Universidade Federal De Santa Catarina Centro De Comunicação E Expressão Programa De Pós-Graduação Em Literatura

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Universidade Federal De Santa Catarina Centro De Comunicação E Expressão Programa De Pós-Graduação Em Literatura i UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA Tiago Ribeiro dos Santos ASPECTOS HISTÓRICOS E PSICANALÍTICOS NA TETRALOGIA LUSITANA DE ALMEIDA FARIA Dissertação submetida ao Programa de Pós- Graduação em Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do grau de Mestre em Literatura – Área de Concentração: Teoria Literária. Orientadora: Profª. Drª. Simone Pereira Schmidt. Florianópolis 2011 ii iii iv v Aos meus pais, que, mesmo sem o saber, me fizeram entender que a vida é poesia. vi vii AGRADECIMENTOS Em especial, agradeço à Professora Simone P. Schmidt, pela seriedade com que acolheu o meu projeto de pesquisa e pela crença de que ele poderia render alguns frutos. Aos Professores do Programa de Pós-Graduação em Literatura, especialmente à Cláudia Costa, ao Stélio Furlan e ao Pedro de Souza, com os quais tive o prazer de dialogar durante o Mestrado. Ao Professor José Luiz Foureaux, fiel interlocutor. À Elba, pela presteza demonstrada em todos os momentos. À Fabi, à Dani, ao Cláudio, ao Kayron e ao Guilherme, pela animação dos nossos encontros. À minha mãe e ao meu pai, por investirem nos meus sonhos. À Nanda, por se fazer presente mesmo com toda a distância. À Vó Maria, que me ensinou o valor das orações. E, finalmente, à Capes, pelo apoio financeiro. viii ix Pois que toda a literatura é uma longa carta a um interlocutor invisível, presente, possível ou futura paixão que liquidamos, alimentamos ou procuramos. E já foi dito que não interessa tanto o objecto, apenas pretexto, mas antes a paixão; e eu acrescento que não interessa tanto a paixão, apenas pretexto, mas antes o seu exercício. Não será portanto necessário perguntarmo-nos se o que nos junta é paixão comum de exercícios diferentes, ou exercício comum de paixões diferentes. Porque só nos perguntaremos então qual o modo do nosso exercício, se nostalgia, se vingança. Sim, sem dúvida que nostalgia é também uma forma de vingança, e vingança uma forma de nostalgia; em ambos os casos procuramos o que não nos faria recuar; o que não nos faria destruir. Mas não deixa a paixão de ser a força e o exercício o seu sentido. Só de nostalgias faremos uma irmandade, um convento, Soror Mariana das cinco cartas. Só de vinganças, faremos um Outubro, um Maio, e novo mês para cobrir o calendário. E de nós, o que faremos? (Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. Primeira Carta I, Novas Cartas Portuguesas , 1974) x xi RESUMO A presente dissertação privilegia o estudo da interlocução entre Literatura, História e Psicanálise no contexto do romance português contemporâneo. No âmbito da “Tetralogia Lusitana” de Almeida Faria – composta pelos romances A paixão (1965), Cortes (1978), Lusitânia (1980) e Cavaleiro Andante (1983) –, investigamos como a História Portuguesa mais recente, marcada pelos processos pré e pós-Revolução dos Cravos, comparece nessas narrativas de modo a fomentar aquilo que Linda Hutcheon concebe como metaficção historiográfica . Neste sentido, analisamos as questões contidas em sua obra Poética do Pós- Modernismo (1991), que nos serviram de norte para pensar como Almeida Faria reinventa a História Portuguesa na economia ficcional dos seus romances. Para abordar a relação entre a Tetralogia Lusitana e a psicanálise, utilizamos o pensamento de Freud e de estudiosos envolvidos na crítica literária psicanalítica, para que pudéssemos refletir como o parricídio, o signo da morte, o luto, a melancolia e os sonhos das personagens podem ser lidos na esfera familiar do clã do Alentejo como uma alegoria dos acontecimentos políticos marcados pela queda de Salazar. Além disso, demonstramos que o evento da morte do pai é o ponto nevrálgico onde convergem os discursos da História e da Psicanálise, a partir da atuação de personagens dispersas que se comunicam, segundo a pesquisadora Lilian Jacoto (2005), por meio de uma poética das distâncias . Palavras-chave: Romance Português; História; Psicanálise; Metaficção Historiográfica. xii xiii ABSTRACT This dissertation focuses on the study of interactions between Literature, History and Psychoanalysis in the context of contemporary portuguese novel. Under the "Tetralogia Lusitana" by Almeida Faria – composed of the novels A Paixão (1965), Cortes (1978), Lusitânia (1980) e Cavaleiro Andante (1983) – we investigate how the most recent Portuguese History, which was marked by the processes before and after the Carnation Revolution, appears in these narratives in order to foster what Linda Hutcheon sees as historiographic metafiction . In this sense, we analyzed the issues contained in his work Poetics of Postmodernism (1991), which orientated us to think as Almeida Faria reinvents the Portuguese History in economy fictional of his novels. To deal with the relationship between Psychoanalysis and Tetralogia Lusitana, we use the thinking of Freud and scholars involved in psychoanalytic literary criticism to reflect how the parricide, the sign of death, mourning, melancholia, and dreams of characters can be read at the family level of the clan of Alentejo as an allegory of political events marked by the fall of Salazar. Furthermore, we demonstrate that the event of death of the father is the critical point where all speeches of the History and Psychoanalysis converge, from the actions of the characters that are far apart but can communicate among themselves, according to esearcher Lilian Jacoto (2005), through some kind of poetic of distances. Keywords: Portuguese Novel, History, Psychoanalysis, Historiographic Metafiction. xiv xv SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................. 17 CAPÍTULO 1 - A METAFICÇÃO HISTORIOGRÁFICA DE ALMEIDA FARIA........................................................................ 23 1.1 CAPÍTULOS DA HISTÓRIA PORTUGUESA: DA DITADURA AOS CRAVOS DE ABRIL....................................... 23 1.2 A METAFICÇÃO HISTORIOGRÁFICA................................ 34 1.3 A PAIXÃO E O TEMPO DE GENTE CORTADA ..................... 43 1.4 DA NAU QUE SOÇOBRA AO CAVALEIRO ANDANTE ....... 53 CAPÍTULO 2 - ENTRE EXÍLIOS E CARTAS......................... 71 2.1 JUVENTUDE EXILADA: A URGÊNCIA DA PARTIDA..... 71 2.2 AS CARTAS COMO EXPRESSÃO DO ARQUIVO SECRETO....................................................................................... 80 CAPÍTULO 3 - ASPECTOS PSICANALÍTICOS..................... 91 3.1 LITERATURA E PSICANÁLISE............................................ 91 3.2 O PARRICÍDIO........................................................................ 100 3.3 O SIGNO DA MORTE, O LUTO E A MELANCOLIA.......... 106 3.4 OS SONHOS DAS PERSONAGENS....................................... 112 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................ 119 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................... 125 xvi 17 INTRODUÇÃO “Será que vão enfim realizar-se as profecias do Bandarra, que prometeu um Quinto Império a quem perdeu o seu?” (Trecho de Cavaleiro Andante ) Alguns acontecimentos da história portuguesa da segunda metade do século passado inerentes à ditadura, à Revolução dos Cravos – ocorrida em 25 de Abril de 1974 – e às guerras coloniais no continente africano tornaram-se fatos metaficcionalizados historiograficamente na Tetralogia Lusitana do escritor Almeida Faria. Assim como ele, outros autores debruçaram-se sobre o tema das guerras coloniais – com toda a violência envolvida no processo de libertação das colônias – e sobre a Revolução, como marco simbólico que alterou a maneira mesma do sujeito se constituir “português.” Por isso, os ecos políticos e sociais da segunda metade do século XX fizeram da prosa portuguesa uma instância dialógica – no sentido conferido por Bakhtin –, já que ela se inscreve num contexto marcado pela busca de liberdades individuais e de direitos democráticos, após longos anos de censura. Nascido no Alentejo, em 1943, José Benigno de Almeida Faria chega ao Liceu de Évora com 16 anos e mais tarde vai morar em Lisboa. Mantém ao longo de sua vida a mesma posição de seu pai, um democrata que teve problemas com o governo devido à sua postura política contrária à ditadura de Salazar. Em 1962, com apenas dezenove anos, publica seu romance de estréia, Rumor Branco . No período intervalar entre a publicação de A Paixão (1965) e Cortes (1978), Almeida Faria foi estudante-trabalhador nos Estados Unidos e na Alemanha, países onde atuou como bolsista e correspondente estrangeiro. Nesse período, teve uma vaga experiência no curso de Direito, mas optou por dedicar-se à Filosofia. Parte de seu exílio pode ser justificada pela espera do fim da censura e da ditadura, que o impediam de produzir uma literatura livre das amarras do tradicionalismo português. No entanto, sua estadia prolongada no estrangeiro foi marcada por encontros com pessoas ilustres, tais como o encontro que teve em Berlim com Samuel Beckett, no ano de 1978. Ao retornar a Portugal alguns anos após o fim da ditadura, o 25 de Abril vai tornar-se, para além de marco simbólico na trajetória pessoal do escritor, a condição sine qua non das três últimas narrativas da Tetralogia Lusitana. 18 A Paixão (1965) é o primeiro romance que compõe o corpus da nossa investigação. Nele, narra-se a saga de uma família alentejana que se dispersa aos poucos, em confluência com o cenário político que favorece a fuga e o transitar constante das personagens. Escrito em plena época de repressão, censura, revoltas estudantis e crises geradas pelo latifúndio, o romance A Paixão
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