UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ADRIELLI KARINE DIAS DOS SANTOS

DALILA BARROS DE AMORIM

VICTÓRIA MARIA SABINO PARRACHO

AS MULHERES NA DIPLOMACIA FRANCESA

SANTOS

2018

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ADRIELLI KARINE DIAS DOS SANTOS

DALILA BARROS DE AMORIM

VICTÓRIA MARIA SABINO PARRACHO

AS MULHERES NA DIPLOMACIA FRANCESA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Santos como requisito à obtenção do título e do grau de Bacharel em Relações Internacionais.

Orientadora: Prof. Drª. Natalia Noschese Fingermann.

SANTOS

2018

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ADRIELLI KARINE DIAS DOS SANTOS

DALILA BARROS DE AMORIM

VICTÓRIA MARIA SABINO PARRACHO

AS MULHERES NA DIPLOMACIA FRANCESA

Relatório final, apresentado a Universidade Católica de Santos, como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel.

Santos, 05 de novembro de 2018.

BANCA EXAMINADORA

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Prof. Drª. Natalia Noschese Fingermann Universidade Católica de Santos

______

Prof. Me. Alessandra Beber Castilho Universidade Católica de Santos

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Dados Internacionais de Catalogação

Departamento de Bibliotecas da Universidade Católica de Santos

______

Santos, Adrielli Karine Dias dos. S237m As mulheres na diplomacia francesa. / Adrielli Karine Dias dos Santos, Dalila Barros de Amorim, Victoria Maria Sabino Parracho; orientadora Natalia Noschese Fingermann. 65 f.; Monografia (graduação) - Curso de Relações Internacionais – Universidade Católica de Santos, 2018.

1. Diplomacia. 2. Feminismo. 3. França. I. Universidade Católica de Santos. Curso de Relações Internacionais. II. Amorim, Dalila Barros de. III. Parracho, Victoria Maria Sabino. IV. Fingermann, Natalia Noschese. V. As mulheres na diplomacia francesa. .

CDU 1997 – 327 ______Maria Rita C. Rebello Nastasi – CRB 8/2240

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AGRADECIMENTOS

Queremos agradecer a todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para nossa formação acadêmica, sobretudo à nossa família que tornaram nosso sonho possível, caminhando conosco e nos dando a mão neste longo período de aprendizagem.

Agradecemos também aos nossos amigos e a todos professores que participaram de nossa formação, em especial nossa orientadora Natalia Noschese Fingermann, obrigada por toda dedicação conosco.

A todas as pessoas que não mencionamos queremos deixar claro que não estão esquecidas. Se nos tocaram de algum modo podem ter certeza que agradecemos com toda intensidade.

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Nunca haverá paz no mundo se as mulheres não ajudarem a criá-la.

Bertha Lutz

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RESUMO

A questão de gênero nas relações internacionais tem sido cada vez mais tratada pela academia. Com o objetivo de entender como o espectro ideológico dos governos influenciam na questão de gênero e na participação das mulheres em diversas áreas do serviço público, esse trabalho realiza um estudo de caso da França, referência na diplomacia internacional amplamente reconhecida. Para realizar essa análise a pesquisa compara os governos de direita, de (2007-2012) e de centro-esquerda de François Hollande (2012-2017) em relação a atuação feminina dentro do governo e, principalmente, na diplomacia. Os resultados dessa pesquisa indicam que o posicionamento político-ideológico dos líderes em questão influenciou a presença das mulheres dentro do Quai d’Orsay, uma vez que no caso do governo de Hollande identifica-se um número maior de mulheres em posições de alto escalão em comparação aquele encontrado no governo de Sarkozy, embora tenha realizado uma inovação em termos de participação feminina dentro de instâncias importantes do governo, usualmente ocupadas por homens quando houve o comando de um partido de direita.

Palavras-chave: Diplomacia, feminismo, França.

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ABSTRACT

The issue of gender in international relations has been increasingly addressed by academia. In order to understand how the ideological spectrum of governments influence gender issues and the participation of women in various areas of the public service, this work carries out a case study of , a reference in international diplomacy widely recognized. In order to carry out this analysis, the research compares the right-wing governments of Nicolas Sarkozy (2007- 2012) and center-left Francois Hollande (2012-2017) in relation to women's work within government and, mainly, in diplomacy. The results of this research indicate that the political- ideological positioning of the leaders in question influenced the presence of women within Quai d'Orsay, since in the case of the government of Hollande a bigger number of women are identified in high-ranking positions in compared to the one found in Sarkozy's government, although he made a breakthrough in terms of female participation in key government departments, usually occupied by men when a right-wing party was commanded.

Keywords: Diplomacy, feminism, France.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...... 11 1. GÊNERO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS...... 13 1.1. A questão de gênero na França...... 17 2. A DIPLOMACIA FRANCESA E O PAPEL DA MULHER...... 21 2.1. A participação feminina na diplomacia atualmente...... 28 3. O SISTEMA DE GOVERNO FRANCÊS...... 30 3.1. Governo de Nicolas Sarkozy...... 31 3.2. Governo de François Hollande...... 38 4. DIPLOMACIA NO GOVERNO DE NICOLAS SARKOZY...... 43 4.1. Diplomacia no governo de François Hollande...... 47 4.2. Análise comparativa entre os governos de Sarkozy e Hollande...... 50 CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 54 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...... 55 ANEXOS...... 62 Anexo A – Suzanne Borel...... 63 Anexo B - Trecho de uma cópia do concurso de Suzanne Borel...... 63 Anexo C – Marcelle Campana...... 64 Anexo D - Isabelle Renouard como Secretária Geral de Defesa e Segurança Nacional...... 64 Anexo E – Nicolas Sarkozy e seus ministros...... 65 Anexo F – François Hollande e seus ministros...... 65

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LISTA DE GRÁFICOS E FIGURAS

Gráfico 1: Porcentagem de Embaixadores por Gênero (2017) ...... 24 Gráfico 2: Porcentagem de deputados eleitos por gênero (2004) ...... 33 Gráfico 3: Porcentagem de deputados eleitos por gênero (2007) ...... 34 Gráfico 4: Porcentagem de senadores eleitos por gênero (2005) ...... 35 Gráfico 5: Porcentagem de Senadores eleitos por gênero (2008) ...... 35 Gráfico 6: Porcentagem de deputados eleitos por gênero (2012) ...... 40 Gráfico 7: Porcentagem de senadores eleitos por gênero (2014) ...... 41

Figura 1: Suzanne Borel ...... 63 Figura 2: Trecho de uma cópia do concurso de Suzanne Borel ...... 63 Figura 3: Marcelle Campana ...... 64 Figura 4: Isabelle Renouard como Secretária Geral de Defesa e Segurança Nacional...... 64 Figura 5: Nicolas Sarkozy e seus ministros ...... 65 Figura 6: François Hollande e seus ministros ...... 65

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INTRODUÇÃO Os estudos de gênero nas Relações Internacionais têm chamado enorme atenção do debate contemporâneo. Autoras como Butler (2003), Tickner (2001) e Enloe (2007) têm mostrado os desafios das mulheres em países desenvolvidos e em desenvolvimento, destacando as dificuldades delas em ascender em carreiras tradicionalmente masculinas, tal como é o caso da diplomacia. Recentemente, no Brasil tem emergido pesquisas que ressaltam o papel das mulheres dentro do Itamaraty contando com autoras como Delamonica (2014) e Mendes (2011), que comparam a sua participação em relação a países desenvolvidos, como por exemplo Denéchère (2003), indicando as semelhanças e as diferenças entre essas nações.

Com o propósito de aprofundar sobre essa questão da participação feminina dentro da diplomacia, esse trabalho procurou focar em um país referência na organização do corpo burocrático diplomático, a França. Esse enfoque busca trazer para o debate brasileiro não somente dados comparativos em relação ao Itamaraty, mas também um novo olhar em relação a participação da mulher dentro da própria diplomacia, pois, compara as variações que há na presença feminina dentro dos governos dos presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande. Assim, essa pesquisa considera que há uma relação entre o posicionamento ideológico partidário dos governos e o nível de participação da mulher dentro da diplomacia. Assume-se, portanto, que quando o presidente está alinhado a um partido de centro-esquerda ou esquerda, a mulher diplomata tem mais participação nos órgãos públicos, tanto em termos quantitativos quanto em termos de posição hierárquicos. Já quando o presidente está alinhado a um partido de centro-direita ou direita, a participação das diplomatas tende a ser reduzida e limitada a esferas do baixo escalão do governo, com uma redução no quadro de diplomatas.

Dessa forma, a pergunta problema que guiou essa pesquisa foi: Como o posicionamento político das presidências reflete na participação das mulheres diplomatas na França?

Para conseguir responder esse objetivo, essa pesquisa fez um amplo levantamento bibliográfico e contou com o uso de técnicas de análise documental. A seguir, apresenta-se o trabalho em quatro capítulos:

O primeiro trata da questão de gênero dentro da disciplina de Relações Internacionais, utilizando-se das teorias pós-positivistas e feministas como viés de análise, tendo como principais expoentes a autora J. Ann Tickner (2001). Em seguida, tratamos sobre como a questão de gênero surgiu na França, assim como as suas primeiras revoluções.

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O segundo capítulo refere-se a historiografia do papel da mulher na diplomacia francesa. Quem foram as pioneiras, e como conseguiram tal feito. Também é retratado o funcionamento do Ministério das Relações Exteriores da França, e suas mudanças em relação a entrada das mulheres em suas atividades internacionais. Posteriormente é apresentado um panorama da atuação das mulheres na diplomacia atualmente.

O terceiro capítulo é caracterizado pela demonstração dos governos dos presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande delineando todos os seus feitos em relação a igualdade de gênero, utilizando dados bibliográficos.

O quarto capítulo é baseado na apresentação da política externa dos presidentes em questão, assim como a promoção de uma participação maior das mulheres na política externa, terminando com uma análise comparativa entre os dois governos, delimitando as diferenças e semelhanças, com o objetivo de responder a nossa hipótese inicial.

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1. GÊNERO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

No âmbito das relações internacionais, o Estado sempre foi o principal ator no cenário internacional. A teoria realista clássica se apresenta como uma forma de explicar e conceituar a balança de poder entre os Estados, por meio de sua própria manutenção, conservando o seu poder e preservando a ordem da população, tendo a segurança comum como uma das suas principais premissas. A segurança é vista como o principal bem público e também como um patrimônio para todos que vivem em comunidade.

A segurança nacional, que é vista como um símbolo de poder, vai se tornando cada vez mais significativa para os Estados perante o cenário internacional, pois isso reflete também nos seus interesses individuais. Dessa forma, é natural que esses interesses possam divergir dos interesses de outros Estados, ou até mesmo da realidade do sistema internacional, fazendo com que exista uma linha tênue entre guerra e paz, principalmente quando o Estado se encontra em uma situação de instabilidade interna.

O realismo defende que não existe isonomia no cenário internacional, ou seja, todos os Estados não seguem a mesma regra. Isso significa que como o sistema internacional é baseado na incerteza, as chances de acontecerem divergências são muitos grandes, por causa das relações entre os Estados, que muitas vezes são divergentes.

O sistema internacional é baseado na desigualdade de poder que é inerente aos Estados. E essa desigualdade é projetada nos níveis de capacidade bélica e desenvolvimento social e econômico, por exemplo. Essas diferenças geram uma busca por uma estratégia de defesa, e também pelo militarismo. (CASTRO,2012, p.316 - 317)

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surgiu uma nova conjuntura no sistema internacional, fazendo com que as teorias de Relações Internacionais também se alterassem. O fracasso do pensamento idealista, emergente a partir dos 14 pontos de Wilson, tinha levado a formação da Liga das Nações que não obteve sucesso devido a diversos fatores, como por exemplo, a não participação dos Estados Unidos, além de conflitos internos. A paz mundial não foi garantida com consequência disso.

O mundo pós-guerra apresentou uma forma de enxergar o cenário internacional com uma visão atualizada do realismo clássico dos seus principais teóricos, como Hobbes e Maquiavel. Foi assim que nasceu uma nova forma de estudar o sistema internacional, chamada de realismo neoclássico, que tiveram como principais teóricos Morgenthau e Carr.

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O período pós-guerra iniciou uma era nuclear nas Relações Internacionais. O acontecimento em Hiroshima e Nagasaki (1945) revelou para o mundo a força e os avanços nas áreas das ciências espaciais.

Além de Morgenthau (2003) e Carr (2001), outros teóricos também contribuíram para os estudos dessa nova conjuntura internacional, como por exemplo Kissenger e Kennen, que têm como ideia central a compreensão de que as relações internacionais têm como foco principal o poder e o interesse dos Estados centrais. O Estado atua independente e racionalmente possuindo seus próprios interesses dentro do sistema internacional. (Ibid, 2012, p.324)

No ponto de vista realista neoclássico, um dos pontos principais para a consolidação do poder é uma eficiente capacidade produtiva no campo da atividade bélica, objetivando o desenvolvimento dos armamentos militares para aumentar a defesa e integridade nacional.

Ainda nesse ponto, na questão do Estado contra o oponente estrangeiro, é importante ter em vista as forças armadas de pronto ataque e/ou defesa estratégica, com a finalidade de manter e defender a integridade territorial. Nessa temática, o exército possui papel principal, pois deve ser muito bem preparado e equipado com armamento de alta qualidade e capacidade de destruição para a preservação da soberania.

Também é importante ressaltar a relevância da obtenção dos recursos naturais e energéticos (renováveis e não-renováveis), pois é a partir deles que o Estado pode consolidar a atividade econômico-produtiva nacional, no âmbito a análise geopolítica (Ibid, 2012, p.325). Com o acesso a esses elementos, o Estado tem uma maior facilidade para fazer a manutenção e controlar os instrumentos militares, que de acordo com o realismo neoclássico, se tornam ponto de concordância na projeção do poder nacional a médio e longo prazo. Nesse âmbito, o estudo do realismo neoclássico se mostra útil para preparar os Estados para possíveis conflitos armados por meio de sistemas de utilização da força.

Dessa forma, na perspectiva do realismo neoclássico, o Estado terá, com esses elementos citados acima, aptidão para mover estrategicamente, os demais atores no cenário internacional. Entretanto, essa interferência depende também de outros componentes essenciais, como por exemplo, a competência diplomática e a vontade e apoio da nação. Um Estado exerce habilmente o seu poder quando elabora regras de comportamento na área internacional, assim como consegue influenciar outros Estados a agirem de acordo com os seus interesses próprios.

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Morgenthau (2001) defende que um dos principais pensamentos do realismo neoclássico é a ideia de que toda política externa de um Estado deve priorizar a sua segurança e soberania nacionais. Além disso, o teórico também diz que a ciência política é um estudo que está a parte das outras ciências sociais e humanas. (Ibid, 2012, p.325)

Após a Guerra Fria, surgiu uma nova conjuntura no cenário internacional. Até então, a maior preocupação do Estado era a sua própria segurança e poder. Com o fim da Guerra Fria, os teóricos passaram a perceber que existem outras temáticas relacionadas ao Estado que também precisavam ser estudadas e levadas a sério, como por exemplo, questões de gênero, econômicas, políticas, ambientais, e até mesmo sobre os próprios indivíduos.

Na disciplina de Relações Internacionais, a aproximação dos estudos de gênero acontece no chamado “Terceiro Debate”. O terceiro debate representa uma série de teorias, entre elas o positivismo, que se caracteriza nas Relações Internacionais como a utilização de métodos e pressupostos retirados do liberalismo clássico e da ciência econômica para estabelecer leis da política internacional. (MONTE, 2013, p.60)

Já os teóricos pós-positivistas são os que procuram entender as normas e instituições pelas quais o Estado atua. Esses teóricos entendem que a política externa é afetada pela existência de identidades estatais que foram construídas pelos atores internos e externos. (Ibid, 2013, p.60)

Sendo assim, o “Terceiro Debate” é essencial para a compreensão dos estudos de gênero como uma categoria de análise das Relações Internacionais. Já que os teóricos positivistas, representados por Steve Smith (1996), têm uma abordagem mais econômica enquanto os pós- positivistas, representados por Yosef Lapin (1989), têm uma visão mais sociológica para a explicação dos eventos internacionais.

O pós-positivismo abriu espaço para temas de gênero serem analisados como um tema de pesquisa nas relações internacionais, já que a forma como os Estados se comportam no cenário internacional também diz respeito as hierarquias de gênero, e como a sociedade foi formada.

Foi nesse momento que as questões relacionadas a gênero e o feminismo ganharam notoriedade no cenário internacional. Com isso, as teóricas feministas puderam realizar as suas pesquisas, assim como ganharam espaço para difundir os seus estudos internacionalmente. A teoria feminista é representada pelos seguintes atores: J. Ann Tickner (2001), e Cynthia Enloe (2007), que reavaliaram os conceitos e pensamentos que permeavam o debate das relações

15 internacionais. Um desses conceitos é justamente a questão da mulher e a sua relação e participação no sistema internacional.

Assuntos que são de extrema relevância para a agenda internacional de um Estado, como por exemplo, a segurança, economia, poder e soberania, são vistos, considerados, e abordados de uma maneira diferente, quando são feitos a partir de uma perspectiva feminina. A interpretação das mulheres sobre esses temas e como eles são elaborados é diferente, não somente no âmbito acadêmico, mas também para os grandes meios de comunicação. De acordo com essa teoria, há diferenças no processamento de estudo do cenário internacional quando feito pelos gêneros masculino e feminino.

Como já foi mencionado, a perspectiva feminista de Relações Internacionais se encontra bem próxima da perspectiva pós-positivista. Sendo assim, a escola feminista, como a escola construtivista e a perspectiva da sociologia histórica, tece críticas sobre o método científico das ciências sociais como ferramenta de operacionalidade e previsibilidade lógica. Advogam, portanto, aspectos da teoria normativa como meio de superar as limitações do positivismo clássico, vigente por durante as duas grandes gerações de debates teóricos em Relações Internacionais (CASTRO, 2012, p.405)

O feminismo apresenta duas premissas iniciais no olhar das Relações Internacionais: (1) o conceito de identidade, e (2) o conceito de quebra das regras tradicionais de Relações Internacionais. (Ibid, 2012, p.405)

Em uma sociedade, a questão de gênero é culturalmente construída, ou seja, foram criados padrões e normas que homens e mulheres devem seguir desde a infância. Então, a valorização do homem e da masculinidade também tem relação com a construção política dos gêneros, definindo assim quem detém o poder e pode fazer uso dele, fazendo com que a mulher fique muito atrás no que diz respeito a carreira política.

A distribuição do poder e da autoridade sempre foram favorecidas aos homens, e as mulheres consequentemente foram deixadas para trás. Por exemplo, durante toda a história mundial, foram poucas as mulheres que conseguiram realizar uma carreira política, pois é uma área que pertence aos homens. Em decorrência disso, essas poucas mulheres que conseguiram ascender na política sentem a necessidade de se comportarem de uma forma muito mais masculina, com o objetivo de obter o respeito de seus colegas.

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A hierarquia de gênero é algo que é bastante notável nas formulações das teorias de Relações Internacionais, já que a grande maioria dessas teorias foram criadas por homens. É a partir desse pensamento que surge a preocupação em saber quem está escrevendo e o que está escrevendo, assim como quem lê posteriormente. De acordo com Tickner (1997), o teórico não consegue se desprender completamente de sua visão de mundo, pois “o conhecimento é socialmente construído, contingente e moldado pelo contexto cultural e histórico” (TICKNER, 1997, p.622). Sendo assim, as teorias feministas são consideradas teorias normativas, pois podem ser consideradas como uma nova perspectiva de buscar mudar a visão que já existe do cenário internacional. (Ibid, 1997)

As Relações Internacionais são uma disciplina profundamente marcadas e influenciadas pelo gênero, de acordo com Pontes Nogueira e Messari (2005). Isto é, trazem em si discursos e práticas que muitas vezes aumentam o espaço entre a conciliação possível entre homens e mulheres. Temas de segurança internacional e defesa nacional, por exemplo, são carregados de notas às vezes abertas ou às vezes mais discretas e tons masculinos, excluindo a democratização analítica de outras perspectivas (CASTRO, 2012, p.406)

As causas das guerras internacionais, por exemplo, são vistas com olhares totalmente diferentes por profissionais homens e mulheres de Relações Internacionais. A vivência também conta muito nesse sentido, pois em uma sociedade, o modo de criação e as experiências vividas pelas mulheres têm um impacto muito grande no modo em que elas enxergam o mundo e os seus fenômenos, e consequentemente as suas decisões e atitudes também serão afetadas.

Dessa forma, torna-se importante não somente incluir o olhar feminino na construção das teorias das Relações Internacionais, mas também na execução da mesma, que só é possível a partir da entrada das mulheres no mercado de trabalho, e, em específico, na diplomacia. Na parte seguinte, assim, apresenta-se como essa questão da participação feminina ocorre na França no decorrer dos anos, de forma a contextualizar a sua inserção dentro do corpo diplomático.

1.1. A questão de gênero na França

A palavra feminismo vem da contração da palavra latina “femina”, que significa “mulher”; e sufixo –ísmo, designando uma posição teórica. Aparece pela primeira vez em escrito em 1872, quando Alexandre Dumas Filho diz: “feministas, passa-me o neologismo, dizendo: Todo o mal

17 vem por não reconhecer que a mulher é igual a homem, que ela deve ser dada a mesma educação e os mesmos direitos que os homens”.

No caso da França, empoderamento das mulheres ocorre principalmente a partir da Revolução Francesa, quando o contexto político e o surgimento de novas liberdades individuais encorajaram as mulheres a reivindicar suas ações, mas também a começar a investir no espaço público. Podemos mencionar a Olympe de Gouges, a feminista mais famosa de seu tempo, especialmente por sua Declaração dos Direitos da Mulher e do Cidadão, que a levou posteriormente para a guilhotina.

Um dos acontecimentos que marcaram a participação da mulher na Revolução ocorreu em março de 1792, quando Pauline León leu na tribuna uma petição assinada por trezentas mulheres, reivindicando o direito de se organizarem em Guarda Nacional. Apesar dos esforços, os revolucionários não permitiram tal organização, pois a formação de uma Guarda Nacional, a participação na Assembleia e o direito ao voto representavam a condição de igualdade entre os sexos e cidadania. A negação desses direitos traduz claramente a oposição e a divisão entre o sexo feminino e o masculino.

Ainda em 1791 o casamento foi considerado um contrato civil, e o divórcio foi possível no ano seguinte. Essas duas medidas implicaram, assim, na igualdade entre as duas partes, até o século XIX, quando esses direitos foram abolidos.

Em 1848, a Revolução Francesa levou à proclamação da República e as mulheres a retomaram para reivindicar seus direitos. Assim, a pena de morte por ato político é abolida e o trabalho das mulheres é permitido. No entanto, resta a elas obter o status de cidadã, a fim de alcançar o acesso aos direitos políticos e, assim, realizar sua própria emancipação através da modificação do Código Civil. Um ano depois, Jeanne Deroin foi a primeira mulher a concorrer à Assembleia Nacional e, embora se opusesse fortemente a ela, ainda era capaz de abrir o debate que as mulheres estavam esperando,

Em 1869, Maria Deraismes, filósofa, contribuiu para a fundação do jornal “O direito das mulheres” e, pouco depois, para a criação das primeiras associações feministas na França.

Em 1897 apareceu a primeira edição do jornal “La Fronde”, por iniciativa de Marguerite Durand. Tem a distinção de publicar os textos de mulheres ativistas por várias causas e centra- se na educação e no trabalho das mulheres. Enquanto isso, as associações feministas foram ganhando apoio de políticos, levando ao direito das mulheres de ganhar seu salário em 1907.

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As mulheres, então, tornam-se mais ativas na sociedade, e o progresso no campo da educação lhes dá acesso a novas funções ou a salários iguais para as professoras do sexo feminino e de seus colegas do sexo masculino. O aborto tem sido uma ofensa desde a lei de 23 de janeiro de 1923, e as próprias associações feministas adotam os valores republicanos morais e tradicionais.

Na França, a questão do sufrágio foi por muito tempo deixada de lado, pois alguns outros temas eram mais urgentes na época, como por exemplo, a educação das meninas e o direito ao trabalho. Somente por volta de 1906-1910, com a criação da União Francesa para o Sufrágio das Mulheres (UFSM) o sufragismo se impõe, embora seja moderado se comparado ao sufragismo inglês, conquistado em 1903. Essa moderação do movimento fez com que o direito político às mulheres fosse concedido por etapas, tendo o sufrágio municipal como passo inicial no dia 29 de abril de 1945, seguido pelo sufrágio nacional que ocorreu em outubro do mesmo ano. (THÉBAUD, 2000, p.121). Em comparação a outros países desenvolvidos, o sufrágio das mulheres na França foi tardio, pois na Nova Zelândia, ele foi conquistado em 1893, na Finlândia, em 1906, e nos Estados Unidos, em 1920.

Por conta da crise econômica de 1933, a grande maioria das mulheres trabalhadoras perderam o seu emprego, sendo novamente incentivada a cuidar de sua casa. Em 1938, a lei sobre os direitos civis das mulheres casadas é votada: ela agora pode abrir uma conta bancária, estudar, passar nos exames e solicitar um passaporte sem a permissão do marido. No entanto, ele continua a ser o chefe de família, estando autorizado a proibir sua esposa o exercício de uma profissão que ele não aprova.

Após a Segunda Guerra Mundial, e depois durante a Guerra Fria, a política natalista é novamente relevante, e a maternidade é percebida como um dever nacional. É nesse contexto, que aparece em 1949 “O segundo sexo”, de Simone de Beauvoir, autora e filósofa. É por meio deste trabalho que o atual essencialismo é agora percebido como fruto de uma construção social, e que o tema da sexualidade das mulheres começa a ser abordado. Essas ideias são inovadoras e o livro é um grande sucesso, especialmente com novas gerações de feministas.

Mas é somente nos anos 60 que uma evolução marcante em direção a mais direitos aparece. Em 1965, uma nova lei permite que uma mulher pratique a profissão de sua escolha, apesar da oposição do marido, mas também administrar sozinha a propriedade que lhe pertence. Finalmente, em 1967, foi aprovada a lei de Neuwirth, que legaliza a contracepção. No ano de

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1968, finalmente, graças às numerosas manifestações de esquerda, abre caminho aos movimentos feministas para uma maior participação feminina na política.

O feminismo também começou a encontrar um lugar entre os vários partidos políticos. Além disso, foi em 1981, com a eleição do Presidente François Mitterand, que o Ministério dos Direitos da Mulher foi estabelecido pela primeira vez. Algumas universidades e o Centro Nacional de Pesquisa Científica criaram programas de pesquisa sobre teorias feministas ou sobre construções sociais de gênero.

Em janeiro de 2000, a lei da paridade na política é aprovada pelo Parlamento, tornando a França o primeiro país do mundo a introduzir uma lei de cotas femininas para ampliar a participação no Legislativo voltada ao Congresso e outros órgãos (MURRAY, 2012, p.343). A representação das mulheres em 2017 no Parlamento francês, que é de 39%, é maior que a participação em outros países desenvolvidos, como por exemplo a Alemanha (37%) e o Reino Unido (32%) no mesmo ano. A proporção de mulheres no parlamento aumentou desde a introdução da lei (de 10,9% em 1997 para 12,1% em 2002, 18,2% em 2007, 26,9% em 2012, e 26,2% em 2016) (WORLD BANK DATA, 2018). Em relação a diplomacia e a participação das mulheres é importante apontar que não há quotas disponíveis, no entanto, nessa área do governo se percebe um crescimento no papel das mulheres ao longo dos séculos XX e XXI, como é detalhado no capítulo 2, a seguir.

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2. A DIPLOMACIA FRANCESA E O PAPEL DA MULHER

A diplomacia francesa é considerada uma das mais antigas de todo o mundo. E como qualquer outro setor do governo, a política externa é uma área dominada pelos homens. A França está caminhando para a igualdade entre homens e mulheres, contando com corajosas mulheres, como por exemplo, Simone Veil1, que abriram espaço para que cada vez mais mulheres possam se interessar pela política externa e pela diplomacia. A participação das mulheres na representação internacional da França foi um momento muito importante na história da política externa do país. Como passo inicial desse capítulo, é essencial considerar a historiografia da atuação feminina na diplomacia.

Em meados da década de 1970, os pesquisadores, que podem ser representados por Michelle Perrot (DENÉCHÈRE, 2003, p. 89), começaram a estudar a atuação feminina na esfera política e social, assim como os movimentos feministas que estavam fervorosos na época.

O Ministério das Relações Exteriores da França é chamado de “Quai d’Orsay”, e é importante entender como ele funciona. Dentro do Ministério, existem cargos que são classificados nas categorias A B e C.

Os candidatos da categoria A devem ter um bacharel, ou um diploma de nível II2 no mínimo, ou uma qualificação reconhecida como equivalente a esses diplomas, nas condições estabelecidas por despacho do Ministro dos Negócios Estrangeiros. Existem 3 áreas de atuação na categoria A: Conselho de Negócios Estrangeiros, Secretaria de Negócios Estrangeiros, e Sistemas de Informação Anexados e Comunicação. (IPAG, 2018).

Os candidatos da categoria B devem ter um bacharel, ou uma qualificação reconhecida como equivalente a esse grau. Ele permite integrar o corpo de Secretários de Chancelaria ou Secretárias de Sistema de Informação e Comunicação (Ibid, 2018).

Para os candidatos da categoria C não é necessário nenhum diploma superior, apenas o ensino básico. Fornece acesso ao corpo de deputados da Chancelaria Administrativa e Técnica, Assistente Administrativo 1ª Classe de Chancelaria na França e no exterior, Assistente

1 Simone Veil foi a Ministra da Saúde que aprovou, em 1974, um projeto de lei que descriminalizou a interrupção voluntária da gravidez na França. Foi também a primeira mulher a presidir o Parlamento Europeu (1979-1982) e uma das primeiras mulheres a tornar-se membro do Conselho Constitucional da França, a mais alta instância do Poder Judiciário no país. 2 Equivalente ao diploma de Mestrado. 21

Administrativo 1ª Classe de Chancelaria para executar tarefas de secretariado ou tarefas administrativas, como por exemplo funções consulares, gerenciais e contábeis (Ibid, 2018).

Também é importante entender como funciona a prova do concurso Quai d’Orsay. A avaliação consiste em 2 fases que são:

1. Três provas, uma por escrito e outras duas verbais, a segunda prova verbal é opcional. O teste por escrito consiste na elaboração de um documento administrativo, permitindo qualificar as qualidades da redação, análise e síntese do candidato, bem como sua aptidão para divulgar as soluções adequadas. Responder a uma pergunta que possa estar relacionada ao registro documental, de no máximo vinte páginas, possibilitando a verificação do conhecimento administrativo geral do candidato e seu conhecimento sobre a gestão de recursos humanos nas administrações públicas. Os assuntos abordados nas avaliações são: políticas públicas de coesão social e igualdade de oportunidades; finanças públicas e intervenção econômica; gestão pública e desempenho em serviços públicos; o sistema de ensino, do primeiro nível ao ensino superior; desenvolvimento sustentável e políticas públicas; a organização territorial da França (Ibid, 2018). 2. O primeiro teste de admissão oral: entrevista com o júri, composto por 48 membros, entre eles o Embaixador da França (que é o presidente do júri), além de professores, ministros, e membros do Conselho de Negócios Estrangeiros (DIPLOMATIE, 2018), para avaliar a personalidade, aptidões e motivações do candidato e reconhecer suas realizações da sua experiência profissional. O segundo exame oral consiste num teste facultativo de língua estrangeira: uma entrevista baseada num breve texto sobre num dos seguintes idiomas: alemão, inglês, italiano ou espanhol (IPAG, 2018).

A primeira mulher que passou no exame de admissão e entrou para o Quai d’Orsay foi Suzanne Borel, no ano de 1930, embora seja em 10 de fevereiro de 1928 somente que se permite a participação de mulheres ao exame de admissão às carreiras diplomáticas e consulares. Mesmo antes de ser a primeira mulher a atravessar as redes do Quai d’Orsay, o Ministério já limitou severamente as oportunidades de carreira das mulheres.

Assim, Suzanne foi ao Ministério para entrar na competição, porém um oficial de justiça tenta impedi-la de fazê-lo porque ela não fez o seu serviço militar. Ela falha pela primeira vez no “Grand Concours” em 1929, mas é recebida no ano seguinte. Durante a sua nomeação no Ministério antes de assumir as suas funções, o diretor responsável lhe explicou que ela podia 22 trabalhar apenas para os serviços auxiliares (a imprensa, o serviço da Liga das Nações e o serviço das obras) e não para as diretorias públicas. Ela é então solicitada a assinar uma carta previamente preparada, na qual ela reconhece o direito do Ministro de usá-la apenas para esses serviços.

Depois de ser finalmente admitida, Suzanne Borel é nomeada para o Departamento de Obras, no qual ocupou vários cargos por nove anos até a Segunda Guerra Mundial (DIPLOMATIE, 2018).

Após a entrada de Suzanne Borel, leva quarenta e dois anos para uma mulher, Marcelle Campana, ser nomeada embaixadora em 1972, e cinquenta e seis anos para outra mulher, Isabelle Renouard tornar-se diretora da administração central, em 1986.

Marcelle Campana é filha de um diplomata francês que foi cônsul geral da França em Sydney e Londres na década de 1920. Ela ingressou no Ministério das Relações Exteriores em 1935 como secretária e tornou-se diplomata após a libertação. Ao tornar-se cônsul geral em Toronto e depois embaixadora no Panamá em 1972, tornou-se a primeira mulher nomeada para os cargos da categoria A.

Após a nomeação de Marcelle Campana, houve o aumento lento e gradual no número de mulheres na posição de embaixadora. Por exemplo, em 1982, três mulheres eram embaixadoras, dezesseis em 2002, e abaixo representado no gráfico está o atual resultado, de um total de 197 embaixadores, 49 são mulheres (em 23 de fevereiro de 2017) (Ibid, 2018). Mesmo com uma política considerada feminista, com cotas para as mulheres, ainda existem poucas mulheres para escalar o Ministério das Relações Exteriores e representar a França no Mundo.

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Embaixadores (2017)

24,80%

75,20%

Mulheres Homens

Gráfico 1: Porcentagem de Embaixadores por Gênero (2017)

Fonte: Diplomatie, 2018

Nos seus princípios, o direito da Comunidade Europeia, desde o Tratado de Roma de 1957, define a paridade, representação, número igual de mulheres e homens, cada um representando metade da população. É certo que, dentro do Ministério francês dos negócios estrangeiros, as mulheres são numericamente a maioria: em janeiro de 2013, eram 53% dos funcionários do Ministério, contando os funcionários das categorias A, B e C. Atualmente, é a Ministra das Relações Exteriores responsável pelos assuntos europeus, ficando abaixo apenas do Ministro das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian (GOUVERNEMENT, 2018).

As decisões de política externa são essencialmente de natureza política. A questão é se as mulheres em cargos de responsabilidade política participaram da tomada de decisões na política externa. O mais alto nível a este respeito é a Presidência da República, que nunca foi exercido por uma mulher. Mais interessante, sem dúvida, é o estudo do que está acontecendo no Quai d’Orsay. Nunca houve uma mulher Ministra das Relações Exteriores na França. Essa é uma das poucas pastas que foi constantemente reservada para homens como a do Interior e Finanças.

No entanto, as mulheres puderam participar da tomada de decisões dentro do gabinete do ministro, mas primeiro deve-se estudar as suas funções e a sua influência. Se nunca houve mulheres no departamento, pela primeira vez em 1984, uma delas, Catherine Lalumière, se tornou Secretária de Estado do Ministério das Relações Exteriores. Então, em 1988, Edwige

24

Avice foi nomeada Ministra Delegada do Ministério das Relações Exteriores (DENÉCHÈRE, 2003, p.91).

Os assuntos europeus são também mais prontamente confiados às mulheres, pelo fato de serem temas menos importantes. De 1984 a 1986 e de 1988 a 1993, um secretariado de Estado, um ministério independente e um ministério delegado responsável por estas questões foram confiados a mulheres (Ibid, 2003, p.92), mas pode-se dizer que na década de 1980 essas posições não eram as mais procuradas pela classe política masculina. Há também a mesma “sobre representação das mulheres” no Parlamento Europeu, cuja presidência foi realizada duas vezes por mulheres francesas, Simone Veil, já citada, e Nicole Fontaine, e na Comissão de Bruxelas com Sra. Scrivener e Cresson. Pode-se afirmar que os políticos franceses sempre favoreceram o compromisso político nacional e parece que estão abandonando às mulheres as responsabilidades e mandatos europeus que parecem secundários para eles. O número muito pequeno de mulheres deputadas ou senadoras também levanta o problema da interação entre a política e o lugar das mulheres na política externa da França.

As primeiras mulheres a entrarem no Quai d’Orsay antes de 1914 eram datilógrafas que trabalhavam na elaboração de documentos. Então no final de 1920, as áreas de edição e tradução da Secretaria de Negócios Estrangeiros foram abertas para as mulheres. A inserção dessas mulheres no ambiente de trabalho causou uma reação de espanto nos homens que lá trabalhavam (Ibid, 2003, p.92)

Em maio de 2001, Loïc Hennekine, Secretário Geral do Quai d’Orsay, disse: “O Ministério está muito consciente do lugar das mulheres na nossa política externa e trabalha para fortalecê-lo, confiando às mulheres posições de responsabilidade dentro da nossa diplomacia” (Ibid, 2003, p.92)

Esse avanço é importante, o Quai d’Orsay feminiza sua administração, mesmo que seja um movimento que afeta especialmente os escalões mais baixos da escala administrativa. Porém muitos estudos em diferentes setores de atividade mostraram que o acesso das mulheres a determinados ofícios ou cargos não significa igualdade nas carreiras.

Temos que fazer uma distinção entre notas e empregos. No final da década de 1970, 32% dos cargos no Ministério das Relações Exteriores eram ocupados por mulheres. Enquanto 36,6% da equipe da categoria B são mulheres, elas representam apenas 9,1% da equipe da categoria A (deve-se notar que a média nacional da administração é de 58% e 31%,

25 respectivamente). Assim, 25% dos secretários das chancelarias são mulheres, mas apenas 5% dos secretários e consultores estrangeiros e 0,5% dos plenipotenciários dos ministros são mulheres. Estes números não são surpreendentes: eles refletem um fenômeno bem conhecido que é a feminização das posições inferiores. No que diz respeito aos empregos, apenas três mulheres tinham responsabilidades de chefes de missão (Miss Campana, Dienesch e Malichenko). Na sede, alguns cargos de vice-diretor, são ocupados por mulheres, mas elas ainda não ocupam cargos de direção. As razões dadas por para justificar esta situação são bem conhecidas: vida familiar difícil de conciliar com os postos no estrangeiro (Ibid, 2003, p.93).

Houve uma evolução inegável no sentido de uma maior feminização do pessoal do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Seis por cento dos Ministros Plenipotenciários3 da segunda e da primeira classe são mulheres, mas apenas uma mulher alcançou o posto de Ministra Plenipotenciária. Até o momento, ainda não há mulher entre os embaixadores dignitários. A observação de uma feminização em número e qualidade é feita, mas ainda não toca os degraus mais altos da escada. É apenas um efeito do atraso tomado anteriormente e que é explicado pelo progresso normal das carreiras. Uma certeza permanece, no entanto, é que as mulheres são sempre mais numerosas em proporção da parte inferior da escala e confinadas a designações que certos arcaísmos consideram como femininas, como por exemplo os cargos de intérpretes e tradutores.

A nomeação das mulheres embaixadoras da década de 1970 levanta uma série de perguntas e requer adaptações da diplomacia francesa. Podemos começar mencionando a feminização das palavras. Até muito recentemente, a palavra “embaixador” era a única usada, e apenas as mulheres chefes de missão no exterior eram chamadas de “Madame l’ambassadeur”. Na edição de 2002 do Anuário Diplomático, na lista cronológica de embaixadores, todas as mulheres são chamadas de embaixadoras. Nas edições anteriores, esse termo foi reservado para mulheres e nomeadas depois de 1998, o ano de uma circular do primeiro-ministro Lionel Jospin, sobre “a feminização de nomes, posições, cargos ou títulos”. Esta circular lembra outra, datada de 1986, mas que nunca havia sido aplicada. Refere-se, entre outros, aos diplomatas. A partir de agora, os termos “embaixador” e “consular” são utilizados pela administração. Esta medida é, de resto, apreciada pelos próprios embaixadores. As cartas enviadas pelos embaixadores hoje muitas vezes ainda incluem o título “O Embaixador”. Da mesma forma, os sites das embaixadas, em sua apresentação genérica, oferecem o “retrato do embaixador” ou a “palavra do embaixador”,

3 Ministro Plenipotenciário é um chefe de missão diplomática de categoria inferior à de Embaixador. 26 mesmo para uma mulher. Mas outros diplomatas reivindicam e usam o termo “embaixador” e expressam seu desejo de uma maior representação das mulheres entre os chefes de missões franceses no exterior (Ibid, 2003, p.95)

Deve-se notar que as primeiras seis mulheres nomeadas embaixadoras eram solteiras. Isso reflete um aspecto bem conhecido do acesso das mulheres aos cargos de responsabilidade: disponibilidade, total comprometimento com o trabalho, etc.

O número de mulheres ocupando cargos de chefes de missão só aumentou realmente nos anos 90, especialmente nos últimos anos. Havia três mulheres embaixadoras em 1982, e dezesseis em 2002 (Ibid, 2003, p.95). Outras mulheres representam a França para organizações internacionais. Com a evocação do número, aparece a questão de paridade. As diferentes ondas de nomeações de mulheres para embaixadores devem ser determinadas, em 1998 aparecendo como um ano marcante nessa área. Mas também é importante mencionar em quais países as mulheres são enviadas para representar a França.

De fato, vemos que o número das embaixadas “femininas” é maior do que o número de embaixadores. Isso é explicado pelo fato de que alguns diplomatas são chamados para representar a França em vários estados vizinhos. Assim, em 1983, Claude Lafontaine é a embaixadora da França em nada menos que oito Estados: Antígua e Barbuda, Barbados, Dominica, Granada, Guiana, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia, Trinidad e Tobago. Nos anos 80 e 90, outras mulheres também ocuparam cargos em pequenos Estados, principalmente no Caribe, na América Central (Belize e El Salvador) e na África Austral (Lesoto e África do Sul, Moçambique e Suazilândia). Deve-se notar que quando os homens são nomeados nessas regiões, eles também devem ter várias missões. Além disso, desde o final da década de 1990, essa prática de confiar às mulheres múltiplas missões em particular parece ter sido abandonada. No entanto, é notável que os Estados menos importantes sempre foram e continuam mais propensos a receber mulheres diplomatas (Ibid, 2003, p.96).

Qualquer compromisso diplomático é interativo. Assim, podemos pensar que é porque os países do norte da Europa foram e continuam sendo os mais avançados na questão da paridade entre homens e mulheres, que a França lhes envia mulheres mais dispostas a representá-lo (Noruega da década de 1980, a Suécia na década de 1990, e a Holanda hoje). Por outro lado, o Quai d’Orsay não prevê a nomeação para países cuja cultura e religião impediriam a aprovação de uma diplomata mulher, e de quem uma simples proposta desta natureza seria considerada um tipo de provocação. (Ibid, 2003, p.96) 27

No entanto, as atribuições de mulheres diplomatas parecem obedecer a regras implícitas. Por exemplo, nenhuma mulher representou a França na ONU, na OTAN ou no Conselho do Atlântico Norte desde sua criação. Os assuntos internacionais e militares, portanto, parecem estar de fato reservados aos homens. Os assuntos econômicos estão agora abertos às mulheres, com duas representantes francesas à OCDE de 1993. Desde 1981, nada menos que quatro mulheres representaram a França na UNESCO. (Ibid, 2003, p.97)

2.1 A participação feminina na diplomacia atualmente

No Ministério da Europa e dos Negócios Estrangeiros, essa questão é objeto de uma dupla abordagem: internamente, para melhorar a igualdade profissional e no quadro da ação externa da França. Essas duas principais áreas de intervenção, complementares entre si, são descritas na Estratégia Internacional da França para Igualdade entre Mulheres e Homens (2018-2022).

Dentro do Ministério, foi estabelecida uma política proativa de igualdade profissional. O objetivo é avançar com a paridade real em todas as áreas: desenvolvimento de carreira, nomeações, lutas contra a discriminação, formação, vida profissional e vida familiar. Melhorar as práticas internas sobre igualdade profissional e paridade. A natureza exemplar no Ministério nas suas práticas internas é um elemento central. Coordenado por Florence Mangin, Oficial Sênior da Igualdade de Gênero, o roteiro ministerial pretende continuar a aumentar o número de mulheres em gestão, liderança e embaixadores. Em 2017, 52% dos ocupantes do Ministério eram mulheres. Em 2012, havia 11% das embaixadoras em dezembro; em 2017 eram 26%; em 2016, 22% das mulheres eram gerentes. Hoje são 27%. (DIPLOMATIE, 2018)

Melhorar a igualdade profissional e salarial significa também destacar essas questões na comunicação institucional e desenvolver ferramentas de recursos humanos adaptadas, tais como: um quadro formalizado para lidar com casos de assédio e violência no trabalho; um estudo sobre a divisão do trabalho por gênero, e a busca e o reforço de esquemas para um melhor equilíbrio entre trabalho e vida privada. Se esses dispositivos dizem respeito a todos os agentes, de fato, essas garantias beneficiam as mulheres primeiro.

Passando da conscientização para o treinamento, e do treinamento para o pessoal, as atividades de conscientização sobre a igualdade de gênero estão sendo organizadas para todos os funcionários ministeriais e novos participantes.

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Ao mesmo tempo, podem ser organizadas ações de treinamento mais longas e especializadas para os oficiais que trabalham em questões internacionais de gênero, no contexto de suas funções e pessoas em posições de responsabilidade.

Na área de fortalecimento da rede de pontos focais e pontos focais para a igualdade de gênero, em 2017, a rede de Correspondentes de Igualdade de Gênero do Ministério consistia de 142 pessoas. Essa rede é responsável pela articulação entre a administração central e a rede do Ministério, no campo da igualdade de gênero. Os correspondentes têm como missão dialogar com os parceiros, para assegurar uma vigilância sobre o tema da igualdade e comunicar sobre a política francesa e a estratégia internacional do ministério.

Nos próximos capítulos serão apresentados os governos de Nicolas Sarkozy e François Hollande, assim como os seus feitos acerca da promoção de igualdade de gênero, retratando os dados sobre a participação das mulheres no serviço público.

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3. O SISTEMA DE GOVERNO FRANCÊS

A quinta República Francesa de 1958 surge da falência da quarta República Francesa de 1946, essa mudança ocorreu pela chamada crise de Argélia, o que levou a ruptura institucional da França e o novo reajuste social.

O sistema de organização do Estado Francês é centralizado e unitário, sendo um governo semipresidencialista, caracterizado por um sistema híbrido, ou seja, entre os poderes parlamentaristas e presidencialistas.

O semipresidencialismo tem dinâmica própria e estabelece relações peculiares entre o chefe de Estado, o Governo e o Legislativo. De um lado, combina traços do presidencialismo (como o exercício de algumas atribuições de política interna pelo presidente e seu poder de organizar o governo) e do parlamentarismo (como a responsabilidade colegiada do Governo perante o Parlamento e o mandato com prazo certo). (TAVARES, 2017, p.65)

Esse sistema surge de dois fatores históricos muito importantes na França, a Revolução Francesa de 1789, que se estabeleceu uma forte tradição parlamentarista no país, com um forte papel central concedido pela Assembleia Nacional. O outro fator é que o general Charles de Gaulle foi o primeiro presidente da quinta república francesa de 1958 a 1969, uma figura considerada muito importante da resistência francesa na Segunda Guerra Mundial, que levou os franceses a pensarem sobre o papel que lhe caberia dentro de seu sistema político no pós- Guerra nos anos 1950, sua política é conhecida como Gaullismo.

O sistema de governo é caracterizado pelo voto popular, o presidente da República ocupa um mandato de 5 anos, com direito a candidatar-se à reeleição. Porém, ele é apenas o chefe de Estado, pois existe um chefe de governo, o Primeiro Ministro. O presidente possui funções práticas e importantes, não sendo apenas simbólicas, como por exemplo: possui o poder de nomear o primeiro ministro ou as vezes demiti-lo, cuidar da política externa do país e dissolver o parlamento.

O presidente possui um papel ativo na política maior do que no parlamento, ele divide tais poderes com o primeiro ministro como nomear os ministros do governo, apoiar proposta do Primeiro Ministro, convocar sessões extraordinárias do parlamento e redigir decretos.

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3.1 Governo de Nicolas Sarkozy

Nicolas Paul Stéphane Sarközy de Nagy-Bocsa, formado em Direito é um político francês que foi eleito na nona eleição presidencial da Quinta República Francesa em 16 de maio de 2007, cumprindo o seu mandato até 15 de maio de 2012, pelo partido Union pour une majorité. Sarkozy atualmente integra o partido Les Républicains. (Os Republicanos) que se tornou desde de 2015, partido sucessor a UMP (União por um Movimento Popular) criados por Sarkozy, ambos os partidos possuem aspectos políticos de centro-direita.

O partido UMP passou por um processo de transição, ao modificar seu nome para “Os Republicanos” no ano de 2015, após denúncias de corrupção envolvendo o ex-presidente do partido Jean-François Cope que renunciou ao cargo. O partido também sofria investigações em relação a campanha de eleição de Nicolas Sarkozy em 2012.

Antes de se tornar presidente da Quinta República Francesa, Sarkozy atuou diretamente em muitas áreas políticas. No governo de Jacques Chirac, foi ministro do interior por dois anos seguidos de maio de 2002 a março de 2004. Em seguida foi nomeado ministro das finanças no governo de Riffarin, de março de 2004 a 2005. Logo após, foi ministro do interior no governo do Domonique de Villepin, de 2005 a 2007.

Nos anos de 2004 a 2007, se tornou presidente do conselho geral do departamento francês de Hauts-de-Seine. Por fim, foi ministro dos orçamentos no governo de Édouard Balladur no período do último mandato de François Mitterrand.

Embora houvesse dúvidas em relação as suas promessas de campanhas, principalmente na questão de aumento da paridade feminina e a redução de ministérios percebe-se que Sarkozy consegue reduzir para 15 pastas no número de ministérios, os quais contaram com forte presença feminina, uma vez que 8 ministros eram homens e 7 eram mulheres. Essa equiparação de gênero nos ministérios de seu governo repercute na imprensa francesa, provocando um simbolismo.

Como dito no capitulo um, a França foi o primeiro país a introduzir uma lei de paridade, por meio de cotas para tentar diminuir a desigualdade de gênero, no ano de 2000. Durante esse período até a entrada de Nicolas Sarkozy em 2007, a proporção de mulheres no parlamento aumentou desde a introdução da lei de 10,9% em 1997 para 12,3% em 2002 e 18,5% em 2007,

31 porém esse ritmo de crescimento é considerado lento comparado com outros países que adotaram a mesma política.

O conselho de ministros conhecido como Gabinete da França, é formado pelos ministérios do governo francês e chefiado pelo Primeiro Ministro. O objetivo é executar a estratégia, e colocar os planos de governo do Presidente da República em prática. O gabinete é fiscalizado pela Assembleia Nacional, onde os ministros são sugeridos pelos partidos com maior representatividade na Assembleia. Aos ministros não é permitido propor legislação sem a permissão antecipada da Assembleia e sua atuação se dá apenas no executivo.

No ano de 2007, foi formado o Gabinete de Governo de Sarkozy, onde foram nomeados 15 ministros, sendo 7 mulheres. Nicolas Sarkozy nomeou como seu Primeiro Ministro François Fillon de 53 anos, ele foi seu conselheiro político durante sua campanha para as eleições presidenciais francesas. Os oito ministros foram nomeados para as seguintes pastas: (CIA, 2018)

 O socialista Bernard Kouchner para a pasta de Relações Exteriores;  O centrista Hervé Morinficaria com a pasta do Ministério da Defesa;  Eric Besson Ministro da Secretaria do Estado;  Alain Juppé ocupa o novo Ministério do Desenvolvimento Sustentável, que reúne também as pastas do Meio Ambiente, Energia e Transportes.

Os ministros citados formaram a equipe do Primeiro Ministro François Fillon. Os outros ministros são:

com a pasta sobre Imigração;  com a pasta da Educação;  Jean-Louis Borloo com as pastas da Economia, Finanças e Emprego;  com as pastas de Trabalho, Relações Sociais e Solidariedade;  Eric Woerth com a pasta de Orçamento.

As sete Ministras foram nomeadas para as seguintes pastas:

 Michèle Alliot-Marie é a ministra do Interior;  Christine Lagarde, ministra da Agricultura;  Rachida Dati ministra da justiça; 32

 Valérie Pécresse ministra do Ensino Superior e da Pesquisa;  Christine Albanel ministra da Cultura e Comunicação;  Christine Boutin ministra da Habitação e das Cidades;  ministra da Saúde e dos Esportes. O sistema francês concede um papel menos relevante ao Parlamento, o poder é exercido principalmente pelo Presidente da República e pelo Primeiro Ministro.

Os gráficos abaixo, trazem uma análise comparativa dos deputados eleitos no Governo de Jacques Chirac no ano de 2004, aos deputados eleitos no governo de Nicolas Sarkozy no ano de 2007.

Analisando o governo de Chirac, apenas 49 mulheres foram eleitas deputadas de um total de 577, sendo 528 homens eleitos.

Deputados Eleitos (2004)

11%

89%

Mulheres Homens

Gráfico 2: Porcentagem de deputados eleitos por gênero (2004) Fonte: Assemblée Nationale, 2018

33

Deputados Eleitos (2007)

18%

82%

Mulheres Homens

Gráfico 3: Porcentagem de deputados eleitos por gênero (2007) Fonte: Assemblée Nationale, 2018

No ano de 2007, ocorreram as eleições legislativas na França, do dia 10 ao dia 17 de junho. Segundo os dados da Assembleia Nacional foram eleitos 577 deputados, sendo apenas aproximadamente 18% mulheres eleitas com média de idade entre os 40 a 60 anos. (ASSEMBLÉE, 2018) O partido de direita de Sarkozy, a UMP conseguiu a maioria absoluta de deputados nas eleições legislativas, sendo 577 novos deputados na Assembleia Nacional, 318 deputados da UMP e 190 socialistas. Podemos notar uma crescente diferença em comparação as mulheres eleitas no governo de Chirac e Sarkozy, onde houve uma evolução razoável no senado. É necessário observar que os dois presidentes seguem os mesmos espectros políticos de direita. As eleições tiveram apenas 105 mulheres eleitas deputadas no estado da França, um número considerado inferior em relação aos homens eleitos.

O parlamento Francês é composto por duas assembleias, sendo a Assembleia Nacional e o Senado. O senado tem um papel muito importante na vida da população, o presidente do Senado, é considerado o que garante a estabilidade das instituições, como por exemplo ele pode substituir o presidente da República em caso de falecimento ou renúncia.

34

Os gráficos abaixo, trazem uma segunda análise comparativa, porém desta vez relacionada as eleições ao Senado. No Governo anterior ao de Sarkozy, o Senado era representado por apenas 17% das mulheres, sendo 56 mulheres eleitas de um total de 331.

Senadores Eleitos (2005)

17%

83%

Mulheres Homens

Gráfico 4: Porcentagem de senadores eleitos por gênero (2005)

Fonte: Sénat, 2018.

Senadores Eleitos (2008)

22%

78%

Mulheres Homens

Gráfico 5: Porcentagem de Senadores eleitos por gênero (2008)

Fonte: Sénat, 2018.

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No ano de 2008, ocorreram às eleições para o senado no Governo de Sarkozy. Segundo o site do governo francês no dia 21 de setembro saíram os resultados finais para as eleições do Senado.

Foram eleitas cerca de 343 pessoas para cargos no senado, sendo 268 homens e apenas 75 mulheres, ou seja, menos de 22% de mulheres eleitas (SÉNAT, 2018). Portanto, segundo os dados demostrados nos gráficos, do governo de Sarkozy comparado ao anterior de Jacques Chirac, houve um avanço na porcentagem de mulheres eleitas durante os anos, de um governo para o outro. Nota-se um número inferior de mulheres eleitas em comparação aos homens eleitos nos anos do governo de Chirac e Sarkozy.

Em 2010, o presidente Nicolas Sarkozy convocou e formou um novo gabinete de governo, aumentando as pastas dos ministérios e formando uma nova composição de ministros com mais integrantes sendo em total, 31 novos ministros, 11 sendo mulheres (CIA, 2018)

Os membros do novo gabinete francês foram formados por:

 Primeiro-ministro: François Fillon  Defesa: Alain Juppé;  Relações Exteriores: Michèle Alliot-Marie;  Meio Ambiente e Transportes: Nathalie Kosciusko-Morizet;  Justiça: Michel Mercier;  Interior: Brice Hortefeux;  Finanças e Economia: Christine Lagarde;  Trabalho, Emprego e Saúde: Xavier Bertrand;  Educação e Juventude: Luc Chatel;  Orçamento e Serviço público: François Baroin;  Pesquisa e Educação superior: Valérie Pecresse;  Agricultura, Alimentação, Pesca, Mundo Rural e Território: Bruno Le Maire;  Cultura e Comunicações: Frédéric Mitterrand;  Solidariedade e Coesão social: Roselyne Bachelot-Narquin;  Desenvolvimento Urbano: Maurice Leroy;  Esportes: ;  Secretarias de Estado, Relações Parlamentares (Primeiro-ministro): Patrick Ollier;

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 Energia e Indústria (Finanças): Eric Besson;  Cooperação Internacional (Relações Exteriores): Henri de Raincourt;  Administração Local (Interior): Philippe Richert;  Relações Europeias (Relações Exteriores): ;  Formação Profissional (Trabalho): Nadine Morano Ultramar;  Interior: Pierre Lellouche;  Saúde (Trabalho, Emprego e Saúde): Nora Berra;  Habitação (Meio Ambiente): Benoist Apparu;  Serviço Público; (Orçamento e Serviço Público): Georges Tron;  Coesão Social (Solidariedade e Coesão Social): Marie-Anne Montchamp;  Transportes (Meio Ambiente): Thierry Mariani;  Pequenas e Médias Empresas, Turismo e Comércio (Finanças): Frederic Lefebvre;  Juventude e Vida associativa (Educação): Jeannette Bougrab.

Com vinte ministros e apenas onze ministras, as promessas de campanha que o elegeu em 2007 garantindo igualdade entre homens e mulheres em seu governo não se aplicam 3 anos após sua eleição com a nova composição do ministério. Promessa não cumprida também relacionada aos aumentos das pastas dos ministérios, que anteriormente o objetivo era reduzir.

Após cinco anos do mandato de Nicolas Sarkozy, seu governo não foi de muita popularidade e satisfatório para a população francesa, considerando seu mandato adverso. Segundo dados, cerca de 70% da população consideram seu mandado negativo e 73% afirmam que o presidente não foi fiel a suas promessas dita no início de sua campanha, uma porcentagem inferior de 19% acredita que a crise no país o impediu de fazer o país evoluir. E 49% acredita que sob seu mandato a democracia francesa debilitou. Obteve sucesso com nota alta pela população em relação a política de imigração com 64% de aprovação. (DIPLOMATIE, 2018)

Seu mandato foi considerado agitado e controverso, atuou como um liberal adotando uma política fiscal assim que eleito. Foi considerado assim, pois colocou em prática de “escudo fiscal” que limitava o volume dos impostos dos ricos. Em seguida, travou uma batalha contra as 35 horas de trabalhos semanais, com o objetivo de lutar contra o desemprego. Sarkozy pregava que as pessoas trabalhariam mais, contudo ganhariam mais, porém não foi o ocorrido, as pessoas trabalharam mais e ganharam menos, e chegou ao final do seu mandato com uma

37 margem de desemprego ultrapassando a margem de quatro milhões, constatando o fracasso nessa luta contra o desemprego.

No início a população acreditava que Sarkozy cumpriria suas promessas de campanha, acreditavam que era o homem das reformas no país, porém ao final de sua carreira nota-se que suas promessas não foram cumpridas. Eleito com o país em crise, limitado por suas ações contraditórias. E toda negatividade do seu governo se estende quando a França perde a nota do financeiro triplo A, dada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's.

3.2 Governo de François Hollande

François Gérard Georges Nicolas Hollande, nasceu em 12 de agosto de 1954, foi presidente da França e co-príncipe de Andorra do ano de 2012 até 2017.

Previamente foi o Primeiro Secretário do Partido Socialista do ano de 2001 até 2008, Prefeito da cidade de Tulle do ano de 2001 até 2008, Presidente do Conselho Geral de Corrèze do ano de 2008 até 2012 e serviu também na Assembleia Nacional da França duas vezes para o 1º Distrito Eleitoral de Corrèze de 1988 a 1993, e novamente de 1997 a 2012.

Começou sua carreira política como assessor especial do recém-eleito presidente François Mitterrand, e posteriormente serviu como funcionário do porta-voz do governo Max Gallo. François Hollande foi eleito presidente da França no segundo turno em 6 de maio de 2012 com 51.6% dos votos derrotando seu rival Nicolas Sarkozy. (CHRISAFIS, 2013)

Durante seu mandato, Hollande legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, reformou as leis trabalhistas, criou o programa de treinamento de crédito, retirou as tropas de combate francesas presentes na intervenção militar do Afeganistão, concluiu uma diretriz da União Europeia através de um acordo franco-alemão, liderou o país durante os ataques terroristas de janeiro e novembro de 2015 em Paris, e julho de 2016 em Nice. Foi um dos principais proponentes das cotas obrigatórias para migrantes da União Europeia e da intervenção militar da Otan em 2011 na Líbia. Foi responsável também pelo envio das tropas francesas para o Mali e para a República Centro Africana a fim de estabilizar a condição desses países, ambas as operações foram consideradas pela ONU em grande parte como bem- sucedidas.

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Durante sua campanha, Hollande apresenta cerca de sessenta propostas para seu novo programa de governo, propõe reformas econômicas, fiscais, constitucionais e até estruturais.

O que mais chamou a atenção da população na época foram assuntos polêmicos como autorização e adoção de filhos por homossexuais, o que gerou alto índice em sua candidatura, o que fez aumentar a intenção dos votos contra o seu rival Sarkozy. Hollande propôs igualdade de gênero entre homens e mulheres e prometeu aumentar cada vez mais os cargos e seus direitos, fossem eles na política ou empresarial.

Hollande também promete conseguir diminuir a curva ascendente do desemprego, o que dava maior chance de voto, pois nessa época a taxa de desemprego era muito alta comparado aos governos anteriores.

No dia 08 de janeiro de 2013 o presidente François Hollande lança sua proposta na mudança da constituição aplicada para o futuro antes era permitido algumas medidas, como a entrada automática de ex-chefes de Estado no Conselho Constitucional e principalmente a alteração do artigo 67 que determina a imunidade para o presidente podendo ser julgado o chefe de Estado por crimes cometidos antes ou depois de sua eleição.

Segundo dados constatados em pesquisas no ano de 2012 quando Hollande deu início ao seu governo, a contratação de Ministros se enquadrou no planejamento estratégico, onde foram nomeados 19 ministros, sendo 10 mulheres ministras e 9 homens. Nomeados para as seguintes funções: (CIA, 2018)

 Aurelie Filipetti, Ministra da Cultura e Comunicação;  Delphine Batho, Ministra da Ecologia, Desenvolvimento Sustentável e Energia;  Cecile Duflot, Ministra da Igualdade de Territórios e Habitação;  Nicole Bricq, Ministra do Comércio Exterior;  Genevieve Fioraso, Ministra da Educação Superior e Pesquisa;  Christiane Taubira, Ministra da Justiça e Guardiã dos Selos;  , Ministra da Saúde e Assuntos Sociais;  Valerie Fourneyron, Ministra do Esporte, Juventude, Educação Contínua e Alcance Comunitário;  Marylise, Lebranchu. Ministra da Reforma do Estado, Descentralização e Função Pública;  Najat Vallaud-Belkacem, Ministra dos Direitos das Mulheres e Porta-voz do Governo; 39

 Stephane Lefoll, Ministro da Agricultura, Agronegócio e Silvicultura;  Jean-Yves Ledrian, Ministro da Defesa;  Arnaud Montebourg, Ministro da Recuperação Econômica;  Pierre Moscovici, Ministro das Finanças Economia e Comércio;  Laurent Fabius, Ministro das Relações Exteriores;  Manuel Valls, Ministro do Interior;  Michel Sapin, Ministro do Trabalho, Emprego, Desenvolvimento Profissional e Diálogo Social;  Vincent Peillon, Ministro da Educação Nacional;  Victorin Lurel, Ministro da França Ultramarina; No ano de 2012 do dia 10 a 17 de junho aconteceram às eleições legislativas na França. Segundo dados retirados da Assembleia Nacional foram eleitos 577 deputados, sendo 27% mulheres eleitas com média de idade entre 30 a 60 anos. (ASSEMBLÉE, 2012)

Deputados Eleitos (2012)

27%

73%

Mulheres Homens

Gráfico 6: Porcentagem de deputados eleitos por gênero (2012).

Fonte: Assemblée Nationale, 2018.

Apenas 156 mulheres foram eleitas deputadas no Estado da França, um número inferior em relação aos homens eleitos.

Em 2014, ocorreram as eleições para o Senado. Informações retiradas do site do governo francês informa que no dia 21 de setembro saíram os resultados finais para as eleições do

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Senado. E cerca de 350 pessoas com diferentes cargos no Senado foram eleitas, sendo 264 homens e apenas 84 mulheres, ou seja, 24% apenas de mulheres eleitas. (SÉNAT, 2018)

Senadores Eleitos (2014)

24%

76%

Mulheres Homens

Gráfico 7: Porcentagem de senadores eleitos por gênero (2014).

Fonte: Sénat, 2018.

O gráfico traz uma análise comparativa, mas desta vez relacionada as eleições ao Senado. No governo anterior ao Hollande, o Senado era representado por uma apenas 21% das mulheres, sendo 75 mulheres eleitas de um total de 343. (SÉNAT, 2018) Entretanto segundo os dados demostrados no gráfico, no governo de François Hollande comparado ao do seu antecessor Nicolas Sarkozy, houve um aumento no número de mulheres eleitas durante os anos de um governo para o outro, consequência das cotas e também do espectro ideológico do novo governo. Após a sua vitória na eleição presidencial em 2012 durante os 5 anos de mandato foram realizadas algumas de suas propostas, como outras que foram fracassadas. Ficou reconhecido pela luta antiterrorista e na reação do governo após os atentados de 2015 que abalaram a França, e por muitas aprovações de seus projetos como a de reforma no âmbito social, como o casamento homossexual. Apesar desses ocorridos é considerado um governo fracassado na área econômica principalmente por prometer a redução do desemprego o que não foi concretizado. Seu mandato foi reivindicado como normal, mas é marcado principalmente pelo seu escândalo público que envolve a sua vida amorosa com sua atual esposa. Hollande liderou dia 10 de maio de 2017 seu último Conselho de Ministros e anteriormente participou da cerimônia oficial, em memória da escravidão. (EICHENBERG, 2017).

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Com o retorno do Partido Socialista (PS) a população acreditava que era possível uma mudança após longos anos de mandato do conservador Nicolas Sarkozy. Sua prioridade era o programa para a reversão do desemprego onde tinha uma curva ascendente no governo antecessor. Desde 2012 onde deu início ao seu governo até outubro de 2015, essa curva obteve grandes mudanças, atingindo cerca de 3,5 milhões de franceses, com o índice sempre girando na margem dos 10%. Após essa grande mudança a curva volta a ser irregular com grande tendência a cair e voltar a taxa alta de desemprego, mas no início de 2017 volta a subir e novamente obtêm uma estabilidade maior. Como resultado final podemos observar que ocorre um aumento de mais de 500 mil pessoas no número de desempregados, e o governo decepciona também ao não conseguir manter os níveis de déficit público abaixo de 3% do valor do PIB. A análise final conclui que, apesar de serem índices iniciais, a França apresenta sinais de uma recuperação econômica. (Ibdem, 2017) O analista Pascal Boniface do Instituto de Relações Internacionais faz parâmetros e diz que Hollande pecou no cumprimento de alguns de seus engajamentos. A curva do desemprego não foi totalmente alcançada e era essa a área onde os franceses depositaram sua confiança em Hollande. A COP21 Conferência Internacional sobre clima entra principalmente em seu balanço positivo de metas alcançadas. Sua atuação impactou principalmente em 2015 quando esteve de frente aos atentados terroristas o que deu crescimento no seu índice sendo aprovado por um período menor. No governo do seu antecessor Nicolas Sarkozy a França se via em catástrofe na questão do ensino de segurança e da política internacional, afinal Hollande demonstrou coerência e controle nesses temas e se saiu melhor. No entanto apesar de se sair melhor em muitos quesitos e cumprimentos de promessas, o aumento das mulheres ter sido um destaque do governo anterior ao de Hollande ele foi considerado o presidente com o menor índice de popularidade e no final de seu mandato ainda chegava apenas nos 20% de aprovação nas pesquisas.

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4. DIPLOMACIA NO GOVERNO DE NICOLAS SARKOZY A proliferação de postos diplomáticos, sua presença em países com culturas muito diferentes e a necessidade de ampliar os contatos com a sociedade civil e seus diversos componentes levaram a uma mudança na profissão de embaixador.

A identificação de personalidades e redes de influência, um bom conhecimento das regras do jogo de regimes opacos, difíceis de decifrar e varia de um país para outro implicam em qualidades de abertura e curiosidade de cada vez mais exigente. Basicamente, o embaixador deve desenvolver os argumentos certos, aqueles que são adaptados ao país em que ele está. No formulário, ele deve estar confortável diante de uma câmera, saber administrar um evento público, uma audiência maldisposta em relação à política francesa.

Cabe ao embaixador cuidar das missões em países que foram destinados pelo presidente, no governo de Nicolas Sarkozy ele esclarece os pontos da política externa de seu governo para seus embaixadores por meio de uma conferência destinada a eles, deixando claras as questões relevantes.

Em 27 de Agosto de 2007, ocorreu a XV Conferência de Embaixadores em Paris, onde Nicolas Sarkozy apresentou seu primeiro discurso de política externa. Considerada um momento de reflexão sobre a política externa da França, a conferência reúne todos os chefes de missões diplomáticas e marca o retorno da diplomacia.

A conferência abordou questões de alta relevância para política externa, como as questões do Iraque, onde ele lembrou que a França “é e permanece hostil a esta guerra” e que "haverá uma solução política", o que implica "um horizonte claro para a retirada das tropas" (CROIX, 2018). Em relação a disputa de Israel e palestina, afirmou que não demoraria para ocorrer uma relação entre Israel e palestina de paz que levaria ao destino da criação de um Estado Palestino, seguiu dizendo que a França não se satisfaria com a criação de um “HAMASTAN”4 na faixa de Gaza.

Em relação aos seus laços com os Estados Unidos, enfatiza que a parceria entre os dois países é importante hoje tanto quanto foi nos últimos séculos, porém frisa que os aliados nem sempre estão alinhados, e sente a liberdade de expressar seus acordos como desentendimentos sem competência. Em relação à adesão da Turquia na União Europeia, disse que suas opiniões

4 Hamastan é um neologismo pejorativo, fundindo "Hamas", uma organização militante palestina e partido político, e "-stan", um sufixo de origem persa que significa "lar de / lugar de". O termo Hamastan geralmente se refere à administração do Hamas na Faixa de Gaza. 43 não mudaram, portando continua favorecendo a adesão.

Considerada prioridade absoluta para a França no governo de Nicolas Sarkozy, é a construção da Europa aumentando as comissões, e missões. Prezando também pelo fortalecimento da Defesa da Europa, tomando iniciativas fortes para a renovação da OTAN.

A conferência de 2007 foi o primeiro grande discurso de Nicolas Sarkozy para todos os diplomatas Franceses em missões, durante seu período no poder essas conferências ocorrem periodicamente durante os anos, ocorreram nos anos de 2008, 2009, 2010 e 2011

A igualdade de gênero no ministério da França ainda não alcançou seu objetivo maior, no ano de 2012 ao final do mandato do presidente Sarkozy apenas 11% dos embaixadores eram mulheres, nos anos entre 2002 a 2006 apenas 33% das mulheres eram Conselheiras Sênior, e entre os anos de 2007 até recentemente, aumentou-se para 48%, porém não houve sucesso na busca pela igualdade. (DIPLOMATIE, 2018)

Os Recursos Humanos da França buscam implementar medidas que assegurem a igualdade profissional entre os homens e mulheres, Dentro dos comitês administrativos conjuntos, ao final do mandado de Sarkozy em 2012 38% das mulheres representavam a administração dos comitês. Em 2011, as promoções internas das mulheres em diferentes categorias administrativas foram de 47% na Categoria A, e 62% na Categoria B (Ibid, 2018)

Na administração central do Ministério, 31% dos cargos de chefe de departamento foram assumidos por mulheres. E aproximadamente somente 10% dos embaixadores no exterior eram mulheres nos anos de 2006 a 2012. (Ibid, 2018)

No ano de 2008, Antoine Sivan é nomeado assessor diplomático do gabinete da Garde des Sceaux. Em 2009, Charles Fries, é nomeado assessor diplomático do gabinete de François Fillon, Jacques Lapouge, embaixador na África do Sul, Mahrez Abassi Assessor Diplomático do Gabinete de Michèle Alliot-Marie, Jean-Claude Brunet Consultor Diplomático na Darcos, Michel Duclos, assessor diplomático do escritório de Brice Hortefeux, Nicolas Niemtchinow Conselheiro Diplomático do Ministro da Defesa, Elysee em Bagdá ex-assessor diplomático de Nicolas Sarkozy, Denis Simonneau, 46 anos, foi nomeado assessor diplomático da GDF Suez.

Em 2010, foi nomeado para ser conselheiro diplomático para Mitterrand Florent Stora, Valéry Freland assessor diplomático na Tunisia, foi nomeado para assessor diplomático para o governo Jean-François Thibault, o ex-assessor diplomático do Presidente da Assembleia

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Nacional, Bernard Accoyer, é nomeado cônsul geral no emirado, François Valmage é nomeado assessor diplomático do gabinete de .

Em 2011, Sarkozy recrutou o diplomata Erwan Davoux, até agora estacionado no Elysee, para cuidar das relações internacionais em seu escritório. Davoux deixa o Palácio do Eliseu e torna-se conselheiro diplomático do Secretário Geral da UMP, Jean-François Cope. Nicolas Guillou, assessor diplomático e vice-chefe de gabinete de Michel Mercier, François Croquette, assessor diplomático de Jean-Pierre Bel, nomeada assessora diplomática Roselyne Bachelot, Eric Woerth nomeado para o consulado geral da França em New Orleans. (PUBLICS, 2018)

Analisando os dados acima, as nomeações de conselheiros e assessores diplomáticos no governo de Nicolas Sarkozy, não é possível identificar um número superior de mulheres comparado aos homens ou uma igualdade de gênero. Michèle Alliot-Marie nomeou um assessor diplomático para seu gabinete no ministério da Justiça no ano de 2009, porém também trabalhou como diplomata no governo de Nicolas Sarkozy em 2010, uma das poucas mulheres diplomatas em missões no Governo de Sarkozy.

Michèle Alliot-Marie, nascida em 10 de setembro de 1946, é uma política francesa, e é membro do partido “Os Republicanos” fundado por Nicolas Sarkozy. É diplomata francesa e atuou como ministra da Juventude e Desportos de 1993 a 1995, Ministra da Defesa entre 2002 a 2007, Ministra da Justiça de 2009 a 2010 e por fim, Ministra dos Negócios Estrangeiros e Europeus de 2010 a 2011.

Se elegeu a deputada e ganhou em 1986, esteve no Parlamento Europeu de 1989 a 1992, e voltou a atuar na Assembleia Nacional em cargos municipais em 1993. Trabalhou e conquistou renomados cargos, publicou livros e engrandeceu seu currículo.

Insistia em ser tratada como “le ministre” de forma masculina ao invés da forma feminina “la ministre”, pois dizia que a sua função era o que contava e não o cargo exercido. Michèle Alliot-Marie pede que sua função ministerial seja declinada no masculino, o que representa para ela o neutro na linguagem.

Foi considerada em 2007 pela revista ‘Forbes’ a 11°mulher mais poderosa do mundo, e foi a primeira mulher a administrar a pasta da Defesa da França, e a pasta do interior de 2007 a 2009, e liderar um Partido Político, o RPR (neugaulista).

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Nicolas Sarkozy nomeou Michèle Alliot-Marie para assumir a pasta da diplomacia Gaulesa no lugar de Bernard Kouchner o ministro dos Negócios Estrangeiros, em 2010. Kouchner ocupava essa pasta a três anos, porém não havia conquistado nenhum marco na área. Michèle Alliot-Marie foi a terceira mulher a conseguir um cargo de ministra no governo de Nicolas Sarkozy.

O feminismo e o aborto na França de Nicolas Sarkozy voltaram a ser temas colocados em pauta e debatidos pelas mulheres e todos os adeptos ao direito da mulher de abortar por meios de hospitais públicos e privados de forma legal no país.

Em 2009, o presidente Nicolas Sarkozy anunciou o seu projeto anual de lei de finanças onde reduziu para 42% do crédito destinado ao conselho conjugal e familiar francês, que reduziria de 2,5 milhões para 1,5 milhões. Essa redução mobilizou associações que tinham ligações com o planejamento familiar que protestaram contra as medidas impostas pelo presidente. A medida faria com que ocorresse o fechamento de 70% dos centros dedicados a informações contra a concepção na França.

O aborto tornou-se possível na França em 1975 quando a lei Veil foi promulgada descriminalizando a ação na França. O aborto não sofre penalizações legais quando a interrupção estiver na décima semana, concedida e feita por um médico em um hospital público ou privado. A paciente pode solicitar ao seu médico a interrupção, que a encaminhará para um estabelecimento de informações que disponibilizará informações necessárias e uma semana para a paciente realmente decidir caso queira prosseguir com o procedimento. Anteriormente, a paciente menor precisava do responsável e de sua autorização para que ocorresse o procedimento, hoje não é mais necessário. Ocorreram outras modificações na lei durante os anos, em 2001, o tempo de gravidez para a interrupção mudou de 10 para 12 semanas legais.

Sob o contexto de 2009 com a então redução determinada pelo presidente, surge a associação "Osez le feminisme" (uma organização feminista da França, criada em 2009 em reação aos cortes governo para o Planejamento Familiar), formado por um grupo de jovens que decidiram se juntar para reivindicar no espaço público a preservação dos direitos sexuais e reprodutivos que aparentemente pareciam ameaçados pela política sarkozista.

O grupo denominado de não revanchista, se uniu para participar de atos de apoio ao planejamento familiar. Após trinta e quatro anos da lei Viel, os projetos anuais do presente tornariam impossível a manutenção de todos os centros que permitem o aborto nos hospitais

46 franceses. A associação é criada com base na afirmação de que os direitos há muito tempo adquiridos não duram para sempre, e a todo momento é necessário conquistá-los novamente.

As mobilizações do movimento feminista ao longo do século XX não apenas nos permitiram ganhar direitos para as mulheres, mas também fazer evoluir as mentalidades. Sabemos que a melhoria de condições de vida e de trabalho das mulheres não é automática e que a marcha em direção à igualdade é uma batalha a ser travada permanentemente. Também sabemos que os avanços obtidos (direito à educação, direito à disposição de seu corpo, etc.) o foram graças à relação de força construída pelo movimento social, o movimento feminista e as lutas políticas. (FÉMINISME, 2018)

A associação faz publicações em um jornal feito por eles com temas como igualdade entre homens e mulheres, aborto, estupro, e envia pelo correio para os que aderem a associação e disponibiliza no site deles. É por meio do jornal que a associação se mantém, mas não somente por ele, também se mantém por meio de doações. O resultado das ações da associação que por meio de passeatas fizeram protestos, foi de uma redução menor do que a feita anteriormente na lei de finanças, segundo o ministro do Trabalho e da Família, Brice Hortefeux:

Uma promessa do ministro do trabalho e da família, Brice Hortefeux, de não fechar nem abandonar nenhum centro de planejamento familiar. (SANTOS, 2017, p.137)

O aborto hoje na França e tratado como uma situação paradoxal, pois o aborto ainda é muito realizado, cerca de 220.000 de abortos por ano, mesmo com a melhora nas distribuições de contraceptivos. A taxa de aborto na França não diminui e permanece relativamente sempre elevada, é considerada uma das taxas de difusão de contraceptivos mais elevadas no mundo.

4.1.Diplomacia no governo de François Hollande

Em 2013 o nível de mulheres na diplomacia cresceu 53%, porém não se pode ocultar o fato desses cargos nomeados as mulheres serem de níveis inferiores em comparação ao dos homens, 68% são agentes de categoria C de cargos executivos, em comparação com 30% de categoria A também cargos executivos. Apesar dessa diferença entre cargos dados as mulheres sendo inferiores é importante lembrar que as mulheres estão progredindo cada vez mais a embaixadoras, de 23 em 2013 (14%) para 48 em 2015 (30%). (CNRS, 2017)

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Segundo Chrisquian Lequesne, hoje em dia a França tem duas grandes formas de ver a diplomacia, eles destacaram principalmente a independência e a posição do país. A França prestava especial atenção ao mundo árabe especialmente aos regimes leigos, mesmo que fossem ditaduras; mantinham ligação privilegiada com antigas colônias da África Ocidental; e promoviam a língua francesa como ferramenta da diplomacia. Com a chegada de Hollande ao Palácio Eliseu, quando deu início a um novo compasso na diplomacia francesa. Embora Hollande e seu antecessor Sarkozy terem coincidências de posições importantes nas questões de política externa, com personalidades diferentes mostram que iriam surgir mudanças no modo de conduzir os temas. (BRAZILIENSE, 2012) A conferência em 2012 no primeiro grande discurso do presidente François Hollande para os diplomatas franceses, algumas dessas conferências aconteceram durante o seu governo que foi de 2012 a 2017. No ano de 2012 foram nomeados:  Nicolas Roche, como conselheiro diplomático de Jean-Yves Le Drian (Ministro da Europa e dos Assuntos Estrangeiros);

 Robby Judes, como conselheiro diplomático de Victorin Lurel (Senador de Guadalupe);

 Emmanuel Barbe, conselheiro diplomático de Manuel Valls (primeiro ministro);  Paul Jean-Ortiz, conselheiro diplomático de François Hollande (presidente);  Denis Gaillard, conselheiro diplomático de Jean-Pierre Bel (ex presidente do senado) (PUBLICS, 2012) Pode ser considerado um número alto a participação das mulheres na política da França, principalmente no ministério das Relações Exteriores, em janeiro de 2013 após a entrada do governo de François Hollande o número delas subiu para 53% dos funcionários públicos estabelecidos agregando 30% dos agentes de categorias A, 43% de categoria B e 68% de categoria C. (DIPLOMATIE, 2018) Os Direitos Humanos também interferiram e quiseram programar medidas destinadas a assegurar a igualdade no trabalho entre mulheres e homens, em 2012 as mulheres estavam em cerca de 38% representando a parte administrativa. Nessa área administrativa com a implementação dos Direitos Humanos intervém uma promoção onde mulheres subiram de cargos e mudaram suas categorias sendo 58% delas promovidas a categoria A (e em 2011 47%) e 72% para categoria B (em 2011 62%). (Ibdem, 2018)

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Em cargos como de consultor as mulheres representam 33% e 46% dos cargos de consultor técnico em gabinetes privados ministeriais. O número de embaixadores cresceu em janeiro de 2013, 25 dos 180 eram mulheres, subindo para 14% (sendo 10% em 2006) (Ibdem, 2018). Durante as eleições contra o Sarkozy, os eleitores de Hollande se questionaram sobre o quesito igualdade de Gênero, pois era uma pauta muito importante após o fracasso do governo antecessor. Os eleitores estavam com uma pergunta em aberto, ou pelo menos os que se mobilizavam pela questão. Seria Hollande um novo presidente com interesse em igualar cargos masculinos com os femininos, ou até mesmo dar mais oportunidade as mulheres. Esse tópico em questão obteve grande repercussão por causa das feministas, se não eles não passariam de mais um tópico popular entre os franceses, ou como é dentro do partido socialista, se não fossem elas nada teriam sido instaladas ou até mesmo criadas. Essa questão virou característica em suas propostas a partir de março. Em um famoso auditório em paris o “La Cigalle” no dia 7 de março os candidatos foram confrontados por “Osez le Féminisme”, apenas uma vez, e foram lá para que pudessem discutir as propostas políticas para garantir a igualdade de gênero, com isso Hollande acaba se saindo como feminista. Suas 40 propostas abrangem uma ampla gama de tópicos, abaixo estarão uma de suas principais:  A criação de um Ministério dos Direitos da Mulher;  Uma unidade de igualdade de gênero em todos os departamentos para garantir a inclusão de uma perspectiva de gênero em todas as formulações de políticas;  Aplicação efetiva das leis existentes em relação às desigualdades no trabalho;  Apoio público à parentalidade: desenvolvimento do serviço público para a primeira infância, reforma de os pais deixar (mais curto, com melhor remuneração) e reforçar a licença de paternidade;  Desafiando o sexismo na sala de aula: combatendo os estereótipos de gênero nos manuais, o treinamento anti-sexismo para profissionais, aplicando a legislação de educação sexual;  Abordando a violência contra as mulheres;  A proteção dos direitos sexuais e reprodutivos: melhorar o acesso à contracepção, especialmente para menores, melhorando o acesso ao aborto (serviços disponíveis em cada hospital reembolsam 100%).

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Após a entrada de Hollande foi notado que ele não descumpriu o prometido com as feministas, ainda enviou diversos sinais de direito das mulheres e disse que durante seu mandato elas teriam prioridade em demandas por igualdade de gênero.

No dia de sua inauguração, Hollande homenageou Marie Curie, a física mundialmente conhecida, e a primeira mulher a receber um Prêmio Nobel. Ele então passou a prestar homenagem a Jules Ferry, defensora ardente de laïcité, que lutou tanto pela educação secular e educação das mulheres (Jules Ferry também era uma feroz proponente da expansão colonial, que Hollande condenou como “uma política moral"). (DROUET, 2012, p.01)

É normal os franceses terem em mente a ideia de que talvez ao longo do seu governo ele não continue cumprindo com o prometido, que seja algo de curta duração. Mas ainda assim não devem se abster da celebração do sucesso da França em finalmente ter conseguido obter grandes igualdade de gênero. (Idbem, 2012)

4.2.Análise comparativa entre os governos de Sarkozy e Hollande

Os governos observados nos capítulos anteriores, de Nicolas Sarkozy e seu sucessor François Hollande, nos proporcionaram a possível análise comparativa entre os dois períodos em que ficaram no poder, em torno de uma década. Não podemos deixar de lembrar que os dois presidentes seguem espectros políticos diferentes, e são de partidos diferentes. Sendo, Sarkozy candidato pelo partido UMP (Union pour une majorité), um político alocado em espectro da direita, que se aceita a hierarquia social ou desigualdade social como algo que seja inevitável de acontecer ou algo normal, os políticos justificam essa postura com base no direito natural e na tradição. François Hollande candidato pelo Partido Socialista, considerado um político de espectro ideológico centro-esquerda, pois apoia intervenções econômicas dentro do Estado com o objetivo de promover justiça social dentro de um sistema capitalista, distribuições de rendas igualitárias etc., aborda também o liberalismo social, ambientalismo e políticas progressistas.

Antes de Sarkozy assumir a presidência, a França já se encontrava em uma crise econômica, porém a crise piora no período do mandado de Sarkozy, a taxa de desemprego ficou extremamente alta ultrapassando a margem de quatro milhões, o índice de desemprego passou de 8% da população, em 2007, para mais de 10%, em 2012, a dívida pública aumentou para mais de 600 bilhões de euros passando de 64% para mais de 85% do PIB. (DIPLOMATIE, 2018) 50

Quando Hollande se torna presidente da Quinta república Francesa em 2012, essa crise está no auge, o governo antecessor não conseguiu fazer com que a crise se estabilizasse no país, as medidas tomadas para tentar “amenizar” a instabilidade econômica no país como a realização de uma reforma não funcionou. Hollande coloca em prática um programa de ajuste e reformas com o objetivo de conter essa crise, o programa é criado em 2014, porém só entra em prática no ano de 2015, reduzindo o orçamento de algumas áreas como cortes nos gastos do Estado e da prefeitura em cerca de menos de cinquenta e nove milhões e menos de trinta e quatro milhões aproximadamente, outros ajustes também fazem parte dessas reformas na França.

Foi proposto também por Hollande uma reforma trabalhista que gerou intenso conflito no país, greves etc., porém, mesmo em meio a tantos questionamentos pela população francesa a reforma trabalhista foi aprovada em 2016, porém essas medidas não foram bem aceitas pela composição do seu próprio partido socialista que rejeitaram seu plano de austeridade. Essa crise permanece até o governo de Emmanuel Macron (2017-atualmente)

Analisamos também dentro de cada governo e encontramos grandes diferenças entre as mulheres nomeadas para os ministérios, eleitas para a Assembleia Nacional e para o Senado, e as medidas criadas em relação a questão de gênero.

Em primeiro momento os dois governos fizeram propostas em relação a igualdade de gênero, possibilitando mais vagas para as mulheres dentro dos seus governos, buscando por igualdade dentro do Senado e da Assembleia Nacional, porém, essa proposta não é bem desenvolvida no governo de Nicolas Sarkozy. Ao assumir a presidência cumpre com suas propostas feitas no seu plano de governo, proporcionando a igualdade de gênero dentro do seu governo, principalmente nos ministérios, porém mediante a alguns fatores, como a crise financeira que se encontrava na França, três anos após ser eleito, em 2010, essa igualdade desaparece no momento em que ele aumenta o volume das pastas nos ministérios, fazendo com que houvesse 20 homens e 10 mulheres. François Hollande promete igualdade de gênero no seu governo e a mantém até o momento de sua saída da presidência, dentro do ministério o número de mulheres era acima dos homens, dando a elas a confiança para dirigir cada pasta.

As eleições legislativas de ambos os governos nos proporcionam uma análise de crescimento de um governo para o outro, as mulheres começam a conseguir um espaço na política, principalmente após a Lei de paridade do ano de 2000. Esse crescimento se mostra maior quando comparamos as mulheres eleitas no ano de 2007, cerca de 18% e comparamos com o ano de 2012, cerca de 27%, um crescimento de 9% de um período para o outro e 51 destacando a importância desse aumento para a conquistas da igualdade de gênero dentro da Assembleia Nacional. (ASSEMBLÉE, 2018)

No Senado esse aspecto não se alterou significativamente, os aumentos das mulheres eleitas se diferem nos governos analisados, porém, esse número não é considerado tão elevado quando comparado ao da Assembleia Nacional, no ano de 2008 podemos encontrar um número inferior ao de 2014. Sendo 22% comparado a 24% das mulheres eleitas.

Os dados de igualdades entre as mulheres foram notórios em cada governo, marcando um índice de crescimento seja dentro dos ministérios, cargos públicos, áreas administrativas e conselheiros sênior. Porém, Nicolas Sarkozy não alcançou esse objetivo completamente, deixando a marca de objetivo fracassado em relação a igualdade de gênero na França e deixando a população intrigada e em dúvida sobre as propostas feitas pelo seu sucessor Hollande sobre igualdade de gênero.

As taxas de embaixadoras nos governos aumentaram de um para o outro, quando em 2006 no governo de Chirac as embaixadoras representavam apenas uma porcentagem de 10%, no governo de Sarkozy essa porcentagem não se modificou tanto, sendo de 11% de mulheres exercendo essa função extremante importante e 14% no governo de Hollande, sendo de cento e oitenta embaixadores, vinte e cinco são mulheres, os números podem não revelar um alto nível de um governo para o outro, porém seguem para uma possível igualdade entre homens e mulheres nas embaixadas. (DIPLOMATIE, 2018)

Na administração central do Quai d’Orsay no governo de Sarkozy, 31% dos cargos de chefe de departamento foram assumidos por mulheres. No ano de 2011, as promoções internas das mulheres em diferentes categorias administrativas foram de 47% na Categoria A, e 62% na Categoria B, comparado ao governo de Hollande, houve um aumento nas categorias de um governo para o outro, sendo 58% das mulheres promovidas para categoria A e 72% para categoria B, expomos aqui uma nítida evolução na porcentagem das categorias durante os dois governos, Além disso, o número de mulheres no ministério de Relações Exteriores subiu para 53% dos funcionários públicos em 2013, agregando 30% dos agentes de categorias A, 43% de categoria B e 68% de categoria C. (Ibdem, 2018)

No ano de 2012, 22% das mulheres ocupavam cargos executivos seniores, sendo 14% em 2006, onde 6 são diretores e 4 são inspetores. Dentro desta mesma categoria 34% dos cargos de chefe de departamento são ocupados por mulheres, em 2011 eram ocupados por 31%. No

52 ano de 2002 a 2006 apenas 33% das mulheres eram Conselheiras Sênior, e entre os anos de 2007 até recentemente, o número aumentou para 48%. (Ibdem, 2018)

Por fim, concluímos que há uma dissemelhança entre os governos analisados, tanto no âmbito de formação de governo, como nas questões relacionadas a porcentagem de mulheres nas funções exercidas dentro do ministério, como embaixadora, e nas funções diplomáticas, expondo um elevado crescimento e busca por igualdade maior no governo de Hollande comparado ao de Sarkozy.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sistema internacional mudou completamente após a Guerra Fria, abrindo espaço para temas como gênero e meio ambiente serem discutidos e analisados na disciplina de Relações Internacionais. A teoria feminista, por exemplo, volta à tona no debate das Relações Internacionais e visa solucionar os novos e velhos problemas sob uma nova ótica.

Analisar casos a partir de um viés de gênero pode proporcionar uma visão mais abrangente da realidade contemporânea do que pela análise feita pelas teorias tradicionais, pois essas geralmente ignoram os atuais fenômenos, deixando-os à margem dos estudos de Relações Internacionais.

No caso da participação feminina na diplomacia francesa é notória a diferença entre os governos de Sarkozy e Hollande frente a questão de gênero. Nota-se que no caso de Hollande, que é alinhado a um posicionamento político ideológico à centro-esquerda, a participação feminina na diplomacia é maior se comparado ao governo de Sarkozy, alinhado a um posicionamento político à direita.

Diante dos resultados obtidos, podemos observar a importância da participação feminina nas áreas de trabalho dentro do governo, além da promoção de incentivos para o interesse e o ingresso de mais mulheres para o serviço público, onde é imprescindível a atuação de mulheres, assim como em vários outros setores.

O Ministério das Relações Exteriores da França está caminhando para ser uma organização mais igualitária, com mais oportunidades e projetos voltados para o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para a ação feminina na política externa.

Sendo assim, o nosso pressuposto é comprovado no caso da França, o que nos viabiliza futuras comparações com outras nações. Para finalizar, é importante destacar que a França está em um constante desenvolvimento no que diz respeito à questão de gênero, respeitando a história e as suas representantes, e criando novos espaços e chances de desenvolvimento para as novas integrantes do corpo diplomático.

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ANEXOS

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Anexo A – Suzanne Borel

Fonte: DIPLOMATIE, 2018

Anexo B - Trecho de uma cópia do concurso de Suzanne Borel

Fonte: DIPLOMATIE, 2018

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Anexo C – Marcelle Campana

Fonte: DIPLOMATIE, 2018

ANEXO D - Isabelle Renouard como Secretária Geral de Defesa e Segurança Nacional

Fonte: DIPLOMATIE, 2018

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ANEXO E – Nicolas Sarkozy e seus ministros

Fonte: RFI, 2018

ANEXO F – François Hollande e seus ministros

Fonte: POINT, 2018

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