Getulio Vargas Guardados da Memória

Mensagem dirigida ao povo brasileiro

 Encerramento da Campanha Presidencial São Borja, 30 de Setembro de 1950

Getulio Vargas Terceiro ocupante da Cadeira 37 na Academia Brasileira de Povo brasileiro! Letras.

Trabalhadores do Brasil!

Cumprindo a determinação legal, encerro hoje, aqui nesta lon- gínqua cidade missioneira e minha terra natal, a campanha em que me envolvi por força dos apelos populares, recebidos sem cessar, durante cerca de três anos, de todos os recantos do país. Já agora chegou o momento de correr os olhos sobre esses quase dois meses de jornada e de fazer, perante a nação, que dentro de poucos dias nos vai politicamente julgar, o balanço das forças que foram ao meu encontro na longa peregrinação cívica iniciada em Porto Alegre a 9 de agosto.

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Sem exagero, posso afirmar: tornei a ver o Brasil inteiro na imensa varie- dade dos acidentes físicos da terra, e ouvi todas as vozes clamando por um dia melhor. Da vastidão amazônica a estas fronteiras meridionais, das populações de beira-mar às do Brasil Central, o povo me acolheu carinhosamente, e mais me falou dele do que eu de mim, transmitindo-me as suas queixas, as amarguras e dificuldades atuais. Fiz de público, por toda parte, uma completa prestação de contas de meu governo e um confronto imparcial, menos com palavras do que com fatos e documentos, entre o que conseguira fazer e a triste e inerte apatia dos que me sucederam. O meu testemunho pessoal poderia ser inquinado de suspeito, quanto às estrepitosas manifestações que me tributaram, sem descontinuidade, os bra- sileiros de todas as capitais, cidades e povoações que visitei. Mas a grandio- sidade da concorrência e o entusiasmo delirante com que fui recebido estão indelevelmente gravados na memória de todos, desde os que assistiram até os que as ouviram nas transmissões radiodifundidas. Não disponho de nenhuma parcela de poder: minha campanha resultou de um movimento genuinamente popular; não tenho os recursos em dinheiro de que dispõe o oficialismo, forçoso, portanto, é concluir pela espontaneidade daquelas provas de afeto das multidões que me foram abraçar depois de eu me haver, durante quase três anos, recolhido a este retiro, distante das agitações, das intrigas e das cabalas. Justa é, assim, a expectativa de que esses aplausos se convertam em sufrá- gios em quantidade mais do que suficiente para segurança da vitória no pleito de 3 de outubro. Em tudo quanto de mim dependeu, a campanha presidencial decorreu nos moldes de uma pugna democrática e civilizada, uma luta entre cavalheiros, sem as agressões pessoais do velho estilo, nem os incitamentos à desordem material e à violação da legalidade.

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Não acendi fogueiras de paixões nem faltei, mesmo de leve, às imposições da verdade histórica. E nem açulei a revolta das massas, empobrecidas pela terrível alta do custo de vida e desfalcadas, acima de tudo, do tesouro das esperanças. Poupando os homens ao insulto pessoal, que não é nem jamais foi do meu feitio, limitei-me a apontar-lhes os erros. E a todas as classes – as que trabalham e produzem – prometi, para os cin- co anos vindouros, um programa ao mesmo tempo racional e realista, cons- trutivo e patriótico. Registrado sob a legenda de dois grandes partidos políticos – o Parti- do Trabalhista Brasileiro e o Partido Social Progressista – com o concurso poderoso de fortes contingentes do Partido Social Democrático, não sou, entretanto, candidato de matiz estritamente partidário, e sim um homem que consentiu em disputar o pleito, atendendo aos apelos formais do povo, sem distinção de classes sociais, nem categorias políticas. E ao povo brasileiro, portanto, e sobretudo aos trabalhadores, meus dedi- cados amigos de todas as horas, que dirijo esta mensagem de agradecimento e de garantia de minha fidelidade aos seus anseios e às suas esperanças. Confiem os eleitores na segurança do voto secreto, e, sem receio de vinditas nem perseguições, depositem nas urnas as cédulas que contenham os nomes de sua meditada preferência. Se elas consagrarem a minha candidatura, não faltarei jamais ao povo. Juntos governaremos o Brasil. Resta-me, agora, o dever de advertir os poderes públicos no sentido de que, de hoje até o último dia do governo atual, mantenham o país numa atmosfera de paz interna, de respeito aos direitos e garantias individuais, de acatamento às decisões da Justiça Eleitoral, a fim de que as transmissões de mando se operem em favor dos que o povo realmente escolheu pelo voto livre, na União, nos estados e municípios. Esse é o preceito fundamental da democracia: o povo elege e o eleito go- verna.

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Os partidários mais categorizados do candidato oficial à Presidência da República, em desespero de causa, já esboçam tentativas de golpes brancos, como o adiamento das eleições, visando esgotar os recursos dos candidatos populares, que não dispõem das arcas do Banco do Brasil. Projetam-se contra os dois candidatos de oposição, empregam processos de suborno, ameaças e violências, para vencer as eleições. Um entendimento tácito para a reação é o que resta aos ameaçados da continuidade dessa situação lamentável em que pretendem afundar o Brasil. De minha parte, tudo foi feito para que o desfecho da luta eleitoral coroe as aspirações de todos os brasileiros pela vigência efetiva dos preceitos cons- titucionais. Não transigirei, porém, com qualquer desrespeito à sentença das urnas, que, espero, estarão ao livre acesso dos alistados, serão invioláveis e terão os votos apurados rigorosamente, de acordo com a lei. Brasileiros! Trabalhadores do Brasil! Bem sabeis que não costumo fazer promessas vãs. Basta lembrar que o programa de candidato de 1930 foi superado pelas realizações de meu governo. Creio ser esta a razão principal da confiança que em mim depo- sitastes, arrancando-me deste retiro para uma nova jornada de reafirmação patriótica. Aqui, deste querido solo samborjense que me viu nascer, entre a sau- dade dos meus antepassados e o desabrochar das esperanças daqueles que nos sucederão, levanto mais uma vez a minha voz para dizer ao povo bra- sileiro que estou com ele, identificado pelo pensamento e pelo coração, e que as minhas reservas de energia e a longa experiência da minha vida pública serão consagradas à luta pelo seu bem-estar, se formos, como espero, vitoriosos. Esta é a minha mensagem de gratidão aos vossos sentimentos de afeto e so- lidariedade; mensagem de confiança nas manifestações da vontade popular, que afirmará a 3 de outubro o que me prometeram em todos os recantos do Brasil,

256 Mensagem dirigida ao povo brasileiro nas praças públicas das capitais, nos pequenos largos das cidades do interior, ao longo das avenidas mais ricas como das estradas mais abandonadas. Agora, nestas horas finais, que precedem o embate decisivo das forças par- tidárias, renovo, perante vós, a minha fé nos postulados cristãos da justiça social e nos gloriosos destinos do Brasil.

257 Petit Trianon – Doado pelo governo francês em 1923. Sede da Academia Brasileira de Letras, Av. Presidente Wilson, 203 Castelo – – RJ PATRONOS, FUNDADORES E MEMBROS EFETIVOS DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (Fundada em 20 de julho de 1897) As sessões preparatórias para a criação da Academia Brasileira de Letras realizaram-se na sala de redação da Revista Brasileira, fase III (1895-1899), sob a direção de José Veríssimo. Na primeira sessão, em 15 de dezembro de 1896, foi aclamado presidente . Outras sessões realizaram-se na redação da Revista, na Travessa do Ouvidor, n.o 31, Rio de Janeiro. A primeira sessão plenária da Instituição realizou-se numa sala do Pedagogium, na Rua do Passeio, em 20 de julho de 1897.

Cadeira Patronos Fundadores Membros Efetivos 01 Luís Murat 02 Álvares de Azevedo Tarcísio Padilha 03 Filinto de Almeida 04 Basílio da Gama Aluísio Azevedo 05 Bernardo Guimarães José Murilo de Carvalho 06 Cícero Sandroni 07 Valentim Magalhães Nelson Pereira dos Santos 08 Cláudio Manuel da Costa Cleonice Serôa da Motta Berardinelli 09 Domingos Gonçalves de Magalhães Magalhães de Azeredo 10 Rui Barbosa Lêdo Ivo 11 Lúcio de Mendonça Helio Jaguaribe 12 França Júnior Urbano Duarte 13 Visconde de Taunay Sergio Paulo Rouanet 14 Franklin Távora Clóvis Beviláqua 15 Gonçalves Dias Marco Lucchesi 16 Gregório de Matos Araripe Júnior 17 Hipólito da Costa Sílvio Romero Affonso Arinos de Mello Franco 18 João Francisco Lisboa José Veríssimo 19 Joaquim Caetano Alcindo Guanabara Antonio Carlos Secchin 20 Salvador de Mendonça Murilo Melo Filho 21 José do Patrocínio 22 José Bonifácio, o Moço 23 José de Alencar Machado de Assis 24 Júlio Ribeiro Garcia Redondo Sábato Magaldi 25 Barão de Loreto Alberto Venancio Filho 26 Guimarães Passos Marcos Vinicios Vilaça 27 Maciel Monteiro 28 Manuel Antônio de Almeida Inglês de Sousa Domício Proença Filho 29 Geraldo Holanda Cavalcanti 30 Pedro Rabelo Nélida Piñon 31 Pedro Luís Luís Guimarães Júnior 32 Araújo Porto-Alegre 33 Raul Pompéia Domício da Gama 34 J.M. Pereira da Silva João Ubaldo Ribeiro 35 Tavares Bastos Rodrigo Octavio Candido Mendes de Almeida 36 Teófi lo Dias Afonso Celso João de Scantimburgo 37 Tomás Antônio Gonzaga Silva Ramos Ivan Junqueira 38 Graça Aranha José Sarney 39 F.A. de Varnhagen Oliveira Lima 40 Visconde do Rio Branco Eduardo Prado

Composto em Monotype Centaur 12/16 pt; citações, 10.5/16 pt