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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

DULCE FERREIRA DE MORAES

FRAGMENTOS VERDES NA AVENIDA PAULISTA: ANÁLISE DOS ESPAÇOS LIVRES SOB O VIÉS DO URBANISMO BIOFÍLICO

São Paulo 2020

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DULCE FERREIRA DE MORAES

FRAGMENTOS VERDES NA AVENIDA PAULISTA: ANÁLISE DOS ESPAÇOS LIVRES SOB O VIÉS DO URBANISMO BIOFÍLICO

Dissertação apresentada para o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

ORIENTADOR Prof. Dr. Carlos Leite de Souza

São Paulo 2020 2

M287f Moraes, Dulce Ferreira de. Fragmentos verdes na Avenida Paulista: análise dos espaços livres sob o viés do urbanismo biofílico. / Dulce Ferreira de Moraes. 135 f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020. Orientador: Carlos Leite de Souza. Bibliografia: f. 116-125.

1. Avenida Paulista. 2. Áreas verdes urbanas. 3. Espaço público. 4. Urbanismo biofílico. Design biofílico. I. Souza, Carlos Leite de, orientador. II. Título.

CDD 711.4

Bibliotecária Responsável: Giovanna Cardoso Brasil CRB-8/9605

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DULCE FERREIRA DE MORAES

FRAGMENTOS VERDES NA AVENIDA PAULISTA: ANÁLISE DOS ESPAÇOS LIVRES SOB O VIÉS DO URBANISMO BIOFÍLICO

Dissertação apresentada para o Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Carlos Leite de Sousa Universidade Presbiteriana Mackenzie

Profª. Dra. Célia Regina Moretti Meirelles

Centro Universitário Adventista de São Paulo, UNASP

São Paulo 2020 5

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais que sempre foram o alicerce espiritual na minha vida e me inspiraram a ampliar o conhecimento e compartilhá-lo.

Agradeço à pessoa que considero um mestre por sua atuação sensível em prol da valorização da vida, o filósofo e pacifista Daisaku Ikeda, cuja exposição fotográfica Diálogo com a Natureza, exibida no ano de 1992 no Museu de Arte de São Paulo, tocou-me profundamente e me levou a buscar maior compreensão sobre a relação homem-natureza.

Agradeço aos professores do Programa de Pós-Graduação e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie que, de diversas maneiras, me incentivaram (e até me provocaram) a insistir no aprofundamento da temática biofílica na Arquitetura e Urbanismo. De maneira especial, agradeço às professoras Perola Felipeti Brocanelli e Gilda Collet Bruna, pela rica experiência proporcionada no estágio docente na disciplina Paisagem e Cidade, que me trouxe novo olhar para a sustentabilidade urbana, e ao Professor Doutor Carlos Leite de Souza que, de maneira paciente e estimuladora, me orientou na condução da pesquisa.

Agradeço aos membros do Conselho Gestor dos Parques da Paulista, em especial, Erika Gartner e Raphaela Galleti, que contribuíram com informações e experiências sobre os Parques Trianon e Mario Covas.

Por fim, agradeço a todos os meus amigos e familiares que, compreensivos com minha ausência nos dias dedicados à pesquisa, também me apoiaram na conclusão deste importante desafio pessoal.

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RESUMO

Do ponto de vista do urbanismo sustentável e, especificamente da abordagem biofílica, que se baseia na existência de uma inclinação inerente ao ser humano em se associar e se sentir bem em contato com o ambiente natural, esta dissertação tem como tema a relação da sociedade com a natureza - especialmente com vegetação - em espaços públicos. A Avenida Paulista foi escolhida para estudo e pesquisa por estar localizada na região central da cidade de São Paulo, caracterizada pela baixa taxa de cobertura verde e densificação de edifícios verticais. O trabalho apresenta pesquisa aplicada que identificou e analisou a presença de elementos biofílicos em espaços livres para uso público e os aspectos de governança em relação à biofilia e preservação ambiental. O estudo sugere que a biofilia - a conexão entre pessoas e natureza - deva ser considerada e incorporada às políticas públicas e projetos urbanos para contribuir nos esforços voltados aos desafios das cidades do século XXI, como ações em prol da mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e melhora da saúde da população urbana.

Palavras-chave: Avenida Paulista. Áreas verdes urbanas. Espaço público. Urbanismo biofílico. Design biofílico.

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ABSTRACT

From the perspective of sustainable urbanism and the biophilic approach, which is based on the existence of an inherent inclination to the human being to associate and feel well in contact with the natural environment, this dissertation has as its theme the relationship of society with nature - especially with vegetation - in public spaces. Avenida Paulista was chosen for study and research because it’s located in the central region of the city of São Paulo, characterized by the low rate of green coverage and densification of vertical buildings. The work presents applied research that identified and analyzed the presence of biophilic elements in free spaces for public use and the aspects of governance in relation to biophilia and environmental preservation. The study suggests that biophilia - the connection between people and nature - should be considered and incorporated into public policies and urban projects and can contribute to efforts aimed at the challenges of 21st century cities, like as actions to mitigate the effects of climate change and improve the health of the urban population.

Keywords: . Urban green areas. Public spaces. Biophilic urbanism. Biophilic design.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Localização da Avenida Paulista na cidade São Paulo ...... 16 Figura 2 Mapa do Colar de Esmeralda em Boston ...... 23 Figura 3 Síntese dos parâmetros do Design Biofílico ...... 28 Figura 4 Plano Urbano Tirana 2030 ...... 33 Figura 5 Edifício Floresta Vertical em Tirana ...... 34 Figura 6 Torre Rosewood no Complexo Cidade Matarazzo ...... 35 Figura 7 As torres Super Trees (Super Árvores) ...... 36 Figura 8 Síntese das interfaces conceituais ...... 38 Figura 9 Concentrações Florestais na cidade de São Paulo ...... 41 Figura 10 Áreas com prioridades de cobertura vegetal (ICV) ...... 42 Figura 11 Localização da Avenida Paulista ...... 43 Figura 12 Avenida Paulista em 1902 ...... 49 Figura 13 Imagem aérea da Avenida Paulista e Parque Trianon ...... 50 Figura 14 Avenida Paulista em 1935 ...... 51 Figura 15 Residência de Horácio Belford Sabino (sem data) ...... 53 Figura 16 Edifício Conjunto Nacional em 1961 ...... 53 Figura 17 Arborização da Avenida Paulista em 1966 ...... 54 Figura 18 Jardineiras no canteiro central da Avenida Paulista ...... 56 Figura 19 Ilustração do Projeto de Ciclovia da Avenida Paulista...... 57 Figura 20 Mapa arborização viária na região da Avenida Paulista ...... 62 Figura 21 Mapa arborização viária na Avenida Paulista – Detalhe ...... 62 Figura 22 Arborização viária Av Paulista (esquina Rua da Consolação) 63 Figura 23 Edifícios entre esquinas das Ruas Haddock Lobo e Augusta 63 Figura 24 Calçada em frente ao Condomínio Edifício São Luís ...... 64 Figura 25 Avenida Paulista, trecho em frente ao Parque Mario Covas 65 Figura 26 Arborização viária na calçada e em jardineiras ...... 65 Figura 27 Arborização viária em jardineiras de concreto ...... 66 Figura 28 Calçada à frente do Shopping Cidade de São Paulo ...... 66 Figura 29 Área de recuo à frente do Shopping Cidade de São Paulo ... 67 Figura 30 Paisagismo do Edifício Coopersucar ...... 68 Figura 31 Vasos na calçada do Hospital Santa Catarina ...... 68 Figura 32 Jardim vertical no paisagismo do condomínio Cetenco ...... 69 9

Figura 33 Espaços Livres de Uso Público selecionados ...... 71 Figura 34 Vegetação da Praça Oswaldo Cruz ...... 73 Figura 35 Lado A da Pça Oswaldo Cruz, como espaço de convivência 73 Figura 36 Lado B da Praça Oswaldo Cruz ...... 74 Figura 37 Monumento Índio Pescador na Praça Oswaldo Cruz 74 Figura 38 Paisagismo ...... 76 Figura 39 Árvores do Paisagismo Casa das Rosas ...... 77 Figura 40 Pérgola do Paisagismo Casa das Rosas ...... 77 Figura 41 Elementos do Paisagismo Casa das Rosas ...... 78 Figura 42 Jardim de Roseiras ...... 78 Figura 43 Arquitetura e jardim da Casa das Rosas ...... 79 Figura 44 Visitação pública à Casa das Rosas ...... 79 Figura 45 Jardim aberto ao lado do Shopping Cidade de São Paulo .... 80 Figura 46 Praça Shopping Cidade de São Paulo ...... 81 Figura 47 Área de permanência Praça Shopping Cidade de São Paulo 82 Figura 48 Trecho do Parque Trianon com características de Bosque ... 83 Figura 49 Mobiliário de madeira do Parque Trianon ...... 84 Figura 50 Escultura do Fauno no Parque Trianon ...... 85 Figura 51 Visitação no Parque Trianon durante a Paulista Aberta ...... 86 Figura 52 Visitantes observam árvore no Parque Trianon ...... 86 Figura 53 Visitantes contemplam natureza no Parque Trianon...... 87 Figura 54 Voluntários confeccionam placas de educação ambiental .... 88 Figura 55 Posto de informação turística do Parque Mario Covas ...... 89 Figura 56 Academia de ginástica ao ar livre no Parque Mario Covas ... 90 Figura 57 Visitantes do Parque Mario Covas ...... 90 Figura 58 Pergolado do Parque Mario Covas ...... 91 Figura 59 Cartaz com regulamento do Parque Mario Covas ...... 92 Figura 60 Vestígios da Horta da Praça do Ciclista em 2019 ...... 93 Figura 61 Mureta usada como assento na Praça do Ciclista ...... 93 Figura 62 Horta dos Ciclistas na Paulista em 2012 ...... 94 Figura 63 Ilustração do Projeto de reconfiguração da Praça do Ciclista 95 Figura 64 Vegetação da Praça dos Arcos ...... 97 Figura 65 Bicicletário da Praça dos Arcos ...... 97 10

Figura 66 Mobiliário da Praça dos Arcos ...... 98 Figura 67 Espelho d’água do Museu de Arte de São Paulo ...... 99 Figura 68 Perspectiva e proposta de Lina Bo Bardi para área externa 100 do MASP Figura 69 Trecho Avenida Paulista com sombra de árvores na calçada 101 Figura 70 Feira de artesanato em frente ao Parque Trianon...... 102 Figura 71 Feira de Antiguidades no vão livre do MASP ...... 102 Figura 72 Grades de segurança utilizadas na Feira de Antiguidades.... 103 Figura 73 Floreiras na calçada à frente do Conjunto Nacional ...... 104 Figura 74 Troncos de árvores utilizados como suporte ...... 104 Figura 75 Objetos e lixo sobre a vegetação das jardineiras ...... 105 Figura 76 Jardim ao nível do solo (área de recuo do Edifício Cetenco) 106 Figura 77 Jardim com grades de proteção (recuo do Edifício Cetenco) 106

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Funções da infraestrutura verde urbana ...... 24 Quadro 2 Medidas para o planejamento urbano ecológico por setor de intervenção...... 25 Quadro 3 Valores Biofílicos ...... 29 Quadro 4 Escalas de aplicação do Design Biofílico ...... 30 Quadro 5 Ficha para Análise Biofílica de Espaços Públicos Livres ...... 39 Quadro 6 Leis com reflexo para o verde da cidade de São Paulo (1921-1970) ...... 45

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 13

1 ECOLOGIA E SUSTENTABILIDADE PARA CIDADES DO SÉCULO XXI – INTERFACES CONCEITUAIS ...... 21

1.1 SUSTENTABILIDADE E O PLANEJAMENTO URBANO

ECOLÓGICO ...... 24

1.2 URBANISMO SUSTENTÁVEL ...... 26 1.3 URBANISMO BIOFÍLICO ...... 27 1.4 PROJETOS URBANOS BIOFÍLICOS E GANHOS DE 31 SUSTENTABILIDADE ...... 1.5 ASPECTOS BIOFÍLICOS PARA ESPAÇO PÚBLICO ...... 37

2 O VERDE NA CIDADE DE SÃO PAULO E AVENIDA PAULISTA 41 2.1 HISTÓRICO DE DECLÍNIO VERDE NA CIDADE DE SÃO PAULO 44 2.1.1 O declínio verde na Avenida Paulista ...... 48

2.2 INICIATIVAS PÚBLICAS PARA O VERDE DA CIDADE ...... 57

3 ANÁLISE DA PRESENÇA DO VERDE NA PAULISTA ...... 61

4 ANÁLISE DA BIOFILIA NO ESPAÇO PÚBLICO DA AVENIDA PAULISTA ...... 71

4.1 PRAÇA OSWALDO CRUZ ...... 72 4.2 JARDIM DA CASA DAS ROSAS ...... 75 4.3 PRAÇA DO SHOPPING CIDADE DE SÃO PAULO ...... 80 4.4 PARQUE TRIANON ...... 83 4.5 PARQUE PREFEITO MARIO COVAS ...... 89 4.6 PRAÇA DO CICLISTA ...... 92 4.7 PRAÇA DOS ARCOS ...... 96 4.8 PAULISTA AOS DOMIMGOS ...... 98 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 110 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...... 117 APÊNDICES ...... 127 13

INTRODUÇÃO

Em 2019, mais um estudo foi publicado para chamar a atenção de governos e opinião pública sobre a ocorrência de alterações no clima do Planeta: o relatório Alerta dos Cientistas Mundiais sobre a Emergência Climática, assinado por mais de onze mil cientistas de 153 nacionalidades e de diferentes áreas de conhecimento. O tema que subjaz a presente dissertação, a diminuição da cobertura vegetal nas cidades, foi apontada no documento como uma das ações humanas que contribuem para a situação emergencial do planeta. Para mitigar os efeitos ou adaptar-se às mudanças climáticas o relatório destaca a necessidade de “restaurar os ecossistemas da Terra” e de ocorrer “grandes mudanças na forma como nossa sociedade global funciona e interage com os ecossistemas naturais” (RIPPLE et al., 2019, p. 4, tradução nossa).

A expressão “restaurar” remete à ideia de recuperar algo danificado ou fragmentado. É com esse mesmo sentido que se emprega no título desta dissertação o termo “fragmentos verdes”, fazendo referência às dispersas e desconectadas áreas verdes existentes na cidade. Um sentido distinto, no entanto, dos conceitos “fragmento florestal” ou “fragmento urbano” utilizados nos estudos de ecologia urbana (MACIEL; BARBOSA, 2015).

No século XXI, os efeitos das ações antrópicas sobre a natureza ganham novos olhares diante do desafio como o da crescente população em centros urbanos. E esse crescimento é uma tendência para as próximas décadas de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), que estima que, em 2050, 68% da população mundial viverá em área urbana e no Brasil esse percentual chegará aos 92,4% (ONU, 2018).

Os centros urbanos, como polos de desenvolvimento humano e tecnológico, atraem grande fluxo de pessoas em busca de melhores condições de vida, porém, esse movimento migratório traz inúmeros impactos às áreas verdes ainda existentes nas cidades. O estilo de vida urbano e as características ambientais típicas das grandes cidades, como escassez de recursos naturais e áreas verdes e a poluição atmosférica e sonora, constituem desafios para a saúde e bem-estar da população nas grandes cidades (SALDIVA, 2018). 14

No século XX, o Brasil experimentou uma explosão no processo de urbanização e encontrou dificuldade de planejamento urbano sustentável e efetivo. A cidade de São Paulo constituiu um exemplo mais extremo. Sob a alegação de promover desenvolvimento acelerado, a cidade apostou em soluções de engenharia, como o sistema de drenagem subterrânea, e deu ênfase em infraestrutura voltada ao uso intenso de automóveis, fatores esses que se mostraram causadores de grandes problemas urbanos, como enchentes, desaparecimento de nascentes de rios, impermeabilização do solo, entre outros (QUEIROZ; SOMEKH, 2013).

Assim, ao desprezar a base biofísica do território em seu processo de urbanização, a cidade de São Paulo alterou radicalmente seu sistema hídrico e diminuiu sua cobertura verde, tornando-se a “manifestação espacial do pensamento econômico, segundo o qual o capital, o trabalho e recursos naturais são infinitos e intercambiáveis” (BONZI, 2017, p. 1). O modelo adotado tornou a cidade “mais cinza” - que enfatiza iniciativas econômicas, segundo critérios de Runfola e Hugues - em contraste às chamadas cidades “mais verdes”, que dão ênfase às iniciativas de justiça social (BUCKERIDGE, 2015).

A cidade de São Paulo encontrou outros obstáculos ao planejamento sustentável da cidade, como a tradição de descontinuidade na gestão pública, que inviabiliza políticas consistentes de planejamento urbano de longo prazo; a resistência de setores econômicos na implantação dos planos; e a desigualdade territorial na aplicação dos instrumentos urbanos (ROLNIK; KLINK, 2011).

A maneira como as cidades lidam com suas áreas verdes estão no alvo dos Dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), firmados em 2015 pela Cúpula da Organização das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. Entre os objetivos estão o de tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres; gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade (ONU BRASIL, 2015).

A preservação de áreas verdes nas cidades também mereceu atenção na Nova Agenda Urbana, apresentada na Conferência Habitat III. Os países signatários firmaram compromissos como: estimular o emprego de soluções inspiradas na natureza; criar espaços públicos mais verdes e inclusivos; proteger o patrimônio 15

natural e cultural; promover bem-estar social e qualidade de vida; produzir energia limpa; adotar uso sustentável da terra e dos recursos no desenvolvimento urbano; proteger ecossistemas e biodiversidade; adotar modos de vida saudáveis em harmonia com a natureza; promover padrões de consumo e produção sustentáveis (ONU-HABITAT, 2016).

Tais direcionamentos, somados a uma inquietação pessoal da autora, como moradora da região mais urbanizada da cidade e membro do Conselho Gestor dos dois parques urbanos da Avenida Paulista, motivaram a realização da pesquisa para trazer respostas à seguinte indagação: é possível trazer a natureza de volta em territórios onde a urbanização já está consolidada e com poucas áreas verdes?

Pesquisa bibliográfica realizada preliminarmente, identificou projetos urbanos que dão respostas a essa questão. Um deles é o programa Green Corredor da cidade de Medellín, na Colômbia, que implantou trinta corredores verdes em regiões da cidade onde não havia mais vegetação. Os terrenos marginais a dezoito estradas foram transformados em áreas verdes integradas a doze hidrovias. A iniciativa recebeu o prêmio Ashden Award 2019, como solução de resfriamento pela natureza, por sua contribuição para redução das ilhas de calor da cidade (UN ENVIRONMENT PROGRAMME, 2019).

A cidade Lins, na Áustria, intensificou o uso de telhados verdes, uma tipologia de infraestrutura que contribui de maneira sistêmica para tornar a cidade mais verde. “Visto como deveriam ser, como peças em um mosaico urbano maior, esses remendos ajudam a formar elementos importantes da ‘rede verde’ de um bairro” (BEATLEY, 2011, p. 278, tradução nossa).

Outras cidades realizam programas com ênfase na promoção de maior conexão entre os moradores e a natureza. São as chamadas cidades biofílicas (BEATLEY, 2014), como Edmonton (Canadá), Curridabat (Costa Rica), Birminghan (Reino Unido), Edimburgo (Escócia), Barcelona e Vitória-Gasteiz (Espanha), Frementle (Austrália), Wellington (Nova Zelândia), e várias cidades norte- americanas, como Austin, Portland, São Francisco e Washington DC (BIOPHILIC CITIES, 2019).

Programas como esses seguem a orientação do urbanismo sustentável e biofílico, referenciais teóricos que serão abordados no primeiro capítulo. 16

Densidade urbana e arquitetura verticalizada não impediram que a cidade Cingapura regenerasse e criasse sistemas urbanos mais naturais. Ao contrário, esses fatores fazem parte das estratégias para tornar a cidade mais verde, como explica Peter Newman. A densidade urbana “permite que conceitos como conectores de parque e os pela Praia sejam desenvolvidos, pois precisam de uso intenso da terra onde as distâncias são curtas”; e a verticalização “permite que a altura dos edifícios seja usada para ajudar a criar uma terceira dimensão em um ecossistema urbano” (NEWMAN, 2014, p. 62, tradução nossa).

Esses dois fatores foram considerados para a escolha da Avenida Paulista como objeto de estudo. Localizada na região central da cidade (Figura 1), onde há baixo índice de cobertura verde, a Avenida Paulista é densamente urbanizada e verticalizada.

Figura 1 – Localização da Avenida Paulista na cidade de São Paulo

Fonte: Ortofoto 2017, Geosampa, com adaptações da autora.

A Avenida já foi alvo de diversos estudos acadêmicos (SHIBAKI, 2007; URSINI, 2004; MONFERDINI, 2013; OLIVEIRA, 2013) que tratam da relevância histórica, econômica, cultural ou por seu simbolismo como espaço público. Contudo, não foram localizados, estudos dedicados a abordar a relação biofílica nesse trecho 17

urbano, que é situado em uma das regiões mais altas da cidade e entre importantes bairros e áreas verdes.

A presente dissertação não se baseia na abordagem de Ecologia da Paisagem (METZGER, 2001) e, portanto, não avalia processos de fragmentação, isolamento e conectividade dos ecossistemas naturais, tampouco investiga a influência de padrões espaciais sobre os processos ecológicos (PELLEGRINO et al., 2006). No entanto, considera que as áreas vegetadas, alvo dessa investigação, constituem fragmentos de paisagem que potencialmente podem funcionar como trampolins ecológicos que viabilizam os fluxos gênicos entre as áreas verdes (GALDINO; ANDRADE, 2008).

Da mesma forma, a pesquisa não configura um estudo da percepção ambiental, uma vez que a análise não se concentra nos aspectos psicológicos da interação homem e natureza. Contudo, se reconhece que o resultado da investigação pode ajudar a compreender a imagem do território, considerando que a qualidade de objetos físicos como edificações e vegetação urbana, como “forma, cor ou arranjo que facilitam a formação de imagens mentais do ambiente fortemente identificadas, poderosamente estruturadas e altamente úteis” (LYNCH, 1960, p. 9) podem evocar uma imagem forte no observador. Tendo como referências teóricas principais Stephen Kellert e Timothy Beatley, a pesquisa tem como objetivos específicos:

1. Verificar a ocorrência de espaços vegetados na Avenida Paulista;

2. Examinar existência de estímulo ao contato humano com a natureza (biofilia) no espaço público;

3. Discutir possíveis consequências dos fatores acima para a sustentabilidade urbana e ecológica da cidade.

Procedimentos Metodológicos

A área territorial definida para estudo é a Avenida Paulista; vez ou outra indicada apenas como Avenida ou Paulista. O recorte temporal da pesquisa é o ano de 2019, com algumas remissões históricas para explicações contextuais. 18

Para localização de áreas vegetadas da região da Avenida Paulista se utilizou os dados disponibilizados da plataforma de Mapa Digital da Cidade - Geosampa1 - da Prefeitura de São Paulo. Foram utilizadas as imagens das camadas ortofoto e de arborização viária, baseadas no levantamento realizado no ano de 2017, que permitiram visualização simplificada da presença ou ausência de áreas verdes na cidade. A pesquisa aplicada se concentra na observação dos espaços livres de uso público, dentro do conceito de Llardent: “espaços urbanos ao ar livre destinados ao pedestre para o descanso, o passeio, a prática esportiva e, em geral, o recreio e entretenimento em sua hora de ócio” (apud LOBODA; ANGELIS, 2005, p. 132).

Seguindo esse critério de espaço livre, os locais selecionados para análise foram: Praça Oswaldo Cruz; Jardim da Casa Das Rosas; Praça do Shopping Cidade de São Paulo; Parque Tenente Siqueira Campos/Trianon; Parque Prefeito Mario Covas; Praça do Ciclista; Praça Marechal Cordeiro de Farias/Praça dos Arcos; e Paulista aos domingos, isto é, a própria Avenida quando assume a configuração de rua de lazer.

Não foram considerados para análise os jardins particulares dos edifícios, muito embora se pondere a relevância de toda área vegetada como elementos estruturantes da paisagem urbana e que exercem importantes funções para a cidade e habitantes, como controle do clima e da poluição, conservação da água e biodiversidade (MASCARÓ; MASCARÓ, 2002) e que merecem ser alvo de outros estudos científicos futuros.

Levando-se em conta que o ordenamento urbano não se limita às formas construídas ou espaços edificados, pois incorpora o medium, isto é, ambientes sensíveis ou envelopes climático, com define Jean-Paul Thibaud: “aquilo a partir do qual percebemos é o que torna a percepção possível” (THIBAUD, 2012, p. 31); uma análise livre da percepção a partir do olhar dos transeuntes da Avenida seria muito complexa, já que condicionada aos detalhes captados pelos sentidos humanos, como descrevem Steiner, Thompson e Carbonell ( 2016, p. 7):

1 Mais informações Cf.: PREFEITURA DE SÃO PAULO. Mapa digital da cidade de São Paulo. GeoSampa Mapas: São Paulo, 2019a. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2019. 19

Todos os aspectos da vida – humanos e naturais entrelaçados, em graus variados de sucesso – aparecem diante de nossos olhos, são escutados por nossos ouvidos, são sentidos por nossa pele e roupas e por meio das gotas de orvalho, umidade, ar seco, solar, brisas vespertinas e temperaturas frescas ou quentes. Isto é muito grande para compreender, mesmo dentro do escopo limitado dos nossos sentidos.

Nesse sentido, a pesquisa aplicada desenvolve-se com a observação da autora da perspectiva do pedestre, tendo por critério a análise da presença da vegetação e dos possíveis elementos identificadores de biofilia nos espaços livres de uso público. Para anteder aos objetivos propostos, a observação in loco foi realizada em percurso caminhável em toda a extensão da Avenida e em três etapas:

1) Entre janeiro e agosto de 2019, buscou-se identificar e delimitar os espaços a serem analisados; 2) Em novembro de 2019, buscou-se identificar a presença da vegetação ao longo da Avenida Paulista; 3) Ainda no mês de novembro, buscou-se observar e analisar nos espaços livres selecionados as características físicas e os indícios de comportamentos das pessoas em relação à vegetação.

A segunda e terceira etapas foram realizadas em domingos, dia em que a Avenida assume seu caráter de espaço livre de uso público. Uma das visitações foi interrompida devido a uma manifestação política com grande aglomeração de pessoas, o que dificultou a observação pretendida, mas concluída na semana posterior.

A coleta de dados foi viabilizada com auxílio de dois instrumentos metodológicos: registros fotográficos e uso da Ficha para Análise Biofílica de Espaços Públicos Livres, elaborada a partir dos parâmetros identificados no referencial teórico.

Estrutura da Dissertação

O presente texto está estruturado em seis partes, sendo a primeira a Introdução, a última as Considerações Finais. 20

A fundamentação teórica é apresentada nos capítulos primeiro e segundo. O capítulo primeiro, Ecologia e Sustentabilidade para Cidades do Século XXI – Interfaces conceituais, expõe um panorama conceitual das principais abordagens de urbanismo em relação à sustentabilidade e áreas verdes e identifica, nas abordagens Design Biofílico e Urbanismo Biofílico, os parâmetros de análise para a investigação pretendida.

O capítulo segundo O Verde na Cidade de São Paulo e na Avenida Paulista, expõe a situação atual das áreas verdes da cidade de São Paulo e na região da Avenida Paulista e os possíveis indicativos históricos que culminaram na redução do verde na cidade.

Os resultados da pesquisa aplicada são apresentados nos capítulos terceiro e quarto. O terceiro tem como enfoque a situação da arborização viária e a presença de vegetação no espaço público da Avenida. No capítulo quarto, A Biofilia no Espaço Público da Avenida Paulista, são analisadas as características, dinâmicas e o potencial biofílico de nove espaços livres na Avenida Paulista.

As principais conclusões sobre os resultados obtidos com a pesquisa e os possíveis direcionamentos vislumbrados para aprimoramento da sustentabilidade ecológica da região da Avenida Paulista estão reunidas nas Considerações Finais.

De maneira geral, a dissertação busca expor a relevância da abordagem biofílica como instrumento para a tomada de decisões no planejamento urbano e políticas públicas no intento de tornar as cidades mais saudáveis do ponto de vista ambiental e humano.

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1 ECOLOGIA E SUSTENTABILIDADE PARA CIDADES DO XXI – INTERFACES CONCEITUAIS

Como citado na parte introdutória, a preservação das áreas verdes faz parte dos Dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) firmados na reunião da Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015.

Dos dezessete objetivos, dois estão diretamente relacionados às áreas verdes. O objetivo onze, que trata de “tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis” estabelece como meta “fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o patrimônio cultural do mundo”. Já o objetivo quinze, que visa “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade”, estabelece como metas: promover e implementar gestão sustentável de todos os tipos de florestas; deter desmatamento e restaurar florestas degradadas, implementar ações para conservação e proteção da biodiversidade; integrar valores dos ecossistemas e da biodiversidade ao planejamento nacional e local e nos processos de desenvolvimento; mobilizar recursos financeiros destinados à conservação e o uso sustentável da biodiversidade e dos ecossistemas (ONU BRASIL, 2015).

A Nova Agenda Urbana, documento assinado em 2016 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Habitação e Desenvolvimento Urbano Sustentável (ONU- HABITAT III), reafirma a necessidade de mudar a forma de construir, gerenciar e viver nas cidades, promovendo uso sustentável da terra e proteção aos ecossistemas. Enfatiza-se a “adoção de modos de vida saudáveis em harmonia com a natureza” (ONU- HABITAT III, 2016, p. 8) e o emprego de “soluções inspiradas na natureza” para a mitigação e adaptação às alterações climáticas (ONU-HABITAT III, 2016, p. 15).

No período pós-Revolução Industrial muitas soluções de engenharia adotadas nas cidades causaram grandes desequilíbrios ecológicos, com efeitos duradouros. Na cidade de São Paulo, na primeira metade do século XX, sob a alegação de promover desenvolvimento, provocou-se o desaparecimento gradativo de florestas e 22

alteração de cursos de rios, desprezando-se a base biofísica e os processos naturais das paisagens (QUEIROZ; SOMEKH, 2013). A predileção pelo artificio, enraizada no pensamento de cidade moderna, transformou a cidade “como a manifestação espacial do pensamento econômico, segundo o qual o capital, o trabalho e recursos naturais são infinitos e intercambiáveis” (BONZI, 2017, p. 1).

A crença de que o progresso e a civilização dependem da capacidade sempre crescente de controlar e alterar a natureza mostra-se um paradigma predominante da construção moderna. Por outro lado, a compreensão da paisagem natural como obstáculo a ser superado por meio da ciência e da tecnologia ou ainda uma “comodidade estética e recreacional dispensável” (KELLERT, 2018, p. 14) amplia a desconexão entre o homem e a natureza, visão essa claramente percebida nos projetos do ambiente construído moderno e na orientação da sociedade à tecnologia e aos ambientes internos (KELLERT, 2018).

Ian McHarg, ao introduzir o conceito de planejamento urbano ecológico, no final da década de 1960, critica a prática de transformar a natureza em objeto decorativo ou mera “brincadeira humana para amenizar a cidade sombria”. Ele defende a necessidade de sustentar a natureza “como fonte de vida, meio, professor, santuário, desafio e, acima de tudo, de redescobrir o corolário da natureza do desconhecido no eu, a fonte do sentido” (McHARG, 1995, p. 6).

Quase um século antes, Frederick Law Olmsted, o pai da Arquitetura da Paisagem, já defendia uma visão ecológica e sistêmica de planejamento das cidades, contrariando a lógica de subjugar a natureza. Olmsted acreditava que o bem-estar humano dependia diretamente do contato do ser humano com a natureza (LAURIE, 1983; HERZOG, 2013; BONZI, 2017).

O projeto emblemático de Olmsted, o Emerald Necklake (Figura 2, abaixo), ou Colar de Pérolas, foi construído entre os anos de 1878 e 1895, interligando parques por caminhos verdes e rios em Boston. Cem anos depois de sua implantação, o projeto ainda é referencial pelas soluções inspiradas na natureza, como as áreas alagadas (wetlands), criadas para purificar as águas poluídas e dejetos industriais, dando prova de sua sustentabilidade.

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Figura 2 – Mapa do Colar de Esmeralda em Boston

Fonte: Emerald Necklace Conservancy. Disponível em: . Acesso em: 10 jun. 2019.

O projeto de Olmsted trouxe elementos classificáveis, em termos contemporâneos, como Nature-based Solutions (NbS) ou Adaptação Baseada em Ecossistemas (AbE). As NbS são “ações para proteger, gerenciar de maneira sustentável e restaurar ecossistemas naturais ou modificados que respondam aos desafios sociais de maneira efetiva e adaptável, simultaneamente garantindo bem estar humano e benefícios a biodiversidade” (INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE, 2016, tradução nossa). Já a AbE é a “utilização da biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas, como parte da estratégia mais ampla de adaptação para ajudar as pessoas a adaptar-se aos efeitos das mudanças climática” (LHUMEAU; CORDERO, 2012, p. 1, tradução nossa).

Outra terminologia e abordagem contemporânea contemplada no planejamento urbano com visão sistêmica e ecológica são as chamadas Infraestruturas Verdes, ou as redes multifuncionais de fragmentos permeáveis e vegetados, “preferencialmente arborizados e interconectados que reestruturam o mosaico da paisagem, oferece serviços ecossistêmicos e mimetiza funções naturais da paisagem” (HERZOG, 2010, p. 97).

As infraestruturas verdes contribuem para resiliência urbana das cidades por suas funções bióticas, abióticas e culturais (Quadro 1).

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Quadro 1 – Funções da infraestrutura verde urbana

BIÓTICA ABIÓTICAS CULTURAL

Habitat para espécies Interação entre a superfície e Experiências com águas subterrâneas ecossistemas naturais

Movimento de espécies Produção do solo/ nutrientes Atividade física

Produção de biomassa Manutenção do regime Experimentação da história hidrológico cultural

Suporte na interação flora-fauna Sequestro de carbono e de Senso de isolamento e gases de efeito estufa inspiração

Interações sociais saudáveis

Estímulo à educação ambiental Fonte: Bonzi (2017, p. 20) adaptado de Ahern (2007).

O fator determinante nas Infraestruturas Verdes é a conectividade, que pode ser viabilizada por meio de ruas arborizadas que integram o manejo de águas pluviais (HERZOG, 2013; BONZI, 2017), ou, ainda pelas chamadas ruas completas2, “que conciliam usos múltiplos de veículos, pedestres, ciclovias e mobiliário urbano, compatibilizando processos naturais de drenagem de águas pluviais, biodiversidade e sombra para os pedestres” (WORLD RESOURCE INSTITUTE, 2017).

As infraestruturas verdes buscam conciliar conservação ambiental com a criação de lugares para a população realizar atividades e desfrutar a natureza, otimizando o uso do solo para atender as necessidades das pessoas e da natureza (BENDICT; McMAHON, 2006).

1.1 SUSTENTABILIDADE E O PLANEJAMENTO URBANO ECOLÓGICO

É relativamente recente a conscientização da sociedade sobre os benefícios ambientais desempenhados pela natureza, bem como a percepção de que a

2 Conceito criado pelo World Resource Institute (WRI). Mais detalhes podem ser consultados em: AFINAL, o que são ruas completas? WRI BRASIL [online]. Publicado em: 18 out. 2017. WRI BRASIL, São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2019. 25

proteção ambiental no contexto urbano traz inovação e cidadania para a cidade e qualidade de vida para os habitantes (GAUZIN-MÜLLER, 2011; BONZI, 2017).

A referida conscientização se alinha a visão de Desenvolvimento Sustentável expressa no Relatório Nosso Futuro Comum da ONU: “o desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades” (COMISSÃO MUNDIAL, 1991, p. 46).

Embora, o termo sustentabilidade seja geralmente associado ao tripé da sustentabilidade, isto é, ancorado nos benefícios sociais, ambientais e econômicos, é possível perceber distorções entre os especialistas ao se operacionalizar o conceito, uma vez que alguns autores tendem a enfatizar um ou outro item (SOUZA, 2016). Contudo, as abordagens sistêmicas da sustentabilidade mostram-se mais abrangentes por não priorizar ou considerar isoladamente as questões econômicas, sociais ou ecológicas.

O conceito de sustentabilidade foi aplicado ao planejamento das cidades a partir do livro Redesenvolvimento Urbano Ecológico, Teoria e Conceito, do professor Ehkart Hahn, no final da década de 1980. Nele se estabelece as medidas necessárias (Quadro 2) para o planejamento sustentável da cidade, conjugando proteção dos recursos naturais com a concepção urbanística, arquitetura e a participação social e a economia (GAUZIN-MÜLLER, 2011).

Quadro 2 – Medidas para o Planejamento Urbano Ecológico por Setor de Intervenção

SETOR MEDIDAS PARA SEREM ADOTADA Arquitetura e Ecologia nos setores de Arquitetura e Construção; Geração de energia; Gestão Técnicas da água; Gestão do Transporte; Redução de Resíduos; Proteção de áreas Urbanas verdes e da natureza; Clima e Qualidade do ar; Proteção ao Solo e Água; Proteção contra Ruído; Saúde e Alimentação. Ecologia e Participação de pessoas interessadas; Informação e assessoria sobre meio Democracia ambiente; Descentralização da Administração e das Tomadas de Decisão; Local Educação para o Meio Ambiente; Novos modelos de cooperativa e promoção imobiliária; Criação de ecoestações (espaços descentralizados para divulgação de temas ecológicos e culturais); Criação de agência para energia, água e resíduos; novos modelos de habitação e vizinhança. Economia e Imposto sobre energia; taxa sobre emissão de poluentes; cobrança por Ecologia consumo; contabilidade ecológica para empresas; adaptação das ferramentas de planejamento e normalização das edificações; criação de centros de serviços de comércio e atividades ecológicas; criação de emprego no setor de ecologia. Fonte: Ekhart Hahn, 1987 apresentado por Gauzin-Müller (2011, p. 49). 26

O relatório Reestruturação Urbana Ecológica que, no início dos anos 1990, orientou as políticas e projetos urbanos de vários países europeus e foi baseado no pensamento de Hahn, estabeleceu oito diretrizes: 1) ética e respeito ao ser humano; 2) participação e democratização; 3) organização em redes; 4) retorno à natureza e às experiências sensoriais; 5) uso misto e densidade urbana controlada; 6) respeito ao genius loci (o espírito do lugar); 7) ecologia e economia; 8) cooperação internacional.

Tais diretrizes apontam equilíbrio entre objetivos humanos (e sociais), ecológicos e econômicos, fatores que estarão presentes nas duas abordagens sistêmicas: Urbanismo Sustentável e o Urbanismo Biofílico, descritas a seguir:

1.2 URBANISMO SUSTENTÁVEL

Urbanismo dito sustentável conjuga os objetivos sociais, ambientais, políticos e culturais com os econômicos e físicos dos cidadãos, e considera proteção ambiental como fator de inovação e cidadania (ROGER; GUMUCHJAN, 2001; FARR, 2007; LEITE, 2012). Na cidade gerada por esse tipo de urbanismo, a participação social ganha relevância, como expressa Marta Romero (2007, p. 51):

[...] (a cidade sustentável) é constituída por uma sociedade com consciência de seu papel de agente transformador dos espaços e cuja relação não se dá pela razão natureza-objeto e sim por uma ação sinérgica entre prudência ecológica, eficiência energética e equidade socioespacial. Nessa visão de planejamento, elementos ambientais e ecológicos (ambientes aquáticos, as áreas urbanas de preservação permanente e os fragmentos ou áreas verdes) exercem papéis fundamentais para a qualidade do ambiente urbano e, por este motivo, dá-se ênfase às estratégias e práticas para conservação e sustentabilidade (GALDINO; ANDRADE, 2008).

Por outro lado, Douglas Farr apresenta como parâmetros para a realização do Urbanismo Sustentável: a densidade urbana, que sustenta o transporte público; os corredores de sustentabilidade, tanto os corredores de transporte como os caminhos verdes; os bairros sustentáveis; edificações e infraestrutura de alto desempenho; e a biofilia, isto é, maior acesso humano à natureza. Para ele, a necessária conexão das 27

pessoas com a natureza e aos sistemas naturais pode ser feita mesmo em densos ambientes urbanos (FARR, 2017).

Jan Gehl ressalta a perspectiva humana na valorização do espaço público e na vitalidade urbana. Para ele, a cidade projetada para as pessoas deve estimular a permanência dos cidadãos nos espaços públicos; os deslocamentos por mobilidade ativa (bicicletas ou a pé) e transporte público; hábitos saudáveis como práticas de atividades físicas e a sociabilidade (GEHL, 2018).

Uma vez que o Urbanismo Sustentável pondera equilíbrio na priorização dos objetivos sociais, ambientais, políticos, culturais, econômicos, sua ideia de planejamento de cidades considera a importância de provocar conexão entre sociedade humana e natureza, pensamento convergente à abordagem do Urbanismo Biofílico apresentada no próximo tópico.

1.3 URBANISMO BIOFÍLICO

Urbanismo biofílico diz respeito ao planejamento de cidades que, além dos aspectos sustentáveis, apresentam “densa e rica vida urbana em contato com a natureza” o que a torna uma cidade biofílica, como afirma Timothy Beatley em entrevista à Greg Hanscom (2014).

A expressão biofílica deriva da teoria da Biofilia3, de Edward Wilson, de que os seres humanos evoluíram junto com o mundo natural e, portanto, possuem uma inclinação ancestral inerente de se afiliar à natureza e assim se sentirem bem.

O professor emérito de Ecologia Social Universidade de Yale, Stephen Kellert, criou o conceito Desenho Biofílico (Biophilic Design, em inglês) ao interpretar a teoria da biofilia na Arquitetura.

Para Kellert (2018, p. 189, tradução nossa), trazer a natureza para o ambiente construído está relacionado ao reconhecimento de que o bem-estar humano depende das conexões com o ambiente natural e dever ser traduzido no projeto:

3 Teoria apresentada pelo biólogo e ecólogo Edward Osborne Wilson e que resultou no livro homônimo, publicado em 1984. 28

Precisamos reconhecer que a saúde e o bem-estar físico, mental e até espiritual continuam a depender de nossa relação com a natureza, mesmo em nossa sociedade altamente construída, tecnologicamente orientada e cada vez mais urbana. Quando empobrecemos nossos laços com o ambiente não humano, inevitavelmente comprometemos a qualidade de nossa existência, assim como a de muitas outras espécies.

A aplicação do Design Biofílico, segundo Kellert (2018), é definida por quatro fatores ou parâmetros (Figura 3): elementos biofílicos, valores biofílicos, princípios biofílicos e escala biofílica.

Figura 3 – Síntese dos Parâmetros do Design Biofílico

Fonte: elaborado pela autora baseado em Kellert (2018).

Os elementos biofílicos são os fatores que provocam experiência de estar em contato com a natureza. Podem ser experiências diretas, como a vegetação, animais, lagos, elementos do clima (neve, sol, etc); ou indireta, por meio de imagens ou representações da natureza, como texturas, geometrias naturais, simulação de ar e luz, passagem do tempo e biomimética. Também são elementos biofílicos aqueles que permitem apreender o contexto ecológico, isto é, como as pessoas organizam suas circunstâncias ambientais, sentido de perspectiva e refúgio, espaços de transição, conexões ecológicas e culturais com o lugar, integração de parte ao todo.

Já os valores biofílicos (Quadro 3) podem ser compreendidos como as sensações ou sentimentos que as pessoas expressam em relação a natureza. 29

Esses valores podem ser positivos, como a atração a uma paisagem natural, ou negativos como a sensação de controle e exploração dos elementos naturais. A natureza pode despertar nos seres humanos outros valores como espiritualidade, desejos de aprendizado ou de expressão simbólica.

Quadro 3 – Valores Biofílicos

VALOR COMO SE EXPRESSA

Afeto Amor ou emoções positivas dirigidas ao mundo natural

Atração Atração estética ou percepção da beleza na natureza

Controle Tendência de controlar, dominar e, às vezes, subjugar a natureza

Exploração Tendência de utilizar o mundo natural como fonte de material e recursos

Intelecto Uso da natureza como aprendizado e desenvolvimento intelectual.

Simbolismo Uso da imagem da natureza para promover pensamento abstrato

Espiritualidade Uso da natureza para alcançar um senso de significado, propósito

Fonte: Adaptado e traduzido pela autora de Kellert (2018).

Outros parâmetros que caracterizam a ocorrência do design biofílico, seja em âmbito individual (bem-estar físico), social (engajamento das pessoas) ou no contexto global de preservação ecológica, são pontuados por Kellert (2018), como os Princípios Universais do Design Biofílico. São eles: concentra na adaptação à natureza que promove a saúde física e mental; cria configurações inter-relacionadas e integradas no todo ecológico; incentiva engajamento e imersão aos processos naturais; é fortalecido pela satisfação de valores positivos sobre a natureza; resulta em apegos emocionais às estruturas, paisagens e lugares; promove sentimentos de participação em comunidade; ocorre em uma multiplicidade de configurações (espaços interiores, exteriores e de transição); envolve experiência autêntica da natureza, em vez de uma experiência artificial; melhora relacionamento humano com sistemas naturais e evita os impactos ambientais adversos.

A aplicabilidade em diferentes escalas (Quadro 4), desde as edificações individuais até na escala urbana e regional, é outro parâmetro do design biofílico. De maneira cumulativa, os projetos de design biofílico em uma cidade podem interferir positivamente na ecologia e clima urbanos (BEATLEY, 2018), resultando em 30

cidades classificadas como biofílicas, que restauram e recuperam a natureza existente, ou cria novas formas de inseri-la nas ruas, nos edifícios ou em “locais urbanos vivos” (BEATLEY, 2011 apud HERZOG, 2013, p. 173).

Quadro 4 – Escalas de Aplicação de Design Biofílico

ESCALAS APLICAÇÕES

Edifício Telhados verdes, átrios verdes, roofgarden (jardins no telhado), paredes verdes e espaços interiores com iluminação natural.

Quadra Pátios verdes, áreas verdes em torno da habitação e áreas com espécies nativas.

Rua Ruas verdes, arborização urbana, desenvolvimento urbano de baixo impacto, vales vegetados e ruas estreitas, paisagismo comestível e alto grau de permeabilidade.

Bairro Fluxo de luz natural, restauração de rios, florestas urbanas, parques ecológicos, hortas comunitárias, parques de vizinhança e parques de bolso, campos ecológicos.

Cidade Riachos urbanos e áreas ribeirinhas, redes ecológicas urbanas, escolas verdes, dossel de árvore da cidade, floresta e pomares comunitários, corredores verdes de serviços públicos.

Região Sistemas fluviais e várzeas, sistemas ribeirinhos, sistemas de espaço verde regional, principais corredores verdes de transporte.

Fonte: Adaptação de Girling e Kellert (2005) (BEATLEY, 2011, p. 278, tradução nossa).

Para classificar uma cidade como biofílica Timothy Beatley (2011) estabelece os seguintes parâmetros: 1) ter programas públicos de infraestrutura de áreas verdes; 2) destinar porcentagem de seu orçamento para financiar esses projetos; 3) ter programas que promovem afinidade entre cidadãos, flora e fauna; 4) conectar parques urbanos e oferecer caminhos de experimentação da natureza; 5) ter espaços naturais e corredores ecológicos para sensações multissensoriais da natureza; 5) valorizar e apoiar iniciativas de educação sobre a natureza; 7) investir e apoiar a criação de infraestruturas verdes; 8) tomar medidas para apoiar ativamente a conservação da natureza.

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1.4 PROJETOS URBANOS BIOFÍLICOS E GANHOS DE SUSTENTABILIDADE

As ações biofílicas e de preservação de áreas verdes podem trazer ganhos ambientais, sociais (saúde urbana) e ainda econômicos.

Os ganhos ambientais são os mais fáceis de identificar. As áreas verdes (parques, praças, jardins e arborização urbana) influenciam diretamente nos microclimas urbanos. Elas contribuem para os níveis de umidade do ar pelo processo de evapotranspiração; regulam a temperatura e podem reduzir a temperatura de 1o C a 4o C nos dias de calor; contribuem para alimentar os lençóis freáticos; diminuem a poluição atmosférica e sonora, funcionando como barreira acústica; amenizam a radiação solar; modificam a velocidade e direção dos ventos; proporcionam sombreamento e, portanto, resfriamento da rua (MASCARÓ, MASCARÓ, 2002; GAUZIN-MÜLLER, 2011).

Embora haja literatura científica (LEE; MAHESWARAN, 2010; KONDO et al., 2018) que questione as evidências de benefícios das áreas verdes urbanas à saúde humana, diversos estudos relacionam a presença da vegetação no espaço público como estímulo a comportamentos indutores de saúde, como caminhar e fortalecer os indivíduos para lidar com tensões futuras (BEATLEY; NEWMAN, 2013). Estudo feito em cidade norte-americana indica que a probabilidade de deslocamento a pé é três vezes maior em rotas para pedestres com vegetação, pois a cobertura que árvores adultas estimulam atividades ao ar livre por reduzir as temperaturas do verão de três a seis graus Celsius (SIMMONS; MCLEOD; HIGHT, 2013 apud FARR, 2017).

A base de dados científica Cidades Verdes: Boa Saúde coordenada pela pesquisadora Kathleen Wolf, da Universidade de Washington, e pelo Serviço Florestal dos Estados Unidos, reúne mais de três mil artigos científicos e relatórios técnicos que atestam os benefícios sociais e de saúde para as pessoas que vivem em ambientes urbanos com maior contato com a natureza (KELLERT, 2018).

No Brasil, levantamento realizado em 2016 pela professora Thaís Mauad, coordenadora do Instituto Nacional de Análise Integrada do Risco Ambiental, em conjunto com pesquisadores da Universidade de São Paulo, apresentou dados de 32

estudos epidemiológicos e experimentais que demonstram associação entre a existência de áreas verdes e uma série de efeitos benéficos à saúde mental e física da população, como redução de morbidades psiquiátricas (incluindo depressão e ansiedade); redução do sobrepeso e obesidade; redução da mortalidade por todas as causas; redução de doenças cardiovasculares e desfechos na gravidez (MAUAD et al., 2016).

Por outro lado, a ausência de áreas verdes nas cidades pode estar associada ao surgimento de diversas patologias, segundo aponta o médico patologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Paulo Saldiva (2017, informação verbal4), “quanto mais verde em uma região, menor o risco de mortalidade por causas não acidentais, especialmente câncer e doenças respiratórias”. A diferença entre as áreas menos verdes e as mais verdes, segundo ele, chega a ser de uma redução de quase 20% de risco de morte.

Nesse sentido, os ganhos econômicos de uma cidade mais verde podem ser mensurados pela economia advinda da redução dos gastos com saúde pública. Além disso, estudo realizado na cidade na cidade de Austin, Estados Unidos, mensurou monetariamente os benefícios advindos da preservação das áreas verdes. Com 33,8 milhões de árvores, a cidade conseguiu gerar por ano (em dólares): $ 2,8 milhões, com a remoção da poluição (1.300 toneladas/ano); $ 11,6 milhões, com sequestro de carbono (92.000 toneladas/ano); $ 18,9 milhões com a redução do consumo de energia dos edifícios; $ 4,9 milhões com a redução das emissões de carbono. O estudo aponta ainda um valor de $ 242 milhões referente a estoque de carbono (1,9 milhão de toneladas) e um valor compensatório de $ 16 bilhões (NOVAK et al., 2014, p. 8).

Tais fatores justificam os critérios de cidades biofílicas considerados por Beatley (2011), isto é, elas devem destinar porcentagem de seu orçamento para financiar projetos; ter programas públicos de infraestrutura de áreas verdes; e ter programas que promovam afinidade entre cidadãos, flora e fauna.

As cidades de Tirana e Cingapura trazem exemplos de como isso é possível.

4 SALDIVA, Paulo. Áreas verdes garantem saúde e qualidade de vida à população. 17. abr, 2017. Jornal USP. Áudio disponível em: jornal.usp.br/?p=79100. Acesso em: 10 jun. 2019. 33

Com o programa Tirana 20305 (Figura 4), a capital albanesa, pretende ganhar corredores sustentáveis com eixos de mobilidade – novas ligações ferroviárias de alta velocidade conectando o centro da cidade ao aeroporto e terminal marítimo – e corredores de biodiversidade, como os dois rios que atravessam a cidade e novos corredores verdes que estão sendo criados. O programa pretende triplicar a quantidade de espaços verdes no centro da cidade com dois anéis viários verdes voltados a pedestres e ciclistas; criar um oásis em torno do lago Farka e conter a expansão urbana com uma floresta orbital (WALSH, 2017).

Figura 4 – Plano Urbano Tirana 2030

Fonte: Stefano Boeri Arquitetos (2017). Disponível em: . Nota: Nova Floresta orbital (item 1) circunda os limites da ocupação urbana para conter a expansão. Dois anéis viários (itens 3 e 8), no centro da cidade, são exclusivos para pedestres e ciclistas.

5 Plano Tirana 2030 foi desenvolvido pelo arquiteto Stefano Boeri e aprovado pelo Conselho Municipal de Tirana. Detalhes do plano disponível em: https://www.stefanoboeriarchitetti.net/en/project/tirana-030-2/. 34

Outra solução apontada como contribuição para o aumento de áreas verdes das cidades são os chamados edifícios-florestas, como a Torre Floresta Vertical (Figura 5) projetada para ser construída no centro da cidade. A edificação terá três jardins verticais em três diferentes fachadas, mais de 3.200 plantas arbustivas e 145 árvores de médio porte.

Figura 5 – Edifício Floresta Vertical em Tirana

Fonte: Stefano Boeri Arquitetos (2017). Disponível em: .

Os edifícios-florestas apresentam-se como soluções arquitetônicas para aumento da arborização urbana. Dois exemplares dessa tipologia de edificação são as torres duplas Bosco Verticali, construídas em 2014 na cidade de Milão, na Itália, com projeto de Stefano Boeri.

Um exemplo desse conceito arquitetônico que está sendo construído em São Paulo, próximo à Avenida Paulista, é a Torre Rosewood (Figura 6), projeto assinado 35

pelo arquiteto de Jean Nouvel, que introduz árvores de grande porte na fachada do edifício.

Figura 6 – Torre Rosewood no Complexo Cidade Matarazzo

Fonte: Atelier Jean Nouvel (2012). Disponível em: . A aplicação do urbanismo biofílico resulta da articulação governamental e envolvimento da sociedade. Um exemplo disso é a cidade-estado Cingapura. Desde a década de 1960, por meio de várias políticas públicas, a cidade vem crescendo sua cobertura vegetal. Em 2012, durante a Cúpula das Cidades do Mundo, o governo local lançou o plano Singapura Green Plan 2012, com estratégias integradas, incorporando ciência e tecnologia, participação social, paisagismo ecológico e infraestruturas verdes. O objetivo do plano é “melhorar a biodiversidade, reduzir o efeito de ilha de calor urbana, melhorar o conforto térmico do ar livre, gerenciar a água através de picos de águas pluviais reduzidos e ajudar a reduzir o consumo de energia nos edifícios” (YOK et al., 2009 apud NEWMAN, 2014, p. 49).

Entre as estratégias estão os Parques Nacional (NParks) que se transformaram em centros de ensino e pesquisa em biodiversidade e estão interconectados em uma rede de corredores e trilhas verdes, como os Gardens by the Bay (Figura 7) que possuem super árvores como modelos de inovação e eficiência energética associada ao estímulo biofílico de aproximar as pessoas da natureza. As gigantescas estruturas em forma de árvores, com altura de 25 a 50 36

metros, estão interligadas por trilhas que permitem observações panorâmicas dos jardins e do horizonte da baía. A noite o jardim é utilizado para eventos culturais (GARDEN BY THE BAY, 2019).

Figura 7 – As torres Super Trees (Super Árvores)

Fonte: Garden by The Bay (2019). Disponível: . As estruturas gigantescas em forma de árvores estão localizadas no parque Garden by the Way na região central de Cingapura.

Outras estratégias empregadas envolvem: incentivos a criação de hortas e jardins comunitários nos telhados; estrutura de pesquisa para o aprimoramento das técnicas de jardins verticais no centro de horticultura Hort Park; introdução de regulamentos de planejamento que exigem vegetação em (e sobre) prédios; programas, como o Skyery Rise Greenery, que subsidia o urbanismo biofílico, sistema que avalia a sustentabilidade de novos desenvolvimentos. A gestão da água também é priorizada com a naturalização dos canais de concreto, que estão sendo demolidos e no solo adjacente estão sendo plantadas árvores para filtrar a água da chuva (NEWMAN, 2014).

Os exemplos de Tirana e Cingapura, assim como Medellín, citado no texto introdutório, sinalizam a possibilidade de regeneração do verde em áreas 37

urbanizadas, a partir da adoção biofílica no planejamento urbano, com estratégias verdes integradas, envolvimento da sociedade e incentivos governamentais.

Um fator relevante verificado nas estratégias de planejamento biofílico é educação ambiental, que vai além da educação formal. David Orr defende a necessidade de uma “alfabetização ecológica”, isto é, uma transformação mais profunda no conteúdo, processo e alcance da educação, sendo necessário o reconhecimento de “que o desequilíbrio dos ecossistemas reflete um desequilíbrio anterior da mente, tornando-o uma questão fundamental nas instituições voltadas para o aperfeiçoamento da mente” (ORR, 2006, p.11).

Orr destaca que toda educação é educação ambiental, pois por inclusão ou exclusão ensina que os seres humanos são partes integrais ou separadas do mundo natural. Em relação à alfabetização, “a meta não é o mero domínio de matérias específicas, mas o estabelecimento de ligações entre cabeça, a mão, o coração e a capacidade de reconhecer os diferentes sistemas” (ORR, 2006, p. 11).

Fritjop Capra define a educação ambiental como a “educação para uma vida sustentável”, que decorre da compreensão sistêmica da vida que é baseada em três fenômenos essenciais “o padrão básico de organização da vida é o da rede ou teia; a matéria percorre ciclicamente a teia da vida; todos os ciclos ecológicos são sustentados pelo fluxo constante de energia proveniente do sol” (CAPRA et al., 2006, p. 14).

1.5 ASPECTOS BIOFÍLICOS PARA ESPAÇO PÚBLICO

Com base no referencial teórico apresentado neste capítulo, nota-se interface dos conceitos e parâmetro e a relação direta entre arquitetura e técnicas urbanas, governança, políticas e programas urbanos, iniciativas associadas à preservação e educação ambiental, fatores necessários para consecução da biofilia no espaço público e, por consequência, realização do urbanismo biofílico

Tal interface é expressa no quadro síntese (Figura 8) que serviu de base para elaborar o instrumento metodológico necessário para coleta de dados durante a observação e análise nos locais selecionados na pesquisa.

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Figura 8 – Síntese de interfaces conceituais

Fonte: Adaptação da autora baseada em Gauzin-Müller (20110, Kellert (2018) e Beatley (2011).

O instrumento de coleta de dados que foi elaborado para viabilização da pesquisa foi Ficha para Análise Biofílica de Espaços Públicos Livres (Quadro 5). Por meio dele se buscou registrar os seguintes fatores durante a observação dos espaços: a existência ou ausência de elementos biofílicos, isto é, elementos que promovam experiência direta ou indireta da natureza ou experiência de lugar; as características do espaço que geram comportamento ou sentimento relacionado à biofilia; a relação que as pessoas têm com a vegetação, isto é, os valores que sentem em relação à natura; a governança e ação de instituições que motivem a preservação do espaço ou à educação ambiental.

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Quadro 5 – Ficha para Análise Biofílica de Espaços Públicos Livres

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL:

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

⃝ Luz natural ⃝ Ar (vento) ⃝ Figura da Natureza ⃝ Contexto ecológico ⃝ Plantas ⃝ Animais ⃝Textura ⃝ Geometria ⃝ Espaço de transição ⃝ Paisagens ⃝ Água Natural ⃝ Reúne pessoas em contexto ⃝ Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental ⃝ Passagem do tempo ⃝ Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética ⃝ Conexão Ecológica/Cultural ⃝ Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação a natureza Positivos Negativos

⃝ Afeto ⃝ Atração ⃝ Intelecto ⃝ Controle ⃝ Exploração ⃝ Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

⃝ Melhora relacionamento humano com a ⃝ Experiência autêntica da natureza natureza ⃝ Proporciona bem estar e saúde ⃝ Inter-relação e integração ao todo ecológico ⃝ Apego emocional ao espaço/paisagem/ lugar ⃝ Incentivo a e imersão aos processos naturais ⃝ Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

⃝ Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada

Fonte: Elaborado pela autora 40

Esses fatores são os objetos da investigação cujos resultados são expostos no Capítulo quatro – Análise Biofílica no Espaço Público da Avenida Paulista.

Contudo, para se chegar à definição dos locais selecionados para análise se fez necessária uma análise da situação atual das áreas verdes da cidade na região da Avenida Paulista e os possíveis indicativos históricos para a redução do verde e as políticas públicas a elas direcionadas. Um panorama dessa análise é apresentado no segundo capítulo, O Verde na Cidade de São Paulo e na Avenida Paulista.

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2 O VERDE NA CIDADE DE SÃO PAULO E NA AVENIDA PAULISTA

Para compreender a atual escassez de áreas verdes na cidade, especialmente na região central onde está localizada a Avenida Paulista, é preciso revisitar o processo de urbanização da cidade.

A cidade de São Paulo possui um índice de cobertura vegetal (ICV) de mais de 40%6, porém apresenta uma distribuição desigual de suas áreas verdes (Figura 9), com grandes concentrações florestais localizadas nos extremo norte, na Serra da Cantareira; e no extremo sul, na região de Parelheiros (REDE NOSSA SÃO PAULO, 2018).

Figura 9 – Concentrações florestais na cidade de São Paulo

Fonte: Adaptação da autora de Geosampa. Disponível em: .

6 O índice cobertura vegetal, avaliado com dados de 2013, considera vegetação arbórea, arbustiva e gramados em parques, praças, áreas vinculadas ao sistema viário, equipamentos institucionais (cemitérios, escolas, universidades, entre outros), lotes de propriedades particulares, áreas de reflorestamentos e unidades de conservação de proteção integral, como Parques Estaduais da Serra do Mar e o da Cantareira. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2019. 42

Em meio à massa urbanizada da cidade encontram-se espalhados fragmentos verdes, que compreendem tanto a vegetação natural secundária (floresta ombrófila densa, floresta ombrófila densa alto-montana, floresta ombrófila densa sobre turfeira e campos naturais) localizada nas porções mais preservadas nos extremo sul e norte da cidade; como as manchas verdes isoladas nas Áreas de Proteção Ambiental (como a APA do Carmo e Iguatemi, na zona leste); e as áreas verdes implantadas, como parques e praças municipais, arborização viária e os conjuntos vegetais (ou espécimes isolados) em terrenos particulares (SILVA FILHO, 2005).

A região central da cidade de São Paulo, de acordo com levantamento de Marcos Buckeridgde (2015), registra um dos mais baixo Índice de Cobertura Vegetal (ICV) da cidade e, portanto, teria alta prioridade para arborização (Figura 10). A região precisaria multiplicar em sete vezes o seu ICV para atingir a meta de pelo menos uma árvore por habitante (BUCKERIDGE, 2015).

Figura 10 – Áreas com Prioridade de Cobertura Vegetal (ICV)

Fonte: Adaptado pela autora de Buckeridge (2015, p. 89).

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Desta maneira, a baixa presença de áreas verdes na cidade reforça a ideia popular de São Paulo ser a “selva de pedra” e podendo ser classificada como uma “cidade mais cinza”, isto é, que dá ênfase às iniciativas econômicas, diferentemente das “cidades mais verdes” que priorizam as iniciativas de justiça social, segundo critérios de Runfola e Hugues apontados por Marcos Buckeridge (2015).

O trecho urbano alvo dessa dissertação, a Avenida Paulista, está localizada na região central da cidade de São Paulo (Figura 11) e tem uma extensão de 2,7 quilômetros divididos nos distritos de Consolação, Bela Vista e Paraíso. O espaço público da Avenida está sob a jurisdição da Subprefeitura Sé.

Figura 11 – Localização da Avenida Paulista

Fonte: Ortofoto 2017, Geosampa, com adaptações da autora.

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2.1 HISTÓRICO DO DECLÍNIO VERDE NA CIDADE DE SÃO PAULO

A cidade de São Paulo já foi coberta por grandes extensões de campos e algumas matas - sendo a mais expressiva a Caaguaçu (grande mata, em tupi-guarani) onde atualmente está localizado a Avenida Paulista (AZEVEDO, 1958).

A partir da metade do século XIX, a cidade inicia o seu processo de urbanização que tem como consequência uma completa transformação da paisagem da cidade e das características da vegetação local. Pouco restou dos antigos brejos, que foram drenados e aterrados, e dos campos originais. Sobrou apenas algumas formações de vegetação nativa, como as árvores remanescentes da Mata do Caaguaçu ainda existentes no interior do Parque Tenente Siqueira Campos/Trianon (SILVA FILHO, 2005).

Os primeiros projetos que visaram o desenvolvimento urbano da cidade, no início século XX, com tentativas de organizar o crescimento da cidade, se baseou na primazia do automóvel e na expansão do viário trazendo significativas consequências às paisagens naturais e qualidade ambiental da cidade (QUEIROZ; SOMEKH, 2013; BONZI, 2017).

Além dos impactos à qualidade ambiental, provocado pelo aumento da poluição e perda de áreas verdes, tal visão decretou a dispersão urbana sem controles, “impossibilitando que o projeto urbano pudesse ser aplicado de forma mais consistente e eficaz ao longo do desenvolvimento urbano da metrópole e de sua região metropolitana” (PADOVANO, 2012, p. 262).

Ao longo do século XX, foram promulgadas leis nas esferas federal, estadual e municipal que trouxeram reflexos para áreas verdes da cidade, como consta no levantamento de Harmi Takiya (2012, p. 8-11). As principais leis estão sintetizadas no Quadro 6, abaixo.

A Constituição de 1988 deu um passo importante na preservação do verde ao declarar em seu Capítulo VI, artigo 225:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 2016, p. 131).

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Quadro 6 – Leis com reflexos para o verde da cidade de São Paulo (1920 – 1970)

Ano Legislação Conteúdo

1923 Lei Municipal nº 2.611 Exige doação de 20% do lote (em zona urbana) para vias de circulação e 5% para espaço livre ajardinado, quando superior ou igual a 40 mil m2. Em zona suburbana este índice era de 7% e em zona rural de 10%).

1937 Decreto Lei nº 25 Organiza a Política de proteção ao Patrimônio Histórico e Artístico (base para Tombamento de elementos da paisagem natural)

1965 Lei Federal nº Torna obrigatória preservação da cobertura vegetal em 4771/65 margens de rios e córregos, encostas íngremes, topos de morros, etc. Código Florestal

1975 II Plano Nacional de Considera prioritários controle da poluição industrial, Desenvolvimento saneamento básico e ordenamento territorial. Aponta a Região Metropolitana de São Paulo como uma das áreas críticas de poluição no País.

1979 Lei Federal nº 6766 Dispõe sobre parcelamento do solo urbano; cita condições de resguardo da saúde pública e do meio ambiente. Lei Lehman

1981 Lei Municipal nº Disciplina parcelamento do solo: no mínimo 15% para 9413/81 áreas verdes, 20% para o sistema viário e 5% para áreas institucionais.

1987 Lei Municiapl Disciplina o corte e a poda de vegetação de porte arbóreo 10.365/87 existente no Município.

1988 Constituição Federal Artigo 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações”.

1989 Decreto Estadual nº Vegetação Significativa é declarada Patrimônio Ambiental 30443/89 do Município e, portanto, imune ao corte.

1990 Lei Orgânica do Determina que Município deve recuperar e promover o Município aumento de áreas públicas para implantação, preservação e ampliação de áreas verdes; prevê licenciamento prévio de atividades por meio de estudo de impacto ambiental com realização de audiências públicas; e cria instrumento o Relatório de Impacto de Vizinhança.

Fonte: Autora com informações de Takiya (2012).

Outras legislações importantes, anteriores à Carta Magna, deram contribuição à regulamentação e preservação de áreas verdes. O primeiro Código Florestal, de 1965, tornou obrigatória a preservação da cobertura vegetal em margens de rios e 46

córregos, encostas íngremes e topos de morros. As atuais leis de Proteção do Patrimônio Histórico e Natural, que surgiram a partir do Decreto Lei nº 25, do ano de 1937, ajudam a impedir a destruição de paisagens naturais e áreas vegetadas em equipamentos e imóveis tombados pelo patrimônio histórico.

Contudo, as diversas legislações não impediram a redução significativa da vegetação na cidade. Na última década do século XX, foram suprimidos 5.345 hectares da cobertura vegetal da cidade – o equivalente a 53 Parques Ibirapuera e a um terço da vegetação existente no perímetro urbano do municÍpio (SILVA FILHO, 2005). Tal declínio de cobertura vegetal indica que as normas legais não foram eficazes, por si só, na proteção da vegetação.

Ao logo do século XX, a cidade de São Paulo recebe uma sucessão de planos e projetos urbanos que não encontraram efetividade e que não atenderam a visão de sustentabilidade e preocupação ecológica defendida globalmente.

Na década de 1950, com o processo acelerado de metropolização, foi desenvolvido o Programa de Melhoramentos Públicos para a Cidade de São Paulo, conhecido como Relatório Moses, que visava o subsidiar as intervenções do poder público no espaço urbano com ênfase na estruturação viária e apresentava recomendações sobre parques e praças de recreio. Já se constatava a precariedade da destinação de 10% para áreas verdes, das glebas a serem loteadas, e sua localização, geralmente em ilhas do sistema viário e parceladas em pequenas áreas O plano não foi efetivado em sua totalidade, demonstrando a tradição brasileira de descontinuidade na gestão pública, que inviabiliza políticas estruturantes de planejamento urbano de longo prazo. No Plano Diretor de 1957, a questão das áreas verdes é sintetizada em uma frase, mas é pontuada a necessidade de ampliá-las. (TAKIYA, 20127).

Entre 1967 e 1969 alguns estudos importantes foram realizados para elaboração do Plano Urbanístico Básico, entre eles Plano do Vale Tietê, do urbanista Jorge Wilheim, e o Plano de Áreas Verdes de Recreação, de autoria de Rosa Kliass e Miranda Magnoli. Na década de 1970, o Plano Diretor de

7 Concerne ao Relatório Atlas Ambiental do Município de São Paulo – Fase 1: Diagnóstico e Bases para a definição de Políticas Públicas para as Áreas Verdes no Município de São Paulo, publicado em julho de 2012. 47

Desenvolvimento Integrado estabelece conceito Sistema de Áreas Verdes; instrumento do zoneamento; reduz padrão de densidade máximo.

O Plano Diretor de 1985 é o primeiro a enunciar a questão ambiental. Em 1988 é publicado o levantamento de toda a vegetação arbórea considerada significativa para o município, um documento intitulado Vegetação Significativa do Município de São Paulo. No Plano Diretor de 1991 foram definidas as zonas especiais (ZEPs) e se estabeleceu que a ocupação deveria acontecer respeitando- se a capacidade de suporte e a função no contexto urbano, como as áreas de proteção aos mananciais e as áreas de interesse ambiental, para as quais se definiram regras de preservação e recuperação.

Não obstante alguns avanços em termos de regulamentação percebe-se a resistência de alguns setores, especialmente o mercado imobiliário, para com os instrumentos urbanos mais contundentes, o que leva a uma desigualdade na efetivação do planejamento, com a regularização concentrada em regiões com população de maior poder aquisitivo (ROLNIK; KLINK, 2011).

Embora a questão ambiental tenha sido enunciada nos três últimos planos diretores do século XX e diagnósticos sobre a problemática ambiental tenha sido feitos, não resultara em propostas efetivas para “resolver os problemas ambientais prementes como as enchentes, a ocupação de áreas de risco e a poluição do ar” (QUEIROZ; SOMECK, 2003, p. 120). Em relação às áreas verdes, a real recuperação e preservação, dentro de uma visão sistêmica, demandam políticas públicas, planejamento, gestão e projetos ambientais que abracem o contexto social, cultural e ecológico (LIMA; BOUCINHAS, 2012).

Como descrito acima, as escolhas no processo de ocupação territorial da cidade ao longo do século XX geraram um quadro de degradação ambiental e de perda de biodiversidade na cidade. Desta forma, São Paulo chega ao século XXI com o grande desafio de se adequar à nova consciência global e visão de sustentabilidade urbana e restaurar o que foi perdido.

48

2.1.1 Declínio do verde na Avenida Paulista

Para compreensão da situação atual da cobertura verde na região da Avenida Paulista se faz necessário, por comparação, um resgate histórico da origem da Avenida.

A Avenida, que teve sua abertura oficial em 1892, é resultado de um loteamento planejado e liderado por Joaquim Eugênio de Lima, como descrito por Rocha Azevedo Filho (1954, p. 25):

[...] a grande artéria de 2.800 metros de extensão por 30 metros de largura, com os que sonhara Joaquim Eugênio de Lima. Assim, por sua conta e risco, contrataram os três sócios o agrimensor Tarquinio AntonioTarant, que, sob a fiscalização direta de Joaquim Eugênio de Lima, executa todo o plano por este elaborado: movimento de terra, arruamento, pavimentação, arborização, cercados, corte de transversais e o aterro do “Trianon”. Em seus primeiros anos, a Avenida conciliava os usos múltiplos de mobilidades (carros, bonde, pedestres, charretes) e compatíveis com os processos naturais de drenagem de águas pluviais até o seu asfaltamento em 1909.

A morfologia inicial da Avenida seguia traçado ortogonal em uma topografia plana em trecho do Espigão Central, constituindo um dos pontos de maior altitude na cidade. O loteamento foi estruturado com quadras de 150 a 200 metros de comprimento. A volumetria da via, com 30 metros de largura, se destaca como principal eixo, em relação às transversais e paralelas, seguindo modelos de boulevard francês, porém, com escala reduzida, uma vez que a largura do Champs Élysées, em Paris, por exemplo, é de 70 metros (CAMILLO, 2003).

O projeto de arborização viária seguia disposição linear e regular, com árvores de médio e grande porte (Figura 12, abaixo), demonstrando intenção projetual, uma vez que “a presença da vegetação dependendo do seu porte em relação a edificação pode criar planos que organizam e dominem o espaço urbano através da unificação” (MASCARÓ; MASCARÓ, 2002).

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Figura 12 – Avenida Paulista em 1902

Fonte: SPCity. Foto de Guilherme Gaenski (1902). Nesta fotografia verifica-se a Mansão Matarazzo à direita e a Serra da Cantareira ao fundo.

A presença de vegetação também era significativa nos jardins das mansões assobradadas isoladas no lote, diferenciando-se das quadras-bloco hausmannianas (URSINI, 2004).

Um remanescente de floresta original, citado no estudo Alfred Usteri8 como “maciço de mata virgem”, foi reservado para dar lugar a um parque projetado por Paul Villon. Essa área verde atualmente é o Parque Municipal Tenente Siqueira Campos (Figura 13), mais conhecido como Parque Trianon (SILVA FILHO, 2005).

8 O botânico austríaco Alfred Usteri publicou em 1911 o primeiro levantamento florístico da cidade de São Paulo. 50

Figura 13 – Imagem aérea da Avenida Paulista e Parque Trianon

Fonte: Google Earth. Imagem captada em novembro de 2019. Adaptado pela autora.

Até a década de 1940 a quantidade de árvores nas calçadas era destaque, de maneira que a Avenida era citada como a mais arborizada da cidade em reportagem do jornal O Estado de São Paulo, 21 de janeiro de 1942. O texto a descreve como uma “belíssima rua residencial” com 327 exemplares de ipês amarelos e 327 exemplares de ligustros (O ESTADO DE S. PAULO, 1942).

Em fotografia do ano de 1935 (Figura 14, a seguir) a arborização viária regular é notada no trecho entre as Ruas Augusta e Consolação, com árvores de copas altas que provocavam sombreamento na via ainda com trilhos de bonde. Também se observa nesse registro fotográfico intensa presença de vegetação nos jardins residenciais.

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Figura 14 – Avenida Paulista em 1935

Fonte: Álbum Iconográfico da Avenida Paulista, de Benedito L Toledo.

Vale lembrar que ligustros (Ligustrum lucidum), a espécie arbórea citada, é originária da China e foi muito utilizada na arborização viária da cidade de São Paulo no início do século XX, quando a preocupação com as espécies exóticas ainda não existia no planejamento urbano9.

O emprego de espécies nativas nos jardins e parques urbanos foi defendido pelo paisagista Roberto Burle Marx como forma de perpetuar espécies, manter coerência ambiental e dar oportunidade à população conhecer a riqueza botânica do País (LEISTER, 2016). Atualmente, estudos apontam os riscos da utilização de algumas espécies exóticas, especialmente as consideradas invasoras, para a preservação da biodiversidade, como foi verificado no Projeto de Enriquecimento

9 O Brasil é signatário do tratado da Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (1992), que determina medidas preventivas, de erradicação e controle de espécies exóticas invasoras. Em 2009, a Secretaria do Verde e Meio Ambiente de São Paulo lança a Portaria 154/09, que disciplina medidas visando à erradicação e ao controle de espécies vegetais exóticas invasoras e institui a Lista de Espécies Vegetais Exóticas Invasoras do Município de São Paulo. 52

Arbóreo do Parque Trianon10, que teve como objetivo controle da invasão biológica da palmeira australiana Seafórtia (Archontophoenix cunninghamii), muito utilizada no paisagismo dos condomínios da região, mas que ameaça a biodiversidade do Parque que é considerado o único remanescente de Mata Atlântica na região.

O padrão de arborização adotado nos primeiros anos Avenida, com distribuição regular de árvores de porte médio e alto, foi reproduzido em outros bairros destinados à elite e novos subúrbios direcionados às classes médias, tornando a arborização como um padrão de urbanização, seja nos jardins, parques, praças, alamedas, ruas arborizadas, parques compactos e calçadões (MACEDO, 1992). Por meio da unificação que provocam, esses projetos mostraram relevantes uma vez que o porte arbóreo em relação à edificação pode criar planos que organizam o espaço público e “formar cobertura vegetal aconchegante por quem passa por debaixo de suas copas horizontais” (MASCARÓ; MASCARÓ, 2002, p. 23).

Em 1936, uma alteração na lei de zoneamento da cidade permitiu a construção de edifícios na Avenida. A partir da década de 1950, quando a industrialização se intensificou no Brasil com o fortalecimento dos setores automobilísticos e da construção civil, houve forte impulso à verticalização. Neste período cresceu a quantidade de edificações com ocupação total do lote e diminuiu as áreas verdes e permeáveis, especialmente nas regiões mais centrais e valorizadas pelo setor imobiliário.

Já no fim da década de 1950 começaram a surgir os edifícios com fins comerciais na Avenida ocupando o lugar dos antigos palacetes e seus jardins. A residência de Horácio Belford Sabino (Figura 15) é demolida em 1953 para se tornar o atual Conjunto Nacional (Figura 16), inaugurado em 1956. O edifício, símbolo da arquitetura moderna, ocupa uma área de 14 mil e 600 metros quadrados (D’ALESSIO; SOUKEF; ALBARELLO, 2002).

10 Projeto da equipe técnica da Secretaria de Verde e Meio Ambiente teve início a partir de diagnóstico de crescimento anormal da população de palmeiras seafórtias entre os anos de 2013 e 2017. O projeto de manejo de retirada de 700 palmeiras exóticas e plantio de espécie nativa no prazo de dois anos, conta com recursos do Fundo Especial do Meio Ambiente (Fema) do Município 53

Figura 15 – Residência de Horácio Belford Sabino (sem data)

Fonte: Série Avenida Paulista. Disponível em: .

Figura 16 – Edifício do Condomínio Conjunto Nacional em 1961

Fonte: Condomínio Conjunto Nacional. Disponível em: . O edifício do Condomínio Nacional é composto por dois blocos que juntos ocupam a quadra inteira 54

A gradual substiuição de palacetes e seus jardins por edifícios comerciais na Avenida é apresentada de maneira detalhada na tese de doutorado Avenida Paulista: um projeto de paisagem, Olacir Falcirolli de Camillo (2003).

Com o consequente desaparecimento dos jardins das antigas mansões e palacetes reduz-se as áreas permeáveis e índice de cobertura vegetal da Avenida, afetando o potencial de drenagem natural da água da chuva e os demais benefícios proporcionados pelas árvores, como controle da poluição atmosférica e sonora, diminuição de ilhas de calor e áreas de sombra.

No espaço público ocorreu o declínio da presença de vegetação devido à fragmentação do antigo projeto de arborização viária, antes marcada pela presença de ipês de grande porte (Figura 17).

Figura 17 – Arborização da Avenida Paulista em 1966

Fonte: Acervo Estadão. À esquerda, Conjunto Nacional e esquina com . Nos dois lados da Avenida ainda existem uma sequência regular de árvores plantadas nas calçadas

Em 1968, obras de alargamento da pista levaram à desapropriação de 10 metros de cada lado da Avenida, eliminando alguns jardins dos casarões existentes. 55

A Avenida passa a ter, com essa alteração, 48 metros de largura, sendo 16 metros para pistas de carros e 6 metros para as calçadas. Em 1972, por conta das obras iniciais do projeto Nova Paulista, que seria interrompido em 1973, cerca de 120 ipês foram cortados (SACONI; ENTINI, 2015).

No projeto original, de Rosa Kliass, para a Avenida, previa-se canteiros ao nível do piso, privilegiando travessia dos pedestres. “O projeto paisagístico da avenida foi pensado incorporando os acessos pré-existentes, a intensa circulação de pedestres prevista e a necessidade de devolver ao público um pouco dos jardins perdidos” (KATHOUNI, 2008, p. 1). O que se verifica, no entanto, foi a instalação de muretas de delimitação dos canteiros tornando-as similares a jardineiras.

Embora não tenham sido localizadas informações precisas sobre o ano da instalação das jardineiras de concreto na Avenida, a Prefeitura de São Paulo contabiliza, em 2002, 50 jardineiras ao longo da Avenida, 43 das quais no canteiro central (CIDADE DE SÃO PAULO, 2012). De acordo com a Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras em reportagem ao Portal G1 (AVENIDA PAULISTA, 2008), uma das razões para instalação das jardineiras é impedir a passagem dos pedestres em locais indevidos (Figura 18).

Figura 18 – Jardineiras no canteiro central da Avenida Paulista

Fonte: Juliana Carilli (AVENIDA PAULISTA, 2008).

Entre os anos de 2007 e 2009, foram realizadas obras de reforma da calçada e dos canteiros da Avenida. O piso de mosaico português foi substituído por 56

concreto moldado em bloco e, as jardineiras do canteiro central foram mantidas, tendo a vegetação substituída várias vezes. Contudo, em 2015, para instalação da Ciclovia da Avenida Paulista, as jardineiras do canteiro central foram removidas. Em 2009, por conta das reformas das calçadas, 108 árvores foram retiradas, contabilizando-se, à época, apenas 250 árvores restantes na Avenida (SACCONI; ENTINI, 2015).

A diminuição de árvores nas calçadas em contraponto à presença intensa das edificações verticalizadas acaba por impactar a percepção da paisagem pelo pedestre, como explica Lucia Mascaró (2002, p. 13): “quando o recinto urbano é dominantemente alto, perdem-se as características ambientais da vegetação, ficando apenas as de ornamentação e estas muito diminuídas”.

Tal fato foi verificado em pesquisa informal11, realizada em 2018 com frequentadores diários da Avenida. As características arquitetônicas e o uso democrático da Avenida foram apontados pelos entrevistados como fatores marcantes na paisagem. Em contraste, os elementos naturais e árvores foram poucos citados. A única referência de elementos da natureza apontada pelos entrevistados foi o Parque Trianon (MORAES, 2018).

Apesar da redução histórica de vegetação no espaço público, surgiram propostas e projetos urbanos que, se efetivados, trariam impactos positivos no incremento de área verde e arborização da Avenida. Entre eles: a já citada proposta de paisagismo de Rosa Kliass, da década de 1970, para o projeto Nova Paulista; o Programa de Requalificação Urbana e Funcional da Região da Paulista (Propaulista), resultado de concurso oficializado por Decreto Municipal nº 38578, de 8 de novembro de 1999.

No estudo sobre Sistematização e Avaliação de Traçado para Percurso do Sistema Cicloviário do Município de São Paulo, realizado pelo Instituto Energia e Meio Ambiente e pela consultoria TC Urbes, trouxe proposta de ciclovia diferente da que foi implantada. Na ilustração (Figura 19) apresentada na proposta, a ciclovia estaria nas laterais da via e seria arborizada; o canteiro central seria usado para desembarque de passageiros de ônibus com espaço reservado para vegetação.

11 A pesquisa serviu de base para artigo. MORAES, Dulce. Em busca das ambiências urbanas e percepções da natureza na Avenida Paulista. Comunicação In Natura. Publicado em: 29 jun. 2918. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2019. 57

Figura 19 – Ilustração do Projeto de Ciclovia da Avenida Paulista

Fonte: Vadebike. Disponível em: .

Essas propostas e estudos, no entanto, não se efetivaram, contribuindo para o atual estágio de baixa presença do verde na Avenida que será apresentado no terceiro capítulo.

2.2 INICIATIVAS PÚBLICAS PARA O VERDE DA CIDADE

No início do século XXI, a gestão das cidades brasileiras ganha novo rumo com a publicação do Estatuto da Cidade (Lei Federal nº 10.257) que é o marco legal que regulamenta o capítulo Política Urbana da Constituição Federal de 1988. O Estatuto define dos Planos Diretores Municipais e tem como princípios básicos o planejamento participativo e a função social da propriedade. 58

Os planos diretores dos municípios, junto com outras regulamentações municipais – como a Lei de Parcelamento Uso e Ocupação do Solo, os Planos das Prefeituras Regionais e o código de obras e edificações – podem tem impactos na cobertura vegetal da cidade, pois trazem instrumentos que propiciam, por exemplo, a criação de novas áreas verdes urbanas ou preservação das já existentes.

Para efeitos de um breve panorama das iniciativas mais recentes no tocante ao incremento de áreas verdes de São Paulo, esta dissertação se ateve ao Plano Diretor Estratégico 2014 (PDE 2014), que é o mais recente e ainda em vigor. O plano visa organizar o desenvolvimento e crescimento da cidade de São Paulo até o ano de 2030.

O PDE 2014 estabelece como diretrizes, que vão ao encontro do Urbanismo Sustentável e Biofílico tratado nesse estudo, tais como: conservar e recuperar o meio ambiente e paisagem; conservar a biodiversidade, reduzir a contaminação ambiental, melhorar a relação áreas verdes por habitantes, proteger os recursos hídricos e mananciais de abastecimento, reduzir enchentes, incentivar hábitos e práticas que visem a proteção de recursos ambientais, minimizar ilhas de calor, minimizar impermeabilização do solo, compatibilizar a proteção ambiental com o desenvolvimento econômico sustentável e qualidade de vida da população.

A agenda ambiental definida pelo Plano estabeleceu como metas: ampliar áreas verdes com instalação de novos parques; criar do Fundo Municipal de Parques; e criação do Sistema de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres (Sapavel), que articula o a elaboração de planos específicos para a proteção ecológica da cidade que são: o Plano Municipal da Mata Atlântica, o Plano Municipal de Áreas Protegidas, Áreas Verdes e Espaços Livres (Planpavel), o Plano Municipal de Conservação e Recuperação de Áreas Prestadoras de Serviços Ambientais e o Plano Municipal de Arborização Urbana.

O PDE 2014 demarcou as zonas especiais de proteção ambiental (Zepam), que devem ser protegidas por prestarem significativos serviços ambientais, entre quais os parques urbanos. Uma iniciativa anterior que tem relevância para a preservação dos parques é a criação dos Conselhos Gestores nos Parque Municipais (Lei Nº 15.910/2013), que garante a participação da sociedade civil no planejamento, gerenciamento e fiscalização das atividades que ocorrem nos parques. 59

Cinco anos após o lançamento do PDE 2014, os resultados obtidos até novembro de 2019 foram: a criação dos Parques do Chuvisco, Parque Linear Feitiço e Parque Chácara do Jockey - portanto, três dos 178 que o Plano prevê para implantação e planejamento. O Plano Municipal da Mata Atlântica foi concluído. Porém, os demais ainda seguem em elaboração.

O instrumento relacionado ao custeio para conservação dos parques – o Fundo Municipal de Parques – foi criado, mas carece de política pública para sua viabilização e implementação. Como alternativa para custeio de preservação, a Prefeitura de São Paulo, lançou, em 2017, um plano de concessão dos parques à iniciativa privada, aprovado em 2019, e cujo modelo encontrou resistência por parte da sociedade civil que reivindica maior transparência do processo licitatório e planos diretores que garantam preservação e equilíbrio ecológico (SETTO, 2019).

Outros instrumentos públicos e a mobilização social, contudo, resultaram na criação de novos parques. O instrumento Transferência do Direito de Construir, previsto no artigo 35 do Estatuto da Cidade, permitiu a criação do Parque Augusta, em 2019, como resultado de mobilização da sociedade civil.

Também pela mobilização da sociedade civil foi proposto a criação do Parque , que foi aprovada pela Câmara dos Vereadores, mais aguarda sanção da Prefeitura para ser viabilizado (VIEIRA, 2019).

Os dois parques citados estão localizados na região central da cidade caracterizada pelo alto grau de adensamento e verticalização e baixo índice de área verde. Estão próximos da Avenida Paulista e têm em comum o fato de serem frutos de mobilização social e contrariam interesses do setor imobiliário.

Para ampliar a biodiversidade na região central da cidade e estimular educação ambiental, uma iniciativa recente da Subprefeitura Sé é projeto Bosques de Conservação Urbana que tem por objetivo reflorestar áreas livres degradas no centro da cidade, localizadas em canteiros ao lado de vias de grande tráfego. Essas novas áreas verdes são cercadas por grades, nos moldes dos parques urbanos, e o acesso do público acontece com agendamento prévio, desde que para fins científicos, pedagógicos e culturais. Em 2019 foram implantados o Bosque das Maritacas, na Avenida do Estado, na esquina com a Rua da Figueira, próximo ao Parque Dom Pedro II; o Bosque do Bem-te-vi, na Rua Antônio de Sá, próximo ao 60

viaduto do Glicério; e Bosque dos Sabiás, na Avenida 23 de Maio (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2019).

Outros espaços públicos e praças na cidade são utilizados para a prática de hortas comunitárias empreendidas e organizadas por movimentos da sociedade civil, como a Horta do Centro Cultural São Paulo e Horta das Corujas (ABREU, 2019). Nem todas essas iniciativas conseguem ter continuidade. A horta comunitária da Praça do Ciclista, na Avenida Paulista, com sete anos de existência, foi desativada temporariamente em 2019, aguardando o projeto de revitalização da praça aprovado pela Subprefeitura Sé.

Sob o viés do Urbanismo Biofílico muitas das iniciativas citadas acima são benéficas por trazer mais verde para o ambiente urbano, no entanto, a exemplo do que se verificou em relação ao século XX, a continuidade das iniciativas e a visão sistêmica são fundamentais para se garantir efetividade dos projetos. A sustentabilidade dos programas precisa estar baseada em instituições biofílicas, isto é, “ações ou movimentos que são incentivadas pelo poder público, de forma a promover a educação ambiental, capacitar o cidadão e assim, em apoio mútuo, promoverem atividades de cunho biofílico” (ABREU, 2019, p. 115).

Nos capítulos terceiro e quarto serão apresentados os resultados verificados na investigação desses aspectos realizada na Avenida Paulista e em seus espaços livres de uso público.

61

3 ANÁLISE DA PRESENÇA DO VERDE NA AVENIDA PAULISTA

Este capítulo se destina a cumprir o primeiro objetivo específico desta dissertação: verificar a presença de “verde”, isto é, espaços vegetados, na Avenida Paulista.

A análise inicial se concentrou na verificação de presença de árvores nas calçadas, isto é, a arborização viária. A vegetação costuma ser empregada no desenho urbano para caracterizar os espaços livres da cidade, motivo pelo qual Haussmann chegou a desenvolver sistema de transplantes de árvores adultas para inauguração de seus boulevares e avenidas (MASCARÓ; MASCARÓ, 2002).

A arborização viária proporciona vários benefícios, como barreira acústica, diminuição da poluição atmosférica, amenização da radiação solar, atenuação dos ventos, diminuição da temperatura, pelo sombreamento. Desta forma, contribui para melhorar os microclimas urbanos (MASCARÓ; MASCARÓ, 2002).

Como descrito anteriormente, a Avenida, antes do alargamento da via, exibia uma arborização viária contínua com distanciamento regular entre os exemplares arbóreos. No entanto, em consulta ao Mapeamento da Arborização Viária da Prefeitura da Cidade de São Paulo, com dados de 2017, nota-se tanto a existência de agrupamentos arbóreos em certos trechos das calçadas como significativos vazios.

O padrão fragmentado e irregular verificado na arborização viária da Avenida difere do encontrado nas ruas do entorno (Figura 20, abaixo). Nas alamedas Santos, Jaú e Itu, que são paralelas à Avenida, nota-se maior número de árvores e menor espaçamento entre elas.

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Figura 20 – Mapeamento da Arborização Viária – Região da Avenida Paulista

Fonte: Mapa Digital de São Paulo/Geosampa (Dados 2017).

Ainda, observando os dados do mapeamento de arborização, verifica-se total ausência de árvores nas calçadas da quadra entre as ruas da Consolação e Augusta (Figura 21), no lado ímpar da Avenida.

Figura 21 – Detalhe do Mapeamento de Arborização Viária da Avenida Paulista

Fonte: Mapa Digital de São Paulo/Geosampa: Camada de Arborização Viária (DADOS, 2017). 63

Entretanto, na visita presencial a esse trecho, é constatada a presença de três árvores na calçada (Figura 22) e integração ao projeto de paisagismo do recuo da entrada da estação de metrô Consolação.

Figura 22 – Arborização viária na Avenida Paulista (esquina Rua da Consolação)

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Se por meio da unificação e organização, a presença da vegetação exerce domínio na paisagem dependendo do seu porte (MASCARÓ; MASCARÓ, 2002), o mesmo ocorre com as edificações. Desta maneira, se observa nas quadras com edificações verticalizadas sem recuo no lote – como entre as Ruas Haddock Lobo e Rua Augusta – uma relação de predomínio do artefato sobre o natural (Figura 23).

Figura 23 – Edifícios da Avenida Paulista entre as Ruas Haddock Lobo e Augusta

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019. 64

Vale lembrar que a forma, frequência e dimensão do elemento, interferem na relação das pessoas com a paisagem. A forma, cor ou arranjo dos elementos estão relacionados à “formação de imagens mentais do ambiente fortemente identificadas, poderosamente estruturadas e altamente úteis” (LYNCH, 1960, p. 9).

A desproporção espacial e volumétrica entre árvores e os edifícios da Avenida faz com que os elementos arquitetônicos se imponham visualmente para o pedestre deixando os elementos arbóreos quase imperceptíveis. É o que se observa na calçada em frente ao Edifício São Luiz, entre Ruas Haddock Lobo e Bela Cintra (Figura 24). As poucas (ou pequenas) árvores se tornam despercebidas em relação à edificação, isto porque “quando o recinto urbano é dominantemente alto, perdem- se as características ambientais da vegetação, ficando apenas as de ornamentação e estas muito diminuídas” (MASCARÓ; MASCARÓ, 2002, p. 13).

Figura 24 – Calçada da Avenida Paulista em frente ao Cond. Ed. São Luiz

Fonte: Foto registrada pela autora nem novembro de 2019.

A situação inversa é constatada em lotes com predomínio de vegetação em relação às estruturas edificadas. À frente do Parque Prefeito Mario Covas, próxima a esquina com a Alameda Ministro Rocha de Azevedo, há na calçada apenas uma árvore – uma Paineira Vermelha da Índia (Bombax ceiba) – (Figura 25), porém se tem a percepção de mais verde devido às árvores no Parque.

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Figura 25 – Avenida Paulista, trecho em frente ao Parque Mario Covas

Fonte: Google Maps. Captura de imagem em julho de 2019.

A falta de padronização no plantio das árvores é constatada ao longo da Avenida. Em uma mesma calçada, como no trecho entre a Praça Oswaldo Cruz e Rua Teixeira da Silva, notam-se árvores plantadas diretamente na calçada e outras em jardineiras de concreto (Figura 26).

Figura 26 – Arborização viária na calçada e em jardineiras

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Em algumas quadras nota-se grande distância na arborização viária; em outras há certa regularidade, como na calçada à frente ao Condomínio Queen Elizabeth (Figura 27), ao lado da Casa das Rosas, no início da Avenida. 66

Figura 27 – Arborização viária em jardineiras de concreto

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Ainda concernente à arborização viária da Avenida nota-se que, em alguns trechos, maior integração ao paisagismo dos edifícios, em virtude do recuo das edificações. Na frente Shopping Cidade de São Paulo (Figura 28), exemplares de pau-ferro (Libidibia ferrea) plantados no recuo à frente da edificação criam uma coerência visual com as árvores existentes na calçada.

Figura 28 – Calçada à frente do Shopping Cidade de São Paulo

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019. 67

Neste trecho da Avenida se observa que o recuo da edificação (Figura 29) cumpre uma função de calçada arborizada. De acordo com o arquiteto paisagista Benedito Abbud, responsável pelo projeto, a escolha por essas árvores homenageia as espécies nativas da Mata Atlântica e a vegetação do Parque Trianon.

Figura 29 – Área de recuo à frente do Shopping Cidade de São Paulo

Fonte: Foto registrada pela registrada em novembro de 2019.

Ainda sobre a relação entre a arborização viária e o paisagismo dos edifícios, não se observa uma preocupação geral de estabelecer sinergia com a ecologia local ou espécies nativas.

O paisagismo na área de recuo do Edifício Coopersucar (Figura 30), localizado no número 287 da Avenida, adota um design contemporâneo com uso de espécies exóticas como as palmeiras triangulares (Dypsis decaryi), originária de Madagascar. A área ajardinada, que ocupa os recuos frontais e laterais, não tem relação direta com a arborização da calçada. 68

Figura 30 – Paisagismo do Edifício Coopersucar

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Ainda que não se use espécies nativas, a presença arbórea nos recuos contribui para permeabilidade do solo e seus vazios proporcionam respiros visuais e ajudam a diminuir a aridez da paisagem da Avenida, provocada pelo excesso de estruturas edificadas de grande dimensão.

A integração do paisagismo dos condomínios com o espaço público se apresenta de duas outras maneiras: vasos nas calçadas e jardins verticais. Na calçada do Hospital Santa Catariana estão dispostos vasos (Figura 31) que cumprem função estética e barreira física para proteção dos painéis da exposição permanente História da Medicina, instalada na fachada do edifício.

Figura 31 – Vasos na calçada do Hospital Santa Catarina

Fonte: Foto registrada pela registrada em novembro de 2019. 69

São verificados também jardins verticais com vistas para o espaço público na entrada principal do Shopping Center 3 e do Condomínio Cetenco (Figura 32).

Figura 32 – Jardim Vertical no paisagismo do Condomínio Cetenco

Fonte Foto registrada pela registrada em novembro de 2019.

Estruturas verdes, como jardins verticais, podem atrair a atenção e exercer um apelo visual estético aos pedestres. No entanto, para que não sejam apenas decorativas, Stephen Kellert destaca a importância de estarem “relacionadas às características culturais e ecológicas do lugar” (KELLERT, 2018), oferecendo um relacionamento mais profundo das pessoas com a natureza. Vale destacar que, ainda que isoladamente ofereçam poucos serviços ambientais, os impactos cumulativos dessas estruturas vegetadas, como os telhados verdes ou jardins verticais, podem ser significativos para a cidade (BEATLEY; NEWMAN, 2013).

De maneira geral, o que se constata na pesquisa é a ocorrência de vegetação na Avenida apresenta-se incipiente e fragmentada. Não se verifica um padrão de regularidade na disposição da vegetação ao longo da avenida e nem tampouco se identifica um elemento integrador ou unificador – espacial, conceitual, estilístico ou ecológico – capaz de caracterizar a Avenida como paisagem única.

Os exemplos de tentativas de integração dos elementos paisagísticos dos condomínios com a arborização do espaço público sinalizam possibilidades de incremento da presença do verde na Avenida o que poderá trazer ganhos ecológicos, econômicos, sociais com melhora da qualidade de vida para a população. 70

Os projetos de Cingapura citados anteriormente, que comprovam que o adensamento urbano e a verticalização não são empecilhos para tornar um território urbano mais verde (NEWMAN, 2014), mostram possibilidades de a Avenida Paulista tornar mais arborizada e verde, a despeito da densidade urbana e arquitetura verticalizada existente.

Desta maneira, este capítulo cumpre um dos objetivos específicos da dissertação que é verificar a presença de espaços vegetados na Avenida Paulista.

No capítulo seguinte serão atendidos os dois outros objetivos específicos da pesquisa: examinar existência de estímulo ao contato humano com a natureza (biofilia) no espaço público e refletir sobre possíveis consequências para a sustentabilidade urbana e ecológica da cidade.

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4 ANÁLISE DA BIOFILIA NO ESPAÇO PÚBLICO DA AVENIDA PAULISTA

Para examinar a biofilia no espaço público, isto é, a existência de estímulo ao contato humano com a natureza, a pesquisa concentrou-se em oito espaços livres de uso público (Figura 33) que atendem ao conceito de Llardent12: Praça Oswaldo Cruz; Jardim da Casa Das Rosas; Praça do Shopping Cidade de São Paulo; Parque Tenente Siqueira Campos/Trianon; Parque Prefeito Mario Covas; Praça do Ciclista; Praça Marechal Cordeiro de Farias/Praça dos Arcos; e Paulista aos domingos, isto é, a própria Avenida quando assume a configuração de rua de lazer.

Figura 33 – Espaços Livres de Uso Público selecionados na Avenida Paulista

Fonte: elaborado pela autora com base no mapa do Geosampa.

A análise dos espaços, descrita a seguir, foi realizada a partir da observação in loco dos espaços, em dois domingos no mês de novembro de 2019. Como instrumentos de coleta de dados e apoio foram utilizados: registros fotográficos e a Ficha para Análise Biofílica de Espaços Públicos Livres (APÉNDICES A - I), para identificar e analisar os seguintes fatores: a existência ou ausência de elementos biofílicos (elementos que promovam experiência direta ou indireta da natureza ou experiência de lugar0; as características do espaço que geram comportamento ou

12 Vide página 17 72

sentimento relacionado à biofilia; a relação que as pessoas têm com a vegetação, (ou os valores que sentem em relação à natureza); e a governança e ações que motivem a preservação do espaço ou promovam educação ambiental.

4.1 PRAÇA OSWALDO CRUZ

A Praça Oswaldo Cruz é o início da Avenida Paulista e compreende uma área de quatro mil m2 localizada entre os cruzamentos da Avenida Paulista com Avenida Bernardino de Campos, Rua Treze de Maio e Rua Doutor Rafael de Barros, no bairro do Paraíso. O espaço está sob a jurisdição administrativa da Subprefeitura Vila Mariana.

A primeira constatação em relação a Praça é o seu traçado dividido em dois lados com características de uso e estados de conservação diferentes. Por esse motivo, para efeitos de análise, se considera dois espaços livres: a Praça lado A (APÊNDICE A), que corresponde ao trecho voltado para Rua 13 de maio e ao centro cultural Japan House; e o Praça Lado B (APÊNDICE B), que é o trecho voltado à Avenida Bernardino de Campos e a Rua Doutor Rafael de Barros.

A luz solar e o ar (ou vento), dois elementos biofílicos que proporcionam experiência direta da natureza (KELLERT, 2018), são observados nesses e em todos os outros espaços analisados, por serem espaços livres e a céu aberto.

Contudo, o elemento biofílico predominante nos dois lados da Praça é a vegetação que se encontra disposta em canteiros circundados por muretas. Há, tanto árvores de grande porte, que proporcionam sombra aos frequentadores da Praça, quanto espécies ornamentais, como a palmeira triangular (Dypsis decaryi) e agave variegata (Furcraea foetida), não nativas (Figura 34).

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Figura 34 – Vegetação da Praça Oswaldo Cruz

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Na Praça Lado A (Figura 35) verifica-se bom estado de conservação da vegetação e do mobiliário urbano e também amplos espaços de circulação de pedestres. Nota-se a presença de pessoas frequentam o espaço e utilizam os assentos para encontros ou descanso, usufruindo a sombra das árvores, e demonstrando valores positivos em relação à natureza, como atração e apreço.

Figura 35 – Lado A da Praça Oswaldo Cruz como espaço de convivência

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Na Praça lado B (Figura 36) constata-se, no período pesquisado, menor grau de conservação da vegetação e do mobiliário urbano. Os visitantes no espaço são majoritariamente pessoas em situação de rua que utilizam o espaço como moradia improvisada. Nesse sentido, foram observados valores negativos em relação à natureza, como exploração do espaço, uma vez que os objetos e barracas encontram-se sobre os canteiros, comprometendo a preservação da vegetação. 74

Figura 36 – Lado B da Praça Oswaldo Cruz

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

No ponto central da Praça Lado B há o Índio Pescador (Figura 37), uma escultura de bronze que oferece experiência indireta da natureza, ao fazer alusão à relação mais harmônica entre homem e natureza. Como expressa Kellert (2018), por suas formas simbólicas e metafóricas, as esculturas projetam pensamentos, imagens e sentimentos que podem ser biofílicos. Contudo, sinais de vandalismo verificados no monumento demonstram valores contrários à biofilia.

Figura 37 – Monumento Índio Pescador na Praça Oswaldo Cruz

Fonte: Foto registrada pela autora em janeiro de 2018. 75

Outro aspecto observado é que, por ser cortada por vias com grande tráfego de veículos, cada lado da Praça apresenta diferentes dinâmicas de uso que interferem na experiência biofílica de lugar. Nota-se ausência de “conexões ecológicas e culturais” e “integração de partes ao todo” (KELLERT, 2018, p. 24).

Já os diferentes estados de conservação e preservação do verde verificados estão associados à governança desse espaço público. A zeladoria da Praça é de responsabilidade da Subprefeitura Vila Mariana. Porém, por se avizinhar à Avenida Paulista e Rua Treze de Maio, que estão na jurisdição da Subprefeitura Sé, ações de preservação dos espaços são discutidas com as duas Subprefeituras.

Em 2019, a Subprefeitura Vila Mariana anunciou proposta de mudanças no traçado viário e um novo projeto de revitalização da Praça. À época da pesquisa, tais iniciativas estavam sendo discutidas com os representantes dos moradores da Vila Mariana, da Avenida Paulista e a Associação Paulista Viva. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2019). Possíveis mudanças podem, no futuro, contribuir para maior integração entre os dois lados da Praça e estimular comportamentos relacionados à preservação ambiental do espaço

Em síntese, nota-se que a presença de árvores contribui para uma experiência de natureza, porém não necessariamente incentiva a imersão aos processos naturais, ou o sentimento de participação em comunidade e nem proporciona apego ao espaço, fatores esses que garantiriam a preservação ambiental e integração com o todo ecológico.

Não foram verificadas, no entanto, ações institucionais que promovam educação ambiental, essencial para a sustentabilidade do espaço que por sua biodiversidade tem relação ecológica como outros fragmentos verdes próximos, como os jardins dos Hospitais Oswaldo Cruz e Santa Catarina e do espaço cultural Casa das Rosas, que é analisado a seguir.

4.2 JARDIM DA CASA DAS ROSAS

A Casa das Rosas, localizada no número 37 da Avenida, é um espaço cultural simbólico que abriga um dos poucos palacetes do início do século XX ainda existente na região. Construída em 1935 para fins residenciais, a casa e seu jardim 76

foram convertidos em espaço cultural pelo governo estadual, no ano de 1991, sendo reinaugurada como Casa das Rosas/Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literaturas, em 2004.

Para efeito desta pesquisa, o espaço é aqui chamado de Jardim da Casa das Rosa e constitui a área externa da Casa. Importante lembrar que a casa e o jardim estão localizados no mesmo lote que o Edifício Condomínio Parque Paulista e o restaurante Caffé Ristoro, os quais estão interligados por uma alameda que ladeia o jardim de roseiras. O Caffé Ristoro (Figura 38) ocupa parte da alameda instalando mesas ao ar livre.

Figura 38 – Paisagismo Casa das Rosas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Nesse espaço livre nota-se a ocorrência de vários elementos biofílicos (APÊNDICE C) que proporcionam experiência direta e indireta da natureza, bem como, experiência de lugar.

Tanto o jardim formal com roseiras e o projeto de paisagismo do espaço oferecem a sensação de imersão da natureza. Na área verde próximos ao Edifício Parque Paulista (Figura 39) nota-se maior concentração de árvores, cujas copas proporcionam áreas de sombreamento e temperatura amena. Nessa área é possível ouvir o som dos pássaros atraídos pelas espécies frutíferas. 77

Figura 39 – Árvores do Paisagismo Casa das Rosas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Por meio de alguns elementos do projeto de paisagismo se observa a possibilidade de experiência direta e indireta da natureza, como a pérgola que cria túnel de visitação e, por vezes, é também utilizada para exposições fotográficas (Figura 40). A estrutura erguida em tela de metal vazada permite que as pessoas que passam sob ela tenham contato visual com o entorno e possam observar, por exemplo, as folhas das árvores caindo, a entrada de luz natural e detalhes do jardim.

Figura 40 – Pérgola do Paisagismo Casa das Rosas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

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Observa-se que elementos como as esculturas no jardim e a fonte de água/chafariz também proporcionam experiência indireta da natureza e atraem a atenção dos visitantes, principalmente, das crianças (Figura 41).

Figura 41 – Elementos do paisagismo da Casa das Rosas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

O jardim com diferentes tipos de roseiras (Figura 42), como elemento principal do espaço, reúne várias características biofílicas e garante a experiência de espaço e lugar. O contexto ecológico pode ser notado pela presença de insetos polinizadores (borboletas) em torno das roseiras. Também há a integração do jardim com o paisagismo geral do espaço.

Figura 42 – Jardim de Roseiras

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

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O estilo formal do jardim com cercas vivas topeadas segue o estilo da própria arquitetura da Casa (figura 43), que são exemplares históricos da Avenida Paulista e que expressam a conexão ecológica e cultural do espaço.

Figura 43 – Arquitetura e Jardim da Casa das Rosas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Nota-se que o jardim desperta valores e comportamentos positivos em relação à natureza, como o interesse em registrar em fotos as rosas (Figura 44) e a curiosidade em saber o nome científico e origem, informados nas placas. A programação cultural do espaço também estimula o senso de comunidade em contato com a natureza, como as exibições de filmes ao ar.

Figura 44 – Público visitando Jardim da Casa das Rosas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019. 80

A preservação e governança o espaço tem participação do poder público, iniciativa privada e sociedade civil. Tombada pelos órgãos do patrimônio histórico, a Casa das Rosas é mantida pela Secretaria Estadual de Cultura e administrada pela organização não-governamental Poiesis Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura. No lote há o Edifício Condomínio Parque Paulista e restaurante Caffé Ristoro que possuem interesse na preservação do espaço e manutenção das características que estimulam comportamentos biofílicos nos visitantes.

Em síntese o Jardim da Casa das Rosas é um espaço livre de uso público que evoca valores positivos em relação ao mundo natural (afeto, atração, conhecimento, simbolismo) e, consequentemente, contribui para a preservação do verde neste espaço na Avenida. Além disso, possui fatores de conexões ecológicas que contribuem para a biodiversidade de outros espaços na região.

4.3 PRAÇA DO SHOPPING CIDADE DE SÃO PAULO

O jardim externo do Shopping Cidade de São Paulo é um espaço privado de fruição pública também utilizado por transeuntes para descanso e encontros. Por esse motivo, nesta análise é denominado de Praça do Shopping Cidade de São Paulo.

A Praça ocupa uma área de 2,4 mil m² na lateral do shopping voltada à Rua Pamplona (Figura 45), entre a Avenida Paulista e alameda São Carlos do Pinhal.

Figura 45 – Jardim aberto ao lado do Shopping Cidade de São Paulo

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019. 81

O elemento biofílico preponderante no espaço é a vegetação (APÊNDICE D) cuja visualização é ampliada pelo reflexo na superfície espelhada da lateral do Shopping, notando-se uma experiência direta e indireta da natureza.

Quem transita pelo percurso projetado (Figura 46) visualiza, por diversos ângulos, os canteiros cobertos por vegetação rasteira e as árvores de grande porte e palmeiras. A luz solar é filtrada pela vegetação o que confere temperatura mais amena do que nas calçadas da Avenida. A presença de pássaros é percebida, mesmo com o ruído do entorno.

Figura 46 – Praça do Shopping Cidade de São Paulo

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

O mobiliário urbano e o piso são de estrutura metálica e design geométrico. Embora não sejam de materiais naturais, a maneira como estão integrados no projeto propicia uma experiência biofílica uma vez que a estrutura se amolda à base do tronco das árvores e acompanha o desnível do terreno por sua escala de elevação, com rampas e degraus. A trama da estrutura metálica permite escoamento da água da chuva sobre pedras portuguesas dispostas ao nível do solo, proporcionando permeabilidade e contribuindo para amenização da temperatura. A conexão ecológica e histórica no espaço é verificada pela existência árvores e palmeiras remanescentes do jardim da Mansão Matarazzo, residência que existia no local antes da construção do Shopping. A presença dessa vegetação também reforça a experiência de lugar pela conexão ecológica entre a 82

biodiversidade da Praça e a do Parque Trianon, localizado há poucos metros dali. De acordo com o arquiteto paisagista Benedito Abbud13, responsável pelo projeto, houve intenção projetual de harmonizar a vegetação da Praça com a vegetação de Mata Atlântica existente no Parque, estabelecendo, desta maneira, uma inter- relação e integração da Praça ao todo ecológico.

Observa-se que as pessoas utilizam a Praça como espaço de permanência e sentam-se nos bancos para pequenos encontros, descanso ou contemplação da natureza (Figura 47). Elas são atraídas para uma praça urbana mais natural.

Figura 47 – Espaços de permanência na Praça do Shopping Cidade São Paulo

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

A governança (conservação e segurança) do espaço é de responsabilidade do Shopping Cidade São Paulo. Um fato que mereceu atenção durante a pesquisa foi a ausência de funcionários da equipe de segurança no local ou placas de orientação sobre limpeza e conservação do local. Ainda assim, o espaço apresenta bom estado de conservação, o que demonstra um comportamento de cuidado e proteção por parte dos frequentadores.

13 Segundo Abbud, o projeto aproveitou as características do local, como o talude e as árvores que existiam antes da construção do Shopping. Além disso, a escolha da vegetação presente no projeto tem inter-relação com biodiversidade do Parque Trianon. Informações coletadas em entrevista concedida à autora, por telefone, em 3 set. 2018. 83

Pode se atribuir a esse comportamento o fato também de o design do local educar e instigar valores biofílicos, como afeição e cuidado uma vez que oferece “experiência de beleza e harmonia em uma estrutura ou paisagem” (KELLERT, 2018, p. 8).

Como mencionado, a vegetação da Praça do Shopping possui certa conexão ecológica com o Parque Trianon, espaço que será analisado no tópico a seguir.

4.4 PARQUE TRIANON

O Parque Municipal Tenente Siqueira Campos, mais conhecido como Parque Trianon, é a maior área verde da Avenida Paulista, com 48,6mil m², e ocupa dois lotes interligados por uma ponte de concreto e ferro sobre Alameda Santos.

Em termos biofílicos, o Parque (APÊNDICE E) proporciona experiência de natureza de diversas formas. Por ser uma área densamente verde e com árvores remanescentes da Mata Atlântica, sua configuração paisagística se assemelha a de um bosque (Figura 48).

Figura 48 – Trecho do Parque Trianon com característica de bosque

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Luz natural, ar, temperatura, plantas, animais, paisagens são os elementos biofílicos verificados com intensidade no Parque. A água, diretamente, não é um elemento presente, mas já foi no passado, como se verifica na fonte chafariz 84

existente que se encontra desativada. Na entrada principal do Parque, até a década de 1970, existiam espelhos d’água na calçada. Apesar da perda desses elementos, nota-se a água no Parque pela umidade do ar, garantida pela vegetação.

Por sua vez, o mobiliário verificado no Parque possui textura natural - bancos, lixeiras e placas de sinalização feitos de madeira. Há também esculturas no sub- bosque do Parque que proporcionam aos visitantes uma experiência direta da natureza. Algumas dessas esculturas e assentos foram produzidos artesanalmente a partir de troncos de árvores caídas do próprio Parque, o que expressa uma relação com o contexto ecológico do espaço (Figura 49).

Figura 49 – Mobiliário de madeira do Parque Trianon

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Outras esculturas proporcionam experiência indireta da natureza pelo caráter simbólico. É o caso das esculturas dos seres mitológicos como o Fauno (Figura 50), de autoria de Victor Brecheret, que simboliza o deus das florestas, e a escultura da ninfa da mitologia grega, Aretuza, de autoria de Francisco Leopoldo da Silva.

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Figura 50 – Escultura do Fauno no Parque Trianon

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Nota-se elementos biofílicos relacionados à experiência de espaço e lugar, como os espaços de transição e alamedas curvas pavimentadas com pedras portuguesas que permitem observação da natureza em diversos ângulos, ora como perspectiva, ora como refúgio.

Verifica-se ainda conexão com a história do local, já que o Parque é um remanescente da antiga Mata de Caaguaçu e é um dos parques urbanos mais antigos da cidade. O Parque foi inaugurado no ano de 1892, um ano após a abertura da Avenida Paulista, tendo sido projetado pelo paisagista francês Paul Villon e inaugurado pelo inglês Barry Parker (OCKE, 2003). O Parque conserva também duas edificações históricas: a casa da Administração e os sanitários.

Mesmo aos domingos, dia em que a Avenida recebe grande fluxo de visitantes por conta do programa Paulista Aberta e a feira de artesanato na calçada que dificultam o acesso à entrada principal do Parque, nota-se que as pessoas são atraídas ao Parque (Figura 51), como um local de passeio e entretenimento.

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Figura 51 – Visitação ao Parque Trianon durante a Paulista Aberta

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Entre os diversos comportamentos dos visitantes em relação à natureza estão o interesse em aprender mais sobre a história e biodiversidade do Parque. Durante a pesquisa observou-se que visitantes param para ler as placas de identificação das árvores mais antigas (Figura 52, abaixo) ou os painéis da exposição educativa espalhados pelo Parque.

Figura 52 – Visitantes observam exemplar de árvore do Parque Trianon

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

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Ainda em relação aos visitantes do espaço, observa-se que, em pequenos grupos ou isoladamente, buscam experimentar no Parque uma imersão nos processos naturais. Alguns caminham, outros sentam-se nos bancos (Figura 53), onde podem sentir o ar mais puro, clima mais ameno ou ouvir sons da natureza.

Figura 53 – Visitantes do Parque Trianon em descanso e contemplação da natureza

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

A experiência positiva com a natureza estimula a preservação. Uma “paisagem com elementos biofílicos pode motivar pessoas a valorizar e sustentar essas estruturas ao longo do tempo” (KELLERT, 2018 p. 8). No Parque Trianon isso é verificado e tem como consequência a adesão e engajamento de voluntários na preservação do Parque, como confirma a administradora do Parque, Erika Gartner.

Segundo Gartner14, as placas com mensagens de valorização da natureza (Figura 54) que estão no Parque foram produzidas por um grupo de voluntário que a procurou para fazer essa doação.

14 Informação fornecida em entrevista pessoal no mês de setembro de 2019. 88

Figura 54 – Voluntários confeccionam placas de educação ambiental

Fonte: Arquivo Conselho Gestor dos Parques da Avenida Paulista. Foto registrada 2019.

Por sua localização o Parque está na jurisdição administrativa da Subprefeitura Pinheiros. Por ser um parque municipal, a administração e conservação está a cargo da Secretária Municipal do Verde e Meio Ambiente. Contudo, o modelo de governança do Parque, verificado durante a pesquisa, foi moldado pela participação do Conselho Gestor dos Parques que representa e participação em comunidade e estimula as atividades educativas ali desenvolvidas.

O Conselho é composto por representantes da sociedade civil, moradores, entidades locais, como a Associação Paulista Viva, representantes da Subprefeitura Pinheiros e da Secretaria da Cultura, uma vez que o parque é tombado pelos órgãos do Patrimônio Histórico Estadual (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico – Condephaat) e Municipal (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – Conpresp).

O Conselho se reúne mensalmente com a Administração para cumprir sua função fiscalizatória e fazer viger o regulamento do Parque. Também articula e propõe ações para envolver a comunidade e voluntários na conservação do parque, como eventos e atividades educativas e culturais. O mesmo Conselho também atua na governança do Parque Prefeito Mario Covas, que será analisado a seguir.

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4.5 PARQUE PREFEITO MARIO COVAS

O Parque Municipal Prefeito Mario Covas, localizado no número 1853 da Avenida, foi inaugurado, em 2008, em uma área total de 5.396 m2.

O Parque Mario Covas (APÊNDICE F) tem uma configuração espacial bem diferente do Parque Trianon. Além de ser menor em extensão, seu projeto paisagístico é moderno, simplificado e adequada ao uso de fruição pública (sua alameda retilínea interliga a Avenida Paulista à Alameda Santos) e de serviço informativo, uma vez que abriga um posto de informações turísticas (Figura 55).

Figura 55 – Posto de informação turística na entrada do Parque Mario Covas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

O Parque é utilizado pelos visitantes para práticas de atividades física e possui uma academia de ginástica ao ar livre, instalada sob as árvores, que permite usufruir a experiência da natureza. Nesse espaço se sente a luz solar filtrada e vento mais fresco, por conta da sombra da copa das árvores (Figura 56). 90

Figura 56 – Academia de ginástica ao ar livre do Parque Mario Covas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Na área mais arborizada do Parque estão localizados alguns espaços de permanência, onde as pessoas se reúnem em contexto ambiental para realização de piqueniques, jogos de tabuleiro nas mesas e descansar sob as árvores (Figura 57) e, assim, têm a experiência de espaço e lugar.

Figura 57 – Visitantes do Parque Mario Covas em momento de descanso e contemplação

Fonte: Conselho Gestor dos Parques da Paulista.

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A vegetação é o principal elemento biofílico verificado e proporciona experiência de natureza de diferentes formas. O jardim de bromélias na entrada do Parque tem um caráter simbólico da história do local. De acordo com o arquiteto paisagista André Graziano15, que assina o projeto, o jardim é uma referência a Roberto Burle Marx, que nasceu na Villa Fortunata, residência que existia no espaço onde está instalado atualmente o Parque.

O mobiliário, no geral, não tem design biofílico. Os bancos e mesas são de concreto e os demais equipamentos (paraciclo, aparelhos de ginástica e luminárias) são de metal. A exceção é o pergolado de madeira (Figura 58), que constitui um elemento marcante no paisagismo do local com características biofílicas, por proporcionar a imersão aos processos naturais.

Figura 58 – Pergolado no Parque Mario Covas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Os visitantes são atraídos a essa estrutura para admirar suas plantas ornamentais pendentes: sapatinho-de-judia (Thumbergia misorensis) e jade-azul (Strongylondon macrobothrys). Quando floridas são atração para registros fotográficos. Sob o pergolado também são realizadas atividades físicas como yoga e eventos de pequeno porte.

15 Informação fornecida à autora em entrevista em 2018. 92

Assim como o Parque Trianon, o Parque Mario Covas é administrado pela Secretária do Verde e Meio Ambiente, está sob a jurisdição da Subprefeitura de Pinheiros e conta com a ação do Conselho Gestor de Parques. Nota-se que o bom estado de conservação do Parque é garantido pela equipe da administração pública (Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente) e pela educação ambiental ali empreendida, como as orientações da placa com Regulamento do Parque na entrada do Parque (Figura 59). O Conselho Gestor do Parque também participa de maneira fiscalizatória e com a proposição de ações de educação ambiental com grupos de voluntários.

Figura 59 – Cartaz com Regulamento do Parque Mario Covas

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Após indicar os elementos biofílicos do Parque Mario Covas faz-se, a seguir, a análise de outro espaço visitado, a Praça do Ciclista.

4.6 PRAÇA DO CICLISTA

A chamada Praça do Ciclista refere-se ao trecho do canteiro central da Avenida Paulista entre as ruas Bela Cintra e Consolação, onde há uma rotatória com área permeável e vegetação. O espaço, que é resultado da mobilização de grupos de 93

ciclistas que o adotaram como ponto de encontro, teve o seu nome oficialmente registrado como Praça do Ciclista, em 2007, com a Lei Municipal nº 14.530.

O elemento biofílico identificado na Praça (APÊNDICE G) é a vegetação constituída de árvores e algumas espécies herbáceas. Durante a pesquisa notou-se mal estado de conservação da vegetação e inexistência de mobiliário urbano fazendo com que a mureta de contenção seja utilizada como assento (Figura 60).

Figura 60 – Mureta usada como assento na Praça do Ciclista

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Uma placa de madeira com dizeres Colha Folhas e Frutos. Preserve as Plantas é um vestígio da Horta do Ciclista que ali existiu (Figura 61).

Figura 61 – Vestígios da Horta da Praça do Ciclista em 2019

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019. 94

Desde 2002, a Horta do Ciclista (Figura 62) foi criada na praça sendo mantida por coletivos de ciclistas, movimentos de agricultura urbana e moradores da região.

Figura 62 – Horta dos Ciclistas na Paulista em 2012

Fonte: Huma. Disponível em: .

O ideário da Horta do Ciclista é consoante com o modelo de governança participativa para praças públicas previsto na Lei Municipal nº 16.212/2015. Como se observa no artigo 4º, é consoante com alguns critérios de Cidades Biofílicas,:

Art. 4º A gestão participativa das praças tem como objetivos: I - a busca da sustentabilidade do espaço urbano, considerando a valorização da saúde humana, a inclusão social, as manifestações culturais e a melhoria da qualidade de vida como aspectos pertinentes e indissociáveis da conservação do meio ambiente; II - a valorização do patrimônio ambiental, histórico, cultural e social das praças de São Paulo; III - a apropriação e fruição dos espaços públicos da praça pela comunidade, considerando as características do entorno e as necessidades dos munícipes; IV - a utilização, pela comunidade, de elementos paisagísticos, arquitetônicos, esportivos, lúdicos e do mobiliário urbano voltados ao atendimento das necessidades dos munícipes; V - a sensibilização e a conscientização da comunidade para a conservação e valorização das áreas verdes urbanas, incentivando o seu uso coletivo e contribuindo para desenvolver uma cultura de convivência social nos espaços públicos.

De acordo com algumas de suas características, pode-se dizer que a Horta do Ciclista em sua concepção pretendia promover experiência biofílica. Os fatores que podem ser destacados como características alinhadas a visão biofílica são: promover reunião de pessoas em contexto ecológico; criar conexão ecológica e 95

cultural; melhorar o relacionamento humano com a natureza; incentivar à imersão aos processos naturais; promover sentimento de participação em comunidade; oferecer experiência autêntica com a natureza; promover bem estar e saúde; criar apego emocional ao lugar. A Horta do Ciclista, no entanto, foi paralisada no início de 2019 quando foi apresentado um projeto para revitalização16 desse espaço, com a participação da iniciativa privada, representantes dos movimentos de ciclismo e moradores da região. Embora já aprovado, o projeto, no momento em que foi realizada a pesquisa, não havia sido implantado.

Na ilustração da proposta (Figura 63), apresentada para a aprovação na Subprefeitura Sé, observa-se assentos instalados na mureta, paraciclos no guarda corpos, bebedouros, acesso à rede wi-fi, tomadas, ferramentas e bomba para encher os pneus das bicicletas e iluminação nova. De acordo com a proposta, o paisagismo da praça seria refeito e abrigara um novo modelo de horta.

Figura 63 – Ilustração do Projeto de reconfiguração da Praça do Ciclista

Fonte: Ilustração de Guto Raquena.

Fonte: Ilustração de Guto Raquena.

16 Projeto de revitalização aprovado pela Subprefeitura no início de 2019 previu aporte financeiro da iniciativa privada para instalação de mobiliário urbano, replanejamento da horta e instalação em homenagem a ciclistas. Até novembro de 2019 as obras não haviam sido iniciadas. Mais informações sobre o projeto aprovado: PRAÇA DO CICLISTA ganha projeto de revitalização. ArcoWeb, online, publicado em: 24 jan. 2019. Disponível em: . Acesso em: 16 dez. 2019. 96

Na proposta visual apresentada nota-se ênfase às práticas esportivas e ao uso de tecnologia, porém, pouco estímulo de contato com a natureza ou ao relacionamento humano com a natureza. Nesse sentido, vale lembrar as considerações de Kellert (2018, p. 14):

A crescente separação da sociedade contemporânea da natureza, particularmente no projeto e desenvolvimento do ambiente construído moderno, é em parte em função da nossa existência cada vez mais interna, urbana e orientada para a tecnologia.

O projeto de revitalização da Praça também não considera as conexões ecológicas que o espaço pode proporcionar, tendo em vista, por exemplo, sua proximidade da Praça dos Arcos, que é analisada a seguir.

4.7 PRAÇA DOS ARCOS

A Praça Marechal Cordeiro de Farias, mais conhecida como Praça dos Arcos, é localizada no último trecho da Avenida Paulista, a frente da esquina da Rua Minas Gerais, bairro Higienópolis. Por estar no Distrito da Consolação está sob a jurisdição da Subprefeitura Sé.

O principal elemento biofílico verificado na Praça dos Arcos (APÊNDICE H) é a vegetação constituída de um gramado bem conservado, algumas árvores e muitas palmeiras (Figura 64). O espaço oferece experiência autêntica com a natureza, pois é possível sentir e se beneficiar do ar fresco proporcionado pelas árvores e ter contato com a fauna local, devido à presença de pássaros.

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Figura 64 – Vegetação da Praça dos Arcos

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

A Praça possui importante relação de integração ao todo ecológico, uma vez que está localizada próxima a importantes áreas verdes, como o arborizado bairro do Pacaembu, os cemitérios da Consolação e do Araçá e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Nos horários em que a Praça foi visitada não se observou a presença de pedestres, no entanto, percebe-se que o design do mobiliário e o paisagismo foram projetados para propiciar encontros de pessoas em contexto ecológico, especialmente ciclistas, uma vez que há um bicicletário (Figura 65).

Figura 65 – Bicicletário da Praça dos Arcos

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019. 98

O mobiliário de madeira (Figura 66) permite experiência de contemplação da natureza, pois está voltado à paisagem natural da praça.

Figura 66 – Mobiliário da Praça dos Arcos

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

O bom estado de conservação verificado decorre da governança deste espaço público. A Praça passou por um processo de revitalização em 2018 (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2019) e, de acordo com Termo de Cooperação com a Subprefeitura Sé e representantes da iniciativa privada, terá sua conservação financiada por 36 meses. Outras mudanças na Praça já foram discutidas anteriormente com os moradores do entorno. Em 2014, se estudou a proposta de tornar a Praça em um Parque, de modo a conectar os espaços verdes e atrair a vida em meio as ruas, túneis e viadutos da região (LOBO, 2015).

4.8 PAULISTA AOS DOMINGOS

O espaço público da Avenida Paulista, compreendido por via, calçadas e ciclovia, especificamente aos domingos, assume configurações de um espaço livre de uso público, de maneira que os cidadãos utilizam o local para passeio, descanso, prática esportiva e entretenimento ao ar livre.

O uso da Avenida nessa perspectiva tornou-se possível a partir do Decreto Municipal nº 57.086/2016, regulamentado pela Lei Municipal nº 16.607/2016, que 99

oficializou o programa Paulista Aberta, que consiste na interrupção do trânsito de veículos aos domingos no trecho da Avenida Paulista entre a Rua da Consolação e Praça Oswaldo e a liberação de seu uso para pedestres e ciclistas.

A primeira constatação da pesquisa em relação ao espaço livre denominado Paulista aos Domingos é que ele não existe isolado. Pelo contrário, ele é um eixo com pontos de contato com os demais fragmentos verdes pesquisados.

Os principais elementos biofílicos (APÊNDICE I) percebidos neste espaço público são a luz solar e o ar (ou vento, como as brisas sentidas entre os edifícios). Tais elementos ora são apreciados pelos visitantes, ora são motivo de incômodos, especialmente em momentos de altas temperaturas. Isso é explicado em parte pelo que Gauzin-Müller (2011, p. 67) afirma: “a presença de altos edifícios barra o vento e impede a renovação eficiente do ar”, o que contribui para o clima típico das grandes cidades, com temperatura elevada, umidade mínima e grande concentração de poluentes.

Como apresentado no capítulo terceiro, a ocorrência de vegetação na Avenida, proporcionalmente menor em relação às estruturas arquitetônicas.

Outro elemento natural presente no espaço público, mas em quantidade incipiente, é a água. O único corpo d’água verificado no espaço público da Avenida é o espelho d’água existente na base das colunas do MASP (Figura 67).

Figura 67 – Espelho d’água do Museu de Arte de São Paulo

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019. 100

O design geométrico deste espelho paisagístico não traz referência da presença natural de água. Ele cumpre uma função estética.

Como destaca Kellert (2018, p. 8), “nem todas as experiências da natureza são necessariamente biofílicas; alguns podem ser bastante triviais e insignificantes”. Neste sentido, Para que pudesse ser considerado biofílico, tal elemento deveria promover “contato repetitivo, envolvente e interconectado com recursos e processos naturais” Kellert (2018, p. 9).

Vale ressaltar que tais características foram contempladas nos estudos preliminares do projeto do MASP. Nas ilustrações (Figura 68) pode se notar a intenção da arquiteta Lina Bo Bardi em integrar elementos naturais no entorno da edificação (CÁRDENAS, 2015).

Figura 68 – Perspectiva e proposta de Lina Bo Bardi para área externa do MASP

Fonte: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. À esquerda, perspectiva e à direita estudo de Lina Bo Bardi para o MASP em 1958, em que se previa lago integrado a jardim na parte posterior do edifício.

O lago na área posterior ao edifício do MASP foi implantado, porém, depois foi soterrado para dar lugar a jardins (MASP, 2001). Do outro lado da Avenida, à frente do Parque Trianon, existiam outros espelhos d’agua, os quais foram eliminados, na década de 1970, em virtude das reformas nas calçadas.

Devido à escassa e fragmentada presença de vegetação no espaço público da Avenida, nota-se poucos trechos que permitem ao transeunte usufruir a sombra das árvores. Um desses trechos está localizado na calçada em frente Palacete Joaquim Franco de Mello (Figura 69). 101

Figura 69 – Trecho da Avenida Paulista com sombra de árvores na calçada

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Não se observa no espaço outros elementos biofílicos que possam proporcionar experiências diretas ou indiretas à natureza ou experiência de espaço e lugar. Apesar de ser um espaço público que reúne pessoas, as mesmas não estão ali por um contexto ambiental ou de contato com a natureza.

A Avenida Paulista é considerada um importante eixo cultural da cidade. E, embora aos domingos o espaço receba muitas atrações artísticas, tais atividades não necessariamente estabelecem conexão ecológica e cultural, nem tampouco tem esse objetivo (MORAES, 2019).

Além das atrações artísticas e as práticas esportivas, também se observa no espaço o estímulo ao comércio no local. Essas atividades, contudo, sob alguns aspectos minimizam ou inviabilizam uma experimentação biofílica e o contato das pessoas com o verde da Avenida.

Um exemplo disso pode ser verificado em relação à Feira de Artesanato que é realizada à frente do Parque Trianon (Figura 70). A concentração de barracas da feira dificulta o acesso das pessoas ao Parque Trianon que que é a maior área verde da Avenida. 102

Figura 70 – Feira de artesanato em frente ao Parque Trianon

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Mais um exemplo, nesse sentido, ocorre do outro lado da Avenida, no vão do MASP: a Feira de Antiguidades. Essa tradicional atividade comercial que ocorre aos domingos impede que os visitantes tenham contato visual com a área verde posterior ao museu (Figura 71).

Figura 71 – Feira de Antiguidades no vão livre do MASP

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

103

As grades de segurança (Figura 72) que delimitam a Feira de Antiguidades impedem que visitantes tenham acesso à parte posterior do vão do MASP de onde poderiam visualizar os jardins e a área verde entorno do Mirante 9 de julho. Desta maneira, a experiência biofílica de espaço e lugar também é prejudicada por não permitir conexão ecológica e cultural e integração ao todo ecológico.

Figura 72 – Grades de segurança usadas na Feira de Antiguidades

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

A maneira como a vegetação está disposta no espaço público pode revelar valores biofílicos negativos. Por exemplo, a floreiras de concreto (Figura 73) instaladas nas calçadas expressam a intenção de controle sobre a natureza. A vegetação, nesses casos, cumpre apenas funções estética ou de barreira física.

Tal configuração do espaço público podem expressar o paradigma predominante da construção moderna e do design da paisagem que “reflete esses pressupostos da importância e relevância limitadas do contato com a natureza” (KELLERT, 2018, p. 14).

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Figura 73 – Floreiras de concreto na calçada à frente do Conjunto Nacional

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Valores de controle e exploração da natureza foram observados no comportamento das pessoas que frequentam a Avenida aos Domingos, durante a pesquisa. Por exemplo, notou-se árvores sendo usadas como suporte às atividades físicas e artísticas. Cintas de slackline (prática esportiva executada com fita estreita de nylon ou de poliéster presa em dois pontos fixos) foram presas aos troncos das árvores (Figura 74), sem autorização ou fiscalização dos órgãos ambientais.

Figura 74 – Troncos de árvores utilizados como suporte para atividades

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

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Ainda nessa linha, observou-se que as árvores são utilizadas por vendedores ambulantes e da feira de artesanato e gastronômica como suporte para os produtos comercializados, comprometendo a já defasada arborização viária. Também se verifica a prática recorrente de depósito de objetos e lixo nas jardineiras (Figura 75) causando danos e morte da vegetação.

Figura 75 – Presença de objetos e lixos sobre a vegetação das jardineiras

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019.

Tais comportamentos evidenciam a ausência de valores biofílicos, como afeto à natureza, o que instigaria zelo e proteção ao verde da Avenida.

O menosprezo ao natural foi constado na Avenida também em visitas prévias à pesquisa em relação a um jardim na área de recuo do Edifício Cetenco Plaza Norte, localizado no número 1842.

Instalado ao nível do solo, esse elemento paisagístico semelhante a um jardim de chuva, tem a relevância de contribuir para drenagem da água fluvial. Em meados de 2019, poucos dias após sua instalação, a vegetação desse jardim (Figura 76) foi completamente danificada pela constante prática de skate.

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Figura 76 – Jardim ao nível do solo (área de recuo do Edifício Cetenco)

Fonte: Foto registrada pela autora em julho de 2019

Nos meses seguintes se verificou que foram instaladas grades para proteção do jardim, (Figura 77), o que pode ser considerada uma medida de proteção da vegetação, porém, não biofílica por reforçar o valor de controle e ampliar a desconexão do homem com a natureza. Como observa Kellert é necessária à participação ativa e contínua para que as pessoas alcancem toda a gama de benefícios físicos e mentais do design biofílico. “Uma estrutura cujo apelo é transitório e efêmero pode exercer pouca influência de longo prazo sobre um edifício e uma comunidade” (KELLERT, 2018, p. 188).

Figura 77 – Jardim com grades de proteção (recuo do Edifício Cetenco)

Fonte: Foto registrada pela autora em novembro de 2019. 107

O exemplo do jardim à frente do Edifício Cetenco, evidencia que os comportamentos não biofílicos verificados na Avenida aos domingos representa o igual desafio de manter a qualidade de vida das grandes cidades com esforços para melhora ambiental. Tal desafio exige a realização de um trabalho de educação ambiental e ecológica, como afirma o professor Pedro Jacobi (2013, p. 200):

[...] é preciso fortalecer a importância de garantir padrões ambientais adequados e estimular uma crescente consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania e na reformulação dos valores éticos e morais, individuais e coletivos, numa perspectiva orientada ao desenvolvimento sustentável.

A presença da vegetação por si só não se mostra como garantia para ocorrência do design biofílico em um espaço, como ressalta Stephen Kellert, pois é preciso experiência recorrente e imersão nas características e processos naturais em um ambiente construído (KELLERT, 2018).

Se por um lado, a degradação ambiental verificada na Avenida revela deficiência na governança e na fiscalização para inibir ilícitos em relação ao verde no espaço público, por outro lado, não se observa nesse espaço público atividades e ações para conscientização ambiental da população.

Em termos de governança, vale destacar que a fiscalização, a segurança e a zeladoria da Avenida Paulista estão a cargo da Subprefeitura Sé. No entanto, o programa Paulista Aberta é coordenado pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (ITDP; LABMOB et al., 2019), sem a participação de representantes da Secretaria do Verde e Meio Ambiente.

O Programa Paulista Aberta aos Domingos é fruto da mobilização da sociedade civil, por meio de grupos e movimentos sociais voltados à mobilidade ativa. A iniciativa do Programa vai ao encontro da visão de cidade cheia de vida, como postula Jan Gehl (2014, p. 6) “em que as pessoas se sintam convidadas a caminhar, pedalar ou permanecer nos espaços da cidade”. No entanto, não se verificou, durante a pesquisa, uma ação de sustentabilidade no espaço público, dando atenção de maneira equilibrada às questões sociais, econômicas e ambientais.

Em síntese, a pesquisa verificou fatores que desfavorecem a biofilia na Paulista aos Domingos, como: a baixa presença do verde nas calçadas e estruturas; 108

governança desarticulada que impacta na depredação do verde; falta de ações de instituições biofílicas que estimulem a educação ambiental e contato com a natureza; há ênfase no ganho econômico e interação social em detrimento a preservação ambiental.

Por outro lado, constata-se que, apesar de a Avenida ser um eixo entre os fragmentos verdes potencialmente biofílicos analisados, ela representa uma lacuna, em termos biofílicos, devido à sua escassez de elementos naturais (vegetação e corpos d’água, por exemplo) em relação ao predomínio de materiais não naturais (concreto, metal e vidro) nas edificações; e também pela dinâmica das atividades que nela acontecem, especialmente aos domingos.

Como consequência, se registra uma série de prejuízos ambientais nesse trecho urbano que impactam na qualidade de vida e saúde da população, uma vez que já comprovado por diversos estudos que a ausência de áreas verdes impacta negativamente a saúde física e psicológica das pessoas. A maior presença de verde na Avenida contribuiria para redução das ilhas de calor, diminuição da poluição sonora e atmosférica e redução da perda de biodiversidade.

Especificamente, em relação à dinâmica da Avenida aos domingos, verifica- se que governança não integrada é fator relevante para o estado de depredação do verde existente e pela inexistência de ações e instituições biofílicas que estimulem a educação ambiental e o contato das pessoas com a natureza na Paulista aos domingos.

A iniciativa Paulista Aberta, que torna a Avenida em um espaço livre de uso público aos domingos, prioriza as atividades esportivas, culturais e comerciais, mas desconsidera os benefícios intrínsecos da preservação ambiental e contato das pessoas com a natureza. Isso fica evidente quando se analisa os dois pontos extremos da Avenida - Praças Oswaldo Cruz e Praça dos Arcos - que são bastante arborizados, porém interligados pela ciclovia ao longo da Avenida que é totalmente árida e desprovida de vegetação.

O acesso aos dois parques públicos da Avenida, Trianon e Prefeito Mario Covas, que são bons exemplos de espaços biofílicos, têm seu acesso comprometido pela dinâmica da Paulista aos Domingos, em especial pela intensa atividade comercial junto aos portões de entrada. 109

Dois espaços analisados que possuem significativa presença de elementos e comportamentos biofílicos - a Casa das Rosas e a Praça do Shopping Cidade de São Paulo -, no entanto, não são tão afetados pela dinâmica da Paulista ao domingo, isso porque possuem particularidades em seus acessos. A Casa das Rosas “destaca-se” da calçada da Avenida, por convidar os transeuntes a entrar em seu jardim. A Praça do Shopping Cidade de São Paulo está totalmente integrada ao espaço público, mas por ser parte de um centro comercial impede que outros tipos de comercialização sejam realizados em suas áreas externas.

Nas calçadas da Avenida, além de ter déficit de elementos biofílicos, possibilitam comportamentos de desprezo ao verde. O mesmo não acontece na Praça do Shopping Cidade de São Paulo, que também é um espaço de fruição pública, mas possui design e governança que propiciam a conservação e preservação do verde.

Sob essa perspectiva, constata-se que Avenida, que é referência como eixo cultural e de mobilidade, atualmente é um hiato em termos ecológicos e de experimentação da natureza, porém, por sua posição estratégica, possui potencialidade para integrar, como um corredor verde, importantes fragmentos verdes da região e de toda a cidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente dissertação surgiu com o questionamento sobre a possibilidade de trazer a natureza de volta em territórios onde o adensamento urbano com verticalização já foi consolidado e que teve redução de áreas verdes. Tal questão ecoa o desafio atual (e futuro) das cidades do século XXI de encontrar maneiras positivas de a sociedade humana lidar com as áreas verdes urbanas, passo importante para mitigar os efeitos do aquecimento global e diminuir problemas de saúde pública advindos do modo de vida e qualidade ambiental das cidades.

Como já observado pelos alertas da comunidade científica e pelos compromissos e objetivos estabelecidos pela ONU, é necessário repensar a forma de construção e produção de cidades e evitar a repetição dos erros do passado, que provocaram danos profundos aos sistemas naturais, em prol do desenvolvimento.

A abordagem de planejamento urbano biofílico reconhece como benéfica a conexão entre os seres humanos e natureza e se opõe a ideia da fragmentação. Portanto, apresenta-se como desafio maior e mais eficiente para criar cidades verdadeiramente sustentáveis e deve ser incorporado como um princípio nas atuais políticas públicas e programas urbanos.

Vale considerar que, embora haja avanços na conscientização mundial dos problemas ambientais, a aplicação prática do conceito de sustentabilidade urbana – baseado em equilíbrio nos objetivos sociais, econômicos e ambientais – mostra-se ainda inconsistente na cidade de São Paulo. Esse fato é revelado pelo histórico declínio de áreas verdes no processo de urbanização da cidade.

Iniciativas apresentada como sustentáveis nem sempre trouxeram preservação e incremento do verde na cidade. Verifica descompasso do discurso e prática do que venha ser sustentabilidade e desenvolvimento sustentável. Se por um lado, é disseminada a valorização de edificações com inovação tecnológica que garantem diminuição no consumo dos recursos naturais, por outro, se provoca o afastamento das pessoas da natureza menorizando sua presença a um valor estético e funcional. 111

É preciso compreender que ser sustentável não está associado puramente à visão ecológica de diminuição dos danos causados à natureza ou redução de consumo energético, mas com o estabelecimento de uma relação mais sinérgica, harmoniosa e ética com a natureza.

Pela ótica biofílica, a sustentabilidade reside na compreensão de que fazemos parte de um todo e, portanto, nossas ações afetam o todo. Nesse sentido, o desenvolvimento tecnológico não precisa (e não deve) ser antagônico ao ambiente natural e nem comprometer a presença do verde na cidade. A relação com que o ser humano tem com a natureza – seja de exploração, apreciação estética, afeição ou sentimento de pertencimento e desejo de proteção – determina se há uma relação biofílica ou não.

Compreender que a arborização é peça-chave para melhorar a resiliência urbana e para garantir melhora na saúde da população é fundamental para a mudança de visão em relação ao planejamento, programas e políticas públicas.

Como verificado no estudo de Novak et al (2014) é possível mensurar em valores financeiros os ganhos advindos da arborização na cidade. Desta maneira, as ações voltadas à ampliação e preservação da arborização de uma cidade podem e devem ser contabilizadas como investimento (e não como custo) nas tomadas de decisões das políticas públicas e nos interesses do mercado.

A ideia de valorar economicamente o verde urbano justifica os critérios das Cidades Biofílicas, tais como: ter programas públicos de infraestrutura de áreas verdes; destinar porcentagem do orçamento público para financiar esses projetos; ter programas que promovem afinidade entre cidadãos, flora e fauna; conectar parques urbanos e oferecer caminhos de experimentação da natureza; ter espaços naturais e corredores ecológicos para sensações multissensoriais da natureza; valorizar e apoiar iniciativas de educação sobre a natureza; investir e apoiar a criação de infraestruturas verdes; tomar medidas para apoiar ativamente a conservação da natureza.

Em última análise, as ações para trazer mais verde à cidade devem estar amparadas aos objetivos econômicos, ambientais e sociais e devem estar incorporados também na lógica do mercado e nas políticas públicas. 112

A presente dissertação apresentou exemplos bem sucedidos no mundo, como a expansão de telhados verdes na cidade de Lins, na Suíça; ou corredores verdes da cidade de Medellín, Colômbia; ou as ações empreendidas para tornar a cidade de Cingapura mais verde. Uma lição importante que deve ser aprendida com esses exemplos é a continuidade de políticas públicas com visão de longo prazo que afetam de maneira significativa (e positiva) o clima urbano, a biodiversidade e as experiências estéticas.

Outro elemento importante a ser destacado nesses exemplos é a relevância dada à educação ambiental. Como política pública o conhecimento ecológico deveria permear desde a educação básica infantil, a consciência e mobilização social, projetos de pesquisa e desenvolvimento e até na atuação integrada entre pesquisadores, profissionais envolvidos, planejadores e gestores urbanos.

Em relação à Arquitetura, e baseado nas estratégicas de Design Biofílico e do próprio pai da Arquitetura da Paisagem, Frederick Law Olmsted, é relevante refletir as consequências do paisagismo aplicado ao espaço público. É importante que a natureza não seja vista apenas como um elemento de composição estética, mas também considerada por suas funções ecológicas. Nesse sentido, se faz necessário que projetos de espaços públicos considerem o uso de espécies nativas para melhora do clima e preservação da biodiversidade, além da ampliação da permeabilidade do solo para contribuir para restauro de águas subterrâneas.

A aplicação da visão biofílica no planejamento das cidades e dos espaços públicos pode contribuir para os indicadores de melhora da saúde pública, uma vez que estudos apontam uma relação entre as áreas verdes e redução de risco de morte. Relembrando o que médico patologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Paulo Saldiva (2017, informação verbal17) afirmou: “quanto mais verde existe em uma região, menor o risco de mortalidade por causas não acidentais, especialmente câncer e doenças respiratórias”.

Em busca de alcançar os três objetivos específicos da dissertação - verificar a presença de espaços vegetados na Avenida Paulista; examinar existência de estímulo ao contato humano com a natureza (biofilia) no espaço público; e refletir sobre possíveis consequências dos fatores acima para a sustentabilidade urbana e

17 SALDIVA, Paulo. Áreas verdes garantem saúde e qualidade de vida à população. 17. abr, 2017. Jornal USP. Áudio disponível em: jornal.usp.br/?p=79100. Acesso em: 10 jun. 2019. 113

ecológica da cidade - a pesquisa trouxe como principal constatação que a Avenida Paulista como espaço de uso público na atualidade constitui um hiato entre fragmentos verdes biofílicos. As razões para isso são tanto históricas como a falta projeto e governança visando integração e harmonização dos fragmentos verdes dentro de uma visão ecológica do território.

Por outro lado, os demais espaços livres de uso público analisados, apresentam, ainda que isoladamente, grande potencial de contribuição do ponto de vista ambiental, climático e de saúde pública, por seus elementos e características biofílicas.

As três praças públicas – Praça Oswaldo Cruz, Praça dos Arcos e Praça do Ciclista – possuem arborização, tem potencial de atração do público para convívio social e sao alvo de projetos de revitalização com participação da sociedade civil e iniciativa privada.

Os dois parques públicos – Parque Trianon e Mario Covas – conjugam, positivamente, preservação ambiental, atividades que promovem contato com a natureza e governança capaz de preservar o verde existente e instigar atividades de educação ambiental.

Já a Casa das Rosas e a Praça do Shopping Cidade de São Paulo representam exemplos positivos de promoção da cultura de apreço à natureza, de valorização da história do local e da viabilidade de desenvolvimento tecnológico associado à preservação.

Apesar de esses fragmentos serem pequenos em dimensão territorial e estarem desconectados, eles sinalizam possibilidades de transformação desse trecho urbano densamente edificado em uma área mais verde com consequências positivas em relação à sustentabilidade urbana e ecológica da cidade.

Ao longo desta dissertação, foram descritas soluções e exemplos reais de outras cidades que conseguiram se tornar mais verdes e mais biofílicas.

Como reflexão final e, com base nesses exemplos, lista-se a seguir as possibilidades que poderiam ser aplicadas à Avenida Paulista, em projetos urbanos que contemplassem a visão biofílica de desenvolvimento sustentável: 114

1) Infraestruturas verdes nos edifícios: a grande concentração de edifícios na Avenida representa forte potencial para implantação de telhados verdes e jardins verticais. Incentivos fiscais a essa prática já são realizados em várias cidades brasileiras, porém é preciso intensificar a formação técnica dessas aplicações para diminuir a influência de exemplos malsucedidos na cidade. Um ganho para os edifícios seria também pelo aproveitamento do uso do espaço, como jardins de visitação no topo dos edifícios ou hortas urbanas.

2) Infraestruturas verdes no mobiliário urbano: dois tipos de mobiliários urbanos frequentes no espaço público da Avenida Paulista são as bancas de jornais e os pontos de ônibus. Há exemplos em cidades brasileiras , como Canoas18, no Rio Grande do Sul, e Salvador19, na Bahia, onde tais estruturas servem de suporte para telhados verdes que ajudam a diminuir a temperatura da cidade.

3) Paisagismo integrado e ecológico: Há potencial de integração entre o paisagismo dos edifícios existentes e o do espaço público, o que poderia trazer benefícios ecológicos como ampliação da arborização na região e melhora da permeabilidade se combinada, por exemplo, com jardins-de- chuva. Isso se mostrou possível no paisagismo do Shopping Cidade de São Paulo, mas encontrou dificuldades no recuo do condomínio Cetenco. Portanto. É preciso avaliar não apenas o design e técnicas empregadas, mas aspectos como governança e educação ambiental.

4) Arquitetura verde e inovação: Incentivar o desenvolvimento da arquitetura viva ou edifícios-florestas, como os já citados Bosco Verticale, de Milão, e Torre Rosewood, em São Paulo, podem ser alternativas para ampliar o índice de cobertura vegetal da região. Além dos ganhos ecológicos, essas estruturas vegetadas em grandes proporções podem provocar maior conexão das pessoas com a natureza.

18 Mais informações Cf.: JESUS, Sidney de. Telhados Verdes para a Cidade Respirar melhor. Diário de Canoas, Canoas, 14 mar. 2016 (Online). Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2019. 19 Mais informações Cf.: SOUSA, Marcia. Ponto de ônibus ganha teto verde em Salvador. Ciclo Vivo, Salvador, 17 out. 2019 (online). Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2019. 115

5) Centros de Pesquisa Ecológica e Biofílica: Os dois parques urbanos existentes na Avenida têm potencial para se tornarem centros de pesquisa e de disseminação de conhecimento ecológico e de práticas biofílicas, a exemplo dos National Parks (NParks) de Cingapura, que cumprem a função de parque para entretenimento da população, mas também prestam serviços de inovação e testes de infraestruturas verdes, em convênio com outras instituições de pesquisa. Os dois parques podem se integrar a outras iniciativas da cidade e formar uma rede de espaços que ajudam a ampliar conhecimento e preservação da biodiversidade, reforçando a ideia de implantação de corredores verdes pela cidade.

6) Governança integrada, sustentável e biofílica: A zeladoria da Avenida Paulista e do programa Paulista Aberta podem ser aprimoradas se estiverem integradas dentro de uma visão de governança participativa e, principalmente se forem exercidas de maneira sustentável, conciliando interesses econômicos, sociais e ambientais.

7) Mobilidade verde: Buscar maneiras de tornar a mobilidade urbana do trecho – atualmente atendida pelo metrô, ônibus e ciclovia – mais sustentável, mais “verdes” e menos poluentes, serão de grande valia. Os projetos que não foram implementados podem trazer subsídios e informações relevantes para planos futuros, como os programas Nova Paulista e Pró-Paulista, que previam transferência do trânsito de veículos da Avenida, e a proposta do estudo prévio feito para a ciclovia da Avenida. Exemplos de outras cidades também podem inspirar soluções, como o veículo leve de transporte (VLT) no centro do Rio, que atende tanto à demanda de transporte público e do potencial turístico da região. Estratégias adotadas pela cidade de Barcelona em relação às Las Ramblas também podem trazer inspirações.

8) Resgate histórico e Senso de lugar: atualmente a Avenida Paulista é considerada eixo cultural e exemplo de uso público do espaço. No entanto, podem ser estimuladas experiências biofílicas que fortaleçam o senso de lugar pelas conexões culturais e ecológicas por meio do resgate histórico do passado arborizado da Avenida, onde também existiu a Mata de Caaguaçu.

9) Corredores verdes: com a ampliação da arborização viária e todas as sugestões acima citadas a Avenida pode vir a ser considerada um importante 116

corredor verde, uma vez que está localizada entre as importantes áreas verdes da cidade: o Parque Ibirapuera, Parque da Aclimação, Cemitérios do Araçá e Consolação e os bairros arborizados dos Jardins e Pacaembu.

Acredita-se que, ao resgatar e consolidar valor histórico e ecológico da região, por meio de ações e políticas públicas e programas urbanos que se pautem no urbanismo biofílico, a Avenida pode tornar-se um eixo verde que disseminará a cultura para uma “cidade mais verde”.

Além disso, acredita-se que o urbanismo pautado em uma relação mais harmoniosa entre homem e natureza pode ajudar a cidade no cumprimento dos Dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU no que tange a “criar assentamentos humanos justos, seguros, saudáveis, acessíveis, resilientes e sustentáveis”.

Em conclusão final, vale destacar que a presente dissertação buscou ser uma contribuição inicial ao estudo da Avenida Paulista em sua dimensão ecológica e da abordagem do Urbanismo Biofílico, com a certeza e desejo de que novos e outros estudos científicos devam ser realizados para ampliar e aprofundar a temática da sustentabilidade e ecologia aplicada ao planejamento de espaços públicos.

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127

APÊNDICE A – FICHA DE ANÁLISE: PRAÇA OSWALDO CRUZ (LADO A)

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: PRAÇA OSWALDO CRUZ (LADO A)

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

 Luz natural  Ar (vento) ⃝ Figura da Natureza ⃝ Contexto ecológico  Plantas  Animais ⃝ Textura ⃝ Espaço de transição ⃝ Paisagens  Água ⃝ Geometria Natural  Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental ⃝ Passagem do tempo ⃝ Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética ⃝ Conexão Ecológica/Cultural ⃝ Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação à natureza Positivos Negativos

 Afeto  Atração ⃝ Intelecto ⃝ Controle ⃝ Exploração ⃝ Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

 Melhora relacionamento humano com a  Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde ⃝ Inter-relação e integração ao todo ecológico ⃝ Apego emocional ao espaço/paisagem/ ⃝ Incentivo a e imersão aos processos naturais lugar ⃝ Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

 Poder Público  Sociedade Civil ⃝ Poder Público ⃝ Sociedade Civil  Moradores ⃝ Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada

128

APÊNDICE B – FICHA DE ANÁLISE: PRAÇA OSWALDO CRUZ – LADO B

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: PRAÇA OSWALDO CRUZ – LADO B

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

 Luz natural  Ar (vento)  Figura da Natureza ⃝ Contexto ecológico  Plantas  Animais ⃝ Textura ⃝ Espaço de transição ⃝ Paisagens ⃝ Água ⃝ Geometria Natural ⃝ Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental ⃝ Passagem do tempo ⃝ Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética ⃝ Conexão Ecológica/Cultural ⃝ Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação à natureza Positivos Negativos

⃝ Afeto  Atração ⃝ Intelecto ⃝ Controle  Exploração ⃝ Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

⃝ Melhora relacionamento humano com a  Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde ⃝ Inter-relação e integração ao todo ecológico ⃝ Apego emocional ao espaço/paisagem/ ⃝ Incentivo a e imersão aos processos naturais lugar ⃝ Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

 Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada

129

APÊNDICE C – FICHA DE ANÁLISE: CASA DAS ROSAS

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: CASA DAS ROSAS

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

 Luz natural  Ar (vento)  Figura da Natureza  Contexto ecológico  Plantas  Animais  Textura  Espaço de transição ⃝ Paisagens  Água  Geometria Natural  Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental  Passagem do tempo  Perspectiva e Refúgio  Biomimética  Conexão Ecológica/Cultural  Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação à natureza Positivos Negativos

 Afeto  Atração  Intelecto  Controle ⃝ Exploração  Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

 Melhora relacionamento humano com a  Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde  Inter-relação e integração ao todo ecológico  Apego emocional ao espaço/paisagem/ lugar  Incentivo a e imersão aos processos naturais  Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

 Poder Público  Sociedade Civil  Poder Público  Sociedade Civil ⃝ Moradores  Iniciativa Privada ⃝ Moradores  Iniciativa Privada

130

APÊNDICE D – FICHA DE ANÁLISE DO SHOPPING CIDADE DE SÃO PAULO

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: PRAÇA DO SHOPPING CIDADE SÃO PAULO

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

 Luz natural  Ar (vento) ⃝ Figura da Natureza  Contexto ecológico  Plantas  Animais  Textura  Espaço de transição ⃝ Paisagens ⃝ Água ⃝ Geometria Natural  Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental ⃝ Passagem do tempo ⃝ Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética ⃝ Conexão Ecológica/Cultural ⃝ Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação à natureza Positivos Negativos

⃝ Afeto  Atração ⃝ Intelecto  Controle ⃝  Exploração ⃝ Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

 Melhora relacionamento humano com a  Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde  Inter-relação e integração ao todo ecológico ⃝ Apego emocional ao espaço/paisagem/ lugar  Incentivo a e imersão aos processos naturais  Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

⃝ Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Moradores  Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada

131

APÊNDICE E – FICHA DE ANÁLISE: PARQUE TRIANON

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: PARQUE TRIANON

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

 Luz natural  Ar (vento)  Figura da Natureza  Contexto ecológico  Plantas  Animais  Textura  Espaço de transição  Paisagens ⃝ Água  Geometria Natural  Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental  Passagem do tempo  Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética  Conexão Ecológica/Cultural  Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação a natureza Positivos Negativos

 Afeto  Atração  Intelecto ⃝ Controle ⃝ Exploração  Simbolismo  Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

 Melhora relacionamento humano com a  Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde  Inter-relação e integração ao todo ecológico  Apego emocional ao espaço/paisagem/ lugar  Incentivo a e imersão aos processos naturais  Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

 Poder Público  Sociedade Civil  Poder Público  Sociedade Civil  Moradores  Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada

132

APÊNDICE F – FICHA DE ANÁLISE: PARQUE MARIO COVAS

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: PARQUE MARIO COVAS

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza  Luz natural  Ar (vento) ⃝ Figura da Natureza  Contexto ecológico  Plantas  Animais  Textura  Espaço de transição ⃝ Paisagens ⃝ Água ⃝ Geometria Natural  Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental ⃝ Passagem do tempo  Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética  Conexão Ecológica/Cultural ⃝ Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação a natureza Positivos Negativos

 Afeto  Atração  Intelecto ⃝ Controle ⃝ Exploração ⃝ Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

 Melhora relacionamento humano com a  Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde  Inter-relação e integração ao todo ecológico ⃝ Apego emocional ao espaço/paisagem/ lugar  Incentivo a e imersão aos processos naturais  Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

 Poder Público  Sociedade Civil  Poder Público  Sociedade Civil  Moradores  Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada

133

APÊNDICE G – FICHA DE ANÁLISE: PRAÇA DO CICLISTA

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: PRAÇA DO CICLISTA

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

 Luz natural  Ar (vento) ⃝ Figura da Natureza ⃝ Contexto ecológico  Plantas  Animais  Textura ⃝ Espaço de transição ⃝ Paisagens ⃝ Água ⃝ Geometria Natural ⃝ Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental ⃝ Passagem do tempo ⃝ Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética ⃝ Conexão Ecológica/Cultural ⃝ Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação à natureza Positivos Negativos

 Afeto  Atração ⃝ Intelecto ⃝ Controle ⃝ Exploração ⃝ Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

⃝ Melhora relacionamento humano com a ⃝ Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde ⃝ Inter-relação e integração ao todo ecológico ⃝ Apego emocional ao espaço/paisagem/ lugar ⃝ Incentivo a e imersão aos processos naturais  Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

 Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada

134

APÊNDICE H – FICHA DE ANÁLISE: PRAÇA DOS ARCOS

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: PRAÇA DOS ARCOS

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

 Luz natural  Ar (vento) ⃝ Figura da Natureza  Contexto ecológico  Plantas  Animais  Textura ⃝ Geometria  Espaço de transição  Paisagens ⃝ Água Natural  Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental ⃝ Passagem do tempo ⃝ Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética  Conexão Ecológica/Cultural ⃝ Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação à natureza Positivos Negativos

 Afeto  Atração ⃝ Intelecto ⃝ Controle ⃝ Exploração ⃝ Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

 Melhora relacionamento humano com a  Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde  Inter-relação e integração ao todo ecológico  Apego emocional ao espaço/paisagem/ lugar  Incentivo a e imersão aos processos naturais  Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

 Poder Público  Sociedade Civil  Poder Público  Sociedade Civil  Moradores  Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada

135

APÊNDICE I – FICHA DE ANÁLISE: PAULISTA AOS DOMINGOS

FICHA PARA ANÁLISE BIOFÍLICA DE ESPAÇOS PÚBLICOS LIVRES

LOCAL: PAULISTA AOS DOMINGOS

ELEMENTOS BIOFÍLICOS

Experiência direta da Experiência indireta da Experiência de espaço e lugar natureza natureza

 Luz natural  Ar (vento) ⃝ Figura da Natureza ⃝ Contexto ecológico  Plantas  Animais ⃝Textura ⃝ Geometria ⃝ Espaço de transição ⃝ Paisagens ⃝ Água Natural ⃝ Reúne pessoas em contexto  Clima ⃝ Simulação de Ar/ Luz ambiental ⃝ Passagem do tempo ⃝ Perspectiva e Refúgio ⃝ Biomimética ⃝ Conexão Ecológica/Cultural ⃝ Integração de parte ao todo

VALORES BIOFÍLICOS Sentimentos em relação a natureza Positivos Negativos

⃝ Afeto ⃝ Atração ⃝ Intelecto  Controle  Exploração ⃝ Simbolismo ⃝ Espiritualidade

PRINCÍPIOS BIOFÍLICOS Benefícios característicos

⃝ Melhora relacionamento humano com a ⃝ Experiência autêntica da natureza natureza  Proporciona bem estar e saúde ⃝ Inter-relação e integração ao todo ecológico ⃝ Apego emocional ao espaço/paisagem/ lugar ⃝ Incentivo a e imersão aos processos naturais  Sentimento de participação em comunidade

GOVERNANÇA

Preservação Ambiental Educação Ambiental

 Poder Público ⃝ Sociedade Civil  Poder Público ⃝ Sociedade Civil ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada ⃝ Moradores ⃝ Iniciativa Privada