Caligrama, Belo Horizonte, v. 20, n. 2, p. 115-140, 2015 O padrão discursivo barretiano da obra Clara dos Anjos e a possibilidade dessa releitura contemporânea The discursive standard of barretiano’s work Clara dos Anjos and the possibility that contemporary rereading Adriana dos Reis Silva Centro Universitário de Belo Horizonte (Unibh), Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
[email protected] Resumo: O presente estudo objetiva mostrar o padrão discursivo racial na produção da obra Clara dos Anjos (1922) de Lima Barreto em contraposição a essa releitura a telenovela Fera ferida (1993), de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn. Para constituir o aporte teórico estabelecido nesse trabalho, utilizamos a noção de formação discursiva segundo Michel Pêcheux (1997), buscando apreender, como a macroesturação enunciativa dos objetos Clara dos Anjos e Fera ferida se articulam através da perspectiva do dizer racial brasileiro. Parece-nos, que nesse sentido a filiação discursiva dos autores têm a capacidade de reproduzir a veleidade racial brasileira, legitimando o mito da democracia racial e o posicionamento imposto pela classe dirigente, que preza o domínio de vida capitalista. Contudo, a obra de Barreto ressignifica a óptica racial por meio da criação de “uma literatura social politicamente militante, voltada para a urgência do cotidiano em mudança e ao mesmo tempo inspirada na redenção do homem e na defesa do trabalhador oprimido pelas distorções sociais”. (PRADO, 1980, p. 13). De forma divergente, a narrativa Fera ferida mostrará, em sua trama, a desconstrução dos discursos produzidos sobre o negro, perspectiva que distorce a racialidade e, consequentemente, demanda uma nova ordem, como a criação de leis que se interpõem de forma a rever a questão racial.