As Revistas Isto É E Veja Na Transição Política Brasileira (1976-1984)

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As Revistas Isto É E Veja Na Transição Política Brasileira (1976-1984) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP Lauro Ávila Pereira As revistas Isto é e Veja na transição política brasileira (1976-1984) Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutor em História Social sob a orientação da Profª. Drª. Heloísa de Faria Cruz. São Paulo 2017 Banca examinadora ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ ________________________________ Para Heliana, Daniela, Laura e Paulo Antônio, querido irmão, (in memoriam) Agradecimentos À PUC SP e FUNDASP pela concessão da bolsa dissídio durante a realização do trabalho; Aos colegas do Departamento de História pelo apoio e amizade; Aos professores Maria do Rosário e Marcelo Ridenti pelas críticas e contribuições preciosas durante o exame de qualificação; Ao Marcelo Mattos Araújo e José Roberto Sadek, que em momentos distintos deram o apoio essencial para a finalização deste texto. À Haike pelos incentivos constantes e permanente disposição em ajudar; Ao Rodrigo Mathias (Garuda) pela tranquilidade e paz que sempre se dispôs a compartilhar; Ao Lúcio e Mariza pelo apoio e estímulo em vários momentos, desde o início. À Ana Maria, Ana Paula, Cláudio, Fernando e Cristina pelo carinho e estímulo. Ao Jimmy, grande amigo, por ter incentivado este trabalho desde o começo. Ao Carlos Wendel de Magalhães, amigo de todas as horas, nas divergências pontuais e concordâncias essenciais, por sempre me encorajar e apoiar nesta e em outras jornadas; À Heloisa de Faria Cruz, orientadora, professora e amiga. Sou grato pela atenção constante, confiança e incentivo permanente, não apenas na preparação desta tese, mas também no decorrer de minha trajetória acadêmica. À Daniela pelas diversas formas de apoio, leituras, dicas, revisões, comentários e, principalmente, por ficar ao meu lado durante todo este longo e tenso processo. Obrigado. RESUMO O objetivo geral desta pesquisa de doutoramento foi identificar e discutir os caminhos propostos para o país pelas revistas Veja e Isto é durante a transição política brasileira entre 1976 e 1984. Procurou-se em termos mais específicos, analisar o conteúdo das coberturas jornalísticas das revistas frente às mobilizações políticas e lutas sociais ocorridas no período, resgatando as qualificações atribuídas aos movimentos e os posicionamentos das publicações naquela conjuntura. Simultaneamente buscou compreender a formação de uma cultura da transição na qual a imprensa, e particularmente, as revistas analisadas tiveram participação ativa. A principal fonte da pesquisa foram os exemplares das revistas Veja e Isto é publicados entre 1976 e 1984. Também foram consultados documentos do Fundo Deops de São Paulo, jornais da imprensa diária – o Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Jornal da República – da imprensa alternativa – Movimento e Em Tempo – e documentos do Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro. O texto final foi organizado em três partes: Na primeira parte denominada – As revistas semanais na transição - o objetivo é resgatar parte da história das revistas Veja e Isto é, suas características principais, transformações internas e, principalmente, os projetos editoriais que as organizaram até 1984. Na segunda parte, intitulado “Abaixo a ditadura: anistia é esquecimento?”, é discutido como as revistas cobriram a retomada do movimento estudantil (1977- 1979) e o movimento pela anistia entre 1976 e 1979. A terceira parte da tese, “Lutas Sociais: Os trabalhadores de volta a cena política”, discute como as duas publicações cobriram a volta dos movimentos sociais à cena política, particularmente os movimentos populares na segunda metade da década de 70, entre eles o Movimento Custo de Vida e as greves do final dos anos 1970. PALAVRAS CHAVES: VEJA, ISTOÉ, DITADURA E TRANSIÇÃO, IMPRENSA E DITADURA ABSTRACT The general objective of this doctoral research was to identify and discuss the paths proposed for the country by the magazines Veja and Isto é during the Brazilian political transition between 1976 and 1984. It was sought in more specific terms, to analyze the content of journalistic coverage of the magazines of the political mobilizations and social struggles that occurred in the period, rescuing the qualifications attributed to the movements and the positioning of the publications in that conjuncture. At the same time, it sought to understand the formation of a culture of transition in which the press, and particularly the magazines analyzed, had an active participation. The main sources of the research were the copies of Veja and Isto é magazines published between 1976 and 1984. Papers from the Deops Fund of São Paulo, newspapers of the daily press – O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, Jornal da República - of the alternative press - Movimento and Em Tempo - and documents of the Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro. The final text was organized in three parts: In the first part called - The weekly magazines in the transition - the objective was to rescue part of the history of the magazines Veja and Isto é, its main characteristics, internal transformations and, mainly, the editorial projects that organized them until 1984. In the second part, titled "Down the dictatorship: amnesty is oblivion?", It is discussed how the magazines covered the resumption of the student movement (1977-1979) and the amnesty movement between 1976 and 1979. The third part of the thesis, "Social Struggles: Workers Back to the Political Scene," analyses how the two publications covered the return of social movements to the political scene, particularly popular movements in the second half of the 1970s, The Movimento do Custo de Vida and the strikes of the late 1970s. KEY WORDS: REVISTA VEJA, REVISTA ISTO É, DICTATORSHIP AND TRANSITION, PRESS AND DICTATORSHIP SUMÁRIO Introdução, 1 Parte I - As revistas semanais na transição Capítulo 1 - O grupo Abril e o lançamento da Revista Veja, 15 Capítulo 2 – Veja sob nova direção, 45 Capítulo 3 - Isto é: três revistas sob um mesmo título, 68 Parte II – Abaixo a ditadura: anistia é esquecimento? Capítulo 4 - “A presença dos estudantes”, 94 Capítulo 5 – “Anistia: Palmas para ela. Mas será prioritária?”, 131 Capítulo 6 – “Anistia: a diferença está no adjetivo que vai acompanhá-la”, 169 Parte III - Lutas Sociais: Os trabalhadores de volta à cena política Capítulo 7 - “A questão operária” nas revistas semanais, 208 Capítulo 8 - A disseminação das lutas na nova conjuntura, 255 Considerações finais, 295 Fontes de pesquisa, 304 Referências bibliográficas, 306 Introdução Nos sábados à tarde as portarias dos prédios de classe média de São Paulo, Rio de Janeiro e de outras grandes cidades brasileiras recebem pilhas de revistas Veja. Na segunda-feira pela manhã, nos vagões do metrô de São Paulo, muitos usuários empunham um exemplar de Veja. Números da revista permanecem por semanas a fio em salas de espera de consultórios médicos, odontológicos, em cabeleireiros e barbeiros. Sua leitura é referência de informação para parte da classe média brasileira, que parece reproduzir o discurso da revista como se fosse seu. Na recente crise brasileira, em 2016, Veja mais uma vez demonstrou seu poder, intervindo fortemente na agenda política a cada semana, com suas capas, manchetes e matérias, compostas por “denúncias bombásticas”. Por vezes publicando reportagens exclusivas, baseadas em informações “vazadas” da Justiça, Veja foi usada, inclusive, como sustentáculo central por parte significativa da grande mídia impressa e televisiva na produção de versões que deram força ao impedimento da presidente, contribuindo para mobilizar setores despolitizados e ou conservadores da classe média. A circulação de Veja é de 1.162.870 exemplares por semana1, quase o triplo do segundo colocado no ranking e quase 60% maior que a soma dos exemplares de Época e Isto é 2. As pautas das três revistas são muito semelhantes. A cobertura política varia um pouco de uma revista para outra. Além de cobrirem os eventos noticiosos – crimes de impacto, acidentes, guerras, desastres, morte de celebridades, o fait divers em geral – suas páginas parecem ser uma grande coleção de mercadorias3, tanto no espaço publicitário como no conteúdo editorial. Com periodicidade regular são estampadas em suas capas “reportagens” sobre novos remédios, dietas “revolucionárias”, tratamentos de beleza, novos produtos eletrônicos, enfim, serviços e mercadorias apresentados como de grande interesse 1 Dados do IVC – Instituto Verificador de Circulação, referentes à circulação de março de 2014, publicados na página eletrônica http://jornalggn.com.br/noticia/os-numeros-de-circulacao-das-revistas-semanais-entre- outubro-e-marco. Acesso em 20/03/2016. 2 Respectivamente a revista Época, com circulação de 393.056 exemplares e Isto é com 323.859. 3 Considerando a imprensa como parte do capitalismo, tal qual “A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma imensa coleção de mercadorias (...)” as revistas semanais também expressam em seu conteúdo o funcionamento da sociedade em que são produzidas. A citação é de Marx, Karl – O Capital – Crítica da economia política – São Paulo: Nova Cultural, 1985, p.45. 1 jornalísticos para seus leitores, reforçando assim a cultura de consumo da classe média. O desafio deste trabalho é realizar uma análise da atuação das duas revistas no processo de transição política, construindo a historicidade de sua intervenção como enunciadoras
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