Colecionadores Privados De Fotografia No Brasil
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Colecionadores privados de fotografia no Brasil Fernando de Tacca Colecionadores privados de fotografia no Brasil Editora Intermeios Rua Luís Murat, 40 – Vila Madalena CEP 05436-050 – São Paulo – SP – Brasil Fone: 2338-8851 – www.intermeioscultural.com.br • COLECIONADORES PRIVADOS DE FOTOGRAFIA O BRASIL © Fernando de Tacca 1ª edição: setembro de 2015 • Editoração eletrônica, produção Intermeios – Casa de Artes e Livros Capa Lívia Consentino Lopes Pereira Foto de capa Intermeios – Casa de Artes e Livros Revisão Ieda Lebensztayn Assistentes de pesquisa Pablo Gea e Airá Fuentes • Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP T115 Tacca, Fernando de Colecionadores privados de fotografia no Brasil / Fernando de Tacca. – São Paulo: Intermeios, 2015. 170 p. ; 14 x 21 cm. XIV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia. ISBN 978-85-8499-025-2 1. Fotografia. 2. Fotógrafos. 3. Coleções de Arte. 4. Coleção de Fotografia. 5. Colecionadores. 6. Livro de Artista. I. Título. II. Coleção Joaquim Paiva. III. Coleção Nakagawa Matuck. IV. Coleção Rubens Fernandes Junior. V. Coleção Silvio Frota. VI. Coleção Eder Chiodetto. VII. Coleção Georgia Quintas & Alexandre Belém. VIII. Tacca, Fernando Cury de. IX. Intermeios – Casa de Artes e Livros. CDU 777 CDD 770 Catalogação elaborada por Ruth Simão Paulino Sumário 9 Introdução 17 Coleção Joaquim Paiva 41 Coleção Nakagawa Matuck 69 Coleção Rubens Fernandes Junior 99 Coleção Silvio Frota 123 Coleção Eder Chiodetto 149 Coleção Georgia Quintas & Alexandre Belém 165 Bibliografia Agradecimentos Agradeço aos colecionadores por me receberem para entrevistas e a paciência para rever os dados. Agradeço aos artistas que cederam direitos para publi- cação de suas obras. À Paula, minha mulher, pelas cumplicidades. Introdução O que faz o colecionador está em continuidade com o fotógrafo, é um ato da mesma natureza. Jean-Claude Lemangny Walter Benjamin, no paradigmático livro Passagens, traz uma temática instigante para nossa pesquisa em um de seus fragmentos, ao qual ele chama de “O colecionador”1. O autor coloca em seus pensamentos um lugar de oposição entre, de um lado, um sujeito que retira os objetos de suas relações funcionais ao desligá-los de seu contexto, elevando as mercadorias a uma condição de alegoria e de fetiche, quando o colecionador aparece como um alegorista, uma espécie de gabinete de curiosidades, e, de outro lado, o colecionador que procura identidades e tessituras para sua coleção. Entretanto, o sujeito colecionador é afetado pelas suas escolhas; é sensibilizado pelas virtudes que encontra no objeto artístico; dorme e acorda com esses seus desejos de posse e 1. BENJAMIN, Walter. “O colecionador”. In: Passagens. Belo Horizonte; São Paulo: Editora UFMG; IMESP, 2006, pp. 237-246. 10 Fernando de Tacca desenvolve uma espécie de identidade com seu pensamento, com sua (in)formação na área e a inserção no meio. Walter Benjamin encontra nessa prática uma ordenação, ou uma luta contra a dispersão e a confusão das coisas no mundo. Assim, na origem dos gestos e ações, o alegorista se opõe ao colecionador (ao grande colecionador, segundo ele), pois este busca reunir coisas que são afins e procura informar os diálogos entre os seus objetos, enfim, suas afinidades, e ainda acertar uma sucessão temporal. Mesmo encontrando um alegorista escondido no colecionador, e o colecionador oculto no alegorista, caso uma coleção esteja incompleta, o buraco e o vazio expõem fragilidades fragmentárias que poderá também se transformar em alegorias. Alegoria em Benjamin é lugar de uma falta de liberdade simbólica de expressão, sem harmonia, aproximando-se de uma história biográfica de um indivíduo, como o cerne da visão alegórica, uma exposição barroca, mundana, levando ao arbitrário2 De outro lado, como campo opositor, as coleções institucionais criam regras para se legitimar, conselhos consultivos e curadorias específicas, buscando uma legitimidade perante o meio; procuram se distanciar de um sujeito; querem tornar-se a si um sujeito social; um ente coletivizado. Historicamente também podemos situar que as cole- ções de arte, principalmente de pinturas, iniciadas desde o Renascimento, tornaram-se referências importantes e possibilitaram o acesso público à produção artística de muitos territórios culturais, com suas distintas influências 2. Idem, Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 188. Colecionadores privados de fotografia no Brasil 11 políticas e religiosas. No Brasil, a coleção do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, tem seu acervo formado especialmente pelas obras trazidas pela missão francesa de Lebreton, em 1816, e pelos quadros particulares da família real portuguesa, que vieram para o Brasil entre 1808 e 1821, formando hoje uma das mais importantes coleções de pinturas de nosso país. No mundo, podemos citar como exemplos de outras grandiosas e vastas coleções o acervo da corte inglesa, consolidado especialmente a partir da segunda metade do século XVI, durante o reinado do vaidoso colecionador e rei Charles I, que, dentre outros pintores, tinha Rubens e Van Dyck como carros-chefes de uma ampla coleção que envolvia obras flamengas, italianas e europeias em geral, tendo posteriormente estado dispersa em razão dos conflitos políticos ocorridos em territorialidade inglesa. Podemos citar como exemplo a vasta coleção da Casa de Savoia, ou em italiano Casa di Savoia, família que dominou o norte da Itália e parte da França. A coleção hoje está na Galleria Sabauda, na cidade de Turim, com acervo de obras de mestres europeus, italianos, franceses, flamengos e também holandeses. Essa coleção é um exemplo da ostentação de uma família e também da importância que tais coleções privadas irão fornecer para a compreensão da produção artística europeia. Ainda nos situando no norte da Itália, podemos também citar a importante coleção da Pinacoteca di Brera, na cidade de Milão, considerada como uma das coleções de arte italiana mais importantes, mas construída de outro modo, dentro de um espírito institucional. No campo das 12 Fernando de Tacca coleções privadas, a pintura holandesa se afirmou de forma distinta ao buscar elementos do cotidiano como sujeitos da representação (petit genre), e foi muito comum as famílias terem uma pequena coleção de pinturas na sala de entrada de recepção dos visitantes, criando, assim, sua pequena coleção de obras de arte. Da mesma forma, as coleções fotográficas, de modo geral, foram constituídas nesses dois vetores: institucionais e coleções privadas. No campo institucional, sem dúvidas, será o MoMA – Museum of Modern Art, de Nova York, a primeira entidade a formar um vetor de forte influência no campo museológico desde a década de 30 do século passado, com a criação do Departamento de Fotografia, pela ação de Beaumont Newhall, e também a partir de exposições, publicações e formação da sua coleção fotográfica. No campo privado, a coleção do casal Michel & Michele Auer tornou-se uma referência para compreendermos as coleções privadas de fotografia. Michele e Michel Auer mantiveram coleções isoladas que iniciaram desde o final dos anos 50 e começo dos 60. Em 2009 ocorreu a exposição Olhar e Fingir: Fotografias da Coleção M+M Auer, com curadoria Eder Chiodetto e Elise Jasmin. A exposição no MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo ocorreu nas comemorações do Ano da França no Brasil e tornou-se uma das mais importantes exposições fotográficas em nosso país, com a curadoria elegendo eixos que agem como ancoragem conceitual e atuam, assim, como grandes guarda-chuvas para abrigar as escolhas das imagens e suas possíveis e indizíveis relações. Como um literato que ousou fazer “uma história particular da Colecionadores privados de fotografia no Brasil 13 fotografia”, um quase romance realista, caso do livro de Geoff Dyer, O instante contínuo,3 podemos também aqui indicar que a exposição Olhar e Fingir permitiu ao visitante relacionar imagens para sua história pessoal da fotografia, uma história anacrônica, no sentido de quebra de cronologias didáticas, pautada pelo estranhamento e pelo desejo da descoberta que lhe foi oferecido. Ao permitir ao espectador alinhar os vazios entre imagens foi-lhe também oferecido transpor temporalidades anteriormente demarcadas, e seu roteiro transformou-se em trilhas ficcionais, nas quais o alegorista se aproxima do grande colecionador pelas mãos da curadoria. Ronaldo Entler em seu texto de apresentação de A Invenção do Mundo,4 com curadoria de Eder Chiodetto e Jean-Luc Monterosso sobre o acervo da Maison Européenne de la Photographie, nos chama a atenção para uma questão importante sobre a “fotografia contemporânea”, para ele um termo que não diz nada, e, sim, é mais uma postura que reflete a interação com nosso próprio tempo, com pensamento e discurso de nossa época; e que implica a desmistificação da técnica, da origem tecnológica, e mesmo da memória — ou seja, uma posição crítica aos modelos canônicos que pensávamos superados —, e os lugares temporais que uma imagem pode fazer coexistirem, ou, como ele diz, coabitarem, e mesmo que aparentemente tenham se esgotado no passado conseguem sobreviver em outros tempos, com outros sentidos. Aplica-se perfeitamente para a curadoria em questão, uma postura contemporânea. 3. DYER, Geoff. O instante contínuo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 4. Itaú Cultural, 2009. 14 Fernando de Tacca Pesquisar e analisar coleções particulares de fotografia no Brasil no sentido de conhecer suas origens, identidades, importância e procedimentos estéticos nas escolhas, ao mesmo tempo principalmente