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16 (j(f Nadia Batella GotUb EV Cuidado, escrita e volupia em OBRAS CITADAS Clarice Lispector Barthes, Roland. La chambre claire. Note sur la photographie. Paris: Cahiers du Cinema; Gallimard: Editions du Seuil, 1980. Bronte, Emily. 0 vento da noite. Trad. Lucio Cardoso. : Jose Olympio, 1944. Cansan~ao, Elza. Efai assim que a cobra fumou. 4i1 ed. Rio de Janeiro: n.e., n.d. Um' Dois' Esquerda' Direita! Acertem 0 passo! Maceio: Funda~ao Municipal ~ de A~ao Cultural de Maceio; Cian Grclfica e Editora, 2003. ~ Clarice Lispector. Cole~ao Depoimentos 7. Rio de Janeiro: Funda~ao Museu da ~ Imagem e do Som (MIS), 1991. Coutinho, Edilberto. "Uma mulher chamada Garice Lispector". Criaturas de ~ ...... ~ papel. Rio de Janeiro: Civiliza~ao Brasileira; Brasilia: INL, 1980.165-70. w Gotlib, Nadia Batella. Clarice: uma vida que se conta. Sao Paulo: Atka, 1993. ;::s Para uma hist6ria de Clarice Lispector: 0 texto e a fotomografia. Rio Grande: ~ FURG, no prelo. Flashes da hist6ria: da fotobiografia como genero a uma fatobiografia de Clarice Lispector. Porto Alegre: PUCRS,2005. Kossakivskiy, V. "Povoado de Tchetchelnik na Ucdmia. Cultura etnica de Nao e urn recado de ideias que te transmito e judeus". Trad. do mssoArtur Rodyna. Texto digitalizado, n.p. n.e. n.d. sim uma instintiva volupia daquilo que esta Kossoy, Boris. Realidades eficr;oes na trama fotogrdfica. Sao Paulo: Atelie, 2002. escondido na natureza e que adivinho. Laplanche, Jean, e Jean-Bertrand Pontalis. Vocabuldrio da psicantilise. 9il ed. sao Clarice Lispector, Agua viva Paulo: Martins Fontes, 1986. :"apouge, Maryvonne, e Clelia Pisa. Brasileiras: Voix, ecrits du Bresil. Paris: Editora A INDA MENINA, LIsPECTOR SE APAIXONOU POR UM liVRO FlNlNHO QUE CONTAVA des Femmes, 1977. J-\.ahistoria do patinho feio e da lfunpada deAladim. A lembran~a antiga ~ispector, Clarice. Conespondincias. Org. 1eresaMontero. Rio deJaneiro: Rocco, causou-Ihe a impressao de quase sentir nas maos 0 prazer de toea-Io outra vez. 2002. A referenda um tanto proustiana deste episodio da vida de Lispector faz pensar ---- A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. se dessa dupla matriz nao teria vindo a nutrir-se 0 que nos legou: um pouco do Entrevista. 0 Pasquim 3 a 9 de junho de 1974: 10-12. patinho £eio parece ter contaminado muitas de suas personagens, deslocadas, o lustre. Rio de Janeiro: Agir, 1946. quase obliquas no seu modo de ser complexo e cereadas de sombra e luz. E jspector, Elisa. No exilio. Brasflia: EBRASAIINL, 1971. tudo isso emumaescrita que de certa recuperou a magia da Uimpada de Aladim. ;Jabuco, Mauricio. Rejlexoes e reminiscencias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. Sim, ha magia no ar, nos livros de Lispector. Nao exatamente aquela que se des£az, quase terapeutica, em textos nos quais os confUtos se harmonizam e 10vk, 5., S. Taranets e V. Kossakivskiy. Ensaios sobre a hist6ria de Tchetchelnik. tudo terminabem. AmagiaemLispector se manifesta como uma for~a estranha Trad. do russo Artur Rodyna. Texto digitalizado. Vinnitsia: n.e., 2000. que se impregna no mundo narrado e na propria linguagem, em escritos que revolvem material subterraneo e investigam impulsos inconscientes que regem os atos humanos, escavando 0 residual, os vazios da alma; ou ainda as ruinas, projetos e fracassos de personagens eonfUtuosos diante dos impasses que impedem a realizat;ao de seus desejos. Hci uma quimicamuitas vezes cruel, ferina e sutH na linguagem de Lispector. Seus textos apresentam um "realismo" nao-descritivo, que antes adivinha e sugere, do que representa e transcreve uma realidade exterior. Eda 48 03 Lucia Helena 8U ro Cuidado, escrita e volupia em Clarice Lispector 0.3' 49 natureza de sua produc;ao transformar a escrita num acontecimento "de o perfil de algo em movimento. Existe neles urn senso de presente perpetuo, linguagem". Edesse modo que, nas maos de Lispector, a linguagem deixa de de algo que nao se fecha, antes se ramifica e desdobra de modo incessante, ser apenas urn meio de comunicac;ao, para alc;ar-se a condic;ao de algo como se na obra pudessemos vislumbrar uma dramaturgia do ser e da propria indispensavel aexistencia. As palavras de que se utiliza ganham corpo e volume linguagem com que se elaboram as peripecias intimas de personagens cujo e designam, interpretam e questionam, de forma sagaz, os seres e 0 estar no amago nao pulsa na aventura e no agir, mas numa contenc;ao mais proxima do mundo. Edessa linguagem em alta voltagem - provocadora de surpresas e lirico que, no caso, funde-se ao romanesco. encantamento, mas tambem de mal-estar, angu.stia e sobressaltos (nao e atoa Desde seus primeiros textos Clarice Lispector anuncia projeto literario que urn de seus livros, publica do em 1973, tera 0 titulo de Agua viva) - que se singular. Seu primeiro livro, Perto do cor~iio selvagem, apresenta-nos Joana, figura tece 0 ambiente aparentemente simples, ao mesmo tempo sensiveP e, por vezes, intelectualizado,2 de suas personagens. inaugural de uma galeria de personagens femininas marcantes, numa obra que fara da mulher tema reiterado. Nele despontam duas caracteristicas Urn trac;o de uniao, que entre elas se repete, torna-as de certo modo dominantes do estilo renovador da autora: a introspecc;ao, nao mais apenas representantes de seres em peregrinac;ao pelos meandros de uma interioridade psicologica, e a falta de fechamento do enredo. 0 lustre nos da Virginia, "fluida complexa, portadores de uma reflexao que gira em torno de alguns nudeos durante toda a vida", a contracenar com Daniel, num ambiente fisico e mental tematicos, interligados de modo por vezes frouxo, como se seus textos quase claustrof6bico, delimitado entre a Granja arruinada, a cidade grande e 0 reunissem fragmentos, pulsac;oes de vida, em busca de implodir os limites dos retorno ao nudeo de que partira. 0 titulo do romance configura-se uma especial generos literarios tradicionais e de projetar a imagem de seres em que a metMora da personagem da qual, como se fosse urn lustre, emanaria luz, embora incompletude esta sempre presente e nos quais se dilui a pretensao de unidade. aprisionada. Em sua maioria mulheres - mas nao exdusivamente, pois uma de suas A cidade sitiada, terceiro romance de Lispector, tematiza a convivencia de personagens de maior destaque e Martim, deA ma9ii. no escuro - as personagens Lucrecia Neves, Mateus Correia e Perseu, na atmosfera suburbana, vivem a existencia "aos saltos", inopinadamente submetidos atemporalidade verdadeiramente "sitiada", do mundo provinciano de Sao Geraldo, no qual os a que a narrativa de Lispector obsessivamente se refere: 0 tempo do "instante lampejos e intuic;oes de Lucrecia sao materia da memoria. A ma9ii. no escuro, seu ja", de que Agua viva eo texto em que 0 "agora" mais se implanta. quarto romance, terminado em Washington, em 1956, e varias vezes reescrito por Lispector e publicado em 1961. Numa estrutura circular (como a de uma As personagens que desenha vivem a vida por urn triz, no limite da mac;a), a trama conjuga as vidas de Martim, Vitoria, Errnelinda e uma cozinheira angUstia, esbarrando em sentimentos de inadequac;ao e frustrac;ao. Mesmo nas mulata, numa fazenda a que chega 0 protagonista, em fuga por ter cometido obras em que a estrutura do emedo ainda aponta para uma narrativa de heranc;a urn crime. Todavia, 0 crime nao e 0 que move 0 texto. Ao contrario, e 0 pretexto linear, como Cidade sitiada, as personagens criadas por Lispector remetem a que aciona a busca, por Martim, do autoconhecimento e dos sentidos da figurac;ao de Sisifo, uma vez que, pela estruturac;ao adotada, de se articularem liberdade. e repetirem nudeos tematicos nem sempre semanticamente interligados, 0 conjunto dai resultante, fragmentado e ate certo ponto incongruente, desenha A paixiio segundo G. H., texto em que a autora inaugura a narrativa em primeira pessoa, trata da inquietac;ao de G. H., enigmatica designac;ao da protagonista. Mulher de dasse-media alta, G. H. despede a empregada e resolve arrumar 0 quartinho da servic;al, antes que outra 0 ocupe. Ali, nas dimensoes I A questao da sensibilidade e da sensualidade, e do erotismo, e enfatizada em relac;ao a de urn mundo aparentemente muito menor do que 0 seu, G. H. vai-se deparar personagem eu, de Agua viva. A narrativa, em primeira pessoa, estreita profundamente 0 com uma barata. Desse encontro desdobra-se uma sucessao de atos e carater especial de sensualidade das relaC;6es entre 0 eu, a escrita e 0 outro, como se pode questionamentos insolitos que provocam 0 desencadear de forc;as inconscientes sublinhar no fragmento a seguir: "0 que te escrevo nao vern de manso, subindo aos poucos ate urn auge para depois ir morrendo de manso. Nao: 0 que te escrevo e de fogo como que levam a personagem a transitar pelos abismos do ser e da existencia. olhos em brasa" (Lisp ector, Agua viva 37). Neste sentido, A paixiio segundo C. H. se aproxima de Agua viva, em que a 2 A personagem Rodrigo S. M., narrador de Ahara da estrela, Lispector atribui a func;ao de 0 estabelecer panlmetros e avaliac;6es sobre 0 processo narrativo brasileiro e intemacional personagem principal - designada eu - dirige-se a urn tu, interlocutor (pela referencia sutil ao Naturalismo frances e a Zola), na serie literaria que, entre nos, trata imaginario. Agua viva adensa 0 processo de torvelinho interior, e adensa a da exc!usao do misenivel, do nordestino migrante abandonado a propria sorte no "SuI forma fragmentada, caracteristica da narrativa de Lispector, enfatizando a maravilha" , 50 (:JO lV Lucia Helena w Cuidado, escnta evolitpia em Clarice Lispector cg 51 contamina<;ao do romanesco com 0 Brico e 0 abrandamento das linhas ela se perca. Mas tem tambema intui<;l'io de queetudo (ou quase tudo?) de que descritivas e representacionais, recursos menos acentuados em outras de suas disp6e para ir ao encontro da vida, de si mesma e do outro. Agua viva e um 0 obras, anteriores e posteriores. A trama do livro e tenue, que dele faz um Undo poema em prosa no qual se comemora a vida de tudo 0 que e, inclusive "romance sem romance".3 Um eu, declinado no feminino, escreve a um tu, no o it, 0 inominado, que freqUenta os textos de Lispector. Sem receitas para masculino, expondo suas ansias e procuras, num discurso de fluidez decodificar 0 mundo enfeiti<;ado dessa incitante narrativa, 0 leit~r toma a ininterrupta entre 0 deHno, a confissao e a sedw;ao: "Para te escrever eu antes consciencia de que, para ler Clarice Lispector, epreciso Iivrar-se de modelos me perfumo toda. Eu te conh~ todo por te viver toda"(Agua viva 63). 0 eu e previos e abrir-se para a instiga<;ao que as narrativas oferecem. o tu de Agua viva ganham dimens5es permutaveis de significa<;ao, integrando­ se com 0 nao-humano: a natureza, as palavras, os animais, a "coisa", ou 0 it. A Entre A paixiio segundo G. H. e Agua viva, a escritora publica Uma linguagem se espessa numa "densa selva de palavras" (Agua viva 29) e a obra aprendizagem ou 0 livro das prazeres, em que Lori e Ulisses, aluna e professor de descortina voraz processo de correspondenciasqueinterconectam vida, paixao Filosofia, encontram-se numexerdcio de aprendizagem do amor, em que pouco e violencia. a pouco a diferen<;a entre ambos, inicialmente impeditiva, vai-se atenuando. Apesar de algumas tiradas brilhantes, este e, talvez, 0 texto menos bem resolvido Sem nome, escondida sob 0 pronome eu, a personagem de Agua viva da autora, especialmente na submissao deLori a Ulisses, do que resulta situa<;ao procura entender 0 significado da solidao e 0 de seu estar no mundo, no desigual e hierarquica, na qual a narrativa, em alguns momentos, resvala no desencadear dos instantes que prefiguram um presente continuo onde banal pela insistencia em manter a situac;ao de dependencia da aluna em face desaparecem os limites cada vez mais esgar<;ados entre 0 que einterior e exterior de seu mestre, 0 professor de Filosofia. apersonagem. No curso de um longo nwn6logo a dais - que se trava entre eu e o pressuposto interlocutor a quem escreve e de quem nunca recebe resposta ­ Depois deAgua viva, Lispector escreveu duas outras narrativas longas (para a personagem e suas cogita<;5es encontram-se a deriva da incessante as quais 0 r6tulo de "romances", no sentido tradidonal do termo, resulta transmuta<;ao a que os submete a estrategia da escrita de Clarice Lispector, inadequado): A hora da estrela e lan<;ado no ano de sua morte; Um sopro de vida capaz de criar seres fronteiri<;os ao silencio, aalteridade e apotencia metaf6rica e obra de publica<;ao p6stuma, organizada por Olga Borelli, grande amiga da de uma literatura transgressora: "0 que te falo nunca e 0 que te falo e sim outra autora, com 0 material deixado incompleto por ela. Desses textos finais, sem coisa. Capta essa coisa que me escapa e, no entanto, vivo dela e estou atona de duvida, a obra maxima e A hora da estrela, em que uma personagem feminina brilhante escuridao"(Agua viva 16). 0 livro, a maneira da concep<;ao de magnifica emerge como ponto de intersec<;ao das demais personagens criadas Baudelaire sobre a arte, conduz 0 leitor a uma "fantastica esgrima" com a ate enta~ no mundo ficdonal de Lispector. significa<;ao, dificil de ser decifrada, pois essa escrita em "agua viva" tangencia A hora da estrela narra a hist6ria de Macabea, que nasce no Nordeste, vive dois paradigmas frontal mente inatacaveis, a que 0 texto se refere comobalizas aos trancos e barrancos na cidade grande e morre triturada por potente de reflexao: "0 intangivel do real" (Agua viva 14) e"0 figurativo do inominavel" engrenagem. Todavia, outra hist6ria corre paralela a da vida de Macabea e (Agua viva 97). consiste na discussao de como narrar a hist6ria. Neste segundo patamar Nos Iimites dessas duas possibilidades de conceber 0 mundoe a linguagem, narrativo, enla<;ado ao primeiro, avulta Rodrigo S. M., 0 narrador, que ironiza trava-se 0 dilema de uma personagem, que se debate na OOsca de encontrar-se, que "narradora mulher podia narrar piegas" (A hora da estrela 18). Ao longo do ao mesmo tempo em que anseia desvendar as multiplas faces do amor, para livro, dobrado entre as duas narrativas, Rodrigo S. M. rivaliza com Macabea com elas enovelar-se a caminho do mergulho no sentido profundo da existencia. pelo primado do texto. E Clarice, num lampejo, problematiza a questao da No desenrolar de dense questionamento interior, a persona gem pressente que cria<;ao, humana e divina. A feia, virgem e despossuida Macabea e construida a linguagem pode afasta-la de seu objetivo, fraudar seu desejo, fazer com que por mao de mestre e tangencia a dimensao de algo minimo e grandioso. Macabea acorda mais cedo aos domingos para ficar mais tempo sem fazer nada e tem na Radio Re16gio os segundos de cultura de sua enciclopedia reduzida. A tal ponto vai a carencia de Macabea, que nela 0 vazio eo cheio se 3 A expressao e de Roland Barthes (51Z 12). Atraves dela, 0 ensaista se reporta aos textos reencontram, como a sinalizar que 0 nada se transmuda em ser. litenirios de fatura romanesca que, no entanto, abandonam a estrategia linear do tempo, a configura<;ao densa e demarcada de espa<;o e personagem, dando origem a uma narrativa Na hist6ria dos percal<;os de Macabea, em que nos emocionamos com sua fiuida, de en redo tenue que se inscreve fora da mimesis da representa,.ao e na qual 0 texto vida, paixao e morte, a literatura de Lispector toma-se fulgurante. A hora da sugere que retoma, como analogo, uma realidade que atraves dele poderia "transparecer'f. 52 cr:; Lucia Helena ro ro Cuidado, escrita e volupia em Clarice Lispector C?3 53 estrela vai alem da morte (seja a de Macabea, seja a de Clarice Lispector, que historia, ainda que contista magistral e poderosa analista da violencia latente escreve 0 relato no limite de sua propria existencia) e atinge 0 limiar do sublime. no amor enos la<;os de famHia que esquadrinhou como poucos. Cronista Essa escrita, em que as personagens se apresentam em permanente busca contratada do Jomal do Brasil, desempenhava-se da tarefa com reservas, em e metamorfose, vale-se de uma linguagem em que a mobilidade se constroi alguns momentos manifestando 0 sentimento de que cometia ato canhestro e com maestria. Ha eletricidade no ar quando se abre urn livro de Lispector. De condenavel, no qual, todavia, ludicamente reutilizava fragmentos de outros modo apenas aparentemente simples ela vira do avesso a banalidade e faz textos seus, em migra<;ao. cintilar recantos muito obscuros do pensamento e da linguagem. Como quem Autora de contos, cronicas, narrativas longas, livros para crian<;as, "pesca a entrelinha", suas narrativas dificilmente se satisfazem com 0 que entrevistas com inteleetuais e artistas representativos, em 1973 aceita, com muita descobrem ou revelam, levando ao limite a falta de plenitude da linguagem e relutancia, 0 convite do editor Alvaro Pacheco, da Artenova, para escrever urn da existencia, numa escrita que "naoe urn recado de ideias e sim uma instintiva livro de contos eroticos. Receia as tarefas encomendadas, sentindo-se impropria, volupia daquilo que esta escondido" (Agua viva 28) na natureza que adivinha, nao por censura ao erotismo, mas porque nao acredita que urn artista devesse como ela mesma registra. Essa torrente, metamorfoseada ao infinito, constitui escrever por incumbencia extema. Movida por necessidade economica, decide­ a for<;a motriz com que engendra os romances, "fic<;6es" e "pulsa<;6es", aIem se pela tarefa. Interessante que ao mesmo tempo elabora a versao final de Agua de livros para crian<;as, cronicas e entrevistas, do patrimonio que nos legou. viva que, com os contos de A via crucis do corpo, forma urn par-impar, pela Mesmo com essa escrita marcada por densa carga de erotismo, a autora composi<;ao em dobra, em que contrarios se tocam, ja que Agua viva e urn livro desenhou urn simulacro domestico, nao so para suas personagens, mas tambem de enredo frouxo e os contos de A via crucis sao 0 contrario desse estilo, para si mesma, declarando, repetidas vezes, gostar de escrever com 0 barulho simulando uma perspectiva quase neo-realista. da casa, os filhos por perto, 0 latido do cachorro e as interferencias da empregada, numa ambiencia aparentemente distinta do labirinto de emo<;6es Poderosamente criativa, faz questao, todavia, de sinalizar que nunca teve e da refinada trama de seus textos. Essas pistas e contra-pistas, tao comuns em o que se chamaria de vida intelectual: "Pior ainda, embora sem essa vida Lispector, longe de declara<;6es a guisa de esclarecimento, fazem parte de seu intelectual, eu pelo menos poderia ter 0 habito ou 0 gosto de pensar sobre 0 modo de narrar e constituem urn jogo ficcionallabirintico e sofisticado, "visgo" fenomeno literario, mas tambem isso nao fez parte do meu caminho" (A que lan<;a ao leitor que, jamais, vai le-la impunemente. Nada, em Lispector, e descoberta 119). apenas 0 que se diz. E, no meio do ambiente domestico, dormita 0 estranho, 0 A confiar nessa afirmativa, Lispector parece dessacralizar a literatura. Ela voraz, 0 contra-senso de lucidez fugidia, numaconstante amea<;a ao corriqueiro o faz, mas de forma tambem nova, pois 0 processo de composi<;ao que the e e ao senso comum, que saem de sua fic<;ao, no minimo, esfolados. caro insisteem girar sobre a propria escrita, comentando fartamente seu modo Analisar a forma pela qual Clarice Lispector elabora seu instigante projeto muito proprio de narrar. Todavia, esse ato de quebra da aura vern acompanhado de escrita e encaminhar uma reflexao teorica apta a iluminar essa questao e 0 de seu oposto, pois mescla-se com alguns laivos de cumplicidade com a tradi<;ao que se pretende aqui, considerando de perto urn aspecto nao suficientemente dos comentarios de textos sagrados. Com base nisto, ela sugere que escrever discutido quanto a seus textos, ou seja, indagando c

nos romances, contos ou nas cronicas, Sua prosa comporta-se como se todo unificado e estavel, alem de rejeitar a compreensao da historia como 4 Fosse 0 Ponge de Joao Cabral de Melo Neto: 0 que vale dizer que os continuum e progresso. Suas obras sao a meditac;ao tensa sobre 0 tempo e a tomeios de linguagem, os modos de narrar, os temas e as personagens parecem subjetividade levados a seus limites extremos. Enessa tensao que se da a por vezes saltar "por descuidada fresta". Talvez parte de sua atra~ao, para 0 passagem entre 0 inteiramente visivel, ou seja, a evidenda em estilo cartesiano cenario internadonat deva-se tambem ao fato de sua fic~ao conduzir 0 lei tor a eo inteiramente visionario, com,o qual Lispector tangencia as experiencias enveredar por uma rede de Iinguagem em que a irregularidade, um certo que misticas, a que ela se refere em Agua viva. Trata-se da busca de Lispector de de inacabado, 0 avan~o e 0 recuo sao estrategias usuais, por vezes mescladas transitar na experienda do limiar, da literatura como forma de fazer superar ao gosto do lugar-comum. Ela nao trabalha 0 exotico, como urn , uma terrivel impossibilidade: 0 desejo de, ao mesmo tempo, captar 0 "intangivel mas sugere uma linguagem que talvez par~a exotica ao leitor estrangeiro, do real" eo "figurativ~ do inomimivel" (Agua viva 14, 97). mesmo quando lida em tradu~ao. Lispector enfatiza, ainda, questoes como a simplicidade, 0 nao-saber, a e dona de uma escrita que questiona 0 pensamento dicotomico carencia como passagem-limite para 0 sublime (construindo personagens como que separa e opoe emissao e recep~o, texto e contexto, essencia e aparencia, Macabe~ em A hom da estrela, e Pequena Flor, em "Amenor mulher do mundo", inteligfvel e sensivel. De modo arguto, propOe que, longe dos fenomenos, as de Lat;l)s de familia). Sobre esta questao, a do laborioso trabalho de se chegar a ideias sao vazias, do mesmo modo que os fenomenos, longe das idlHas, estao uma ideia simples, tao simples quanto fundamental, diz 0 seguinte, em "Bilhete condenados adispersao e amorte. Desta maneira, e sob 0 olhar do alegorico _ aberto a Edgar Pereira", texto datado de 13 de setembro de 1975, enviado ao que busca a sabedoria do particular, sem abjurar do universal, nao mais destinatario, a quem agrade<;o ter-me cedido este documento inedito: localizando 0 geral apenas no nivel do conceito - que vai elaborar sua refIexao Nao costumo me manifestar sobre 0 que escrevem a respeito de mim. Mas sobre a historia, 0 genero e a cultura. Tern a "sabedoria" intuitiva de que so se agora, pela primeira vez, quero corrigir um detalhe. Entre suas notas sobre pode plenamente "falar" do todo enquanto fragmento, ruina, questao central '~ visao do esplendor" deparei com uma frase que certamente foi base ada no seu texto, no que se aproxima do pensamento de Walter Benjamin e de numa determinada entrevista que dei no Rio. A entrevista de modo geral era correntes subterdineas do primeiro romantismo alemao. Para ela, 0 despertar fiel, mas distorceu minhas palavras em certo trecho, trecho este que 0 senhor listorico II contem urn momento de desordem do qual a dassifica~ao temporal transcreveu nesse Suplemento. Refiro-me a afinnativa de que eu teria dito e os demais sistemas de ordem estao dispensados" (Matos 46). Se a filosofia que, quando escrevo, caio em transe ou coisa semelhante. Eu nao disse isto cartesiana, em busca da razao, tinha pornecessario "fechar os olhos aos sentidos, simplesmente porque nao everdade. Jamais caf em transe na minha vida. sensac;5es, sentimentos e memorias" (Matos 44), em Lispedor, 0 elo entre a Nao psicografo nem "baixa" em mim nenhum pai-de-santo. Sou como qualquer outro escritor. Em mimI como em alguns que tambem nao sao apenas ideda e 0 fen6meno e a no~ao de imagem [de alegoria J5 -"meio-caminho entre "racionalistas", 0 processo de gesta..ao se faz sem demasiada interferencia o sensI vel eo inteligivel, 0 inconstanteeo permanente" (Matos 45). Seus textos do raciocinio 16gico e quando de repente emerge atona da consciencia vern manifestam particular empenho na discussao das formas de escrita da em forma do que se chama inspira.. ao. Na verdade, menos do que muitos representac;ao cultural e promovem uma investigac;ao sobre a "economia escritores que conhe~, quando escrevo, eu 0 fa..o sem procurar circunstancias alternativa da escrita". Disso resulta que destacam a investiga~ao das relac;5es especiais, ambiente propfcio ou mesmo isolamento. Habituei-me a trabalhar de poder na sociedade, 0 tratamento das inter-rela,oes entre objetividade e sendo interrompida por telefonemas, cozinheira e crian..as. Feito este subjetividade, e, prindpalmente, 0 minimaIismo estilistico que faz do detalhe, esclarecimento, subscrevo-me muito atenciosamente. Clarice Lispector. do particular, da antitese e do paradoxo habeis instrumentos para que se Helena, Nem musa nem medusa 25-26) questionem problemas eticos e afetivos. Juntando biografia e fic<;ao, ela reitera essa afirmativa em A hora da estrela, Ao revisitar 0 maniqueismo que nos legou a tradi~ao, Lispector se interessa advertindo para queninguem se enganasse com seus escritos, pois ela s6 atingia por formas de escrita que perturbam a noc;ao da individualidade como urn a simplicidade atraves de muito trabalho.6

6 Em artigo sobre Elizabeth Bishop, Silviano Santiago cita Gance Lispector e se refere asua 4 Refiro-me ao poema de Joao Cabral, chamado "0sim contra 0 sim", de Serial (1959-1961). peculiar constnl(;::ao Iitenlria, sublinhando que Lispector utiliza-se de urn processo muito 5 Sobre esta questao, consultar Lucia Helena, Totens etabus da modernidade brasileira: simbolo especial-urn misto de espera, paciencia, aten"ao e trabalho - que leva as coisas e os seres e na ohra de Oswald de Andrade 21-37, onde se desenvolve mais extensamente 0 humanos a crescerem harmoniosamente. Diz 0 ensaista: "0 cuidado, alerta Gance, nao assunto. pode ser confundido com 0 trabalho material, no sentido em que 0 empregam as teorias -

~ 0J 57 03" Lucia Helena li9 Cuidado, escnta e volupia em Clarice Lispectar

alteridadeeo deslocamento como instancias compativeis com umnovo conceito Ao inscrever 0 sujeito (0 ser, a subjetividade) na sua fic~ao, toma 0 feminino ;::omo mote insistente. E nao s6 investiga a singular emergencia da mulher na de razao e de sujeito, lidos para alem da logica da exclusao e tornados instrumentos fundamentais para questionar 0 sujeito universal da filosofia e sociedade, mas tambem coloca em pauta na fic~ao brasileira a repressao da mulher como problema de importancia historica. Assim, nao Ier 0 tema da da teoria political expondo-lhe os pressupostos autoritarios. edosao do feminino na escrita de Lispector - indicada com fartura por sintomas Os textos deLispeetor propiciam uma\eitura damedia<;ao entre a ideo\ogia ate de aparente superficie, como se da com a galeria de mulheres queela escolhe de genero e a politica do texto. A grande li~ao de"Benjamin, a se meditar quanto para protagonizar seus textos - e nao ler Clarice Lispector num de seus tra~os a este aspecto da obra de Clarice Lispector, eo resgate das rela<;:oes entre arte e mais espedficos. Considere-se 0 tratamento que ela oferece a situa~ao sociedade, autoria e cria~ao, por meio de uma teoria sociologica que nem se contraditoria e ambigiia das suas personagens femininas e masculinas, que confine no determinismo, nem separe forma e conteudo. A constru<;:ao da obra vivem em estado de simultaneo aprisionamento, rebeIiao e nomadismo, numa de Lispector se faz na eonfluencia de dois paradigmas estilfsticos, que a sociedade de bases patriarcais. Com isto, Lispector acena para a rediscussao narradora entretece e poe em tensao: a cena do Realismo & Naturalismo e a do do conceito de sujeito e de razao, seja na prodw;:ao artistica, seja em outras Romantismo & Simbolismo. Logo, em sua narrativa encontram-se veios praticas, individuais ou coletivas. recessivos que, transformados por sua perspectiva estilistica pessoal, eriam um entrela<;:amento significativo entre a realidade e a realidade adivinhada. Ao questionar a opressao do sujeito declinado no feminino, Lispector Mas, como em , 0 Romantismo, Realismo, Naturalismo e ilumina um imaginilrio cultural implantado hil seculos, onde reinam, soberanos, Simbolismo enquanto escolas sao habilmente corroidos. Abandonando a ideia pad roes de naturaliza<;:ao ideologica do genero. Estabelecendo elos entre a de tese presente nos textos naturalistas, bem como 0 exame de uma conseH~neia figura<;:ao literaria do sujeito feminino e 0 campo mais amplo das praticas sociais, individual a ser desvendada, Lispector opera com nucleos semanticos que, Lispector evita, no entanto, os pressupostos de uma estetica do reflexo. Em num incessante trabalho de correspondencias, estabeleeem a errancia da sua obra, ela da a conhecer que entende a literatura como uma forma de produ¢o de senti do, na qual a constru<;:ao de identidades de genero nao emera forma de significa~ao. reproduzir as desigualdades e classes sociais. Eta compreende que tais Creio mesmo haver um pendor de machadiana obliqi.iidade na maneira identidades repousam sobre rela~oes culturais intersubjetivas e quadros pela qual escolhe e registra os la<;:os que acolhem e acossam suas personagens. ideologicos de referencia, nao tendo a ingenuidade de apresentar suas Com a sutileza de quem nao quer simplesmente opinar nem julgar, mas, persona gens como representa<;:ao mais ou menos verdadeira de uma realidade principalmente, impedir que se percebam apenas simetrias entre a arte e a feminina pre-dada e extema ao texto. Ao declinar 0 sujeito de suas narrativas sociedade, ou que se tente fazer da arte um espelho reflexo do social colhido no feminino, Lispector poe 0 dedo numa das feridas narcisicas de um certo mecanicamente, seu texto conduz 0 lei tor a procurar, nas zonas de eonflito, os imaginario no qual a alteridade tern sido insistentemente reprimida. ardis e alertas de uma narrativa inteligente. Nessa arquitetura textual sui generis, tres obras se destacam. por permitirem perceber a tensao no tra<;:ado do conjunto: Ao abordar esta questao, indica novas possibilidades para um imaginario La{os de familia (na contracena com A via crucjs da carpo, mais proximo de urn cultural, que se reativa. 0 questionamento do sujeito e de sua inscri<;:ao na Naturalismo revisitado com rara sabedoria); Agua viva (na qual a desagrega<;:ao hist6ria leva Lispector a descentralizar a concep~aj) cartesiana de sujeito. das categorias convencionais de tempo, espa<;:o, trama e personagem chega a Todavia, nao 0 faz como se imaginasse que a solu<;:aci'p'ara esses dilemas fosse um limite extremo) e A hora da estrela (que representa uma especie de ponto a demissao em bloco das categorias de sujeito e de razao, encorajando assim otimo de enlace das tendencias paradigmaticas ja referidas). Como ela mesma um relativismo que perderia qualquer perspectiva critica. Ao inves, a autora propoe, "nao e um recado de ideias que te transmito e sim uma instintiva nos mostra que esta e uma categoria declintivel.7 Em sua fic~ao, 0 sujeito se volupia daquilo que esta escondido na natureza e que adivinho. E esta e t;ma apresenta em metamorfose e, com isto, chama a aten<;:ao do leitor para a festa de palavras. Escrevo em signos que sao mais um gesto do que voz" (Agua viva 28). Esse tipo de texto tem, portanto, um regime peculiar de escrita e de economicas, impostas como universais asociedade pelo homem. 0 cuidado seria, na falta leitura, nao mais se vinculando as articula<;:oes da anedota ou aos elos de uma de outra palavra, labor, 0 labor familiar em Clarice Lispector" (Santiago, "0 estatuto do trama logica. Seu texto, elaborado de forma infratora, sublinha 0 fato de que 0 poema" 11). sujeito narrativo e a subjetividade contemporanea rasuram as formas absolutas 7 Cf. Rouanet, Mal-eslar da modernidade 62-67. Sobre a questao da demissao do sujeito no de se conceber 0 genero e 0 sistema cultural. pensamento contemporaneo e a estranha 16gica do relativismo radical, recomenda-se, nesta obra, 0 capitulo "Acoruja e 0 sambOdromo". 58 C!8' Lucia Helena l:!9 Feminismo transcultural em Clarice 0 Em tempos de modernidade tardia, talvez seja importante ressaltar que a Lispector: "Diseroia" ou conflito entre fragmenta~ao da subjetividade manifestada nos textos de Lispector nao e um fenomeno devido a dissolu~ao do sujeito como algo que comprovaria a auto-representa.;ao e auto­ existencia, na autora, de uma FI agenda" p6s"moderna. A fragmenta~ao narrativa conhecimento tl e a dissolu~ao do eu de personagens dilaceradas existem, nos textos de Uspector, ...... ~ a partir de uma leitura critica do mundo e da linguagem, feita pela autora de modo todo pr6prio e que nasceu muito antes do momenta pos"moderno e das ~ modas e modismos que a ele se costumam atribuir. X E 0 e modo personalissimo de realizar essa leitura do mundo, essa visao ~ do processo de significa~ao, essa lida com 0 sentido e 0 trabalho da forma e da o linguagem que da anarrativa de Garice Lispector a capacidade de nos revelar ,.5!;{ uma subjetividade que, sendo hist6rica, ecomprometida com a errancia do sentido que, mesmo que individualizado ehistoricizado, tem a marca universal Z da existencia humana encarada como problema e pela literatura problematizada. Jamais completa, a trajet6ria dos seres humanos e da arte se torna mais aguda quando caminha por essa vereda e com ela convive, na o que importa afinal: viver ou saber que se esta instintiva e diffciI volupia de estar-no-mundo, ainda que em ruinas, num vivendo? incessante ruminar, sempre as voltas com a hip6tese de nos depararmos com Clarice Lispector, Perto do cora~iio selvagem algo que redima a nos sa precariedade. Mas, meus senhores, eu existo, eu juro que existo! Muito, ate .... Eu sou superior. E sabem por que? OBRAS CITADAS Porque sei que existo. Clarice Lispector, "Trecho", Qutros escritos Barthes, Roland. 5/2. Trad. Maria de Santa Cruz e Ana Mafalda Leite. Lisboa: Os homens costumam construir teorias para si e Edi~oes 70, 1980. outras para as mulheres. Helena, Lucia. Totens e tabus da modernidade brasileira: simbolo ealegoria na obra de Clarice Lispector, "Eu e Jimmy", Qutros escritos Oswald de Andrade. Niter6i: EDUFF; Rio deJaneiro: Tempo Brasileiro, 1985. __ Nem musa nem medusa: itinenirios da escrita em Clarice Lispector. Niter6i: Disemia e um conflito entre interpretac;oes. Os EDUFF,1997. sirnbolos deser membro de urn gropo social deslizam sobre terreno muito escorregadio. "A voca~ao para 0 abismo: errancia e labilidade em Clarice Lispector". Michael Herzfeld Revista Brasileira de Literatura Comparada [Salvador] 5 (2000): 179-89. Anthropology Through the Looking-Glass "Uma instintiva volupia. ReflexOes emtome de Cl@Iice Lispector". Revista Metamorfoses 5. CMedra Jorge de Sena para EstudosLiterarios Luso-Afro­ Brasileiros; VFRJ (2004): 65-71. A NTES DE LAN<;;AR PERTO 00 CORA<;'AO SELVAGEM, CLARICE LrsPEcroR JA TINHA Lispector, Clarice. Agua viva. Fic~ao. Rio de Janeiro: Artenova, 1973. .L-\.publicado dezesseis contos em jornais e revistas e ainda existiam _____ A via crucis do corpo. Rio de Janeiro: Artenova, 1973. alguns escritos ineditos, entre os quais as duas narrativas indufdas nas epfgrafes A hora da estrela. Rio de Janeiro: Jose Olympio, 1977. acima.1 Estes contos recentemente editados revelam temas que aparecem mais A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. Matos, Olgitria. 0 iluminismo visiomirio. Sao Paulo: Brasiliense, 1993. 1 Esta informac;iio aparece no Capitulo 1, junto com os contos im?ditos, no volume Rouanet Sergio Paulo. Mal-estar da modernidade. Sao Paulo: Companhia das recentemente publicadoi Clarice Lispector, Qutros EscritosF orgs. Teresa Montero e Ucla tetras, 1993. Manzo (Rio de Janeiro: Rocco, 2005). Antes desta publicac;iio, Teresa Montero foi a pesquisadora que me introduziu a estes contos ineditos. Os contos "Eu e Jimmy' e "Trecho" Santiago, Silviano. "0 estatuto do poema descritivo de Elizabeth Bishop". foram publicados na revista Vamos Lerl respectivamente em 1940 e 1941. Revista Brasileira de Literatura Comparada 5 (2000): 9-17.