidente da Fundação mas que regiam o quórum das reuniões do publicidade que viesse agregar recursos à Padre Anchieta e Jorge da Cunha Lima se conselho curador. Facilitou-se a presença fundação, mas que não influenciasse a pro- Em 2004 a TV Cultura voltou a transmitir elegeu presidente do conselho curador. dos representantes dos governos estadual e gramação. Conforme depoimento de Marcos o sinal analógico via satélite pela Embratel, municipal ao facultar-se que os secretários Mendonça: “Essa regra, extremamente be- que havia sido interrompido em 1999 devido Marcos havia ocupado anteriormente o car- e também os reitores das universidades pu- néfica, enriqueceu a programação com pro- a questões financeiras. Essa medida permitiu go de secretário da Cultura e agora aplicaria dessem indicar representantes com poder dutos da mais alta qualidade, mercê, muitas disseminar a programação para milhões de sua experiência na área de televisão. de voz e voto, o que antes era proibido. vezes, desses recursos que também nos aju- parabólicas pelo Brasil todo.

Anos 2000 170 171 Anos 2000 Uma programação Destaque para a música, mais generalista de concerto e popular

Quando assumiu a presidência da funda- Uma das marcas da administração Marcos ção, em 2004, Marcos Mendonça deixou Mendonça, coerente com sua atuação an- clara a missão da TV Cultura. “A gente sem- terior junto à Orquestra Sinfônica do Esta- pre buscou fazer com que a TV Cultura ti- do, quando fora secretário da Cultura, foi vesse uma programação mais generalista, o fortalecimento da programação voltada de tal forma que pudesse atingir o maior para a música de concerto, com a introdu- número possível de pessoas”, afirmou. “E ção de nada menos que seis novos progra- também que, sem perder sua qualidade, mas: Fortíssimo e Por Dentro da Orques- pudesse atender segmentos da sociedade tra (ambos de julho de 2005); Resumo da que não têm a oportunidade de ter uma Ópera, Repertório, Movimento e Prelúdio TV por assinatura. No Brasil, a TV aberta (os quatro de agosto de 2005). Prelúdio basicamente excluiu a música de qualida- promovia – e ainda promove – um concur- de, a música erudita, documentários sobre so entre jovens concertistas, sob o coman- ações culturais, sobre meio ambiente, so- do do maestro Júlio Medaglia, um vetera- bre a questão social do país. E nós investi- no da emissora. Produto cultural de alta mos muito fortemente nisso. Quer dizer, a complexidade, que ainda hoje conta com TV Cultura tem feito um esforço gigantes- um público restrito no Brasil, a música de co nessa direção.” concerto tem pouca chance de prosperar nas emissoras comerciais, o que torna fun-

A TV Cultura, cujo perfil está fundado na damental abrir espaços para ela. Fagner e Rolando Boldrin no programa Sr. Brasil, 2005. premissa de oferecer uma programação voltada à formação cidadã, tinha à fren- No mês de julho de 2005 foi a vez de Sr. te novos desafios para manter sua identi- Brasil, o novo programa de música da emis- APCA como o melhor programa da televisão Programação infantil na dade nesses novos tempos. Procurou-se sora dedicado aos ritmos e temas regionais brasileira. O programa foi seguindo, com um TV aberta e por assinatura aumentar a audiência, fator observado brasileiros, comandado pelo veterano ator e desfile de artistas brasileiros jamais mostra- pelos anunciantes, por meio de progra- cantor Rolando Boldrin. Ao exibir as diversas dos com tanta paixão, entusiasmo e qualida- Em dezembro de 2004, entrou no ar o canal mas que pudessem atrair mais camadas vertentes da música popular brasileira, sem de em qualquer TV. Ao completar 50 anos, pago TV Rá Tim Bum!, que passou a contar de público. Algumas tentativas nesse sen- excluir aquelas de origem claramente urba- a TV Cultura se orgulha de ter encarregado com uma grade de anunciantes, o que esti- tido resultaram malsucedidas, como Sen- na, Sr. Brasil transformou-se rapidamente em Boldrin de contar muitas e muitas histórias mulou a produção de novos conteúdos para ta que Lá Vem Comédia (que trouxe uma um ícone no cenário televisivo. Logo em seu “de amar o Brasil através do Sr. Brasil”. o segmento infantil. A programação não foi fórmula anacrônica do teatro para a TV, ano de estreia ganhou o Prêmio APCA de partilhada em tempo real com o canal aberto, sem qualquer adaptação de linguagem) melhor programa da televisão brasileira. Atenção especial foi dedicada às emissoras de havendo uma defasagem de até seis meses. e o programa de entrevistas Silvia Popo- rádio. A Cultura FM recebeu investimentos que vic, por terem se distanciado dos perfis e Até hoje no ar, aos domingos pela manhã, possibilitaram a melhoria de sua programação Uma das principais motivações para a criação formatos seguidos pelo canal desde a sua tornou-se parte da cara da TV Cultura. Bol- e de seu sinal de transmissão. Até 2004, a do canal foi a constatação de que as crianças criação, o que já havia acontecido com drin aceitou o convite de Marcos Mendonça emissora contava com cinco apresentadores, brasileiras tinham acesso a uma programa- Alô, Alô, apresentado por Fafy Siqueira, e dizia, bem-humorado, ser quase impossí- número que foi ampliado para 33, entre eles ção superficial e em grande parte estrangei- que teve uma vida curta em 2002, na ges- vel negar o “convite-intimação”. Logo de nomes do porte dos maestros John Neschling, ra, dado que a produção televisiva requer um tão anterior. cara, no ano da estreia, a outorga do Prêmio João Carlos Martins e Júlio Medaglia. investimento alto. “Buscamos fazer um canal

Anos 2000 172 173 Anos 2000 que tivesse essa característica de demandar seu segundo governo mantiveram-se num Roda Viva e sua indicação foi bem recebida sempre foi um espaço de ousadia e inova- produtos brasileiros. Foi a primeira emissora quadro de estabilidade e crescimento que pelos funcionários. Seu nome foi defendido ção. De um tempo para cá, ela perdeu um brasileira e é a única que tem 100% dos seus marcaria o final de sua primeira gestão. pelo então secretário da Cultura, João Sa- pouco isso, talvez buscando melhores re- produtos feitos no Brasil. Esse é um grande yad, e apoiado por José Serra. Seguindo a sultados de audiência, não sei. O que tenho diferencial”, observou Marcos Mendonça. tradição do conselho de, a partir de enten- usado como mantra é o artigo 3º do esta- O novo governo estadual dimentos, adotar uma candidatura única, tuto: ‘contribuir para a formação crítica do Cabe salientar que o investimento em progra- Marcos Mendonça renunciou à reeleição e homem e o exercício da cidadania’. Senão mação infantil própria ou via aquisição de ter- José Serra, empossado em 1º de janeiro de Jorge da Cunha Lima foi reeleito presiden- a gente perde o rumo. No ano que vem, va- ceiros é algo notório na história da TV Cultura, 2007, foi governadorde São Paulo no final de te do conselho curador. mos intensificar a busca da inovação, da ou- o que se constata pelo espaço oferecido aos in- 2006. Nasceu em São Paulo e estudou enge- sadia, mesmo com risco de errar”. fantis em sua grade diária de programação. His- nharia civil na Escola Politécnica da USP. Exi- Por exigência do conselho, Markun apresen- toricamente, a TV Cultura oferece a maior par- lado durante o regime militar, tornou-se pro- tou seu programa de gestão fundamentado Houve mudança substancial no organo- ticipação de espaço a programas infantis entre fessor e ingressou no MDB, mais tarde PMDB. em sete objetivos: fortalecer a conexão entre grama funcional da fundação, com a cria- todas as emissoras de televisão abertas: em Em 1982 tornou-se secretário de Planejamen- o público e os veículos da fundação, transfor- ção de cinco diretorias: administração e média, 9 horas diárias de programação. Duran- to do governador Montoro e em 1986 elegeu- mando-os em parceiros estratégicos; progra- finanças, engenharia, produção, projetos te muitos anos, a composição da grade da Rede se deputado para a Assembleia Constituinte. mar os novos canais para a entrada em fun- especiais e captação e marketing. Bus- Globo, por exemplo, era formada por cerca de Em 1988, ajudou a fundar o PSDB. Foi depu- cionamento da TV digital; ampliar a atuação cando agilidade e maior horizontalidade, 2 horas e meia diárias dedicadas a programas tado federal (1987-1995), ministro do Planeja- da Fundação Padre Anchieta com conteúdo foram formados vários núcleos não seto- do gênero. Porém, como as emissoras comer- mento (1995-1996) e da Saúde (1998-2002) e voltado para as várias mídias; fortalecer o rizados, mas articulados a todas as dire- ciais se pautam pela publicidade, e o segmento prefeito de São Paulo (2005-2006). papel da fundação como prestadora de ser- torias: jornalismo, arte e cultura, infanto- infantil não tem os maiores anunciantes, houve viços multimídia para parceiros institucionais juvenil, dramaturgia, cidadania e serviços, uma tendência de esses canais abandonarem Em seu governo as prioridades de gestão ou privados com objetivos compatíveis; es- música, produção independente e parce- a programação infantil. Nesse contexto, tanto a eram a expansão do metrô e do Rodoanel, timular a produção independente, com con- rias, educação, eventos e publicações, rá- TV Cultura como a TV Rá Tim Bum! represen- a modernização da rede de trens da Gran- trole e acompanhamento editorial da funda- dio, comunicação e novos negócios. taram um importante contraponto na oferta de de São Paulo, a recuperação de estradas vi- ção, a exemplo de outras emissoras públicas programação infantil brasileira. cinais, a introdução dos ambulatórios médi- no exterior; prosseguir e acelerar o processo Com intuito de aliar o marketing aos ob- cos de especialidades, além da construção de digitalização do acervo, buscando formas jetivos e à missão da fundação, a Cultura de dez novos hospitais. Em agosto de 2009 de facilitar o acesso a seu conteúdo; fortale- Marcas passa a incluir a Cultura Imagens, A conjuntura sociopolítica o governo Serra criou a Lei Antifumo, que cer o campo público de televisão mantendo voltada à comercialização do acervo, na metade da década serviu de base para outras leis parecidas em a identidade da TV Cultura. atendendo ao mercado publicitário e ci- outros estados. Serra renunciou ao cargo de nematográfico. No plano estadual, em 31 de março de 2006 o governador em 2 de abril de 2010, para se O novo presidente também afirmou que plei- governador Geraldo Alckmin renunciou para candidatar à presidência da República. teava a recomposição dos recursos transfe- concorrer às eleições presidenciais de outu- ridos pelo governo estadual, que nos últimos A TV pública no âmbito federal bro e Claudio Lembro assumiu o governo até anos estavam abaixo da média histórica. E 1º de janeiro de 2007, quando foi substituído Paulo Markun e os que, além dos recursos próprios – esforço de Em 2007 ocorre o I Fórum Nacional das por José Serra. objetivos da nova gestão marketing, venda de publicidade, de servi- TV Pública, que representa um marco de ços, patrocínio –, pretendia buscar recursos consolidação de discussões e políticas de No governo federal, embalado pela populari- Paulo Markun assumiu a presidência da junto ao governo federal. reorganização da TV pública. O encontro dade conquistada com os programas sociais, Fundação Padre Anchieta em 14 de junho se deu após oito meses de constituição Lula foi reeleito para o seu segundo manda- de 2007. Era jornalista dos quadros da TV Comentando sobre questões de audiência, do fórum, que reuniu integrantes do Mi- to. Praticamente, os primeiros dois anos do Cultura como apresentador do programa Markun se posiciona pela ousadia: “A Cultura nistério da Cultura e da Radiobrás, assim

Anos 2000 174 175 Anos 2000 como representantes de emissoras educa- cionários, ela é controlada por um conselho tivas, legislativas, universitárias e comunitá- de administração e uma diretoria nomeada rias, e buscou traçar diretrizes para a televi- pelo presidente da República. A TV desde são pública no país. o início foi alvo de críticas em função do alto volume de recursos para uma audiên- Dele resultou a publicação do Manifesto pela cia muito baixa. O grau de ingerência do TV pública independente e democrática, do- governo federal nos rumos da TV Brasil se cumento que ficou conhecido como a Carta agravaria ainda mais a partir de 2011, duran- de Brasília, que defendia uma rede que es- te o governo Temer, que em 2016 extingue o tivesse a serviço da universalização dos di- conselho curador. reitos à informação e demais direitos huma- nos e sociais, editorialmente independente de mercados e governos, que estimulasse a Um contrato de formação crítica do cidadão e valorizasse a parceria inédito produção independente e regionalizada, ex- pressando a diversidade de gênero, étnico- Frente a essas mudanças no campo das co- -racial, de orientação sexual, regional e social municações no Brasil, ao desafio tecnológico do Brasil. Ele recomenda que, para garantir da produção digital e à contínua defesa da essa autonomia à gestão, deve-se partir de autonomia editorial e administrativa da fun- órgãos colegiados, compostos majoritaria- dação, a necessidade de renovação do rela- mente por representantes da sociedade civil, cionamento entre a instituição e o governo e que seu financiamento seja feito por múlti- do estado se intensificou. Durante o gover- plas fontes, mesclando orçamentos públicos no de José Serra foi firmado um contrato de e de fundos não contingenciáveis. parceria entre a Fundação Padre Anchieta e Opinião Nacional, Alexandre Machado e Luiza Erundina, 2007. o governo do estado (em 2008). Com empe- Entretanto, o encontro não chegou a definir nho e aprovação unânime do conselho cura- os marcos reguladores que deveriam reger dor, o instrumento criou obrigações mútuas, Análise, agilidade e o funcionamento da TV pública, a partir das garantindo o aporte e o gerenciamento de interatividade no jornalismo determinações que constam nos artigos 221 recursos do governo por cinco anos, sem e 222 da Constituição Federal dedicados à modificar a autonomia da fundação. Logo no início do mandato do novo presi- do o telespectador sobre as divergências comunicação. dente, o núcleo de jornalismo da televisão suscitadas pelo tema, que era então deba- A instituição passou a ter crescentes respon- passou por uma reformulação. O Jornal da tido por um painel de personalidades, com Em outubro de 2007 é criada a Empresa sabilidades em seu custeio e se comprome- Cultura foi repaginado, ganhou novos apre- a participação de uma pequena plateia de Brasileira de Comunicação – EBC, mantene- teu a incrementar a participação de produ- sentadores, cenário e equipamentos de cap- convidados presente no estúdio e dos te- dora da TV Brasil, televisão pública federal ções independentes em sua programação, tação e edição que modernizaram e agiliza- lespectadores que enviavam questões e sucessora da TVE, que adotou os princípios entre outras obrigações, enquanto o gover- ram sua realização. comentários. propostos pelo fórum, porém se concreti- no se comprometeu a participar do custeio zou como uma televisão nos moldes esta- da fundação, conforme valores definidos no Em 2007, foi lançado o programa de deba- Para Alexandre Machado, “em todos esses tais, pois, embora o decreto de sua criação acordo, aportar recursos para investimentos tes Opinião Nacional apresentado por Ale- debates havia uma dinâmica preciosa até inclua um conselho curador composto por e cobrir indenizações trabalhistas e ressarci- xandre Machado. A cada semana escolhia- hoje não acolhida pelas emissoras abertas quinze representantes da sociedade civil, mentos decorrentes dos debates da condi- se um tema, a partir do qual se elaborava de televisão: o debate plural. Ao invés do um do Senado, um da Câmara e um dos fun- ção jurídica da fundação. uma reportagem de 3 a 5 minutos, situan- debate polarizado, o debate plural”. Anali-

Anos 2000 176 177 Anos 2000 sado à luz dos dias de hoje, o pluralismo se renovado. A volta do programa infantil foi torna um valor ainda mais essencial, segun- negociada no âmbito internacional anos do ele, pois “o avanço tecnológico, com a antes pela fundação e viabilizada graças a criação das redes sociais, acentuou ainda uma parceria de coprodução com a TV Bra- mais essa polarização, não só no Brasil. sil. Sucesso de público nos anos 1970, quan- Vivemos empurrados para ser contra ou a do encantou toda uma geração, Vila Sésa- favor de alguma coisa. Na verdade, a im- mo ainda é exibido em 120 países. Alegre portância do debate plural está na riqueza e sabidão, Garibaldo, vivido por Fernando das possibilidades de escolha oferecidas Gomes, um pássaro de 2,4 metros e 6 anos ao nosso cliente – Sua Excelência, o teles- de idade, retornou com a penugem tingida pectador (...) A carreira do Opinião Nacio- de amarelo, acompanhado por sua amigui- nal prestou esse serviço. Não há hoje, em nha Bel, uma monstrinha vermelho-cereja e qualquer emissora de televisão aberta do peluda de 3 anos de idade. Bel é criação es- país, um programa de debates plurais. Jus- pecial para a nova versão. to num país tão necessitado de compreen- der a natureza de seus problemas”. O programa incluiu minidocumentários de aproximadamente um minuto e meio, grava- dos com crianças de diferentes regiões do Espaço para a responsabilidade país. O objetivo era retratar os costumes, os socioambiental hábitos, as culturas e as brincadeiras de me- ninos e meninas do Brasil. Crianças da Ama- Balanço Social foi fruto da junção de três zônia, do Pantanal, da Bahia e de São Paulo programas da faixa Vida Sustentável: Pla- participaram dos documentários. Os clipes neta Cidade, Ação Consciente e Balanço musicais vieram recheados com canções Jorge Aragão no programa Manos e Minas, 2008. Social. Com a fusão, temas como respon- brasileiras compostas por Arthur Nestrovski sabilidade social empresarial, sustentabi- (que assina a direção musical da série) e An- lidade e ações de preservação ambiental dré Mehnari. ganhavam maior destaque no programa, que mostrava modelos bem-sucedidos com o objetivo de provocar a conscientização Documentários, um traço para a agenda socioambiental. Já em seu da identidade da TV Cultura Logotipo do programa Manos e Minas, déc. 2000. primeiro ano de exibição, em 2006, rece- conduzido por Luiz Carlos Azenha, sobre beu o Prêmio Ethos de melhor programa A informação, o fomento, através da pro- o conflito em torno da implantação da re- sobre responsabilidade social. dução ou coprodução, e a difusão de do- serva indígena no norte de Roraima e suas cumentários na grade de programação consequências, obteve menção honrosa sempre fizeram parte da vocação da TV do Prêmio Vladimir Herzog e foi finalista Vila Sésamo Cultura. Nesse período, os documentários do Prêmio Esso de Jornalismo. O projeto está de volta foram um ponto prioritário da gestão. A Janela Brasil, lançado em março de 2008, série Xingu, a Terra Ameaçada, de Washing- exibiu um conjunto de documentários pre- Longe da TV havia trinta anos, por projeto ton Novaes, realizada para a TV Manche- miados no concurso Janela Brasil, fruto de ainda da gestão anterior, Vila Sésamo retor- te, foi remasterizada e exibida na grade de uma parceria entre a TV Cultura, a Secreta- nou à programação em 2007, em formato programação. Luta na Terra de Makunaíma, ria Cultura de São Paulo e a SESCTV.

Anos 2000 178 179 Anos 2000 e equipe do programa A’uwe, 2010. Elifas Andreato e Fernando Faro, programa Móbile, 2008.

Um canal para a música Pluralidade cultural do século 21 e social nas telas

Graças à alta popularidade conquistada Radiola foi o novo programa semanal de mú- Dança, teatro, artes plásticas, gráficas, episódios realizados pelos próprios índios quando era apenas um quadro do progra- sica da TV Cultura que estreou em 2008. Co- música... tudo isso fazia parte do progra- ou documentaristas não índios, sobre os ri- ma Metrópolis, em 1993, Manos e Minas se mandada pelo produtor musical João Mar- ma Móbile, dirigido por Fernando Faro, tuais, os conflitos, as tradições e as histórias tornou um programa da grade da TV Cul- cello Bôscoli, a atração trouxe reportagens e que estreou em 2008. Com uma estrutu- das diferentes etnias do Brasil e as questões tura em abril de 2008, com a apresentação apresentações ao vivo com artistas brasilei- ra mutável, o programa não tinha começo, indígenas contemporâneas. de Rappin’ Hood. No palco, nomes famo- ros de todos os gêneros. A ideia foi explorar o meio e fim. Não tinha quadros nem perso- sos produziam grafites durante a gravação, universo atual da produção musical, de entre- nagens fixos. Diversas expressões artísti- obras que hoje fazem parte do acervo da vistas com artistas, cobertura de shows e fes- cas iam se intercalando, criando uma for- Univesp TV Fundação Padre Anchieta. Rappin’ Hood co- tivais, reportagens sobre instrumentos, livros, ma inédita e inusitada. e Multicultura mandou o programa durante um ano, até ser discos e tudo o que gira ao redor da música. substituído por Thaíde, em 2009. Com a mu- Produzido pela equipe Trama, a concepção Lançado em julho de 2008, A’uwe aborda- Em agosto de 2009, após negociações com dança de apresentadores, a identidade vi- de Radiola foi de Fernando Faro e João Mar- va as tradições, rituais, problemas e histó- o Ministério das Comunicações, a TV Cultura sual e o conteúdo do programa também são cello Bôscoli e a direção de Roberto Baptista rias do povo indígena. Apresentado pelo começou a operar oficialmente com dois ca- remodelados. e Ricardo Devecz. ator Marcos Palmeira, A’uwe contou com 26 nais no espaço da multiprogramação, recurso

Anos 2000 180 181 Anos 2000 a Rádio Cultura FM amplia seu elenco de mú- da música brasileira”. A programação conti- sicos, críticos, especialistas e jornalistas. Eles nua voltada para a música popular brasileira. não apenas apresentam programas, como A Cultura Brasil mantém sua grade, toda a tratam de interagir diretamente com o ouvin- sua equipe de profissionais e a mesma am- te, respondendo a perguntas e esclarecendo plitude de programação, da música de raiz à dúvidas. Era assim que o maestro João Mau- música independente. rício Galindo promovia a educação musical por meio de perguntas simples sobre a ativi- dade e as aventuras do maestro. Fortalecimento da programação digital O violista Marcelo Jaffé e o violonista Fábio Zanon também abordaram os segredos da Essas atividades fecham um ciclo de gestão execução em programas que se tornaram re- com uma mudança pontual no estatuto, em ferência na educação musical formal. E Arri- 2009, quando se aprova a extensão da nor- go Barnabé desbravou as fronteiras sonoras ma de promover atividades educativas e cul- e improváveis em programas que mexeram turais. com as convicções do público. O crítico João Marcos Coelho usou toda a sua vivência, seu A emissora criou um canal próprio no site conhecimento e sua sabedoria para aproxi- de publicação de vídeos YouTube em 16 de mar a música contemporânea dos ouvintes. janeiro de 2009. Esse ano também marcou Fizeram sucesso programas dos maestros a entrada da TV Cultura no mundo da mo- Diogo Pacheco e João Carlos Martins, que se bilidade. Conteúdos especialmente selecio- empenharam em divulgar o conhecimento nados e editados para o público infantil e dos clássicos de forma acessível. juvenil já podem ser vistos em aparelhos de Vinheta de divulgação da programação da Rádio Cultura FM. telefonia celular. Nesse quadro de divulgação e informação, o jornalismo passou a integrar o dia a dia O ano de 2009 registrou um grande volume da TV digital que permite a transmissão de presenciais em todo o território. É o primeiro da rádio, com programas de reportagens e de investimentos em infraestrutura e tecno- vários programas ao mesmo tempo: a Uni- canal digital do país a apresentar programa- entrevistas apresentados e produzidos por logia. Cerca de R$ 15 milhões foram aplica- vesp TV e o MultiCultura. ção própria, diversa da transmitida pelo cor- profissionais como Salomão Schvartzman, dos na renovação e na aquisição de equipa- respondente canal analógico – um pioneirismo Paulo Markun, Rodolfo Konder, Vinícius Fran- mentos com tecnologia de ponta. No mesmo O MultiCultura inaugurou a multiprograma- da Fundação Padre Anchieta e da TV Cultura, ça, Alberto Dines, Gioconda Bordon, Alexan- ano a TV Cultura foi a pioneira em programa- ção de TV digital no país e passou a exibir realizado com a Secretaria de Ensino Superior dre Machado e Fabio Malavoglia. ção digital da TV aberta no Brasil. o acervo da TV Cultura distribuído em eixos do Estado de São Paulo e a FAPESP. temáticos de forma vertical, a cada dia, em di- Em 2008, a Rádio Cultura AM assumiu um reção contrária à da horizontalidade presente novo posicionamento. Com o sinal via saté- nas grades dos canais de televisão no Brasil. As rádios Cultura FM e AM lite aberto, a emissora preparou-se para se se reformulam transformar em cabeça de rede e iniciar a O Univesp TV é o canal da Universidade Virtual transmissão de seu conteúdo em território do Estado de São Paulo, que amplia o acesso No decorrer da década de 2000, as rádios nacional. Para se adequar a essa nova etapa, da população paulista ao ensino superior pú- Cultura FM e Cultura AM passam por um passou a se chamar Cultura Brasil e adotou um blico por meio da TV, da internet e de aulas processo de reformulação. A partir de 2004, novo slogan: “Rede Cultura Brasil, a sintonia

Anos 2000 182 183 Anos 2000 2000 2001 2002 2003

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA Começa o processo de instalação de equipamentos jun | Jorge da Cunha Lima é empossado presidente, A Fundação Padre Anchieta passa a operar a TV ago | Julieda Puig Pereira Paes assume a superin- digitais em todos os estúdios de gravação e emis- iniciando seu terceiro mandato à frente da fundação. Justiça, do Supremo Tribunal Federal. tendência da fundação, substituindo Manoel Luiz Luciano Vieira. são da TV e das rádios da fundação. Início das atividades do Núcleo de Projetos e Tele- Em pleno ano eleitoral, a Rádio Cultura AM se re- Início do projeto de transmissão dos sinais das rá- ducação da TV Cultura, coordenado por José Ro- cusa a fechar contrato com a Assembleia Legisla- A TV Cultura, em parceria com a USP, Mackenzie e dios Cultura AM e FM por satélite e pela internet, em berto Sadek. tiva de São Paulo para ceder horários diários aos TV Globo, participa dos testes de instalação do mo- delo japonês de TV digital. tempo real. Estreia o programa Arte e Matemática, parceria entre deputados. É instalada a nova redação de jornalismo e são a Fundação Padre Anchieta, a TV Escola e o MEC. Estreia do telejornal Edição de Sábado e do diário Estreia o programa Café Filosófico, de encontros com convidados nos quais são abordados temas da lançados dois novos telejornais: Diário Paulista e Estreia de Catalendas e a Turma do Pererê, infantis Programa Econômico, conduzido por Luis Nassif. sociedade contemporânea, tendo como referências Matéria Pública. que vão ao ar aos sábados. Estreia o infantil Ilha Rá-Tim-Bum, que vai ao ar de teóricas fundamentais a psicanálise e a filosofia. Estreia Musikaos, apresentado por Gastão Moreira e segunda a sexta. TVS BRASILEIRAS Estreia DOCTV, iniciativa pioneira voltada a pro- realizado em parceria com o Sesc. Estreia Gema Brasil, programa de cultura culinária. mover a regionalização da produção de documen- Estreia Provocações, inconvencional programa de Telespectadores de todo o mundo acompanha- Estreia Universidade da Madrugada, que veicu- tários por meio da parceria entre a TV pública e a entrevistas conduzido por Antônio Abujamra, exibi- ram ao vivo pela TV o atentado terrorista ao World la em horários antes ociosos programas em que produção independente. Desenvolvido pela Secre- do por 15 anos. Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington. grandes intelectuais brasileiros discorrem sobre taria do Audiovisual do Ministério da Cultura, a TV Estreia da faixa Domingo Melhor, uma reunião de temas diversos. O Congresso Nacional aprova alteração constitucio- Cultura e a Associação Brasileira das Emissoras Pú- atrações especiais de entretenimento, arte, esporte Vai ao ar Alô Alô, programa de variedades apresen- blicas, Educativas e Culturais - ABEPEC. e ecologia para toda a família, com o intuito de ofe- nal que permite a participação estrangeira nas em- tado por Fafy Siqueira. Estreia , programa de debates com o ter- recer uma programação alternativa de qualidade. presas brasileiras de comunicação. Guerrilha ceiro setor, voltado ao público adolescente, fruto de Participam diversos apresentadores da TV Cultura. A Rede Globo transmite nova versão do Sítio do TVS BRASILEIRAS coprodução com o Itaú Cultural. Estreiam diversos programas voltados para jovens: Picapau Amarelo. Estreia na Rede Globo o reality show Estreia Conjuntura Econômica, programa jornalísti- Sãos e Salvos, seriado com animação e música, RG, Estreia o canal BandNews, com distribuição a cabo, Brasil, consolidando o gênero no país. co de análise e entrevistas sobre economia. programa de auditório apresentado por Soninha que transmite notícias 24 horas por dia. A TV por assinatura alcança 3,5 milhões de do-

Francine, Movix, de esporte para crianças e adoles- O SBT lança o reality show Casa dos Artistas, de enor- micílios e um público estimado em 12 milhões de Vão ao ar Contos da Meia-Noite, com a leitura dra- centes, e Ver Ciência. mática de contos de autores nacionais, e Galera, me sucesso, superando em audiência a 3ª edição de telespectadores. No Limite, veiculada pela Globo na mesma época. série de teledramaturgia que retrata o cotidiano de TVS BRASILEIRAS adolescentes de uma escola pública paulistana. A indústria especializada na produção de aparelhos Definido o modelo japonês para implementação do de TV inicia o novo milênio com a apresentação da TVS BRASILEIRAS sistema de TV digital no Brasil. Web TV, integração entre televisão e internet em um A TV Record, emissora mais antiga do país, come- O Ministério da Justiça publica portaria determinan- mesmo aparelho. mora 50 anos. do a classificação dos programas televisivos por fai- xa etária e horário de sua exibição. BRASIL O governo federal promulga o decreto que institui o Sistema Brasileiro de Televisão Digital – SBDTV. A TV Senac transforma-se na STV – Rede Sesc Se- 06 mar | Mário Covas morre e o vice Geraldo Alckmin nac de Televisão. é empossado governador do estado de São Paulo. BRASIL Aos domingos, a audiência do programa de Gugu 1o jan | Luiz Inácio Lula da Silva toma posse como pre- Liberato, do SBT, supera a do Faustão, da Globo. sidente da República. A Rede Globo lança No Limite, inaugurando o con- 1o jan | Geraldo Alckmin é empossado governador ceito de reality show no país. eleito do estado de São Paulo. Estreia do Caldeirão do Huck, comandado por Lucia- no Huck aos sábados, na Rede Globo.

Antônio Abujamra, Provocações, 2000. Turma do Pererê, 2001. Ilha Rá-Tim-Bum, 2002. Matheus Nachtergaele, programa Contos da Meia-noite, 2003.

Anos 2000 184 185 Anos 2000 2004 2005 2006 2007

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA jun | Marcos Ribeiro de Mendonça é empossado A TV Cultura passa a enviar seu sinal no modo Estreia Campus, projeto que nasceu com o objetivo jun | Paulo Markun toma posse como presidente como presidente executivo da Fundação Padre An- analógico para o satélite de comunicação Brasil- de criar na grade de programação da TV Cultura um executivo da Fundação Padre Anchieta. chieta. Início do mandato de Jorge da Cunha Lima sat B1, passando a atingir aproximadamente 15 mi- espaço para divulgação da produção acadêmica, TV Cultura passa a transmitir sinal digital. como presidente do conselho curador (até 2010). lhões de antenas. transformando-se em um canal aberto entre a so- ciedade e a universidade. A TV Cultura monta tenda própria na Festa Lite- Toma posse o ombudsman da Fundação Padre Mudança no estatuto da fundação, que definiu nova rária de Paraty - FLIP, onde produz cinco edições Anchieta, Osvaldo Martins, encarregado de opi- composição para seu conselho curador. A série Teatro Ra-Tim-Bum apresenta adaptações inéditas do Roda Viva, além de especiais do Metró- nar sobre as atividades da TV Cultura e das rá- Criação do Centro de Memória Audiovisual da Fun- de peças de teatro infanto-juvenil para a televisão. polis e do Vitrine. dios AM e FM. dação Padre Anchieta. Balanço Social é o primeiro programa da televisão Estreia na Rádio Cultura Brasil o Radar Cultura, pro- É criada a Cultura Marcas, agência de licenciamento Início do processo de digitalização do acervo da brasileira criado para divulgar e discutir ações de grama colaborativo com interface na internet. São dos produtos desenvolvidos a partir da programa- TV Cultura. responsabilidade social. instalados retransmissores na região da Guarapiran- ção da TV Cultura. A Fundação Padre Anchieta recebe homenagem da Metrópolis completa 18 anos com uma grande festa ga, ao sul da capital paulista. A TV Cultura reforça o jornalismo público: os pro- APCA por ter conquistado setenta prêmios da entidade. com apresentações musicais especiais e uma expo- Estreia o novo Vila Sésamo. gramas Diário Paulista e Jornal da Cultura têm o sição das obras de arte do acervo do programa. Extinção da Sinfonia Cultura. Estreia o programa Pé na Rua, que une cultura e in- horário de exibição ampliado. Estreia Mostra Internacional de Cinema na Cultura, Uma enchente alaga parte das dependência da formação para o público adolescente. Estreia Projeto Brasil, programa de economia do jor- com apresentação e curadoria de Leon Cakoff e Re- fundação. nalista Luis Nassif. nata de Almeida. É exibida a série DOCTV Ibero-América, com produ- Estreia , que exibe entrevistas, reporta- ções de treze países latino-americanos. Vai ao ar a TV Rá Tim Bum!, primeiro canal infantil Entrelinhas gens sobre tendências do mundo literário. TVS BRASILEIRAS brasileiro da TV por assinatura. Com produção intei- Estreia Letra Livre, novo programa de literatura. ramente nacional, sua programação mescla educa- Estreia Sr. Brasil, com Rolando Boldrin, programa que É assinado o decreto que regulamenta a adoção O Telecurso TEC é um programa de formação ção, cultura, informação e entretenimento. tem como base os ritmos e temas regionais brasileiros. pelo Brasil do padrão japonês de TV digital ISDB-T. técnica de nível médio nas área de administração

Vai ao ar Prelúdio, programa que une a música clás- A Rede Record tem faturamento superior a R$ 1 bi- de empresas. TVS BRASILEIRAS sica ao tradicional formato de show de calouros. lhão, proveniente em grande parte de venda de es- Estreia Vida Sustentável.

A TV Record investe significativamente em jorna- Vão também ao ar Fortíssimo, Por Dentro da Or- paço para a Igreja Universal do Reino de Deus. Reestreia de Opinião Nacional. lismo, entretenimento e teledramaturgia, adotan- questra, Resumo da Ópera e Movimento. É concluída a fusão da Sky com a DirecTV, que do o slogan “A caminho da liderança” e visando as Estreia o Programa Sílvia Poppovic, que vai ao ar às passam a ser controladas pela Globopar e por Ru- TVS BRASILEIRAS classes A e B. sextas-feiras. pert Murdoch. A Rede Record se consolida na vice liderança de au-

É anunciado acordo para a venda de parte da opera- Entram na programação infantil Agendinha, Qual é A operadora líder de TV a cabo, Net, anuncia a aqui- diência televisiva. dora de TV a cabo Net para a mexicana Telmex. As Bicho? e Baú de Histórias. sição da Vivax, segunda do ranking. Juntas, detêm O Ministério das Comunicações autoriza que os si- operadoras de TV por assinatura via satélite Sky e Estreia Senta que lá Vem Comédia. 75% do mercado de TV a cabo e 45% do mercado nais das TVs das Assembleias Legislativas estaduais DirecTV anunciam que irão se fundir. de TV paga. sejam transmitidos pela TV aberta. Estreiam Mar sem Fim, programa de reportagens Estreia na TV Record o reality show O Aprendiz, fo- que percorre a costa brasileira, e Planeta Cidade, so- BRASIL A TV Brasil, canal do governo federal, inicia suas cado na competência profissional, e não na intimida- transmissões em dezembro. de de seus participantes. bre temas e personagens da metrópole paulistana. mar | Claudio Lembo assume o governo do Estado de Ocorre o I Fórum Nacional de TVs Públicas, em Brasília. Vai ao ar o programa de esportes radicais De Fini- São Paulo após renúncia de Alckmin para concorrer nho, apresentado pelo tenista Fernando Meligeni. às eleições presidenciais. BRASIL ° TVS BRASILEIRAS 1 jan | Luiz Inácio Lula da Silva toma posse em seu A TV Record instala em Vargem Grande, no Rio de segundo mandato como presidente da República. Janeiro, sua central de produções de teledramatur- 1o jan | José Serra toma posse como governador do gia, o RecNov. estado de São Paulo. Entra em atividade a TV Brasil Canal Integración, criada pelo governo federal.

Rolando Boldrin e Abertura do programa Logotipo da TV Rá Tim Bum!. no programa Sr. Brasil, déc. 2000. Mostra Internacional de Cinema na Cultura, 2006. Vila Sésamo, 2007.

Anos 2000 186 187 Anos 2000 2008 2009 Júlio Medaglia e Josias Matschulat, Prelúdio, 2006.

TV CULTURA TV CULTURA A Fundação Padre Anchieta lança a Cultura Data, É firmada parceria com produtoras independentes unidade de pesquisas de comunicação, mercado e para criação de documentários, desenhos e minissé- opinião pública para clientes internos e externos. ries. Os projetos são beneficiados pelo Fundo Seto- O contrato da TV Câmara de São Paulo com a fun- rial do Audiovisual da Ancine, com apoio da Finep. dação não é renovado. É assinado contrato de parceria com o governo do Lançamento do site Memória Roda Viva, com cente- estado de São Paulo, que define obrigações mútuas nas de entrevistas do acervo do programa. para o gerenciamento da fundação entre 2009 e 2013. A Rádio Cultura Brasil tem seu sinal via satélite A fundação suprime os anúncios comerciais na faixa aberto, levando seu conteúdo a todo o território de programação infantil da TV Cultura. nacional. O parque de retransmissores da TV Cultura no inte- Estreia Manos e Minas, programa dedicado ao rap, rior do estado é modernizado. hip hop, danças de rua, grafite e outras manifesta- São lançados os canais digitais MultiCultura e Uni- ções que emergem das periferias das metrópoles. vesp TV, e o IPTV Cultura, canal exclusivo na internet. Estreia Móbile, dirigido por Fernando Faro, com É criado o Núcleo Cultura Educação, voltado a de- foco em dança, teatro, música e artes visuais. senvolver projetos internamente e para clientes Estreia Radiola, programa apresentado por João institucionais. Marcello Bôscoli no formato de uma revista eletrôni- A Fundação Padre Anchieta lança o Prêmio Cone- ca, com reportagens e música ao vivo. xão Cultura, que incentiva o bom uso da internet. A TV Cultura desenvolve, para a Secretaria de Esta- É lançada a revista de música clássica Mbaraka. do da Educação, os programas Almanaque Educa- O Teatro Franco Zampari é reinaugurado após reforma. ção e Cultura é Currículo. A TV Cultura completa 40 anos e leva ao ar uma , inspirado no , é um progra- Letra Livre Entrelinhas programação especial comemorativa. ma mensal que reúne dois escritores para uma con- versa sobre processo de criação e temas da atuali- Heródoto Barbeiro estreia no Roda Viva, transmitido dade literária. ao vivo pela internet, sendo possível acompanhar as discussões via . Estreia A’Uwe, apresentado pelo ator Marcos Pal- meira, sobre as tradições, rituais, problemas e histó- Estreiam Autor por Autor, um painel dos grandes rias dos povos indígenas. escritores brasileiros em atividade, e Janela Brasil, de documentários. Integram-se à grade Ação Consciente, Agenda Cul- tural, o esportivo Conquista e o infantil Cambalhota, É lançado EcoPrático, primeiro reality show voltado criado no ano anterior, que passa a ter novo formato. à educação ambiental.

TVS BRASILEIRAS TVS BRASILEIRAS São iniciadas as transmissões da TV Digital no Brasil, A TV Digital é implantada em 23 cidades brasileiras inicialmente em São Paulo. onde vivem cerca de 95 milhões de pessoas, o que representa metade dos domicílios equipados com A Radiobrás é incorporada pela Empresa Brasil de televisores. Comunicação (EBC) – criada por decreto presidencial e posteriormente aprovada pelo Congresso Nacional. Nova norma aprovada pelo governo federal reco- nhece o direito das TVs educativas de veicular pro- paganda institucional e apoio cultural, bem como de conteúdos de caráter recreativo, informativo ou de divulgação desportiva considerados educativos.

Planta e Raiz no programa Manos e Minas, 2008. Aula inaugural da UnivespTV, 2009.

Anos 2000 188 189 Anos 2000 Viola, Minha Viola, apresentação de Nhô Mércio e Orquestra de Violeiros de Pardinho, Mococa e Paraíso, 2007.

190 191 Cartão Verde, 2010.

192 193 Inglês com música, 2010.

194 195 Panorama A troca do político federal governo de São Paulo

Em 1º de janeiro de 2011, Dilma Rousseff toma Em 2 de abril de 2010, o governador José posse na presidência da República, a primeira Serra (PSDB), eleito em 2006, renuncia para mulher a assumir o cargo no país. Formada se candidatar pela segunda vez à presidên- em economia, Dilma foi ministra da Casa Civil cia da República. Em seu lugar, assume o vice do governo Lula. Alberto Goldman, que governa até janeiro do ano seguinte, quando Geraldo Alckmin, tam- Em junho de 2013 uma onda de protestos bém do PSDB, é empossado para mais um se iniciou em São Paulo e tomou conta das mandato (2011-2015). Em outubro de 2014 seria principais capitais. Em março de 2014 foi reeleito para seu terceiro mandato (2015-2018). deflagrada pela Polícia Federal a “Operação Lava Jato”, que investiga um esquema bilio- nário de desvio e lavagem de dinheiro envol- Um economista vendo a Petrobras. Segundo a PF e o Minis- à frente da fundação tério Público Federal, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina a Em junho de 2010, João Sayad, até então se- diretores e gerentes da Petrobras e outros cretário estadual da Cultura, assumiu a presi- agentes públicos. Em outubro, após a cam- dência da Fundação Padre Anchieta, suceden- panha presidencial, Dilma Rousseff é reelei- do a Paulo Markun. Um novo organograma foi ta presidente. implementado, criando duas vice-presidên- cias: a de conteúdo e a de gestão. Moacyr Ex- Em seu segundo mandato a situação eco- pedito Marret Vaz Guimarães assumiu a presi- nômica brasileira se agrava e a presidente dência do conselho curador. inicia o governo com menor confiança da população. Em dezembro de 2015, o pre- Em termos estratégicos, foram definidas as sidente da Câmara, Eduardo Cunha, auto- programações da TV Cultura e das rádios, a riza o pedido para a abertura do processo criação de uma multiplataforma digital e a de impeachment de Dilma, requerido sob continuidade do setor educacional. Por ou- o argumento de que o governo praticou tro lado, teve início o processo de desativa- as chamadas “pedaladas fiscais”, atrasan- ção da área de prestação de serviços. No se- do repasses a bancos públicos a fim de gundo semestre, oito revisões orçamentárias cumprir as metas parciais da previsão or- possibilitaram o fechamento do balanço do çamentária. Aprovado pela Câmara, o pro- ano com um superávit operacional de R$ 2,8 cesso seguiu para o Senado, onde, em 31 milhões, frente a uma perspectiva inicial de de agosto, o plenário condenou Dilma Rou- déficit de R$ 49 milhões em 30 de junho. sseff à perda de seu cargo sob a acusação de ter cometido crime de responsabilidade Em 2011, a diretoria focou seus esforços em fiscal. No mesmo dia, o vice-presidente Mi- dois pontos: lançamento de novas atrações, di- chel Temer, do PMDB, tomou posse na pre- minuindo a presença excessiva de programas sidência da República. antigos e a instabilidade da grade, e o rígido

196 197 Anos 2010 controle orçamentário e fortalecimento da informações digitais, especificamente arqui- estrutura de captação de recursos próprios. vos audiovisuais.

Com a redução do número de funcionários A diretoria de captação de recursos tinha foi possível aumentar a produção: “O au- por objetivo gerar receitas próprias a partir mento de produtividade vem do fim des- da exploração comercial das diversas plata- ses casos de ineficiência e da moderniza- formas de rádio e televisão, dos produtos da ção de alguns procedimentos. Os estúdios sua grade, do seu conteúdo proprietário e se especializaram”, disse o presidente. En- do licenciamento das suas marcas. Em 2012, tretanto, essa reestruturação no setor de o total da captação atingiu a marca de R$ pessoal não garantiu um orçamento maior 35,8 milhões. Esse valor era cerca de 30% su- para investimentos. perior ao captado no ano anterior.

Junto com a nova programação, em 2011 Subordinada ao conselho curador, a audi- foi a implantada a nova identidade visual toria interna da fundação foi implantada no da TV Cultura, com a revitalização e mo- início de 2012, promovendo uma cobertura dernização da logomarca. O cineasta e ro- satisfatória dos processos e riscos existen- teirista Cao Hamburger iniciou a assessoria tes na atividade, de modo a identificar e mi- artística para o desenvolvimento de novos tigar possíveis fragilidades de processos e projetos e reformulação dos programas da controles. grade de programação. Houve um aumento de 20% da audiência da Aldo Quiroga, Matéria de Capa, 2016. Nesse mesmo ano, a principal atividade da TV, apresentando uma tendência de alta em gerência multimídia foi o lançamento (em 2014. Sayad reconheceu este aspecto positi- abril), do Cmais (cmais.com.br), o portal de vo, mas também ponderou que, sendo uma O cinema na TV conteúdo da Cultura que tinha como missão emissora pública, a TV Cultura não poderia reunir todo o conteúdo produzido em seus ter como principal objetivo apenas o aumen- Entre as novidades que entraram no ar em gas-metragens e sociedade. Às terças-feiras, quatro canais de TV – Cultura, Rá Tim Bum!, to da audiência, como afirmou o presiden- 2010 estava a Mostra Internacional de Cinema exibia uma seleção de filmes nacionais que UnivespTV e MultiCultura – e em suas duas te: “Nosso objetivo era fazer com que o es- na Cultura, que trouxe uma intensa progra- dialogavam sobre a nossa cultura e represen- rádios: Cultura Brasil e Cultura FM. pectador experimentasse programas novos, mação de filmes aprovados pela crítica e exi- tavam uma amostra da diversidade nacional. diferentes. Não digo melhores, porque não bidos no festival. Tinha apresentação e cura- Em junho de 2012, a gerência de integração é possível dizer, por exemplo, que a música doria de Leon Cakoff e Renata de Almeida, de mídias tinha por missão integrar as infor- clássica é melhor que a popular. Mas é uma que receberam convidados especiais ligados Jornalismo voltado mações digitais da Fundação Padre Anchie- música que não está nos outros canais. Ti- à produção cinematográfica brasileira. à atualidade ta. Durante os dois primeiros meses, foram vemos, por exemplo, bons resultados com feitas análises técnicas e operacionais do o Clássicos da Cultura, que é um programa Com apresentação e curadoria internacional Em agosto de 2011, a TV Cultura colocou no ar o parque instalado, com foco nos sistemas já mais difícil para o público de televisão. Além do crítico Amir Labaki, o programa Cultura programa semanal Matéria de Capa, conduzido adquiridos e a análise de capacitação dos dos concertos da OSESP, para os quais me- Documentários exibiu produções raras e iné- pelo jornalista Aldo Quiroga, que aprofundava funcionários de todas as áreas para o traba- lhoramos muito a captação, também passa- ditas, muitas delas premiadas. Os documen- o conhecimento e a reflexão sobre fatos im- lho dentro de um sistema chamado tapeless, mos a exibir apresentações de algumas das tários foram distribuídos em cinco grandes portantes do Brasil e do exterior. Voltado para ou sem fita. Esse processo resultou na cria- melhores orquestras do mundo”. grupos, de acordo com o dia da semana: ciência, tecnologia e saúde, o programa ainda ção de um centro de dados do tráfego de biografias, produções nacionais, artes, lon- está na grade da TV Cultura e, no fim de 2018,

Anos 2010 198 199 Anos 2010 Doroteia, Filomena, Ludovico, Osório e Teobaldo, Quintal da Cultura, 2013. tratou de temas como as mudanças climáticas a única ideia que pululava dentro de mim era no planeta, o pouso da nave Insight em Marte, o que os personagens seriam clowns. Eu queria monitoramento das populações de baleias em muito trazer o palhaço porque ele pode fazer diversos pontos do globo através de satélites qualquer papel, pode falar de qualquer assun- de alta precisão, entre outros, utilizando ima- to, pode abordar diversos conteúdos com le- gens da Reuters, da France-Presse, da NASA veza e graça”, afirma Bete Rodrigues. A partir e da ESA (Agência Espacial Europeia), além de daí toda a equipe soltou a imaginação para la- universidades e institutos de pesquisa. pidar a ideia. Segundo Bete, “do dia da estreia em diante, o programa passou por muitas fa- Em 2012, o jornalismo aumentou em 3 horas ses. Ganhou outros amigos que depois foram sua presença semanal na grade, criou dois embora, vieram outros, que se foram também. programas de prestação de serviços e um de Um programa de movimento, um programa debate com correspondentes estrangeiros de pura energia, gerada por milhares de fãs de no Brasil, o Legião Estrangeira, comandado todo o Brasil e de várias partes do mundo”. pela jornalista Mônica Teixeira. A participa- ção do país em temas mundiais e os fatos do Exibido até hoje, o Quintal da Cultura oferece cenário nacional eram comentados no pro- às crianças uma boa dose diária de diversão e grama, que tinha como convidados, a cada conhecimento, utilizando sempre humor e le- semana, quatro correspondentes da impren- veza. A cada aventura elas entram em contato sa estrangeira no Brasil. com os mais variados temas educativos, sem- pre com o objetivo de ajudá-las a se desen- volverem cognitivamente (ao trabalhar temas Um quintal de diversão como vocabulário, alfabeto, números, cores, e conhecimento etc.) e emocionalmente (ao fazer seus perso- nagens vivenciarem alegrias, tristezas, medos Quintal da Cultura foi criado com o objetivo e curiosidades). “O Quintal da Cultura traz in- de intermear os desenhos animados da grade finitas histórias, com aventuras surpreenden- infantil. Estreou em 18 de abril de 2011, ao vivo, tes, dando espaço para todo o conteúdo que com sete entradas durante a programação in- é essencial ao desenvolvimento das crianças. fantil, com direção de Bete Rodrigues e con- Aliás, são elas, as crianças, o nosso combustí- sultoria pedagógica de Fernanda Colonnese. vel, o fôlego, a faísca, o incentivo desses oito anos no ar”, conclui a diretora. Os personagens Ludovico e Doroteia são dois irmãos de cabelos coloridos e muita criativi- O quadro “Era Uma Vez no Quintal” surgiu dade na cabeça. Junto com Minhoquias, uma em 2014 e teve grande destaque na programa- minhoca maluca e tagarela, e Quelônio, um ção. Nele, os personagens Ludovico e Doroteia sábio jabuti de mais de cem anos, eles con- viveram aventuras semanais acompanhados tam histórias e convidam as crianças para de Quelônio e Minhoquias, além de persona- brincar e assistir desenhos. gens variados interpretados por Jonathan Faria, Henrique Stroeter e Paola Musatti. Nes- “Quando comecei a pensar como seria, que se ano, o Quintal da Cultura recebeu o troféu ambiente teria e qual o formato do programa, APCA de melhor programa infantil da TV.

Anos 2010 200 201 Anos 2010 Da internet para a TV

Quando estreou, em outubro de 2011, Deu Antonia Pelegrino, Daniel Galera, entre ou- Paula na TV já fazia sucesso no YouTube, com tros jovens escritores. Paula Vilhena, que fazia crônicas da cidade, questionamentos sobre o senso comum e co- Brasil e Portugal – Lá e Cá, gravado em am- mentários sobre si mesma. O programa, que bos os países, foi uma minissérie documental incluía assuntos diferentes voltados para o luso-brasileira de treze episódios que mos- público adolescente e jovem, ganhou edição trava o Brasil para os portugueses e Portugal ao vivo na internet, onde a apresentadora dis- para os brasileiros. Uma coprodução entre a cutia as próximas pautas com os internautas. TV Cultura e a RTP, o programa foi apresen- tado pelo jornalista Paulo Markun e pelo por- Em 2012 o programa alterou sua fórmula. tuguês Carlos Fino. Através de conversas in- Todas as pautas, entrevistas e esquetes da formais, eles debateram as semelhanças, as apresentadora passaram a girar em torno de diferenças e as relações entre os dois países. um só tema: o mundo da televisão. A pro- posta era questionar, com humor, a lingua- gem dos programas televisivos, dos sensa- O reality show cionalistas aos reality shows. do dia a dia

A periferia das grandes cidades quase sem- Viajando pre é vista de maneira esquemática pela im- Cartãozinho Verde, 2013. pelo mundo prensa, o que impede que histórias de gran- des talentos cheguem ao conhecimento do A série Amores Expressos, que estreou em grande público. Na era digital, instrumentos abril de 2011, enviou dezesseis escritores bra- tecnológicos recentes como internet, celu- sileiros de estilos e origens diferentes para lar e redes sociais têm ajudado a divulgar o O mundo da bola as principais cidades do mundo, do Cairo a trabalho desses criadores e artistas sem que comentado pelas crianças Buenos Aires, de a Havana, de São Pau- precisem recorrer aos meios de comunica- lo a São Petersburgo. ção tradicionais. A partir de abril de 2012, o futebol ficou de campeonatos de importância mundial mais divertido com a estreia de Cartãozinho que aconteceriam no Brasil, como a Copa O resultado foram dezesseis documentários Reis da Rua, que estreou em agosto de Verde, uma versão infantil do Cartão Verde. das Confederações de 2013, a Copa do Mun- sobre as cidades por onde os autores ca- 2011, lançou luz sobre o trabalho, a relação O programa falava do mundo da bola sob o do de 2014 e as Olímpiadas de 2016, bus- varam suas histórias, o processo de criação com a comunidade e as histórias de vida de ponto de vista de quatro crianças, cada uma cou-se criar um programa no qual a própria literária e o amor. Idealizado pelo produtor pessoas como uma dragqueen ativista, uma torcedora de um time – São Paulo, Santos, criança fosse responsável pelos comentá- cultural Rodrigo Teixeira, Amores Expressos dançarina de ragadance, um camelô cantor Palmeiras e Corinthians. A atriz e arte-edu- rios dos esportes. E deu certo: o programa foi o mergulho de um escritor em busca de de funk e pagode, um organizador de con- cadora Cristina Mutarelli era a quinta perso- foi bem recebido e elogiado pela esponta- uma história. Tadeu Jungle e Estela Renner, cursos de dança, uma líder comunitária que nagem, com a responsabilidade de fazer o neidade dos comentários, confirmando a responsáveis pela direção, dividiram o ro- comandava um time de futebol infantojuve- meio de campo entre a garotada. máxima de que toda criança não esconde o teiro de viagens para poder desdobrar esse nil, um roqueiro que dava aulas de guitarra que pensa, fala a verdade. projeto, do qual participaram Antonio Pra- e violão, entre outras pessoas com poder Considerando o aumento do interesse das ta, Bernardo Carvalho, Lourenço Mutarelli, de mobilização. crianças pelos esportes com a aproximação

Anos 2010 202 203 Anos 2010 ção e não-ficção para adolescentes de 12 a Em 14 de novembro de 2014, criou-se o Mul- 15 anos e o International Emmy Kids Awards ticultura Educação (MCE TV), que agregou à como melhor série, ambos em 2014. programação do canal digital conteúdos que atendiam ao currículo escolar.

35 anos da Rádio Cultura FM Apesar da crise financeira pela qual passava o país, a TV Cultura tinha como uma de suas A Rádio Cultura FM completou 35 anos no fontes de financiamento a prestação de ser- ano de 2012. Nesse início da década, passou a viços para outras áreas de governo do esta- transmitir o programa Começando o Dia com do. Com a crise, o volume de recursos anuais o jornalista Alexandre Machado. Música, infor- provenientes de contratos ou parcerias dimi- mação e prestação de serviço eram os lemas nuiu drasticamente. da atração. Outro novo programa foi o Entre- linhas, que trazia música e literatura sob o co- O ano de 2015 começou com perspectivas mando do jornalista Manuel da Costa Pinto. negativas devido às limitações econômico- financeiras que surgiram logo no início do ano. Apesar da continuidade da forte crise Em nova gestão, econômica e política, a fundação se reorga- Marcos Mendonça nizou e se reeducou financeiramente, a ponto reequilibra as contas de ter um fechamento orçamentário positivo graças a algumas medidas, como o aprimo- Elenco de Pedro & Bianca, 2012. Em junho de 2013, Marcos Mendonça reas- ramento da execução orçamentária e finan- sumiu a presidência da Fundação Padre An- ceira; a reestruturação da área de controle chieta. Iniciou-se uma revisão criteriosa do de capacitação de projetos e leis de incen- Um grande sucesso déficit orçamentário de R$ 43 milhões da- tivos; a otimização nas compras e redução e vários prêmios quele ano fiscal, contendo as despesas, re- de gastos em todos os contratos vigentes da vendo e renegociando contratos, quadro de fundação; a redução da folha de pessoal; e O seriado juvenil Pedro & Bianca, que estreou o assédio moral na escola, as drogas, a gravi- pessoal e gestão de processos, reavaliando a implementação da redução de gastos nas em novembro de 2012, narrava as histórias de dez precoce, o primeiro namoro, a discrimi- parcerias, acordos e prestações de serviços, despesas com utilidade pública. dois jovens estudantes de uma escola pública nação. “Acho que esses temas fazem parte além da adoção de uma política de regula- da cidade de São Paulo. O que eles tinham de da realidade de um jovem brasileiro”, afirmou mentação de compras e serviços com foco incomum é que eram gêmeos bivitelinos: Pe- Cao Hamburger. “O Brasil é um país cheio de na redução de custos e no efetivo reequilí- Diretrizes para a mudança dro branco como a mãe e Bianca negra como culturas e histórias muito diversas, e faz parte brio das contas. Com tudo isso, e mais a des- o pai. Exceto esse fato extraordinário, os ado- da nossa vida mostrar, entender e valorizar as tinação de recursos do governo estadual, a Ao longo da década, o conselho curador lescentes eram iguais aos outros “irmãos” diferenças na tela”, avalia o diretor. fundação conseguiu fechar o ano com supe- se debruçou sobre os desafios e rumos da da mesma idade: brincavam, se amavam, se rávit. Ainda no mesmo ano, a emissora parti- Fundação Padre Anchieta, num contexto odiavam, se irritavam, mas, no fim, não nega- A série, patrocinada pela Secretaria de Estado cipou da IV Edição do DOC TV Latino Amé- que impõe às televisões uma transforma- vam o apoio incondicional de um ao outro. da Educação, teve supervisão artística e peda- rica em parceria com a EBC, o que resultaria ção radical. Com o intuito de aprofundar a gógica da diretoria de projetos educacionais na exibição de quinze documentários dos discussão e os encaminhamentos sobre o O seriado, criado por Cao Hamburger, Teo da Fundação Padre Anchieta, foi premiada países participantes, além do estreitamento tema, foi realizado em fevereiro de 2013 o Poppovic e Thiago Dottori, abordava diver- com o Prix Jeunesse Ibero-americano de 2013, de relações e intercâmbio de produções de Seminário Cultura, evento que reuniu espe- sos temas comuns na vida dos jovens, como o Prix Jeunesse International na categoria fic- diferentes culturas. cialistas brasileiros e estrangeiros, membros

Anos 2010 204 205 Anos 2010 do conselho curador e dirigentes da TV e to institucional com o governo federal; e rea- das rádios da fundação, para pensar a atua- valiação da política patrimonial, consideran- lização do setor, a situação e os novos hori- do otimização dos espaços e a previsão de zontes para as emissoras públicas. um fundo patrimonial, que poderia incluir a disponibilização do patrimônio dispensável. A partir do seminário, o comitê estratégico do conselho curador foi encarregado de detalhar as diretrizes para a fundação. Sob a coorde- Jornalismo com rigor nação de Belisário dos Santos Jr., presidente e proximidade do conselho curador desde 2012, foram reali- zadas dezenas de reuniões, entrevistas com A gestão de Marcos Mendonça promoveu profissionais das emissoras, consultas a espe- alterações no número de programas e nas cialistas da academia e do mercado. O resul- horas de conteúdos produzidos pelo depar- tado foi sistematizado em 2016 no documen- tamento de jornalismo, que passou a exibir to “Bases para o Planejamento Estratégico da nove programas na grade da emissora. Fundação Padre Anchieta”, que analisou as mudanças tecnológicas e culturais, e identifi- A realidade financeira da emissora, com re- cou as especificidades da fundação. Consta- cursos restritos, impôs a necessidade de im- tou-se que a TV Cultura atravessava uma pro- plantar um novo ritmo de atividades para funda crise de meios. Não se tratava de uma sanar a baixa produção nacional de repor- crise de identidade, uma vez que o compro- tagens, restritas na sua maioria à cidade de misso de formação da cidadania qualificada e São Paulo. Jornal da Cultura, Willian Corrêa, 2013. ativa era atual e necessário como sempre foi, mas os meios de cumprimento dessa missão A preocupação era manter um jornalismo in- estavam em xeque. dependente e de credibilidade, marca regis- trada da TV Cultura. Para Marcos Mendonça, O Jornal da Cultura adotou uma reunião de principais assuntos do dia. As notícias do es- A partir do diagnóstico, foram definidas embora orçamentariamente dependesse do espelho, em que se decidia as notícias do porte brasileiro e mundial ficavam por conta nove frentes que seriam detalhadas num governo, a emissora sempre sustentou sua dia, no período da tarde. A mudança trouxe de Cadu Cortez e Vladir Lemos. Em abril de futuro plano de ação: implantação de um independência editorial. “Mesmo sob a dita- mais qualidade, com pautas abrangentes e 2017, Gabriela deixou o jornal e Quiroga pas- sistema de gestão organizacional; implan- dura militar, fazia um jornalismo combativo, de maior interesse do telespectador. Foi es- sou a dividir a bancada com Ana Paula Couto. tação de um sistema de prevenção e de a ponto de Vladimir Herzog ter sido preso tabelecida a produção de séries especiais de controle de riscos, através da criação de e assassinado”. Segundo ele, “esse é um reportagens dentro do objetivo de explorar uma área de conformidade; renovação da papel fundamental da TV Cultura: ser uma os temas com profundidade. A TV Rá Tim Bum! e o incentivo identidade institucional das marcas da fun- emissora isenta, que tem credibilidade, que à animação brasileira dação e suas emissoras; implantação de está a serviço do público, e não a serviço Ancorado por Aldo Quiroga e Gabriela Ma- um programa de sustentabilidade financei- do governante. Nisso o conselho curador, yer, o Jornal da Cultura 1ª Edição estreou em Um dos focos da Fundação Padre Anchieta ra; implantação de novos canais multipla- na minha avaliação, tem um papel muito 30 de setembro de 2013, trazendo o noticiá- é a educação básica da criança até os 6 anos taforma, para enfrentar a transição para o importante, o de garantir a independência rio nacional, pautado por matérias da capi- de idade. De acordo com Marcos Mendonça, mundo digital; proposição de novas diretri- editorial da fundação”. tal, da Grande São Paulo e outras produzidas “como esse é o momento da formação da zes de programação das emissoras; formu- especialmente em cidades do interior do es- criança, é preciso trabalhar com muito cuida- lação de uma nova programação jornalística; Foram lançados o Jornal da Cultura 1a Edi- tado. Continha muita informação, esportes, do. Temos que ter produtos que não aumen- elaboração de um projeto de relacionamen- ção, o Hora do Esporte e o JC Debate. entrevistas, agenda cultural e discussão dos tem a ansiedade da criança, mas também

Anos 2010 206 207 Anos 2010 enormes, a animação pode alavancar o Homenagem ao mercado interno, assim como o externo, e teatro brasileiro se tornar a grande player nesse jogo. Hoje a TV Rá Tim Bum! está no limiar de exer- Persona em Foco, que estreou em junho de cer um papel tão importante quanto o que 2015, pretendia registrar aspectos da vida teve no passado, de ser um grande articu- pessoal e da carreira de personalidades do lador de uma política, o grande canal da teatro, bem como suas impressões sobre animação brasileira”. o ofício. Admirado no meio cultural e ain- da na grade da TV Cultura, o programa de entrevistas convida sempre duas pessoas Monstros ou humanos? ligadas ao artista homenageado, contan- do também com uma plateia formada por Que Monstro te Mordeu? foi uma série pro- estudantes de teatro e jovens atores. Sob duzida em parceria entre as áreas de edu- direção e roteiro de Analy Alvarez e apre- cação e produção da Fundação Padre An- sentação de Atílio Bari, o programa tem im- chieta, o Sesi, Cao Hamburger e a Primo portante valor histórico ao deixar registra- Filmes. do para a posteridade o relato biográfico audiovisual dos artistas sobre sua carreira. Criada por Cao Hamburger e voltada para Nesses mais de três anos no ar, participa- crianças de 7 a 12 anos, a série estreou em ram autores, atores e diretores da impor- 11 de novembro de 2014 e foi planejada tância de , Maria Della para exibir cinquenta episódios na televi- Costa, , Tônia Carrero, Nathalia são de sinal aberto e cinquenta episódios Timberg, Antonio Fagundes, Gianfrancesco para a internet. Ao núcleo de educação Guarnieri, Silvio de Abreu, Antunes Filho, Que Monstro te Mordeu?, 2014. coube a administração e orientação do Celso Nunes e tantos outros. conteúdo pedagógico na definição dos te- mas, o acompanhamento dos roteiros e a pós-produção para exibição. O Brasil tem um não a deixem absolutamente passiva, apáti- governo federal. “O que aumentou o merca- presidente interino ca. E acho que a TV Rá Tim Bum! tem exerci- do no Brasil foi que se estabeleceu a obri- Toda vez que uma criança desenhava um do esse papel fundamental”. gatoriedade de cotas para as TVs por assi- monstro, ele ganhava vida no “Monstruoso Em 12 de maio de 2016, em razão do afasta- natura, que se viram obrigadas a comprar Mundo dos Monstros”, provocando caos e mento temporário de Dilma Rousseff, o vice- No passado, a programação infantil dos ca- produtos de produtores brasileiros”, afirmou confusão por onde passava. E colocar or- -presidente Michel Temer assume a presidên- nais abertos era de modo geral superficial. o presidente. dem nesse lugar maluco era a tarefa de cia do país. No mesmo dia, dá posse aos 24 Como produzir custava caro, as emissoras Lali, uma menina humana, mas com alguns novos ministros do governo e faz o primeiro compravam produtos no exterior. Com isso Em um primeiro momento, a emissora trans- traços de monstro, e seus amigos. pronunciamento no Palácio do Planalto. Mas a criança ficava permanentemente sujeita ao mitia programas da grade da TV Cultura, Temer só assumiu efetivamente o comando contato com produtos que não condiziam mesmo não sendo de animação, mas a partir A série foi premiada com o International do Palácio do Planalto em 31 de agosto de com a realidade brasileira. A TV Rá Tim Bum! de então teve uma grade de exibição pre- Emmy Kids na categoria melhor série de 2016, após o Senado cassar o mandato de abriu o mercado nacional e permitiu que sur- ponderantemente dos produtos de anima- TV e com o Prix Jeunesse International na Dilma. Em dezembro daquele ano, o governo gissem novos produtores brasileiros, o que ção. Segundo Marcos Mendonça, “contando categoria ficção e não ficção para adoles- conseguiu aprovar a Proposta de Emenda à foi estimulado por medidas positivas do com talentos fantásticos e possibilidades centes de 12 a 15 anos. Constituição (PEC) do Teto de Gastos, que

Anos 2010 208 209 Anos 2010 Nair Cristina, Lilia Cabral, Fernando Neves. Persona em Foco, 2017. Ary França, , Annamaria Dias. Persona em Foco, 2017. limita o crescimento dos gastos federais pe- Quando Mendonça assumiu a fundação los próximos vinte anos. Em julho de 2017, é pela primeira vez, em 2004, a TV Cultura aprovada a Reforma Trabalhista, assunto que também enfrentava uma crise. “Na minha dividiu opiniões e colocou em lados opostos primeira gestão, vindo da Secretaria da patrões e empregados, assim como entida- Cultura, eu trouxe não só a bagagem de ser des sindicais. um homem público para dentro de uma te- levisão pública, mas também de ver como Mudança no comando a instituição poderia cumprir melhor a sua do estado de São Paulo missão de atingir públicos menos favore- cidos, a população das classes C, D e E”, Em janeiro de 2015 Geraldo Alckmin, ree- afirmou. “Onde essas classes vão encontrar leito, toma posse como governador de São um instrumento que as ajude na sua for- Paulo. Em 6 de abril de 2018, pré-candidato mação cultural? A TV pública tem um pa- à presidência da República, Alckmin renun- pel fundamental nisso, tem essa vocação. ciou ao governo após sete anos e três meses Acho que é nessa ótica que se deu minha consecutivos no cargo. O governo do esta- presença na instituição: fazer com que ela do foi assumido por seu vice, Márcio França, cumprisse o seu papel de ser uma TV pú- empossado em 6 de abril de 2018 pela As- blica na sua plenitude, atingindo outros pa- sembleia Legislativa. Advogado e professor, tamares da população.” França se filou ao PSB desde o início de sua carreira política. Iniciou sua história parla- Mas, para atingir esse objetivo, a TV ne- mentar como vereador e prefeito da cidade cessitava se reestruturar. Precisava ter de São Vicente por dois mandatos. Em 2006, alcance, qualidade de sinal, qualidade de elegeu-se deputado federal, mas em 2011 li- imagem, amplitude, o que demandou in- cenciou-se da vaga para ser secretário do Tu- vestimentos para melhorar o seu parque rismo no mandato de Geraldo Alckmin. Nos tecnológico e todas essas questões. “Essa primeiros dois anos de governo, ocupou o foi uma das metas que vim cumprir e que cargo de vice-governador e de secretário de conseguimos desenvolver com muito êxi- Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tec- to, tanto na minha primeira passagem nologia e Informação. como agora, na continuidade dessas duas últimas gestões”, acrescenta o atual pre- sidente. Fundação Padre Anchieta: novos mandatos, novos desafios Durante o ano de 2017, a fundação apresen- tou um bom equilíbrio econômico e finan- Durante o ano de 2016, no início da tercei- ceiro. O sucesso foi consequência das ações ra gestão do presidente Marcos Mendonça, a contínuas que vinham acontecendo desde Fundação Padre Anchieta enfrentava restri- 2014, como a racionalização dos recursos e ções orçamentárias que impuseram grandes a redefinição das operações, que passaram a desafios. Com empenho e determinação de funcionar com estruturas mais flexíveis e en- toda a equipe da instituição foi possível chegar xutas e estimularam a redução das despesas ao fim daquele ano com um resultado positivo. com pessoal.

Anos 2010 210 211 Anos 2010 Outras medidas para a democratização entrevista com Sérgio Moro, no dia 26 de Um modelo de gestão do acesso aos conteúdos produzidos pela março de 2018, a emissora teve em média preparado para o futuro TV Cultura e ao seu acervo foi a disponi- 3,8% de audiência, 4,6% de pico e 6% de bilização gratuita de vídeos na internet, o share. Isso significa que, quando a gente A rápida transformação nos ambientes cor- zando características de liberdade, tolerância desenvolvimento de conteúdos exclusivos tem sucesso, quem está vendo nossos pro- porativos e a necessidade de a fundação am- e transparência em todas as nossas ativida- para as plataformas digitais e o início de gramas não está vendo através da televi- pliar o foco em governança, transparência e des. Objetiva também que esses valores sejam transmissões ao vivo de alguns conteúdos são, e sim através das redes sociais. Então, accountability exigiam uma rápida resposta cumpridos, sem exceção, e que sejam assimi- pelo Facebook. é preciso pensar numa televisão alinhada à sociedade. lados e realizados por todos os integrantes ou com as redes sociais.” aqueles que representam a fundação”. O conselheiro Gabriel Jorge Ferreira fala sobre O Plano Estratégico O terceiro tema é a sustentabilidade finan- as medidas adotadas nessa direção: “A funda- Para a elaboração do código constituiu-se ceira. “Hoje dependemos muito do governo. ção programou medidas prudenciais voltadas um grupo multidisciplinar com represen- O atual presidente do conselho curador da Não podemos depender tanto. Está sendo para o fortalecimento de sua estrutura orga- tantes das diversas áreas da fundação, que Fundação Padre Anchieta, Augusto Rodri- estudada a criação de um fundo patrimonial, nizacional, promovendo ampla atualização de analisaram códigos nacionais e internacio- gues, assumiu o cargo em 2016 com o in- voltado para a causa que move o que se faz seu estatuto social, de modo a complementar nais de várias TVs. Todos os colaboradores e tuito de avançar na concretização do Plano aqui na TV Cultura.” seu objeto social e aprimorar e ampliar as com- conselheiros contribuíram com o conteúdo, Estratégico: “Estávamos trabalhando nele petências do conselho curador. Esse esforço o que resultou num código aderente às es- há vários anos e precisávamos implantá-lo. Contribuiu para esse direcionamento a rea- abrangeu também a reformulação da compo- pecificidades da instituição. Em setembro, o O plano nos possibilitou formar uma visão lização, em 2017, de um fórum de palestras sição e atribuições da diretoria executiva e o código foi aprovado pelo conselho curador clara de que a televisão broadcast está em e debates com especialistas sobre a quar- aprimoramento de normas sobre mecanismos e disponibilizado no site da fundação e está crise no mundo inteiro e que os adolescen- ta revolução industrial e o futuro da TV. O de controles, auditoria e compliance”. sendo divulgado a todos os integrantes por tes e jovens não assistem mais TV. Porém, processo de planejamento envolveu a for- meio de treinamentos e workshops. a missão da fundação é justamente educar mação de grupos de trabalho e, em junho Uma primeira medida foi elaborar o mapa de jovens e adultos para o exercício da cidada- de 2018, resultou na apresentação de oito risco, um dos instrumentos importantes do O código evidencia e reforça todas as diretri- nia. Então percebemos que estávamos per- objetivos que alicerçam o plano: dar visibi- programa de compliance. “Primeiro é preci- zes de conduta, a identidade organizacional dendo relevância”. lidade institucional à fundação; transformar so saber qual é o seu risco e identificar as e os princípios éticos e morais que orientam a fundação num centro de curadoria, pro- áreas de maior vulnerabilidade. Elaboramos as atividades da Fundação Padre Anchieta. O Plano Estratégico trata basicamente de dução e coprodução de conteúdo e gestão o mapa de risco em quatro áreas da funda- Aplica-se a toda a Fundação Padre Anchie- três temas. Primeiro, uma modernização da de direitos para várias plataformas; garan- ção: patrimônio, recursos humanos, financei- ta e a todos os seus respectivos integrantes, gestão. Para o presidente do conselho, “isso tir a sustentabilidade financeira; desenvol- ro e compras. Depois, atualizamos as normas devendo também observar suas disposições significa rever a estrutura organizacional, ver alianças estratégicas para participar do e procedimentos existentes e criamos outras aqueles que estiverem envolvidos direta ou como em qualquer empresa. Ter os papéis mercado internacional; trabalhar pela inte- necessárias. No momento, nosso foco são os indiretamente nas atividades da fundação, gerenciais bem definidos, implementar uma gração de todas as redes públicas de televi- treinamentos aos colaboradores sobre esse tais como prestadores de serviço, fornece- gestão de compliance e buscar um conse- são do país; implantar um sistema moderno tema”, conta Rose Gottardo, vice-presidente dores, consultores, agentes, intermediários, lho forte”. e integrado de gestão; renovar e fortalecer da fundação desde o início de 2018. representantes e distribuidores, indepen- o jornalismo da fundação; e adotar sistemas dentemente dos termos e condições de con- O segundo é a mudança da linguagem da e programas de conformidade e de preven- Ao longo de 2018, também foi elaborado o tratação de seus serviços. televisão. “O que aconteceu nos últimos ção de riscos alinhados às melhores práti- Código de Ética e Conduta. Segundo Rose quinze anos é consequência de algo que cas contemporâneas. Gottardo, “o código busca garantir os valo- Enfim, é imprescindível aos dias atuais, e o mudou irreversivelmente o mundo: o cres- res éticos da Fundação Padre Anchieta para assunto está no topo das preocupações dos cimento da internet. Vamos pensar em nos- a construção de uma sociedade mais justa, líderes das mais diversas organizações. Com so programa mais exitoso, o Roda Viva. Na igualitária, participativa e democrática, valori- isso, “a fundação fortalece a governança

Anos 2010 212 213 Anos 2010 corporativa, fomentando medidas de integri- cionalmente o custeio de seus projetos dade, por meio da transparência, equidade, educacionais e culturais (endowment). accountability e responsabilidade corpora- Em processo de aprovação junto ao Mi- tiva”, observa Rose Gottardo. nistério Público em abril de 2018, o co- mitê jurídico já trabalhava para colocá-lo em prática. O atual estatuto da Fundação Padre Anchieta Jornalismo como antídoto Em 2018 foi feita uma reforma e atualiza- em tempos de fake news ção do estatuto da Fundação Padre An- e polarização chieta que compreendeu as mudanças le- gais, jurídicas e corporativas ocorridas no Em vez de criar novos programas, o jorna- Brasil ao longo das últimas décadas, bem lismo buscou aprimorar e melhorar a qua- como as transformações que vêm impac- lidade dos noticiários já consolidados na tando o setor de mídia no mundo todo. A grade de programação. Em 2017, a área de finalidade foi prover mais segurança, sus- jornalismo formulou um Guia de Jornalis- tentabilidade e eficiência aos processos de mo, visando à harmonização entre grupos governança e gestão institucionais, atua- e pessoas com interesses e ideias diferen- lizando os conteúdos do estatuto a partir tes e o bom relacionamento das emissoras da realidade mercadológica e social, to- com a inteligência política, cultural e artís- mando como referência as bases do plane- tica do país. jamento estratégico. Segundo Ricardo Taira, coordenador geral Joyce Ribeiro, Jornal da Cultura, 2018. Foram destaques da reforma do estatuto: e editor-chefe de jornalismo da TV Cultura, a ampliação e o aperfeiçoamento dos ins- “com o Guia de Jornalismo, fica estabeleci- trumentos e das práticas de fiscalização, da a linguagem única para a comunicação controle e prestação de contas; e a atuali- com os telespectadores. São as regras que zação dos mecanismos de boa governança vão aprimorar o debate sem o viés políti- confiáveis. “Isso é algo que sempre norteou pontos de vista. “O jornalismo colaborativo e suas instâncias, que propiciaram o esta- co e ideológico. Além da linha editorial, o o jornalismo, mas se tornou fundamental é o que move e dá força à notícia na atuali- belecimento e o monitoramento de diretri- guia traz um passo a passo de cada setor da para fazer frente à rapidez da internet na di- dade”, afirma o diretor. “Grandes descober- zes e metas de médio e longo prazos que redação: produção, pauta, edição, direção, vulgação de notícias falsas. Muitas vezes, o tas, como a dos Panama Papers, não seriam devem nortear os rumos da instituição ao reportagem e equipe técnica, e também as esclarecimento chega tarde demais, quando possíveis sem a participação de uma rede longo de sucessivas gestões de presiden- tarefas de cada um, com as devidas nomen- corações e mentes já estão contaminados internacional de pesquisas e profissionais tes, diretores e conselheiros. claturas. Serve, portanto, como um impor- pela mentira”, afirmou o diretor. dedicados. Nesse sentido, a TV Cultura tem tante instrumento de apoio aos estudantes buscado parcerias com emissoras públicas Uma medida significativa implementada e profissionais recém-formados”. O jornalismo da TV Cultura tem como regra e educativas do país e também do exterior. na reforma estatutária foi a introdução de o contraditório e a defesa dos valores fun- É o caso do recente acordo com a TV Brics, regras que preveem a possibilidade de a Com a avalanche de fake news, o jornalismo damentais da democracia. Como forma de com representantes de Brasil, Rússia, Índia, fundação manter um patrimônio especial, encontrou um novo desafio: combatê-las, prestação de serviço, encara a tarefa de es- China e África do Sul. Além da troca de con- constituído por contribuições ou doações e isso só foi possível por meio de uma am- clarecer e avaliar as informações através de teúdo, haverá reportagens e documentários feitas por interessados em apoiar institu- pla checagem da informação junto a fontes debates com defensores dos mais diferentes feitos em conjunto.”

Anos 2010 214 215 Anos 2010 Ser mãe não é tarefa fácil

Mariana Kotscho e Roberta Manreza coman- parceiras. Um projeto idealizado por nós que daram desde a estreia, em setembro de 2016, vem sendo cuidado com muita dedicação e o programa semanal Papo de Mãe, que bus- carinho nesses dez anos de existência”. E cita cava respostas para decifrar o comportamen- mensagens emocionantes recebidas de crian- to infantil. Além de discutir a educação e a ças, como “Eu assisto para aprender a ser pai saúde dos filhos, o programa trazia sempre um dia” ou “Eu digo para minha mãe assistir uma conversa relevante sobre a vida em fa- para saber cuidar bem de mim”. mília nos dias atuais, envolvendo temas que incluíam desde mães de bebês até mãe de adultos, além de pais, avós e cuidadores. Sem Estamos vivendo nunca esquecer os afetos. no planeta TerraDois

A cada edição, Mariana e Roberta receberam Em 21 de março de 2017 estreia TerraDois. no estúdio entre três e quatro mães convi- Tratava-se de um formato inédito, que pre- dadas, além de especialistas e crianças. Ha- tendia discutir as novas formas de viver e se via ainda reportagens externas, a opinião do relacionar a partir de novos paradigmas so- povo nas ruas e quadros especiais. ciais, tendo como base conceitos da psica- nálise e da sociologia. A primeira temporada Camila Mercatelli, Mariana Kotscho, Xan Ravelli e Roberta Manreza. Momento Papo de Mãe, 2017. Em maio de 2017, o programa estreou sua teve a participação da atriz Maria Fernanda versão diária, o Momento Papo de Mãe, mais Cândido e a segunda, de Bete Coelho. pontual e dinâmico, com 15 minutos de dura- ção e muitas dicas para grávidas, mães e pais Em depoimento para esta publicação Forbes de crianças pequenas. Além de mães, pais e fala sobre o programa: Fábio Magalhães, membro vitalício do conse- O presidente do conselho curador, Augusto cuidadores, acompanhados por seus bebês, lho curador da Fundação Padre Anchieta, tam- Rodrigues, reforça essa posição com relação o programa tem a participação de pediatras, “TerraDois, melhor programa de TV brasileira bém falou sobre o jornalismo em depoimento ao papel da TV pública: “Uma TV pública tem educadores, psicólogos, nutricionistas, gine- em 2017, pela APCA, quem diria?! Lembro-me para esta publicação: “O jornalismo deve ter que buscar a isenção, a desradicalização. Isso cologistas e enfermeiros, que respondem co- da primeira conversa com o Marcos Amazo- uma pauta e uma interpretação independen- não significa neutralidade, porque não sou mentários e perguntas dos telespectadores. nas, então diretor de programação e de produ- tes. Tenho atuado no conselho para que os neutro em relação aos direitos humanos. Mas ção da TV. Levei para ele uma proposta de um conceitos éticos da televisão pública sejam uma TV pública tem de ser isenta. Isso se dá Em depoimento para esta publicação, Maria- programa que fizesse as pessoas perderem o respeitados na nossa programação. Recente- renovando e fortalecendo um jornalismo ci- na Kotscho disse acreditar que o Momento medo da pós-modernidade, de uma nova era mente, trouxe para ser discutido no conselho dadão, expressando decidida, clara e plena- Papo de Mãe é um bom exemplo de como a na qual do nascer ao morrer nada mais é como aspectos éticos do jornalismo na TV Cultura e mente os valores fundadores e estatutários da televisão pode prestar à população o serviço dantes era. Um programa que desse uma op- defendi que era urgente alterar o modo como Fundação Padre Anchieta, tão preciosos para de informar com respeito, responsabilidade e ção outra que os livros de autoajuda ou a nova ele estava sendo conduzido. Jorge da Cunha a democracia brasileira, e acolhendo a plurali- credibilidade. “Com a participação de espe- ‘igreja’ da esquina, que mostrasse que estamos Lima teve papel importante nas alterações e dade e a diversidade existentes na sociedade cialistas, pais, mães, avós, tios, filhos, netos e em uma nova Terra, uma TerraDois (expressão na implantação de um jornalismo mais plural brasileira atual. Voltar-se à promoção dos di- sobrinhos, todos têm voz! É uma alegria apre- de minha autoria), na qual a responsabilidade e independente. Atualmente, a análise crítica reitos humanos, rejeitando a intolerância e o sentar este programa com Roberta Manreza. por seus desejos, por suas escolhas, é melhor dos fatos se sobrepõe à opinião pessoal”. discurso de ódio hoje tão disseminado”. Somos jornalistas, mães, amigas de infância e do que o medo paralisante.

Anos 2010 216 217 Anos 2010 e Walnice Nogueira Galvão; jornalistas como 2017 alvo de denúncias no âmbito da Ope- Paulo Werneck, Manuel da Costa Pinto e Tati ração Lava Jato, Temer teve sua prisão pre- Bernardi; a psicanalista Ana Verônica Mautner ventiva decretada em 21 de março. Quatro e o apresentador e escritor Jô Soares. Além dias após a prisão, foi aceito o pedido de deles, acrescente-se a presença da atriz Guta habeas corpus e Michel Temer foi solto, Ruiz dando voz a alguns textos de Lygia. Hou- juntamente com outros acusados. O pro- ve ainda o relato de sua união com o crítico cesso prossegue. Paulo Emílio Salles Gomes, pensador do cine- ma e criador da Cinemateca Brasileira. Cedoc: Autora de livros como Ciranda de pedra, An- a memória da TV tes do baile verde, As Horas Nuas, Conspira- ção das nuvens e As meninas, entre tantos Para preservar o material produzido pela outros, Lygia foi indicada ao Prêmio Nobel TV Cultura, em 1986 a fundação criou o de Literatura por decisão unânime da União Cedoc, seu centro de documentação. Seu Brasileira de Escritores. acervo atravessou o tempo e hoje é tes- temunha ocular da história do Brasil e do mundo em imagens preservadas em vários As eleições de 2018 suportes multimídia, resultantes da evo- lução tecnológica. Os serviços oferecidos O ano se 2018 foi repleto de acontecimentos vão além da preservação dos suportes. O Jorge Forbes, Rodrigo Bolzan, Mika Lins, Eucir de Souza e Maria Fernanda Cândido. TerraDois, 2017. críticos para o país, como o assassinato de Cedoc pesquisa, organiza, cataloga e inde- vereadora do PSOL Marielle Franco e a prisão xa. Produz relatórios, efemérides, e man- do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. tém intercâmbio com bibliotecas, museus e centros culturais. Além disso, preocupa-se Foi tudo rápido. Logo vimos que estávamos Um documentário-homenagem Em outubro, Jair Bolsonaro (PSL) venceu o em formar novos técnicos e profissionais de acordo, que estávamos ‘conversados’, que segundo turno das eleições e se tornou o pre- através de programas de estágio, palestras agora tínhamos é que fazer. O quê? TerraDois, Na semana em que com- sidente eleito, conquistando 55,13% dos votos e oficinas. ora. Assim ficou nomeado. O formato foi se evi- pletou 94 anos, em 2017, a TV Cultura apresen- válidos. As eleições em todo o país também denciando aos poucos. De início partimos do tou o especial Lygia, Uma Escritora Brasileira, definiram os governadores dos estados, além Os números do acervo impressionam. O de- modelo de uma jornalista conversando comi- dirigido por Hélio Goldsztejn e produzido pela de senadores, deputados federais e estaduais. partamento possui 19.231 livros em sua bi- go. Fizemos alguns contatos, não avançamos. equipe da emissora. Bem documentado, o es- blioteca, além de periódicos e catálogos; a Uma atriz seria melhor, representando o te- pecial trouxe muitos depoimentos, imagens No plano estadual, o empresário e ex-prefei- discoteca conta com 52 mil discos de vinil, lespectador. Maria Fernanda Cândido, depois, de época, entrevistas com parentes e com a to da capital paulista João Doria (PSDB) foi 37.495 CDs, 30 mil horas de gravação em Bete Coelho. Em vez de entrevistas, uma dra- própria personagem em diversas fases de sua eleito governador de São Paulo no segundo fitas de rolo e 978 horas em programas do maturgia evocando o tema, colocada entre a vida. Diante de uma autora que vinha escre- turno das eleições estaduais de 28 de outu- servidor, além de 650 partituras. Há apro- apresentação e a discussão. Fiz várias palestras vendo com regularidade e sucesso ao longo bro com 51,75% dos votos válidos. ximadamente 100 mil filmes na filmoteca, para toda a equipe. Enéas Pereira cuidou dos de sete décadas, o documentário não poderia 382.904 slides e 97.903 negativos em sua roteiros. Henrique Bacana desconstruiu a mise deixar de destacar sua contemporaneidade. Ao deixar o Palácio do Planalto em 1º de ja- área de fotografia, além de 52.603 fotos am- en scène. Mika Lins e Ricardo Elias dirigiram. neiro de 2019, Michel Temer perdeu o foro pliadas. O acervo de textos guarda 1,8 mi- Uma equipe maravilhosa de quase cinquenta Entre os depoentes havia escritores como privilegiado que detinha em razão de ter lhão de recortes de jornais e 380 mil textos pessoas vestiu a camisa e assim fizemos.” Ignácio de Loyola Brandão, Marcelino Freire ocupado a presidência da República. Desde em arquivos digitais. A área de gestão da

Anos 2010 218 219 Anos 2010 Centro de Documentação, Cedoc, déc. 2010. informação é formada por três setores: ca- Padre Anchieta: “A TV Cultura possui um im- talogação (12.182 imagens catalogadas), in- portante arquivo e, graças a investimentos dexação (25.145 documentos audiovisuais) na última década, está organizado seu acer- e pesquisa (11.295 pesquisas que podem ser vo. Uma parte significativa já está digitaliza- localizadas em seu banco de dados). da. Essa memória é acessível ao público, dá apoio documental à programação da TV e Para o gerente José Maria Pereira Lopes, “o pode se tornar uma fonte de receita. As ima- acervo é o coração da Fundação Padre An- gens dos programas musicais realizados por chieta. Todas as atividades são realizadas Fernando Faro, por exemplo, são documen- com a única intenção de preservar a histó- tos preciosos para a memória da música po- ria da fundação, da TV Cultura e do país”. pular brasileira. Há também importante ma- Há quarenta anos na TV Cultura, José Maria terial de registro da vida política brasileira”. acompanhou a evolução das mídias e dos programas. Lembrando-se dos anos 1970, A fundação tem investido desde os anos tempo em que costumava ir até as escolas 2000 no processo de digitalização e cata- públicas, faculdades, comunidades e peni- logação de todo esse material. “Após con- tenciárias exibir programas e documentá- cluirmos a digitalização de cerca de 11.500 rios, ele destaca essa vocação educativa da fitas Quadruplex em 2014, estávamos pro- emissora: “A gente ia com projetor nas cos- curando um fluxo de trabalho para as fitas tas dentro de uma Brasília. Era muito gra- Beta que fosse capaz de agilizar o proces- tificante. E tudo está guardado aqui den- so e automatizar a inclusão de metadados tro. É a memória do Brasil que passou por com as bases que já tínhamos em softwa- aqui. A história de São Paulo, do Brasil e do res como Oracle e outros”, explica Gilvani mundo inteiro”. Moletta, diretor técnico da fundação.

Com um acervo que vai dos primeiros dias A solução encontrada veio da integração de atividade até os destaques da atualidade, de um equipamento de alto nível com uma o Cedoc alimenta a programação, principal- boa dose de desenvolvimento interno. Hoje mente o jornalismo, que solicita conteúdos o armazenamento digital da emissora é a todo tempo. “A TV Cultura tem a gravação feito em LTO. “Nesse processo temos ain- do dia em que ela nasceu, o que é único en- da uma instância de controle de qualida- tre as emissoras brasileiras. Temos o primeiro de para garantir que tanto a digitalização filme jornalístico, gravado em 16 milímetros, como a inserção dos metadados funciona- o primeiro programa que foi ao ar, o Planeta ram corretamente e que nada precisa ser Terra, a gravação com Elizeth Cardoso, que refeito”, diz Rodrigo Galafati, coordenador cantou com o Zimbo Trio no primeiro aniver- técnico de engenharia. sário da TV Cultura. Tudo isso com qualida- de. Há uma equipe que revisa a conservação desse acervo periodicamente.”

O conselheiro Fábio Magalhães também des­ tacou a importância do acervo da Fundação

Anos 2010 220 221 Anos 2010 Rede Cultura

Presente em 26 estados brasileiros e no primeira versão estreou em 1975. Atual edi- Distrito Federal, a TV Cultura promove uma tora-chefe do programa, Andresa Boni, em forte expansão de sua rede de afiliadas pelo depoimento para esta publicação, contou país. Essa cooperação da emissora com suas que “Panorama vem se revelando um labo- afiliadas aproxima o telespectador, que, ratório de ideias”. além da programação nacional da TV Cul- tura, tem a oportunidade de acompanhar o Para o programa costumam ser convidados conteúdo e os acontecimentos locais numa educadores, médicos, cientistas, psicólo- linguagem que valoriza a regionalização e gos, economistas, advogados, juristas, so- os costumes do Brasil. ciólogos, dirigentes esportivos, atletas, po- líticos, ambientalistas. “Mas isso é o que as De 2013 a 2019 houve um salto significati- pessoas veem na TV, porque nos bastidores vo de alcance da rede: em 2013, a Cultura a equipe é afinadíssima, motivada, engajada estava presente em 846 municípios brasi- e, principalmente, herdeira do talento e da leiros, 68 milhões de brasileiros eram al- experiência de uma profissional que desde cançados pela TV aberta e havia 40 emis- o início dividiu comigo as dores e as delícias soras afiliadas e retransmissoras. Em 2019, de dar esse formato criativo ao Panorama: a sua presença se faz sentir em mais de jornalista Ana Costa Santos. E ainda pude ir 2.220 municípios, atingindo 150 milhões para a rua testemunhar (apesar do gás lacri- de brasileiros alcançados pela TV aberta mogêneo e das balas de borracha) as mani- Cenário do programa Panorama, 2017. e 17,83 milhões de assinantes na TV fecha- festações de 2013, ou até mesmo relembrar, da, através de 135 emissoras afiliadas e re- num documentário especial, os vinte anos transmissoras. da queda do Muro de Berlim. Que venham mais 50 anos!” O crescimento não foi apenas quantitativo, mas também qualitativo. Hoje a TV Cultura Nessa última década, o Roda Viva se abre como o projeto anticrime do Ministério da vanni, recebeu uma homenagem na mesma tem 208 canais próprios no estado de São para o mundo. Em 2015, a TV Cultura cria Justiça, a Reforma da Previdência e as mu­ categoria por seu árduo trabalho sobre a Paulo, um canal próprio em Brasília, e está sua edição internacional. O novo Roda lheres no Brasil. preservação dos ecossistemas. Em depoi- presente em todas as operadoras de TV por Viva Internacional já trouxe nomes como o mento concedido especialmente para esta assinatura do país. Desde 2016 a rede de afi- consagrado autor cubano Leonardo Padu- O Repórter Eco está na grade da TV Cul- publicação, Márcia contou: “Grande parte liadas recebeu a chancela da Anatel, que re- ra; o diretor do jornal Charlie Hebdo, Lau- tura desde a ECO 92, a Conferência das da minha experiência profissional foi vivi- conheceu a TV Cultura como rede nacional. rent Sourisseau; o diretor da organização Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o da aqui. Nosso exercício diário é fazer jor- Médicos sem Fronteiras, Jérome Oberreit; Desenvolvimento, sediada no Rio de Janei- nalismo crítico, com conteúdo e respeito Lilian Tintori, esposa do político venezue- ro em 1992. Merecedor de inúmeros prê- ao telespectador. É um aprendizado que Longa vida ao lano de oposição Leopoldo López; e a en- mios em todos esses anos, terminou 2018 tento praticar como apresentadora e re- jornalismo público saísta norte-americana Camille Paglia. No vencendo a 4ª edição do Prêmio Especia- pórter do programa. Como a equipe cos- ano eleitoral de 2018, entrevistou os presi- listas, organizado pela revista Negócios da tuma dizer : ‘O Repórter Eco é uma espé- Panorama é um dos programas que fizeram denciáveis, seus vices, candidatos ao Se- Comunicação: a repórter Laís Duarte foi a cie nativa da TV Cultura’”. história na TV Cultura. Revista de arte e cul- nado e ao governo estadual. Em 2019, deu vencedora em Sustentabilidade, e a apre- tura duas vezes premiada pela APCA, sua foco a programas especiais com temas sentadora do programa, Márcia Bongio-

Anos 2010 222 223 Anos 2010 Márcia Bongiovanni, Repórter Eco, 2010. Manuel da Costa Pinto, Adriana Couto, Cunha Jr. e Marina Person, Metrópolis, 2012.

Os consagrados da programação

Na estreia do programa Metrópolis, que foi Trinta anos depois daquela estreia, Cunha raramente a exposições. O Metrópolis era O programa foi considerado pela Associa- ao ar na TV Cultura no dia 4 de abril de Jr. se junta a Adriana Couto, também apre- uma das minhas janelas preferidas para um ção Paulista de Críticos de Arte o melhor 1988, uma das atrações foi uma cantora en- sentadora e repórter do Metrópolis, para outro mundo que eu estava enxergando projeto cultural da TV brasileira em 2018. tão desconhecida, chamada . comandar o evento especial de aniversá- fora do meu bairro”. O apresentador e repórter Cunha Jr., que rio do programa. Antes mesmo de passar Manos e Minas, no ar desde 2008, ganhou só entrou no programa dois anos depois, a integrar a equipe, em 2009, Adriana tam- Prelúdio, o show de calouros de música uma estrela em 2016. A atriz, diretora teatral, lembra bem daquele começo: “Eu era te- bém já tinha estabelecido uma relação afe- clássica da TV brasileira, estreou em 2005. cantora, compositora, diretora musical, pes- lespectador assíduo do Metrópolis porque tiva com a atração: “O Metrópolis entra na Diante das câmeras da TV, os candidatos quisadora, ativista e slammer Roberta Estre- o programa era descolado. Víamos desde minha história, pela primeira vez, no início disputam a preferência de um júri formado la D’Alva tornou-se sua nova apresentadora, grandes nomes até gente que estava ini- dos anos 1990. Momento em que eu estava por músicos, professores e críticos, apre- e o programa estreou reformulado no dia 25 ciando a carreira, como a famosa apresen- no ensino médio. Era o início da internet, sentando-se sempre à frente da Orquestra de junho. “Acho que desde pequena sempre tação de Marisa Monte no primeiro progra- eu morava na periferia de São Paulo. Na mi- do Prelúdio, sob regência do maestro Júlio sonhei em apresentar um programa de au- ma, quando ela ainda não era conhecida, nha casa sempre teve muita música, mas Medaglia, que também apresenta o progra- ditório. Talvez esse fosse um sonho comum nem tinha lançado ainda o primeiro disco”. eu não ia ao teatro, ia pouco ao cinema e ma ao lado de Roberta Martinelli. para uma criança que cresceu nos anos 1980.

Anos 2010 224 225 Anos 2010 Prelúdio., déc. 2010. Brasil Toca Choro, 2017. Trio corrente - Fábio Torres, Paulo Paulelli e Edu Ribeiro.

Novos programas

Só nunca imaginei que teria a sorte de inte- O principal lançamento original da emissora O programa conta com a participação dos grar um programa que estivesse tão conec- em 2018 explora, em treze edições, o primeiro mais virtuosos e criativos intérpretes do tado à cultura hip-hop, uma paixão na minha gênero urbano tipicamente nacional. Em sua gênero. Diferentes gerações e estilos se vida”, conta a nova apresentadora em depoi- estreia, em 4 de novembro, Brasil Toca Choro encontram para trazer versões autênticas mento concedido para esta publicação. Ro- homenageou um dos mestres do choro: Pixin- do choro. Com arranjos inéditos e múlti- berta disse que se sentia verdadeiramente guinha. É na mistura de melodias da música plas formações, eles vão do regional tra- honrada em estar a frente de algo tão pio- clássica europeia e do jazz norte-americano dicional à big band. neiro e único na televisão brasileira. com o ritmo africano tocado nos terreiros do Rio de Janeiro que se encontra o coração pul- Cultura, o Musical é uma das estreias de No mundo dos esportes, Cartão Verde é um sante do choro. Originado na segunda metade 2019. No reality show, que pretende revelar dos mais consagrados programas da televi- do século 19, o ritmo musical encanta e emo- talentos para musicais de teatro, os candi- são, no ar desde 1993. ciona gerações há aproximadamente 150 anos. datos se apresentarão apostando em can-

Anos 2010 226 227 Anos 2010 tece, já conta com a participação de artis- papel importantíssimo que a TV Cultura tem tas como Fafá de Belém, , para exercer”, diz Mendonça. Chico César, Luiza Possi, Tetê Espíndola, Karol Conka, Felipe Cordeiro, Anavitória, Ainda para 2019 um projeto que pretende Patricia Bastos, Siba, Odair José, César modernizar a forma de fazer televisão dentro Lacerda, Claudio Zoli, Otto, Ligiana Cos- da Fundação Padre Anchieta é a construção ta, Maria Alcina, Filipe Catto, Marina de La de uma nova Unidade Móvel de Produção, Riva, Josyara, Lira, Arthur Nogueira, Lucas totalmente preparada para as tecnologias Santtana e Ceumar. UHD e HDR, que permitem captação em al- tíssima definição para os concertos de músi- ca clássica, que podem ser comercializados Visão de futuro internacionalmente. “Estamos prevendo ter um estúdio dedicado aos programas musi- O caminho para manter a relevância e a mis- cais que têm feito grande sucesso em nos- são pública da TV Cultura é a integração en- sa programação, então usaremos esta nova tre a televisão e a internet. Atualmente, a TV Unidade Móvel tanto internamente como em Cultura possui mais de 7,5 milhões de segui- gravações externas”, conta o diretor técnico dores nas plataformas digitais. No Twitter, Gilvani Moletta. Um dos destaques é a grava- com a marca de 1,5 milhão de seguidores, ção das apresentações do projeto Jazz Sin- é frequente que os programas e seus con- fônica, do governo do estado.

. vidados fiquem entre os assuntos mais co- Escala Musical, 2019. Karol Conka e Felipe Cordeiro. mentados no Brasil e no ranking mundial. objetivo importante é a busca do pro- aplicativo Cultura Digital, lançado em 2017, tagonismo nacional da TV Cultura na cria- disponibiliza toda a programação ao vivo e ção de uma rede nacional de TVs públicas. on demand e oferece conteúdos e progra- Para o atual presidente do conselho curador, mas exclusivos. Augusto Rodrigues, “um dos grandes pro- ções de sucesso de musicais. Será apresen- costumam ser feitas por outros veículos, blemas da educação no país é a formação tado pelo ator Jarbas Homem de Mello e e tirar o entrevistado da zona de conforto. Para o presidente Marcos Mendonça, a TV de professores. Então, começamos a sonhar exibido aos domingos, estreando em abril. Outra estreia, Escala Musical, será uma Cultura está se preparando para os novos aqui com uma rede nacional voltada à for- Também faz parte da equipe a roteirista série de programas sobre a música con- tempos. Para isso, montou uma boa estra- mação de professores pela internet. E como e atriz de musicais Mariana Elisabetsky. O temporânea produzida hoje. Consideran- tégia na área de digital, está investindo nela chama isso? Univesp TV. Já temos a televi- corpo de jurados será formado por profis- do que a capital paulista é o lugar para fortemente e tem conseguido resultados são, não é? Queremos transformar a Univesp sionais da área. Foram recebidas 1.300 ins- onde converge essa produção, mostrará positivos. Essa área deve ser ampliada para numa grande iniciativa de formação docente, crições de candidatos interessados. músicos de diferentes partes do Brasil que atender o contingente gigantesco de pessoas mas para isso precisamos de parcerias com vivem e trabalham em São Paulo e sua re- que veem televisão via sistema digital. Além o estado, com o Ministério da Educação, ir #Provocações será o novo programa de lação com a cidade. Cada programa terá disso, está trabalhando muito fortemente na conversar com o Senado, para formar uma entrevista semanal, apresentado por Mar- dois convidados e, ao final, um encontro área de digitalização de seu acervo, e hoje já rede nacional de TV pública. Esse é o nosso celo Tas. Numa repaginação do antigo musical inédito em que interpretam juntos tem uma quantidade gigantesca de produtos grande objetivo”. Provocações, apresentado pelo e diretor uma canção que de alguma forma os apro- digitalizados, que, no futuro, poderão estar Antônio Abujamra, incorporará as ferra- xima, seja pelo estilo musical, pelo tema ou disponibilizados numa plataforma. “Temos aí Outro aspecto a ser considerado no futu- mentas digitais. O objetivo é fazer o en- pela história de cada um. Gravado em lo- uma fonte de receita e de preservação da sua ro da fundação é a ampliação da presença trevistado responder perguntas que não cais onde a cena musical paulistana acon- memória, de toda a sua história. Esse é um das mulheres nos quadros da instituição.

Anos 2010 228 229 Anos 2010 Roberta Martinelli e banda Bixiga 70, programa Cultura Livre, 2013. Conforme relatou Rose Gottardo, foi firma- dos jornalísticos. Da América Latina, a TV da uma parceria com a ONU Mulheres em Cultura exibirá brevemente em sua grade o março de 2019, por meio da qual a Fun- Noticiero Científico y Cultural Iberoamerica- dação Padre Anchieta tornou-se signatária no (NCC), produzido pelo canal 44 de Gua- do WEPS – Women’s Empowerment Prin- dalajara, no México, além de contribuir com ciples (Princípios de Empoderamento das produção jornalística para o programa. Mulheres), um conjunto de considerações, valores e práticas que as empresas devem Na perspectiva de seu futuro, a TV Cultura incorporar visando à equidade de gênero ingressou no século 21 com o mesmo espíri- e ao empoderamento de mulheres. “Somos to empreendedor que motivou sua criação, a primeira empresa de televisão brasileira procurando acompanhar a notável evolução a fazer parte da WEPS. Isso é muito signi- tecnológica, de modo a atender às deman- ficativo, gratificante e um diferencial, vis- das da sociedade, que deseja conteúdos au- to que a fundação deixa transparecer esse diovisuais inovadores e criativos. Para tanto, propósito, atrai e retém talentos, possibili- lançou-se a esses novos desafios, debaten- ta entrar em novos mercados e melhora os do e discutindo estratégias, políticas, pla- resultados”, afirma a vice-presidente. nejamento e revisão de posturas, além de adotar importantes passos em direção ao Segundo a área de pesquisas da TV Cultu- contemporâneo. ra, nos últimos dezoito anos, a TV Cultura registrou em 2018 o melhor tempo médio de acompanhamento e o maior alcance de domicílios e indivíduos diferentes. Também foi o ano de maior participação do público feminino e do público que tem entre 35 e 49 anos de idade.

Nos últimos anos, a TV Cultura também tem empreendido esforços para internacionali- zar a sua marca e programação. Através de acordos internacionais, a emissora passará a exibir e a receber conteúdos de emisso- ras dos países ibero-americanos, através da Asociación de las Televisiones Educativas y Culturales Iberoamericanas(ATEI), e de TVs da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul, através da TV BRICS.

Nesta primeira etapa, a TV Cultura já exibe parte de seu conteúdo – Repórter Eco e Cul- tura Livre – na Rússia, além de estar em con- versas avançadas para coproduzir conteú-

Anos 2010 230 231 Anos 2010 2010 2011 2012 2013

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA jun | João Sayad assume a presidência da fundação É implantada a nova identidade visual da TV Cultu- jun | Belisário dos Santos Jr. assume a presidência jun | Marcos Mendonça inicia seu segundo manda- e Moacyr Expedito Marret Vaz Guimarães é empos- ra, com modernização da logomarca. do conselho curador da Fundação Padre Anchieta. to na presidência da Fundação Padre Anchieta. sado na presidência do conselho curador. É elaborado o Planejamento Estratégico para o pe- É criada a gerência de integração de mídias, com O Seminário Cultura reúne especialistas brasi- A TV Cultura adota um novo slogan: “Uma TV ríodo de 2012 a 2014. a missão de integrar as informações digitais da leiros e internacionais, membros do conselho diferente”. Quintal da Cultura estreia ao vivo, com sete entra- Fundação Padre Anchieta. curador e dirigentes da TV e das rádios da fun- O setor de Novas Mídias passa a se chamar Multipla- das durante a programação infantil. A TV Cultura lança três novos programas jornalísti- dação para pensar os novos horizontes para as emissoras públicas. taforma. Sua missão é entregar o conteúdo produzi- Estreia a série Amores Expressos, projeto que enviou cos: Guia do Trânsito, Pronto Atendimento e Legião do pelas rádios e TVs nas outras plataformas digitais. dezesseis escritores brasileiros para as principais ci- Estrangeira, debate com correspondentes estran- O Metrópolis comemora 25 anos. Um hacker invade o site da TV Cultura, exalta dades do mundo. geiros no Brasil. Maria Cristina Poli volta à TV Cultura para coman- a programação da emissora e critica os canais Estreia o programa de entrevistas Sangue Latino. O futebol fica mais divertido com a estreia de Cartão- dar o Jornal da Cultura. concorrentes. zinho Verde, uma versão infantil do Cartão Verde. Estreia o portal da TV Cultura cmais+. O Jornal da Cultura 1ª Edição, apresentado por Estreia do programa Login, que discute os assuntos Estreia a TV Cocoricó, na qual os personagens têm a Aldo Quiroga e Gabriela Mayer, traz o noticiário mostra os diferentes movimentos da em pauta com os internautas. Cultura Livre incumbência de apresentar um programa televisivo. nacional na hora do almoço. música brasileira. Estreia Cocoricó na Cidade. O premiado seriado juvenil Pedro & Bianca aborda No JC Debate, com mediação da jornalista Made- lança luz sobre as histórias de vida de Inglês com Música entra no ar remodelado. Reis da Rua diversos temas comuns na vida dos jovens, como o leine Alves, convidados discutem assuntos que es- moradores das periferias. Lá e Cá, série gravada no Brasil e em Portugal em assédio moral na escola, as drogas, a gravidez pre- tão na pauta do dia. O programa semanal Matéria de Capa, conduzido parceria com a RTP, é apresentada pelo brasilei- coce, o primeiro namoro, a discriminação. Mais Cultura, apresentado por Barbara Thomaz, pelo jornalista Aldo Quiroga, aprofunda a reflexão ro Paulo Markun e pelo português Carlos Fino. debate e investiga as notícias mais quentes e sobre fatos importantes do Brasil e do exterior. TVS BRASILEIRAS curiosas do universo cultural, gastronômico e O programa Escola 2.0, antigo Almanaque Educa- ção, estreia com nova personagem, a adolescente Pré-Estreia substitui o Prelúdio, mas mantém o for- É sancionada a Lei 12.485 com o objetivo de fomen- comportamental. tar a produção audiovisual brasileira no segmento “descolada” Bia. mato de concurso de música clássica. pago da televisão. Com isso, foram estabelecidas Estreia o programa de reflexões Invenção do Con- Do YouTube para a televisão, Paula Vilhena apresen- Cultura Documentários exibe produções raras e iné- cotas obrigatórias de veiculação de obras nacionais. temporâneo. ditas, com apresentação e curadoria do crítico de ta Deu Paula na TV.

cinema Amir Labaki. Estreia o , apresentado por Marina O Ministério da Justiça lança a campanha “Não se TVS BRASILEIRAS Cultura Retrô Person. Engane” para alertar os pais sobre a influência que A MTV Brasil encerra atividades devido a proble- TVS BRASILEIRAS as obras audiovisuais podem ter na formação de mas financeiros atravessados pela emissora nos úl- A televisão brasileira faz 60 anos. Em 18 de setembro TVS BRASILEIRAS crianças e informá-los sobre a classificação indica- timos anos. tiva como forma de selecionar os programas aos de 1950, em São Paulo, entrava no ar a TV Tupi. O projeto do Marco Civil da Internet é enviado à Câ- O congresso da Associação Brasileira de Televisão quais os filhos assistem. Com 2.295.517 novos assinantes, o Brasil encerrou mara dos Deputados em 4 de agosto. por Assinatura - ABTA de 2013 mostra que a TV 2010 com 9.768.993 domicílios com TV por assina- Estudo realizado pelo o Instituto Alana e o Observa- No dia 19 de outubro, a telenovela Avenida Brasil, da por assinatura continua crescendo, não só em ter- tura, o que indica um crescimento acumulado de tório de Mídia da Universidade Federal do Espírito TV Globo, marca 56 pontos de média em todas as mos de assinantes, mas também em receita. 30,7% no ano. praças avaliadas pelo Ibope. Santo constata que 64% de toda a publicidade vei- Os tablets se difundem em todo o mundo e surgem culada em quinze canais de televisão foram direcio- BRASIL novos aplicativos, chamados “Sync-to-TV”, que re- nados ao público menor de 12 anos. abr | Alberto Goldman assume o governo do estado conhecem um programa transmitido através de um A inicia suas atividades no Brasil. aparelho de TV e lançam módulos interativos na de São Paulo após renúncia de Serra para concorrer às eleições presidenciais. segunda tela. BRASIL Mais da metade dos assinantes da TV paga assis- 1º jan | Dilma Rousseff toma posse como presidente da tem apenas a emissoras da TV aberta. República e primeira mulher a assumir o cargo no país. 1º jan | Geraldo Alckmin é eleito governador do estado de São Paulo.

Inglês com Música, 2010. Deu Paula na TV, 2011. Cartãozinho Verde, 2012. Madeleine Alves, JC Debate, 2013.

Anos 2010 232 233 Anos 2010 2014 2015 2016 2017

TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA TV CULTURA Uma pesquisa encomendada pela britânica BBC, A fundação promove ações de difusão cultural atra- jun | Marcos Mendonça inicia sua terceira gestão na É elaborado o Guia de Jornalismo da TV Cultura. realizada pelo Instituto Populus, aponta que o canal vés de seu complexo de mídia eletrônica composto Fundação Padre Anchieta e Augusto Rodrigues é É realizado um fórum de palestras e debates com público da Fundação Padre Anchieta é o segundo pela TV Cultura, TV Rá Tim Bum!, Univesp TV, Multi- eleito presidente do conselho curador. especialistas sobre a 4ª revolução industrial e o fu- de maior qualidade do mundo, atrás apenas da BBC. cultura e as Rádios Cultura Brasil e FM. É elaborado o documento “Bases para o Planeja- turo da TV. A TV Cultura comemora 45 anos com a reedição de Concertos Matinais leva ao grande público as peças mento Estratégico da Fundação Padre Anchieta”. O aplicativo Cultura Digital disponibiliza toda a pro- programas antigos e prestigiados. mais populares do repertório clássico. Finalização dos 52 programas da obra infantil Sésa- gramação da TV Cultura ao vivo e on demand. É criado o Multicultura Educação, que agrega à pro- Estreia Persona em Foco, que registra aspectos da mo, concebida em parceria com a Sesame Workshop A fundação inicia a implantação do Programa de gramação do Multicultura conteúdos que atendem vida pessoal e da carreira de personalidades do tea- e a TV Brasil. Planejamento Estratégico com uma série de en- também ao currículo escolar. tro, da TV e do cinema, bem como suas impressões Reprise do especial Faro 80, exibido originalmen- contros sobre cenários tecnológicos, econômicos A TV Rá Tim Bum! comemora 10 anos no ar. sobre o ofício. te em junho de 2007, em homenagem a Fernando e televisivos. Ao completar 22 anos, o Repórter Eco se conso- Sr. Brasil comemora 10 anos no ar. Faro, falecido em 24 de abril. É concluído o processo licitatório que permitiu a lida como um programa sobre meio ambiente e No mês da consciência negra, Manos e Minas come- Com a apresentação de Eduardo Gasperini, Vamos contratação da FIA/USP para a implantação dos sustentabilidade. mora trezentos programas com um especial. Pedalar mostra o cotidiano dos ciclistas, incentivan- serviços de conformidade e gestão de riscos. No Quintal da Cultura, estreia o quadro “Era uma A TV Cultura cria a edição internacional do Roda Viva. do a mobilidade urbana. Estreia TerraDois, que discute as novas formas de vez no Quintal”, melhor programa infantil do ano se- A equipe do JC Debate produz um programa especial No Giro com Willian Corrêa, os papos descontraídos viver e se relacionar a partir de novos paradig- gundo a APCA. para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente. de Willian e seus convidados dentro de um carro mas sociais. que circula pelas vias de São Paulo. Estreia a série Que Monstro te Mordeu?, premiada O Repórter Eco ganha o Prêmio Chico Mendes de Campus em Ação oferece espaço para divulgar a com o Prix Jeunesse International. Jornalismo Socioambiental. Roberta Estrela D’Alva passa a apresentar Manos produção em audiovisual de alunos das universida- e Minas. des brasileiras. Incluir Brincando, com personagens do Vila Sésamo, Resistir é Preciso, série documental, retrata a resis-

leva ao ar uma campanha de conscientização sobre tência da imprensa brasileira contra o autoritarismo TVS BRASILEIRAS Depois de quase dez anos, Sésamo retorna à TV Cul- o direito de brincar de forma segura e inclusiva. tura e à TV Brasil com conteúdo inteiramente inédito. historicamente. 31 ago | O Supremo Tribunal Federal decide que é in- Em , o apresentador Warley Santana e bo- TVS BRASILEIRAS constitucional a regra que obriga as emissoras de Tá Certo? TVS BRASILEIRAS necos com diferentes personalidades disputam um televisão a veicular seus programas de acordo com Após cinco anos de debates, o Marco Civil da Internet Segundo o Ibope, a televisão foi destino de 70% da game show bem-humorado. entra em vigor em abril, mas ainda deve ser regula- o horário recomendado pela classificação indicativa. publicidade (53% na TV aberta, 11% na TV por assina- Estreia Momento Papo de Mãe em versão diária de mentado. tura e 5% de merchandising). Segundo pesquisa divulgada pela Secretaria de Co- municação Social do governo, 63% dos brasileiros se 15 minutos, inspirado no programa Papo de Mãe, do A internet é o segundo meio de comunicação mais O congresso da Sociedade Brasileira de Engenharia informam sobre o que acontece no país pela televi- ano anterior. usado pelos brasileiros, atrás da televisão e à frente do de Televisão (SET) analisa o futuro da TV aberta no são, e 26% pela internet. rádio, segundo pesquisa divulgada em 7 de março e Brasil e no mundo. TVS BRASILEIRAS encomendada ao Ibope pela Secretaria de Comunica- A Amazon lança o serviço de streaming de filmes e Segundo o Painel Nacional de Televisão do Ibope Mí- O Senado Federal aprova a medida provisória que ção Social da Presidência da República. séries Prime Video. dia, até 27 de maio de 2015 as crianças passavam em altera a lei que criou a Empresa Brasil de Comunica-

Estreia MasterChef, na Band, inaugurando os reality média 5 horas e 35 minutos diante da TV, o mesmo BRASIL ção - EBC, acabando com seu caráter público. São shows do gênero que passam a fazer grande sucesso. extintos o conselho curador e o mandato fixo para tempo que o ano inteiro de 2014. 31 ago | Michel Temer assume a presidência da Re- presidente da empresa. Programas de natureza religiosa ocupam 21,1% do pública logo após o Senado cassar o mandato de

tempo de programação de TV aberta – ou uma em Dilma Rousseff. A capital e as cidades da Grande São Paulo têm o cada 5 horas –, segundo relatório da Ancine. sinal analógico desligado, mantendo-se apenas o si- nal digital. É lançada a plataforma digital de streaming . De acordo com uma pesquisa realizada pela Google, BRASIL o brasileiro passa em média 15,4 horas assistindo a 1º de janeiro| Dilma Rousseff, reeleita com 51,6% dos vídeos por streaming e 22,6 horas à TV aberta ou votos, toma posse como presidente da República. por assinatura.

Que Monstro te Mordeu?, 2014. Persona em Foco com a atriz , déc. 2010. Roberta Estrela D’Alva, Manos e Minas, déc. 2010. Momento Papo de Mãe, 2017.

Anos 2010 234 235 Anos 2010 2018 2019 Programa Cultura – o Musical, 2019.

TV CULTURA TV CULTURA O Novo Código de Ética da fundação é apresenta- A Rede Cultura registra um salto significativo de al- do em setembro ao conselho curador. Aprovado e cance: em 2013, abrangia 846 municípios brasilei- finalizado, é então divulgado na internet e para os ros; em 2019, sua presença se faz sentir em mais de funcionários e colaboradores. 2.220 municípios. São apresentados os oito objetivos que alicerçam o Para este ano, está prevista a construção de uma Plano Estratégico. nova Unidade Móvel de Produção, totalmente pre- É realizada a reforma dos estatutos da Fundação parada para as tecnologias UHD e HDR. Padre Anchieta. Está em curso uma parceria com a ONU Mulheres. A Cultura assina acordo com a TV Brics. Além da A Fundação Padre Anchieta torna-se signatária do troca de conteúdo, haverá reportagens e documen- WEPS – Women’s Empowerment Principles. tários feitos em conjunto. Em abril, a TV Cultura lança Cultura – O Musical, um O programa Brasil Toca Choro explora, em treze edi- reality show que promete revelar talentos para su- ções, o primeiro gênero urbano tipicamente nacional. prir a demanda do teatro musical. A apresentação é do ator de musicais Jarbas Homem de Mello. Apresentada por Tuti Müller e Felipe Gaia, e dirigida por Julio Piconi, a série Territórios Culturais percorre #Provocações é o novo programa semanal de en- diferentes espaços culturais da cidade e do estado trevistas, apresentado por Marcelo Tas. Numa repa- de São Paulo. ginação do antigo Provocações, incorpora as ferra- mentas digitais. TVS BRASILEIRAS Escala Musical é uma série de programas sobre a As operadoras de TV paga perderam 549 mil assi- música contemporânea produzida hoje, com a pro- nantes, redução que representou uma queda de 3% posta de mostrar músicos de diferentes partes do na base de usuários. Brasil que vivem e trabalham em São Paulo e sua A última enquete de percepção pública da ciência relação com a cidade. registrou que os brasileiros têm na TV a principal Outros destaques do ano são Vitrine Brasil, que fonte de assuntos de Ciência & Tecnologia e con- pretende explorar as diversas regiões brasileiras, sideram que esse meio de comunicação noticia as Fronteiras do Pensamento, a terceira temporada de descobertas científicas de forma satisfatória. Tá Certo? e os especiais Cultura.50, composto por O Brasil está entre os países que mais utilizam o cinco depoimentos que contam por década a histó- streaming no mundo, ficando atrás apenas da Rússia ria da emissora, e Trajetórias, série biográfica sobre personalidades ligadas à história da TV Cultura. e do México. O You Tube Premium chega ao mercado com a pro- TVS BRASILEIRAS posta de unir tanto o acervo audiovisual já conheci- A Netflix projeta para 2019 atingir o número de dez do quanto um streaming de músicas. séries originais brasileiras produzidas para a plata- forma de streaming. BRASIL abr | Márcio França assume o governo do estado de BRASIL São Paulo após renúncia de Alckmin para concorrer 1º jan | Jair Bolsonaro toma posse na presidência da às eleições presidenciais. República. 1º jan | João Dória toma posse como governador do estado de São Paulo.

Gravação do programa Brasil Toca Choro, 2018. Marcelo Tas, programa #Provocações, 2019.

Anos 2010 236 237 Anos 2010 Facilisis at vero eros et accumsan et iusto odio dignissim qui blandit Orquestrapraesent luptatum Sinfônica zzril de Sãodelenit Paulo augue – OSESP duis ,dolore. programa Clássicos, 2015.

238 239 Marcelo Calero, Adriana Couto e Cunha Jr.. Metrópolis, 2016.

240 241 Programa Roda Viva com Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé, 2016.

242 243 Cenário do Jornal da Cultura, 2018

244 245 Doroteia, Osório, Ofélia e Ludovico, Quintal da Cultura, 2019.

246 247 De Homero a Steve Jobs Comunicação não é mídia nem mensagem, Comentários sobre a história da comunicação é a melhor forma de um ser humano para inspirar a reinvenção da TV Cultura. se aproximar do outro.

Jorge da Cunha Lima A comunicação primitiva: Vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta se verba volat, a escrita fica

A fala foi o primeiro e mais perene meio de a comunicação no Ocidente. A existência comunicação do homem. Foram simples re- de Homero já foi severamente contestada gistros da sensibilidade primitiva para estabe- por alguns. Outros chegam a contestar a lecer a comunicação entre os homens. Fogo temporalidade da Odisseia e, sobretudo, e tambores também constituíram meios de da Ilíada. O fato histórico concreto é que comunicação por séculos, e ainda o são entre esses grandes poemas chegaram ao tempo povos nativos de todos os continentes. de Péricles, ganharam a dimensão manus- crita e tornaram-se a pedra inaugural da Com a evolução das civilizações surgiram os poesia do Ocidente. signos alinhados e os anagramas, que esta- beleceram a comunicação estável, visto que, A oralidade foi indispensável à perenidade se verba volat, a escrita fica. da poesia grega, induzindo cidadãos a de- corá-la, assim como a acrescentar elemen- O olhar capta os signos escritos. Mas os indi- tos enriquecedores à criação original. Na víduos precisam ser educados para entender Grécia Antiga a comunicação foi oral, mítica o que veem. Talvez o primeiro entendimento e poética. Na Grécia de Péricles, foi retóri- da educação tenha sido entender os signos, ca, em um contexto político, pedagógico de ler. Se não entendemos o que estamos lendo, sua realidade filosófica. O espaço público, a permanecemos analfabetos, e esse princípio ágora, foi responsável pelo diálogo filosó- perdura, mesmo quando a comunicação, fico, por um hábito de comunicação consi- evoluída, passou a ser dirigida aos ouvidos e derado democrático, posto que feito para a outras percepções sensitivas. formação e a participação crítica do cida- dão – naquele momento, grego e masculino. A comunicação era falada e escrita, mas a Grécia: uma comunicação oral, fruição era auditiva. mítica e poética No ápice da sofisticação tornou-se arte, a O conhecimento na Grécia Antiga foi a arte da representação. A tragédia dava o re- poesia épica, transmitida oralmente até cado do poder e das emoções nobres e dos que Homero a tivesse compilado em duas hábitos obscenos. O coro grego das novelas obras: Ilíada e Odisseia, que inauguraram de hoje era o povo.

248 249 TV Cultura 50 Anos Roma: a comunicação do poder e outros fatores do declínio burocrático e ad- fundadas pela Igreja. As comunicações eram, confissão, embora constituísse uma comuni- através do espetáculo ministrativo, do que pelo fechamento das bi- sobretudo, divulgação das ordens do poder. cação reservada entre o penitente e o con- bliotecas e fim do ensino gratuito. O conhecimento mesmo estava guardado a fessor, trazia ao cuore do sigilo informações A comunicação em Roma, republicana ou sete chaves nas bibliotecas dos mosteiros. preciosas sobre o comportamento humano e imperial teve um caráter estratégico-político. Depois do século 10, os papas criaram em individual, a compreensão que o penitente ti- Comunicar oordenamento jurídico do poder A comunicação entre Gênova, Paris e outras cidades universidades nha dos dogmas, o comportamento pessoal foi fundamental devido à extensão das con- os povos nômades que divulgavam pensamentos científicos, em toda a dimensão inesperada do pecado, quistas. O grande meio de comunicação em muitas vezes contraditórios a decisões ofi- as reações das pessoas diante do poder re- Roma foi a Via Ápia, uma estrada de pedra Os antigos povos nômades, que foram cha- cializadas por bulas papais ou éditos reais. ligioso e politico, enfim, tudo aquilo que não com boa infraestrutura que ligava geografi- mados de bárbaros, constituíram sua própria estava na cara, mas nas práticas invisíveis camente os territórios conquistados. César comunicação. Todo homem a cavalo era uma Depois que o cristianismo se tornou a religião dos fiéis. Os padres não revelavam essas in- não considerava a conquista romana uma re- onda sonora. A notícia chegava sempre como oficial do império, a Igreja instalou-se em anti- formações, mas a hierarquia da Igreja como gião ocupada aonde não chegassem os tibu- uma espada. Simultânea e inesperada. gos templos e assumiu edifícios e funções bu- um todo agia municiada por uma informação lari os carteiros. Esse sistema, além da cor- rocráticas e judiciárias. A expressão que per- ampla e reveladora. O coro grego das tragé- respondência pessoal, servia também para o A verdade é que as tribos nômades, ou as pe- dura até hoje, “Vá se queixar com o bispo”, dias cochichava nos confessionários, página envio de éditos legais, transcritos em table- quenas sociedades urbanas, apesar das gran- vem dessa substituição dos juízes romanos eclesiástica do Facevoice. tes de cerâmica, manuscritos para as biblio- des distâncias e do deslocamento que im- togados pelos bispos católicos consagrados. tecas regionais, ordens e informações para pulsionava suas conquistas, estavam sempre os cônsules, delegados políticos de Roma. bem informadas das grandes questões milita- No período medieval, a Via Ápia da dogmáti- Gutenberg, a prensa libertadora res, das decisões dos amigos e inimigos e até ca comunicada não foi uma estrada, foram os da palavra e a comunicação Já a comunicação do poder com a plebe ur- mesmo das situações particulares. púlpitos, em cima dos quais os pregadores no Renascimento bana era feita através do espetáculo. As para- filtravam o pensamento a ser oferecido aos das triunfais comemoravam as vitórias. Era o Rudes e duros, esse povos antigos estiveram- fiéis sem o risco de interpretações heréticas. Os séculos do Renascimento foram marca- momento em que o povo ganhava as guerras sempre abertos às influências de outras cul- As confissões, na Igreja Católica propicia- dos por um grande movimento de libertação com o êxtase patriótico do desfile produzido. turas, como a dos gregos, romanos e outras ram aos bispos e sacerdotes uma rica rede mental, espiritual e artística. A Terra foi co- Por fim havia o Coliseu, onde o imperador ofe- civilizações conhecidas posteriormente. Com de informação e de conhecimento do povo. locada no seu devido lugar, girando em tor- recia o pão e o circo. Gladiadores contra gla- a influência do Império Romano, após sua que- Talvez tenham sido os primeiros “posts” ver- no do Sol. O homem, no centro de sua iden- diadores, gladiadores contra escravos, ambos da, os francos, visigodos e germanos foram aos bais, porém de caráter sigiloso. tidade criativa. E tudo o mais, sobretudo a contra os leões até a decisão final do poder vi- poucos adotando suas crenças, sua estrutura pintura, em sua devida perspectiva. Faltava gente - a morte na arena era comunicada com de organização e de administração. Daí para o Apesar de todo o controle moral da Igreja, libertar a palavra. o gesto de um polegar virado para baixo. futuro, as tribos aceitaram as formas de comu- eram populares os tabliaux – jornal falado da nicação impostas pelo cristianismo, sobretudo Idade Média –, representações teatrais fei- O invento da prensa possibilitou a transmissão A comunicação era feita pelo intercâmbio, se na transposição dos conhecimentos clássicos, tas nas ruas e de caráter malicioso e mesmo de conhecimentos manuscritos em papel im- podemos assim dizer, de mestres, filósofos e fechados ao acesso do homem comum. pornográfico. A força desse teatro popular presso, permitindo ao homem saber e trans- poetas que ensinavam por toda parte. Roma sobrepunha-se à dogmática autoritária, até mitir mais seus conhecimentos. Foi por certo mantinha bibliotecas públicas nas principais mesmo como válvula de escape de uma so- uma comunicação mais humanística, em uma cidades conquistadas e proporcionava ensi- A comunicação ciedade controlada. sociedade que dogmatizava valores divinos. no gratuito aos filhos dos legionários. na Idade Média Essa comunicação percorreu os séculos divul- Resta ainda falar de um instrumento que gando conhecimentos e interligando nações. São inúmeras as causas do fim do Império Na Idade Média a comunicação foi apologé- possibilitou à Igreja acessar, séculos antes, Romano, mas sua final decadência foi perce- tica, transmitida a partir dos púlpitos, dos a confidencialidade do Facebook, melhor Sem Gutenberg seria muito difícil o acesso bida menos pela pressão dos povos nômades mosteiros e mais tarde pelas universidades dizendo, de uma espécie de Facevoice. A dos renascentistas aos conhecimentos clás-

TV Cultura 50 Anos 250 251 De Homero a Steve Jobs sicos do passado. Os enciclopedistas não da mudou a visão do mundo. As artes consti- fotográfica com rolo de filme, e a fotografia revolução pelo rádio, da mesma forma que teriam feito a síntese do conhecimento em tuíam a marca mais visível dessa explosão de se populariza. Em 1895 dá-se a invenção das a sustentação de Getúlio Vargas, durante a verbetes elaborados, escritos e impressos criatividade e humanismo. transmissões por onda de rádio, de Marconi. ditadura do Estado Novo, em suas falas para nas enciclopédias, não fosse a prensa. A có- No mesmo ano, os irmãos Lumière inventam os “trabalhadores do Brasil”. As “Cantoras pia de pinturas e desenhos feita por grava- A escolarização tornou-se universal, obriga- o cinematógrafo. do Rádio” aumentaram nosso entusiasmo dores e difundida pela impressão gráfica no tória, gratuita e leiga. A primeira universidade pela música popular brasileira. O rádio con- Renascimento possibilitou sua maior circula- livre do mundo, Hale, surge na Alemanha, com O século 20 foi definitivo para as comunica- sagrou as marchinhas de carnaval. Nunca ção. A reprodução de paisagens da natureza cátedras de ciência econômica e pedagogia. ções. A sequência de guerras, o desenvolvi- fomos tão brasileiros. revelou lugares impensáveis para quem não mento do comércio e os governos necessita- fosse viajante ou não ficasse satisfeito com Todas essas transformações que marcaram o vam transmitir mensagens de um ponto fixo O telefone, inventado por Graham Bell já no os relatos de Marco Polo, também conheci- mundo moderno haveriam de marcar sua co- a outro ponto fixo. Utilizou-se para isso um final do século 19, substituiu o telégrafo, ape- dos depois da impressão de suas viagens. municação. A organização social, caracterizada sistema composto de fios que necessitava sar das dificuldades iniciais. Foi uma revolu- pela vida urbana, pelo desenvolvimento indus- de um código. O mais utilizado foi o códi- ção, embora ninguém no início tivesse dado Nas grandes conquistas marítimas portu- trial e científico, não dava mais lugar à oralidade. go Morse. E essa foi a primeira comunicação muito crédito ao invento, até que Dom Pedro guesas os navios que circulavam pelo Novo O domínio da escrita tornou-se uma exigência. elétrica de longa distância. II acompanhou Graham Bell ao seu estande Mundo foram os emissários das informações. na Exposição Universal de Chicago, atraindo A carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da O sindicalismo norte-americano possibilitou a atenção da imprensa. esquadra que descobriu o Brasil, é o docu- As inúmeras invenções o surgimento de jornais diários, que tiveram mento mais expressivo na descrição do novo nas comunicações uma enorme repercussão e se transforma- mundo conquistado. ram em importantes veículos de comunica- Cinema, uma arte que No grande período que vai do século 16 ao ção impressa de massa, o que já era habi- influenciou mentalidades Conhecimento novos,veiculados pelos livros. século 20 o mundo inventa e se reinventa tual na Europa. A grande burguesia industrial Depois de Gutenberg, até 1500, cerca de 13 para a afirmação da comunicação, instru- americana criou grandes jornais, que se tor- Entre o rádio e a televisão surgiu o cinema, milhões de livros foram publicados numa mento de desenvolvimento e civilização. naram tão lendários quanto seus proprietá- que não é um meio de comunicação, mas Europa de 100 milhões de habitantes. Ainda rios, como nos relata a obra-prima de Orson uma arte. Aliás, a arte mais importante do depois dele, por muitos séculos a comunica- Em 1605 cria-se o jornal, com a publicação Welles, Cidadão Kane. século 20, com potencial de continuar sen- ção continuou sendo feita por mensageiros, do Relation, em Estrasburgo, em pleno Sacro do no século 21. Se o cinema não é comu- cuja maior ou menor organização e eficiên- Império Romano. Em 1769 surge a máquina A transmissão radiofônica, a grande inven- nicação propriamente dita, serviu de ins- cia dependiam do poder financiador: cor- de escrever, utensílio individual para a pro- ção do início do século 20, ampliou as muitas trumento para uma cultura de propaganda porações, governos, instituições religiosas, dução doméstica de escritos, utilizada por possibilidades de comunicação. No Brasil, política, pregação ideológica e imposição bancos e outros interessados. Foi assim que escritores, jornalistas e para comunicações Roquette-Pinto foi um grande transmissor de costumes. cada homem se tornou senhor potencial de de caráter comercial. Em 1792 inventa-se o de educação e cultura. Desenvolveu desde o sua curiosidade intelectual e de sua liberda- moderno telégrafo semafórico e, em 1799, a início uma boa programação artística, reve- Hollywood foi uma arma poderosa para fazer de para adquirir conhecimento. primeira máquina de produzir papel. lando a música popular brasileira aos ouvin- os Estados Unidos entrarem na guerra, criar tes, e criou o jornal falado. heróis durante o conflito e finalmente vencê- A sociedade do Renascimento enfatizava a A explosão de inventos que marcaram a his- -lo, tornando-se uma das nações mais pode- afirmação dos valores humanos, principalmen- tória da comunicação prossegue no século Os noticiários da BBC, durante a Segunda rosas do mundo, ao lado da União Soviética. teos valores religiosos. Assim, a comunicação 19. Em 1836 inventa-se o código Morse. Em Guerra Mundial, eram transmitidos pelo rá- foi se tornando também humanista e universal. 1876 Graham Bell patenteia o telefone, já de- dio para o mundo e o Brasil. Os políticos Na Rússia, o cinema foi um fator importante senvolvido anteriormente. Em 1886 Hertz de- brasileiros logo perceberam o poder de para impor e consolidar o regime comunista. O A comunicação dessas descobertas e valo- monstra a existência das ondas de rádio. No influência do rádio. A Revolução Constitu- diretor de O Encouraçado Pontemkin, Eisens- res disseminados por toda a Europa conheci- mesmo ano, passa a ser vendida a máquina cionalista de 1932, em São Paulo, foi uma tein, tornou-se herói nacional e pai do cinema.

TV Cultura 50 Anos 252 253 De Homero a Steve Jobs A televisão, um grande meio fônicas; e as transmissões esportivas, prin- televisão pública até que, mais tarde, se A comunicação pela internet de comunicação eletrônica cipalmente o futebol. tornasse uma televisão generalista. Nela, de massa o jornalismo também ocupou um espaço Na longa trajetória da comunicação, a inter- Programa com alcance popular queria dizer importantíssimo nas grades de programa- net foi ainda mais transformadora do que o Então surgiu a televisão, com múltiplos in- audiência. Audiência se vende. Essa equação ção. Em lugar da espetacularização das invento de Gutenberg e teve um alcance ain- ventores, e ela se tornou o meio de comu- definiu o modelo de negócio da televisão co- notícias, buscou-se a compreensão dos da maior do que a televisão. nicação eletrônica de massa mais poderoso mercial, com finalidades de lucro. acontecimentos. Adotou-se a produção do mundo. A transmissão de imagens, pos- de um noticioso analítico, seja pela pre- Nos últimos 81 anos a história da comunica- sibilitada até então apenas pela impressão, Informar as mudanças vertiginosas e os sença dos debates em torno dos fatos ção deu um salto em velocidade imensurável, pela fotografia e pelo cinema, passou a ca- avanços do planeta e aumentar cada vez ou dos comentários sobre as notícias. A mostrando em real time as transformações e minhar por canais misteriosos até oferecer- mais a audiência foram razões que forta- compreensão mais profunda dos aconte- diversidades das sociedades; portanto, tor- se a olhares deslumbrados na sala de visita leceram os noticiários de televisão. “O que cimentos sugeriu a ampla produção de nou-se o meio dos meios. Mais que universal, das casas. não sai na televisão não é notícia”, afirma- documentários. é uma comunicação global. Emite e é aces- vam alguns observadores. Para o fortaleci- sada por todos, o tempo todo. A invenção remonta a 1909, quando foi fei- mento desse modelo de negócio, a televisão Com o tempo, a comunicação televisiva tor- ta a primeira transmissão de imagens por ampliou o alcance de sua cobertura jorna- nou-se o mais importante instrumento de Ao longo do século 20: em 1938 Konrad Zu- Rignoux e Fournier. Em 1926 foi inventada lística, marcando uma presença expandida. afirmação do poder e do mercado, influen- seinventa o primeiro computador progra- a antena Yagi-Uda, posteriormente usada Buscou estar onde os fatos relevantes esta- ciando as opções políticas do eleitorado, mável do mundo; em 1957 o primeiro com- na Segunda Guerra Mundial e cujo desen- vam. O Jornal Nacional foi “a voz do Brasil” assim como as opções de produtos ofere- putador pessoal, o IBM610, é usado por uma volvimento culminou nas antenas de tele- mais influente por muitos anos. Com relação cidos pelo mercado, através da publicidade. pessoa e controlado por um teclado; em visão. ao conteúdo, ao formato e à linguagem des- 1969 a Arpanet é desenvolvida por univer- sas transmissões informativas, a televisão A televisão pública não precisa produzir sidades norte-americanas; em 1971 inventa- Eventos políticos, religiosos e artísticos comercial optou pelo espetáculo da notícia, audiência da mesma forma que a televisão se o primeiro microcomputador comercial, chegaram aos televisores, em branco e o que significa pautar fatos de grande inte- comercial. Sua preocupação é produzir e o Intel 4004; em seguida o microcompu- preto, de modesta definição e diretamente resse emocional, e produzi-los em um ritmo transmitir conhecimento, seja para ajudar tador alcança popularização e termina o dos estúdios onde eram produzidos. Logo, próximo da aventura: vibração e violência. a formação crítica do espectador, seja para desenvolvimento da Internet ProtocolSui- o veículo transformou-se num importan- ajudar sua elevação humana, seja para que te; em 1984 surge o primeiro telefone celu- te transmissor de notícias, ganhando uma ele adquira independência profissional. lar comercial, lançado pela Motorola; e, em importância sem precedentes. A televisão A televisão pública 1990 a World Wide Web é apresentada ao tornou-se, assim, divulgador de ideologias, O que diferencia a televisão pública e con- público; em 2000, os computadores pes- consagrador de poetas e músicos, trans- As emissoras públicas também escolheram tradiz toda a história da comunicação é a soais ultrapassam a velocidade de proces- missor de dramaturgia. Para se aperfeiçoar um modelo de negócio, um formato, lingua- postura perante o poder. Ela deve manter- samento de 1 GHz; em 2001 é criado o iPod, em produção de conteúdos e transmissão gem e conteúdo. Primeiramente na Europa, se equidistante do poder político e do po- media player portátil com capacidade de 5 com alcance definido e estável, precisou se como uma televisão estatal; depois no Brasil, der econômico, e isso faz a diferença. a 10 Gb;em 2002 é lançado o smartphone transformar em um grande negócio, para há 50 anos, como televisão privada de inte- Black Berry; em 2003 é criado o Skype; em oferecer aos investidores da nova tecnolo- resse público; posteriormente nos Estados De qualquer forma, podemos fazer hoje 2004 é lançado o Facebook, que se torna gia o retorno necessário. Unidos, com a criação da PBS; e, pela BBC, uma afirmação categórica: a audiência da a maior rede social da internet; em 2005 é ligada ao Parlamento inglês, mas sustentada televisão não está mais na televisão. Está criado o YouTube, principal plataforma de O conteúdo produzido encontrou nichos por taxas robustas pagas por seus usuários. nas novas telas criadas pelos aplicativos, vídeos na web; em 2006 é lançada a rede comerciais: o entretenimento, na forma de dos quais o YouTube detém a maior au- social e de notícias Twitter, em 2007 é in- programas de auditório; as novelas, que A programação de conteúdos educati- diência de conteúdos produzidos pela pró- ventado o Kindle, que possibilita a leitura substituíram os folhetins e as novelas radio- vos e culturais prevaleceu no início da pria televisão. eletrônica, paradoxalmente concebido pela

TV Cultura 50 Anos 254 255 De Homero a Steve Jobs maior vendedora de livros, a Amazon, e o As saídas oferecidas substituída por “eu existo porque me co- tentes. Dessa forma, quem oferece a respos- iPhone, já anteriormente criado pela Apple, pela internet munico através da internet”. Sou porque ta, na internet, é o próprio homem. E isso é mas mais avançado tecnologicamente; em estou na rede. novo. Não importa em que direção ética ou 2009 é lançado o WhatsApp, que em 2013 Toda mensagem emana do homem e ao ideológica. É o homem. alcança 400 milhões de usuários ativos; homem se dirige. A humanização da co- O grande perigo, que torna a internet um em 2010 é criado o iPad, e no mesmo ano é municação, isto é, do homem como prota- meio menos democrático, é o dirigismo da Se a televisão ainda não criou novos forma- lançado o Instagram e a Wikipedia alcança gonista das plataformas, poderá diminuir mensagem, que pode ser enviada para uma tos ou linguagens, a internet criou oportuni- 500 milhões de usuários. sensivelmente a força da globalização. A única pessoa, sem a intermediação de nin- dades para que o comunicador o faça. E está internet pode oxigenar o corpo e a mente. guém, pessoa essa devidamente classificada fazendo com mais eficácia e rapidez do que A evolução, constante, ampliou ao infinito o Se é um instrumento de comunicação de pela tecnologia algorítmica, que a cristaliza a televisão. A internet se transforma todos os potencial de armazenamento e multiplicou massa ainda maior do que a televisão, e já como um consumidor de certas tendências, dias. Ela cria, mantém e destrói ideias, con- a velocidade de acesso. Criou plataformas é o maior utensílio da convivência, e só a de certo pensamento, de certa ideologia e teúdos e formatos. Assim sendo, a televisão de interatividade. Não mais o microfone convivência depura a hegemonia do ego, a até mesmo de certo gosto. Isso torna a in- e todos os outros meios de comunicação de do poder, mas o discurso do próprio povo internet tem um papel decisivo. Os efeitos ternet menos democrática do que a televi- massa devem aproveitar essa oportunidade. e o discurso do povo com o povo. O coro da internet são ainda mais poderosos do são aberta, que fala para todo mundo, ainda Senão, morre de morte anunciada. grego das tragédias transferiu-se para os que o próprio invento. que o conteúdo possa ter sido elaborado aplicativos. No centro de todas as telas, o por interesses econômicos, políticos, ideo- Paradoxalmente, toda a perplexidade resul- coadjuvante tornou-se protagonista e ator. Se a televisão acrescentou o ouvido ao lógicos ou religiosos. tante dos desafios e dos riscos da internet universo do olhar, como observou Walter pode ser resolvida pela televisão. Claro que toda essa circunstância tecnológi- Benjamin, a internet envolveu o corpo e Mas a internet tem vantagens que com- ca mudará o modelo de negócios da comu- a mente na comunicação interativa. Além pensam os riscos: o pedágio é bem menor nicação eletrônica de massa. Porém, o que de multiplicar as telas, introduziu um novo porque não precisamos mais derrubar as Steve Jobs importa não são os meios, mas o conteúdos. emissor no universo unidirecional da tele- muralhas ou pagar dízimos ao sistema de e a comunicação Informações e conhecimentos não são apli- visão. O espectador passou a ser um emis- produção do cinema e da televisão. Hoje há cativos. Desde o princípio a formulação de sor onipresente. Por enquanto o ruído é youtubers mais conhecidos do que os donos Não se pode concluir os aspectos históri- conteúdos se antecipa aos próprios meios. maior do que o conteúdo. Mas o conteúdo da Globo ou seus atores e apresentadores. cos sobre a comunicação, que se iniciaram Se a internet abriu inúmeras portas e jane- já aprendeu a fazer ruído. na Via Ápia, sem referências e reverências a las que podem neutralizar profundamente o Resta-nos em todas essas considerações a Steve Jobs. modelo de pensamento imposto pelo merca- Anexando a linguagem ao formato, utilizan- certeza robótica da dúvida. Por enquanto do e pelos donos do sistema, o controle do do-se dos suportes de transmissão e recep- tudo pretende se esclarecer na ágora do Fa- Steve Jobs não nasceu Steve nem Jobs. meio continua consideravelmente o mesmo. ção, os aplicativos possibilitaram uma nova cebook, que aos poucos se transforma num Nasceu filho de imigrantes com nomes dramaturgia de comunicação, que atinge modelo de negócios e de fakes; na solidão complicados e foi adotado pelos Jobs. Mas Por isso mesmo podemos nos indagar: milhões. Sem a complexidade dos modelos coletiva do YouTube, que se expressa bem não se tornou o Jó das lamentações. Não como uma sociedade capaz de produzir tão de produção da televisão, esses aplicativos para transmitir pouco; no coletivo visual do foi Jó, foi Jobs. significativamente o desenvolvimento do colocaram os indivíduos, de qualquer qua- Instagram, a nova fogueira das vaidades vi- sistema produtivo, científico, tecnológico drante, no centro da produção de conteú- suais; no Twitter, a melhor plataforma do “Job”, no Vale do Silício e na língua inglesa, e educacional, não logrou ainda construir dos. Não há mais necessidade de produzir striptease diário das autoridades públicas; quer dizer “trabalho”. Um trabalho de Davi a igualdade, a solidariedade, a liberdade e a qualquer custo entretenimento para ga- e no WhatsApp, o aplicativo mais utilizado contra Golias. A IBM era grande no tamanho a , nem tampouco um modelo de nhar audiência, pois o entretenimento é a como telefone do que o próprio telefone. e no poder. A Apple era pequena no tama- diálogo que possa contribuir com a eleva- vida como ela é, ou como se propõe atra- nho e grande na inovação. Steve Jobs pôs a ção humana a partir dos seus meios de co- vés de seus protagonistas. Aquela máxima Mas as transformações são mais rápidas do cara, ninguém resistiu. Criou o computador municação de massa? “só existe quem aparece na televisão” foi que a completa assimilação dos meios exis- pequeno, pequeno, mas com tudo dentro.

TV Cultura 50 Anos 256 257 De Homero a Steve Jobs Golias ficou no caminho, David tornou-se rei. Em especial a televisão pública aberta, Todo o aparato disponibilizado pela internet ções presidenciais, foi vista por 68% dos Criou o laptop, o iPod, o iPhone, o iPad. Den- broadcast, deve buscar novos formatos e e recriado por esses gênios da tecnologia espectadores diretamente no YouTube. tro ou fora da Apple fez tudo isso. Apple é linguagens nas oportunidades tecnológicas constitui o suporte de que a TV Cultura po- Reeditado e impulsionado pelo candidato, um nome de fantasia. Maçã mordida pela co- disponíveis, para transmitir seus conteú- derá se utilizar para demonstrar que a tele- o debate atingiu o maior índice mundial de municação. Reflexo brilhante de seu criador. dos audiovisuais (entretenimento, drama- visão, ainda o maior meio de comunicação acessos na rede social. Além disso, o candi- O verdadeiro nome da Apple é Steve Jobs. turgia, cultura, cinema, esporte e informa- de massa eletrônica existente, tem condi- dato editou em sínteses codificadas, emis- ção), para se adaptar às oportunidades de ções, maiores ainda do que a internet, de ser sões para viralizar os momentos cruciais Jobs nos estimula um retorno ao teatro gre- acesso (mainstream) e receptores os mais o meio de comunicação mais democrático do debate, estrategicamente de interesse go, com seu coro, hoje materializado pelos diversos, pequenas telas de tablets e ce- inventado pelo homem. Se o princípio é o da campanha. protagonistas existenciais da rede, assim lulares, e todos os aplicativos, capazes de verbo e o meio é a comunicação, o fim certa- como reconstrói a ágora, na qual os gregos transmitir, modificar e até mesmo substituir mente é o homem. Jamie Bartlet, pesquisador inglês da Uni- qualificam o debate político e filosófico, pos- os conteúdos convencionais por conteúdos versidade de Sussex e diretor da think tanks sibilitado pelos aplicativos. elaborados e impulsionados por produtores A TV Cultura de São Paulo fez a atualização Demo, afirmou que a internet está minando independentes: yotubers, twitterers, posta- digital de sua produção e transmissão. Tem a democracia, ao contrário do que imaginá- Incluímos neste neste livro essa pequena dores do Instagram, amigos de Facebook, no horizonte que é preciso revolucionar o vamos em seu surgimento. O atual sistema homenagem a Steve Jobs, o maior entre navegantes do WhatsApp. modelo de negócios, o sistema produtivo, os de comunicações favorece a emergência de todos os seus concorrentes e colegas do meios de transmissão e recepção, a criação líderes com estilo tirânico e autoritário. Mais Vale do Silício. Sem encarar o desafio das transformações, de conteúdos, os formatos e a linguagem, perigoso do que o vazamento de dados é a as televisões públicas perderão seu inesti- além da velocidade de divulgação das pro- perspectiva para o futuro das eleições de- Depois de Jobs ninguém mais teve sossego mável papel de se comunicar. duções teletransmitidas. mocráticas. Informações transmitem mensa- no mundo da inovação, na Coreia, na China, gens diretas e individuais aos eleitores. Nin- na Alemanha, nos Estados Unidos, no Japão Isso requer a adoção de três ações comple- guém sabe o que foi transmitido ao outro. e aqui no Brasil. Uma proposta mentares: profissionalizar a gestão em função Fake ou verdade o eleitor se perderá de uma de reinvenção dos novos paradigmas técnicos, financeiros e discussão aberta das ideias. produtivos da emissora; buscar uma susten- A inovação necessária A televisão broadcasting tal como existe é tabilidade que a torne mais independente das Face às grandes mudanças que acontecem da televisão uma moeda em extinção. verbas orçamentárias públicas e iniciar uma em velocidade relâmpago, os meios de co- inovação de formato, linguagem e conteúdos municação públicos e democráticos têm A televisão precisa . Não adianta sim- Se atitudes são necessárias, para implantá-las a partir da reinvenção da própria televisão. uma responsabilidade dobrada. plesmente procurar novos modelos de negócio torna-se necessária uma reflexão sem pre- ou de governança. Precisa criar novos mode- conceitos e uma ação imediata. Não se pode perder esse esforço frente aos O que fazer com as transformações tecno- los de produção e difusão de conteúdos com problemas criados pelos novos paradigmas lógicas e as estratégias de comunicação capacidade de se insinuar nas atuais e futuras A missão da TV pública é a formação crítica que mudaram a comunicação entre os homens que revelam novas realidades e mesmo no- plataformas da internet. Ser capaz de seduzir do espectador para o exercício da cidadania. de maneira radical. A televisão, o mais impor- vas verdades? e deixar-se seduzir pelos novos protagonistas. Realizar essa missão implica uma compatibi- tante meio de comunicação de massa jamais lização com os recursos e a necessidade dos concebido, perde sua relevância diante de um Como manter a relevância de uma emisso- Não mais o olhar sobre a grafia lógica e se- novos paradigmas de comunicação. processo de agonia difícil de compreender. ra pública que fala com um mundo que está quencial dos signos escritos, mas uma apro- acabando e um auditório que está se utili- ximação do corpo inteiro, em todos os seus Torna-se necessária uma ação ousada, para No Roda Viva, o mais importante progra- zando de novos aparatos de recepção. Como sentidos, produzindo e captando o próprio reinventar a TV Cultura, para que a Funda- ma de debates da televisão brasileira, a criar uma nova moeda e produzir conteúdo conteúdo, na estrada escura de Dante ou na ção Padre Anchieta siga realizando sua mis- transmissão do debate com Jair Bolsona- com linguagem de rede e não com a lingua- clara vidência de Steve Jobs. são de enorme alcance social. ro, realizado no primeiro turno das elei- gem superada do broadcasting?

TV Cultura 50 Anos 258 259 De Homero a Steve Jobs Agir é preciso. Num painel da exposição ção do Plano Real: adotar uma moeda nova, Houve até a sugestão de um nome para a Experimentar, esse verbo regerá a TV Cultu- que WeiWei realizou na Oca, no Ibirapue- paralela à moeda inflacionária existente. televisão experimental: “TV Culturas”. ras. Nessa possibilidade futura os conteúdos ra, em São Paulo, o artista chinês afirma: de jornalismo produzirão informações deco- “uma pequena ação vale um milhão de A concepção do plano aponta para a criação Sua transmissão poderia ser feita por uma dificadas, sintetizadas, analíticas, mas con- pensamentos”. de uma televisão experimental, um laborató- conjugação de meios: transmissão direta, a densadas. Assim como tudo mais, educação, rio televisivo, paralelo à televisão existente, a partir de um dos canais da multiprograma- arte, ciência, comunicação, enfim tudo pode- As demais emissoras importantes do Brasil TV Cultura, o mais importante instrumento de ção, para todos que já disponham de tele- rá ser reinventado para os aplicativos, que su- também estão profundamente empenhadas comunicação da Fundação Padre Anchieta. visões digitais; impulsos permanentes para gerem seus próprios formatos, ou inventados nessa reinvenção, seja de formato e lingua- os aplicativos com vistas a um processo de pelos novos criadores, externos à televisão. gem, seja de modelo de negócio. Esse novo laboratório de produção e emis- irrigação estimulada e permanente para to- são de conteúdos estará ligado, como um das as plataformas existentes e futuras; dis- Documentários, dramaturgia e produtos do Com a ajuda inspiradora de conselheiros, di- irmão siamês, ao departamento de internet ponibilização, on demand, de seu conteúdo acervo da TV Cultura poderão ser exibidos retores, funcionários e profissionais da comu- já existente e funcionará dentro da estrutura na Cultura Digital. em série nessa nova linguagem em todas as nicação como Fernando Meirelles, Tadeu Jun- que já executa as produções. emissoras da Fundação Padre Anchieta. gle, Serginho Groisman e Marcelo Tas; com os A grade tradicional, linear e estática, pode- olhos abertos para novos criadores de con- A televisão experimental será basicamente um rá progressivamente ser substituída por uma A internet nos ensinou que formatos e lin- teúdos de aplicativos da rede; com o decidido espaço de inovação e produção de conteúdos gama imensa de produtos criados para exi- guagens se uniram, numa concepção que apoio dos comitês do conselho e da diretoria aberta a toda sociedade criativa, disponibilizan- bição direta e conexão com a rede. substituiu a retórica pela representação. A executiva e finalmente com o aconselhamen- do equipamentos e tecnologias e estabelecen- palavra e a imagem requerem agora postu- to do departamento de internet e marketing, do conexão com todas as plataformas existen- O novo conceito de grade, uma verdadeira ras teatrais dos emissores, assim como ce- foi idealizado um programa de transformação tes ou que venham a ser criadas pela rede social. vitrine de conteúdos à disposição do mais nários dinâmicos e tecnologia gráfica para para a TV Cultura e para as demais televisões Recriará formatos e linguagens capazes de tran- amplo universo de audiência, substituíveis animar a representação proposta, que exige públicas do universo ibero-americano. sitividade com os novos meios, o que é dificulta- em função dos acontecimentos ou de contri- atitudes arriscadas e inovação. Isso indica do pelo conceito de uma grade linear. Funciona- buições internas e externas. Esse caleidoscó- um caminho ainda não trilhado e a profunda Recebemos advertências saudáveis e até rá no sentido inverso da televisão existente. pio multiplicará informações durante todo o inovação do capital humano da instituição. mesmo definitivas: “A tecnologia não é uma tempo de exibição, e não apenas na hora do panaceia” (ministro José Gregori); e “Esta- Seus conteúdos serão produzidos de múltiplas telejornal; privilegiará a informação da socie- A vida nos ensinou que a nova televisão será mos muito antiquados, caretas, precisamos maneiras: pelo aproveitamento decodificado dade para a sociedade. Educação, cultura, uma expressão das culturas da sociedade, e abrir espaço à criação do próprio meio, aos de programas da TV Cultura; pela produção de notícias e arte para todos, não a divulgação não uma televisão da sociedade culta. novos navegantes” (Fernando Meirelles). novos protagonistas criadores, principalmente das obras consagradas pelo mercado. das periferias urbanas e culturais; pelas produ- O homem é prisioneiro de seus sonhos. Não ções realizadas no departamento de internet Essa grande vitrine de realidades será cons- podemos destruir os sonhos, mas mudar a Uma televisão da TV Cultura; pelas produções diretas feitas tituída pelos fatos informados pela redação cultura dos sonhos. E isso só podemos fa- experimental pelo corpo criativo da televisão experimental; ou verdades produzidas diretamente por zer acordados. pelo intercâmbio com televisões públicas e protagonistas externos, das mais diversas Todo plano de renovação de instituições, produtoras de vanguarda. plataformas, e tentará distinguir tudo isso do para se firmar perante a sociedade e a opi- fake antes de publicar. Referências bibliográficas que influenciaram a elabo- nião pública, exige uma estratégia de im- O novo conteúdo deve garantir ainda que o ração deste texto: Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Walter Benjamin, , Eugenio Bucci, Dante plantação da inovação. modelo receba a colaboração ativa do es- Não há mudanças sem risco. A emissora-mãe Alighieri, Homero, William Gibson, Jorge Luis Borges, pectador-criador, que poderá perceber e deverá acolher e receber a televisão experi- Marshall McLuhan, , Quentin Fio- Poderemos assim adotar a mesma estratégia impulsionar a cultura da sociedade em to- re, Comênio, Claudio Naranjo, Henrique Bustamonte, mental, abrindo seus estúdios e seu coração Pérez Tornero, Jean Baudrillard, Herbert Marcuse, Bill utilizada por Fernando Henrique na implanta- dos os seus segmentos. para um novo modelo de comunicação. Gates, Steve Jobs.

TV Cultura 50 Anos 260 261 De Homero a Steve Jobs Bibliografia

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262 263 Vista aérea da Fundação Padre Anchieta – TV Cultura, São Paulo, SP, 2019.

264 265 Fundação Padre Anchieta Fundação Padre Anchieta Rádios e TV Cultura Conselho Curador

Marcos Ribeiro de Mendonça Osmar Silveira Franco Augusto Rodrigues Lygia Fagundes Telles Diretor-presidente Gerente Jurídico Presidente Marcelo Knobel Marcos José Rombino Marcos Antônio Zaggo Rose Gottardo Gerente de Produção Jorge da Cunha Lima Maria Amália Pie Abib Andery Vice-presidente Priscila Rodrigues de Almeida Vice-presidente Maria Filomena Gregori Marisa Guimarães Gerente de RH Maria Izabel Azevedo Noronha Diretora de Produção Nayara Souza Carlos Alberto da Silva Araújo Anna Valéria Tarbas Antônio Jacinto Mathias Ricardo Ohtake Gerente de Tecnologia da Informação Diretora de Programação Beatriz Bracher Roberto Gianetti da Fonseca Ivon Luiz Pinto Júnior Bruno Barreto Rossieli Soares da Silva Marcos Pereira da Silva Gerente Técnico Marcos Mendonça Sandro Roberto Valentini Diretor Administrativo e Financeiro Ronaldo Pereira Sérgio Kobayashi Matheus Gregorini Sérgio Sá Leitão Gerente de Orçamento, AlêYoussef Diretor Jurídico Controladoria e Financeiro Vahan Agopyan Ana Amélia Inoue Gilvani Moletta Alexandre Pereira Tondella Antonio de Pádua Prado Jr Diretor Técnico Gerente das Rádios Benedito Guimarães Aguiar Neto José Roberto Walker Renata Yumi Shimabukuro Carlos Antônio Luque Diretor das Rádios e Projetos Especiais Gerente de Integração de Mídias Carlos Eduardo Lins da Silva Custódio Filipe de Jesus Pereira Ivan Isola Gil Costa Claudia Pedrozo In Memoriam Gerente Administrativo Durval de Noronha Goyos Jr Ricardo Taira Rilton Carlos Dantas Emanoel Araujo Coordenador Geral de Jornalismo Gerente de Operações Fabio Magalhães Ricardo Fiuza Fernando Padula Novaes Núcleo de Comunicação Gabriel Jorge Ferreira & Marketing Digital Geraldo Carbone Guilherme Amorim Campos da Silva Mário Parreiras Henrique Meirelles Assessor da Presidência Hubert Alqueres Henrique Bacana Ildeu de Castro Moreira Núcleo de Arte Jairo Saddi José Maria Pereira Lopes Jefferson Del Rios Vieira Neves Centro de Documentação (Cedoc) João Cury Neto João Rodarte Rita Okamura Jorge Caldeira Projetos Especiais José Gregori Fábio Luís Guedes Borba Luciano Emílio Del Guerra Gerente de Rede Luigi Nesse

266 267 TV Cultura 50 anos

Organização Agradecimentos 39. S.F. Cedoc FPA. 90 a. Heloísa Cobra, Cedoc FPA. 142 b. Paulo Mendes, Cedoc FPA. 192-193. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. Jorge da Cunha Lima Alexandre Machado 41. S.F. Cedoc FPA. 90 b. S.F. Cedoc FPA. 143 a. S.F. Cedoc FPA. 194-195. Cleones Ribeiro, Cedoc FPA. Alexani Pereira Barbosa 42. S.F. Cedoc FPA. 91. Júlio Cezar Soares, Cedoc FPA. 143 b. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 199. Jair Magri, Cedoc FPA. Edição Andresa Boni 43. S.F. Cedoc FPA. 93 a. Danilo Pavani, Cedoc FPA. 144 a. Marisa Cauduro, Cedoc FPA 201. Jair Magri, Cedoc FPA. Bia Venturini Belisário Santos Jr. 45 a. S.F. Cedoc FPA. 93 b. S.F. Cedoc FPA. 144 b. Paulo Mendes, Cedoc FPA. 203. Jair Magri, Cedoc FPA. Bete Rodrigues 45 b. S.F. Cedoc FPA. 96. Cláudio R. Freitas, Cedoc FPA 145 a. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 204. Jair Magri, Cedoc FPA. Pesquisa Dalva Abrantes 46. S.F. Arq. do Estado de São Paulo 99 a. S.F. Cedoc FPA. 145 b. S.F. Cedoc FPA. 207. Jair Magri, Cedoc FPA. Joana Tuttoilmondo Fabio Magalhães 47 a. S.F. Arq. do Estado de São Paulo. 99 b. Claudio, Cedoc FPA. 146 a. S.F. Cedoc FPA. 208. Feco Hamburger, Cedoc FPA. Eliana Rocha Felipe Reis 47 b. S.F. Cedoc FPA. 101 a. Flávio Bacellar, Cedoc FPA. 146 b. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 210 a. Nadja Kouchi, Cedoc FPA. Fernando Gomes 48. S.F. Cedoc FPA. 101 b. Luciano Cury, Cedoc FPA 147. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 210 b. Nadja Kouchi, Cedoc FPA. Colaboração Gabriel Jorge Ferreira 49. S.F. Cedoc FPA. 103. Flávio Bacellar, Cedoc FPA. 148-149. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 215. Adriane Sanseverino, Cedoc FPA. Alexani Barbosa Jorge Forbes 52. S.F. Cedoc FPA. 104 a. Júlio C. Soares, Cedoc FPA. 150-151. Marisa Cauduro, Cedoc FPA 216. Nadja Kouchi, Cedoc FPA. José Maria Pereira Lopes 54. S.F. Cedoc FPA. 104 b. S.F. Cedoc FPA. 152-153. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 218. Jair Magri, Cedoc FPA. Projeto Gráfico Julio Medaglia 56 a. Danilo Pavani, Cedoc FPA. 105 a. Júlio C. Soares, Cedoc FPA. 159. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 220 a. Luciano Piva, Cedoc FPA. Claudio Filus Márcia Bongiovanni 56 b. S.F. Cedoc FPA. 105 b. S.F. Cedoc FPA. 160. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 220 b. Luciano Piva, Cedoc FPA. Marcos Silva 58. S.F. Cedoc FPA. 106 a. Danilo Pavani, Cedoc FPA. 161. S.F. Cedoc FPA. 223. M. Siguer, Cedoc FPA. Entrevistas Maria Cristina Poli 59. S.F. Cedoc FPA. 106 b. S.F. Cedoc FPA. 162 a. S.F. Cedoc FPA. 224. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. Joana Tuttoilmondo Mariana Kotscho 60. S.F. Cedoc FPA. 107 a. Flávio Bacellar, Cedoc FPA. 162 b. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 225. Jair Magri, Cedoc FPA. Carla Nieto Vidal Marisa Guimarães 60-61. S.F. Cedoc FPA. 107 b. Flávio Bacellar, Cedoc FPA. 164. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 226. Jair Magri, Cedoc FPA. Miriam Stychnicki 63. S.F. Cedoc FPA. 108 a. Danilo Pavani, Cedoc FPA. 165 a. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 227. Nadja Kouchi, Cedoc FPA. Pesquisa de imagens Mônica Ziegler 64. S.F. Cedoc FPA. 108 b. Flávio Bacellar, Cedoc FPA. 165 b. S.F. Cedoc FPA. 228. Lyara Vidal, Cedoc FPA. Mary Helen Oliveira Paula Casarini 65. Danilo Pavani, Cedoc FPA. 109 a. Danilo Pavani, Cedoc FPA. 167. S.F. Cedoc FPA. 231. Jair Magri, Cedoc FPA. Rafael Santos de Souza 67. Wilson Ribeiro, Cedoc FPA. 110-111. Alfredo, Cedoc FPA. 168 a. Eduardo Campos, Cedoc FPA. 232 a. Cleones Ribeiro, Cedoc FPA. Revisão Ricardo Taíra 69 a. Júlio C. Soares, Cedoc FPA. 112-113. Flávio Bacellar, Cedoc FPA. 168 b. S.F. Cedoc FPA. 232 b. Jair Magri, Cedoc FPA. Ibraíma Dafonte Tavares Roberta Estrela d’Alva 69 b. S.F. Cedoc FPA. 114-115. Cláudio de Freitas, Cedoc FPA 169. Eduardo Campos, Cedoc FPA. 233 a. Jair Magri, Cedoc FPA. Roberto Aparecido Lima 70. S.F. Cedoc FPA. 119. Eduardo Campos, Cedoc FPA. 173. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 233 b. Jair Magri, Cedoc FPA. Produção Roberto da Silva Marcondes 73. Bernadino G. Novo, Cedoc FPA. 121. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 177. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 234 a. Feco Hamburger, Cedoc FPA. Paula Celeste Fu Roberto Muylaert 74 a. S.F. Cedoc FPA. 123. Valério Trabanco, Cedoc FPA. 179 a. Luciano Piva, Cedoc FPA. 234 b. Jair Magri, Cedoc FPA. Rolando Boldrin 74 b. S.F. Cedoc FPA. 124 a. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 179 b. S.F. Cedoc FPA. 235 a. Nadja Kouchi, Cedoc FPA. Adaptação para versão digital Rose Gottardo 75 a. S.F. Cedoc FPA. 124 b. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 180. Cleones Ribeiro, Cedoc FPA. 235 b. Nadja Kouchi, Cedoc FPA. Paula Casarini 75 b. S.F. Cedoc FPA. 126. Moacyr Lopes Junior, Cedoc FPA. 181. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 236 a. Nadja Kouchi, Cedoc, FPA. Créditos das imagens 76 a. S.F. Cedoc FPA. 128 a. S.F. Cedoc FPA. 182. S.F. Cedoc FPA. 236 b. Juliana Ortega, Cedoc, FPA. 4-5. Willians Reis Angenendt, 76 b. Bernardino G Novo, Cedoc FPA. 128 b. S.F. Cedoc FPA. 184 a. Adriana Elias, Cedoc FPA. 237. Nadja Kouchi, Cedoc, FPA. Cedoc FPA. 77 a. Bernardino G Novo, Cedoc FPA. 129. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 184 b. S.F. Cedoc FPA. 238-239. Jair Magri, Cedoc FPA. Os conteúdos originais do livro 18. S.F. Cedoc FPA. 77 b. Bernardino G Novo, Cedoc FPA. 130 a. S.F. Cedoc FPA. 185 a. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 240-241. Jair Magri, Cedoc FPA. Uma história da TV Cultura 24-25. Danilo Pavani, Cedoc FPA. 78 a. S.F. Cedoc FPA. 130 b. S.F. Cedoc ,FPA. 185 b. Eduardo Campos, Cedoc FPA. 242-243. Jair Magri, Cedoc FPA. publicado em 2008 foram editados 28-29. S.F. Cedoc FPA. 78 b. Júlio C. Soares, Cedoc FPA. 131. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 186 a. S.F. Cedoc FPA. 244-245. Priscila Lima de Jesus, e integram esta publicação. Textos: 30. Peter Scheier, Acervo Instituto 79. S.F. Cedoc FPA. 132. S.F. Cedoc FPA. 186 b. Eduardo Campos, Cedoc FPA. Cedoc FPA. Jorge da Cunha Lima e Arnaldo Moreira Salles. 80-81. S.F. Cedoc FPA. 136. Paulo Mendes, Cedoc FPA. 187 a. S.F. Cedoc FPA. 246-247. Lyara Vidal, Cedoc FPA. Ferreira Marques Jr. Pesquisa e 33. José Medeiros, Acervo Instituto 82 a. Armando Borges, Cedoc FPA. 137. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 187 b. Luciano Paiva, Cedoc FPA. 264-265. Willians Reis Angenendt, entrevistas: Arnaldo Ferreira Marques Moreira Salles. 82 b. Armando Borges, Cedoc FPA. 138. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 188 a. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. Cedoc FPA. Jr., Gláucia Ribeiro Lima, Julia Bussius, 34 a. S.F., Folhapress. 83 a. Armando Borges, Cedoc FPA. 139. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 188 b. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. Rosana Miziara e Zilda Kessel. 34 b. S.F. Cedoc FPA. 83 b. Danilo Pavani, Cedoc FPA. 140-141. Marcos Penteado, Cedoc FPA. 189. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. Assistente de pesquisa: Berry Skinner. 38. S.F. Cedoc FPA. 84-85. S.F. Cedoc FPA. 142 a. Jair Bertolucci, Cedoc FPA. 190-191. Jair Bertolucci, Cedoc FPA.

268 269 Depoimentos

Adriana Couto – “Programa Metrópolis, da TV Cultura, Fábio Magalhães – texto-depoimento enviado em fe- Marco Antônio Coelho – depoimento para o projeto 40 Rodrigo Galafati – “Do tamanho da história da TV”. Pa- comemora 30 anos no ar”. Adriana Del Ré, O Estado de vereiro de 2019. anos da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fun- norama Audiovisual, 1/2/2019. Disponível em: https:// S.Paulo, 10/4/2018. dação Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, pp. panoramaaudiovisual.com.br/do-tamanho-da-historia- Fernando Fortes – depoimento para o projeto 40 anos 243-244. -da-tv/. Acesso em: fevereiro de 2019. Alexandre Machado – texto-depoimento enviado em da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação março de 2019. Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 219. Marcos Mendonça – depoimentos publicados no livro Rolando Boldrin – texto-depoimento enviado em feve- Uma história da TV Cultura, pp. 269; 277; entrevista reiro de 2019. Fernando Pacheco Jordão – depoimento para o proje- Andresa Boni – texto-depoimento enviado em março concedida em março de 2019. de 2019. to 40 anos da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Rose Gottardo – entrevista concedida em fevereiro de Fundação Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, Marcos Weinstock – depoimento para o projeto 40 2019. Antonio Carlos Rebesco – depoimento para o projeto 40 pp. 71, 116-117. anos da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fun- Sílvia Cavalli – depoimento para o projeto 40 anos da anos da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Funda- dação Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. Gabriel Jorge Ferreira – texto-depoimento enviado em TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação Pa- ção Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 128. 180. março de 2019.. dre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 81. Augusto Rodrigues – entrevista concedida em feverei- Mariana Kotscho – texto-depoimento enviado em mar- Gilvani Moletta – “Do tamanho da história da TV”. Pa- Valdir Zwetsch – depoimento para o projeto 40 anos ro de 2019. ço de 2019. norama Audiovisual, 1/2/2019. Disponível em: https:// da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação Bete Rodrigues – texto-depoimento enviado em mar- panoramaaudiovisual.com.br/do-tamanho-da-historia- Mário Fanucchi – depoimento para o projeto 40 anos Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p.186. ço de 2019. -da-tv/. Acesso em: fevereiro de 2019. da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação Walter Silveira – depoimento para o projeto 40 anos da Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 36. Cao Hamburger – “A televisão brasileira tem que explo- João Sayad – Maria Eugênia de Menezes, O Estado de TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação Pa- rar mais os tabus”. iG São Paulo, 10/11/2012. Disponível S. Paulo, 10/4/2013. Paulo Markun. “Uma roda viva na TV brasileira.” Uma dre Anchieta. Uma história da TV Cultura, pp. 243-244. em: http://jovem.ig.com.br/cultura/seriestv/2012-11-10/ história da TV Cultura, pp.188-189; entrevista concedida Jorge da Cunha Lima – depoimentos publicados no li- cao-hamburger-a-televisao-brasileira-tem-que-explo- ao jornal O Estado de S. Paulo em 23/6/2007. rar-mais-os-tabus.html. Acesso em: março de 2019. vro Uma história da TV Cultura, pp. 222, 225, 231, 236. Ricardo Taira – texto-depoimento enviado em fevereiro Jorge Forbes – texto-depoimento enviado em março Carlos Novaes – depoimento para o projeto 40 anos de 2019. da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação de 2019. Roberta Estrela D’Alva – texto-depoimento enviado Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 239. José Armando Ferrara – depoimento para o projeto 40 em março de 2019. Célia Ferreira dos Santos – depoimento para o projeto 40 anos da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Funda- anos da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Funda- ção Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 93. Roberto Muylaert – entrevista a Edgard Ribeiro de Amorim e Maria Elisa Vercesi de Albuquerque ção Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 195. José Maria Pereira Lopes - entrevista concedida em fe- para a Revista D’ART, julho de 2004; “TV Cultura: vereiro de 2019. Cláudio Petraglia – depoimento para o projeto 40 anos 1986-1995”. Faz pouco tempo, livres memórias de da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação José Munhoz – depoimento para o projeto 40 anos da um comunicador. São Paulo, Sesi-SP Editora, 2018, Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, pp. 75; 79. TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação Pa- p. 135-136. dre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 155; p. 175. Cunha Jr. – “Programa Metrópolis, da TV Cultura, co- Roberto Oliveira – depoimento para o projeto 40 anos memora 30 anos no ar”. Adriana Del Ré, O Estado de Laurindo Leal Filho – depoimento para o projeto 40 anos da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação S. Paulo, 10/4/2018. da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 179. Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 99. Demétrio Costa – depoimento para o projeto 40 anos Rodolfo Konder – depoimento para o projeto 40 anos da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação Márcia Bongiovanni – texto-depoimento enviado em da TV Cultura (2004-2008). Acervo Cedoc Fundação Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p. 112. março de 2019. Padre Anchieta. Uma história da TV Cultura, p.211.

270 271 A Fundação Padre Anchieta está à disposição das pessoas que eventualmente queiram se manifestar a respeito de licença de uso de imagens e/ou de textos reproduzidos neste material, tendo em vista determinados artistas e/ou representantes legais que não responderam às solicitações ou não foram identificados, ou localizados.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 50 Anos TV Cultura / [organização Jorge da Cunha Lima]. -- São Paulo : Cultura, 2019. “Edição comemorativa 50 Anos da TV Cultura”. ISBN 978-85-8028-089-0 1. Fotografias 2. Programa de televisão 3. Telejor- nalismo - História 4. Televisão - Programas - Brasil 5. Televisão - São Paulo (SP) - História 6. TV Cultura de São Paulo - História I. Lima, Jorge da Cunha.

19-25469 CDD-302.2340981 Índices para catálogo sistemático: 1. TV Cultura : Fundação Padre Anchieta : História 302.2340981 Iolanda Rodrigues Biode - Bibliotecária - CRB-8/10014

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Este livro foi composto na fonte Gotham HTF e impresso em papel couchê-fosco 150 g/m2 (miolo) e Duo-design 300 g/m2 (capa) pela Ipsis Gráfica e Editora em junho de 2019.