Lígia Savio a Paixão E Seus Produtos: Uma Consciência

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Lígia Savio a Paixão E Seus Produtos: Uma Consciência LÍGIA SAVIO A PAIXÃO E SEUS PRODUTOS: UMA CONSCIÊNCIA RETROSPECTIVA NA TETRALOGIA LUSITANA DE ALMEIDA FARIA PORTO ALEGRE 2007 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS ÁREA: ESTUDOS DE LITERATURA ESPECIALIDADE: LITERATURA BRASILEIRA, PORTUGUESA E LUSO- AFRICANA LINHA DE PESQUISA: LITERATURA, IMAGINÁRIO E HISTÓRIA A PAIXÃO E SEUS PRODUTOS: UMA CONSCIÊNCIA RETROSPECTIVA NA TETRALOGIA LUSITANA DE ALMEIDA FARIA LÍGIA SÁVIO ORIENTADORA: PROFA. DRA. JANE FRAGA TUTIKIAN (UFRGS/BRASIL) CO-ORIENTADOR: PROF. DR. ERNESTO RODRIGUES (UCL/PORTUGAL) Tese de Doutorado em Literatura Brasileira, Portuguesa e Luso-africana, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. PORTO ALEGRE 2007 2 Para Flama, Bárbara, Lucas, Egídio, José Haleu, Deisi, Baé e Landa. À família de amigos. 3 A Jane Tutikian, pela carinhosa orientação nesta caminhada. Ao professor Ernesto Rodrigues, da Universidade de Lisboa, pela abertura de caminhos e orientação preciosa em Portugal. Ao escritor Almeida Faria, cujo contato pessoal enriqueceu-me afetiva e intelectualmente dando um novo impulso ao trabalho. 4 RESUMO Este trabalho estuda a inserção da História na Literatura, abordando a Tetralogia Lusitana, de Almeida Faria, conjunto de quatro romances deste autor, publicados entre 1965 e 1983. Procura comprovar que um evento histórico fundamental para o povo português, como a Revolução dos Cravos, redireciona a produção do escritor Almeida Faria fazendo-o, a partir do romance A Paixão, de 1965, desenvolver um projeto literário intratextual. A consciência histórica, assim, se retroprojeta modificando o tempo no primeiro romance e sua leitura, atribuindo-lhe novos sentidos. O mito é elemento importante na criação/desvelamento da obra, tanto na sua utilização como alegoria do universo fechado a que ele se refere, quanto no posterior aproveitamento em termos críticos, uma vez que as personagens buscam fugir da mitificação do processo revolucionário, negando os antigos discursos unificadores e buscando sempre uma postura antiépica. Neste sentido, utilizamos referenciais teóricos diferenciados para cada romance da Tetralogia Lusitana, como a crítica do imaginário de Gilbert Durand, o conceito de História de Walter Benjamin, a polifonia, o dialogismo, a intertextualidade, a carnavalização e a paródia de acordo com Mikail Bakhtin e os estudos de Eduardo Lourenço sobre a identidade portuguesa. Nosso método consistiu, portanto, no estudo comparativo dos quatro romances da Tetralogia Lusitana e na simultânea análise de cada um deles, reconhecendo suas peculiaridades e, ao mesmo tempo, o papel que ocupam neste conjunto. Tal abordagem permitiu comprovar as hipóteses lançadas, fazendo-nos chegar à conclusão de que Almeida Faria, através de sua literatura, mostra um povo que busca novos caminhos e uma nova idéia de pátria, onde o ser português passa pelo descentramento, alimenta-se da integração de várias etnias e se abre sempre para novas possibilidades. Ao analisar o tratamento ficcional que o autor dá ao processo revolucionário no Portugal contemporâneo e seus desdobramentos históricos, pretendemos também contribuir para a crítica relativa à Literatura Portuguesa pós-revolução. Palavras-chave: História. Literatura.Tetralogia Lusitana. Revolução dos Cravos. Tempo. Mito. Polifonia. Dialogismo. Intertextualidade. Paródia. Ser português.Descentramento. 5 ABSTRACT This work studies the History’s insertion in Literature, approaching the Tetralogia Lusitana of Almeida Faria, which is a group of four romances, published by this author between 1965 and 1983. It seeks to prove that a fundamental historical event for the Portuguese people, as the Carnation Revolution, redirects Almeida Faria's production making him develop a intratextual literary project, starting from the romance “The Passion”, of 1965. Thereby, the historical conscience retro-projects itself, modifying the time and attributing new meanings to the first romance reading. The myth is an important element in the creation-unveiling of the work - as allegory to the closed universe referred, as much as in a subsequent use in critical terms - once the characters seek to escape the mythicizing of the revolutionary process, denying the unifying old speeches, always looking for an anti-epic attitude. In this sense, we used distinct theoretical references for each romance of the Tetralogia Lusitana, as the Gilbert Durand’s imaginary critics, the Walter Benjamin’s concept of History, the polyphony, the dialogism, the intertextuality, the carnivalization and the parody according to the work of Mikhail Bakhtin, and the Eduardo Lourenço's studies about the Portuguese identity. Our method consisted, therefore, in a comparative study of the Tetralogia Lusitana’s four romances and in a simultaneous analysis of each one of them, recognizing their peculiarities and, at the same time, their individual role in the group. Such approach allowed to prove the previous hypotheses, making us to conclude that Almeida Faria, through his literature, shows a people looking for new roads and a new homeland idea, where the “being Portuguese” feeling crosses concepts as decentralization, feeding itself from an ethnic integration, always opened for new possibilities. When analyzing the fictional treatment given by the author to the revolutionary process in a contemporary Portugal and in its historical unfolding, we also intended to contribute to the Portuguese post-revolution literature studies. Key words : History. Literature. Tetralogia Lusitana. Carnation Revolution. Time. Myth. Polyphony. Dialogism. Intertextuality. Parody. “Being portuguese”.Decentralization. 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 07 2 OFÍCIO DA PAIXÃO........................................................................................ 17 2.1 A presença de mitos e ritos............................................................................... 18 2.2 Personas............................................................................................................. 24 2.3 Uma (anti) poética do espaço............................................................................ 33 2.4 Romance-poema................................................................................................ 36 2.5 O subtexto ideológico........................................................................................ 47 3 PENSAR A HISTÓRIA..................................................................................... 52 3.1 História da História............................................................................................ 55 3.2 Outras histórias.................................................................................................. 59 3.3 Um novo calendário........................................................................................... 62 4 TEMPO DE GENTE CORTADA..................................................................... 67 4.1 Intertextualidade paródica................................................................................. 69 4.2 Metamorfoses ambulantes................................................................................. 72 4.3 As marcas da História........................................................................................ 78 4.4 Ritos e ofícios terrestres.................................................................................... 82 5 LUSITÂNIA: A BARCA SEM RUMO............................................................ 88 5.1 Cartas,intertextos e vozes “trazidas” .................................................................89 5.2 Contracanto....................................................................................................... 95 5.3 Venhattan: outros olhares .................................................................................. 100 5.4 Revolução/ilusão.............................................................................................. 104 6 CAVALEIRO ANDANTE: TRAJETÓRIAS ALÉM DE LUSITÂNIA....... 110 6.1 As muitas faces do mito..................................................................................... 111 6.2 Nas malhas do sonho......................................................................................... 117 6.3 Veneza e Lisboa: a redoma e o frenesi.............................................................. 122 6.4 Ex – cêntricos: em busca de outras ilhas........................................................... 128 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 139 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 146 ANEXOS................................................................................................................. 158 7 1 INTRODUÇÃO Afonso de si mesmo então nascia Sobre o cavalo e a espada e a terra brava E quando disse Portugal ninguém sabia Ao certo que sentido essa palavra Fosse do ar de Junho ou da leveza Com que o crepúsculo em Guimarães caía. Nessa primeira tarde portuguesa. Manuel Alegre. A busca da identidade tem sido uma constante na literatura portuguesa, desde o seu surgimento. Um de seus pontos culminantes, Os Lusíadas, de Luís de Camões, obra épico-laudatória publicada em 1572, já traz, em seu bojo, as fraturas de uma visão maneirista,
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